FREVO VIVO / JOSÉ TELES [ORG.] / EDUARDO SARMENTO / MÁRIO RIBEIRO / REBECA GONDIM / CARMEM LÉLIS / JÚLIO VILA NOVA / JEFFERSON FIGUEIRÊDO / AMILCAR BEZERRA / MAESTRO SPOK / VALÉRIA VICENTE / LEILANE NASCIMENTO / NICOLE COSTA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Frevo vivo / organização José Teles. -Recife : Cepe, 2022.
Vários autores. Bibliografia ISBN 978-65-5439-090-3
1. Carnaval - História - Pernambuco 2. FrevoPatrimônio cultural imaterial - Pernambuco (PE)Brasil 3. Frevo - Pernambuco (PE) - História 4. Identidade cultural - Pernambuco (PE) I. Teles, José.
22-139574 CDD-782.42164098134
Índices para catálogo sistemático:
1. Frevo : Patrimônio cultural imaterial : Pernambuco (PE) : Brasil 782.42164098134 Inajara Pires de Souza - Bibliotecária - CRB PR-001652/O
FREVO VIVO / JOSÉ TELES [ORG.] / EDUARDO SARMENTO / MÁRIO RIBEIRO / REBECA GONDIM / CARMEM LÉLIS / JÚLIO VILA NOVA / JEFFERSON FIGUEIRÊDO / AMILCAR BEZERRA / MAESTRO SPOK / VALÉRIA VICENTE / LEILANE NASCIMENTO / NICOLE COSTA
JOSÉ TELES OLHA O FREVO! 12 EDUARDO SARMENTO FREVO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE E PATRIMÔNIO AFETIVO PERNAMBUCANO 30 MÁRIO RIBEIRO NESSE PASSO TEM AZEITE: HISTÓRIAS DE FREVO E DE TERREIROS NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO 42 REBECA GONDIM FREVO É DANÇA URBANA NEGRA 58 CARMEM LÉLIS O FREVO MULHER SILÊNCIOS QUE GRITAM 90 JEFFERSON FIGUEIRÊDO DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITÓRIOS FESTIVOS: FREVO PARA TODES 130 UM PAÇO À FRENTE 6 FREVO VIVO, FREVO DO MUNDO 9 SUMÁRIO
AUTORES 280 NOTAS 286 LEGENDAS 287 REFERÊNCIAS 294 JULIO VILA NOVA ATRÁS DAS AGREMIAÇÕES SÓ NÃO VAI QUEM JÁ MORREU 156 AMILCAR BEZERRA FREVO: MODERNIZANDO-SE, MAS REVERENCIANDO A TRADIÇÃO 170 MAESTRO SPOK PERNAMBUCO FREVANDO PARA O MUNDO 184 VALÉRIA VICENTE É DE PERDER OS SAPATOS: O FERVOR E A GINGA DA DANÇA FREVO 208 LEILANE NASCIMENTO FREVERÊ: FREVO TAMBÉM É BRINCADEIRA DE CRIANÇA 216 NICOLE COSTA O FREVO E AS ARTES VISUAIS: UMA RELAÇÃO INDISSOCIÁVEL 242
UM PAÇO À FRENTE
Foi em 2007, com o Dossiê de Candidatura do Frevo a Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e o muito bem-vindo título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que o Paço do Frevo, com o movimento de abre-alas típico da manifestação cultural pernambucana, começou a dar seus primeiros passos, ainda como ideia.
Nos anos seguintes, enquanto estava na Fundação Roberto Marinho, tive, como pernambucano, o privilégio de participar da definição de um novo e relevante projeto cultural no Recife. Dentre tantas
referências identitárias da cidade, encontramos um consenso junto à Prefeitura do Recife e parceiros no Frevo. Daí a ideia do Paço tomou forma.
Em 2012 a Unesco colocou o Frevo no seu devido lugar e o reconheceu como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, dando ao projeto do Paço do Frevo ainda mais corpo. Quando abriu as portas para o público recifense, em fevereiro de 2014, partindo de uma construção de equipamento cultural voltado para a sociedade - a mesma que pediu por um espaço de salvaguarda para o Frevo durante seu processo de patrimonialização -, o Paço do
Frevo já demonstrou uma das suas maiores vocações: a de ser um museu construído com e pelas pessoas.
Com realização da Prefeitura do Recife, por meio da Fundação de Cultura Cidade do Recife e da Secretaria de Cultura do Recife, e gestão do Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG desde a sua inauguração, o Paço do Frevo é, hoje, um museu onde os públicos se encontram com o Frevo durante todo o ano. Além de cumprir com a missão de valorizar a memória do Frevo, busca inspirar políticas públicas para salvaguardá-lo, sem que seja a única delas. Para isso, realiza atividades de
pesquisa, difusão, educação, formação e escuta ativa das comunidades, possibilitando a atualização e ressignificação do Frevo como uma manifestação cultural dinâmica, em contínuo movimento.
Se quando tudo começou a ideia era dar à população do Recife um equipamento cultural de excelência para a salvaguarda do Frevo, o Paço foi muito além: expandiu barreiras que ultrapassaram o museu, levando o Frevo a espaços nacionais e internacionais, e é, hoje, um Centro de Referência em Salvaguarda do Frevo, reconhecimento dado pelo Iphan em 2017.
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Em 2022, agora comemorando uma década do título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, concedido em 2012 pela Unesco, o Paço do Frevo vislumbra o futuro da manifestação cultural pernambucana que o nomeia olhando à frente. Não mira apenas para o contemporâneo, o novo, o agora, mas também o que, até então, não constava na história oficial do Frevo e ainda não recebeu a reflexão necessária. Através de 11 articulistas - pessoas ligadas afetivamente, tecnicamente ou socialmente ao Frevo - o Paço, de mãos dadas com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG, traz visões distintas, porém complementares, sobre o porvir e
a salvaguarda do Frevo. Com os pés fincados na tradição, tão valiosa, mas com o olhar sempre à frente, o Frevo hoje está presente durante todo o ano na cidade.
Vivo e pulsante.
Ricardo Piquet
Diretor Presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG
FREVO VIVO, FREVO DO MUNDO
Há 11 anos, em 2011, o projeto museográfico do Paço do Frevo era apresentado à imprensa pela Prefeitura do Recife e Fundação Roberto Marinho. Numa solenidade em meio às obras do prédio histórico que hoje abriga o museu, eu escutava atentamente o planejamento do que seria o equipamento cultural dedicado à salvaguarda do Frevo.
Pouco depois, em 2012, a manifestação cultural pernambucana que se desdobra em música, dança, história e tradição, se tornou também um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, através do título concedido pela Unesco. Em 2014 o Frevo passou a,
enfim, contar com o Paço do Frevo, de portas abertas ao público, que, para além de um museu, é um Centro de Referência em Salvaguarda do Frevo (Iphan, 2017).
Equipamento cultural da Prefeitura do Recife gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão-IDG desde a sua inauguração, o Paço do Frevo é onde as pessoas se encontram com o Frevo durante todo o ano. Sem se ater ao período carnavalesco, o museu expande o Frevo através de atividades de pesquisa, difusão, educação, formação e escuta ativa das comunidades, possibilitando sua atualização e ressignificação como uma manifestação cultural dinâmica.
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Próximo a completar uma década, em 2024, o Paço do Frevo abre caminhos e perspectivas para o futuro do Frevo e do seu patrimônio, enfatizando os potenciais de transformação social e expandindo a ação do museu como espaço de referência e difusão - nacional e internacionalmente - dessa manifestação cultural.
Assim, esta publicação é um espelho do que o Paço do Frevo vislumbra como caminhos a serem percorridos pelo Frevo como Patrimônio Imaterial da Humanidade: uma manifestação cultural que, muito além do Carnaval, amplia seu alcance a territórios vários - o da festa, das periferias, das mulheres, das populações negras, da diversidade de corpos, das religiosidades e crenças, das suas potencialidades incontáveis.
Dando continuidade às tradições, mas com um olhar além, apontando novas possibilidades para a arte, a dança, a música, a educação e os trânsitos estéticos que atravessam o Frevo e o transformam em um espaço de criatividades pulsante que arrasta multidões por onde vai o Passo. Como recifense, filha de educadora popular, amante do Carnaval e apaixonada pelo Frevo, a emoção já me tomava o coração naquela primeira ocasião, em 2011. Imaginem, então, como me sinto desde que ir ao Paço do Frevo tornou-se minha rotina diária? No Paço ou nas ruas, o Frevo é vivo e é do mundo.
Luciana Félix
Diretora do Paço do Frevo
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OLHA O FREVO! JOSÉ
TELES
O Frevo está com oficiais 115 anos, contados a partir da suposta primeira vez em que o termo foi publicado pela imprensa recifense, no caso, o Jornal Pequeno, em 9 de fevereiro de 1907, numa nota sobre a agremiação Empalhadores do Feitosa. Uma constatação do folclorista e pesquisador Evandro Rabello. No entanto, em 2015, Luiz Henrique Santos, atual gerente de memória e exposições do Paço do Frevo, deparou-se com a palavra "Frevo" numa edição do Diario de Pernambuco, de 11 de janeiro de 1906. Ressaltando-se que nessa época "Frevo" não significava o gênero musical, mas a efervescência dos foliões seguindo as agremiações pelas ruas do Recife. A multidão parecia ferver, e de ferver vem "frever", "fervura", "Frevo". Ao jornalista Osvaldo Almeida, ou Paula Judeu, atribui-se a criação da palavra, porém é mais provável que tenha nascido no meio do povo.
O L h A O F REVO!
Considerações à parte, foi nas intensas celebrações dos 100 anos oficiais do Frevo, em 2007, na qual o cantor, compositor, ator, instrumentista Antonio Nóbrega teve papel fundamental, que se procedeu à revitalização do gênero, que andava em baixa desde a segunda metade dos anos 70, sobretudo pela decadência da Fábrica de Discos Rozenblit, e o desinteresse das gravadoras do Sudeste em lançar discos de Frevo.
No ano do centenário, o Frevo foi declarado Patrimônio Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Cinco anos mais tarde veio a consagração de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco. A partir daí a música e dança que nenhuma outra terra tem, parafraseando Capiba em É Frevo meu bem, foi fazendo mais amigos e influenciando mais pessoas.
Frevo vivo, este livro que celebra a honraria concedida pela Unesco à centenária manifestação cultural pernambucana, iniciativa do Paço do Frevo, com edição da Cepe Editora Editora, reúne textos de autores com abordagens e visões diferentes sobre os diversos aspectos que envolvem o gênero. Diferentes, mas convergentes. Analisam, comentam, ou historiam o Frevo, o passo, ou agremiações, dessa manifestação popular profundamente identificada com o Recife, onde começou a ser formatado por volta da última década do século XIX. Ao longo de todos esses anos, teve momentos de glória, de altos e baixos, de ostracismo, mas nunca deixou de evoluir, de se desenvolver absorvendo novos elementos, sobretudo em épocas mais recentes, quando se
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abriu para as mais diversas propostas estéticas. Não por acaso, o título desta obra alerta que o Frevo está vivo, e muito vivo.
Mas precisou quebrar a persistência dos puristas que o pretendiam atrelado às tradições. Claro, desde pelo menos os anos 20, o Frevo evoluía. Mas cada inovação precisava enfrentar os guardiões das tradições. Foi assim quando Felix Lins de Albuquerque, o Felinho, introduziu as variações de saxofone na Marcha nº 1 do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas. O teatrólogo, também compositor Valdemar de Oliveira detestou: "É uma desfiguração lamentável, que responde pelo aceleramento incômodo do andamento".
Foi também há meio século que o Quinteto Violado acrescentou mais uma inovação no Frevo, a instrumentação de pau
e corda, com um viés jazzístico, tendo a flauta como solista. Os blocos dos anos 20, foram também inovadores, complementavam a orquestra de violões, bandolins, violinos, entre outros, com um conjunto de metais e palhetas. Em 1924, o Apois Fum, um dos maiores de então, saiu às ruas com 28 violões seis cavaquinhos, cinco bandolins, três violinos, dois pandeiros, dois reco-recos e dois tambores, sob a batuta do violonista Felinto Moraes. Já o Capitão Zuzinha regia uma orquestra com um bombardino, dois trombones de vara, uma flauta, um saxofone e um clarinete.
Amilcar Bezerra, em seu artigo "Frevo: modernizando-se mas reverenciando a tradição", lembra-nos dessa longa queda de braço entre tradicionalistas e inovadores, e das inevitáveis mudanças no gênero década após década, até chegar aos anos 90,
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quando foram introduzidas no Frevo as modificações mais drásticas. Da jazzificação empreendida pelo maestro Spok, da junção com a cultura popular procedida pelo maestro Forró e a Orquestra Popular da Bomba do Hemetério, até o Frevo rock da banda Eddie, o experimentalismo do Frevotron, trio formado pelo maestro Spok, DJ Dolores e Yuri Queiroga. Os puristas queriam um Frevo dogmático, mas o novo sempre vem.
Em meados dos anos 70, por exemplo, o maestro Mário Mateus passou a usar um contrabaixo elétrico em sua orquestra. Vale lembrar que quando o compositor Carlos Fernando (1938/2013) mostrou a Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa, 1904/1997) alguns Frevos seus (do projeto Asas da América), este foi curto e grosso: "Isto pra mim é rock". Se Capiba achava o Frevo de Carlos Fernando rock, o que diria das composições carnavalescas de J.Michiles, que são Frevos de rua com letra? Amilcar Bezerra, autor do texto "Frevo: modernizando-se mas reverenciando a tradição", cita o Frevo baiano criado por Dodô & Osmar, depois de uma exibição do Vassourinhas, em 1951, uma parada estratégica na viagem que fazia para o Rio de Janeiro. Como não havia em Salvador a tradição dos metais na música carnavalesca, os baianos optaram pela guitarra, ou pau elétrico, que evoluiu até os Frevos que Caetano Veloso compôs, e tornou sucessos nacionais, entre final dos anos 60 e meados dos anos 70.
A história da música Frevo é cheia de lacunas, que aos poucos vão sendo preenchidas. Centenas de composições escritas nas três primeiras décadas foram perdidas. Cada clu-
O L h A O F REVO!
be tinha a marcha que o identificava, das quais a que mais se popularizou, e se tornou conhecida nacionalmente foi a Marcha nº 1 do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas, atribuída a Joana Batista Ramos e Matias Rocha. O nome de Joana Batista Ramos levanta a discussão sobre a participação feminina na criação da marcha pernambucana em "O Frevo mulher", texto assinado por Carmem Lélis. A participação da mulher no Frevo foi pequena nas primeiras décadas do gênero. O Frevo instrumental, o que dominava o carnaval de rua, ficava com os maestros, todos homens, a maioria regente de bandas marciais, Capitão Zuzinha, Tenente João Cícero, entre outros. Na segunda metade dos anos 30, essa participação feminina aumenta consideravelmente, com destaque para Julieta de Oliveira, que disputou concursos de música carnavalesca com
Capiba, seu irmão Marambá ou Nelson Ferreira. Em 1937, ela se tornou a primeira mulher a ter um Frevo de sua autoria gravado, uma composição que ficou em quarto lugar no concurso promovido pelo Diario de Pernambuco, em 1933. Quando o Carnaval Chegou, a composição de Julieta de Oliveira, foi lançada pela Companhia Byington, e gravada por Jararaca (da dupla com Ratinho).
Os maestros e autores de Frevo, até os primeiros anos da década de 30, vinham, quase todos de famílias pobres, boa parte do interior do estado. Pretos e pardos predominavam no Frevo, tanto criando marchas, quanto fazendo o passo pelas ruas do Recife (e Olinda). O professor Mário Ribeiro dos Santos assinala, em seu artigo, incluído neste livro, a relação do Frevo com as práticas religiosas de matrizes afri-
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canas, oportunamente ressaltadas por ele, pela origem da maioria dos que criaram o Frevo e o passo, mas raramente enfatizada em livros que contam a história desta manifestação do povo pernambucano.
O artigo de Mário é, de certa forma, complementado pelo texto de Rebeca Gondim, no artigo intitulado "Frevo é dança urbana negra", em que lança um olhar sobre os criadores do Frevo, música de afrodescendentes que foi embranquecendo-se na medida em que a classe média, que brincava o carnaval em clubes, passou a sair às ruas. Nos anos 30, os autores de Frevos já eram de maioria branca (algo semelhante aconteceu ao jazz e, posteriormente, ao rock). Rebeca também linka o passo a outras danças de origem afro-brasileira, do samba ao break e o funk.
O L h A O F REVO!
PASSO
Quem nasceu primeiro a música ou o passo? Nasceram ao mesmo tempo? A maioria dos que se ocuparam destas questões, ampara-se no livro Frevo, capoeira e passo, de Valdemar de Oliveira. Teriam nascido juntos, um influenciando o outro. Tanto o Frevo quanto o Passo começaram a germinar com bandas de músicas militares, seguidas por capoeiras, cujas coreografias diante do conjunto de sua preferência foram moldando a música e criando a dança (ou vice-versa). Duas testemunhas oculares da história do Frevo divergem de Oliveira. Para o maestro e compositor Levino Ferreira (1890/1970) a dança nasceu primeiro, enquanto a música adaptou-se a ela.
Autor de uma minuciosa descrição de como acontecia o Frevo nos anos 1930, em seu romance Seu Candinho da farmácia, Mario Sette (1886/1950) era de opinião de que a música veio antes, e o passo surgiu não apenas dos capoeiras e capadócios, mas, e sobretudo, dos foliões que acompanhavam os clubes. Quando enveredavam pelas estreitas ruas do bairro de São José, ou pelas pontes, inventavam passos, dançavam freneticamente para evitar serem arrastados, ou espremidos pela multidão.
A dança/passo foi definindo-se ao longo das primeiras décadas do século passado. Em É de perder os sapatos , Valéria Vicente, com vasta experiência no tema, traça uma es -
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pécie de retrospectiva do Frevo, citando antigos passistas, Egídio Bezerra, Sete Molas, ou Nascimento do Passo, do Frevo contemporâneo, às entidades e pessoas que contribuem para o desenvolvimento da dança, como ela própria, Valéria, o Guerreiros do Passo, Antônio Nóbrega ou Flaira Ferro.
O passo que teima em permanecer em Pernambuco, embora tenha exercido fascínio em grandes nomes da dança, a exemplo da lendária carioca Eros Volúsia (1904/2004), a quem se atribui a criação de um balé moderno e de inspiração nacional, com um repertório de ritmos de várias regiões do país. Em 1937, Eros Volúsia veio ao Recife aprender in loco o Frevo e o maracatu, e os levou para o palco do Teatro de Santa Isabel, daí para o Rio. Não pegou.
Seria a complexidade do passo o que dificulta sua absorção fora de Pernambuco? Em 1950, esteve na capital pernambucana, e foi também apresentada ao Frevo, a célebre bailarina, coreógrafa, e antropóloga americana Katherine Durham, que viajou pela África, Caribe e América Latina estudando, e aprendendo as danças originárias da diáspora africana. Katherine teceu elogios ao Frevo (e ao maracatu), mas não o incluiu no repertório de sua companhia de dança.
