Não temos tucano nem PMDB -dependência, nada, fizemos nossaautonomia e estamos jogando...

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Balneário Camboriú, 22 de janeiro de 2011

Entrevista

Não temos tucano nem PMDB dependência, nada, fizemos nossa autonomia e estamos jogando...” (Orlando Angioletti, presidente do Legislativo)

n o s s a

g e n t e

Marlise Schneider

marlise.jp3@gmail.com

Waldemar Cezar Neto

waldemar@camboriu.com.br Fotos Fernanda Schneider

Nome – ORLANDO ANGIOLETTI Idade – 39 Natural – Itajaí Em BC desde – 1º dia de vida, só nasceu em Itajaí Formação – Superior (Hidrologia, Direito e pós-graduação em Educação) Profissão – Advogado Estado civil – Casado com Diana W.Angioletti Filhos – Beattriz, 20 e Vittória, 11 Comida predileta – Macarrão Lazer – Ficar em casa, curtir minha família Música – MPB Um livro – ‘Entre formigas e cigarras’, do Palocci Um filme – Cinema Paradiso Religião – Católica Um momento bom – O meu casamento Um momento ruim – A perda do pai e da mãe Planos – “Estou num momento feliz, meus planos agora são de viver esses bons momentos e acertar nestas decisões importantes que teremos pela frente”. Perfil – “Sou um cara trabalhador, tranqüilo, gosto de estar na minha casa, de esporte, de televisão, quando estou em casa, assisto novela, acho que estou mais tranqüilo agora. Os compromissos vão fazendo a gente ficar mais tranqüilo”.

N

a sua quarta semana como comandante do Poder Legislativo, o advogado e vereador democrata, Orlando Angioletti, continua ‘tomando pé’ do novo trabalho, olhando despesas, relatórios, aprendendo a administrar, mas está faceiro. Não esconde isso de ninguém. Os últimos dias foram bastante agitados e culminaram com o DEM aderindo – de forma irreversível – ao governo Edson Piriquito Dias. O namoro não é de agora. A vontade já existia, mas naquela época, o constrangimento era maior, afinal esse mesmo DEM move processos contra o prefeito por fraude na campanha eleitoral. Dois anos depois, o partido cansou de esperar uma decisão judicial e decidiu pensar em 2012, entendendo que uma boa oportunidade seria aliar-se ao governo e assim que decidiu, já veio o primeiro prêmio: a nomeação do demo-

crata Nelcy Brandt para a Educação. E outras novidades virão. Mudanças em política são encaradas como normais. Pelos políticos. O próprio Angioletti iniciou carreira como petista em 1998. Ele foi o primeiro vereador do PT na cidade, com 470 votos. Foi reeleito em 2004 com 1502 votos. Um ano depois mudou, deixou de ser petista. Ficou dois anos sem partido, mas como ele mesmo conta, foi resgatado por um grupo de amigos políticos que eram do Democrata (DEM). Foi novamente candidato a vereador e elegeu-se com 1783 votos, está cumprindo sua terceira legislatura. Até aqui sua marca é a de ser o vereador que mais aumentou seu índice eleitoral na história da cidade: 320%. Mas agora ele tem outros planos: quer deixar sua marca como presidente do Legislativo e depois chegar até o mais alto posto executivo.


