Turning Points - Fatores de mudança

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Fatores de Mudança 2013TURNING POINTS

A resolução de conflitos políticos, econômicos, religiosos e culturais passa pela pauta comum entre países com realidades distintas. Ao longo de 2013, alguns pontos-chave para esta transformação estarão no centro do debate

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ÍNDICE 28

Sabina Louise Pierce/The New York Times

ESA/H­ubble­ NASA

Bóson de Higgs. E daí? As coisas que deixam os cientistas animados — como uma partícula minúscula que custa US$10 bilhões para ser localizada, por exemplo — geralmente não significam nada para o resto das pessoas. É hora de os especialistas aprenderem a se comunicar com o público e o público aprender a entendê-los.

46 Marcu­s Yam /the New York Times­

Reequilibrando um mundo desigual A indignação pública com a iniquidade pode forçar a retomada de soluções para o problema.

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Cuba evoluiu e o papel da Igreja também Há muito a Igreja Católica se dedica a ações sociais e humanitárias e sua influência em Cuba, que até recentemente era um país ateu, está crescendo.

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Editorial 6 Agenda 8 e 9 Um segundo mandato, uma segunda chance para os EUA no exterior 14 e 15 A grande questão da igualdade entre os sexos 20 a 23

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Obra-prima no porão 26 a 29 Bastidores: A história perdida por trás de um filme hollywoodiano “Made in China” 30 a 33 Estamos nos transformando em ciborgues? 34 a 36 De arte a mercadoria 42 a 44


Tom­as Munit­a para o New York ­Times­

Um espaço para a religião Somos muito rápidos para associar religião a atraso e modernidade com secularismo, tanto no Oriente Médio como no Ocidente. A “Primavera Árabe” pede algo novo.

38 Um ano de novos líderes e a história segue o seu rumo calmamente Para se ter uma ideia do que o futuro nos reserva, é preciso analisar os novos países ‘estacionários’, dos quais pelo menos um pode se reerguer.

cristiano trad

O ano em fotos Retrospectiva visual de fatos importantes de 2012 registrados pelas lentes dos fotógrafos do The New York Times e de O TEMPO

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O ano em humor 62 a 65 A música não pode calar 66 a 68 Como o humor aproxima as pessoas 70 e 71 Pela primeira vez 72 a 79 Uma noite em Guantánamo 80 e 81

Opinião Brasil Antonio Anastasia. 52 e 53 Fernando Pimentel. 24 e 25 Olavo Machado. 54 e 56

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EDITORIAL FUNDADOR Vittorio Medioli PRESIDENTE Laura Medioli VICE-PRESIDENTE Luiz Alberto de Castro Tito DIRETOR EXECUTIVO Heron Guimarães DIRETOR FINANCEIRO Marcos de Oliveira e Souza EDITORA EXECUTIVA Lúcia Castro GERENTE COMERCIAL Fabiano Guerra GERENTE DE TECNOLOGIA Fábio A. Santos GERENTE INDUSTRIAL Guilherme Reis GERENTE ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO Walmir Prado GERENTE DE MARKETING Alessadra Soares GERENTE DE CIRCULAÇÃO Isabel Santos GERENTE DE ASSINATURAS Maria Beatriz Braga Rocha

EDIÇÃO Lúcia Castro Michele Borges da Costa Murilo Rocha

DESIGN Rose Braga

EDIÇÃO DE IMAGEM Daniel de Cerqueira

CAPA Hélvio Avelar

ILUSTRAÇÕES E FOTOGRAFIA New York Times e Arquivo O TEMPO

Fatores de Mudança 2013TURNING POINTS

A resolução de conflitos políticos, econômicos, religiosos e culturais passa pela pauta comum entre países com realidades distintas. Ao longo de 2013, alguns pontos-chave para esta transformação estarão no centro do debate

O TEMPO, lançado em 1996, é publicado pela Sempre Editora, grupo que também reúne os jornais Super Notícia, Pampulha, O Tempo Betim e O Tempo Contagem, a revista Super TV e o portal O Tempo.

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Uma sinalização para o futuro Disse através de um recente artigo que Chegamos aos 16 anos e agora escrevi em comemoração ao aniversário do jornal O TEMPO que completar 16 anos exigimos de nós mesmos para um jovem é algo histórico, um divisor ainda mais responsabilidade. de águas. Falava da mudança radical pela Estamos sendo chamados qual um adolescente quase adulto é obrigado a passar quando se tem um novo “status” a pensar sobre os novos na sociedade. Na ocasião, fazia um paralerumos do jornalismo lo com o gigantesco esforço de milhares de e de nossa empresa pessoas que passaram pela redação de nosso jornal, pelo parque gráfico, pela distribuição e por muitos outros setores para conseguir fazer de nossa empresa o que ela é hoje. Dizia que foram anos que passaram rapidamente, mas todos fortemente marcados Horizonte, o que significa que mais de 80% por grandes episódios, desafios e realizações. de quem lê jornais nessas cidades recorre a Chegamos aos 16 anos e agora exigimos de algum de nossos títulos, significando para a nós mesmos ainda mais responsabilidade. população acesso mais fácil à leitura e à inEstamos sendo chamados a pensar sobre formação. os novos rumos do jornalismo e de nossa Com o Turning Points 2013, um projeto empresa em uma época de queda generalique já chega ao mercado com êxito, nada zada de venda dos maiores títulos nacionais mais fazemos do que exercitar essa habilie internacionais, cenário onde se mesclam dade de apostar no que tem qualidade e utinovas tecnologias, oportunidades e dúvidas lidade para nossos leitores, adequando-nos sobre o futuro do jornal de papel. às necessidades de nossos consumidores, Novamente chamado a escrever sobre anunciantes e parceiros. Nossos esforços um projeto da Sempre Editora, desta vez caestão concentrados na produtividade e na rimbando uma parceria ainda maior de nosrelevância do que ofertamos. Por isso, eleso grupo com o mais conceituado jornal do gemos essa parceria com o “The New York mundo, o “The New York Times”, volto a destacar o sentido de inovaVITTORIO MEDIOLI ção que nos trouxe até aqui, contriÉ presidente do Grupo Sada e fundador da buindo significativamente para os Sempre Editora mercados editorial e leitor de Minas Gerais e do país, afinal, fazer jornal com sucesso e transformar uma empresa jovem em case para gigantes da mídia brasileira e mundial não é uma prova fácil. Diante de tantos obstáculos, ressalta-se, a Sempre Editora, como parte do Grupo Sada, mostrou que tem a inovação em seu genoTimes” como um marco na oferta de novos ma, o que lhe garante a capacidade de cresprodutos por parte da Sempre Editora. cer em meio a crises. Com esse espírito, há Os milhares de assinantes de O TEM16 anos, criávamos O TEMPO, um veículo PO, além de mailling cuidadosamente preque modificou o jeito de fazer jornalismo parado por nossa gerência de Marketing, em Minas Gerais e abriu o leque para novas vão receber uma seleção dos fatos mais iminterpretações da realidade. Também nesse portantes deste ano que influenciaram de período lançamos o “Super Notícia” (2002), forma decisiva no futuro da humanidade. o tabloide mineiro que se transformou no Textos dos mais reconhecidos nomes do jornal mais vendido de todo o Brasil. “New York Times”, além de ilustres convidaSomam-se a essas iniciativas os invesdos de O TEMPO, chamados a participar timentos realizados no parque gráfico, um deste projeto com suas ideias e opiniões, dos maiores do país, e nas plataformas digiestão reunidos aqui, à disposição de nosso tais, além dos avanços conquistados através leitor. São análises do que ocorreu em 2012 de reformas em nossos projetos gráficos e e uma projeção para o ano que vem, que, editoriais. seguramente, coincidem com a expectatiSem burocracia, programamos uma va de quem entende como riqueza o ato de nova forma de fazer comunicação, transse manter informado. É mais um passo da formando hábitos de leitura na sociedade Sempre Editora rumo à consolidação de mineira e atingindo quase três milhões de maior produtora de conteúdo jornalístico de leitores por dia, somente na Grande Belo Minas. Uma sinalização para o futuro.


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AGENDA

Lugares para visitar e coisas para fazer: dicas para marinheiros de primeira viagem e viajantes experimentados.

Internacional, 2013

Ano Internacional de Cooperação ao Acesso a Água A ONU Água está preocupada com a gestão e utilização do precioso líquido; assim, a Unesco deve promover “ações em todos os níveis das áreas mais relevantes, incluindo educação, cultura, ciências, prevenção e solução de conflitos, além de ética”. (Para quem pretende citar “O Canto do Velho Marinheiro”, a frase é “nem uma gota para beber”.) Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos

World Future Energy Summit 2013 15 a 17 de janeiro

Sim, o petróleo fez de Abu Dhabi a cidade mais rica do planeta  – mas o emirado quer se garantir e, para tanto, pretende se tornar líder em energia renovável, incluindo um projeto interessante para a construção de um bairro inteiro, Masdar City, com zero emissão de CO2, sem produção de lixo, sem carros e movido só a energia solar. Christchurcch, Nova Zelândia

Festival Mundial dos Artistas de Rua 17 a 27 de janeiro Há 19 anos os melhores malabaristas, palhaços, mímicos, estátuas vivas, mágicos e músicos se reúnem em Hagley Park.

Davos, Suíça

Internacional (mais ou menos)

23 a 27 de janeiro

Dia Nacional do Abraço 21 de janeiro

O reverendo Kevin Zaborney inventou essa data para abordar o que vê como uma relutância dos norte-americanos de mostrar seus sentimentos em público  – e ela acabou se espalhando por vários locais insensíveis do mundo. Porém, é bom sempre levar em consideração o aviso do nationalhuggingday.com: “Embora o objetivo da data seja abraçar todo mundo, sempre sugerimos que se peça permissão antes”. Principalmente nos EUA, onde muita gente anda armada. Washington

Cerimônia de posse do presidente dos EUA 21 de janeiro

Fórum Econômico Mundial Se até agora você não recebeu o convite, é porque você não é VIP. Sapporo, Japão

Festival da neve de Sapporo 5 a 11 de fevereiro

Essa será a 64ª edição do festival que já atrai cerca de 2 milhões de pessoas para admirar belas esculturas em gelo e neve. Rio de Janeiro

Carnaval 9 a 12 de fevereiro

Praticamente todo o país para antes da Quaresma para dizer adeus aos prazeres da carne, mas nada se compara ao bacanal bombástico do Rio, no auge do verão meridional.

Não foi outro dia? Nova Orleans Dinamarca

Invasão da cadeia de lojas britânica Tesco 21 de janeiro

De acordo com o documentário da BBC, “Time Trumpet”, 21 de janeiro será um dia bem movimentado (ver item acima). 8

Super Bowl XLVII 3 de fevereiro

Poucos eventos esportivos causam tamanho furor como a decisão do campeonato de futebol americano  – um esporte que poucos fora dos EUA entendem (que pena!). “XLVII” significa que os estrangeiros podem assistir, mas só na presença dos pais.

Val di Fiemme, Itália

Campeonato Mundial FIS Nordic de Esqui

London, Ontário

Campeonato Mundial de Patinação Artística

20 de fevereiro a 3 de março

10 a 17 de março

“Nordic” se refere ao esqui cross-country e todos os vencedores.

Não confundir com o Super Bowl (já mencionado). Tailândia

Hollywood, Califórnia

Noite do Oscar 24 de fevereiro

Se “Guerra Mundial Z” levar um Oscar, será o primeiro filme de zumbis a conquistar a façanha. Estrelado por Brad Pitt.

Festival Songkran 12 a 15 de abril

O tradicional Ano Novo tailandês, quando misturado a várias religiões e obrigações familiares, vira um festival em que todo mundo joga água em todo mundo. É divertido e acontece no auge do verão.


Amsterdã

Festival Keti Koti 1º de julho

Significa “cortar as amarras” em Sranan Tongo, o dialeto de Suriname. O Keti Koti comemora a abolição dos escravos nas antigas colônias holandesas no Caribe (Índias Ocidentais e Suriname) com um festival de comida, música, dança e cerimônia em Oosterpark. Como esse será o 150º aniversário, a comemoração será ainda mais especial. Londres

Wimbledon 24 de junho a 7 de julho

Continua sendo o único torneio do Grand Slam em quadra de grama. Kazan, Rússia

27ª Universidade de Verão 6 a 17 de julho

Também conhecido como os Jogos Universitários Mundiais, o evento deve ser um aquecimento para organização das Olimpíadas de Inverno de 2014 em Sochi. Pamplona, Espanha

Corrida de Touros 6 a 14 de julho

Se você ainda não experimentou essa verdadeira descarga de adrenalina, experimente agora antes que os grupos de defesa animal consigam acabar com a festa. Quinze pessoas já morreram desde 1924, quase todas a chifradas. Goroka, Papua Nova Guiné

Goroka Show Internacional

Dia da Terra 22 de abril

Cerca de 20 milhões de pessoas participaram da primeira comemoração, em 1970; atualmente, a marca já ultrapassa 1 bilhão em 190 países. Os antiambientalistas preferem lembrar que é aniversário de Lênin.

Veneza, Itália

Bienal Internacional de Arte de Veneza 1º de junho a 24 de novembro

Exibir em Veneza é o selo máximo de qualidade artística  – mas não se pode comprar ali; para isso, pegue o trem para a...

Aberto da França em Roland Garros 21 de maio a 9 de junho

Art Basel 13 a 16 de junho

Continua sendo o único torneio do Grand Slam em quadra de argila.

“Veja em Veneza, compre na Basileia”. Quase 300 galerias e mais de 2.500 artistas estão representados no evento.

Brockworth, Inglaterra

Borlange, Suécia

Corrida do Queijo

Membros de mais de cem tribos diferentes se reúnem para uma bela seleção de música e dança. Os melhores dançarinos recebiam porcos e noivas, mas agora é tudo no dinheiro. Munique

Basileia, Suíça Paris

20 a 22 de setembro (datas definitivas a confirmar)

Festival Paz & Amor

27 de maio

25 a 29 de junho

Uma peça de Double Gloucester é jogada encosta abaixo e o pessoal tem que sair correndo atrás dela. Quem ganhar fica com o queijo e todo mundo vai para o pub. Os mais próximos da muvuca são The Cross Hands e The Victoria.

Para quem perdeu os anos 60. Enaltece a não-violência, a igualdade, a diversidade, a camaradagem, a solidariedade, a liberdade, a compreensão — ah, sim, e a música. O Paz & Amor é o maior festival anual da Suécia, veja só.

Oktoberfest fim de setembro/começo de outubro

Cerca de 6 milhões de pessoas passam por essa orgia cervejeira anual. Vale a pena visitar Theresienwiese (“Wies’n”) na manhã seguinte para contar a quantidade de pessoas que continua desmaiada. Internacional

Chuva de meteoro Geminid 13 a 15 de dezembro

Melhor efeito do gênero, a Geminid produz até 60 meteoros multicoloridos por hora durante o pico. 9


Dewald Aukema

Mais de 20 eleições realizadas ao redor do mundo

Para se ter uma ideia do que o futuro nos reserva, é preciso analisar os novos países ‘estacionários’, dos quais pelo menos um pode se reerguer.