O passo também é abordado por Jefferson Figueirêdo no artigo "Diversidades, corpos, e territórios festivos: Frevo para todes", que lança o olhar na
O L h A O F REVO!
particular relação entre Frevo e corpo, enfatizando uma frase de Nascimento do Passo: "A quantidade de passos de Frevo existente é equivalente à quantidade de pernambucanos". Algo que precisa ser recuperado, o improviso do passo. Cada passista criava sua própria coreografia, as que se destacavam eram copiadas e entravam no vocabulário do passo, pegavam ou sumiam. Uma esquecida: o "merguio". Quando as agremiações, nos anos 20, enveredavam pela ponte da Boa Vista (conhecida como "ponte de ferro"), no final, deparavam-se com as obras de saneamento da Rua da Imperatriz, crateras cheias d’água. Alguém gritava: "Oia o merguio!" ("mergulho") e os foliões improvisavam um passo para contornar o buraco.
FREVO DO MUNDO
Durante décadas o Frevo teimou em permanecer em Pernambuco, com incursões por estados nordestinos. Nos anos 40 e 50 chegou a ser parte do Carnaval do Rio, com êmulos cariocas das agremiações recifenses, Vassourinhas ou Bola de Ouro, por exemplo. Fez algumas tentativas oficiais para divulgar o gênero no exterior, com ações como o Voo do Frevo, que visitou vários países. Somente em 2008, foi que o Frevo chegou às plateias dos principais festivais de jazz europeus, levado pela SpokFrevo Orquestra. Nunca esta música nascida no Recife chegou tão longe. A SFO foi até a China e a Índia.
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Quem escreve sobre esta internacionalização do Frevo é o próprio maestro Spok, no texto "Pernambuco frevando para o mundo".
É o professor Júlio Vila Nova quem se encarrega de discorrer sobre os que põem a folia em prática no ensaio "Atrás das agremiações só não vai quem já morreu". Um tema que ainda não foi devidamente dissecado, com poucos livros dedicados aos blocos, troças, clubes, cordões, grande parte desaparecida. Cita o que provavelmente é o mais antigo dos clubes carnavalescos, ou pelo menos o que chegou ao século XX, o Caiadores, sublinhando que essas agremiações, em jornais que muitas publicavam no período carnavalesco, opinavam sobre o cotidiano da cidade, indo além da festa de Momo. Em tempo. O Caiadores não era constituído por pintores de parede ou afins. "Caiar" significava "brochar" (a tal disfunção erétil). Vila Nova sintetiza a histórias dessas agremiações pernambucanas, sem esquecer as troças nascidas durante a ditadura militar, nos anos 70, e que se tornaram trincheiras lúdicas de crítica ao regime militar, Nóis Sofre Mais Nóis Goza, Siri na Lata e Eu Acho É Pouco, os principais.
Em 1939, o citado Mário Sette publicou um livro direcionado às crianças, no qual o carnaval ocupa espaço privilegiado. Conta suas próprias lembranças do carnaval de sua infância. Num artigo, para o Diário da Manhã (19/2/1939), intitulado "Enfim Carnaval", escreveu: "Hoje, mal o sol se alevantar, a meninada toda estará atenta, com os ruídos que vêm da rua anunciando o Carnaval, Carnaval, Carnaval". Em "Freverê - Crianças brincantes e sentidos de continuidade", Leilane Nascimento aborda a participação da criançada
O L h A O F REVO!
na folia, e a herança cultural que mestres, como o já citado passista Egídio Bezerra (cujo aniversário de 50 anos de morte acontece neste 2022) , transmitem para os filhos, que deram continuidade à sua arte, o que ocorre também com a música, no Bloco da Saudade, com parentes do compositor Edgard Moraes, ou com o cantor Claudionor Germano, com dois filhos também intérpretes de Frevo: Nonô Germano e Paulo da Hora.
Por fim, no ensaio "Frevo e Artes Visuais", Nicole Costa ressalta a relação Frevo/imagem, ambos indissociáveis. Vai da fantasia do folião, estandartes e flabelos, artistas plásticos que retrataram o Frevo e o carnaval em esculturas, telas, de Lula Cardoso Ayres, passando por Bajado, Abelardo da Hora, Wellington Virgolino, ou J.Borges. Sem esquecer, claro, Wilson de Souza (irmão de Virgolino), que assinou capas de álbuns da Fábrica de Discos Rozenblit, mais conhecida como Mocambo (por causa do seu primeiro fonográfico). Quando se fala da modernidade nas capas de discos no Brasil, cita-se quase sempre a carioca Elenco, de Aloysio de Oliveira. As capas da Mocambo são tão modernas quanto, e criadas até antes da existência da Elenco.
Ricardo Piquet, diretor presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG, Luciana Félix, diretora do Paço do Frevo, e Eduardo Sarmento escrevem, mais especificamente, sobre este equipamento municipal, o Paço do Frevo, e sobre o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade concedido pela Unesco, uma década atrás, e que este livro celebra.
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EDUARDO SARMENTO
FREVO COMO PATRIMôNIO CULTURAL IMATERIAL DA hUMANIDADE E PATRIMôNIO AFETIVO PERNAMBUCANO
A noção de patrimônio cultural é, além de bastante conhecida e difundida, central para a vida social, tendo, portanto, relevância seja para as políticas públicas, seja para o cotidiano de diversos segmentos sociais.
Por outro lado, ela incorpora diversas tensões de temporalidades, demandas, visões de mundo, modos de vida, sabe-
res, conhecimentos e poderes. É, desse modo, uma definição em disputa. É política. O Frevo, igualmente, é resultado da disputa, é político. Seu corpo, brincante e popular, individual e coletivo, é transgressor, libertário e, ao mesmo tempo, resistência ontológica, fruto do desvio, do enfrentamento, de uma "pedagogia do conflito". Seu nascedouro é a rua e a sua festa é feita pelo corpo negro e traba-
F REVO COMO P ATRIM ô NIO C
ULTURAL IMATERIAL DA hUMANIDADE E PATRIM ô NIO AFETIVO PERNAMBUCANO
lhador, afrodiaspórico. É um "monstro popular" que traz projetos de emancipação elaborados pelos sujeitos que habitam "a zona do não ser" (FANON, 2008).
Pensá-lo, nesse contexto, como um Patrimônio Cultural, ou, dito de outra maneira, consagrá-lo como uma representação de interesse público, invoca, no fluxo do conhecimento oficializado, narrativas, símbolos e tradições. O Frevo legitimado é, não podemos esquecer, fruto de escolhas, de classificações, de marcadores que visibilizam alguns traços e apagam outros, a partir de uma operação de transubstanciação simbólica.
Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, a inscrição do Frevo na "Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade", no contexto da 7ª sessão do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, em Paris.
Assim, em 2012, houve, após já ter ocorrido o seu registro como "Patrimônio Imaterial do Brasil", realizado no ano de 2007 pelo Instituto do Patrimônio
Sem dúvida, olhando em retrospectiva, esse foi um momento de celebração, mas, também, de mobilização de todos os talentos, de todas as energias e de todos os recursos no sentido de garantir e efetivar o lugar (social, cultural e político) do Frevo como um "Patrimônio Mundial", depois de um longo processo de investigação, estudo e divulgação. Vale registrar que se tratou, o processo de candidatura, de uma causa coletiva e de um projeto partilhado, destacando-se a atuação do Comitê Gestor de Salvaguar-
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da do Frevo, coletivo que congrega diferentes atores institucionais e a própria comunidade produtora. A sua inscrição, portanto, atuou na perspectiva de reconhecer o papel dessa "Forma de Expressão" na história da cultura mundial, como também de reafirmar, pela sua complexidade e riqueza, um lugar de destaque na cultura contemporânea. Permitiu, igualmente, explorar caminhos e ideias, estruturando novas ações e participações, agenciando saberes e conhecimentos, enfim, construir novos futuros. Já à época, sabia-se que o Frevo era não apenas um fenômeno importante, com os seus aspectos estéticos, performáticos, simbólicos, históricos e econômicos, mas um acontecimento que ensejava múltiplas significações, agenciamentos e identidades.
Nesse panorama, sobretudo na perspectiva de tratá-lo como um objeto com contornos mundiais, a partir da noção espaço-temporal "universal", uma operação desafiadora foi realizada. Exigiu observar os diversos mundos e suas narrativas, as relações de solidariedade e criatividade, as dinâmicas culturais que o transformam, alimentando debates sobre tradição, identidades e pertencimentos. Demandou, também, relacioná-lo à construção de uma nova questão social, de uma nova questão pública.
No entanto, é necessário, agora, após dez anos da inscrição, inaugurar um olhar prospectivo e perspectivo, debatendo os efeitos políticos e práticos, refletindo sobre os usos sociais e inquirindo sobre as possíveis novas ações de comunicação, ativismos, educação, preservação e salvaguarda ligados ao Patrimônio Imaterial. Os patrimônios precisam encontrar
F REVO COMO P
ATRIM
ô NIO C ULTURAL IMATERIAL DA hUMANIDADE E PATRIM ô NIO AFETIVO PERNAMBUCANO
"ressonância" (GONÇALVES, 2005) na sociedade. Isso significa compreender, potencialmente, como um dispositivo de mudança social, passando, desse modo, pela construção de novos significados. Advogo, nesse sentido, que as instituições, as políticas e os coletivos possam pensar e forjar novas relações e práticas contaminadas pela vida afetiva e social, ou, como afirma Mário Chagas (2019), pensando "a vida como relação, como vivência e convivência, como potência não orgânica da vida, como potência de criação e de resistência" (CHAGAS, 2019, 148).
Necessitamos que os espaços do Frevo aconteçam cultivando os valores de intimidade, que sejam lugares onde a nossa vida íntima sucede, onde o Frevo possa acontecer e se renovar. Que sejam "casas" de memória e da imaginação, ao mesmo tempo, topografia do nosso ser íntimo. Temos que imaginar e criar novos mundos para o Frevo e isso passa por formular novos sonhos. Os sonhos também requerem espaços. Na verdade, carecemos de "espaços vividos" que valorize o local, suas vivências e as experiências coletivas. Que seja um lugar de reencontro e que faça refletir, pensar, redescobrir, lembrar, esquecer e representar a vida. Nessa cartografia mundial do Frevo, temos que criar ou iluminar novas cartografias locais e afetivas, baseadas na escala do afeto, da marcha do vivido, do "lugar praticado". Mas, para isso, é preciso maior elasticidade de devaneio, realizando um convite à vida contemplativa, ao espanto, à atenção profunda. Um convite, igualmente, à imaginação, lembrando que a imaginação aumenta os valores da realidade.
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Sem dúvida, são muitos deslocamentos que o Frevo realizou em sua vida centenária, absorvendo e construindo novos sentidos e significados. Defendo, entretanto, como exercício poético e imaginativo, que o deslocamento de agora seja no sentido de experimentarmos os valores de intimidade, do espaço interior, de nossa casa, das inúmeras casas do Frevo. Ele é feito de vida e de coletividade, mas também de intimidade. Certamente, o Frevo, com seu dinamismo próprio, irá transgredir. Ele, como uma espécie de linguagem de fronteira, age, resiste, reinventa, transgride e nos coloca em estado de emergência. Entre o deslumbramento e a estranheza, o Frevo é um antídoto contra o medo. Ele não reproduz a vida, é parte dela.
distinções e desigualdades. Assim, mais do que uma cultura homogênea, traz descontinuidades, fruto de inúmeras negociações intraculturais e interpessoais, num movimento constante de mistura. Ele exige, portanto, um olhar fluido e híbrido. O seu lugar no mundo é contraditório, plural e complexo, coletivo e individual. Há um intenso intercâmbio entre pessoas que criam, se apropriam e dão significado ao Frevo, movidas entre o sonhar e o agir, entre a imaginação e o real, entre o público e o privado.
Por outro lado, apesar de ter ou representar uma unidade, ele é composto de
O Frevo, como afirma Flaira Ferro, é uma "revolta do passo" e prossegue "espalhando a sua brasa". Continuará sendo um Patrimônio Cultural, mas, sempre, político e contestador. É uma música, dança e festa de alforria. A sua "matéria-força" está na relação corpo-fluxo-patrimônio.
F REVO COMO P ATRIM
ô NIO C ULTURAL IMATERIAL DA hUMANIDADE E PATRIM ô NIO AFETIVO PERNAMBUCANO
Desse modo, se perguntarmos, agora, o que pode o Frevo, devemos responder que ele pode o quanto ele tem potência. Ele multiplica as relações, aumenta nossa capacidade de afetar e ser afetado. É, assim, puro ato de transformar-se e tornar-se continuamente, num movimento difuso, antilinear, rizomático. É uma modificação intensiva.
O encontro com o Frevo é sempre uma questão de vida. De vida social e de uma vida íntima. Elas retroalimentam-se. É, ao mesmo tempo, uma vontade de poder, de potência, de invenção e, também, de sociabilidade e de intimidade. É uma plataforma, um portal em que indivíduos e coletivos são catapultados em pensamentos e experiências para novos mundos da existência humana. Um verdadeiro criadouro de subjetividades.
O Frevo é, enfim, um Patrimônio Imaterial da Humanidade, mas, sobretudo, é um patrimônio afetivo. Do público ao privado, ele nos permite sentir, refletir, aprender, experimentar e arriscar. Ele nos mantém vivos e vinculados, oferecendo uma vastidão de imagens poéticas, de ritos. O Frevo nos faz encontrar o "outro" corpo, de descobrir a "zona de vizinhança" ou de "copresença". É uma vontade das forças.
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NESSE PASSO TEM AZEITE: hISTóRIAS DE FREVO E DE TERREIROS NO CARNAVAL DE PERNAMBUCO MÁRIO RIBEIRO
Para os povos de terreiro, Exu é o dono dos caminhos, aquele que faz das encruzilhadas a sua morada. É a divindade do panteão iorubá responsável pela comunicação. Ele é a palavra em movimento. Existe um provérbio africano que diz: "Exu mata um pássaro ontem, com uma pedra atirada hoje". Esse pássaro sádico, que desqualifica o corpo negro e apaga o protagonismo das religiões afro-brasilei-
ras da história do Carnaval de Pernambuco sai de cena com reflexões como esta, onde a palavra é potência e Exu fala por meio de cada linha desse texto.
É dessa perspectiva exuística que nos deslocaremos, aos sons dos clarins de Momo, para falarmos sobre a relação do Frevo com as práticas religiosas de matrizes africanas e como o povo de axé, entre
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confetes e serpentinas, prepara seus corpos para sair de suas residências fantasiados de passistas, pierrôs, colombinas, porta-estandartes, reis e todo um universo de personagens gestados pelo imaginário e protegidos de qualquer desarmonia que possa acontecer pelos caminhos carnavalizados.
São múltiplas as veredas do Frevo na história do Carnaval. Não há como fazê-las, hoje, da mesma forma como os nossos avós fizeram em tempos passados. Trata-se de uma forma de expressão viva, orgânica, sempre em fluxo e numa mobilidade contagiante, que nos impossibilita pensá-lo de maneira linear. Partindo desse pressuposto, como reivindicar um único modo de fazê-lo, senti-lo e vivenciá-lo? Ele é gestado na interseccionalidade de tradições, valores, músicas, danças, plasticidade dos seus adereços, alegorias e com as diferentes formas de se expressar dos seus detentores.
Refletiremos neste ensaio sobre as relações dos clubes, das troças, dos blocos e dos clubes de bonecos com os saberes ancestrais africanos praticados no cotidiano; as maneiras dos seus representantes vivenciarem os festejos carnavalescos; a preparação de seus corpos para saírem às ruas e como materializam essa religiosidade no território da folia. Das encruzilhadas desses saberes, onde diferentes coexistências, outros tempos, outras lógicas e outros referenciais se encontram, pessoas historicamente marginalizadas, são detentoras de talentos singulares que os transformam em passistas, bonecos gigantes, porta-estandartes, flabelistas, músicos, personagens dos cordões e das mais diversas alas.
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Corpos negros na sua maioria, que transitam do chão de terra quente não nivelado aos deslizantes palcos encerados dos majestosos teatros e museus do país e do mundo.
Esses sujeitos carnavalizados do Frevo possuem identidades próprias e reinventam, diariamente, possibilidades de vida nos guetos, nas margens, nos altos dos morros, nos terreiros, nas fábricas, no comércio onde trabalham, no contrafluxo e nos mais diversos lugares não autorizados por um sistema que naturaliza a morte.
Partindo desse pressuposto, o Frevo vivenciado pelos povos de religiões de matrizes africanas é assentado nos subúrbios e rasura um conjunto de memórias oficiais que durante muito tempo nomeou como vadiagem as manifestações culturais populares. Esse tipo de postura, excludente e negacionista, pautava-se em relações de poder protagonizadas por um Estado avesso às experiências e aos valores não cristãos, condenando a perspectiva da diversidade e colocando na clandestinidade as práticas cotidianas não alinhadas aos padrões hegemônicos.
A demonização de tudo que estivesse relacionado aos fazeres negros é uma herança do período escravagista que reduziu a existência dos pretos e das pretas à condição de marginalidade. É nesse contexto, que os terreiros surgem como lugares de resistência, nos quais as memórias são preservadas e as histórias são legitimadas no diálogo do corpo com os tambores.
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Há registros bibliográficos que afirmam que muitos Babalorixás, Yalorixás e filhos-de-santo, em Pernambuco, eram ligados diretamente a clubes, troças e blocos de Frevo, a exemplo de Mãe Sinhá (1877-1966), Mãe Iaiá e Badia (1915-1991), conhecidas como as Tias do Terço, em referência à residência no pátio da Rua Vidal de Negreiros, no Bairro de São José, eram costureiras e integravam diversas diretorias de agremiações carnavalescas, que nasceram nesse ponto da cidade ou por lá desfilavam, a exemplo do Clube Vassourinhas do Recife, da Troça Verdureiras de São José, entre outras.
século XIX, na Estrada Velha de Água Fria. Ocupou durante anos o cargo de Conselheiro do Bloco de Pau e Corda Madeira do Rosarinho (1926). Outros membros da família, como seu Malaquias Felipe Costa e Paulo Braz, todas lideranças religiosas respeitadas no axé, também integraram a referida diretoria da agremiação.
Outro exemplo é o senhor João Romão da Costa, filho biológico de Pai Adão, sacerdote responsável pelo Ilê Obá Ogunté, mais conhecido como Terreiro de Pai Adão, fundado na segunda metade do
Embora a influência das religiões de matrizes africanas seja mais explícita nos grupos de maracatu de baque virado, nas escolas de samba e nos afoxés, uma vez que incorporam na sua indumentária e nos seus repertórios, ritmos e letras relacionados aos candomblés, identificamos nas conversas com os "mais velhos", uma íntima relação entre o Frevo e os terreiros.