Entrevista

“Foi uma construção tranqüila, um jogo político forte, interesse partidário forte, o PSDB com um jogo pesado...” JP3 – A eleição para presidência da Câmara e logo em seguida, a adesão ao DEM, causou um ti-ti-ti...porque vocês foram adversários do prefeito na campanha. Como aconteceu essa aproximação? Angioletti – Essas tratativas, convites, conversas não são de hoje. Nós fazemos isso com muita tranqüilidade, muita transparência. Exatamente há 13 meses nós estávamos dialogando e quase...uma parte foi, outra não. JP3 – Houve uma divisão no partido na época... Angioletti – ... a questão do Auri Pavoni, foi pontual. Porque o partido todo entendia que era para conversar. Foi conversado e depois todos entenderam que não era o momento. O partido teve uma defecção, que foi o Auri, sem trauma, sem nada, dissemos que o partido tinha um posicionamento, se ele tinha outro... JP3 - ...ele saiu do partido. Angioletti – Ele se licenciou. Aí veio a questão da presidência da Câmara, que é ‘vero’, não teve relação nenhuma com o que aconteceu depois. Foi uma construção maravilhosa, tranqüila, um jogo político muito forte, interesse partidário muito forte, o PSDB com um jogo pesado... JP3 - ...pesado em que sentido? Angioletti – Primeiro, por causa do Moacir Schmidt, ele teve um posicionamento que eu particularmente não esperava. JP3 – Ele não queria deixar a presidência. Angioletti – De jeito nenhum, tanto que se rebelou até o último momento e até hoje, mas eu compreendo, é um jogo político. O PSDB, sem o Moacir, tinha uma construção, visando 2012, muito interessante prá ele, PSDB, não prá nós, e nós tivemos um posicionamento muito tranqüilo. Fizemos um acordo em 2008 e estávamos aguardando o cumprimento desse acordo. É igual a uma partida de futebol, em dois tempos. O que a gente não ia admitir, é que a gente jogou o primeiro tempo com uma regra e no segundo tempo, eles queriam mudar a regra pra gente jogar de novo. Até porque essa regra não nos interessava. JP3 – E o que levou à presidência? Angioletti – As únicas conversas que eu tive foi com os vereadores. Estou no terceiro mandato. E não falei com fulano, nem sicrano, deputado ou prefeito, isso desmerece o vereador, então fiz o processo inverso, conversei com os vereadores, não abri nenhum tipo de diálogo com o governo, até a fatídica reunião de terça-feira do PSDB, aonde houve a rebe-

lião do Moacir, foi incentivada a conversa com os vereadores do governo, a partir daquela reunião e a proposta foi de vereadores do PSDB e deu tudo tão certo. Final do ano, estávamos no lançamento da pedra da Udesc, o vereador Hannibal chegar para o governador Pavan e perguntar na nossa frente, em quem eu devo votar para presidente da Câmara? E o Pavan olha pra ele e responde, tem que votar no Moacir...na minha frente, na frente de todo mundo? Então o jogo estava pesado nesse sentido. Não foi fácil. E a minha convicção era a seguinte: ou eu ganhava de 10 a 0 e achei que foi isso, porque não tinha voto contra, tinha uma abstenção do Moacir, que era problema dele com o partido dele ou eu ia perder por 9x1. JP3 – Falando em acordo comenta-se que você tem um acordo com o Tatá (vereador João Miguel) para o segundo ano da presidência. Tem? Angioletti – Não, não tem. Eu vi isso na imprensa, eu e Tatá conversamos depois, mas não tem não. O que eu disse a ele e reafirmo é que nestes dois anos o Tatá vai ser muito prestigiado, ele vai ter uma condição como vereador como nunca teve, ele está no quarto mandato...eu vou tentar propiciar isso prá ele. JP3 – A estas alturas o Hannibal é carta fora do baralho? Angioletti – O Hannibal jogou e perdeu. Ele jogou no time do Moacir. JP3 – Qual é a contribuição que o DEM pode dar ao governo municipal ou vice-versa? Angioletti – Primeiro, espaço político para as eleições de 2012. O PSDB tem uma fila... que foi nosso último parceiro e a gente tem uma relação muito boa... JP3 - ...tinha. Angioletti - ...nós ainda temos, é que a gente ainda respeita os outros partidos. Se eles não respeitam, é problema deles. Só que nós não temos tucanodependência. Temos a nossa autonomia, somos democratas e vamos fazer a política para os interesses do partido. O espaço nos pareceu mais promissor. Porque tinha três caminhos: tentar manter uma relação com o PSDB para as eleições de 2012, mas eles nos deixaram numa situação difícil, tem ali o primeiro da fila, o segundo, o terceiro, o quarto e a gente não tem porque entrar no final da fila...a gente respeita a política deles, mas... JP3 – Tem pouco partido pra muito pré-candidato, é isso? Angioletti – Exatamente. Então no último ano fizemos uma grande avaliação, de caminhar sozinhos, com as

próprias pernas, mas também temos as nossas dificuldades, junto à militância, de organização partidária, nós viemos de um trauma muito grande nas últimas eleições, Ciro Rosa né? Então usamos esse tempo para juntar o que sobrou, para ver se havia força suficiente...