NIALL FERGUSON É professor de história da Universidade de Harvard. Seu novo livro, “The Great Degeneration: How Institutions Decay and Economies Die”, acabou de ser publicado no Reino Unido

Um ano de novos líderes e a história segue o seu rumo calmamente Distribuído por The New York Times Syndicate

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ós ansiamos pelas mudanças. Da mesma forma que os economistas previram nove das últimas cinco recessões, os jornalistas registraram nove das últimas cinco revoluções. Cada eleição é considerada o início de uma nova era; de cada presidente se espera uma nova “doutrina” de política exterior. Uma mudança mínima no celular é caracterizada pelos devotos do culto da Apple como uma “mudança de paradigma”. A verdade é que tais mudanças, como Thomas Kuhn deixou claro em seu “Estrutura das Revoluções Científicas”, não acontecem todo ano. São lentas porque mesmo quando um novo fator se mostra correto  – incrivelmente correto, em análise retrospectiva ‒, interesses velados e outras formas de inércia resistem à sua adoção. O mesmo vale para grandes descontinuidades políticas; elas não acontecem com frequência. Em 2012, houve diversas eleições, não só nos EUA, mas na França, México, Holanda, Rússia, Coreia do Sul, Taiwan e Venezuela. A China nomeou o novo comitê do Politburo, depois de uma seleção tão obscura quanto a escolha do papa. Em países como Egito, Líbia e Iêmen, não há dúvidas quanto ao seu caráter revolucionário, já que a “Primavera Árabe” continuou a evoluir durante o “Inverno Islâmico”, mas, em outros lugares, as mudanças políticas raramente podem ser consideradas fatores de mudança. Na França, a esquerda cansada fez mais um protesto débil contra a realidade econômica; no México, o regime antigo, na forma do Partido Revolucionário Institucional, voltou ao poder. Ao contrário do que se esperava, os populistas antieuropeus perderam na Holanda e o simpático Mark Rutte foi reeleito. Na Rússia, Vladimir Putin deixou de brincar de ser primeiro-ministro e assumiu seu verdadeiro cargo, o de presidente. Alguma mudança radical? Pode virar para o outro lado e continuar a dormir. O grande historiador inglês A.J.P. Taylor disse que, em 1848, “a Alemanha atingiu seu ponto de mudança e não conseguiu mudar”. Na verdade, essa conclusão poderia muito bem ser aplicada à maioria dos países na

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maior parte do tempo. A história é como um petroleiro: não vira à toa. A humanidade segue em frente, singrando os mares do tempo que às vezes são calmos, às vezes, turbulentos. Às vezes, parece quase calmo demais; em outras, a velocidade assusta. Dependendo de quem for o capitão do navio, às vezes ele vai para o porto; em outras, sai para a direita  – e quando muda a rota, ela é feita de forma lenta. O que muda de repente num petroleiro são as emoções da tripulação. Durante 99% do tempo, ela obedece a ordens e cumpre

Há seis mecanismos lentos de mudança histórica: inovação tecnológica; disseminação de ideias; tendência de degeneração dos sistemas políticos; demografia; fornecimento de matériasprimas; mudanças climáticas

suas funções, mas muito de vez em quando, há um drama qualquer; os homens se amotinam e o capitão acaba sendo preso. Ou um bando de piratas sobe a bordo. Eventos assim são o que os historiadores adoram analisar e chamar de “revoluções”. Ainda assim, a embarcação segue seu curso. Em outras palavras, não espere que 1989 aconteça todo ano  – e não exagere a importância das mudanças ocorridas naquele ano. Há quase um quarto de século, Francis Fukuyama as descreveu como “uma vitória


Meridith Kohut para THE New York Times

Não espere que 1989 aconteça todo ano  – e não exagere a importância das mudanças ocorridas naquele ano. Há quase um quarto de século, Francis Fukuyama as descreveu como “uma vitória inegável do liberalismo econômico e político… o triunfo do Ocidente”. Parecia verdade.

inegável do liberalismo econômico e político… o triunfo do Ocidente”. Parecia verdade. Quem consegue esquecer a emoção daquela noite  – 9 de novembro Maril­ynn K. Yee para T­he New York Times­

A queda do Muro de Berli­m foi um dos verda­deiro­s ponto­s de trans­ição da histó­ ria recen­te. Parte dele virou insta­lação de arte em Nova York

de 1989  – , quando a Guerra Fria acabou não só com a possibilidade do fim do mundo, mas numa festa de rua? Sim, enquanto escrevo este artigo, a República Popular da China está prestes a superar os EUA em termos de PIB (adaptado para as diferenças de poder de compra), o que pode acontecer em 2017. Se investiu no Ocidente em 1989, você se deu muito pior do que se tivesse investido em outro lugar. Os mercados emergentes quintuplicaram seu tamanho desde 1989; o norte-americano, quadruplicou; o europeu, não chegou a triplicar. Uma maneira simples e coerente de ver o mundo é aceitando que a riqueza e, com ela, o poder estão mudando do Ocidente para o “Resto”. Nesse aspecto, o verdadeiro ponto de transição não foi 1989, mas 1979, ano que Deng Xiaoping visitou os EUA e o embrião das reformas econômicas chinesas tomou forma. A partir dali, a “grande divergência” entre o Ocidente e o “Resto” acabou e o mundo embarcou numa “grande re-convergência”. Acontece, porém, que a realidade é mais complicada do que sugerem expressões como “o mundo pós-EUA”. Há seis mecanismos lentos de mudança histórica na nossa época (leia-se registros

históricos). Erro comum é se concentrar apenas em um. São eles: 1. Inovação tecnológica; 2. Disseminação de ideias e instituições; 3. Tendência de degeneração dos sistemas políticos (até dos bons); 4. Demografia; 5. Fornecimento de matérias-primas essenciais; 6. Mudanças climáticas. Os três primeiros basicamente explicam por que o Ocidente perdeu parte de sua predominância, mas os outros nos fazem lembrar a maravilhosa frase atribuída a Bismarck: “Deus protege as crianças, os bêbados e os EUA”. Se calcularmos (a grosso modo) o número de patentes internacionais dadas por país de origem do requerente, o Ocidente já não é mais líder. O Japão está muito à frente dos EUA há pelo menos 20 anos e, na última década, primeiro a Coreia do Sul e depois a China superaram a Alemanha para ocuparem o terceiro e quarto lugares. Se calcularmos (mais especificamente) baseados nos testes padronizados de desempenho matemático aos 15 anos, o Ocidente também decaiu. No relatório mais recente da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento, a diferença entre teens de Xangai e dos EUA é a mesma que há entre a garotada norte-americana e albanesa. A medalha de prata ficou com os jovens matemáticos de Cingapura e a de bronze foi para Hong Kong; depois vem a Coreia do Sul e Taiwan. Excelência em matemática não é

A eleição na Venezuela não rendeu mudanças na liderança, mas no México, sim, assim como em mais de 20 votações ao redor do mundo; apesar disso, é pouco provável que o curso da história seja alterado

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Mais de 20 eleições realizadas ao redor do mundo

tudo, obviamente, mas as sociedades que ensinam o aluno médio tão melhor que o Ocidente têm muito mais probabilidades de tornar gênios em estado bruto (distribuídos pelo mundo de forma aleatória) em vencedores do Prêmio Nobel. O terceiro mecanismo  – quase sempre ignorado pelos cientistas políticos  – é a tendência que até os melhores sistemas têm de degringolar conforme os “interesses especiais” começam a assumir proporções maiores no corpo político, como a craca que se espalha pelo casco do navio, e a virtude cívica dá lugar à fraqueza humana. Os ocidentais As coisas já parecem melhor nos EUA do que no resto do Ocidente: o FMI projeta

2,3% de crescimento

têm orgulho (e com razão) de seus diversos sistemas democráticos e os norte-americanos acreditam que a sua Constituição seja a melhor do mundo; apesar disso, todos os estudos comparativos de qualidade institucional  – seja do Índice de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial ou os Indicadores de Governança Mundial  – contam a mesma história deprimente: em muitos países ocidentais, há um declínio visível no estado de direito, sendo os piores casos os “berços da democracia” do sul da Europa, Grécia e Itália, que receberam péssimas notas do Fórum Econômico Mundial. Já nos EUA, o Banco Mundial registrou declínios desde 2000 no controle da corrupção, qualidade regulatória, responsabilidade e efetividade de governo. 12

Essa “grande degeneração” ajuda a explicar a queda no crescimento e produtividade que vemos no Ocidente na última década. Não podemos culpar somente a crise financeira, nem o fato de que (como o economista Robert Gordon recentemente refutou) a revolução da tecnologia da informação resultou em muito menos do que o furor à sua volta nos fez acreditar. O mundo está mudando não só porque o “Resto” melhorou, mas porque, independentemente disso, o Ocidente piorou. De fato, a maior parte do mundo desenvolvido hoje me lembra do que Adam Smith disse sobre a China em “A Riqueza das Nações”: atingiu para o ano que vem, um estado “estacomparado com 1,2% cionário”, no qual do Japão e 0,7% registra um crescina zona do euro mento próximo a zero e a prosperidade é reservada à elite burocrática corrupta. Apesar disso, há três razões importantes por que os EUA tenham mais condições de escapar da inércia do que o sul da Europa ou o Japão. Por causa da imigração, da fertilidade e do sistema público de saúde ineficiente, os EUA estão envelhecendo muito mais rápido que nações como Japão ou Alemanha. Até 2050, segundo a ONU, mais de 30% dos japoneses terão 65 anos ou mais; na Alemanha, o número chega a 31%. Até na China, mais que 25% da população terá 64 anos, mas nos Estados Unidos, essa proporção será de apenas 21%. A mão de obra chinesa vai começar a encolher a partir de 2020, mas o mesmo não vai ocorrer com os EUA. Além disso, ao contrário da Europa e do

Simpatizantes de Nicolas Sarkozy comemoraram sua eleição à Presidência da França, em 2007, e choraram sua derrota, em 2012. Tanto a França como o mundo, seguiram em frente

Japão, os EUA estão entre os cinco maiores países em termos de riqueza mineral, com reservas de combustíveis fósseis e minerais que valem pelo menos US$ 30 trilhões  – mais que Austrália, Arábia Saudita e China, embora menos que a Rússia. Mais que isso, o país tem tudo para se beneficiar de uma revolução energética que viu o gás de xisto pular de 1% de sua produção de gás natural em 2000 para os 35% de hoje. O gás natural norte-americano custa um quarto do valor do produto do leste da Ásia e 30% do preço da Alemanha. A combinação de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e energia barata vai permitir uma recuperação impressionante da manufatura num futuro próximo. Por fim, conforme o mundo se aquece e o clima fica cada vez mais volátil, a América do Norte vai se dar muito melhor que o leste da Ásia. Os desastres naturais vão ocorrer, é claro, como a tempestade Sandy fez questão de nos lembrar, mas haverá muito mais do outro lado do Pacífico. Boa sorte às megacidades litorâneas da Ásia. Elas vão precisar. As coisas já parecem melhor nos EUA do que no resto do Ocidente: o FMI projeta 2,3% de crescimento para o ano que vem, comparado com 1,2% do Japão e 0,7% na zona do euro, e essa divergência deve persistir. Uma maneira de entender esse fator de mudança é através da “Era Trilateral”, quando os EUA, a Europa e o Japão governavam o mundo não comunista. Nos EUA, as novas tendências rumo à autossuficiência e a recuperação da manufatura podem encorajar o surgimento de um novo fenômeno: o isolacionismo liberal, com o país voltando à sua costumeira aversão a “envolvimentos estrangeiros”. Por ou-


Ruth Fremson para The New York Times

tro lado, a Europa e o Japão continuarão a definhar, negando-se o alívio da imigração mais qualificada ou da energia nuclear, estagnados sob pilhas de dívidas que ficarão cada vez mais difíceis de negociar. Nesses Estados estacionários, o populismo assumirá formas monstruosas. Depois de mais de 50 anos, a integração europeia pode se transformar em desintegração. Enquanto isso, nos países móveis do mundo em desenvolvimento (ainda em crescimento), haverá mais revoluções burguesas, no sentido clássico das revoltas contra a autocracia lideradas pelos aspirantes à classe média. Segundo o Credit Suisse, mais de 300 milhões de chineses têm uma fortuna entre US$ 10 mil e US$ 100 mil, enquanto quase 20 milhões possuem mais de US$ 100 mil. Essas pessoas estão descobrindo que seus bens, conquistados com esforço, têm que ser protegidos pelo estado de direito e que a maior ameaça a isso é um Partido Comunista corrupto, que podem e querem criticar cada vez mais através dos “microblogs.” Nas grandes democracias emergentes  – Índia, Brasil, Nigéria  –, há menos necessidade de revoluções desse tipo. De fato, a presidente Dilma Rousseff declarou recentemente que quer “um Brasil classe média”. Ao contrário, no norte da África e no Oriente Médio, elas já começaram. Foi na Líbia, no ano passado, que se viu a seguinte frase

pichada numa parede: “Queremos uma lei constitucional, um presidente que tenha menos autoridade e que seu mandato de quatro anos não seja prorrogado.” Essa é a autêntica voz de 1848, embora ainda não se saiba se o mundo árabe vai mudar para valer. O “império (nominal) norte-americano” está saindo do palco do Oriente Médio, depois de dominar a região desde os anos 70 e fomentar a revolução depondo o ditador árabe mais cruel (embora eu discorde desse ponto). A verdadeira briga fica entre aqueles que podem impor uma ordem legal medieval na região, como os aiatolás fizeram

Nas grandes democracias emergentes ‒ Índia, Brasil, Nigéria ‒, há menos necessidade de revoluções desse tipo. De fato, a presidente Dilma Rousseff declarou recentemente que quer “um Brasil classe média”. Foi na Líbia, no ano passado, que se viu a seguinte frase: “Queremos uma lei constitucional, um presidente que tenha menos autoridade”

na Pérsia depois de 1979, e os que sonham com a tão esperada Reforma Islâmica, que permitiria aos muçulmanos conviver com a modernidade em paz  – sem falar no Estado de Israel, seu representante na região. A escolha entre os modelos iraniano ou turco (ou indonésio ou malaio) não deveria ser difícil, mas, ainda assim, os árabes podem ter que enfrentar um período de conflito sectário antes que essa reforma aconteça. A pergunta mais difícil de responder, conforme o grande navio da história se move, é: será que as duas potências dominantes desta era, EUA e China, vão conseguir manter o que Henry Kissinger chamou de “co-evolução”? Ou será que estão fadadas a repetir o antagonismo anglo-alemão que culminou numa guerra mundial há quase cem anos? Será que teremos uma “Chimérica”  – ou o que Noah Feldman batizou de “Guerra Morna”? Ou fervendo de quente? O centenário de 1914 se aproxima como um lembrete de que, embora as eleições venham e vão, são as guerras que mudam o curso da história mais drasticamente. A Primeira Guerra Mundial não afundou o navio da humanidade, mas, sem dúvida acabou com a primeira era da globalização. Se um conflito semelhante ocorrer na nossa época, saberemos que a história mundial terá alcançado um momento crucial. Resta torcer para que possamos desviar e não afundar de bico.

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Handout

A reeleição do presidente Barack Obama

Através da diplomacia e do uso efetivo do poder brando, os EUA podem voltar a ser o líder mundial ‒ começando pelo Oriente Médio.

ZBIGNIEW BRZEZINSKI É autor de inúmeros livros sobre a política externa norte-americana; foi também assessor de segurança nacional do presidente Jimmy Carter

Um segundo mandato, uma segunda chance para os EUA no exterior Distribuído por The New York Times Syndicate

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ara ser eficiente no cenário mundial, os EUA têm que encontrar um meio de renovar o apelo de sua democracia. A guerra contra o Iraque, em 2003, baseada em alegações falsas de armas de destruição de massa, enfraqueceu a posição do país. Embora seu prestígio continue alto, atualmente a nação não é uma força moral convincente como poderia ser. Agora, porém, os EUA e Barack Obama  – têm uma segunda chance formidável. Por compreender o rumo da história contemporânea, o presidente pode concentrar os esforços de sua administração na implementação de uma estratégia que revitalize o Ocidente e reconcilie as tensões no Oriente, tornando os EUA e o resto do mundo mais impermeáveis contra as crises econômicas e políticas e até guerras. O Oriente Médio, incluindo o conflito entre Israel e Palestina, pode ser um bom ponto de partida. Segundo as pesquisas de opinião, a maioria dos israelenses e de judeus norte-americanos apoiaria um compromisso abrangente – uma solução de dois Estados baseada em fronteiras negociáveis de acordo com a demarcação de 1967, com o compartilhamento de Jerusalém. O mesmo parece ser válido, até certo ponto, para os palestinos. O prolongamento do conflito e a expropriação contínua de terra e controle dos palestinos pelos israelenses é fonte de muita hostilidade na região em relação a Israel. Se esse problema não for resolvido nesse mandato de Obama, talvez nunca mais tenha solução  – ou seja, daqui a 40 anos, talvez antes, Israel corra um risco mortal. Somente com uma atitude decisiva e firme  – sem favorecer um lado ou discriminar o outro – os EUA poderão mediar uma solução de dois Estados que envolve outro fato difícil: a insistência de Benjamin Netanyahu em construir assentamentos com o objetivo de colonizar a Cisjordânia tornou impossível 14

a chegada a um acordo durante o primeiro mandato de Obama. Se a situação sair de controle tragicamente, Israel vai se tornar uma terra isolada num Oriente Médio politicamente consciente, onde os povos estão preparados para pagar o preço físico de uma guerra contínua. Se os EUA se posicionarem agora como mediadores da paz, não demora muito e Israel e a Palestina poderão se tornar a Singapura do Oriente Médio. Da mesma forma, os EUA podem ter um papel criativo e construtivo tanto na Europa como na Ásia. A primeira precisa do envolvimento norte-americano no continente, sob a forma da Otan; a segunda não precisa desse envolvimento em seus problemas. A longo prazo, os EUA não podem continuar a apoiar Taiwan militarmente. Com Richard Nixon e o secretário de Estado Henry Kissinger, o país deu mais ou menos a entender que Taiwan era parte da China. Não há como voltar atrás nessa premissa sem criar um conflito real no continente. Porém, a política chinesa está evoluindo: enquanto Hong Kong, por exemplo, tem autonomia interna completa, elementos do Exército Chinês estão baseados ali como parte integral do país. Já com relação a Taiwan, os chineses deixaram bem claro que a unificação envolveria “uma China e vários sistemas”  – e, a menos que o nacionalismo chinês ou a incapacidade dos EUA estimulem conflitos intensos entre a China e seus vizinhos, seus cidadãos vão tentar traduzir suas conquistas econômicas extraordinárias em arranjos sócio-políticos mais flexíveis. De forma deliberada e com tato, podem tentar acelerar esse processo de baixo para cima, e assim afrouxar os aspectos autoritários do regime para permitir uma maior participação social na tomada de decisões do país. Comparativamente, a China tem um acesso muito maior ao mundo do que a União Soviética durante sua fase de desenvolvimento. Centenas de milhares de chineses viajam e/ou estudam no exterior, sendo