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Dentro dessa realidade, destacamos os grupos que nasceram do desejo dos foliões comprometidos com a religião dos orixás e amantes dos festejos carnavalescos. Como exemplo, citamos a Troça O Bagaço é Meu, fundada no final da década de 1920, no interior do Sítio de Pai Adão, num sábado de Carnaval, após um toque festivo em homenagem aos ancestrais. Outra agremiação criada no interior da relação entre o candomblé e o Frevo, é a Troça Carnavalesca Mista Abanadores do Arruda, fundada em 1934, cujas cores vermelho e verde presentes no seu estandarte e de algumas fantasias é uma reverência a Ogun, um dos orixás patronos do grupo, desbravador de caminhos e detentor do poder de transformação do ferro. A homenagem a Oxum, divindade das águas doces e da fertilidade, materializa-se também no estandarte por meio de uma boneca vestida em tons dourados.
A devoção dos brincantes do Frevo às divindades do panteão africano encontra-se na astúcia da ginga dos seus corpos ancestrais, nas paredes e altares nas sedes dos grupos, no chão dos terreiros, no centro das encruzilhadas, nas pedreiras, na boca da mata ou nos riachos de água corrente - lugares seguros e sagrados para pedirem proteção à espiritualidade e encantarem com a força dos invisíveis, seus elementos simbólicos, a exemplo do medalhão que o Boneco Seu Malaquias traz pendurado em seu peito, vestido com as cores branco e vermelho em homenagem a Xangô, o patrono do clube. Banhos de limpeza, ebós, cachaça, água, azeite, ervas, farofas... A magia do Frevo está pronta para garantir a harmonização do mundo e a segurança do coletivo.
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Do tensionamento dessas experiências forjadas no calor dos corpos impregnados de axé e suados pelo agito de um Frevo bem quente, num passo sem preconceito, essas reflexões são edificantes porque ampliam o nosso olhar para o Carnaval de Pernambuco, o qual passa a ser lido a partir das vivências empretecidas dos seguidores das religiões de matrizes africanas, atribuindo a essa celebração um fértil campo de produção de conhecimento. Um território de saberes múltiplos que precisa ser compreendido a partir da perspectiva da diversidade e não com o foco na fixidez de impor um único modelo de falar sobre as manifestações carnavalescas, de celebrar e vivenciar outros tempos.
O estudo dessa temática precisa ser, urgentemente, descolonizado, abrindo caminhos para outras narrativas, as quais representem, de maneira positiva, o legado cultural africano, valorizando singularidades e construindo novas formas de entendimento sobre o Frevo - expressão cultural viva, subversiva, anticolonial alicerçada em outras lógicas que emergem como outras possibilidades.
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Primeiramente, peço licença e saúdo a todes que chegaram até aqui. Gostaria de dizer que trago neste trecho do caminho exercícios de imaginação, sonhos, desejos e ideias/danças para contribuir para nossa luta pela liberdade. Sejam todas, todos e todes bem-vindes. Aqui, senhoras e senhores, somos todes passistas dessa vida. Este lugar que estamos fala muito mais sobre festa do que sobre qualquer outra coisa. Entendo que estamos finalmente seguros, em casa, e que é necessário alçar exercícios de imaginação. Agora a gente pode sonhar "em paz".
chegamos em nosso quilombo. Que somos nosso próprio quilombo, como nos aconselha Beatriz Nascimento: "A terra é o meu quilombo, meu espaço é o meu quilombo. Onde eu estou, eu estou! Onde eu estou, eu sou!" (NASCIMENTO, 2018, 337).
O Frevo, nossas escolas, e a multidão que somos são nossos quilombos.
E o primeiro exercício de imaginar é: sonhar que estamos em um quilombo. Que
Nos movemos como quilombolas, somos filhas e filhos de um povo que soube agir contra a repressão do estado e da polícia. Que na multidão sabe organizar a sua defesa, que recua quando necessário, mas que avança sempre que é possível e nunca desiste. Jamais! Cada passista aqui é um
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REBECA GONDIM
quilombo e carrega consigo passos ancestrais. O pulso não para nunca. Temos muitas fantasias. Somos uma multidão incontrolável. Aqui a regra é escura: todes sejam bem-vindes! Vocês estão livres! E se organizar direitinho tem espaço para todes nesta grande multidão. O espaço é apertado mesmo! Mas sempre cabe mais um e mais uma com sua dança, com sua fome. A roda sempre será aberta para aqueles e aquelas que desejam construir aqui um ambiente de respeito; de busca pela liberdade, pela nossa igualdade, nossa humanidade. Esse lugar é precioso... Nossos saberes estão aqui, guardados entre nós, portanto, precisamos saber lutar para protegê-los. Com unhas e dentes! Seremos firmes para defender nosso direito de existir e ser quem somos. Aqui é tudo nosso e nada, nada é deles!
Aqui, vamos pensar criticamente sobre nossa dança, nossas danças. Entender o Frevo como uma dança negra que foi e é embranquecida, mas é negra! Sempre nessa perspectiva para que percebamos o que de negro temos em nós, o que nos restou ou o que temos de sobra. Pensar o Frevo como uma dança negra construída por "corpos em diáspora" (SILVA, 2017).
Luciane Ramos Silva (2017), artista da dança e antropóloga, apresenta a noção de corpo em diáspora como "fundamentada em técnicas, estéticas e poéticas oriundas das formas africanizadas de escrita de si que compõem a multiplicidade brasileira". E segue:
A proposta Corpo em diáspora, elaborada como uma ação prática de edificação de linguagem que parte de fundamentos relacionados às formas africanizadas de escrita de si e que, estruturadas e entendidas em contextos brasileiros, podem nos auxiliar a ampliar
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os territórios de produção de conhecimento em dança e traçar outras rotas possíveis. [...] Tomamos a experiência diaspórica enquanto continuidade profunda e multidimensional de elementos tais quais a ancestralidade, a relação vital com os elementos da natureza, a noção de território, o princípio da circularidade, o corpo enquanto mediador da espiritualidade e produtor de saberes, a tradição oral, a noção de universo integrado, a noção de tempo ancestral e de família extensa. (SILVA, 2017)
No desejo também de aprofundar as relações com outras danças urbanas negras, criadas, majoritariamente, por corpos periféricos, costurar mais ainda esses laços e refletir sobre eles. Refletir sobre as fronteiras que ainda nos deixam distantes. Descobrir quais são elas. Aqui estou pensando as danças urbanas negras como moveres/saberes que se constroem no ambiente urbano e que carregam em seus gingados, em seus princípios, a irreverência, a insistência de ocupar espaços (especialmente ruas e praças) disputado com o poder hegemônico.
Para não esquecer de onde viemos, acho que precisamos fortalecer os laços e nossa solidariedade com as outras danças negras urbanas irmãs: o bregafunk, funk, brega, a swingueira, etc. Se entender enquanto comunidade e, portanto, conversar com a capoeira, o maracatu, o coco… escutar as mais velhas! Na certeza de que temos muitas diferenças, mas que temos, sobretudo, semelhanças, porque viemos de um povo, viemos de longe. Pensar como quilombo, comunidade, um movimento que é maior que nós, que é maior que o próprio passo, o próprio Frevo. Eles querem nos dividir. Não podemos perder o laço.
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Sinto também que precisamos reconstruir e construir nossas imagens e novas narrativas a partir desse ponto de vista. Contar nossa história de várias formas e especialmente com quem constrói essas narrativas no dia a dia. Questionar sempre o que nos aprisiona também é importante neste lugar: refletir sobre o machismo, o racismo, a gordofobia, a LGBTfobia dentro da nossa própria multidão. Cada corpo e corpa tem sua trajetória que precisa ser escutada. Precisamos reforçar que é preciso estarmos juntes nessa roda. Pois, nesta sociedade desigual, desumana, opressora estamos sempre em fuga e quanto mais juntas, juntos, juntes estivermos, mesmo com todas nossas diferenças e complexidades, mais firmes serão nossos passos e nossos risos, apesar do desequilíbrio constante. E desejo que nossos sonhos sejam grandes aqui, e que no fim
das contas a gente sempre se acabe num Frevo. Como diz o músico BK, na música Movimento (2021): "e a luta pela liberdade só acabe quando ela for encontrada. Para que a nossa poesia não seja mais escrita com sangue".
Vamos nos acomodando por aqui, tem espaço. Vocês aceitam dançar um pouco? Deixo aqui, antes de seguirmos para as próximas imaginações, a música Revide do Mc Jeff Rodriguez. Coloca aí no teu fone e vamos nessa…
Para seguirmos imaginando e refletindo, quero comunicar para vocês as formas que encontrei para tentar (re)imaginar a dança do Frevo na perspectiva do Frevo como dança negra, vamos juntes nestes próximos exercícios. Quando faço o exercício de fechar os olhos e imaginar a dança do Frevo,
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sempre vejo muitas cores e sorrisos. Essa é uma imagem ainda muito marcante em meu imaginário: festa, alegria e muitos brilhos. E o Frevo é tudo isso mesmo, mas não só. As imagens da TV são fortes no meu imaginário, apesar de ter vivido os bastidores/ corredores desta dança. E quem vive sabe o quanto de suor escorrido é, que cachê nenhum nunca paga. Hoje, no meu processo de escrita/dança, nesta brincadeira de reimaginar, tento repensar e recriar outras imagens e histórias. Estou entrando na roda partindo do ponto de que o Frevo é uma dança urbana negra, como já disse. Pensar nisto muda meu ponto de vista. Escurece mais as coisas. Desconstrói os estereótipos da vista (o perigo de uma história única).
Estou fazendo o exercício de dançar Frevo ao som do jazz funk, bregafunk, do brega, do funk, do afrobeat, das can -
tigas dos orixás, do coco, do blues, do rap. Tenho escutado muito rap e funk… o pulso dessas músicas me faz frevar. O breaking me lembra o Frevo. Os passinhos de bregafunk me lembram o Frevo. Trago pra roda. Movo a cabeça em conexão com quadril; crio a conexão da cabeça, coluna e bacia. Coluna em movimento constante. Frevo rebolando. Ponta de pé - quadril - e calcanhar. Movo o pescoço, depois a região torácica, depois o quadril. Movo toda a coluna como posso, frevando. Frevo imitando o vento; imitando a água. Essas práticas me fazem mudar as cores desta dança. Hoje as cores que mais me vêm à cabeça quando revejo o Frevo é preto, vermelho e branco. Cobra coral. Imagino o movimento dela. Azul também é uma cor que vem muito forte no meu imaginário. Aquele azul-marinho celes -
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te. Preto azulado! Tenho pesquisado muito sobre o afrofuturismo e gosto muito da estética desse movimento. E nessa onda, ando sentindo muito banzo fazendo Frevo, uma saudade grande... Muitas vezes me vejo dançando e fugindo e tenho medo. Como quem corre pra dentro. E tenho medo. "Talvez a fuga seja uma consequência cultural, uma consequência ancestral." (NASCIMENTO, 2018). Corpo encurvado - Frevo olhando meus pés, olhando meus passos.
Outro exercício que faço e que podemos fazer juntes é: enquanto estamos solando, nessa brincadeira de (re)imaginar, podemos tentar sonhar como dançavam nossas ancestrais e onde podemos encontrar elas em nós. Recriando suas imagens, assim como tentamos imaginar algum parente que não chegamos a conhecer. Como minha avó Dionísia, por exemplo. Conversar com elas em silêncio como uma reza e frevando. Para estimular esse exercício, leio retalhos de histórias e vejo muitas imagens de multidões, na tentativa de encontrar suas imagens para poder fazer a costura dessas histórias. Também invento suas histórias e faço parte delas. Frevo como se tivesse contando suas histórias como quem é mestre de cerimônias. Diante da invisibilidade que nossas ancestrais sofrem, é necessário, urgentemente, inventarmos exercícios de imaginá-las. E se não é possível que encontremos muitas de suas histórias, que inventemos também suas histórias a partir das nossas mãos, especialmente nós, mulheres racializadas. É nossa vida que está em jogo! "A invisibilidade está na raiz da perda da identidade" (NASCIMENTO, 2018).
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E por fim, quero dizer que ando tentando encontrar o sentido da ancestralidade e onde ela reside em mim, nos nossos passos. Partilho com vocês uma escrita livre que fiz a partir da proposta do professor Fernando Ferraz, orientador da mesma01, na instiga que eu encontrasse uma definição do que seria ancestralidade para mim. Enquanto escrevia/dançava, senti a presença da minha avó Dionísia, como se ela tivesse sussurrando no meu ouvido. Talvez seja a forma que eu encontrei para me conectar com sua história e me permitir acreditar que ela está sempre por perto: Ancestralidade é nunca dançar só. É saber, minha filha, que mesmo que a gente ache que estamos na frente, o tempo mostra que o passado mora ao lado. E que a gente nunca envelhece tanto como imaginam. Não procure tão longe a dança das tuas irmãs, eu estou sempre aqui. Mudei tanto que continuo a mesma. E a gente vai juntas moendo o tempo e o tempo nos moendo. Vai virando a gente de cabeça pra baixo e nos deixando com essa sensação de que você tem tanto medo… a da tontura. Não tenha tanto medo de cair… faz parte da caminhada. Nunca duvide do poder de desequilibrar. Pode confiar: vai ter sempre alguém para segurar, mas preste atenção, tente não ficar de costas para a rua. Você não pode procurar tão longe assim essas pernas que te ajudam a se sustentar. Você sabe quem tanto segura suas zonzeiras. Você só entende o mundo girando, minha menina... Girando, girando e girando. Nem tudo a gente consegue segurar. E sempre vai mexer tudo, vai virar tudo e você vai correr, nunca para trás.
Por agora, é isso... Segue o baile… Eu já falei/dancei demais, o espaço é todo nosso… eu desejo que nós nunca desistamos de contar nossas histórias. Que sonhemos alto. Essa festa é nossa!
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CARMEMLÉLIS
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Abordar percursos de opressão e apagamento, em contextos onde a festa se confunde com a vida ordinária, é desassombrar a memória, acessar um lugar-comum, mas essencial, no que toca a uma história repleta de lacunas. Frevo e mulheres: Turbilhões de desejos, forças imponderáveis, oráculo, realidade bruta, mansidão, fortaleza e mistério.
conservadorismo, como arranjos do poder, definiam seus papéis, não só nos espaços públicos, mas no ambiente familiar e doméstico. A despeito da ausência de narrativas próprias e do olhar negligente, de quem produzia registros oficiais, naturalmente masculinos, as mulheres estão presentes na construção da vida social, artística e intelectual do Recife frevante.
Ele turbulento e instigante, elas, silenciadas, mas nunca omissas, germinando em corpos e almas frente aos embates impostos. Enfrentando conjunturas sociais, onde o patriarcalismo, vindo dos engenhos, e o
A lírica sussurrada por elas em tempos de memória abre caminho entre brechas e torna-se chave do porvir, voo condutor, construção, concebida e capturada nos subterrâneos
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dos desejos e da coragem. No desabrigo das leis, se arriscavam exortando e ultrapassando fronteiras, explorando e teimando... Tendo o medo como prisão e ao mesmo tempo como instiga.
Um Frevo mulher, grito calado na garganta, entre o subversivo e o sagrado ansiando pela rua, dádiva do corpo dançante a decifrar-se em cada gesto.
VOO SEM ASAS
É explícita a invisibilidade e a não legitimação do papel da mulher na vida social do Recife do século XIX, quando o Carnaval popular já se lançava desafiador e atrevido. O Frevo arrastava para as ruas as camadas mais pobres da população e era, de alguma forma, o seu reconhecimento social e dos trabalhadores urbanos, entretanto, não se
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estendia às mulheres impedidas de viver plenamente seus direitos e aptidões, fossem sociais ou produtivas.
Importa mencionar a existência de trabalhos manuais femininos desde os jogos do Entrudo praticados no Brasil Colônia, como a fabricação das famosas limas de cheiro largamente consumidas, confeccionadas para o divertimento e vendidas nas ruas. Outras atividades manuais, fora as domésticas, aconteciam como prestação de serviços, pelas engomadeiras, quituteiras, lavadeiras, costureiras e eram executadas por mulheres pobres, pretas escravizadas ou forras e mestiças. Contudo, para aquelas que tinham o privilégio da palavra escrita, a solidão e intimidade dos diários tornaram-se suportes documentais cada vez mais pesquisados
e incorporados aos estudos de visibilidade e construção, não só da trajetória feminina, mas de recortes da história social do povo brasileiro. Dessa forma, cartas, poemas, canções, pinturas, trazem à tona a importância e participação ativa das mulheres em campos diversos, como estrategistas, poetisas, escritoras, artistas plásticas, musicistas e tantas outras competências.
SE ESSA RUA
FOSSE MIN hA...
E por falar em artes e produções femininas invisibilizadas, faz-se urgente registrar o ano de 1909, mais precisamente o dia 6 de janeiro, quando ultrapassando fronteiras, Joana Batista Ramos, mulher pobre,
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negra e provavelmente descendente de escravizados, em parceria com o maestro Matias da Rocha, escreve a letra do Vassourinhas, um icônico hino do Carnaval pernambucano. Sobre a vida de Joana, ainda muito pouco se sabe. Pesquisas realizadas pelo escritor Evandro Rabello apresentam uma informação do 2º Cartório de Registro Especial de Títulos e Documentos, datada de 1949, onde se encontra uma declaração de Joana Batista confirmando a autoria e data da composição:
A marcha intitulada Vassourinhas pertencente ao Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas. Foi composta por mim e o maestro Matias da Rocha no dia 6 de janeiro de 1909, no Arrabalde de Beberibe em um Mocambo de frente à estação do Porto da Madeira, dito mocambo, hoje é uma casa moderna. (RAMOS, 1949)
O documento informa: Em 18 de novembro de 1910, os dois cederam para o Clube os direitos autorais da música, por três mil réis, de acordo com recibo assinado por eles, localizado no acervo do Clube Carnavalesco. Sobre Joana Batista, a mulher e compositora, quase nada ainda se tem registrado além do seu falecimento em 1982, aos 74 anos. O seu atestado de óbito foi encontrado pela equipe do documentário Joana: se essa marcha fosse minha, dirigido pela produtora cultural Tatiana Braga e pelos jornalistas Camerino Neto e Maíra Brandão. A partir das pesquisas tem-se a informação que Joana era doméstica, teve três filhos com Amaro Vieira Ramos. Além disso, familiares, como netos e bisnetos, foram encontrados e contactados.
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FREVEDOURO E TRABAL hO
Nos primeiros anos do século XX o Recife vivia a efervescência de movimentos reivindicatórios, greves, conturbações políticas e econômicas e essa força popular terminava por se mostrar no Carnaval, tendo como ponto crucial o Frevo em seu avanço. As associações carnavalescas representam um lugar de reconhecimento social para a classe trabalhadora - dos hinos aos emblemas, o trabalho é tema alegoricamente retratado, principalmente o manual. Várias agremiações, entre clubes e troças, nascem com denominações femininas, em parte pelas atividades desenvolvidas por mulheres, fossem elas operárias, comerciárias ou
prestadoras de serviços. E mesmo que seus integrantes não fossem necessariamente mulheres, ou trabalhadores dos ofícios representados, o fato em si as fortalecia. Algumas delas estão aqui citadas: Engomadeiras, Quitandeiras de São José, Chaleiras de São José, Costureiras de Saco, Parteiras de São José, Babás da Boa Vista, Cigarreiras do Recife, Cigarreiras Divertidas, Cigarreiras Revoltosas, Parteiras da Boa Vista.