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partidária diferente que temos agora. JP3 – Quais foram as condições colocadas na mesa do prefeito? Angioletti – Condição nenhuma. Fizemos um encontro político. Por ex., nós não exigimos cargos, nós não colocamos nenhuma condição na mesa, diferente de outros partidos, de outros vereadores que também estão conversando com o prefeito, só que querem impor muitas coisas e na política não se impõe, se constrói. Esse é o grande erro das pessoas hoje. Acham que é um tomalá-dá-cá. Acho que está tranqüilo, recebemos convite para a Secretaria da Educação, que na verdade, não tinha secretário, não teve que tirar ninguém para nos receber...e nós tínhamos um nome que entendemos estava à altura. JP3 – Qual é a experiência do nome indicado na educação? Angioletti – O Nelcy Brandt é formado em Educação Física, é formado em Direito, é professor universitário...

“O Democratas não pode imaginar que vai chegar no governo e vai ser a noiva...” JP3 - Mas com o PMDB vocês também terão dificuldade, porque o cabeça de chapa é o prefeito à reeleição... Angioletti – Mas isso não tem problema... JP3 – A não ser que vocês acreditem na tese, que acreditavam até a semana passada, de que ele será afastado pela justiça e ficará inelegível. Vocês continuam acreditando nisso (risos)? Angioletti – A gente conta com essa possibilidade, isso está na justiça e vai ser resolvido ou pelo sim ou pelo não. Tudo está avaliado e fazendo estas avaliações, o partido entendeu que era o momento de uma aproximação com o governo. JP3 – Até porque a metade do partido já estava lá, o Narbal (Duca), o Portes e vários outros que já estavam ligados com o prefeito, desde a campanha. Angioletti – E ali você pode criar uma coisa embrionária, quem sabe construir algo forte perto de uma reeleição do prefeito. Num eventual impedimento do prefeito, ter uma condição benéfica, ter um bom secretário, ter uma condição

JP3 - ...mas ele nunca administrou um colégio, uma estrutura educacional, é disso que estamos falando. Ele foi secretário de esportes do governo Spernau e não estamos falando da pessoa, todo mundo aqui gosta do Nelcy, não é nada disso. É complicado administrar uma rede educacional do porte da nossa. Angioletti – Eu acho que a condição que foi oferecida... JP3 - ...mas ele não foi o único nome que o partido indicou. Angioletti – Não, não, inclusive nós temos um quadro... JP3 - ...o Portes queria ir para o turismo... Angioletti - ...exatamente, isso foi naquela outra vez quando realmente tinha uma negociação. Desta vez não houve negociação. JP3 – A dificuldade do DEM era acomodar esse monte de gente no cabide de emprego, sempre foi, porque está cheio de gente na política que só está ali por causa de um emprego (o entrevistado está fazendo que sim com a cabeça). Angioletti – É legítimo, só que você tem várias formas de fazer. Eu não acho interessante dizer que um dia vou romper com o governo, só porque não me deu cargos e 48h depois uma foto e sorrisos, porque ele me deu cargos e agora sou governo. Não é assim que se constrói, assim se impõe.

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JP3 – Você acredita que com esse reforço, menos oposição, o prefeito consiga deslanchar a administração? Ex: essa semana vocês analisaram um projeto fundamental do Executivo, a respeito do Hospital Ruth Cardoso, que não passava de um rascunho... Angioletti – Sim, nós emitimos um parecer, para fazer um estudo especificamente do contrato de gestão... JP3 – Mas na imprensa hoje estava dizendo que a Câmara de Vereadores adiou projeto importante, ou seja, vocês foram culpados, pela mídia que o prefeito manipula, de adiar o projeto...quando na verdade, na realidade, o projeto era uma porcaria, não tinha sequer valores a ser pagos à quem vai administrar o hospital, estava cheio de coisas riscadas, rabiscadas. Você acredita que, sem oposição, esse prefeito possa governar melhor, porque até agora está muito mal. Angioletti – Nenhum bom governo tem problema na oposição. A oposição é o controle de qualidade do governo. E nós não estamos ali dispostos a fazer essa construção conjunta com o governo a troco de qualquer coisa. Com toda a tranqüilidade do mundo, sou hoje o presidente da Câmara, determinei que fosse feita uma diligência para fazer um estudo do contrato. Se a gente for jogar com essa mídia aí, não vai trabalhar, vai ficar louco... JP3 - ...ou então paga eles... Angioletti - ...não vou pagar, não vou. JP3 – Mas até aqui parcela da mídia recebia, você está enfrentando esse problema. Angioletti – Mas não vamos pagar mais. Eu sempre digo que essas relações não podem ser impostas, nem pode ser de um amor redobrado, nem de ódio, tem que ser com respeito. Quer falar de dinheiro pra imprensa? Tem, órgãos de imprensa recebem dinheiro de empresa pública, mas prá retratar fatos, não pra puxar saco de um ou outro. Se era assim antes, vamos mudar. Na Câmara vai mudar. Inclusive vai haver uma licitação e quando a empresa vencedora estiver definida, vamos fazer uma coletiva e colocar as cartas na mesa. Quem quiser participar assim vai ser, senão cai fora.