Em “Strategic Vision”, publicado no início de 2012, Zbigniew Brzezinski, estrategista norte-americano de política exterior, argumentava que os EUA deveriam se envolver mais ativamente na atual crise global do poder. Este artigo é baseado numa conversa entre Brzezinski e o New York Times Syndicate em 12 de novembro, alguns dias depois da eleição presidencial


doug mills/the new york times

cem mil só para os EUA. O acesso à internet é uma realidade para a classe média – e até para as classes rurais – e isso por si só já é um sinal de uma mudança política substancial. Incentivar esse contato só beneficiará os EUA. A Europa precisa da Turquia porque se ela deixar de ser um país que se ocidentaliza e moderniza rapidamente, com sobretons europeus, o Velho Mundo vai se tornar mais vulnerável às seduções e violência que surgem no Oriente Próximo. A Turquia, por sua vez, precisa ser aceita pela Europa para consumar os esforços iniciados sob Ataturk, há quase cem anos, e tem se mostrado ambiciosa no teor e bem-sucedida na educação. Os europeus estariam cometendo um erro fatal em abortar o processo de associação turca com a Europa. A volta de Vladimir Putin à Presidência pode emperrar a entrada da Rússia na União Europeia, mas é pouco provável que a impe-

ça. Embora seja um Estado autoritário e cada vez mais nacionalista, com Putin obviamente motivado pela nostalgia do imperialismo russo, a realidade inegável é a emergência de uma nova classe média. É pouco provável que o país recupere seu status imperial, mas essa nova classe – definitivamente ocidentalizada – sairá em busca do poder num contexto de associação íntima com o Ocidente. Pela primeira vez na Rússia, no campo da política, não há mais o medo público das consequências da crítica explícita ao governo. É perfeitamente normal – de fato, é até “de bom tom” ridicularizar os que estão no poder. As jovens da banda Pussy Riot, que cantaram contra Putin dentro de uma igreja e foram presas, foram além do que o regime estava preparado para tolerar, mas isso não impede que os outros façam o mesmo. Ridicularizar os políticos é uma arma poderosa e eficiente para desacreditar a liderança e é cada vez mais utilizada na Rússia.

Em termos regionais, os EUA podem ajudar os mexicanos a lidar com os problemas do narcotráfico. O PRI, sob o novo presidente do México, Enrique Peña Nieto, está rejuvenescido e redefinido, com ênfase na responsabilidade civil e na obediência à lei. Ao mesmo tempo, o México lança uma iniciativa abrangente para lidar com o desafio – que pode ser absolutamente fatal em suas prováveis consequências. Para eles, mais do que para ninguém, ter os EUA como bom vizinho só vai ajudar, evitando assim qualquer mal-entendido que possa reacender os antagonismos passados entre as duas nações. Através da diplomacia e o uso efetivo do poder brando, os EUA podem voltar a ser o líder mundial, em posição de apoiar uma ONU ainda mais efetiva na busca de soluções para os interesses comuns do mundo em seus elementos comuns estratégicos: o mar, o ar, o espaço e o ciberespaço e a proliferação nuclear.

Barack Obama, em seu segundo mandato, terá um desafio ainda maior: fazer com que os EUA voltem a ser eficientes no cenário mundial e, para isso, o país terá de encontrar um meio de renovar o apelo de sua democracia

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Bruce Gilbert

Os desafios atuais da zona do euro

A indignação pública com a iniquidade pode forçar a retomada de soluções para o problema.

JOSÉ ANTONIO OCAMPO Ex-ministro das finanças da colômbia, é professor e membro do comitê do pensamento global da Universidade de Columbia. Na ONU, foi secretário geral adjunto para economia e assuntos sociais e secretário executivo da comis­ são econômica para a América Latina e Caribe

Reequilibrando um mundo desigual Distribuído por The New York Times Syndicate

A

diferença de renda que separa os super-ricos das classes médias de todos os tamanhos e daquele bilhão de pessoas que ainda sobrevive com menos de US$ 1 por dia continua muito grande de fato, chega a ser revoltante. Nas palavras de um economista do Banco Mundial, Branko Milanovic, os 77% que têm a renda mais baixa do mundo recebem, juntos, o equivalente a 20% da renda global, o mesmo que apenas 1,75% dos mais ricos! Os protestos e levantes na Grécia e Espanha, além do “Ocupem”, dos inconformados e de muitos outros movimentos refletem o senso profundo de injustiça social que tomou conta do mundo. Essas discrepâncias, ou “disparidades globais de renda”, resultam das forças que afetam a distribuição de renda dentro de um país e fazem com que seus níveis sejam diferentes entre as nações. No início do século XIX, predominava a primeira, mas a Revolução Industrial fez com que um verdadeiro abismo se abrisse entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. A localização tomou seu lugar e ainda define 80% das diferenças de renda globais. Em resumo: hoje, o lugar onde você mora pesa mais na previsão de seu bem-estar econômico. Entretanto, a iniquidade de renda dentro dos países continua crescendo e nota-se um rápido aumento na fatia da renda do 1% dos mais ricos, ou mesmo do 0,1% desse grupo e é a tendência econômica mais nociva dos últimos 30 e poucos anos. Ela abrange os EUA, historicamente considerado “o país das oportunidades” e a nova força do mundo, a China. Como resultado, surgiu uma nova classe, a dos “não têm” nos países “ricos”. Nos que são menos ricos e cresceram depressa, talvez essa nova categoria seja menor, mas, em ambos os casos, as pessoas que estão no topo se beneficiam desproporcionalmente das economias mais fortes. Segundo o economista Giovanni Andrea Cornia, 76% do mundo vive em países onde a iniquidade cresceu nas últimas décadas do século XX  – Rússia e Reino Unido estão entre os líderes, além dos EUA e China  – enquanto apenas 5% vivem nos países onde a distribuição melhorou, como a Coreia do Sul. (os outros 19% estão em nações que não sofreram mudanças significativas.) As coisas foram um pouco melhor na primeira década deste século graças a melhorias ou, em muitos casos, reveses parciais de tendências adversas em alguns paí16

ses em desenvolvimento, principalmente na América Latina, sendo o Brasil um exemplo importante. Ainda assim, 60% do mundo hoje vivem em nações cuja distribuição de renda vem se deteriorando nos últimos dez anos. A situação não é tão ruim. Já há algumas décadas os padrões de vida dos dois maiores países em desenvolvimento, China e Índia, subiram, como também em várias outras economias asiáticas. Porém, outras regiões continuaram economicamente distantes do mundo desenvolvido até o fim do século XX. Só no início deste século, esses locais se tornaram mais fortes, uma vez que a maioria dos países em desenvolvimento cresceu mais rápido, proporcionalmente,

que os desenvolvidos, em contraste com os últimos 200 anos. Será que a globalização é o problema ou a solução para as diferenças de renda que andam causando indignação ao redor do mundo? Para os historiadores econômicos contemporâneos, há duas eras de globalização: a primeira começou na segunda metade do século XIX e terminou com a Crise de 1929; a outra começou nos anos 60 e continua até hoje. Em termos gerais, as duas estão associadas com maiores disparidades de renda interna. Entre os dois períodos, o enfraquecimento das relações internacionais melhorou, e muito, a distribuição de renda no mundo desenvolvido em parte por causa


Lourd­es Segad­e/the New York Times

Jim Wilso­n/The New York Times

O colap­so econô­mico globa­l deixo­u condo­mínio­s como esse quase vazio­s e criou a class­e dos “não têm” em paíse­s antes consi­derad­os ricos­

do fortalecimento de instituições e políticas tir com produtos manufaturados por operácomo definição dos padrões trabalhistas e rios mal-remunerados em países menos decompromisso com o bem-estar social. Muisenvolvidos; ainda assim, não se explica por tos desses aspectos estavam, sem dúvida, que o crescimento comercial também é assorelacionados ao confronto ideológico da ciado à deterioração da distribuição de renGuerra Fria. Só que, nas últimas décadas, da em muitos países em desenvolvimento.A grande parte dessas políticas e instituições imigração pode ter algum efeito sobre os traenfraqueceu, às vezes significativamente. A balhadores mal-pagos dos países desenvolexpressão “corrida ao fundo do poço” pasvidos, mas, no geral, os imigrantes ocupam sou a ser usada com mais frequência, motipostos que os cidadãos locais não querem. vada principalmente pelo menor poder de Economistas de todas as correntes idebarganha dos sindicatos, da proteção trabaológicas, incluindo o vencedor do Prêmio lhista reduzida e redistribuição de impostos Nobel Joseph Stiglitz e o ex-economista do enfraquecida. Os valores sociais associados FMI Raghuram Rajan, sugerem que a esà equidade de renda foram, por sua vez, tagnação, ou mesmo regressão da renda substituídos nos círculos conservadores média nos EUA tenham contribuído para a pela visão de que as disparidades contricrise atual por causa do aumento da dívida buiriam positivamente para a inovação e o familiar. Um estudo recente da Brookings crescimento. Institution sugere que o crescimento na deOs Estados de bem-estar social se saíram bem melhor ao Segundo o vive em países onde evitar essas tendências, mas economista a inequidade cresceu agora há um risco de cortes drásGiovanni nas últimas décadas ticos nos benefícios de países do mundo Andrea Cornia do século XX industrializados sob programas de austeridade como Grécia e Espanha, por exemplo. O maior acesso à educação também ajuda, mas não é manda de bens e serviços, essencial para a suficiente para anular os fatores negativos. recuperação econômica, vai continuar fraco Muitos economistas alegam que a tecnolose a distribuição de renda continuar a detegia contribuiu para aumentar a iniquidade riorar. Nessa linha de pensamento, poderia no mundo inteiro, favorecendo a mão de se dizer que a melhor maneira de reequiliobra qualificada, mas essa hipótese tem dois brar as economias europeias seria aumenpontos fracos: não se sabe por que ela é mais tando os salários na Alemanha e nos Países forte em alguns países, como os EUA, do que Baixos, que exportam mais que importam, em outros, como o Japão ou as nações da e não apenas reduzi-los nos países perifériEuropa Ocidental, nem por que até os anos cos como Grécia e Espanha, que enfrentam 70 essa mudança tecnológica não teve efeidéficits. Entretanto, a integração global e o to semelhante. O crescimento da integração medo da competição chinesa diminuem o comercial pode ter tido efeitos adversos nos entusiasmo pela iniciativa. países desenvolvidos, forçando-os a compeA economia convencional prega que a

76%

Manif­estan­tes em Berke­ley e em vária­s cidad­es dos EUA engro­ssam o movim­ento “Ocup­em Wall Stree­t”, chama­ndo a atenç­ão para a iniqu­idade­

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Os desafios atuais da zona do euro Marcu­s Yam /the New York Times­

integração global e o comércio mais abrangente que dela decorre, a mobilidade de capital e a transferência de tecnologia levam à nivelação dos níveis de renda entre os países, mas, na verdade, as diferenças nos países desenvolvidos e em desenvolvimento aumentaram até a última década do século XX, da mesma forma cresceram as disparidades de renda entre os países em desenvolvimento. A justificativa para as diferenças de renda, cada vez menores entre

mento Sustentável, que beneficiou alguns dos países mais pobres do mundo. Dentro dos países, um dos maiores culpados é o enfraquecimento, a longo prazo, de instituições e políticas que ajudam a combater as diferenças econômicas: compromisso político com o bem-estar social; redistribuição de taxas e impostos; proteção trabalhista (incluindo salários mínimos); sindicatos fortes e a equidade como centro das preocupações sociais ou seja, a valorização das

A economia convencional prega que a integração global e o comércio mais abrangente que dela decorre, a mobilidade de capital e a transferência de tecnologia levam à nivelação dos níveis de renda entre os países

países ricos e pobres, portanto, são outras. Uma delas é a forte de tendência de aumento  – o chamado “superciclo”  – nos preços das matérias-primas, desencadeado pelo crescimento da China desde 2004. O fenômeno beneficiou as diversas economias em desenvolvimento que dependem da venda de recursos naturais, como petróleo, cobre e soja, na África, América do Sul, Oriente Médio e Ásia Central. Investimentos chineses em infraestrutura e mineração também permitiram que aproveitassem as oportunidades geradas por seu crescimento. É possível que isso não funcione a longo prazo, principalmente quando os preços das commodities caírem. Outro fator positivo é o compromisso cada vez maior com a assistência ao desenvolvimento criada na Conferência da ONU 2002 sobre Finanças para o Desenvolvi18

sociedades equitativas e o estabelecimento de uma classe média abrangente e próspera enquanto conquista social. O primeiro passo para acabar com essa epidemia seria restaurar a fé e um compromisso do governo para assumi-las e mantê-las. A crise econômica mundial vai continuar a enfraquecer o compromisso com os ideias do bem-estar social e o número dos que “não têm” deve crescer nos países industrializados. Já as diferenças de renda entre os países devem continuar caindo, tanto por uma boa razão o dinamismo do “sul global”, particularmente da China, como por uma ruim  – a crise profunda que os países desenvolvidos enfrentam, principalmente na Europa. Porém, alguns benefícios desencadeados pelo crescimento chinês, como os altos preços das matérias-primas, podem cessar em breve, assim como o próprio crescimen-

Movim­entos de prote­sto como “Ocup­em Wall Stree­t” podem estim­ular os gover­nos a inves­tir na equid­ade socia­l

to, devido a desequilíbrios estruturais, principalmente o investimento excessivamente alto na demanda doméstica e o gasto do consumidor excessivamente baixo. A crise global já está reduzindo a assistência financeira de países desenvolvidos aos em desenvolvimento, mas o mais importante talvez seja o fato de que a crise afete esses últimos das mais variadas formas, aprofundando a diversidade entre eles. Com um prognóstico tão contraditório, faz sentido colocar a questão da melhoria da distribuição de renda global como prioridade, principalmente entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU depois de 2015. Para isso, é necessária uma forte cooperação internacional em pelo menos três áreas: investimento na assistência de desenvolvimento; melhoria na abrangência e qualidade da educação; maior cooperação fiscal para evitar a “corrida ao fundo do poço” na taxação redistributiva. Os governos federais devem favorecer políticas que melhorem a distribuição de renda, investir na educação, manter os ideias do bem-estar social, apoiar as instituições que protegem os trabalhadores, promover a taxação redistributiva e manter valores sócio-políticos que coloquem a equidade no centro das preocupações sociais. Essa pauta pode parecer excessivamente otimista num momento em que governos, negócios e pessoas lutam pela sobrevivência econômica. De fato, o mundo pode estar indo na direção contrária, mas muitos movimentos sociais e políticos estão dispostos a lutar pela equidade e as vozes de seus membros estão ganhando força. No fim das contas, a crise atual pode fazer com que os líderes passem a lutar para que “os que não têm” passem a ter.


indústria sustentável. este é o nosso compromisso. O Sistema Fiemg acredita que uma indústria sustentável se constrói através da competitividade, da inovação e da responsabilidade. Ser sustentável é ser competitivo. É produzir mais e melhor. É conquistar o mercado global e se preparar para um mundo cada vez mais exigente. Ser sustentável é ser inovador. É investir em novas tecnologias. É incentivar estudos e pesquisas para o desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços. Ser sustentável é ser responsável. É fazer da economia verde e da preservação da natureza uma realidade. É buscar processos de produção cada vez mais limpos. É promover a educação em todos os níveis e lugares. É investir em cultura, esporte, saúde e lazer. A sustentabilidade é assim: está na maneira como pensamos o mundo. No caminho que escolhemos para a nossa indústria.

Um investimento da indústria 19


PONTO DE VISTA

O que esse conceito significa? É possível colocá-lo em prática? Um grupo de pensadores de várias nacionalidades responde à Grande Questão: O que significa igualdade entre os sexos? É possível chegar lá?