Além de aludirem ao trabalho, as denominações serviam como uma crítica de costumes à moral e às elites dominantes, uma vez que os instrumentos colocados emblematicamente, serviam para limpar, varrer, caiar ou seja, ver-se livre da sujeira.
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Fundada meses antes da proclamação da República, em 2 de fevereiro de 1889, a Troça Carnavalesca Mista Verdureiras de São José, segundo Maria Graciete Caminha: "Foi criada por mulheres que vendiam verdura no Mercado de São José e ficou por muitas décadas inativa, voltando a atuar em 1985, por influência de Badia e outras lideranças femininas".
Maria de Lourdes da Silva, mais conhecida por Badia, que gostava de se dizer "costureira de Carnaval", foi uma carnavalesca de valor inestimável do bairro de São José, mais precisamente do Pátio do Terço. Ialorixá pertencente à casa das "Tias do Terço", referência do Xangô do Recife, ocupa lugar na tradição da cultura negra e na memória coletiva da cidade. Ainda segundo informações da família Caminha, a Sra. Sevy, matriarca e fundadora do Bloco Pierrot de São José (13/10/1978), foi
a responsável pelo retorno da Troça Carnavalesca Mista Verdureiras de São José, a pedido da própria Badia que participava de várias outras agremiações carnavalescas, entre elas o Clube Vassourinhas, a Escola de Samba Estudantes de São José e a própria Verdureiras.
FESTAR TAMBÉM
É LUTA
Para além da festa, ou melhor, no interior dela, na costura entre lida e lazer, pontua-se aqui a primeira greve de mulheres no Recife, em 1903. A greve das Cigarreiras, motivada pela demissão de quatro mulheres, as primeiras inseridas no movimento operário da cidade. O movimento provoca imensa repercussão e
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demonstra que socialmente o trabalho de mulheres em fábricas era visto como "prática moralmente reprovável". Apesar de não ter sido vitoriosa em sua abrangência, tendo sido atendida em mínimas reivindicações, é evidente a vitória no que tange à inclusão das mulheres no movimento operário, na luta por visibilidade e identidade de gênero relacionada ao trabalho, como relata em seu artigo Felipe Azevedo e Souza, doutor em História Social pela Unicmap e Bolsista de Pós-Doutorado pela CAPES na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e publicado nos cadernos Pagu:
A Lafayette, maior fábrica de cigarros do Recife em meados de 1890, empregava apenas homens, alguns anos depois, era ocupada majoritariamente por mulheres. A contratação de cigarreiras em substituição contínua e gradual à mão de obra masculina trouxe à tona uma série de discussões sobre os papéis que eram estabelecidos para as mulheres em relação ao trabalho nas indústrias. O debate ganhou vigor quando algumas cigarreiras da Lafayette ingressaram no movimento operário, à época pulsante e em plena expansão, fundando a Secção Feminina do Centro Operário e ocupando postos de protagonismo social e de atuação política que conferiram novas imagens e valores em relação às identidades socialmente convencionadas para as mulheres. (SOUZA, 2019)
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EU QUERO ENTRAR
NA FOLIA
Segundo alguns estudiosos, e representantes de agremiações, cabe aos blocos carnavalescos mistos o marco divisório de visibilidade e atuação decisória das mulheres.
"Os homens, antigamente, só nos aceitavam como costureiras", afirmou D. Sevy Caminha em texto da Revista Continente (2011).
Contraponto do Carnaval "perigoso", os blocos carnavalescos mistos, surgem assemelhados aos Ranchos de Reis - têm história marcada pelos desfiles de pastoras, corais femininos e uma orquestra de pau e cordas. Suas composições trazem narrativas que vão do lirismo aos conteúdos sociais. Neles, a presença da mulher é marcante e com o passar do tempo atinge certa autonomia, a exemplo da composição das "Diretorias Femininas" presentes na organização e atuação da categoria.
Os blocos carnavalescos mistos, criados a partir dos anos 20 do século passado, trazem à cena uma participação mais efetiva de mulheres nas ruas, mesmo que cercadas e guardadas por pais, maridos, noivos, irmãos ou filhos.
Com origens diferentes dos clubes e troças, os blocos carnavalescos mistos têm em seu contexto, comerciantes, imigrantes, dos bairros de Santo Antônio, São José, Boa Vista e outros bairros do Centro do Recife. Possibilita à mulher da pequena burguesia participar da festa, guardada por "cordão de isola -
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mento" parental e atento; mesmo assim, realiza um sonho para as mulheres de classe média, que não tendo condições de frequentar os grandes clubes sociais, ansiavam pela possibilidade de brincar o Carnaval e ir para as ruas
PONTO DE PARTIDA, NUNCA PONTO
FINAL...
Na atualidade, a atuação das mulheres no Frevo tem se tornado cada dia mais representativa, os espaços de participação se ampliam e expressam de forma mais evidente o reconhecimento artís -
tico e profissional, mesmo que ainda se observem situações de machismo e processos em que a equidade de ganhos é contestada. Chama-se atenção para a presença de maestrinas, regentes, musicistas e orquestras, antes território restrito aos homens, formadas só por mulheres, assim como é comum a atuação de presidentas e diretoras de agremiações como clubes, blocos e troças. Essas conquistas são pautadas em uma saga de lutas por respeito, dignidade e igualdade de direitos.
Com ou sem biografias oficiais, persistirá a obstinada busca do lugar onde o desejo e o direito se imponham. A construção cotidiana se amplia e reverbera, inspirando gerações. Não há como apagar percursos, fazeres, saberes, trajetórias e lutas permanentes, porque as jornadas
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não são extintas por decreto. Ao contrário, mantêm-se pela pertença e teimosia. A luta das mulheres é costurada palmo a palmo, buliçosa, transgressora e valente como um Frevo inacabado, potente e suave, desconstruindo para construir, motivando o embate e alimentando a consciência, um fio condutor do passado/presente e para sempre Frevo!
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DIVERSIDADES, CORPOS E TERRITóRIOS FESTIVOS: FREVO PARA TODES JEFFERSONFIGUEIRÊDO
Abro esse texto como uma possibilidade de diálogo, de convite, para refletirmos sobre o dançar Frevo. Talvez chegue também como provocação. Um chamado para gingarmos, para entre mungangas e firulas, ataques e defesas, pensarmos acerca das diferentes narrativas de sermos Frevo. Desse modo, como um movimento de "abre-alas", trago para a conversa o mestre Nascimento do Passo a partir de uma das suas mais conhecidas frases: "a quantidade de passos de Frevo existentes é equivalente à quantidade de pernambucanos".
Hoje, quando rememoro essa fala de Nascimento, percebo que ela anuncia e chama atenção para a importância de pensarmos sobre a diversidade de corpos e de movimentos, compreendendo que cada pessoa vai encontrando seu jeitinho de dançar a partir dos diferentes contextos. Você pode ser apenas um folião, ou um aluno de
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Frevo, ou um passista profissional, ou apenas um apaixonado por essa dança. Você pode estar mais conectado com o Frevo que acontece nos palcos, ou com o Frevo que acontece nas ruas. Existem possibilidades diferentes de se relacionar com o dançar Frevo e essas possibilidades me fazem refletir acerca da diversidade de corpos e de territórios em que essa dança acontece.
conquistam espaço fazendo munganga e usando as forças de suas "pernadas", com a malemolência e a ginga próprias de suas memórias lançadas ao presente como expressão de um "corpo ancestral" (OLIVEIRA, 2005) que dança, luta, ataca, defende, ginga, freva.
Percebendo, ao longo da história, como a dança Frevo tem se transformado social, política e historicamente, proponho entendermos a mesma como uma "encruzilhada" (SIMAS e RUFINO, 2018; RAMOS, 2017). Uma dança de possibilidades, de encontros e atravessamentos. Uma dança afro-diaspórica, incessantemente construída na resistência e na transgressão de corpos pulsantes e diversos, que
No livro Fogo no Mato: a ciência encantada das macumbas, é apresentada a ideia do corpo como terreiro, partindo do entendimento que ele é "assentamento de saberes". Pensar nos corpos que dançavam Frevo no final do século XIX e início do século XX é entendê-los como terreiro, como corpos que buscavam "[...] outras possibilidades de invenção da vida e de encantamento do mundo" (SIMAS e RUFINO, 2018, p. 50). Presentemente percebo a importância de refletirmos acerca dos corpos que dançam Frevo como
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esse "corpo terreiro", que se reinventa no seu fazer, que encontra em sua própria expressão formas de potencializar suas ações e modos de existência; que pode ser, ao mesmo tempo, um corpo festivo, crítico, político, um corpo que dança no contrafluxo, na ginga de desfazer padrões impostos, transgredindo, sobretudo, os próprios modos de pensar e fazer essa dança; um corpo que reverencia, saúda e celebra a ancestralidade.
No capítulo intitulado "Tudo que o corpo dá", ainda sobre o entendimento do corpo enquanto terreiro, os autores afirmam:
O corpo terreiro ao praticar seus saberes nas mais variadas formas de inventar o cotidiano reinventa a vida e o mundo em forma de terreiros. O corpo é o primeiro regis-
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tro do ser no mundo, é o elemento que versa acerca das presenças e reivindicações de si, é o que nos possibilita problematizar a natureza radical do ser e as suas práticas de invenção (SIMAS e RUFINO, 2018, p. 53).
É no corpo que construímos nossos saberes. É no dançar Frevo que acessamos memórias, reconstruímos e transformamos histórias. É no corpo pulsante, presente e atento que ressignificamos narrativas, potencializamos diferenças e reinventamos modos de ser e fazer Frevo. É na rua que caímos no passo, é nas encruzilhadas que os encontros acontecem e as possibilidades existem.
tendermos que esse corpo é também um "corpo território", pois, entendo que pensar territorialidade no dançar Frevo passa pelo corpo. Talvez seja por aí um bom caminho para pensarmos esse corpo que dança Frevo, esse corpo presente, que carrega no movimento as trajetórias, subjetividades e particularidades ao dançar, considerando os atravessamentos de seus contextos sociais, políticos, históricos e culturais. O território do Frevo tem se ampliado cada vez mais, o território do Frevo é o corpo, é a presença desse "corpo terreiro", é esse corpo pulsante em relação, consigo, com o outro e com o espaço. "O corpo é também um tempo/ espaço onde o saber é praticado" (SIMAS e RUFINO, 2018, p. 53).
Dito isso, ao passo que penso o corpo como terreiro, arrisco e provoco a en-
Nascimento do Passo, amazonense, que chegou no Recife escondido num navio
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de carga, foi tomado pelo Frevo, e a partir da sua percepção e da sua presença na rua. Observando os corpos que dançavam, criou um método de ensino. A fala do mestre deixa isso bem evidente quando em entrevista ele relata:
isso me custou exatamente três anos de trabalho né? (Depoimento de Nascimento do Passo para a TV Viva, 1987)
Comecei a ensinar Frevo vendo essa necessidade que se tinha de criar novos mestres, novos professores, novas pessoas que aprendessem a dançar o Frevo. Foi quando eu comecei a me preocupar, catalogar passos. Eu tive que andar pelas ruas, acompanhando Carnaval, vendo pessoas dançar o Frevo, geralmente quando eu via um passo interessante eu perguntava como era o nome do passo; indo nos clubes, tanto pobres quanto grã-finos,
Esse trecho da fala de Nascimento do Passo, em entrevista concedida à TV Viva em 1987, me toca e me mobiliza num lugar bem especial, que é pensar a potencialidade do conhecimento de um mestre da cultura popular, do seu fazer na rua, no olhar, no encontro e na observação de outros corpos. A oralidade e os processos de construção de algo para coletividade, o cuidado e a preocupação em legitimar, preservar e fomentar o ensinar, o dançar e o fazer Frevo. O mestre Nascimento do Passo observou as pessoas e seus modos de dançar, e a partir disso criou um método de ensino do Frevo.
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Ao final do vídeo citado, é possível ver Nascimento do Passo dançando no meio da multidão, entre as pessoas, e a partir dessa imagem provoco a pensarmos como o Frevo é individual e coletivo. É uma massa que pulsa junto, contudo, são diferentes modos de dançar, mesmo ele sendo passista de Frevo, se mistura com as danças de outros corpos que não são passistas e isso potencializa ainda mais o dançar Frevo. Portanto, pensar a dança Frevo sob a perspectiva de Frevo para todes é permitir que, nas experiências, possamos nos perceber enquanto corpos pulsantes, em movimento, implicados no processo, afetados e atentos às diversas existências, memórias, histórias, corpos, e modos de fazer. Como num "faz que vai, mas não vai", é importante pensarmos sobre experiências em diálogo, em relação, que vão e vêm, que propõem encontro e troca.
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JULIO VILA NOVA
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O retrato mais vivo do carnaval de Pernambuco é o povo ocupando as ruas, praças, pontes e ladeiras, nas prévias e nos dias de folia. A massa multicolorida, retalhos do tecido pulsante que reverbera a polifonia do Frevo, também corporifica o caráter social da festa. Quem se deslumbra com os sons e as imagens, quem se deixa arrastar por essa potência, muitas vezes não dimensiona o trabalho por trás do caos inebriante, de quem se dedica a organizar a algazarra, a mobilizar a criatividade para constituir a rede de significações em torno do Frevo, que é festa, música e dança, poesia, artes visuais, sombrinhas, estandartes e flabelos; e é também amálgama de identidade(s), integração e mobilização, luta e resistência. Nos dez anos de registro do Frevo como Patrimônio Imaterial da Humanidade, título outorgado pela UNESCO em 5 de dezembro de 2012, destacamos o protagonismo dos grupos que se encarregam de pensar, elaborar, promover, exaltar, viver a tradição cultural do Frevo e reinventá-la de tempos em tempos.
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No documentário02 que integra o dossiê da candidatura ao título, produzido pela comissão designada pela Prefeitura do Recife, o compositor, instrumentista, cantor, ator e dançarino Antonio Carlos Nóbrega resume uma dualidade essencial do Frevo: é ao mesmo tempo individual e coletivo. Nóbrega se refere à dança, especificamente, explicando que ao mesmo tempo em que na rua se vê, de perto, cada folião, cada frevista esbaldando-se em movimentos espontâneos criados ali, no calor do momento; vê-se, à distância, o embalo ritmado da massa de corpos em ebulição, aos saltos, revelando a motivação da etimologia: Frevo vem de ferver, é fervura. A mesma dualidade se pode atribuir às agremiações: o indivíduo que passa o ano cuidando das suas atribuições pessoais, da família e do trabalho, e também desempenha funções específicas no grupo, vai
às ruas no carnaval para consolidar o valor do esforço coletivo dedicado à festa. A dimensão individual, que se manifesta nas emoções - ansiedade, alegria, euforia, saudade -, extrapola e ganha o corpo coletivo, tendo o carnaval como palco para a veiculação de uma mensagem, a abordagem de um tema, em forma de exaltação (à própria festa, a pessoas e coisas da cidade e do seu universo cultural) ou em forma de ironia, de sátira ou de crítica dirigidas ao poder político e econômico, por exemplo.
O Frevo está intrinsecamente ligado às primeiras agremiações do carnaval do Recife, que surgem e se desenvolvem a partir do século XIX. De modo geral, são classificadas em categorias como clubes de Frevo (que incluem clubes pedestres e clubes de boneco), troças carnavalescas, cordões carnavalescos, blocos carnavalescos mis-
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tos (ou líricos). Elas se distinguem por características como o tipo de fantasia que vestem ou de alegorias que utilizam, e o tipo de música que executam. Clubes e troças são acompanhados por orquestras de metais, que executam o Frevo de rua ou o Frevo-canção. Cordões carnavalescos são agremiações abertas a outros gêneros musicais, além do Frevo, como o samba ou gêneros da música caribenha, por exemplo. Embora, de forma geral, o termo bloco seja usado inadvertidamente para denominar qualquer agremiação, em Pernambuco ele tem uma especificidade semântica: blocos - mistos ou líricos, que são essencialmente a mesma coisa - são as agremiações que propagam o Frevo de bloco (ou marcha de bloco), executado por orquestras formadas por instrumentos de corda, de sopro e percussão (ou orquestras de pau e corda), acompanhando um coro feminino.
A descrição e análise da formação e da atuação desses grupos revelam, em sua origem, a complexidade das relações sociais, no mundo do carnaval, refletindo a própria complexidade de uma sociedade marcada por tensões, contradições e conflitos, recém-saída de um longo período de escravidão. Enfocando esse contexto sócio-histórico de surgimento das agremiações, a pesquisadora Rita de Cássia Araújo (1996) aponta as "transformações econômicas, políticas e sociais, de reformulação do espaço e do modo de vida urbanos" (ARAÚJO, 1996, p. 335) do período, marcado pelo fluxo migratório para a capital e pela ampliação de atividades e serviços aí realizados. Inspirados em outras formas de associação civil, os clubes carnavalescos são regidos por um estatuto e congregam pessoas reunidas por afinidades diversas, como as categorias
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profissionais. São representativos do espírito coletivo de mobilização, em sua origem proletária, por exemplo, o Clube Carnavalesco Misto Pás Douradas (fundado em 19/3/1888, inicialmente com o nome Clube das Pás de Carvão) e o Clube Carnavalesco Misto Transporte em Folia (20/9/1936). Sobre o primeiro, a história conta que, no primeiro dia do carnaval de 1888, um navio inglês ancorado no porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem. O serviço só foi realizado mediante pagamento em dobro a um grupo de carvoeiros que topou interromper o feriado para pegar no pesado. Após receber o pagamento, o grupo botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o carnaval, decidiram fundar a nova agremiação03. Já o segundo foi criado por líderes sindicais da categoria dos rodoviários, que tiveram a ideia de fundar uma agremiação após uma disputa vitoriosa de corrida de saco contra os estivadores de açúcar.04
Afinidades de parentesco e amizade, porém, estão na origem da maior parte das agremiações. Histórias pitorescas que ensejam a decisão de botar a brincadeira na rua, com personagens que povoam o imaginário boêmio e fantástico do carnaval de Pernambuco, estão presentes em nomes de batismo sugestivos, como Cachorro do Homem do Miúdo, O Bagaço é Meu, Formiga Sabe que Roça Come, Pão Duro, Camisa Velha, Arrasta Tudo, Nem Sempre Lily Toca Flauta, Mulher na Vara, A Porta e Dez de Charque e uma Latinha, por exemplo. Outros trazem a indicação da localidade de origem, reiterando assim os traços identitários de pertencimento à sua comunidade: Verdureiras de São José, Batutas de
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São José, Abanadores do Arruda, Banhistas do Pina, Madeira do Rosarinho, Flor da Lira de Olinda, Boêmios da Boa Vista, Seresteiros de Salgadinho, entre muitos outros.Na música, a potência criativa das agremiações se destaca na contribuição para o cancioneiro carnavalesco. Algumas obras do seu repertório são verdadeiros hinos do carnaval de Pernambuco, entoados nas ruas ao longo de décadas, a começar pela Marcha nº 1º do Clube Vassourinhas (Joana Batista e Matias da Rocha), um Frevo de rua - ou seja, instrumental - possivelmente a melodia mais popular do carnaval do Nordeste. Outro exemplo é o Hino do Galo (do Clube de Máscaras Galo da Madrugada, fundado em 24/1/1978), Frevo-canção de autoria de José Mário Chaves, cujo refrão anuncia e convoca: "Ei pessoal/ vem moçada/ carnaval começa no Galo da Madrugada!".