“Órgãos de imprensa recebem dinheiro de empresa pública, mas prá retratar fatos, não pra puxar saco de um ou outro. Se era assim antes, vamos mudar”

JP3 – Com o reforço do DEM, você acha que o prefeito consiga enfim acertar o passo da administração?


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Entrevista

“A gente jogou o primeiro tempo com uma regra e no segundo tempo, eles queriam mudar a regra pra gente jogar de novo. Essa regra não nos interessava” Angioletti – Ontem na posse do Nelcy, ele me oportunizou a palavra e eu disse a ele, do momento feliz e da responsabilidade que ele estava assumindo. E o Nelcy não pode ser um secretário de Educação, ele tem que ser o melhor secretário de Educação. Esta é a nossa proposta. Eu vou fazer um trabalho na Câmara, onde quero deixar um legado positivo. Por isso não nos preocupamos em ocupar espaço por ocupar. Primeiro, para não prejudicar o governo e daqui a pouco sofrer a responsabilidade por inabilidade. Tenho confiança plena de onde pudermos contribuir com o governo, vamos fazer o melhor, porque o melhor do governo é o melhor para a cidade. Eu não tenho problema nenhum de discutir isso com quem quer que seja.

Na questão administrativa, exonerei todos os cargos, todos, renomeamos quem foi novamente indicado por vereador, nomeamos novos, colocamos cada um no seu setor competente, fizemos uma reunião, abrimos o jogo, fizemos um pacto com o pessoal, hora de chegar, hora de sair, compor-

JP3 – Duas questões espinhosas: a TV Câmara que o jornal questiona, um investimento de R$ 530 mil esse ano que passou, e a qualidade é péssima, som, imagem e o alcance beira o zero. O dono da TV Câmara é teu compadre de partido, o Narbal. Você vai renovar o contrato? Angioletti – A TV Câmara acabou. Acabou. O contrato termina em abril, pode ser renovado por mais dois, três meses. Tem que melhorar a qualidade de som, de áudio...

JP3 – O DEM chegou com o baile andando e está pegando as namoradas ou seja, os cargos. Mais de um secretário da Educação já disse que não podia trabalhar por causa da interferência do vereador, agora teu colega, o Nilson Probst. Há alguns dias ele próprio declarou que preferia ser secretário da Educação. Aí é nomeado o Nelcy...então vai haver dificuldade de relacionamentos ali, é inevitável. Você está consciente disso? Angioletti – Sim, consciente. JP3 – Quem vai discutir lá em cima pra resolver isso? Você e o prefeito? O presidente do DEM e o prefeito? Angioletti – Claro, o convite foi feito e diante dessa realidade, que é fato, a gente colocou as cartas abertas, qual é a autonomia que tem, onde tem que chegar, qual é a meta que tem que ser atingida, quais são os colaboradores que ele vai ter ali? Então o prefeito deu ao secretário Nelcy total liberdade para trabalhar, porque ele tem uma meta a ser atingida e não vai ser fácil não. E sobre o vereador Nilson quero dizer que, mais do que qualquer outra coisa, ele às vezes é mal interpretado. Conheço há muitos anos, mas agora com a proximidade, começo a saber conviver com ele. Realmente algumas coisas que aconteceram na Educação, não vão acontecer com o Nelcy, porque ele não vai aceitar, nós não vamos aceitar, não foi esse o pacto que fizemos com o prefeito. E quem governa a cidade é o prefeito e não o vereador. JP3 – Na Câmara quais serão as mudanças? Angioletti – É uma experiência nova, administrativa, nunca administrei nada. Sou o primeiro a chegar e o último a ir embora. Estou lá com aquele gás todo. Quero saber, quero aprender, nada passa sem eu botar o olho, então é um desafio novo, que estou adorando.