A grande questão da igualdade entre os sexos Distribuído por The New York Times Syndicate Andre­ Lamb­ertso­n

Naomi Wolf

Autora de “The Beauty Myth” e “Vagina: A New Biography”

Quando ouço expressões como ‘‘equidade sexual’’ ou ‘‘feminismo’’, sempre fico perplexa; não entendo por que esses conceitos têm que ser tão polêmicos, pois, para mim, essas ideias são muito comuns, fazem parte da nossa bagagem cultural. Na verdade, o que elas deveriam significar  – suponho que se “equidade sexual” seja o objetivo, “feminismo” deve ser o processo para se chegar lá  – é a extensão lógica da ideia básica da democracia. O meu feminismo data do Iluminismo  – ou de Mary Wollstonecraft, que escreveu, no final do século XVIII, ‘‘A Vindication of the Rights of Woman’’. Seu ensaio se igualava aos dos outros pensadores do movimento, que apelavam para a razão, para os direitos do Homem e para a noção de igualdade e dignidade entre todas as pessoas. Essa visão é tão poderosa e tão correta que se espalhou ao redor do mundo. Porém, o que esse conjunto de crenças não é tem tanta importância quanto o que é: não preestabelece escolhas de estilo de vida; não dita decisões sexuais; não se autodefine em termos de batalhas culturais. O verdadeiro fe-

Ronan Farrow

Jornalista e diplomata, assessor de Hillary Clinton

Eu fui criado com sete irmãs. Aguentei a música das boy bands. Aprendi a descer o assento da privada. Também testemunhei o poder da liderança feminina. As brigas durante o jantar da minha infância continuariam fervendo se não fossem os panos quentes das meninas. Anos depois, assistindo a uma discussão numa sala de aula islâmica em Dhaka, Bangladesh, voltei a ver esse mesmo poder. A princípio, só os homens falavam  – até que Nipa Masud, sentada no fundão e com um brilho perigoso no olhar, se levantou e despejou uma enxurrada de críticas. Aproveitando a oportunidade, todas as outras se manifestaram, encerrando o debate rapidamente. Resultado: as meninas não falaram primeiro, mas falaram mais alto. Não é possível superar nossos desafios sem essas vozes. Nos países em que há mulheres no governo, as chances de haver um conflito armado são menores. O Goldman Sachs calculou que o nivelamento das taxas de emprego de homens e mulheres faria o PIB dos EUA crescer 9%; o da Europa, 13% e 20

o do Japão, 16%. De certa forma, estamos mais próximos de garantir uma participação igualitária para as mulheres do que nunca. As diferenças entre os sexos em relação ao ensino primário e secundário estão diminuindo. Mais de 500 milhões de mulheres entraram para a mão de obra nos últimos trinta anos. Entretanto, em todo lugar elas ainda enfrentam obstáculos absurdos; em outubro, no Paquistão, militantes atiraram contra Malala Yousafzai, de 15 anos, por causa de seu ativismo em prol da educação feminina. E inúmeras histórias como essa não chegam ao noticiário internacional. Cabe a todos nós proteger as mulheres, seus direitos e oportunidades. Numa pesquisa recente da McKinsey com empresárias de sucesso, a grande maioria disse que não aspira a cargos de chefia. As mulheres que chegaram ao topo têm que permanecer ali para poder lutar por um mundo onde as Nipas, Malalas e inúmeras outras garotas não só possam liderar como seja esperado que o façam.

minismo estimula todos a serem livres, terem oportunidades iguais e acesso a direitos legais iguais. Só não estabelece o que as pessoas livres devem fazer com seu tempo livre. Infelizmente, o feminismo ocidental vive se atolando em batalhas culturais, em declarações de listas de princípios políticos. Há vinte anos eu insisto que pode haver, sim, uma proposta feminista de direita, outra libertária, e uma terceira, de esquerda, porque o feminismo não depende de resultado político. A democracia é um conjunto de vozes que se erguem de vários indivíduos livres. Acho que precisamos revisitar o nosso patrimônio iluminista na luta pela igualdade sexual no Ocidente. Feministas na África, Ásia e Oriente Médio superaram as ativistas ocidentais como pioneiras na equidade entre os sexos, em parte porque não veem a luta das mulheres por justiça como uma briga contra os homens, contra a vida em família ou mesmo contra a fé; elas se baseiam no legado da democracia e de direitos humanos de Mary Wollstonecraft, do qual é muito difícil fazer pouco ou ignorar.


Nora Tejad­a

Leta Hong Fincher

Doutoranda norte-americana do Departamento de Sociologia da Universidade Tsinghua

Há um século, as feministas chinesas que lutavam pela emancipação feminina ajudaram a incitar a revolução Republicana que depôs a dinastia Qing. Depois da Revolução Comunista de 1949, Mao proclamou que as mulheres ‘‘possuíam metade do céu’’. Nos primeiros anos da República Popular, o Partido Comunista quis transformar as relações entre os sexos com iniciativas de expansão tais como reservar às mulheres empregos urbanos na economia planejada. Porém, todas essas conquistas estão se desgastando na China pós-socialista. A participação das mulheres na força de trabalho caiu drasticamente, a iniquidade social está cada vez maior e os direitos legais da mulher à propriedade estão ameaçados. Como seria então a igualdade entre os sexos na China? Todos os pais receberiam suas filhas neste mundo com o mesmo amor que dispensam aos meninos; os pais que vivem no interior

dariam um lote da terra da família à filha, assim como fazem com o filho; os vilarejos protegeriam os direitos femininos à terra; nas cidades grandes, os pais não mais comprariam um apartamento caro para o filho, deixando a filha à própria sorte; as garotas que querem entrar na faculdade não teriam que tirar nota mais alta que os meninos para poder provar sua competência; o governo não humilharia as profissionais solteiras com mais de 27 anos chamando-as de ‘‘sobras’’; as mulheres que registram queixa contra violência doméstica não seriam criticadas por ‘‘expor a feiúra familiar’’; o ditado: ‘‘O lugar dos homens é em público, o das mulheres, em casa’’ se tornaria apenas uma lembrança longínqua; metade dos líderes do país seria constituída de mulheres. É possível conquistar a igualdade entre os sexos? Sim. Pode levar várias gerações, mas vale a pena comprar essa briga.

Nicholas D. Kristof

Colunista do New York Times

La Ca­rmina

Saberemos que há igualdade entre os sexos quando deixarmos de falar no assunto  – e sim, é perfeitamente possível colocar esse conceito em prática. Um dos problemas que jornalistas e organizações humanitárias têm em comum é que, às vezes, ficamos tão concentrados nos desafios que não reconhecemos adequadamente os progressos que têm ocorrido  – e as mudanças que vêm acontecendo nessas áreas são impressionantes. Basta analisar a diferença de níveis de educação. Nos EUA ela desapareceu e as meninas vão melhor na escola que os meninos. Em termos mundiais, ela também desapareceu no ensino primário e, embora persista no nível médio, está diminuindo. Até um país pobre e muçulmano como Bangladesh hoje tem mais garotas prestes a concluir a escola que meninos. Nos EUA, os casos de estupro e outros tipos de violência sexual parecem ter caído drasticamente (pelo menos é o que se deduz dos relatórios não muito eficientes), em parte porque a polícia agora leva o estupro a sério. A violência doméstica é encarada com seriedade pela polícia norte-americana, assim como em outros países. Infelizmente o tráfico sexual continua sendo um grande problema em todas as partes do mundo, mas pelo menos agora os criminosos às vezes vão para a cadeia. É incrível que todas as organizações assistenciais e ONGs atuais parecem vender a imagem de preocupação com as necessidades femininas. Até membros do Departamento de Estado e do Pentágono reconhecem que cuidar da educação das garotas é um tema útil para promover estabilidade e mudança. Eu prefiro imaginar um mundo, daqui a 20 ou 30 anos, onde o tráfico sexual esteja totalmente erradicado, onde as meninas tenham as mesmas chances de ir para a escola que os meninos e onde a saúde reprodutiva da mulher não seja mais um tabu. Todos nós nos beneficiaremos de um mundo mais igualitário, onde finalmente poderemos parar de discutir a igualdade entre os sexos. 21


PONTO DE VISTA

Ellen MacArthur

Iatista e filantropa

Sou marinheira e, no auge da minha carreira competitiva, fui a iatista mais rápida a circum-navegar o globo sozinha. Concentração, garra e dedicação são conceitos que não têm sexo. Navegação em mar aberto é um dos raros esportes a oferecer oportunidades iguais para homens e mulheres, por isso nunca achei que essa fosse uma questão relevante. É claro que isso não significa que, de maneira geral, a igualdade entre os sexos não seja um problema e que vivemos num mundo justo e equilibrado. No meu caso é um tema que não tem importância e, de fato, concentrando-me nesse pequeno detalhe eu poderia perder a perspectiva mais ampla. Comparativamente, e falando das coisas que tomam espaço na minha vida agora que criei a Fundação Ellen MacArthur, olhando para uma peça do quebra-cabeça econômico não se vê o cenário todo. Assumir uma postura restritiva em relação a temas complexos é como ativar um interruptor num painel gigantesco sem considerar o impacto que isso teria nos outros. A Fundação Ellen MacArthur pretende acelerar a transição para uma economia circular, afastando-se do modelo ‘‘pegar-fazer-jogar fora’’ que herdamos da Revolução Industrial. Estamos falando de uma mudança em nível de sistema, não de correções ao modelo existente. Graças à economia circular, os materiais continuam fluindo e podem ser usados e reusados, enquanto os dejetos são eliminados naturalmente. Quando se trata de reinventar o progresso, todos precisamos do máximo possível de determinação, criatividade, entusiasmo e talento  – e nada disso tem gênero. HSB­C

Naina lal Kidwai

Presidente do HSBC na Índia

A realidade da igualdade entre os sexos é complexa e diversa, muito mais ainda na Índia. O que, em teoria parece simples  – homens e mulheres com os mesmos direitos e oportunidades em todos os aspectos da vida  – na prática é difícil de implementar e medir. É cada vez maior o número de empresas que reconhece que um equilíbrio entre os sexos é receita para um negócio saudável, ajuda na retenção de talentos e estimula as inovações. Porém, o que também deve ser reconhecido é a revolução que ocorre nas cidades pequenas e vilarejos, tão ou mais importante, já que o impacto é muito maior. Graças ao HSBC, tenho a chance de interagir com as mulheres no interior do país e vejo suas contribuições e o progresso que promovem de perto, mesmo que a passos lentos. Uma vez que elas começam a ganhar seu próprio sustento, tornam-se independentes, não só econômica, mas psicologicamente; ganham o controle sobre as finanças da família e adquirem o poder das decisões. Com o crescimento do número de escolas e centros de treinamento vocacionais, em todo lugar as mulheres têm oportunidade de adquirir conhecimento e desenvolver suas habilidades  – e o resultado é que as que vêm de regiões menores da Índia estão se tornando engenheiras, médicas e até astronautas, fato que seria inconcebível há algumas décadas. Eu continuo otimista em relação à participação, cada vez maior, de mulheres na vida pública, corporativa e política. 22


Adam ­Lawre­nce

Caitlin Moran

Jornalista britânica e autora de ‘‘How to Be a Woman’’ e ‘‘Moranthology’’

Equidade sexual simplesmente significa que ‘‘as mulheres são iguais aos homens’’, por mais malucos, insanos, estúpidos, relaxados e fracassados que eles sejam. Com isso, não tenho a intenção de diminuí-los. Ao contrário, como mulher, essa é a parte que eu quero. Porque é a melhor. Assim, quando pensarmos na mulher totalmente emancipada do século XXI, poderemos imaginar uma empresária bem-sucedida, sarada, impecavelmente vestida que educa seus filhos gêmeos em duas línguas  – e é isso que estressa as mulheres a ponto de viverem à beira de um ataque e aterroriza os homens inseguros. Essa imagem de mulheres sobrehumanas, perfeitas, sensuais, que levam a melhor em tudo. É o que os fracassados jogam na discussão da igualdade dos sexos. Para o meu dinheiro feminista, não vejo a equidade sexual como ‘‘as mulheres se acabando para serem mais incríveis que qualquer outro ser humano em qualquer outro momento da história’’, principalmente porque isso soa: a) altamente improvável de

acontecer com frequência e b) como uma gigantesca dor de cabeça administrativa. Em vez disso, para mim, a verdadeira igualdade seria roubar um pouco daqueles conceitos tão masculinas, tipo, ‘‘Estou com 7 kg acima do peso, mas não estou nem aí’’, ‘‘fico mais sexy conforme fico mais velho’’, ‘‘dando pitacos e ideias malucas nas reuniões’’, ‘‘com certeza preciso de um tempo para mim e para o golfe’’. Embora uma parte extraordinariamente importante da igualdade seja facilitar e reconhecer as conquistas das pessoas  – qualquer que seja o sexo, orientação sexual, etnia, religião ou capacidade de se vestir bem  – uma parte ainda maior envolve todo mundo podendo se sentir à vontade em ser um bando de bobocas medianos. É óbvio que esse não é o caso das mulheres, que tratam a si mesma como gigantescas listas de tarefas. Que fardo intolerável! E é por isso que equidade sexual significa que ‘‘as mulheres são iguais aos homens’’, por mais malucos, insanos, estúpidos, relaxados e fracassados que eles sejam.

Chloe Breyer

Sacerdotisa episcopal e diretora executiva do Interfaith Center de Nova York

Se você parasse as pessoas na rua para perguntar se as tradições das principais religiões do mundo ajudam ou atrapalham na conquista da igualdade entre os sexos, eu diria que a maioria concluiria que a religião é um obstáculo. Tanto no Cristianismo como no Judaísmo, o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, descreve Eva como produto da costela de Adão. Algumas linhas depois, é Eva quem sucumbe à tentação da serpente, morde o fruto proibido e ainda o oferece ao parceiro. Durante séculos, as autoridades dentro do patriarcado da Igreja atribuíram a Eva a maior parte da culpa pelo pecado original e pregaram que as dores do parto serviam de compensação por seu erro. Com tantas barreiras como essa dentro das tradições religiosas, que esperança podemos ter de haver igualdade entre os sexos a não ser que a humanidade se torne menos religiosa? Entretanto, há outra alternativa: proponho que um mundo menos religioso não seja condição para que a equidade sexual seja conquistada mais rapidamente; de fato, o Cristianismo possui recursos inexplorados nesse aspecto. Hoje, as mulheres ocupam mais de 60% dos bancos das igrejas ao redor do mundo. É uma questão de tempo até compartilharmos o poder com os homens de nossa fé. Uma das primeiras passagens do mesmo Gênesis deixa bem explícita a igualdade entre o homem e a mulher: ‘‘Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou’’. (Gênesis 1:27). Essas palavras oferecem esperança e uma promessa de futuro. 23


Ricardo Stuckert/D ivulgação

Integração das economias latino-americanas

Novo padrão de crescimento da produtividade, baseado na inovação e no desenvolvimento tecnológico, é a oportunida

FERNANDO PIMENTEL É ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Perspectivas estratégicas da in brasileira na competitividade g

A

economia mundial apresenta duas faces igualmente reais: uma visível e outra ainda subterrânea. A face visível é a aguda crise econômica que se abateu sobre as economias centrais em 2008. A face subterrânea é uma nova revolução tecnológica em gestação, que possivelmente servirá de base para um novo ciclo de expansão da economia mundial. Ainda que perdendo força em seu potencial explosivo, a crise vem ganhando contornos de fenômeno crônico e duradouro. Parece cedo para prever o seu fim. No entanto, é possível vislumbrar desdobramentos mais imediatos, como a economia norte-americana sob ameaça do abismo fiscal com seu efeito recessivo e a economia europeia já em recessão, mesmo que aparentemente livre do risco de ruptura. No front asiático, a economia chinesa dá sinais de reversão da desaceleração e estabiliza o seu crescimento em um patamar inferior, ainda que elevado. A economia japonesa, por sua vez, não consegue superar o quadro de estagnação. As economias latino-americanas estão 24

resistindo bem à crise dos países centrais e seguem os passos das economias asiáticas emergentes, constituindo-se em linha de resistência à recessão internacional e pilar relevante do crescimento imediato da economia mundial. A razão para o não-arrefecimento do dinamismo econômico dos países latino-americanos após o boom das commodities da década passada é a pujança dos seus mercados domésticos, decorrente da drástica redução da desigualdade e da pobreza, acoplada ao vigoroso crescimento econômico regional. Para formar uma ideia da magnitude do fenômeno, basta observar o estrondoso crescimento da classe média nos países da América Latina e Caribe, que passou 103 milhões para 152 milhões de pessoas entre 2003 e 2009. Esse incremento de 50% tem, como contrapartida, uma redução expressiva do percentual de pobres na região, que passou de 44% para 30% da população no mesmo período. Surge daí uma grande janela de oportunidade para esses países. A possibilidade de manter o crescimento relativamente elevado, amparando-se no mercado interno em

A razão para o não-arrefecimento do dinamismo econômico dos países latino-americanos após o boom das commodities da década passada é a pujança dos seus mercados domésticos, decorrente da drástica redução da desigualdade e da pobreza

um período de baixo crescimento mundial, recoloca novamente a oportunidade da integração produtiva das economias latino-americanas. As perspectivas de mercados pouco dinâmicos nos países desenvolvidos nos próximos anos abrem essa janela de indução da integração comercial e produtiva, sobretudo quando se tem em vista que menos de 15% do comércio da região é intrazona. A integração econômica regional seria um passo estratégico para encarar a face até


Alex de Jesus/O TempO

Vigor de seus mercados domésticos e crescimento da classe média fizeram economias latino-americanas resistirem bem à crise dos países centrais

ade de inserção regional.

ndústria global agora subterrânea da economia mundial: a nova revolução tecnológica em gestação, que vai eclodir como motor de um novo ciclo de expansão e de um novo padrão da competitividade. Alguns aspectos do novo paradigma tecnológico já estão delineados nesse momento de transição para a nova economia do Século XXI. O primeiro é uma intensa mobilidade espacial das cadeias produtivas, viabilizado pela drástica redução dos custos de transporte das mercadorias e da acessibilidade de informação e do conhecimento. Com isto, ampliam-se as possibilidades de intensificação da divisão internacional de trabalho nas cadeias de valor, integrando-se em diferentes espaços territoriais pesquisa e desenvolvimento, design, manufatura, distribuição e consumo. A forma de subcontratação de

grandes marcas mundiais, como Nike e Apple, é um exemplo conspícuo de modelos de negócios que borram definitivamente a linha divisória entre “manufatura” e “serviço”. O segundo aspecto é a combinação de economias de escala e escopo nas cadeias mundialmente integradas. A obtenção de economias de escopo por meio de intensa diferenciação de produtos exige escalas de produção em territórios circunvizinhos, de forma que os ganhos de proximidade assegurem custos de produção competitivos nos mercados globais. O terceiro aspecto é o que está por vir, com a introdução de sistemas integrados em três dimensões na linha de produção, a exemplo da impressão em 3D para a moldagem integrada com a manufatura. A difusão dessa inovação radical traz consigo uma nova combinação de possibilidades de escala e escopo, com altas exigências técnicas de qualificação da força de trabalho, que sugerem vantagens tecnológicas estabelecidas para os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos. Nesse cenário, o esforço de integração latino-americana é uma oportunidade para a inserção da região no novo padrão competitivo atrelado ao paradigma tecnológico emergente.