E assim ele de fato arrasta uma multidão gigantesca, no sábado de carnaval, pelas ruas centrais do Recife. Já em Olinda, o Frevo-canção conhecido como Olinda, quero cantar (Clídio Nigro e Clóvis Vieira), originalmente intitulado Olinda nº 2, do repertório do Clube Elefante (fundado em 12/02/1952), é considerado verdadeiro hino do carnaval da cidade, com seu refrão-exaltação: "teus coqueirais/ o teu sol/ o teu mar faz vibrar meu coração/ de amor a sonhar/ minha Olinda sem igual/ salve o teu carnaval!".
Também do carnaval olindense destacam-se agremiações cuja fama ultrapassa fronteiras. A Troça Carnavalesca Mista Cariri Olindense (15/2/1921), o Clube de Alegoria e Crítica Homem da Meia-Noite (2/2/1932) e a Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda (5/1/1962) são exemplos de
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agremiações cujos repertórios atraem multidões. Ainda que menos conhecida fora dos limites de Olinda, a Troça Dez de Charque e uma Latinha é um exemplo de agremiação cujo hino tem a particularidade de elencar os nomes de seus fundadores e citar localidades onde a folia acontece, na Cidade Alta: "A folia começa no Amparo, Amaro Branco, Quatro Cantos e na Sé/ E o mé que não para de rolar / Na Boa Hora tomar uma com Gilmar / Doutor, Mutreta e Niltinho / Paçu, Amaro, Bode e Arlindinho/ Jonas Baé e Cabeção/ e todos gritam com Rochinha: amigo Déo, é 10 de charque e uma latinha" (Marcus Vinícius e Rogério Rangel). Ouvir a multidão entoar esses versos, com a intimidade de quem conhece as pessoas e lugares nomeados, revela o caráter de pertencimento que a agremiação carrega em sua música.
A popularidade que o Frevo de bloco alcançou a partir dos anos 1990 favoreceu a propagação de um vasto repertório nesse gênero, típico dos blocos carnavalescos mistos ou líricos. Canções consagradas desde a primeira geração de blocos, no início do século XX, como Marcha da folia (Raul Moraes); hino do Bloco das Flores (fundado em 1920); Sabe lá o que é isso (João Santiago), hino do Batutas de São José (1932); e Madeira que cupim não rói (Capiba), do Bloco Madeira do Rosarinho (1932), seguem sendo cantadas em ensaios e desfiles até hoje e somam-se a uma produção mais recente, a exemplo de Aurora de amor (Maurício Cavalcanti e Romero Amorim), do bloco homônimo fundado em 1990; ou Eu quero mais Olinda (Bráulio de Castro e Fátima de Castro), do Bloco Eu Quero Mais (1992). Inúmeras outras obras
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de compositores como Edson Rodrigues, Getúlio Cavalcanti, Marcelo Varella, Humberto Vieira, Cláudio Almeida, Ely Madureira, Heleno Ramalho, Luiz Gonzaga de Castro, Airton Rodrigues, Roberto Fantini, entre outros, são interpretadas pelas dezenas de blocos que surgiram a partir do começo do século XXI.
Recife, 22 e 24 de fevereiro de 1903), por exemplo, a agremiação publicou, na seção intitulada "Precisa Caiação", nota reclamando sobre "a projetada linha de ‘bonds’ para [o bairro dos] Coelhos; o prolongamento de Afogados a Tegipió, a falta de pagamento aos empregados estaduais e municipaes [sic]".
A compreensão do carnaval como celebração festiva e também como espaço de disputas, de posicionamentos políticos e de resistência explica a atuação de várias agremiações, ao longo da história. No início do século XX, publicações ligadas a elas expunham opinião sobre temas de interesse social e político, por meio de variados gêneros textuais: poemas, contos, charges, anúncios, notícias, avisos, etc. Em O Caiador - Órgão do Club Carnavalesco Caiadores (ano XVIII-
Em Olinda, em 1976, o Grêmio Lítero Recreativo Cultural Misto Carnavalesco Eu Acho é Pouco (que tem como precursor outro grupo, o Língua Ferina), nasce com clara conotação política de contestação à ditadura civil-militar instaurada no país há mais de uma década, após um golpe contra a democracia. Sobre suas cores, Geraldo Gomes assinala: "O vermelho vinha da Rússia e o amarelo, da China. O bloco nasceu revolucionário" (VERAS e MORIM, 2019, p.35). A alegoria gigante que identi-
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fica a agremiação é um dragão chinês, presente no carnaval e nas manifestações políticas da esquerda. Também em 1976 surge no Recife o Bloco Anárquico "Nóis Sofre, Mas Nóis Goza", cujo nome, segundo Homero Fonseca (2022), vem da constatação proferida por um folião anônimo, na rua, e captada pelos amigos Zé Mário Rodrigues, Clenira Melo, Marcos Cordeiro e Roberto Pimentel: "Ninguém lembra de quem partiu a ideia ou se ela faiscou no cérebro dos quatro ao mesmo tempo: ‘Isso é nome de bloco!’" (FONSECA, 2022, p. 223). Logo capitaneada pelo livreiro Tarcísio Pereira, da extinta livraria Livro 7, a agremiação instituiu um concurso de fantasias com temáticas críticas ao governo, realizado na Rua 7 de Setembro, em frente à livraria, no sábado de Carnaval. No ano seguinte, 1977, surge o Bloco Anárquico Armorial Siri na Lata, igualmente com o propósito de contestação política ao regime. Fundado por um grupo de jornalistas (Homero Fonseca, Ricardo Carvalho, Tereza Cunha, José Teles, Ricardo Leitão, Geneton Moraes Neto, entre outros), o Siri é uma agremiação marcada também pelo forte caráter de irreverência, já no batismo propondo "anarquizar" com o Movimento Armorial, criado por Ariano Suassuna.
Outra agremiação que merece destaque pela criatividade é a Troça Empatando Tua Vista, que tem como alvo a especulação imobiliária e a verticalização excessiva na cidade. Foi fundada em 2013 por membros do grupo Direitos Urbanos. Edinéia Alcântara explica a proposta da troça: "vestidos de prismas de tecidos, simulando arranha-céus com projeto repetitivo, foliões buscam imitar o que vem acontecendo no Recife, onde a altura das torres é cada vez maior"05. Recentemente, dois grandes eventos reuniram em Olinda dezenas
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de agremiações, engajadas em campanhas políticas contra a ascensão da extrema-direita no país. Em 21/10/2018, o desfile batizado de Amor em Bloco contou com mais de 80 agremiações, que saíram do Largo do Guadalupe em direção à Estrada do Bonsucesso. Na campanha presidencial de 2022, o desfile, então rebatizado de Lula em Bloco, teve mais de 70 grupos, que desfilaram pela cidade alta no dia 22 de outubro, com a orquestra do Maestro Oséas Leão e a batucada do Eu Acho É Pouco.
O exercício criativo das agremiações carnavalescas de Pernambuco se desenvolve, assim, de variadas formas. O trabalho é intenso, ao longo do ano inteiro, e requer dedicação e atualização. A atividade econômica exigida para dar conta das demandas inclui a contratação de orquestras e passistas, a confecção de fantasias e adereços, a realização de ensaios e festas no período de prévias, além do trabalho de pesquisa e de comunicação. A historiadora Carmem Lélis destaca a importância da participação coletiva nessa produção artístico-cultural, "seja na mão de obra para criar, bordar, colar, cortar, costurar, seja na captação de recursos, todo esforço é válido para botar o brinquedo na rua [grifo da autora], como popularmente se diz" (LÉLIS, 2011, p. 80). A realização de rifas, bingos, sorteios, etc., bem como a venda de produtos (camisas, CDs, livros, souvenirs) e a participação em editais públicos para o custeio de projetos são alternativas para a garantia de recursos, não apenas no Carnaval. Recentemente, com a pandemia do Covid-19, os editais públicos, a exemplo da Lei Aldir Blanc (Lei nº 14.017, de 29/6/2020), conquista da bancada de oposição ao governo federal, em 2020, possibilitaram às agremiações a re-
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alização de atividades com transmissão via internet, durante o período de distanciamento social, entre 2020 e 2021. Assim, embora num momento de grande adversidade, o aprimoramento da comunicação e divulgação do trabalho através de canais digitais e redes sociais mostrou-se como um caminho para a renovação das propostas de atuação cultural, visando ao fortalecimento do Frevo como patrimônio, como energia criativa em permanente ebulição.
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Tradição e inovação figuram entre os temas mais corriqueiros nos debates sobre música popular. Muitas vezes, geram discussões acaloradas entre grupos de músicos e apreciadores mais ortodoxos, defensores de uma suposta autenticidade musical, e outros mais afeitos a novidades. O Frevo não escapa à regra.
Não é por ser objeto de patrimonialização que o Frevo - ou qualquer outro gênero musical - deva se tornar imune às inovações técnicas ou estéticas. Nestes últimos dez anos, transcorridos desde a concessão do título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, os intensos debates em torno da preservação ou modernização das formas musicais que configuram o Frevo, ao invés de denotarem uma eventual crise, podem ser interpretados como um sinal de sua vitalidade enquanto gênero musical. Afinal, a livre modificação das convenções de um gênero não tem como consequên -
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cia necessária o esquecimento da tradição. Pelo contrário, a tradição pode ser redimida exatamente ao ser atualizada por artífices contemporâneos. Citações do passado, quando recuperadas de modo a dar significado a nossas identidades de hoje, servem como estímulo para que as gerações mais jovens o revisitem com maior interesse. É o que acontece, por exemplo, quando o mangue beat mescla a batida do maracatu a elementos do hip hop e do hardcore, ou quando homenageia um grande mestre da cultura popular como Mestre Salustiano em Salustiano Song . Em suma, a tradição importa na medida em que nos auxilia a compreender a singularidade de quem somos no presente. É neste sentido que, de vez em quando, é importante voltar a ela para molhar os nossos pés.
No caso específico do Frevo, dispomos de uma longa trajetória de debates entre tradicionalistas e modernizadores. Mas, de fato, se observarmos com o devido cuidado a vida e a obra de alguns mestres do passado, hoje canonizados pela tradição, veremos que, em suas respectivas épocas, não poderiam ser considerados tão tradicionais assim. O Frevo é uma tradição moderna, nasce no seio da agitada vida urbana recifense do início do século XX, e, como tal, traz em seu DNA a marca da inovação. Como exemplo, podemos citar a notória influência da instrumentação das jazz-bands norte-americanas nas primeiras gravações de Frevo. Autores como Valdemar de Oliveira consideravam esta influência deletéria, sob a alegação de descaracterizar o vigor das orquestras de clubes pedestres, herdeiras das bandas marciais e ber-
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ço do Frevo de rua. No entanto, Capiba, hoje considerado compositor canônico do Frevo-canção, não apenas foi membro fundador da jazz-band acadêmica no Recife, como compunha seus Frevos ao piano. Nelson Ferreira, maestro, compositor, diretor musical da Fábrica de Discos Rozenblit e um dos grandes responsáveis pela consolidação do Frevo como produto fonográfico, também utilizava o piano para compor Frevos, tendo sido, inclusive, o responsável pela primeira inserção do instrumento numa gravação do gênero, conforme dados recentemente apurados pelo pesquisador Maurício Cezar. Reconhecido por Valdemar de Oliveira como grande inovador das linhas melódicas no Frevo, Ferreira eventualmente propunha hibridismos, como no caso de Isquenta muié, Frevo instrumental que emula, na sua primeira parte,
a percussão de um terno de pífanos. Esta criada pelo mesmo Nelson Ferreira que se referia à presença da tuba como imprescindível na formação das orquestras de palco que executavam o Frevo, e fazia ressalvas a alterações no andamento das execuções. Em sua avaliação havia, portanto, alguns elementos musicais mais relevantes na caracterização do Frevo do que outros, configurando uma hierarquia. A ênfase na preservação desta hierarquia, contudo, não implicava num essencialismo integral. Estes dados nos ajudam a perceber como a inovação esteve presente nas práticas musicais de compositores canônicos como Capiba e Nelson Ferreira, mesmo que eventualmente seus discursos - sobretudo quando estavam em idade mais avançada - expressassem um viés conservador e meramente preservacionista.
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Há de se reconhecer que o Frevo sempre teve compositores afeitos a hibridismos e inovações. É importante também ressaltar que muitos, apesar de se notabilizarem como artífices do Frevo, têm uma vasta obra, geralmente menos conhecida, associada a outros gêneros musicais. Só para falar em nomes que ainda estão na ativa, Getúlio Cavalcanti é um prolífico compositor de sambas-canção e boleros; Jota Michiles já fez incursões pelo forró e pela lambada; e o maestro Clóvis Pereira é reconhecido por sua notável obra no campo da música erudita. Isto sem falar de intérpretes como Spok, que inova ao incorporar a linguagem visual e musical das big bands de jazz à performance do Frevo. Carlos Fernando, o grande produtor musical da série Asas da América (1979-1993), compôs Frevos-canção gravados pela fina flor da MPB, mas também foi parceiro de Geraldo Azevedo em hits dos mais variados gêneros. Cada um desses artistas desenvolveu um estilo próprio, apoiados também em suas experiências com outros gêneros musicais. Dessas trocas provêm muito do que chamamos de inovação no ambiente do Frevo. Vejamos alguns casos de artistas que, a partir dos atravessamentos de outros gêneros, vêm se destacando por propor novas possibilidades em composições e interpretações de Frevo. Alguns experimentos se voltam para o diálogo com tendências da música pop, como no caso do álbum Micróbio do Frevo de Silvério Pessoa, no qual arranjos mais tradicionais se fundem a samplers e timbres da música eletrônica. Na mesma seara, o DJ Lee Pesaka realiza procedimento no sentido reverso quando transforma clássicos da música pop interna-
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cional em remixes de Frevo, simulando os timbres tradicionais de percussão e metais com o auxílio de ferramentas digitais06
guitarra em timbre suave é apenas uma, entre as muitas maneiras possíveis, de aproveitarmos a versatilidade deste instrumento em prol do Frevo.
A banda Eddie, velha conhecida do público alternativo pernambucano desde os anos 1990, tem entre suas influências o punk, o reggae, a surf music, o ska, o samba e o Frevo. Atração comum nas prévias carnavalescas mais descoladas do Recife, a Eddie tem em seu repertório canções como Não vou embora e Vida boa, que levam o público à loucura com sua levada Frevolenta apoiada na instrumentação do rock e da música eletrônica. Recentemente, a banda fez uma releitura de Canhão 75, clássico instrumental gravado originalmente em 1951 e, ainda hoje, um dos Frevos mais executados no carnaval pelas orquestras de rua. A linha melódica reproduzida por um solo de
Os baianos Dodô e Osmar foram pioneiros em utilizar a guitarra elétrica como instrumento solo para o Frevo, em substituição aos metais. A história, muita gente já conhece: em 1951, numa excursão de navio com destino ao Rio de Janeiro, o clube de Frevo Vassourinhas atracou temporariamente em Salvador e, neste intervalo, realizou um breve cortejo pelas ruas da capital baiana. Inspirados pela potência sonora da orquestra de Frevo, Dodô e Osmar criaram o pau elétrico, precursor da guitarra baiana, e deram início a uma bela trajetória do Frevo no Carnaval soteropolitano. Os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, ainda nos anos 1960, lança-
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ram Atrás do Trio Elétrico e Frevo rasgado, respectivamente, ambos com acompanhamento de baixo elétrico e, o primeiro, com o protagonismo da guitarra elétrica expresso em solos, levada rítmica e efeitos de distorção. A trajetória da guitarra elétrica no Frevo prosperou nas décadas seguintes no Carnaval da Bahia, com artistas como Caetano Veloso, Moraes Moreira e Armandinho animando a festa de cima dos trios elétricos. Também a série Asas da América (1979 - 1993), capitaneada pelo produtor e compositor pernambucano Carlos Fernando, conta com a guitarra inconfundível de Paulo Rafael, tanto em levadas rítmicas quanto em solos. O guitarrista também foi responsável por executar solos memoráveis em Frevos gravados por Alceu Valença, como Lenha no Fogo e Diabo Louro. Com uma pegada mais jazzística, Renato Bandeira faz seus solos de improviso nas performances da SpokFrevo Orquestra, mostrando como o Frevo pode se abrir a diversas possibilidades do uso da guitarra elétrica, sem que necessariamente se abra mão dos metais.
Quando se fala em improviso jazzístico no Frevo, um dos nomes mais lembrados da nova geração é o de Henrique Albino, que recentemente lançou o álbum Música Tronxa. De sax em punho, Albino se apropria de células rítmicas do Frevo e de outros gêneros musicais da tradição local, propondo um passeio melódico pós-tonal, sintonizado com tendências vanguardistas do jazz. Outro nome de destaque entre os jazzistas locais é Amaro Freitas, pianista de talento e um dos músicos instrumentais brasileiros mais ouvidos atualmente, segundo dados da plataforma Spotify. Embora seus experimentos dialoguem com uma ampla variedade de influências das músicas de tradição popular, é marcante a presença
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do Frevo em sua obra, como na faixa Paço, em que a estrutura básica do Frevo aparece claramente no início, para em seguida ser desconstruída rítmica e harmonicamente.
Numa pegada mais tradicional, o pianista capixaba Hércules Gomes dá uma demonstração de raro virtuosismo ao executar o clássico Duda no Frevo, com um domínio do ritmo que lembra, ao longe, os trejeitos sincopados audíveis nas primeiras gravações de ragtime nos Estados Unidos. A performance de Hércules nos lembra a relação antiga que o piano tem com o Frevo, como vimos nos casos de Nelson Ferreira e Capiba. Contudo, enquanto estes dois últimos utilizavam o piano para compor, Hércules, a exemplo de Amaro, nos chama atenção para as potencialidades do piano como instrumento destinado à performance do Frevo.
Há ainda muitos outros nomes que poderíamos citar como músicos responsáveis por inovar nos modos de compor e interpretar o Frevo, mas é impossível contemplá-los no espaço deste breve artigo. Todavia, os exemplos aqui citados nos ajudam a perceber um panorama dessas possibilidades ao longo do tempo. A ideia de patrimônio imaterial é dinâmica: sugere não a preservação de estruturas formais em sua integralidade, como o patrimônio material, mas sim a valorização de formas específicas de "sentir" o Frevo que, geração após geração, servem como elo de sustentação de comunidades de fazedores e cultores desta tradição. Isto significa que, na medida em que as pessoas envolvidas com o Frevo modificam sua relação com o mundo e com a música, se espera que também o Fre-
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vo se transforme e se adapte. Em suma, só acompanhando a evolução dos hábitos e das práticas musicais em geral é que um gênero permanece relevante, como patrimônio vivo e ativo na vida das pessoas. Neste aspecto, o Frevo vem, felizmente, demonstrando enorme vitalidade.