sei porque, mas é assim. Todos ganham 100% de gratificação lá. Então determinei o salário, o responsável pela contabilidade disse que tem que ser com 100% porque a lei já prevê isso, aí não tinha impacto financeiro. Eu quero anunciar prá vocês aqui que foi feito o impacto financeiro, que está negativo em R$ 0,18/mês. Por arredondamento de conta, vai dar uma diferença de R$ 0,18 a menor. Prá provar que não tem acréscimo e pra não ter dúvida de quanto é o salário.

JP3 - ...mas principalmente a audiência! Angioletti – É isso, mas vou falar da experiência de ontem, teve sessão às 9h, cheguei em casa depois, liguei o Canal 20, estava lá a imagem TV Câmara e ficou a tarde inteira a mesma imagem congelada da TV Câmara. Não passou a sessão, reprise, nada.

tamento, roupa, compromisso, despesas com energia, com água, telefone... JP3 – Vai mudar a roupa? Angioletti – Vai ter um uniforme padrão para o cotidiano na Câmara. No plenário, vai ter uma exigência, porque aquilo é uma casa formal. Também lançamos metas de economia, uma vez atingidas, os funcionários ganharão prêmios com isso. A cada trimestre vamos fazer uma avaliação com o trimestre do ano passado, com o percentual que conseguirmos diminuir em luz, energia etc, vamos presentear o quadro funcional com um passeio, alguma coisa, entende? JP3 – Falando em economia, tem um projeto tramitando que estabelece para chefe de gabinete, etc, 100% de gratificação. Quando aumentaram o número de assessores de gabinete, disseram que não aumentariam o custo. Mas isso vai realmente aumentar o custo, não vai? Angioletti – Mandei fazer um estudo, isso não estava claro realmente. Porque como funciona o salário dos funcionários da Casa? Se ganhar R$ 1 mil, não é R$ 1 mil, é R$ 500 com gratificação de 100%, não

JP3 – Não passou a sessão ao vivo, assistimos pela internet interna, pela tevê não passou, então o que é isso? Angioletti – Agora vamos fazer uma administração plural, foi delegado ao vereador Dão Koeddermann, cuidar especificamente da televisão. Na produção, na qualidade, como aumentar os índices. Como esse contrato vai encerrar antes do meio do ano, estamos consultando o departamento jurídico e preparando uma nova licitação. Que tem que ser num formato que atenda as expectativas, senão é melhor não ter.

Angioletti – Fizemos uma reunião administrativa para analisar contrato por contrato. Esse programa de computador ainda não foi entregue, está na segunda prorrogação de prazo, já vai para a terceira, eles querem iniciar a entrega do programa em fevereiro, dois meses vão ficar com o pessoal ali fazendo um treinamento, vou designar todos os funcionários efetivos para aprender a usar esse programa, o Rui que é nosso funcionário mais envolvido no setor, disse que o programa realmente nos levará a anos na frente do que tem hoje na administração pública... JP3 – Se estava previsto pagamento por etapas, treinamento não fazia parte da última etapa! Blocos do programa poderiam estar funcionando já foram pagos e não tem nada funcionando...como foi pago? O dinheiro público não é para ser tratado assim. Foram pagos mais de R$ 400 mil e nada está funcionando! Angioletti – Nenhum dos dois problemas apresentados tem nada de espinhoso. Eu não faria, não pagarei até que esteja funcionando 100%... JP3 - ...mas o que tem para receber ainda? Angioletti – Próximo dos R$ 80 mil. JP3 – Mas em que lugar do mundo você recebe quase todo o valor antes de entregar o serviço, não existe isso... Angioletti – A resposta deve ser: a Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú...

JP3 – Por que vocês não fazem um sistema próprio, com câmeras fixas, pra passar pela internet, que é de graça ou que é muito barato? Pode custar R$ 30 mil por ano e não R$ 530 mil! Angioletti – Mas ainda é o sonho de ter a tevê, que as pessoas possam acompanhar...