Os novos parâmetros mundiais requerem investimento em pesquisa e desenvolvimento, força de trabalho qualificada e estruturas corporativas flexíveis

O direcionamento estratégico da política industrial brasileira − Plano Brasil Maior − tem como referência esse novo ambiente de competitividade mundial. Por isso, o objetivo de promover um salto na produtividade do trabalho da indústria e da rede de serviços para produção coloca-se como prioridade. Partindo do diagnóstico de que o padrão de crescimento extensivo da produtividade baseado em tecnologias dominadas, mão de obra de baixa qualificação e presença ativa do Estado na produção se esgotou, o Brasil Maior tem como foco o adensamento de cadeias produtivas, que exige inovação e qualificação profissional. Os novos parâmetros mundiais requerem investimento em pesquisa e desenvolvimento, força de trabalho qualificada e estruturas corporativas flexíveis. A economia do conhecimento demanda uma política industrial que conduza o país a um crescimento da produtividade intensivo em tecnologia. Uma boa pista para afirmar a atualidade de uma política industrial nos moldes da que estamos implementando advém da experiência chinesa. Seis são as razões fundamentais: (i) a integração produtiva e financeira evidenciou os limites dos mercados globais, fragilizados pelas políticas econômicas dos países hegemônicos; (ii) os acordos firmados na OMC são frágeis para garantir o livre comércio e controlar a propriedade intelectual; (iii) a falta de regulação do sistema financeiro mundial incita o protecionismo cambial; (iv) políticas de pleno emprego e segurança nacional induzem a defesa da produção nacional; (v) oportunidades tecnológicas são janelas que se abrem por curto espaço de tempo, de modo que se busca explorá-las por meio de múltiplos instrumentos; (vi) a divisão regional de trabalho entre países geograficamente próximos é crítica para assegurar competitividade em cadeias de produção globais. Políticas em educação e áreas tecnológicas estratégicas não são novidades na história de construção da competitividade das nações, remontando a experiências de industrialização do século XIX e chegando aos recentes modelos de substituição de importações de países asiáticos. A diferença das políticas atuais é o contexto do capitalismo contemporâneo, com forte integração financeira e produtiva global. Evidências históricas mostram que os benefícios de longo prazo de uma política baseada em ganhos de produtividade são mais elevados que seus custos de curto prazo. Os argumentos de viés liberal contrários à política industrial não resistem, portanto, às evidências históricas. As perspectivas estratégicas vislumbradas para a indústria brasileira incorporam apostas consistentes para que se alcance um novo padrão de crescimento da produtividade, baseado na inovação e no desenvolvimento tecnológico. Esses são os desafios da era do conhecimento, que se tornam ainda maiores quando estendidos a uma visão regional integrada, especialmente no âmbito dos países sul-americanos. 25


Philip Mould Gallery

arte com dna

Sim, ainda há muitas obras de arte esperando para serem descobertas, mas os caçadores de tesouros devem tomar cuidado com as imitações.

PHILIP MOULD É dono da galeria Philip Mould, em Londres, e apresenta o pro­ grama da BBC “Fake or Fortune?” e a versão britânica de “Antiques Roadshow”. Especializado em retratos, recentemente descobriu três Van Dyck sem assinatura e comprou um Gainsborough no eBay por US$ 150.

Obra-prima no porão Distribuído por The New York Times Syndicate

S

e tivesse prestado mais atenção naquele leilão, teria arrematado um Leonardo da Vinci por alguns milhares de dólares. Quando digo isso, o pessoal não acredita. Como, num mundo saturado de informação, com inúmeros programas sobre arte e antiguidades (sim, a culpa é minha), livros (culpado de novo), cursos e o poder infinito das principais casas de leilão, grandes obras como essa passam despercebidas? Sabemos tanto, vemos tanto, temos tanta tecnologia à nossa disposição que fizemos o mundo dos tesouros no porão dos nossos avós desaparecer, assim como sumiram as boinas e as fotos amareladas. É verdade que o mundo da inocência da casinha de interior se é que existiu já mudou, mas com mais conhecimento e um mercado que cresceu exponencialmente nos últimos 50 anos, as perspectivas do setor nunca foram tão boas. Grandes descobertas podem acontecer a qualquer momento, mas o caçador de tesouros também precisa ter conhecimento do mundo das falsificações, cada vez mais sofisticado. O estímulo para os descobrimentos é a história da arte que, há 40 ou 50 anos, era encarada como um “assunto de luxo”. Estava na mesma categoria que “Brideshead

Grandes descobertas podem acontecer a qualquer momento, mas o caçador de tesouros também precisa ter conhecimento do mundo das falsificações, cada vez mais sofisticado

Revisited”, academicamente comparável a uma matéria como antropologia e devia ser combinada a algo mais sensato (um diploma em história da arte e história, por exemplo) se você insistisse em fazê-la. Hoje em dia, encontrar um curso desses, pelo menos no Ocidente, é tão fácil como encontrar uma auto-escola. Está disponível em universidades e faculdades, casas de leilão, museus e na internet. Todo esse aprendizado tem suas consequências: os alunos são mais estimulados a descobrir objetos novos para produzir pesquisas originais que, por sua vez, aparecem na forma de doutorados, teses, artigos, livros e catálogos de exposições, levando artistas pouco valorizados e influências não analisadas a um público maior. 26

Chamando a atenção para essas áreas antes ignoradas, crescem as chances de colecionadores e museus fazerem novas descobertas – e aumentam as perspectivas dos caçadores de tesouros. Veja o que aconteceu, em 1996, quando a historiadora de arte Susan E. James decidiu fazer um estudo detalhado de uma fonte histórica relativamente obscura: os inventários das joias que pertenciam aos reis da dinastia Tudor. Ninguém fez um trabalho tão pericial e detalhado como ela. Através de sua pesquisa, Susan fez com que um dos retratos históricos mais ilustres da Grã-Bretanha, em exibição na Galeria Nacional de Retratos desde 1965 – uma imagem em tamanho real de Lady Jane Grey, a rainha dos Nove Dias – dramaticamente perdesse a cabeça (de novo). As evidências apresentadas por Susan não poderiam ser mais claras: Jane estava usando joias fabulosas, mas, infelizmente, não lhe pertenciam: os inventários provaram, sem sombra de dúvida, que tudo pertencia à ultima mulher de Henrique VIII, Catherine Parr. Com a rapidez da justiça implacável dos Tudor, a galeria passou a identificá-la como Rainha Catherine, aproveitando a ocasião para deixar bem claro que qualquer livro que descrevesse sua imagem como a de Jane seria considerado obsoleto. As maiores chances de descoberta de grandes obras de arte também são resultado do avanço extraordinário da fotografia amadora. Quando eu estudava história da arte, no fim dos anos 70, na Universidade de East Anglia, as ilustrações se resumiam a fotos antigas, em preto e branco, tiradas por algum professor já falecido. A minha percepção de Giotto, famoso pelos tons vívidos de pele e de céu, era a mesma que eu tinha do meu avô na Primeira Guerra Mundial: uma imagem em preto e branco com uma camada de distanciamento nostálgico. Era impossível ver qualquer detalhe. Entretanto, desde o início do advento da fotografia digital barata e eficiente, essa “cegueira” acabou: hoje é possível ver desfilar à sua frente toda a obra de um artista nos mínimos detalhes. Esse fator provou ser bastante útil para caçadores de troféus como eu. Pegue o exemplo do mestre flamengo Anthony Van Dyck, por exemplo. Quando se estabeleceu na Inglaterra, nos idos de 1630, ele era um retratista por excelência e se tornou responsável pela elaboração não só de todos os retratos do rei Charles I – cuja fisionomia de gnomo e pernas tortas realmente preci-


Mic­hael Falco/the New York Times­

O museu não é o único lugar onde se vê grand­es obras de arte. Algum­as apare­cem no eBay e em leilõ­es só que, ao contr­ário dos museu­s, estão à venda

Enquanto um retrato de Charles I feito inteiramente pelo mestre pode alcançar

savam de tratamento artístico – mas de todo nobre de destaque e seu trabalho ganhou o status artístico equivalente ao de alta-costura. Ele morreu jovem, mas deixou milhares de obras de diversos níveis de qualidade. Por necessidade, ele empregou assistentes talentosos – que geralmente faziam o acabamento em áreas para as quais o artista não tinha nem tempo nem vontade – ou produzindo réplicas, conhecidas nos meios acadêmicos como “versões de estúdio”. Para o colecionador de arte experiente, há uma diferença brutal entre o trabalho do mestre e do assistente. (Em termos culinários, pense na diferença entre uma refeição preparada por Heston Blumenthal e um dos pratos de sua autoria para a British Airways).

5 milhões de libras

um trabalho de estúdio não sai por mais de 30 mil libras

Enquanto um retrato de Charles I feito inteiramente pelo mestre pode alcançar 5 milhões de libras (ou US$ 8 milhões), um trabalho de estúdio não sai por mais de 30 mil libras. Há dois anos, um retrato de uma jovem, catalogado pela Christie’s de Paris como sendo apenas “Escola Flamenga”, com um valor estimado entre 15 mil e 20 mil euros (ou algo entre US$ 19 mil e US$ 25 mil) , apareceu na minha tela. Eu me lembro com absoluta clareza do momento em que notei o drapeado branco; para mim, a resposta estava na forma como aquilo que poderia ter sido um monte de dobras repetitivas tinha ganhado um ritmo melódico, principalmente quando combinado com sua mão gorducha – com uma naturalidade tão convincente que só poderia vir do próprio Van Dyck. Foi a eficiência da fotografia digital que permitiu que eu analisasse os detalhes que transformaram uma pintura desinteressante numa descoberta essencial. Como era de se esperar, no dia do leilão, descobri que não era o único observador artístico no salão – e acabei tendo que gastar 1 milhão de euros a mais que pretendia para não ser superado por um concorrente com uma tela de plasma tão grande quanto a minha, mas tudo acabou bem. A “limpeza” pós-venda, como chamamos nesse ramo, foi excelente e a vendi para um corretor de fundo de cobertura que, por sua vez, a emprestou para o Museu Ashmolean, em Oxford. Ali ela está entre os grandes, um trabalho que se julgava perdido, mas acabou resgatado da obscuridade com a ajuda da fotografia digital. A falsificação acompanhou o destino do mundo da arte num crescendo e decrescendo fascinantes. Há falsificadores que se beneficiam imensamente da disponibilidade de informações da mesma forma que há os que sofrem com ela – como nos dias em que a história da arte não contava com tanto material e eles se infiltravam em todo lugar, como 27


arte com dna

Aquel­e quadr­o no canto­, empoe­irado­, pode ser verda­deiro­, como pode não ser. Essas pintu­ras são cópia­s dos origi­nais

um vírus incontrolável. Han van Meegeren, sem dúvida, foi o mais famoso do século XX: e prosperou na Holanda, principalmente entre as décadas de 30 e 40, período no qual não só enganou a principal galeria nacional do país, mas também Goering e o regime nazista, com a ajuda de intermediários. Além do cuidado infinito que van Meegeren teve para disfarçar suas telas e pigmentos (de tal forma que enganou até analistas científicos), ele também escolheu uma área que, no passado obscuro da história da arte, ninguém podia contestar. Concentrando-se no que havia de melhor entre os pintores holandeses do século XVII, Johannes Vermeer, van Meegeren montou uma coleção de pinturas religiosas que o próprio Vermeer poderia muito bem ter produzido quando jovem e que, na falta de conhecimento e material comparativo, era impossível provar. Ele conseguiu enganar os maiores cérebros e conhecedores de sua época. Depois do fim da guerra, tão perfeita era a sua duplicidade, que só não foi morto por traição por vender parte do patrimônio aos alemães porque conseguiu provar que o tinha forjado. Num cenário no mínimo surreal, ele sacou suas tintas e telas, em pleno tribunal, para provar sua habilidade criminosa e convencer o júri. Entretanto, analisando suas falsificações hoje, como tive a oportunidade de fazer no porão do Rijksmuseum, em Amsterdam, pode-se ver que elas são risíveis de tão ruins, combinando composições dos Grandes Mes-

tres com um toque de Walt Disney  – mas, naquela época, na falta de boas imagens e conhecimentos menos sofisticados, conseguiu enganar a todos. Na era pré-digital e antes que o estudo da história da arte se disseminasse, o financista John Pierpont Morgan foi enganado pelos falsificadores exatamente como foram os holandeses. Em 1906, ele montou uma coleção de 795 miniaturas de retratos. Adquirida em grande parte por Joseph Duveen, que mais tarde se tornou Lorde Duveen de Millbank, malandro (e talvez por isso mesmo o mais bem-sucedido) comerciante de arte de sua época, com pesquisa e consultoria de um tal “Dr.” G.C. Williamson (título que ele nunca obteve), descobriu-se que a coleção de Morgan estava cheia de falsificações que os dois devem ter comprado de fontes duvidosas. Como não havia conhecimento técnico acessível para desafiar a dupla, os dois estavam

A falsificação acompanhou o destino do mundo da arte num crescendo e decrescendo fascinantes. Há falsificadores que se beneficiam imensamente da disponibilidade de informações da mesma forma que há os que sofrem com ela

livres para falar o que bem entendessem ‒ e convencer. Segundo cálculos recentes, um terço dos trabalhos que venderam para Morgan não era o anunciado. A coleção inteira foi vendida em 1935. Hoje as miniaturas de Morgan ainda reaparecem no mercado e seus “atributos” continuam sendo tratados com ceticismo  – e por uma boa razão. Hoje em dia é quase impossível adulterar o trabalho dos Antigos Mestres: os avanços no aprendizado, o prodigioso volume de imagens comparativas de boa qualidade das obras verdadeiras e os avanços na análise científica transformaram falsificações como as de Vermeer impraticáveis  – mas não, infelizmente, para o mercado de arte do século XX, o que pode ser terrivelmente frustrante. O falsificador do século XX e XXI conta com o benefício da moda, já que a arte moderna e contemporânea são mais descoladas do que nunca e substituíram os trabalhos dos séculos anteriores em termos de preferência popular: até nomes pouco conhecidos geram bons negócios se a imagem tiver uma identificação geral. Além disso, há duas vantagens irrefutáveis em se adulterar arte mais recente: a primeira é que aquela habilidade suprema de (re)produzir figuras não é mais essencial. Mesmo nos casos de nomes como Picasso, Lowry ou Mondrian, a maioria dos artistas decentes é capaz de criar uma cópia sem precisar ser um gênio da técnica como teria que ser caso quisesse reproduzir um Rembrandt Edwa­rd Linsm­ier/the New York Times