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O Frevo empreendeu algumas investidas no exterior, mas quase todas como ações institucionais, atreladas ao turismo, ou através de projetos como o "Voo do Frevo", que a cada ano levava uma caravana de pernambucanos, um grupo de músicos, para divulgar o gênero. Porém era, ainda assim, uma empreitada turística. Somente ganhou o mundo com a SpokFrevo Orquestra, criada em 2001, da qual sou fundador e diretor musical, ao lado do meu compadre e parceiro Gilberto Pontes.
A nossa primeira grande turnê europeia, em 2008, veio comprovar o vigor e a universalidade da orquestra. Durante a excursão por seis países europeus, nosso grupo foi convidado para se apresentar no palácio presidencial francês, para o encerramento das comemorações do Dia da Música (Fête de la Musique). A SpokFrevo fechou a programação do Palais de l’Élysée, a residência oficial do então presidente Nicolas Sarkozy, que prestigiou as apresentações ao lado da primeira-dama, Carla Bruni. Desde então, nossa orquestra tem sido presença assídua no circuito europeu de festivais. Já estivemos em 15 diferentes países da Europa, Ásia e África. Realizamos concertos em palcos célebres, como New Mor-
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ning, Roskilde, Montreux, Barbican, Pori Jazz, em Chamonix, Womex, entre outros, sempre apresentando o Frevo como arte e linguagem musical única, inserindo-o com propriedade nos universos do jazz e da world music Mais à frente, no verão Europeu de 2010, a SpokFrevo Orquestra se apresentou nos principais festivais de jazz da Europa. Dividindo palcos com nomes como Stevie Wonder, Chucho Valdés, George Benson, Esperanza Spalding, Wynton Marsalis e Chick Corea. Em Londres, a apresentação da orquestra no Ronnie Scott’s, lendário clube de jazz e palco da última apresentação pública de Jimi Hendrix, mereceu cinco estrelas do crítico Clive Davis, do The Times, e elogios dignos de nota: "A mais explosiva banda a tocar no Soho desde os gloriosos dias da afro-cubana Irakerê (na
qual tocava Chucho Valdés). A banda do estado brasileiro de Pernambuco é uma verdadeira força da natureza".
Foi nessa turnê, após assistir a um concerto da nossa orquestra no festival de Marciac, no Sul da França, onde dividimos a noite com Gilberto Gil, que o trompetista Wynton Marsalis fez um convite para a SpokFrevo tocar nos Estados Unidos, - o que aconteceu em 2012. A primeira turnê do Frevo no principal mercado de música do mundo, iniciada no Lincoln Center, com passagens pelo Texas, Flórida, e parada final no estado de Nova Iorque. Dois anos depois, em 2014, a orquestra fez novo tour americano, com apresentações memoráveis: Berklee Performance Center (Boston), Pennsylvania State University (University Park), The Appel Room - Jazz at Lincoln Center (Nova Iorque), Byham
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Theater (Pittsburgh), Englert Theatre (Iowa City), Graceland University (Lamoni) e Sheldon Concert Hall (Saint Louis).
Reconhecido como um dos mais importantes e influentes músicos de jazz dos EUA, Wynton Marsalis veio ao Recife em 2015, com a orquestra do Lincoln Center, e realizou um memorável concerto no Parque Dona Lindu com a SpokFrevo Orquestra. Conheceu também o Paço do Frevo e fez um cortejo pelas ladeiras de Olinda. Ainda nesse ano, a nossa orquestra conseguiu um feito marcante para o Frevo: tocou no Rock in Rio USA. Também em 2015 realizou mais uma turnê europeia, com concertos na Itália, Holanda e França. Em 2019, a SpokFrevo Orquestra celebrou os 15 anos do lançamento do seu primeiro disco, Passo de Anjo, culminando com show no Teatro de Santa Isabel, com participação dos sanfo-
neiros Gennaro e Beto Hortis. Também em 2019, levamos o Frevo para China, ao lado do belo e importante projeto "Criança Cidadã". E mais recentemente, em julho de 2022 o levamos para Aveiro e para a cidade do Porto, em Portugal.
Essas experiências fizeram e fazem com que até hoje eu receba convites para ministrar palestras pelo Brasil e pelo mundo com o intuito de difundir o nosso entendimento de execução do Frevo, a forma que fazemos o Frevo na SpokFrevo Orquestra. Confesso que tem sido incrível observar o Frevo, nos últimos anos, sendo tocado e estudado por músicos do mundo inteiro. Ver orquestras de Frevo formadas em Portugal, no Japão e em outros países. Ver pessoas que falam os mais diversos idiomas aprendendo o idioma do Frevo.
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Essas palavras traçadas em ziguezague desejam entrar na oralitura 07 do Passo. No sacolejo que é ao mesmo tempo individual e coletivo. Infelizmente não é possível identificar ainda hoje uma política de real investimento no passista e seus coletivos. Nem concursos, nem subvenções, nem condições de ensino e apresentação podem ser vistos como em melhor condição após seu reconhecimento como patrimônio da humanidade. Porém, seus fazedores não cessaram em presentear a humanidade com arte, alegria e provocações. No início do século XX já se falava no Frevo como uma dança original, disruptiva e arrebatadora. Naquele tempo, falava-se na promessa de que esta se tornasse uma dança brasileira alçada ao campo da arte. Olhando por esta perspectiva, como compreender o Frevo neste início do século XXI?
Na ginga dessa história, aponto dois movimentos dentro da dança: por um lado, o do desejo de consolidação e reconhecimento pela história trilhada; por outro, da contestação
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das formas de controle do imaginário e das formas do Passo. Como na ginga, movimentos aparentemente opostos se articulam de forma complementar.
Nos primeiros anos do século XXI, investigações contemporâneas em dança interrogaram a dança do Frevo, a partir da construção de espetáculos.
Fervo (2006) e Avesso do Passo (2007) iniciam esse movimento que expande os modos de entender essa dança. A reflexão que se mostra na dança, questiona as padronizações que ocorreram nas últimas décadas do século XX e os apagamentos na narrativa histórica. Artistas como Flaira Ferro, Jefferson Figueirêdo, Rebeca Gondim, Jr. Viegas, Otávio Bastos e Valéria Vicente, que cresceram fazendo o Passo, revisam suas histórias e a histó-
ria do Frevo a partir de seus movimentos. Apontam a existência dos muitos Frevos e suas narrativas. Revelam o Frevo como dança de pretos e pretas, pessoas livres e marginalizadas, que articulam influências indígenas e europeias numa composição inusitada. A negritude é percebida como característica quase apagada na narrativa oficial e midiática. Também a ausência das mulheres na narrativa sobre o Frevo é questionada como parte da estrutura patriarcal que invisibiliza a mulher, em especial, a mulher preta.
Essas investigações adentram também a técnica do Passo, desconstruindo a sua estrutura e dinâmica, e levando a uma ampliação das formas de improvisação e relação com a música. O desejo de descolonizar o Passo vai além das narrativas e espetáculos e vira método de ensino, como o Mexe com
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Tudo desenvolvido por Otávio Bastos, que direciona seus alunos para um brincar despreocupado das formas dos passos.
O outro movimento vai na direção da consolidação da história e reconhecimento dos seus construtores. Desde a primeira metade do século XX, a dança do Frevo foi reconhecida e exaltada como expressão singular de Pernambuco. O espaço do Passo era a vida urbana do Recife, os ensaios de orquestra, os acertos de marcha, os concursos. Concursos que revelaram expoentes como Sete Molas, Egídio Bezerra e Nascimento do Passo. Este último teve atuação longeva e agiu para a difusão da dança do Frevo na segunda metade do século XX.
Nascimento fundou, então, a primeira escola de Frevo, em 1973. Itinerante e gratuita, caminhando pela cidade conforme o
endereço do próprio fundador. De forma intuitiva, mas em diálogo com muitas pessoas, sistematizou o Método Nascimento do Passo, cuja transmissão fez do passista um mestre. Mestre Nascimento do Passo. Nascimento foi professor de Antonio Nóbrega no espaço Boi Castanho, dos fundadores do Balé Popular do Recife (Casa Forte), cujo método é levado para diversas escolas particulares do Recife e de Olinda; e da escola Cleonice Veras (Brasília Teimosa), que se transformou no Balé Deveras. Iniciou o desenvolvimento da sua metodologia na década de 1980, no Sítio Histórico de Olinda, onde encontrou acolhimento no Clube Vassourinhas. Deste momento fecundo entraram para a história do Passo a Mestra Landinha, Adriana Frevo e Cia Brasil por Dança e o grupo Frevo Capoeira e
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Passo, de Tonho das Olindas, Eloy e Fofão, tendo este último migrado para São Paulo, difundindo com Vera Athayde o Frevo na capital paulista. Nos anos 1990, a escola itinerante deu condições para a criação da escola municipal de Frevo, hoje Escola Municipal de Frevo Maestro Fernando Borges, dedicada à dança e sob sua supervisão pedagógica de 1996 até 2003.
A criação do grupo Guerreiros do Passo (2006) é emblemática no sentido de valorização dessa história. Diante da expulsão do Mestre Nascimento do Passo da Escola de Frevo, um grupo de professores retoma o ensino em praça pública para dar continuidade ao método de ensino que os formou.
A atuação do Paço do Frevo, criado como ação de salvaguarda do Frevo, contribui para o reconhecimento de Zenaide Bezerra como continuadora do Frevo de Egídio Bezerra na periferia do Recife e de Landinha, como base fundamental do trabalho do Mestre Nascimento do Passo. Mas, principalmente, o Paço do Frevo, através da sua equipe e da ação de pessoas como a ex-coordenadora de dança Daniela Santos, promove o intercâmbio, a convivência e a troca entre os passistas, músicos e professores, permitindo o reconhecimento das trajetórias e pesquisas, sem apagamento das diferenças. Já o reconhecimento de Adriana Frevo, fundadora da Cia. Brasil por Dança, vem da população olindense que a escolheu como homenageada do Carnaval de 2018, após 30 anos de atuação no Sítio Histórico de Olinda.
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A escolarização do Frevo em Olinda deu ensejo a uma dança predominantemente juvenil, com muita potência física quando nas apresentações individuais, porém marcada pelo sincronismo e marcação rítmica constante para se adaptar às necessidades das agremiações de Frevo que desfilam no Carnaval. Em São Paulo, através do Instituto Brincante e do trabalho artístico de Rosane Almeida e Antonio Nóbrega, o Passo é manuseado com bastante contorno formal e variações dinâmicas, voltadas para o cenário artístico da música e das artes cênicas. Em Brasília, a
ênfase na saúde e bem-estar, desenvolvida por Jorge Marino, trabalha modulações de esforço, gerando leveza e suspensão.
No Recife, a influência do Balé Popular pode ser percebida nas coreografias de grupo, com combinações de solos, duplas e grande número de dançarinos buscando sincronia e simetria no modo de fazer o Passo. Influência que, nos anos 2000, chegou à Escola de Frevo do Recife, premiada internacionalmente pela aliança entre vigor físico e rebuscamento coreográfico, comandada por Alexandre Macedo.
Naquele momento em que a Escola de Frevo passou a ter uma companhia de dança (2003), alguns afirmaram que todos os outros modos de fazer o Passo iriam ficar no passado. Não ficaram. Mantiveram-se e renovam-se em direções diversas. Grupos
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com diferentes ênfases como os Guerreiros do Passo, os Brincantes da Ladeiras, O Sertão Frevo e o projeto Frevosofia surgiram e se renovam na direção de interesses mais conectados à prática do Frevo de rua, da folia, da saúde e do prazer.
Agora, já temos tempo de vida para saber que os passos novos e diferentes não substituem os passos básicos e livres, as marchas e as expressões intuitivas, as mungangas e as mesuras. Sempre há espaço para novas invenções. A dança do Frevo é uma grande rede de coexistências. Algumas ganham mais espaço na mídia, outras no coração da juventude, outras nas comoções intelectuais. Isso tudo varia como uma frase sincopada ao longo do tempo e coexistem no mesmo Carnaval.
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Brincadeira de criança, freverê! Salve os Erês, aqueles que fazem "a ponte", o intermédio entre pessoas e orixás. Salve o Frevo! Por natureza, diverso e democrático. Manifestado em todos os corpos e, naturalmente, no corpo-criança: o da infância ou do estado de espírito que nos leva a esse "tempo". Tempo de brincar.
O carnaval, as alegorias, a subversão... Tudo isso nos conduz ao território sagrado do brincar, vivido a cada ciclo, por crianças e por pessoas crescidas. E o faz de conta não significa que "é de mentirinha". Pelo contrário! Não tem como ser superficial na brincadeira. Há de se dedicar e respeitar o mundo da fantasia.
Seja no sentido literal ou no contexto da cultura popular, no brincar estão presentes a representação, a diversão, a quebra da rotina, a imaginação e uma tênue relação entre liberdade e empenho, normas e diversão. Nas agremiações, por exemplo, observamos acordos
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internos, divisão de tarefas (mesmo que não verbalizadas), o compromisso com o coletivo, a relação íntima entre trabalho, dedicação e encantamento.
Para as crianças brincantes, temos de maneira intensa as duas acepções do brincar, muitas vezes imbricadas. Brinca-se com a fantasia, com outras crianças, com a sombrinha... Aliás, um adereço-brinquedo apresentado desde os primeiros passos. Tem foliã que ainda nem sabe andar, mas sacode sua sombrinha e se remexe ao som do Frevo. A criança foliã se entrega, "cai no passo", tenta superar seus próprios limites, seu ponto de equilíbrio. Por vezes introspectiva, concentrada nas suas experimentações, ou para se exibir mesmo: "olha o que eu faço!". Quando quer entrar na roda, entra sem cerimônia. E se não quer... Não ouse obrigar.
Essa participação também pode ser "apenas" observando, um olhar atento a cada movimento. Assim, muitos mestres e mestras adentraram nesse campo: aprendi olhando, aprendi em casa, desde a barriga da minha mãe..., O que revela uma íntima e longa relação com o universo da cultura popular. Por agregar música, dança, cores e movimentos, é comum que as manifestações artísticas provoquem o interesse de crianças. Para Jadir de Morais Pessoa (2005), ao tratar da Folia de Reis em Goiás: O principal combustível do aprendizado da folia era o encantamento que ela exercia sobre as crianças e adolescentes. [...] Aquele conjunto de vozes, a execução dos instrumentos, a aura de mistério dos versos sentidos e das histórias da crença causavam uma verdadeira
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fascinação em muitas crianças. E aí, obviamente, a safra de novos foliões era só uma questão de tempo. Aprendia-se pela observação e pelo estímulo dos que já exerciam alguma função no ritual. (PESSOA, 2005, p. 72)
Olhando, imitando, praticando... Elas brincam, aprendem e, inseridas em uma expectativa geracional, suscitam sentidos de continuidade. O corpo-criança está nas agremiações, em escolas ou grupos de dança, ou "brincando Carnaval" de forma espontânea. No âmbito da performance, são comumente vistas como "miniaturas" que executam com primor "coisa de gente grande" e simbolizam o "futuro da brincadeira" para pessoas adultas.
A criança é "um sujeito ativo em seu próprio mundo social" (PIRES, 2010, p. 151), capaz de reinventar histórias contadas, compartilhar quereres e sentimentos. Brincantes crescidos/as, ou seja, que tiveram sua experiência ainda da infância e permanecem atuando, transitam entre o vivido e o dito, entre lembranças e histórias... Assim, mestras, mestres e brincantes criam, reproduzem e ressignificam suas brincadeiras, articulam experiências de outrora e sentimentos de agora, dão continuidade à tradição familiar ou comunitária.
Enquanto os bens materiais familiares, ligados à posse de objetos, compõem um sentido de herança baseado no processo de partilha, o sentido de herança cultural se concretiza no compartilhar, nas recordações abalizadas pela memória individual e coletiva. Não
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estão apenas no passado, é construção cotidiana, como afirma a historiadora Carmem Lélis (2005): Heranças não são lembranças, mas elementos vivos [...] Temos na cultura a maior herança em todos os tempos e para todos os povos, e nas manifestações artísticas os signos e significados, a emoção e a razão, existindo em conflito com o antigo e o novo, mas presente e vital para o processo de estruturação e crescimento dos grupos sociais. (LÉLIS, 2005, p. 3)
filhas, filhos e pessoas da vizinhança. Zenaide Bezerra, passista, Patrimônio Vivo do Recife, é detentora desse legado e difunde o Frevo entre filhos/as e netos/ as até os dias de hoje. Os depoimentos a seguir, além de expressarem orgulho, manifestam legitimidade e revelam tais sentidos de continuidade: Danço Frevo desde menino. Criei vários passos: peru na chapa quente, tesoura aérea, todo duro, cortando jaca [...] (Egídio Bezerra - o Rei do Passo)08 .
A família Bezerra é um exemplo vivo de memória e continuidade por meio das relações cotidianas. No final da década de 1950, Egídio Bezerra criou o primeiro grupo de passistas de Frevo, formado por
A gente aprendeu a dançar ele colocando a gente em cima dos pés dele... A gente agarrava nas pernas dele e ele saía, pronto, aí meu pai fazia isso. Tudo que eu sei foi meu pai que ensinou, a gente aprende
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da raiz mesmo, aqui de dentro, e daqui eu passo pros meninos (Zenaide Bezerrafilha de Egídio Bezerra)09 .
Que eu me lembre, a gente começava a dançar vendo a minha mãe ensaiando com os irmãos, com o povo vizinho, com o povo da família. Nem me lembro como começou, na barriga da minha mãe, a gente já dançava. (Genilson Bezerra, filho de Zenaide Bezerra)10
Eu tinha uns seis anos por aí, ou sete [...] Foi aqui na casa da minha avó, meu pai também foi me ensinando... Hoje eu danço Frevo, coco, xaxado e toco. Toco percussão, cavaquinho, toco violão. (Glauber Oliveira, filho de Genilson Bezerra)11
Estes exemplos mostram práticas transmitidas ao longo de quatro gerações, um saber familiar compartilhado em casa, conhecimento constituído no cotidiano, em momentos de encontro e aprendizado. Ainda que o domínio do ensino e das decisões esteja na geração mais velha, adultos e crianças brincam juntos, o que fortalece o sentimento de pertencimento e a transmissão de saberes.
A visão de quem olha de fora nem sempre registra ou reconhece um método de ensino-aprendizado, mas os adultos inserem as crianças no universo da cultura popular desde cedo. Penso que seja mais um ensinamento de mestres e mestras: deixar fluir e diminuir
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as fronteiras entre o que é "coisa de adulto" ou "coisa de criança", de criar maneiras menos sistemáticas/formais e mais eficazes de transmissão de saberes.