JP3 – Aquela idéia de tornar a Câmara itinerante continua? Angioletti – Eu quero e vou fazer uma boa administração. A TV Câmara foi idéia minha, em 2001, tenho maior carinho por ela e vou fazer de tudo para que o maior número de pessoas tenha acesso a ela. Porque as pessoas não vão na Câmara e nem tem porque ir. Mas tem que criar canais de aproximar. Então a TV foi uma ferramenta, temos um baita dum plenário que as pessoas não freqüentam. Então vamos criar mais uma ação, que é a Câmara itinerante. A Câmara vai nos bairros. Vamos pegar uma estrutura física pronta, vamos levar a nossa estrutura móvel prá lá, em parceria com as associações de moradores. Para eles divulgarem, aumentarem a vinda das pessoas de suas casas até aquele espaço.

JP3 – O segundo assunto espinhoso. A administração anterior contratou por R$ 500 mil e gastou R$ 425 mil, valores arredondados, por um programa de computador que era para estar pronto há quatro meses. Esse programa foi entregue? Qual é a situação real dessa encrenca?

JP3 – As associações, com poucas exceções, estão descaracterizadas e isso já começou no governo do Pavan, por influência política, é o prefeito que manda ali. A Câmara vai entrar num ambiente minado... Angioletti – É, mas eu preciso dessa parceria pelo menos

agora, no começo, porque preciso que as pessoas se motivem de alguma forma a participar. Eu estou jogando minhas fichas ali, acho que vai ser um espaço importante. JP3 – Na hipótese do afastamento do prefeito pela justiça, devido aquela fraude eleitoral de R$ 200 mil, o judiciário intima você a intimar o segundo colocado, que seria o deputado Cherem, que não vai querer, ele já disse várias vezes. Aí você intima o vice dele e se não quiser, você assume o cargo. Se houver o afastamento, porque às vezes condenam, mas não afastam. E isso se ele não for absolvido, o que também pode acontecer. Você falou que não está acostumado a administrar, já imaginou se acontece um negócio desses, você ter que administrar uma cidade? Angioletti – Quando eu tinha 18 anos eu vi uma moça que nunca tinha visto na vida, pois administrei ela, me casei e estou administrando até hoje (risos). JP3 – Mas é diferente de administrar uma cidade com mais de 100 mil habitantes e uma prefeitura com quatro mil funcionários ou em torno disso! Angioletti – Não sei, não sei o que é mais difícil (risos). JP3 – Há muito tempo se fala em mexer no Regimento Interno que é ultrapassado, tem que incluir o meio digital Angioletti – Sabe qual é o mistério ali? Tem 500 artigos e tem um lá no meio que diz assim, se ninguém concordar com nada disso, o presidente resolve...por isso ninguém muda. Tem um relatório que vimos em que um estudo foi contratado sobre isso, nova Lei Orgânica etc... JP3 – Contratado um estudo? Mas quem fez? Angioletti – Não sei. JP3 – Mas quanto custou? Angioletti – R$ 7.900,00. JP3 – Quem cobra quase R$ 8 mil para fazer um negócio daqueles deve ser maluco, porque aquilo vale R$ 80 mil. Mas o cara recebeu e tudo? Angioletti – Estamos verificando todos esses contratos, para ver onde e pra quem foi entregue, mandei fazer um inventário da Câmara do patrimônio etc...de contratos feitos, onde estão, muita coisa foi contratada virtualmente, ninguém sabe onde está indo, estamos olhando. É minha obrigação fazer isso. JP3 – É, mas sua obrigação também é tornar público que alguém pagou quase R$ 8 mil para um estudo para mudar o regimento, isso sempre partiu dos vereadores e dos funcionários da Câmara...


