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Você encontrou algum obstáculo no início da sua carreira? Tinha políticos que não gostavam de cartunistas, alguns gostavam, outros não. Na escola também muita gente não gostava, eu tocava nos pontos negativos das pessoas e por isso havia aquele medo, muitas pessoas queriam revidar. Você é um cartunista muito premiado. Quantos prêmios você já ganhou? Algum tem maior importância para você? Até hoje tenho mais ou menos 112 prêmios. O mais importante para mim foi a caricatura que fiz de Yasser Arafat. Ela proporcionou que eu fosse até a França receber o prêmio, lá fui tratado como um “paxá”, não gastei um tostão durante os dias que passei lá. Foi meu primeiro grande prêmio. Você já ganhou algum prêmio Maranhense? Não. Aqui já nem participo, eu evito porque vejo que só ganham determinadas pessoas. Os prêmios que ganhei aqui foram na época que estava começando, prêmio de elaboração de cartaz, a logo do Banco do Estado do Maranhão, essas coisas. O que falta para que essa arte

Madre Teresa de Calcutá “Primer Premio” IX Bienal Internacional de Humorismo/ Cuba - 1995

se desenvolva no Maranhão? O número de pessoas que pesquisa sobre cartum aqui é muito pequeno, até porque não é da cultura. A gente não tem uma mídia forte que gere emprego e renda para as pessoas que trabalham com isso. Infelizmente as pessoas aqui não podem dizer que vivem só do que ganham desenhando; lá na França, os cartunistas ficavam admirados e me perguntavam como eu tinha tempo para fazer cartum e fazer outras atividades. Lá eles vivem só do salário que ganham para fazer revistas em quadrinhos ou ilustrar editoriais de grandes jornais. Você é muito conhecido fora do estado e até do país. Você acha que falta reconhecimento aqui no Maranhão? O interesse pelo desenho é universal, em todo lugar tem crianças e adultos interessados. Aqui, não falta reconhecimento. O que falta é o mercado, porque o Maranhão ainda é o estado que tem mais analfabetos no Brasil, assim fica difícil para editar um livro porque o número de pessoas que vai comprar é muito pequeno. As pessoas estão mais preocupadas em comer do que em comprar livro de arte ou consumir jornais. O que falta aqui é dinheiro, é elevar as classes sociais, diminuir a distância entre ricos e pobres para que as pessoas tenham acesso à cultura. O certo seria fazer com que a renda das pessoas aumentasse para que elas pudessem consumir essa arte. Como funciona a produção de cartuns aqui no Estado? Há alguma política de incentivo à produção? Não tem incentivo para nada. As pessoas fazem por gostar, eu sempre fiz não para viver disso, mas porque gosto, faço dese-

Autocaricatura

nhos até de graça. Às vezes pessoas no exterior pedem desenhos e avisam logo que não vão pagar (risos) que é só para colocar em exposição no museu. Com tantos prêmios fora do Estado e até do Brasil você nunca quis morar em outro lugar? Já tive oportunidades de sair daqui, mas me identifico com o Maranhão. Eu gosto dessa ilha, aqui estão meus amigos e minha família. É um lugar que me agrada, aqui tem tudo o que eu gosto. Para mim a cidade do tamanho de São Luís é ideal porque gosto de sossego quando estou desenhando, não sei desenhar com alguém mexendo, batendo o pé ou cantarolando, gosto de me trancar e ficar sossegado. Como as pessoas podem ter acesso às suas produções? Só vindo aqui no meu ateliê. Eu não divulgo, não gosto de lançar livros, lancei só uns três e nunca mais. Então edito, guardo, às vezes ponho em uma livraria ou outra, e vou guardando para permutar ou doar para as pessoas que pedem e estão interessadas, porque muita gente compra livro e guarda, nem abre. Quero que esses livros meus fiquem nas mãos de alguém que esteja interessado de verdade. julho 2010

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