O Frevo-criança segue crescendo... Ainda não aprendeu sobre gêneros ou classificações. É de bloco ou de rua? É dança ou música? É abafo ou ventania...? Pouco importa ao Frevo-menino, que se preenche desse som, transborda em movimento, é inteiro na sua mais bela e pura essência.
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A multidão, literalmente, ferve. Fantasiados, com indumentárias cuidadosamente escolhidas ao longo do ano, ou com vestimentas improvisadas, mostrando outras personas, as quais nos servem durante o Carnaval. Aqueles que não têm fantasias, igualmente, dançam, pulam, cantam. Só de olhar dá para sentir o calor, estão fervendo - e dizem "o povo freve!", logo, "olha o Frevo!". Quando se ia unir o Frevo à visualidade se, desde o surgimento desta expressão cultural e da palavra que lhe dá nome, já estão indissociados?
Frevo, corruptela do "fervo", palavra que se utilizou para definir este conjunto de pessoas, música, dança, imagem da ebulição que é o Frevo, até hoje. Frevo e artes visuais estão, desde os inícios, inseparavelmente unidos. Também assim observa o "Dossiê do Frevo"12 , quando menciona os elementos artísticos presentes, sempre, no Frevo. Tais componentes artísticos vão dos estandartes e flabelos e sua cuidadosa confecção - até hoje repleta de
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elementos visuais heráldicos - às fantasias que personificam as identidades temporárias assumidas durante o Carnaval, em atos performativos dos corpos insurgentes que dançam lutando ou que ocupam lugares jamais pensados, como os de rainhas e reis13. Ambos os elementos visuais, as fantasias e os estandartes e flabelos, são mencionados no Dossiê - que também destaca a sua elaboração atenta e cuidadosa, seja individual, seja coletivamente, sendo, portanto, a visualidade um importante marcador distintivo do Frevo.
aqueles realizados pelos caricaturistas e desenhistas que ilustravam as páginas dos jornais pernambucanos entre os finais do século XIX e os inícios do XX. Assim, seja na própria experiência do que é Frevo (nas fantasias, estandartes e flabelos, por exemplo), ou nas diversas representações de sua trajetória secular, é evidente a estreita relação entre artes visuais e Frevo.
É possível arriscar, nessa linha histórica das referências entre o Frevo e as artes visuais, as gravuras de Jean-Baptiste Debret como um dos primeiros registros imagéticos que se poderia ligar ao Frevo - por mostrarem o "Entrudo" no século XIX. Outros desses primeiros registros são
Desses calorosos inícios até aqui, o povo continua fervendo (ainda bem) e, penso eu, as relações com as artes só se ampliam. Muitos foram os que colaboraram para que as visualidades que perpassam o Frevo estivessem presentes, por exemplo, na exposição Patrimônios Periféricos, realizada pelo Paço do Frevo em 2022. Penso numa Badia (Maria de Lourdes da Silva, 1915-1991), mobilizando contatos e angariando fundos para a realização de even-
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tos carnavalescos, ou concentradíssima em sua casa, costurando detalhes cuidadosamente pensados por ela para integrarem as indumentárias do Bola de Ouro ou do Pão Duro14
Outra referência imagética vem de Bajado "Um Artista de Olinda" (Euclides Francisco Amâncio, 1912-1996), como assinava suas pinturas. Bajado, olhando atentamente de sua janela em Olinda acompanhava as multidões levadas pela Pitombeira, pelo Elefante e por tantas outras agremiações e, com referenciais da linguagem simples e direta da publicidade, as colocava em suas obras. Pinturas ditas "naif" por alguns, mas profundamente "pops": se observarmos atentamente, talvez Bajado tenha sido um dos mais emblemáticos representantes da pop art no Brasil. Construídas por décadas, as referências do Frevo para as artes visuais perpassam a produção de artistas de diferentes gerações, vinculados, muitas vezes, a movimentos artísticos que procuravam nos anônimos das camadas populares suas expressões de luta e resistência. Neste sentido, os trabalhos de Abelardo da Hora (1924-2014) se constituem, por um lado, como produções engajadas no fomento às críticas sociais e, noutra via, como registros da cultura popular pernambucana. Abelardo, pensando que fazer uma ou duas imagens do carnaval era pouco, juntou uma coleção inteira de representações carnavalescas no emblemático álbum Danças Brasileiras de Carnaval (1962) e, assim, retratou não só o Frevo, mas várias manifestações ligadas ao ciclo carnavalesco, como os caboclinhos e os maracatus.
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Ladeando produções como as de Abelardo, é fundamental lembrar as colaborações de Wilton de Souza (1933-2020) para a construção imagética com e sobre o Frevo. As produções de Wilton, feitas para dezenas de capas da Fábrica de Discos Rozenblit, configuram um conjunto que reflete os paradigmas estéticos e comerciais de sua época, mas também conformam um modo de ver o Frevo - e de transmiti-lo aos consumidores destas produções fonográficas. As capas de discos de Frevo - que não tinham nenhum cuidado estético antes de Wilton - passaram a ter uma "embalagem" planejada esteticamente, num feito inédito até o momento 15 Wellington Virgolino (1929-1988), irmão de Wilton de Souza, por sua vez, também criou mundos a partir do Carnaval, em
pinturas cujos personagens marcantes estão, ainda hoje, no imaginário de muitos pernambucanos. Também é possível ver as relações diretas tecidas entre o Frevo e as artes visuais nas pinturas de Lula Cardoso Ayres (1910-1987) - que realizou, ainda, registros fotográficos de outras manifestações da cultura popular. As visualidades do Frevo foram, também, eternizadas em cenas das xilogravuras de diversos carnavais pernambucanos, seja do interior, seja do Recife, feitas por J. Borges (José Francisco Borges, 1935). Linguagens da arte contemporânea têm expressado o Frevo em diversos suportes, como a intervenção em arte urbana do Coletivo Vacilante na Escola de Frevo Maestro Fernando Borges, como parte das propostas do Carnaval 2017 do Recife. Os artistas utilizaram nesta intervenção de
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uma estética que caminha entre o graffiti - com uso de imagens e estênceis - e a pixação, como se podia ver na palavra "Frevo", presente na obra e escrita com o uso de tag reto. Também neste ano, num marco do diálogo do Frevo com práticas contemporâneas, outros artistas do graffiti realizaram intervenções na cidade do Recife: Galo de Souza, Manuel Quitério, Karina, Adelson Boris e Jota Zeroff16
Noutros trabalhos recentes também se evidenciam as histórias das lutas e das camadas populares presentes no Frevo, e visíveis em seus registros visuais. É o caso das imagens de uma pesquisa do Coletivo Saída de Emergência, em performance protagonizada por Rebeca Gondim: ContraMola: memórias insurgentes17 (2021) traz passos de Frevo numa ação artística que nos coloca questões sobre as censu-
ras do nosso passado recente e os silenciamentos e criminalizações atuais.
Faz que Vai (2015), realizado por Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, menciona, já em seu título, um passo de Frevo. Este trabalho traz Edson Vogue como um dos protagonistas de uma performance que agrega, além do Frevo, o voguing. Edson Vogue desenvolve pesquisas entre o Frevo e o voguing, além de imprimir em seu trabalho questões ligadas a gênero e negritude, fundamentais para o Frevo - e para a percepção de que a produção artística relacionada ao Frevo possui, também, papel crítico e propositivo para a sociedade.
Neste breve percurso, evidenciei como o Frevo foi (e ainda é) referência para produções das artes visuais pernambucanas. Noutra via, vê-se como, através dos
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registros imagéticos do Frevo podemos, também, falar da história da arte brasileira. Finalizo ressaltando que, sobretudo, pode-se perceber no repertório visual do Frevo como as populações marginalizadas que o criam e o fazem permanecer se constituem como referências para resistências críticas, festivas e fundamentais, sempre. Pela natureza sintética deste brevíssimo percurso, incorro em inúmeras ausências. Porém, espero que sejam realizados, além de novas pesquisas e exposições sobre o assunto, registros dessas memórias da arte pernambucana através do Frevo. Na ocasião dos lançamentos, por favor, convidem-me, não quero perder esse fervo de jeito nenhum.
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AUTORES
JOSÉ TELES
José Teles é escritor e jornalista. Como escritor, tem uma obra de mais de 40 livros. Especificamente no campo da música, é autor de: Do Frevo ao manguebeat (2000); O Frevo Rumo à Modernidade (2007); Lá Vem os Violados (2012); Cuma é o nome dele? Biografia do embolador Manezinho Araújo (2014); O Frevo-gravado - de Borboleta não é ave a Passo de anjo (2015); A Voz do Frevo, biografia de Claudionor Germano (2016); Da lama ao caos - que som é esse que vem de Pernambuco? (2019); e O Malungo Chico (Editora Bagaço), biografia paradidática sobre Chico Science. Como jornalista, manteve por mais de 30 anos uma coluna sobre música no Jornal do Commercio, do Recife, e colaborou com jornais e revistas pelo Brasil. Além disso, escreveu cadernos especiais sobre Frevo e manguebeat para o Jornal do Commercio e para a revista Continente, e participou de vários livros coletivos, a exemplo de Frevo 100 anos de folia (2007).
jozeteles@gmail.com
EDUARDO SARMENTO
Historiador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), especialista em História das Artes pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e em Gestão Cultural (UFRPE/FUNDAJ/MINC), mestre e doutor em Antropologia (UFPE). Atualmente, realiza pesquisa, como pós-doutorando, no Departamento de Antropologia e Museologia-DAM/UFPE. Faz parte, na condição de conselheiro, do Conselho Internacional de Museus-ICOM-Br, do Comitê de Pesquisa e InovaçãoMuseu da Língua Portuguesa - SP, da Associação Respeita Januário-ARJ, além de participar, como membro pesquisador, do Laboratório de Estudos Avançados em Cultura Contemporânea-LEC e Observatório de Museus e Patri-
mônios - OBSERVAMUS, vinculados ao Departamento de Antropologia e Museologia-DAM/UFPE. Tem experiência, de vinte anos, na área de Gestão de Equipamentos Culturais, Patrimônio Cultural, Museologia e Gestão de Políticas Culturais. Ocupou o cargo de gerente do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural - Casa do Carnaval e de assistente da Gerência de Preservação do Patrimônio Cultural Imaterial (Prefeitura do Recife, 2002 a 2009); coordenador de Patrimônio Imaterial (Fundarpe, 2009 a 2013); gerente de conteúdo e gerente geral do Paço do Frevo/IDG (2013 a 2018).
eduardopsarmento@gmail.com
MÁRIO RIBEIRO
Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), docente da graduação e pós-graduação da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na sua trajetória, possui autoria e organização de eventos e de alguns livros nas áreas de Patrimônio Cultural, festas, ensino de história e cultura afro-brasileira. Atuou como gestor do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural Casa do Carnaval (20102014) e na coordenação de conteúdo do Museu Cais do Sertão (2014-2015). Atualmente, está na coordenação do Projeto de criação do Memorial Yalorixá Helena de Freitas, no Ylê Axé Oyá Bery (Recife) e na supervisão do INRC dos Afoxés de Pernambuco (UAPE/ Funcultura).
mario.santos@upe.br
AUTORES
REBECA GONDIM
É passista de Frevo, pesquisadora e professora de dança. Integrante da COLETIVA, do Coletivo Encruzilhada e Coletivo Saída de Emergência. Possui graduação em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e é especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
beca.m.gondim@gmail.com
CARMEM LÉLIS
Somando muitos anos de pesquisa, dedicação e parceria com artistas e brincantes da Cultura Popular, a historiadora Carmem Lélis atua na defesa dos saberes ancestrais desses fazedores, como política pública. Tendo ocupado diversos cargos nos últimos 30 anos, na área de Documentação e Formação Cultural da Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife, coordenou os projetos de patrimonialização do Frevo junto ao IPHAN e à Unesco, em 2007 e 2010, quando gestora de Patrimônio Imaterial da Cidade do Recife. Tem livros e artigos publicados sobre cultura e história, além de assinar diversas curadorias de exposições sobre manifestações da Cultura Pernambucana. Atualmente está Assessora Técnica de Políticas Culturais da Secretaria de Cultura do Recife.
mclelis@hotmail.com
JEFFERSON FIGUEIRÊDO
É passista de Frevo e artista-docente-pesquisador em dança. Foi aluno do Mestre Nascimento do Passo e da Escola de Frevo do Recife. Desenvolve pesquisa acerca da dança Frevo e seus atravessamentos. Atua como intérprete-criador de forma independente, e, desde 2008 integra a Cia. de Dança Artefolia. É doutorando pelo PPGDança/ UFBA, mestre em Dança e especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela Universidade Federal da Bahia (UFBA); especialista em Dança Educacional e Inclusão (CENSUPEG); licenciado em Dança pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Foi coordenador de dança no museu Paço do Frevo (2021) e atualmente é professor substituto no curso de graduação em Dança da UFPE.
jeffersoneliasdefigueiredo18@gmail.com
JULIO VILA NOVA
Doutor em Linguística (UFPE) e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Estudou no Centro de Criatividade Musical do Recife, na segunda metade dos anos 1980, e é cofundador do Bloco Carnavalesco Lírico Cordas e Retalhos (1998), onde também atua na orquestra, como violonista. É folião recifense, morando em Olinda. É membro do Instituto Brasileiro do Frevo, criado em 2022. Publicou, pela Fundação de Cultura Cidade do Recife, o livro Panorama de Folião - o Carnaval de Pernambuco na Voz dos Blocos Líricos (2007).
juliovnova71@gmail.com
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AMILCAR BEZERRA
É coordenador do Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coautor do livro Evoluções! Histórias de bloco e de saudade (Bagaço, 2006). Recentemente, integrou a equipe de pesquisadores do Inventário Nacional das Matrizes Tradicionais do Forró (2019-2021) e participou do conselho consultivo para a candidatura do Recife a Cidade Criativa na área de música pela UNESCO (2022). É crooner da banda de Frevo elétrica do cordão carnavalesco "Quero Ver Quem Vai" (instagram.com/queroverquemvai).
amilcar.almeida@ufpe.br
INALDO SPOK CAVALCANTE DE
ALBUQUERQUE
Natural de Igarassu, começou na música aos 13 anos. É um dos fundadores e diretor musical da SpokFrevo Orquestra e membro da Academia Pernambucana de Música, na cadeira de Nelson Ferreira. É idealizador e coprodutor dos filmes: Sete Corações e Orquestrão - A maior Orquestra de Frevo do Mundo, que há 15 anos encerra o Carnaval do Recife; coprodutor e protagonista do filme documentário Do Frevo ao jazz. Foi o homenageado do Carnaval do Recife em 2015. Em 2016, fundou o Instituto Passo de Anjo. É músico da Banda Sinfônica do Recife.
spokFrevosax@gmail.com
VALÉRIA VICENTE
É passista, artista e pesquisadora em dança. Doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) com graduação em Comunicação (UFPE), fundou o Acervo Recordança e atua em projetos de pesquisa e criação artística, tendo seis livros publicados. É professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde atua através do grupo de pesquisa Cosmover: dança em perspectivas pluriepistêmicas. Atualmente facilita encontros e atividades artísticas com o Coletivo Pé de Frevo.
avrv@academico.ufpb.br
LEILANE NASCIMENTO
É brincante, coreógrafa, mestra em Antropologia e bordadeira. Coordenou o Educativo do Paço do Frevo, atuou como pesquisadora da Secretaria de Cultura do Recife e como especialista em Patrimônio Cultural da Fundarpe. No campo da arte-educação, coordenou os projetos Ser Criança (extensão/UFPE) e Cultura, um brinquedo de criança (UNESCO/Capital Brasileira da Cultura). Ministrou oficinas de formação de arte-educadores/as, idealizou a Coleção Mestres e mestras do Frevo, voltada para o público infantil (Paço do Frevo/Funcultura). No campo do patrimônio, integrou a equipe do Registro do Frevo como Patrimônio Imaterial do Brasil (submetido e aprovado pelo IPHAN) e da Inscrição do Frevo na Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco.
nascimento.leilane@gmail.com
AUTORES
NICOLE COSTA
É doutora em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); especialista em arte-educação pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap); e tem atuado em museus e instituições culturais desde meados dos anos 2000. Além de galerosa foliã, atuou no Frevo como gestora: no Paço do Frevo, foi gerente de conteúdo (2015-2018) e gerente geral (2019-2021). Desde outubro/2021, é gestora cultural em Portugal, sendo diretora do Museu José Malhoa, do Museu da Cerâmica e do Museu Dr. Joaquim Manso. Atualmente está morrendo de saudades de frevar na rua.
nicolecosh@gmail.com
LUCIANA FÉLIX
É gestora do Paço do Frevo desde 2021. Formada em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Administração pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), tem pós-graduação em Gestão Pública e está se especializando em Gestão de Pessoas e Líderes Socialmente Responsáveis. Profissional com experiência no setor público há 19 anos. Trabalhou em diversas secretarias na Prefeitura do Recife e no Governo de Pernambuco. Presidiu a Fundação de Cultura Cidade do Recife nos anos de 2009 a 2012. É produtora cultural e empreendedora social.
luciana.felix@idg.org.br
RICARDO PIQUET
Engenheiro, pós-graduado em planejamento, inovação e sustentabilidade, marketing e mestre em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), atua há mais de 20 anos como executivo e empreendedor do terceiro setor. Gestor nas áreas de cultura, educação e meio ambiente, integrou as equipes responsáveis pela implantação de importantes centros culturais no Brasil, tais como o Museu da Língua Portuguesa (SP) e o Museu do Futebol (SP). Passou por instituições como Vale e Fundação Roberto Marinho. Foi conselheiro do Porto Digital, no Recife, do Instituto Tecnológico Vale e da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Está à frente da presidência do Instituto de Desenvolvimento e Gestão - IDG desde a sua fundação, em 2013, onde gerencia projetos relevantes pelo Brasil, como o Museu do Amanhã (RJ), Paço do Frevo (PE), projeto Cais do Valongo (RJ), Memorial do Holocausto (RJ), Museu das Favelas (SP) e o Forte Nossa Senhora dos Remédios, em Fernando de Noronha (PE). Integra o conselho internacional Museum for the UN - UN Live, da ONU, e o comitê diretivo do Futures-Oriented Museum Synergies (FORMS); o Conselho da Cidade do Rio de Janeiro; o do Instituto Tom Jobim; e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). Atua, também, como conselheiro da MOTI Foundation (Amsterdam) e do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI).
ricardo.piquet@idg.org.br
283
NOTAS
01 Parte desta escrita foi retirada do artigo "Virada no Mói de Coentro" que escrevi como trabalho de conclusão de curso da Especialização em Estudos Contemporâneos em Dança. O trabalho foi apresentado ao programa de pós-graduação Escola de Dança, da Universidade Federal da Bahia, 2021, e orientado pelo Prof. Dr. Fernando Ferraz.