Entrevista

Balneário Camboriú, 22 de janeiro de 2011

“A oposição é o controle de qualidade do governo. E nós não estamos ali dispostos a fazer essa construção conjunta com o governo a troco de qualquer coisa” Angioletti – Claro, só a gente sabe e conhece isso. JP3 – Sobre o espaço cultural, o que você pretende? Angioletti – O prédio é muito lindo e o hall de entrada é pobre. Ali vamos fazer uma exposição permanente de obras de arte. E o terceiro andar precisa de uma reforma física, porque tem a metade coberta e outra metade descoberta. Choveu, acabou. Vou tentar cobrir e fazer um grande salão. Tive uma reunião com a Caixa e com o Banco do Brasil e pedi a eles uma parceria, que eles nos mandem cadeiras ou dinheiro para que possamos adquirir, para criar ali mais um espaço cultural, para pequenas apresentações culturais, artísticas, exposições de arte, mais um espaço para visitar. E por falar em cultura também estamos promovendo uma alteração no regimento, que contemple uma vez por mês uma manifestação cultural preliminar a sessão da Câmara, porque aí teremos a imprensa cobrindo, a televisão, a internet, o rádio e um espaço para os nossos artistas locais. JP3 – É uma pena que o fator de atração de público seja esse e não o debate parlamentar. Porque não era assim, quando a sede era no Centro, era muito freqüentada e o debate parlamentar era bem intenso e sempre diante de lotação total, os vereadores da época lembram disso.

Angioletti – A Câmara está desprestigiada, isso em âmbito nacional, as pessoas não compreendem que tudo o que acontece em relação à coisa pública, passa pela Câmara. Mas a gente sabe, há desmotivação, é essa fase que estamos vivendo, é o desprestígio político, é a imprensa local que a gente sabe, por ‘ forças’, fazem coro contra a Câmara, muitas vezes para desviar a atenção do que realmente é importante. Cabe a nós fazer esse resgate oferecendo todas as formas das pessoas se aproximar da Câmara, para desmistificar isso. JP3 – Quando o Página 3 noticiou, jornalisticamente, que havia problemas com as contas do prefeito, o que ficou plenamente comprovado mais tarde, a maior parte da nossa imprensa não noticiou e naquele período preferiu meter o pau na Câmara... para desviar a atenção, isso é enganar as pessoas. Angioletti – O jornal Página 3 já fez elogios à minha atuação, não é falta de educação, nunca liguei, nunca passei aqui para agradecer. Mas também já fez críticas as minhas atuações. Nunca liguei para fazer nenhum tipo de questionamento, nada. Tem que ter essa liberdade. Eu acho que a imprensa muitas vezes presta um desfavor à sociedade pelos seus comprometimentos, pela dependência econômica, é uma verdade, mas ninguém

tem coragem de falar, mas essa é a verdade. JP3 – A presidência da Câmara e como você mesmo já disse aqui, por dois anos, o coloca como um forte précandidato a prefeito. O Dão Koeddermann está saindo do PSDB, por falta de espaço e está indo para o DEM em busca desse espaço, porque quer ser prefeito...então se tem fila no PSDB, no DEM já tem dois hoje, você e o Dão que querem... Angioletti – Dois nada, tem um monte. Quanto mais tiver, melhor. Só que aí é a minha casa, é a casa dos democratas. Isso é legítimo. JP3 – É legítimo, mas cria uma encrenca...porque você acha que o Dão está indo para o DEM, sinceramente? Angioletti – Pra buscar um espaço pra ser prefeito. É legítimo isso, só o que não dá é impor condições. Atenção, eu vou me filiar, porque quero ser candidato a prefeito. Isso não. Não serve prá nós. O que o Dão fez, eu quero ir para conquistar o meu espaço. Seja benvindo! Mas temos outras pessoas que já chegaram, estão chegando, então essa disputa interna é muito salutar. Porque sou presidente da Câmara, sou candidato a prefeito, posso cruzar os braços, fica tudo num marasmo e pronto? Não é assim. Queremos que o Dão venha, porque ele não veio ainda, já conver-

Falando nisso... Despedida e saudades Nunca gostei de despedidas, de qualquer ordem. Mas a vida é feita delas. Elas nos acompanham. Lembro quando adolescente saí da casa dos meus pais, da cidade gaúcha de Estrela para a capital Porto Alegre, porque queria estudar jornalismo, chorei mais de 100km. Lembro que em cada visita à Estrela, na hora de voltar, a cena se repetia. Depois vieram as primeiras perdas, os avós maternos, aos quais sempre fui muito ligada. Anos mais tarde, quando Marzinho e eu mudamos para o Rio de Janeiro, uma filha no colo e outra na barriga, distância bem maior, a despedida foi dolorosa. Cada final de ano quando viajávamos ao sul, para passar Natal e Ano Novo com nossos pais, a alegria da chegada se transformava em tristeza na despedida. Às vezes passava de Torres, quase entrando em Santa Catarina e as lágrimas continuavam rolando. Há quase 10 anos, a despedida do pai, repentina e doída, até hoje uma saudade imensa. Outras tantas, do meu