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Eduar­do Recif­e

ou um Caravaggio. A segunda também é imprescindível, pois não é preciso criar a ilusão de uma peça envelhecida  – sem dúvida, o detalhe mais difícil de reproduzir. Esse é um problema cada vez maior no mercado russo de arte do século XX, onde a visão do que havia por trás da Cortina de Ferro (e o que continua havendo) é quase sempre obscura. Em julho, o oligarca Viktor Vekselberg recebeu um reembolso de 1,7 milhão de libras da Christie’s depois que a filial de Londres lhe vendeu um nu falso, vendido como sendo obra que o artista russo Boris Kustodiev produziu em 1919. Foi o alumínio encontrado na tinta  – pigmento que só passou a existir depois da morte do pintor  – que o entregou. O nível de sofisticação da técnica artística para imitar o verdadeiro era tão alto que passou pelos especialistas da casa antes da venda. E não é só no topo do mercado; é com o coração pesado que digo que entre 20% e 30% das pinturas do século XX atualmente à venda pela internet e em certas casas menores são “armadilhas”. É a única palavra que serve para descrever as obras que “sugerem” ser de um artista reconhecido, mas não são catalogadas como tal  – obras supostamente atribuídas a nomes como Jack Vettriano, Augustus John ou Francis Bacon, colocadas em molduras envelhecidas e quase sempre com selos de exposições falsos nas costas. São vendidas como “artistas desconhecidos” e oferecidos a preços tentadores na esperança de atiçar uma disputa entre dois interessados e assim fazer subir seu valor. Normalmente os vendedores viram fumaça quando você tenta rastreá-los, mas poderia ser qualquer um, desde o próprio falsificador, um intermediário ou até mesmo o leiloeiro. Eu comprei um desses uma vez, um suposto Picasso representando quatro nus reclinados abstratos, por 120 libras, num leilão no início do ano (para fins de pesquisa, é verdade) e deixei no chão da minha galeria do West End, em Londres, durante umas duas semanas antes de levá-lo para casa. Tem coisa mais deprimente que isso? Um dos meus melhores clientes o notou entre Van Dycks, Gainsboroughs e Sir Thomas Lawrences e, atraído pela rusticidade das formas, virou para mim e disse: “Nossa, adorei. Que bom que você também começou a se interessar.” E por que não, alguns podem dizer? Se parece verdadeiro e artisticamente cumpre o mesmo papel que o original por uma fração do preço, por que se preocupar? A resposta é: por todos os motivos. Por mais sofisticados que tenhamos nos tornado, o instinto básico de ter algo original remonta ao desejo medieval de encontrar o Santo Graal. Certos artefatos carregam em si a alma da pessoa que os criou. Os santos podem não ser mais venerados como antes, mas os semideuses seculares da civilização  – entre eles os grandes artistas  – o são, como comprova o mercado de arte. Eu sou um desses novos devotos e preciso saber que o item que descobri contém o DNA do artista e não o de um malandro qualquer, preparando-se para enganar alguém. 29


Bai Jikai

homenagem a tudo que foi esquecido

Por que os chineses não estão preparados para reconhecer a morte de 3 milhões de pessoas em Henan, em 1942?

LIU ZHENYUN É um dos escritores contempo­ râneos mais famosos da China. Vários de seus trabalhos serviram de inspiração para filmes ou pro­ gramas de TV. Sua obra “A Word is Worth Ten Thousand Words” ganhou o prestigiado Prêmio de Literatura Mao Dun, em 2011

Bastidores: A história perd um filme hollywoodiano “ Distribuído por The New York Times Syndicate

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rovíncia de Henan, na China, onde quase 3 milhões de pessoas morreram de fome em 1942. Sou descendente dessas vítimas, mas não sabia nada sobre a tragédia até 1990 quando, aos 32 anos, um amigo meu resolveu escrever a história das catástrofes chinesas e me pediu que o acompanhasse a Henan para ajudá-lo a entender melhor o que houve por lá. Foi assim que soube da magnitude do desastre. Foi ele quem me contou que a seca matou 3 milhões de pessoas em 1942. Não con30

segui imaginar esse número. Como fator de referência, ele explicou que os nazistas mataram mais de 1 milhão de judeus em Auschwitz. Em choque, voltei à província onde nasci determinado a revisitar aquele período terrível e a resgatar aquelas 3 milhões de almas das areias do tempo. Não demorei muito, porém, para fazer uma estranha descoberta: os sobreviventes e seus descendentes relegaram todas as lembranças de 1942 ao esquecimento. Era por isso que eu não sabia nada sobre aquele período terrível. Minha avó sobreviveu à penúria, mas

quando perguntei sobre o ocorrido, ela respondeu: “1942? O que é que tem?” Expliquei que era o ano em que muita gente tinha morrido de fome. “Tem gente morrendo de fome o tempo todo”, ela disparou. “O que teve de tão especial nesse ano?” Além da amnésia coletiva, outros detalhes me deixaram perplexo: o que o governo estava fazendo em 1942 enquanto 3 milhões de pessoas morriam de fome? Como não previu uma tragédia dessa proporção? Eu me despeço dos infelizes esquecidos e viajo àquele ano terrível sozinho  – e o que encontro são mais detalhes do que imaginava.


Ruth Frems­on/ The New York Times

dida por trás de “Made in China” Não demorei muito, porém, para fazer uma estranha descoberta: os sobreviventes e seus descendentes relegaram todas as lembranças de 1942 ao esquecimento. Era por isso que eu não sabia nada sobre aquele período terrível

Em 1942, o Japão ocupava metade da China e Henan estava cercada por suas tropas. Era um país fraco e mesmo com as secas castigando a região, o governo não tinha recursos para realizar um plano emergencial. Para usar a catástrofe em seu favor, os líderes da época devem ter pensado: por que não jogar essa responsabilidade em cima dos invasores? Discretamente, as autoridades então se retiraram da província, mas os japoneses perceberam o plano e mantiveram os pelotões na divisa, optando por não invadi-la. O resultado é que virou terra de ninguém  – e, enquanto isso, 3 milhões de pessoas morre-

“Enqu­anto norte­-amer­icano­s e europ­eus fazem quest­ão de se lembr­ar, os chine­ses prefe­rem se esque­cer”. O rio Amare­lo no noroe­ste da China­

ram de fome. Como eu vi de perto, uma catástrofe que ocorre num local abandonado pelo seu próprio governo  – e até por seus inimigos  – é facilmente esquecida. Como consegui então, em 1990, encontrar detalhes sobre tamanha desgraça? Contando com a ajuda do jornalista norte-americano Theodore White, da revista “Time”. Em 1943, ele foi a Henan com um colega, Harrison Forman, do “The Times” londrino. Durante a viagem conheceram um norte-americano chamado Thomas Megan, bispo da Missão Católica de Loyang, que os acompanhou a diversos lugares  – e o que viram foi horripilante. Eles testemunharam pessoas literalmente morrendo de fome, viram cachorros devorando cadáveres, encontraram evidências de canibalismo. Ao voltar a Chungking, capital da China em tempo de guerra, White contou tudo o que viu ao líder do governo, Chiang Kaishek, e recontou a calamidade num artigo para a “Time”, o que acabou forçando o governo a fazer algo pelas vítimas  – mas com tamanha corrupção em todos os níveis, ela nunca chegou aos mais necessitados, que continuaram morrendo de fome. White narrou com detalhes o que viu em Henan no livro que escreveu em 1946, “Thunder Out of China”, e outro, em 1978: “In Search of History: A Personal Adventure”. A minha inspiração para escrever um romance sobre a penúria de 1942 veio dos relatos que ouvi dos sobreviventes sobre o estado de espírito desses 3 milhões de cidadãos que esperavam a morte  – mas isso só ocorreu depois que lhes apresentei os fatos sobre os horrores por que os que morreram passaram. Aposto que europeus e norte-americanos teriam ficado indignados se enfrentassem circunstâncias semelhantes. “Por que eu tenho que morrer?”, seria a pergunta. “Quem é o responsável pela minha morte?” Os nativos de Henan, porém, pareciam não se mostrar inconformados com o que estava acontecendo. Enquanto lutavam para sobreviver, uma das coisas mais significativas que deixaram foi uma piada para lá de reveladora. O Sr. Zhang estava prestes a morrer na estrada, mesmo depois de ter fugido da fome. Seus últimos pensamentos não foram para o governo chinês, os invasores japoneses nem ninguém mais no mundo; ele só se lembrou de seu velho amigo, o sr. Li, que tinha morrido três dias antes. “Consegui superar o velho Li por três dias”, o Sr. Zhang murmurou. “Nada mal.” Em tempos de desespero, quando os campos estão coalhados de corpos, o canibalismo não é encarado com algo imoral. Assim, enquanto o sr. Zhang sucumbia à fome, lá veio o sr. Wang, que abaixou as calças do moribundo e começou a cortar um pedaço da perna dele. A dor o fez despertar. “Ainda estou bem”, ele protestou. O sr. Wang examinoua o outro de perto e disse: “Não está, não.” O sr. Zhang pensou naquilo por um momento e, concluindo que não estava mesmo bem, caiu no chão com um 31


homenagem a tudo que foi esquecido estrondo, mortinho. Por que nós, chineses, temos um senso de humor tão sombrio? Por que somos tão esquecidos? A resposta que a minha avó me deu quando perguntei de 1942 dá uma dica: há inúmeros casos de fome e canibalismo na história chinesa  – e como um povo que tem que enfrentar tantas desgraças por tanto tempo agiria a não ser apelando para o esquecimento? Depois de sofrer tantas provações ao longo dos séculos, os chineses aprenderam a reagir à dura realidade com uma atitude que a deixa ainda mais dura. O humor e uma grande dose de amnésia são os segredos para se enfrentar a tragédia. Eu escrevi o meu romance em 1990, há 22 anos. Depois de 18 anos de preparação e superação de um sem-fim de obstáculos burocráticos, o diretor Feng Xiaogang concluiu as filmagens de “1942”, adaptação desse trabalho. No filme, Adrien Brody interpreta Theodore White, e Tim Robbins é o bispo Megan. Setenta anos depois, seguindo os passos de seus personagens, os dois atores foram à China. Adrien fez “Além da Linha Vermelha” e “O Pianista”, ambos passados em 1942  – e depois de reviver o mesmo ano em três partes do mundo, deve ter entendido as diferenças entre norte-americanos, europeus e chineses: enquanto os dois primeiros fazem questão de se lembrar, os chineses preferem ANUNCIO_INST_H_FINAL.pdf

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12/4/12

O esque­cimen­to é um meio de sobre­vivên­cia para muito­s chine­ses que viver­am os horro­res do sécul­o XX. Meng Qingh­ ua prese­nciou o cerco de Chang­chun, em 1948

2:09 PM

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Shih­o Fukad­a/the New York ­Times

Simon Pembe­rton

se esquecer. Quando Tim chegou na China para rodar o filme, ele disse a mim e a Feng Xiaogang que a humanidade que tinha visto no roteiro era o motivo que o levara a querer encarnar um bispo católico. Afirmou também que o filme revelava o lado mais sombrio da natureza humana  – e o mais belo. Imagino que ele estivesse se referindo aos padres que montaram sopões e ao religioso que tentou levar um homem moribundo para o refúgio... ou talvez na triste autocrítica e senso de humor mordaz que os chineses usam nos últimos momentos da vida. Tanto o livro “Remembering 1942” como o filme “1942” são dedicados a tudo o que foi esquecido.

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BATE-PAPO

O excesso de informação pode estar nos transformando em máquinas isoladas, incapazes de se conectar umas com as outras ‒ ou será que estamos nos tornando mais inteligentes e eficientes?

Estamos nos transformando em ciborgues?

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esde que a banda larga começou sua inexorável expansão no início do milênio, o acesso à Internet cresceu em proporções estratosféricas. No ano passado, o número de usuários chegou a 2,4 bilhões, mais do que um terço de toda a população mundial. O tempo passado em frente do computador chega, em média, a 16 horas por semana – e o dobro disso em países com histórico de longo tempo de uso, praticamente todo consumido em redes sociais. Nós mudamos a forma de interagir, mas será que também estamos mudando o que somos? Apresentamos a questão a três pessoas que já escreveram exaustivamente sobre o assunto e as reunimos para discutir o tema com Serge Schmemann, responsável pelo editorial do International Herald Tribune.

OS PARTICIPANTES

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Susan Greenfield, professora de farmaco­ logia sináptica de Oxford. Já escreveu e fez inúmeras palestras sobre o impacto da tecnologia no cérebro do usuário.

Maria Popova, curadora do Brain Pickings, um site de “interesses ecléticos”. É membro do grupo Futuro do Entretenimento do MIT e escreve para a “Wired” e “The Atlantic”.

Evgeny Morozov é autor de “The Net Delu­ sion: The Dark Side of Internet Freedom”. É editor e contribuidor de “The New Re­ public”.

Serge Schmemann: A questão é: estamos nos tor­ nando ciborgues? Será que as novas tecnologias digitais estão nos transformando de forma mais profunda e talvez mais problemática do que em outros períodos de descobertas e avanços? Vou começar com a Baronesa Greenfield. Su­ san, você relatou detalhes assustadores sobre o impacto da Internet não só na nossa forma de pensar, mas no nosso cérebro, afirmando que as novas tecnologias são invasivas de uma maneira que a imprensa escrita, por exemplo, a energia elétrica e a TV não são. Qual a diferença? Susan Greenfield: Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer o termo “assustador” porque o que estou tentando fazer é estimu-

lar o debate, deixando de lado julgamento de valores radicais. Se as pessoas acham assustador ou não é outra questão. De forma bem ampla, eu sugiro que as tecnologias são meios usados para se atingir um fim. A imprensa escrita nos permite ler tanto ficção como os fatos através dos quais compreendemos o mundo; a geladeira permite que os alimentos se mantenham frescos por mais tempo; o carro ou o avião permitem que se viaje mais longe, mais rápido. O que me preocupa é que as tecnologias atuais deixaram de ser meios para se tornarem fins; em vez de complementarem ou enriquecerem a vida tridimensional, a vida al-

ternativa em duas dimensões  – estimulando somente a audição e a visão  – parece ter se transformado num fim em si. Essa é a primeira diferença. A segunda é a dominância maciça dessas tecnologias sobre todas as outras. Se por um lado alguém como a minha mãe, por exemplo, que tem 85 anos e é viúva, entra no Facebook pela primeira vez  – não que ela tente, embora acho que seria ótimo  – para aumentar o círculo de amigos e estimular o cérebro, há estatísticas que mostram que mais de 50% dos jovens entre 13 e 17 anos passam mais de 30 horas, por diversão, na frente do computador.


Matthew Richardson

O que me preocupa não é a tecnologia, mas até que ponto ela se tornou um estilo de vida em si e não um meio de melhorá-la. Schmemann: Maria, vi as estatísticas  – incríveis, por sinal  – do tempo que passa conectada, mas também tem tempo para ler e se exercitar. A im­ pressão é a de que o seu dia tem 30 horas. Você afirma que a “dieta da informação” deve ser como a dieta alimentar: não deve se negar nada, mas sim consumir mais coisas certas e desenvolver hábitos saudáveis. Esse princípio funciona para você? Como filtra o que é bom e não é? Maria Popova: Bom, não tenho intenção nenhuma de ditar o que tem valor para a cultura de forma geral; só posso falar por mim mesma. De certa forma acho estranho que o meu site e os meus escritos, que são a minha jornada de aprendizado, tenham interessado tanta gente. Só um adendo em relação às estatísticas: passo grande parte desse tempo com coisas analógicas, principalmente livros antigos, tradicionais. O que me leva à pergunta sobre os ciborgues. A minha preocupação não é  – como no caso da Baronesa Greenfield  – o grau em que a tecnologia está sendo usada, mas como estamos fazendo isso. Não há dúvida de que a internet é muito

De forma bem ampla, eu sugiro que as tecnologias são meios usados para se atingir um fim. A imprensa escrita nos permite ler tanto ficção como os fatos através dos quais compreendemos o mundo

bem projetada para ajudar as pessoas a encontrar mais sobre aquilo que elas já sabem o que estão procurando, mas muito mal estruturada para nos ajudar a descobrir coisas que ainda não sabemos, embora nos interesse e possam até mudar a forma de encararmos o mundo. Um razão para isso é o fato de ela estar organizada praticamente segundo a cronologia. Basta pensar em qualquer sistema de gerenciamento de conteúdo ou plataforma de blog. Praticamente todas as redes mais populares usam esse critério para marcar sua presença on-line  – seja Wordpress ou Tumblr, Twitter ou a linha do tempo do Facebook. Estão amarrados pelo critério de tempo: o mais recente fica no topo. O que inferimos disso? Que o mais recente é o mais significativo, mais relevante, mais importante. As coisas mais antigas, atemporais ou não, podem ser esquecidas. Dedico grande parte do meu tempo ressuscitando essas “coisas velhas”. Aliás, enquanto estamos aqui conversando, me lembrei de que encontrei um belo ensaio de 1945, publicado no “The Atlantic”, por um homem chamado Vannevar Bush, que era diretor do Escritório de Pesquisa Científica e Desenvolvimento. Ele fala sobre excesso de informação e todas essas questões que, como se pode ver, não são exclusivas só da nossa época. Ele criou um mecanismo chamado Memex, que vem da união das palavras ‘‘memory’’ (memória) e ‘‘index’’ (índice); fala da compressão do conhecimento, de como toda a Enciclopédia Britânica pode ser colocada no Memex e como usaríamos o que hoje chamamos de metadados e hiperlinks para recuperar as informações. Em sua opinião, no fim das contas, todas essas relações associativas entre diferentes informações e como elas se conectam estão na mente do usuário do Memex e nunca poderão ser automatizadas. Podemos compri-

Não há dúvida de que a internet é muito bem projetada para ajudar as pessoas a encontrar mais sobre aquilo que elas já sabem o que estão procurando, mas muito mal estruturada para nos ajudar a descobrir coisas que ainda não sabemos

mi-las, sim, mas isso não basta porque precisamos poder consultá-las. Eu penso muito sobre essa tendência de confundir informação e conhecimento. Na verdade, o conhecimento é a compreensão de como várias informações fazem sentido juntas. Há um elemento de correlação e interpretação. Podemos automatizar a recuperação do conhecimento, mas não acho que seja possível automatizar o lado moral de fazê-lo ter sentido ou fazer com que tenhamos sentido. Schmemann: Evgeny, em seu livro, você pinta um quadro bem pessimista da internet, como se fosse algo quase tipo Admirável Mundo Novo  – um terreno fértil não para ativistas, mas comodistas, gente que pensa que um clique numa petição no Facebook, por exemplo, conta como ato político. Você acha que a tecnologia enveredou por um rumo perigoso? Evgeny Morozov: Não acho que nenhuma das tendências sobre as quais escrevi é produto de uma lógica inerente da tecnologia, da própria internet; na verdade, em grande parte são resultado de uma economia política e várias condições de mercado em que essas plataformas operam. Acontece que sites como o Facebook querem que você fique clicando nas novidades, fotos e notícias dos amigos  – em parte porque quanto mais você clicar, mais vão saber a 35


Betim

BATE-PAPO

Cidade Nova

O Colégio da Arquidiocese de Belo Horizonte Contagem

Há mais de 100 anos, o Colégio Santa Maria participa da história de Belo Horizonte na educação de crianças e jovens. Tem como mantenedora a Sociedade Mineira de Cultura.