02 Disponível em https://ich.unesco.org/en/RL/ Frevo-performing-arts-of-the-carnival-of-recife-00603 [acesso em 25 out. 2022)
03 Disponível em: https://clubedaspas1888.com.br/ biografia [acesso em 30 out. 2022)
04 Publicação da Prefeitura do Recife no carnaval de 1987, por ocasião do 450º aniversário da cidade (Em Pernambuco. História do Carnaval - Séculos XIX e XX. CD-Rom História do Carnaval - Séculos XIX e XX, 2009.)
05 Disponível em http://urbecarioca.com.br/artigoempatando-tua-vista-humor-e-irreverencia-paracriticar-a-verticalizacao-excessiva-nas-cidades-deedinea-alcantara/ [acesso em 26 out. 2022>
06 https://soundcloud.com/leepesaka
07 Martins, Lêda.
08 Em entrevista a Ney Lopes de Souza, Carnaval de 1967 (AMORIM, 2008: 51).
09 Depoimento registrado por mim para o inventário e dossiê Frevo: Patrimônio Imaterial do Brasil (2006).
10 Depoimento registrado por mim, Carmem Lélis e Hugo Menezes para publicação do livro Zenaide Bezerra: no passo da vida... são dois pra lá, dois pra cá (2011).
11 Ibdem.
12 Vide a seção "Aspectos Visuais" no IPHAN (2017). Dossiê Interpretativo do Frevo. Disponível em: http:// portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/ DossieIphan14_Frevo_web.pdf [Acesso em: 3 ago. 2021].
13 Para refletir sobre estas identidades temporárias, sugiro uma olhada em BAHKTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Editora Hucitec, Editora Universidade de Brasília, 1987.
14 Uma breve biografia de Badia pode ser encontrada em Enciclopédia negra. GOMES, Flávio dos Santos; LAURIANO, Jaime; SCHWARCZ, Lilia Moritz. São Paulo : Companhia das Letras, 1ed., 2021.
15 Paula Valadares realizou um denso e fundamental trabalho sobre o design e as capas da Rozenblit: VALADARES, P. V. R. "O Frevo nos discos da Rozenblit: um olhar de designer sobre a representação da indústria cultural". 2007. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Design, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/3367 [Acesso: 31 out. 2022].
16 Para adensar mais sobre as artes urbanas em Pernambuco, bem como para ver imagens das obras citadas, pode-se ver minha tese - que trata sobre as relações entre graffiti e políticas públicas: COSTA, N. N. M. "A rua respira arte!: uma antropologia do Graffiti". 2017. Tese (Doutorado em Antropologia) - Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/38759 [Acesso: 31 out. 2022].
17 O vídeo pode ser acessado no Youtube: Contramola: Memórias Insurgentes. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=W7Wirg0WVOc [Acesso: 31 out. 2022].
NOTAS
LEGENDAS
POR ORDEM DE APARIÇÃO:
01 30 / 12 / 2016 - Sombrinha de frevo e fachada da sede do Paço do Frevo - Museu e centro de referência em salvaguarda do frevo. Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
02 Badia. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
03 Joana Batista Ramos. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
04 Dona Santa. Foto: Lula Cardoso Ayres / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
05 12 / 02 / 2018 - Calunga de Maracatu na Noite dos Tambores Silenciosos. Foto: Ricardo Labastier / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
06 20 / 01 / 2015 - Terça negra Especial do Carnaval 2015. Foto: Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
07 22 / 02 / 2019 - Prévias do Carnaval do Recife 2019. Acerto de Marcha de Blocos Líricos no Pátio de São Pedro. Foto: Sérgio Bernardo / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
08 20 / 01 / 2015 - Terça negra Especial do carnaval 2015. Foto: Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
09 10 / 02 / 2018 - Foliões no Recife Antigo. Foto: Ricardo Labastier / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
10 20 / 02 / 20 - Ubuntu Encontro de Afoxés. Foto: Camila Leão / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
11 28 / 02 / 2019 - Prévias do Carnaval do Recife 2019. Ubuntu, Encontro de Afoxés com a lavagem da Avenida Rio Branco e celebração no Marco Zero do Recife. Foto: Sérgio Bernardo / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
12 Bloco Lírico O Bonde - Troca de flabelo 2014. Foto: Eduardo Araújo / Acervo Paço do Frevo.
13 Capoeirista. Crédito: Coleção Concurso de Fotografias / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
14 Passista Nascimento do Passo. Crédito: Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
15 Egídio Bezerra, o rei do passo, dançando no Iate Clube. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
16 Homem fazendo o passo com guarda-chuva. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
17 Famoso passista “Coruja”, dançando no Clube Português. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
18 Emilayne Gomes Rainha do Carnaval. Foto: Alison Matias.
19 Goretti Caminha, integrante do Bloco Carnavalesco Misto Pierrot de São José, agremiação que é Patrimônio Vivo da Cidade do Recife. Foto: Ignus.
20 Zenaide Bezerra, Patrimônio Vivo da Cidade do Recife e líder do Grupo Folclórico Egídio Bezerra. Foto: Ignus.
287
21 Troça Carnavalesca Pitombeira dos Quatro Cantos, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
22 Costureira na Sede do Clube Carnavalesco Misto Bola de Ouro. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
23 19.01.18 - Eliminátória de Rei e Rainha do Carnaval. Foto: Bruno Campos / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
24 26.01.18 - Final do Concurso de Rei e Rainha do Carnaval. Foto: Bruno Campos / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
25 Porta Estandarte da Tro ça Cachorro do Homem Miúdo. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
26 TCM Abanadores do Arruda. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
27 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
28 Desfile da Troça Destemido de Campo Grande. Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
29 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado em 1907 e expoente do carnaval da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.
30 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado em 1907 e expoente do carnaval da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.
31 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
32 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
33 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
34 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
35 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
36 05 / 11 / 2017 - Arrastão no Dia do Frevo de Bloco com maestro Marco César e coral Edgard Moraes. Foto: Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.
37 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
38 Foto: Brenda Alcântara / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
39 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
40 2002 - Desfile do Bloco da Saudade no Marco Zero do Recife-PE. 2002. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
41 Arrastão de blocos Líricos, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
42 28 / 01 / 2018 - Roda de Frevo com o Maestro Spok. Foto: Luiz Henrique Santos.
43 Arrastão Pitombeirinha, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
44 Sede do Clube Lenhadores de Paudalho, fundado em 1907 e expoente do carnaval da Zona da Mata Norte de Pernambuco. Foto: Marina Domar.
LEGENDAS
45 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical Henrique Dias, fundado em 1954, localizado nos Quatro Cantos, Sítio Histórico de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.
46 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.
47 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.
48 Arrastão Pitombeirinha, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Paço do Frevo.
49 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.
50 Cortejo da Troça John Travolta. Foto: Hugo Muniz.
51 Trote do Elefante. Desfile da Troça Elefante de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
52 09 / 02 / 20 - Arrastão Pitombeira dos Quatro Cantos, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
53 Multidão no Carnaval 2003. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
54 Cortejo e Arraiá Cariri 2022. Foto: Hugo Muniz.
55 14 / 02 / 2015 - Saída do Home da Maia Noite, Olinda-PE. Foto: Eric Gomes.
56 22 / 10 / 2022 - Lula em Bloco, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
57 22 / 10 / 2022 - Lula em Bloco, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
58 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
59 Foliões acompanhando a Frevioca no Carnaval de 1990, Recife-PE. Crédito: Acervo Casa do Carnaval.
60 Foliões acompanhando a Frevioca no Carnaval de 1987, Recife-PE. Crédito: Casa do Carnaval
61 Frevioca na rua da Concórdia durante desfile do Galo da Madrugada. Carnaval de 1990, Recife-PE. Casa do Carnaval / Leonardo Guedes.
62 Praça Sérgio Lorêto e Av. Dantas Barreto no centro do Recife durante desfile do Galo da Madrugada. Carnaval de 2013, Recife-PE. Foto: Marcos Pastich / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
63 02 / 03 / 2019 - Galo da Madrugada. Foto: Sérgio Bernardo / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
64 Foto: Alexandre Berzin / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
65 Crédito: Alexandre Berzin / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
66 Foto: Lexandre Berzin / Acervo Fundação Joaquim Nambuco - Ministério da Educação
67 Foto: Alexandre Berzin / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação
68 30 / 12 / 2016 - Passista em frente a sede do Paço do Frevo durante o evento Hora do Frevo Especial: Spok Quinteto- Museu e centro de referência em salvaguarda do frevo. Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
289
69 09 02 2018 - Aniversário do paço do Frevo e Roda de Frevo com Maestro Spok. Foto: Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.
70 09 / 10 / 2022 - Mestre Wilson no Arrastão do frevo com Pitombeirinha, evento promovido pelo Paço do Frevo. Praça do Praça do Arsenal, Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz / Acervo Paço do Frevo.
71 14 / 02 / 2015 - Foliões no Recife Antigo. Foto: Marcelo Lacerda / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
72 19 / 02 / 2015 - Carnaval 2015. Passista no palco do Marco Zero durante apresentação do Orquetrão do Maestro Spok. Foto: Leo Motta.
73 24 / 01 / 2015 - Concurso de passistas. Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
74 24 / 01 / 2015 - Concurso de passistas. Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
75 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro Cantos na abertura de prévias carnavalescas de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
76 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro Cantos na abertura de prévias carnavalescas de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
77 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro Cantos na abertura de prévias carnavalescas de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
78 07 / 09 / 2022 - Troça Pitombeira dos Quatro Cantos na abertura de prévias carnavalescas de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
79 30 / 12 / 2016 - Passista em frente a sede do Paço do Frevo durante o evento Hora do Frevo Especial: Spok Quinteto- Museu e centro de referência em salvaguarda do frevo. Recife Antigo, Recife-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
80 24 08 2018 - Hora do Frevo comAmaro Freitas e Henrique Albino no Paço do Frevo. Fotos: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
81 09 / 02 / 2017 - Maestro e compositor Ademir Souza Araújo, o Maestro Formiga, na sede do Paço do frevo durante evento de comemoração dos 110 anos de frevo e 03 anos de Paço do frevo. Foto: Anderson Stevens / Acervo Paço do frevo.
82 25 / 02 / 2017 - Nena Queiroga. Foto: Jedson Nobre / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
83 15 / 02 / 2015 - Carnaval 2015. Ed Carlos no Polo Linha do Tiro, Recife-PE. Foto: Lú Streithost / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
84 21 / 10 / 2028 - Fábrica de Frevo com a multiartista Maria Flor no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
85 01 / 03 / 2014 - Maestro Forró faz show no palco do Marco Zero do Recife durante o Carnaval 2014. Foto: Eric Gomes.
86 25 / 10 / 2014 - Turnê EUA 2014. Spok Frevo Orquestra na se apresenta no Jazz At Lincoln Center, Nova York. Foto: Marcelo Barreto / Ateliê Produçõ es.
87 Letreiro do concerto da Spok Frevo Orquestra no Englert Theatre, Iowa City, EUA.
LEGENDAS
88 17 / 04 / 2021 - Seu Pedro Sapateiro, porta estandarte no Clube Carnavalesco Misto Lenhadores de Olinda, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
89 07 / 02 / 2021 - Porta estandarte Porquinho em sua casa. Foto: Hugo Muniz.
90 18 / 09 / 2022 - Porta estandartes da troça Abanadores do Arruda com seu Zacarias no canto esquerdo. Praça do Arsenal, Recife-PE. Foto: Hugo Muniz.
91 09 / 10 / 2022 - Arrastão do Frevo com a Pitombeirinha. Evento promovido pelo Paço do Frevo. Foto: Hugo Muniz / Acervo Paço do Frevo.
92 Janeiro de 1980 - Baile da Saudade, Clube Português do Recife. Maestro Zé Menezes recebendo o troféu de homenagem aos 30 anos de frevo. Na foto, Leonardo Dantas Silva, maestro e compositor Capiba, maestro Zé Menezes e deputado Antônio Correia. Crédito: Coleção Maestro José Menezes / Centro de Documentação e Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.
93 13 / 02 / 1972 - Almoço no terceiro dia de carnaval. Na foto, os maestros Capiba, Nelson Ferreira e José Menezes. Recife-PE. Crédito: Coleção Maestro José Menezes / Centro de Documentação e Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.
94 Na foto, Manoel Gilberto, principal parceiro, e Claudionor Germano, principal intérprete do compositor José Menezes (primeiro à direita). Crédito: Coleção Maestro José Menezes / Centro de Documentação e Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.
95 09 / 02 / 2017 - Cantor e intérprete Claudionor Germano na sede do Paço do frevo durante evento de comemoração dos 110 anos
de frevo e 03 anos de Paço do frevo. Foto: Anderson Stevens / Acervo Paço do frevo.
96 Setembro de 1978 - Orquestra de José Menezes no 1° Festival Internacional de Jazz, Parque Anhembi, Palácio das Convenções. São Paulo-SP. Crédito: Coleção Maestro José Menezes / Centro de Documentação e Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.
97 16 / 06 / 1997 - Maestro Duda assume a Banda da Cidade do Recife. Foto: Maria Eugênia Roque / Coleção Maestro José Menezes / Centro de Documentação e Memória Maestro Guerra-Peixe do Paço do Frevo.
98 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical Henrique Dias, fundado em 1954, localizado nos Quatro Cantos, área do Sítio Histórico de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.
99 Ensaio da orquestra do Grêmio Musical Henrique Dias, fundado em 1954, localizado nos Quatro Cantos, área do Sítio Histórico de Olinda-PE. Foto: Marina Domar.
100 Foto: Katarina Real / Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
101 10 / 02 / 2018 - Foliões no Recife Antigo. Foto: Peu Ricardo / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
102 20 / 12 / 2016 - Evento de encerramento do Comunidade no Paço na sede do Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
103 Foto: Natanael Guedes / Casa do Carnaval.
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104 07 / 09 / 2022 - Davi Lucas, passista do grupo de dança Frevança durante o desfile da Pitombeira dos Quatro Cantos em Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
105 Foto: Leonardo Guedes / Casa do Carnaval.
106 30 / 12 / 2016 - Criança em seus primeiros passos de frevo durante a Hora do Frevo Especial com Spok Quinteto. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
107 Passista no Pátio de São Pedro. Foto: Natanael Guedes / Acervo Casa do Carnaval.
108 16 / 01 / 2021 - Menino da Tarde e A Mulher do Dia no ateliê do artista plástico e criador de bonecos Silvio Botelho, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
109 16 / 01 / 2021 - Ateliê do artista plástico e criador de bonecos Silvio Botelho, Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
110 Foto: Hugo Muniz.
111 10 / 01 / 2021 - Estandarte da troça Elefante de Olinda sendo carregado no Largo do Amparo após cortejo simbólico do boneco Menino da Tarde durante a pandemia causada pela COVID-19. Foto: Hugo Muniz.
112 11 / 02 / 2021 - Ensaio fotográfico com o porta-estandarte José Luna da troça Pitombeira dos Quatro Cantos durante o não-carnaval causado pela pandemia da COVID-19. Foto: Hugo Muniz.
113 16 / 01 / 2021 - Boneco gigante O Fodão nos Quatro Cantos de Olinda-PE durante a pandemia causa pela COVID-19. Foto: Hugo Muniz.
114 04 / 12 / 2022 - Desfile da boneca gigante A Vaidosa nas ladeiras do sítio histórico de Olinda-PE. Foto: Hugo Muniz.
115 16 / 01 / 2021 - Bonecos de Olinda nas ladeiras do sítio histórico da cidade durante. Na frente, O Virgem do Guadalupe, de chapéu branco, O Poderoso Chefão. De branco, O Invejado. Atrás, O Metido a Rico. Foto: Hugo Muniz.
116 07 / 05 / 2022 - Primeiro cortejo da troça Cariri Olindense nas ladeiras do sítio histórico de Olinda-PE após período de isolamento causado pela pandemia da COVID-19. Foto: Hugo Muniz.
117 23 / 02 / 2020 - O Velho Cariri, personagem da troça Cariri Olindense, desfilando nas ladeiras do sítio histórico de Olinda-PE durante o carnaval 2020. Foto: Hugo Muniz.
118 20 / 12 / 2016 - Visita ao Paço do Frevo com as comunidades do Peixotinho, Chié e Pilar. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
119 25 / 07 / 2017 - Visita do Projeto Tocando a Vida, Itapissuma-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
120 14 / 12 / 2017 - Curso: O Frevo e a Guitarra Elétrica com professor e guitarrista Renato Bandeira no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
121 07 / 11 / 2017 - Curso Técnicas de Solfejo com o maestro Edson Rodrigues no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
LEGENDAS
122 19 / 04 / 2018 - Curso Frevo Cinquentão com o professor e dançarino Otávio Bastos no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
123 07 / 05 / 2019 - Escola de Dança - Visita dos estudantes do curso de Licenciatura em Dança da UFPB ao Paço do Frevo (com Daniela Santos, Júnior Viégas e Otávio Bastos), Recife-PE. Foto: Patrícia Freitas / Acervo Paço do Frevo.
124 06 / 07 / 2019 - Vivência de Dança - “Andar Junto”, com Flaira Ferro no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
125 Zenaide Bezerra, Patrimônio Vivo da Cidade do Recife e líder do Grupo Folclórico Egídio Bezerra. Foto: Ignus.
126 Adriana Frevo, passista de Frevo e professora da Companhia Brasil por Dança, dando aula no Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas de Olinda. Foto: Marina Domar
127 19 / 04 / 2018 - Curso Frevo Cinquentão com o professor e dançarino Otávio Bastos no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Luiz Henrique Santos / Acervo Paço do Frevo.
128 06 / 07 / 2019 - Vivência de Dança - “Andar Junto”, com Flaira Ferro no Paço do Frevo, Recife-PE. Fotos: Luiz Henrique Santos / Paço do Frevo.
129 Carnaval 2011. Decoração das ruas do Recife pela artista Joana Lira. Nesta foto, detalhe da ponte Duarte Coelho, Bairro de Santo Antônio, centro do Recife-PE. Foto: Tiago Lubambo.
130 Carnavalescos nas Ruas (1979) - Wilton de Souza - Acervo Wilton de Souza.
131 Pintura do Carnaval - Júlio Holanda (1998). Crédito: Acervo Júlio Holanda.
132 Croqui Bloco da Saudade 2004. Crédito: Carlos Ivan - Acervo Bloco da Saudade.
133 17 / 12 / 2016 - Mostra-processo: encerramento dos cursos 2016.2 do Paço. Apresentações de Canto Coral e Prática de Orquestra no Paço do Frevo, Recife-PE. Foto: Bruna Monteiro / Acervo Paço do Frevo.
134 Conjunto de Passistas de Frevo 1965 - Danças Brasileiras de Carnaval de Abelardo da Hora - ACERVO Memorial Abelardo da Hora.
135 CAPAS DE DISCO: Acervo Fundação Joaquim Nabuco - Ministério da Educação.
136 Foto: Rafa Medeiros / Acervo Prefeitura da Cidade do Recife-PE.
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REFERÊNCIAS
FREVO COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE E PATRIMÔNIO AFETIVO PERNAMBUCANO
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