sogro Mainho, da bisa Rosa, de muitos amigos, definitivamente não gosto de despedidas. Elas são diferentes. Podem ser momentâneas, breves, aquelas em que a gente sabe que vai haver novos encontros. E podem ser para sempre, aquelas que são mesmo definitivas, sem volta. Desde o dia 12 deste mês choro a despedida da minha mãe, Winilda Schneider. Ela é definitiva. A idéia de não ter mais a sua companhia me atormenta dia e noite. Porque eu gostava daquela companhia, de mãe, de amiga, de confidente, de educadora, de guerreira, de batalhadora. Não tinha ruim, para tudo ela dava um jeito. Para tudo ela achava uma solução. Passava segurança. Foi assim desde sempre. Ainda pequena, na escola, lembro de sua interferência forte, quando levei uma reguada na mão da professora que me ensinava a escrever, porque sou ‘canhota’. Naquele tempo não podia. Minha mãe foi na escola e proibiu a professora de fazer isso de novo e comprometeu-se a ajudar-me,

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Arquivo Pessoal

Com a esposa Diana e as filhas, Beattriz e Vittória

samos com o prefeito, que a construção do partido é para disputar as eleições 2012. Se tivermos condições de ter uma candidatura, ninguém está enganando ninguém. Se o prefeito vier a ser candidato à reeleição, e precisar buscar um partido em sua base, nós temos que ter os nossos quadros à disposição. Porque neste grupo existem outros partidos também. O Democrata não pode imaginar que vai chegar no governo e vai ser a noiva... JP3 – Como fica na cabeça do eleitor que o DEM moveu processos contra o prefeito por causa das contas fraudulentas de sua campanha e agora está junto com ele? Angioletti – Nós saímos de um processo eleitoral onde existe uma pendência judicial. Está na justiça, ninguém sabe qual será o resultado, ninguém sabe o tempo que levará...se a jus-

tiça fosse mais célere, já estaria resolvido. Precisamos ter uma sobrevivência partidária. Nós temos respeito por aqueles companheiros que ainda militam nessa tese e uma das pessoas mais lúcidas, é o Nelson Nitz. JP3 - ...que era o vice do Dado Angioletti – e que pode vir a assumir a prefeitura! E se ele assumir a prefeitura, estaremos junto. Só que a gente precisou tomar uma decisão partidária. De projeção no futuro. Esperamos dois anos, respeitamos o posicionamento do Nelson dois anos. Obviamente que ele se resguardou nesse momento, mas ele está conosco(...). Fizemos com transparência, não temos tucano-dependência, nem PMDB-dependência, nada, fizemos a nossa autonomia, a nossa construção e estamos jogando. A próxima eleição vai dizer se fizemos certa.

Marlise S. Cezar

marlise.jp3@gmail.com

em casa, a escrever com a mão direita. Hoje continuo canhota, mas escrevo com as duas mãos. Lembro da retidão, não podia ser mal educada, tinha que respeitar os mais velhos, ajudar todo mundo, de qualquer idade e não fazer coisas erradas. Admirava a disposição da minha mãe, de cuidar da família, da casa, da horta, do jardim. Lembro das ajudas nas tarefas escolares, da insistência na ‘letra legível e bonita’. Tudo isso e ela ainda trabalhava fora, era dona de uma loja de calçados. Tudo isso e ela participava das atividades na igreja, onde sempre freqüentou Oases, cantava no coral e assistia cultos sem faltar nunca. Sempre admirei essa mulher forte, que à noite ainda virava costureira, para ajudar a pagar escola particular para os três filhos. Hoje choro tudo isso e sei que não tem volta. Choro de saudade, de vontade de beijar, de abraçar, de cuidar e, ao mesmo tempo, agradeço a Deus, todos os dias, pela oportunidade que tive de ser filha desta mãe.

Do álbum

Fernanda Schneider

No dia 24 de dezembro, a ‘bisa’ Winilda com os três bisnetos, Davi, Pedro e Sara e o Noel. Todos fizeram muitas fotos com ela, os filhos, os netos, os bisnetos, sem imaginar que estas seriam as últimas imagens...


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