Coração Eucarístico

Muitas pessoas viveram sua história em uma das Unidades do Sistema de Ensino Arquidiocesano, hoje Colégio Santa Maria.

Floresta

Com altos índices de aprovação em instituições de Ensino Superior, os alunos do Colégio Santa Maria recebem o cuidado de uma educação plena, visando à formação de futuros profissionais e cidadãos éticos para o mundo.

Nova Lima

Possui oito Unidades, localizadas em Belo Horizonte e Região Metropolitana: Coração Eucarístico, Floresta, Pampulha, Cidade Nova, Nova Suíça, Contagem, Nova Lima e Betim.

A minha briga é contra as pessoas que acham, de alguma forma, as redes sociais e plataformas da internet podem substituir todo o processo de criação, execução e ajuste de estratégias. Não podem, não. Temos que ser realistas em relação ao seu alcance; quando isso acontecer, poderemos então usá-las em nosso favor.

Proporciona, em cada Unidade, uma educação comprometida com o saber e a formação humana.

Schmemann: Todos vocês falaram sobre o risco do mau uso da nova tecnologia. Será que esse medo não é tão antigo quanto a tecnologia em si? Popova: Acho que uma das tendências mais humanas é querer uma resposta concreta e uma medida quantificável para tudo; por isso, quando lidamos com graus de abstração  – que é o que qualquer tecnologia nova, no fundo, nos força a fazer  – nos sentimos muito desconfortáveis. Sem querer citar muito material histórico, isso me lembra de outro ensaio antigo, escrito por Abraham Flexner, em1939, chamado ‘‘The Usefulness of Useless Knowledge’’ (“O Utilidade da Informação Inútil”, em tradução livre). Ele diz basicamente que a curiosidade foi o que motivou as descobertas mais importantes da ciência e as invenções de tecnologia, bem diferente da noção

Nova Suíça

Do Maternal ao Ensino Médio

Pampulha MANTENEDORA DA

PUC MINAS E DO

COLÉGIO SANTA MARIA

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seu respeito e quanto mais souberem a seu respeito, mais anúncios (e mais específicos) vão poder vender. Nesse aspecto, a internet poderia ser organizada de forma bem diferente. Não precisava ser como é. Com a combinação de investimento público/privado e das plataformas que temos no momento, é mais provável que continuemos clicando em vez de ler ou ir a fundo num determinado link, digamos. Quanto ao aspecto político, não foi a minha intenção pintar um quadro tão sombrio. Enquanto plataforma, ou combinação de várias tecnologias, a internet promete muito. Mesmo o Facebook pode ser utilizado por ativistas para ações inteligentes e estratégicas. A questão é se ela vai acabar (ou diminuir) as outras formas de ativismo, se as pessoas vão achar que estão batalhando por algo muito importante quando, na verdade, estão se unindo a grupos on-line que não têm relevância nenhuma no mundo político e com os quais os governos estão muito contentes. Muitos regimes autoritários de que falo no livro estão plenamente satisfeitos de ver os jovens engajados em protestos on-line, contanto que não vão para as ruas.

www.santamaria.pucminas.br

de conhecimento prático ou útil, que é o que buscamos. Queremos respostas concretas às perguntas, mas, ao mesmo tempo, há uma curiosidade sem limites que motiva os grandes cientistas e inventores. Morozov: É verdade que praticamente todas as novas tecnologias desencadeiam o que os sociólogos chamam “pânico moral”, que leva muita gente a se preocupar com as possíveis consequências políticas e sociais e que esse é um fenômeno que sempre ocorreu, ou seja, não estamos vivendo uma época diferente ou excepcional nesse aspecto. Apesar disso, acho que não se deve levar essas coisas muito longe. Cercados de toda essa tecnologia avançada atual, a tendência é romantizar o passado, é dizer: ‘‘Bom, há 50, cem anos, não usávamos a tecnologia como meio de obter as coisas; não havia esse conceito. Apenas vivíamos num ambiente agradável onde tínhamos que fazer tudo sozinhos.’’ Isso não é verdade. Se você analisar a história da humanidade, nossa evolução sempre foi intermediada pela tecnologia; sem ela, não se sabe exatamente onde estaríamos. Nesse sentido, acho que sempre fomos ciborgues.

Uma pessoa que usa óculos, por exemplo, de uma forma ou de outra não deixa de ser um ciborgue; qualquer um que depende da tecnologia no dia a dia para estender sua capacidade humana também é. É por isso que não acho que devemos temer essa classificação

Uma pessoa que usa óculos, por exemplo, de uma forma ou de outra não deixa de ser um ciborgue; qualquer um que depende da tecnologia no dia a dia para estender sua capacidade humana também é. É por isso que não acho que devemos temer essa classificação. Sempre fomos e sempre seremos ciborgues. A questão é: quais as áreas da nossa vida que não deveriam ser intermediadas tecnologicamente? Nossas amizades e nosso senso de ligação a outras pessoas talvez possam, mas de uma forma muito bem pensada e cuidadosa, pois, afinal, estamos falando de relações humanas. Talvez devêssemos ser mais analíticos em relação ao Facebook, mas é preciso cuidado para não criticar a ideia da mediação tecnológica. Só precisamos estipular limites à sua extensão e ao procedimento em relação a ela. Greenfield: Eu não tenho medo da tecnologia nem das coisas maravilhosas que ela é capaz de fazer  – que, por sinal, são inegáveis  – mas sim de como é usada pelas pessoas. A mente humana  – e aqui é onde eu discordo de Evgeny  – nem sempre foi um ciborgue. Não há provas dessa afirmação. Niels Bohr, o famoso físico, uma vez disse a um aluno: ‘‘Você não está pensando, está apenas sendo lógico.’’


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O candidato da Irmandade Muçulmana vence as eleições presidenciais no Egito

Somos muito rápidos para associar religião a atraso e modernidade com secularismo, tanto no Oriente Médio como no Ocidente. A “Primavera Árabe” pede algo novo.

ROGER COHEN Já mandou telex de Beirute e se comunicou via satélite de Benghazi, além de testemunhar a união da Europa, o desen­ volvimento da China e a Itália continuar do mesmo jeito. Ele escreve a coluna “Globalist” do International Herald Tribune

Um espaço para a religião Distribuído por The New York Times Syndicate

D

urante uma visita recente ao Cairo, conheci uma jovem jornalista, chamada Asmaa Loffi, na praça Tahrir. Estava de jeans, camisa escura e, por baixo do véu que lhe cobria a cabeça e o pescoço, seus olhos brilhavam. Disse que usava o hijab desde os 12 anos de idade. ‘‘Ninguém me impôs nada’’, ela garante, ‘‘mas eu queria obedecer ao Profeta.’’ Ela me contou que se sente ‘‘sufocada’’ quando ouve os longos discursos do presidente egípcio, Mohamed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana; que se preocupa com os direitos das mulheres e que, depois de muito pensar, votou contra ele nas primeiras eleições presidenciais livres do Egito, em junho. Preferiu apoiar o candidato mais secular, Ahmed Shafik, ex-primeiro-ministro de Hosni Mubarak. Asmaa odiava Mubarak. Ela contou, com entusiasmo, que os egípcios viviam reprimidos e reagiram, livrando-se dos grilhões numa ‘‘explosão’’ de desafio, na praça Tahrir, há quase dois anos. Votou relutante em Shafik por uma questão de ser “o menor dos males”. Pois bem, ali estava uma egípcia com diploma universitário, devota, que optou pelo candidato anti-Irmandade, defendia com paixão a liberdade de discurso e de imprensa, mas defendia também o que chamava de ‘‘serenidade interna’’ que o hijab lhe dava. Em outras palavras, Asmaa Loffi era a personificação do repúdio a todos os conceitos intelectuais banais que o mundo usou para abordar o choque entre o religioso e o secular e o confronto entre as civilizações na tentativa de assimilar a “Primavera Árabe”, o conflito entre o Ocidente e o Islã e o lugar da religião na vida política. ‘‘Por que’’, ela me pergunta, ‘‘no Ocidente, vocês associam o véu com o fanatismo? O Egito era um país muçulmano muitos anos antes de existir um partido religioso. Eu uso o véu porque assim me sinto mais à vontade.’’ Ela prosseguiu alegando que, durante as três décadas do regime autocrata de Mubarak, apoiado por Washington, os EUA consideraram a Irmandade um bando de islâmicos fanáticos. ‘‘E agora o grupo é bem-aceito e os salafis é que são os fanáticos  – e vocês ainda falam com eles!’’ As antigas barreiras, ela sugeriu, erguidas para reforçar o autorretrato de Mubarak como o último defensor do Ocidente contra 38

o extremismo jihadista, eram falsas e retrógradas. É hora de repensar a relação que o Ocidente é tão rápido em fazer entre a religião e o atraso de um lado, e secularismo e modernidade de outro. Para o Oriente Médio, que aos poucos vai se livrando da tirania que tinha o aval ocidental, o secularismo não é necessariamente a solução de todos os problemas. Deveria ser mais fácil para os EUA perceberem isso; afinal, a religião é intrínseca à sua definição como país. Porém, o surgimento de uma religião politizada e militante  – seja no Egito, nos EUA ou na Rússia  – geralmente enfatiza as percepções e ofusca as muitas Asmaas Loffis espalhadas pelo mundo, que são devotas, mas convencidas de que é preciso haver uma separação entre a Igreja e o Estado. O Oriente Médio tentou a secularização rápida seja sob Ataturk, na Turquia; a dinastia Pahlavi, no Irã; Bourguiba, na Tunísia; Nasser, no Egito, ou os vários regimes do Partido Baath no Iraque e na Síria  – só para vê-la gerar uma reação islâmica forte, e às vezes violenta, em parte porque repressão e controle da religião provaram ser nada além do que uma forma de despotismo. O Islã era um refúgio, o resgate de um patrimônio perdido, uma fortaleza contra ideias importadas. O islamismo político, desde o tempo da fundação da Irmandade Muçulmana por Hassan al-Banna, em 1928, foi sempre uma reação contra o colonialismo ocidental na região e a tentativa de imposição do modelo secular de um mundo que não lhe dizia respeito. Muito tempo se perdeu nas idas e vindas

É hora de repensar a relação que o Ocidente é tão rápido em fazer entre a religião e o atraso de um lado, e secularismo e modernidade de outro. Para o Oriente Médio, que aos poucos vai se livrando da tirania que tinha o aval ocidental, o secularismo não é necessariamente a solução de todos os problemas


Gianp­aolo ­Pagni

entre a secularização forçada e um Islã estático, mas esse vai e vem não foi assimilado pelos jovens árabes: pelo contrário, o que eles exigiram na praça Tahrir e outros lugares foi algo novo, uma cultura ao mesmo tempo autêntica e moderna, tradicional e aberta. Como Tariq Ramadan relata os movimentos islâmicos em seu livro, ‘‘Islam and the Arab Awakening’’: ‘‘Eles são melhores em simplesmente se opor do que desenvolver propostas plausíveis para o futuro. Sua resistência histórica ao colonialismo, seu debate com os secularistas, sua rejeição do Ocidente (numa relação de atração/repulsa), a legitimidade resultante de sua hostilidade a Israel, tudo confere aos islâmicos a legitimidade de um contrapeso moral, mas essas mesmas conquistas não permitiram que fizessem uma análise objetiva de seu próprio programa político.’’ Pois agora, eles têm que criar um. Eles têm que agir. A Irmandade conquistou o poder no Egito. Ennahda subiu ao poder na Tunísia. Ser anti-Ocidente não vai alimentar os famintos,

Mesmo que coloquem Deus num lugar de grande importância na vida política dos EUA — a ponto de, em alguns casos, chegar a declarar que a gravidez resultante de um estupro é uma benção divina — deploram um Islã político que estão decididos a pintar como um inimigo monolítico. Deus, ao que parece, pode ser uma autoridade legítima no Cinturão Bíblico, mas não na Babilônia

educar os analfabetos ou criar empregos  – nem os levantes gerados pela indignação das piadas do Ocidente com o Profeta. Se o Islã quer ser político, não pode se blindar às críticas e até ao ridículo. Em vez de chamar os inimigos para a briga, seja o Ocidente ou Israel, esses partidos terão que oferecer oportunidades para um grande número de jovens que querem liberdade, pluralismo, empregos para as mulheres e o fim da corrupção. Essas instituições têm que entender que a Sharia pode ser aceita pela maioria dos cidadãos se entendida como um conjunto de princípios de orientação e não um código penal cujas decisões são simplesmente impostas. A Turquia, onde um partido de raízes islâmicas está no governo há dez anos, pode servir de modelo. De certa forma, eles terão que se tornar pós-islamismo para criar um modelo que reúna fé e inclusão democrática  – e deixar a resistência de lado para investir na política da boa vizinhança. Morsi pode causar muitos estragos se ignorar gente como Asmaa Loffi, muçulmana praticante que também luta pela 39


O candidato da Irmandade Muçulmana vence as eleições presidenciais no Egito Toma­s Munit­a/the New York Times­

Simpa­tizan­tes de Moham­ed Morsi­, novo presi­dente do Egito e membr­o da Irman­dade Muçul­mana

modernização, ao tentar levar o país adiante. O Ocidente também deve pensar no exemplo da moça para se conscientizar de que classificações como “islâmico” e “secular” são inadequadas. O próprio secularismo ocidental por vezes parece se retrair  – ao ponto de o líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Ed Miliband, declarar que é ‘‘uma pessoa de fé;

É possível ser devoto ou secular na crença de que os “assuntos humanos” são mais bem-administrados aqui na terra sem a interferência de Deus. A oportunidade nunca foi tão boa no Oriente Médio como agora, depois de tanto vai e vem, de acabar com o modelo binário ultrapassado e criar democracias que não sejam nem islâmicas nem seculares

não uma fé religiosa, mas, mesmo assim, de fé’’. Ele disse o que nenhum aspirante à política admitiria hoje nos EUA. Miliband sugeriu que sua forma de fé era aquela que ‘‘muitos religiosos reconheceriam’’  – uma crença de que ‘temos o dever de deixar esse mundo melhor do que o encontramos’’, que ‘‘não podemos virar as costas à injustiça’’ e que “podemos superar qualquer dificuldade se nos unirmos apenas como pessoas’’. Ainda assim, algo assim jamais poderia 40

ser dito nos EUA. Na Rússia, onde ao longo de 70 anos o comunismo tentou reprimir ‘‘o ópio das massas’’ onde Lênin declarou, ao subir ao poder, que ‘‘quanto mais representantes do clero reacionário e da burguesia conseguirmos executar nessa ocasião, melhor’’  – o sucessor dos “commissars” agora toma partido da Igreja: Vladimir Putin, ex-agente da KGB, condenou duas integrantes da banda punk Pussy Riot a trabalhos forçados por fazer uma apresentação ‘‘blasfema’’ na principal catedral de Moscou. A religião, porém, não pode ser o tema intocável do regime em Moscou mais do que no Cairo  ou Washington. A longa campanha eleitoral norte-americana envolveu os princípios religiosos dos candidatos  – e em temas como o direito da mulher ao aborto, Deus foi invocado (geralmente pelos homens) como árbitro. Declarar-se ateu é uma das maneiras mais eficientes de se acabar com uma carreira política naquela que se descreve como “uma nação dirigida por Deus indivisível, com liberdade e justiça para todos’’. A divisão da nação entre conservadores tementes a Deus e progressistas seculares se tornou fonte de imobilidade e disfunção. A política norte-americana mudou muito desde a defesa de John F. Kennedy da separação entre Igreja e Estado  – posição a que o ultracatólico republicano Rick Santorum reagiu violentamente durante campanha,


Damon Winter/The New York Times

Muitos jovens árabes querem uma cultura ao mesmo tempo autêntica e moderna, que não vire as costas à religião nem se limite aos seus mandamentos. A Grande Mesquita, em Djenne, em Mali, é Patrimônio da Humanidade

dizendo lhe dar vontade de ‘‘vomitar’’. Há 50 anos, o Catolicismo de Kennedy era visto como uma ameaça; hoje, a fé de Santorum, como o mormonismo de Mitt Romney, inspirada pelos evangélicos, se mistura ao movimento social de resgate dos ‘‘valores familiares’’ e dos papéis sexuais tradicionais. Essa pressão quase fanática contra o aborto, os direitos dos gays e a equidade matrimonial  – ou contra a pauta liberal do que os texanos gostam de chamar de República Popular de Nova York (além de outras cidades costeiras) — se tornou o principal componente do cenário político norte-americano e ponto de divisão na cultura do país. Tornou-se também um peso político para o Partido Republicano, a julgar pelos resultados das últimas eleições. É inacreditável que o direito evangélico norte-americano seja justamente o que não hesita, nas paravras de Loffi, a igualar uma mulher de véu ao fanatismo islâmico, a ver a ameaça da Sharia em todo lugar e rebaixar a Primavera Árabe a mais uma confusão da qual os extremistas jihadistas vão se locupletar. Mesmo que coloquem Deus num lugar de grande importância na vida política dos EUA a ponto de, em alguns casos, chegar a declarar que a gravidez resultante de um estupro é uma benção divina — deploram um Islã político que estão decididos a pintar como um inimigo monolítico. Deus, ao que parece, pode ser uma autoridade legítima no Cinturão Bíblico, mas não na Babilônia. De fato, o Islã é mais diverso, graças às culturas onde se desenvolveu e nem pouco mais ou menos suscetível à divisão simplista mocinho/bandido que divide o cristianismo ou o judaísmo. É claro que os radicais gritam mais alto; eles tendem a obscurecer a pluralidade e as sutilezas. A “fé” secular de Miliband é mais do que os salafis, o Tea Party ou os esquadrões de Deus de Putin podem assimilar, mas está alinhada ao “secularismo” religioso de Loffi e seu compromisso dedicado a uma sociedade governada por leis com direitos iguais para todos. É possível ser devoto ou secular na crença de que os “assuntos humanos” são mais bem-administrados aqui na Terra sem a interferência de Deus. A oportunidade nunca foi tão boa no Oriente Médio como agora, depois de tanto vai e vem, de acabar com o modelo binário ultrapassado e criar democracias que não sejam nem islâmicas nem seculares. É como Ali Mohamed, amigo de Loffi, me disse: ‘‘Construir uma democracia não é como cozinhar um ovo”. Não é mesmo; é um trabalho que leva uma geração e exige compreensão e apoio. Em teoria, sociedades como os EUA e Israel, onde a religião tem um papel tão importante, deveriam se posicionar para assumir o desafio  – se as revelações divinas a seus seguidores mais fervorosos forem triviais e se o Oriente muçulmano for finalmente visto não como uma emancipação ocidental, mas como uma evolução islâmica. ‘‘Estamos livres’’, disse Loffi. ‘‘Não importa o que aconteça, a situação nunca vai voltar ao que era.’’ 41


James Hill

O crescimento das grifes globais

A habilidade e a genialidade vão desaparecer se a alta moda for tratada como um negócio qualquer?

SUZY MENKES É a editora de moda do Internatio­ nal Herald Tribune

De arte a mercadoria Luisa Vera

Distribuído por The New York Times Syndicate

E

stamos em 2013, na Chanel, e um grupo de modelos chega com um bolo de aniversário gigantesco, com 30 velinhas, para comemorar o tempo que Karl Lagerfeld está à frente da casa de moda parisiense. Só em sonho! Essa cena nunca aconteceria na vida real por dois motivos: primeiro porque Lagerfeld é a última pessoa do mundo a ficar pensando no passado ou se gabando de suas conquistas. Seus olhos e sua mente estão totalmente voltados para o futuro; além disso, o estilista, que é um dos mais inteligentes e cultos do ramo, conhece a verdade: uma grife comemora suas próprias glórias  – e não aplaude um funcionário temporário, mesmo que seja um profissional leal que lhe dedicou 30 anos de talento. Uma nova atitude, mais comercial, reina sobre o mundo da alta moda. Lealdade, discrição e respeito pelo temperamento artístico dos estilistas são conceitos que simplesmente desapareceram agora que a ideia de “família” que envolvia as casas de moda não existe mais  – sendo substituída pelo clima comercial, competitivo, com nada além de desconfiança entre as grifes, seus CEOs e estilistas, criando um clima em que todos se veem em posição delicada. Tendo que encarar a tarefa (quase) impossível de criar oito (ou mais) coleções por ano, os estilistas têm que submeter sua autoridade e controle, antigamente absolutos, a uma “equipe”  ^e, por melhor que seja o relacionamento entre seus integrantes, têm que se curvar aos executivos que, por sua vez, têm que se submeter à pressão da produção. O resultado é que os estilistas já não são mais a alma de suas grifes; tornaram-se escravos, contratados e demitidos a toque de caixa  – e, às vezes, se veem fora da casa que leva seu nome. É claro que há exceções: na Lanvin, por exemplo, Alber Elbaz parece ter uma relação mais coerente com o dono da marca, o chinês Shaw-Lan Wang, que, há dez anos, deixa seu protegido criar num ritmo próprio. Porém, de modo geral, a mensagem do novo milênio é direta: o criador é hoje; a grife, para sempre. Conforme vão se aproximando os aniversários das casas  – a Moncler e sua clássica jaqueta comemoram 60 anos na Art Basel, em dezembro ‒, o foco é cada vez maior em sua história e seu legado. Os grandes conglomerados e investidores globais sabem que, embora no mundo da moda Christopher Bailey seja sinônimo da Burberry e Lagerfeld, a cara da Chanel, nos mercados emergentes isso é irrelevante. No Extremo Oriente, principalmente na China, o que importa é a grife. O nome Salvatore Ferragamo atrai interesse, mesmo que o famoso designer de sapatos tenha morrido há mais

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Erin Baiano /THE New York Times Valerio Mezzanotti/THE New York Times

A longa parceria de Karl Lagerfeld com a Chanel está se tornando uma raridade numa época em que o consumidor de moda se interessa mais pela grife do que pelo estilista pro trás dela

A arte da alta costura vai desaparecendo conforme o cinismo corporativo substitui o entusiasmo inocente

de 50 anos. Ninguém quer saber de Massimiliano Giornetti, o atual diretor artístico da companhia, que se dedica a ela há 12 anos. Os estilistas hoje são vistos como mercadorias, contratados para ressuscitar casas decadentes e dispensados quando surge um nome mais badalado. Talvez a analogia mais apropriada seja com os esportes profissionais, em que os jogadores/atletas são comprados e vendidos independentemente de seu país de origem. Será que é uma boa decisão tratar profissionais criativos  – basicamente artistas que criam roupas  – de forma tão descartável? O caso de John Galliano, que dedicou alguns dos melhores anos de sua vida Tendo que encarar a tarefa (quase) profissional a Christian Dior impossível de criar oito (ou mais) (enquanto a coleções por ano, os estilistas têm que grife que levasubmeter sua autoridade e controle, va seu nome era tratada antigamente absolutos, a uma “equipe” como um joguinho), deu início a um período de questionamento no mundo da alta moda. Sob a pressão intensa de ter que produzir pelo menos oito coleções por ano, Galliano  – como tantos outros artistas  – precisava de algum tipo de apoio e esquecimento. Durante o julgamento no caso dos imperdoáveis comentários antissemitas (que lhe custaram o emprego, em 2011), o estilista admitiu ter problemas com a bebida. No mundo da moda, há muitos outros segredos “mal guardados” sobre abuso de drogas e álcool. Sem o apoio de uma “família”  – biológica ou de amigos ‒, os estilistas acabam sendo internados na reabilitação ou saem de fininho. Os que permanecem veem seu tempo de criação tolhido por desfiles internacionais, festas e exposições. Para completar, agora têm que se conectar com os “fãs” (leiase clientes em potencial) através do Twitter e

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O crescimento das grifes globais Mathieu Willcocks/ THE New York Times

Enquanto empresas como a Louis Vuitton querem alcançar um público maior, a influência dos estilistas e executivos dos setores de bens ao consumidor assumem o controle

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do Facebook. Os estilistas mais famosos exigem ou pedem o controle da publicidade e da imagem, mas a verdade é que, por mais que tentem manter ambos sob suas rédeas, vai sempre haver prateleiras dos indefectíveis produtos de couro com o nome da grife nas lojas duty-free da vida. E mesmo que queiram se concentrar nas roupas, a empresa está mais interessada no lucrativo mercado de bolsas. A desconfiança e o medo da degola são um problema de mão dupla; afinal, há motivos para os chefões corporativos relutarem em identificar a grife através do estilista, pois ele(a) pode ser atraído(a) por promessas de fortuna ou investimento para lançar sua própria marca. Foi o que aconteceu em 2001, quando Alexander McQueen foi convidado a deixar a Givenchy, depois de cinco anos com a grife do grupo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, para ir para a empresa concorrente, a PPR, que o ajudou a montar sua grife própria. A Balenciaga (de propriedade da PPR, que também possui a Gucci e a Yves Saint Laurent) está passando por um período de mudanças, com Nicolas Ghesquière saindo da casa a que está intimamente associado desde 1997  – pelo menos no universo da moda. Conforme os principais nomes das grandes grifes do século XX foram se aposentando ou morrendo, nomes como Chanel, Dior e Valentino começaram a ser adquiridos por corporações em busca do estilista mais poderoso do momento com o objetivo de reforçar a imagem. Na verdade, a mudança começou com a Chanel, há três décadas, quando Lagerfeld e seu sucesso se tornaram modelo para os muitos estilistas que vieram depois e que assumiram casas abandonadas ou caídas para fazer uma verdadeira faxina. O fato é que o número de fracassos se equipara ao de sucessos; por exemplo, pela Emanuel Ungaro já passou um batalhão de estilistas (com um novo começando na próxima temporada) desde que seu fundador se aposentou, em 2005.

Não há garantias de que ele, ou qualquer outro profissional por trás de uma grande grife, permaneça indefinidamente. Antigamente, os colaboradores de longa data  – como Pierre Bergé na Yves Saint Laurent e Giancarlo Giammetti na Valentino  – eram parceiros nos negócios e na vida particular. Hoje, os executivos da LVMH ou PPR vêm do gerenciamento de produtos. De 2004 a 2011, Robert Polet foi presidente e CEO do Grupo Gucci; era chamado de “o homem do sorvete” porque tinha saído da divisão de congelados da Unilever. A Louis Vuitton, conhecida como “a galinha dos ovos de ouro” do mercado de artigos de luxo, anunciou que, ao final de 2012, Yves Carcelle, o executivo à frente da empresa desde 1990, será substituído pelo espanhol Jordi Constans, ex-vice-presidente executivo do Grupo Danone  – que, obviamente já está sendo chamado de “o homem do iogurte”. Essa nova tendência das grifes de contratar pessoal da indústria de consumo sugere que querem uma expansão tão rápida nos mercados emergentes como a de nomes como Danone, Procter & Gamble e Unilever nas duas últimas décadas. É fácil entender a lógica dessa mudança: saem os executivos que possuem uma profunda compreensão e influência no produto e entram aqueles familiarizados com o marketing global  – afinal, hoje em dia, a distribuição, fornecimento e entrega eficiente (sem falar no gerenciamento do comércio eletrônico e da promoção digital) se tornaram tão importantes quanto o apreço pela qualidade ou a queda pelo luxo. Se o fato que causou toda essa mudança e

o questionamento que se seguiu foi a saída de John Galliano, a longa deliberação na Christian Dior para a escolha do novo estilista foi um exemplo da tendência atual. Depois de muita especulação ao longo do ano e um período de reflexão, o belga Raf Simons foi escolhido como estilista. A decisão reflete bem a visão comercial que toma conta do setor hoje em dia: Simons teve que sair da Jil Sander no início de 2012 para dar espaço para a volta da estilista homônima, que já assumiu o cargo três vezes na casa que fundou, em 1967, mas da qual perdeu o controle executivo. A dança das cadeiras continuou ao longo do ano, com Hedi Slimane, que já foi muito elogiado por seu trabalho na Dior Homme, assumindo a Yves Saint Laurent, onde sua carreira começou. Por sua vez, Stefano Pilati, que era diretor criativo da YSL desde 2004, foi para a Ermenegildo Zegna, a grife italiana masculina de luxo. Será que alguém fora do mundo da moda e do círculo de blogueiros e tuiteiros que dele se alimentam se importa com essas mudanças internas ou sequer percebe a pressão que há sobre os estilistas? Quem está ligado às artes diz que a atitude é a mesma nesse setor: as pessoas criativas vivem sob pressão para produzirem material suficiente para exposições com data marcada; os artistas são obrigados a se transformar em embaixadores globais e uma equipe acaba tendo que produzir em nome do criador. A verdade é que a moda em si, antes um prazer elitista, transformou-se numa mercadoria, seja como roupas baratas ou entretenimento (com o desfile das celebridades no tapete vermelho e exposições em museus). Apesar disso, algo se perdeu nesse universo, onde o cinismo substituiu o entusiasmo inocente. Os estilistas hoje sabem seu valor e exigem pagamento adequado  – ao contrário de Paul Poiret, que viveu uma vida de extravagância e glamour exótico há um século; mão aberta, não tinha a menor noção de construção de marca e morreu pobre em 1944. Os profissionais de hoje usam assessoria jurídica do mais alto nível para garantir contratos adequados; recebem tratamento de primeira, seja em aviões ou limusines, e possuem belas casas e coleções de arte. Um estilo de vida luxuoso é o que os estilistas ganham  – e talvez mereçam  – por dançarem de acordo com a música das corporações e pularem de avião em avião para promover a grife sem ter a chance de absorver a cultura local. Para alguns, esse ritmo de vida é estimulante; para outros, é um peso esmagador. Vamos torcer para que a comercialização dessa forma de arte decorativa que chamamos moda não acabe exigindo um preço alto demais.

A Louis Vuitton, conhecida como “a galinha dos ovos de ouro” do mercado de artigos de luxo, anunciou que, ao final de 2012, Yves Carcelle, o executivo à frente da empresa desde 1990, será substituído pelo espanhol Jordi Constans, ex-vice-presidente executivo do Grupo Danone, que, obviamente já está sendo chamado de “o homem do iogurte”


“O objetivo final é que o paciente seja assistido da melhor maneira e de uma forma mais ágil.”

Dra. Viviane de Oliveira - CRM: 12909 Hospital de Base - DF

SOS EMERGÊNCIAS

É tempo de diminuir a espera.

É TEMPO DE SAÚDE.

Para aumentar a qualidade do atendimento e reduzir o tempo de espera, o Governo Federal, em parceria com estados e municípios, implementou o programa SOS Emergências. São melhorias, como qualificação da gestão, capacitação de profissionais de saúde e diagnóstico para implantação de novas UPAs. As ações do SOS Emergências incluem ainda mais leitos de enfermaria e UTI – 1.100 novas unidades entregues –; priorização do atendimento de acordo com a gravidade de cada caso; modernização dos sistemas de informática e monitoramento online das emergências por câmeras, que são acompanhadas pelo Ministério da Saúde, em Brasília. Todos esses esforços buscam garantir condições ideais para quem precisa e para quem oferece esses serviços, como a doutora Viviane, do Distrito Federal. Em situações de urgência e emergência você pode contar com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Basta ligar 192.

MAIS INFORMAÇÕES, LIGUE 136.

Melhorar sua vida, nosso compromisso. 45


Dave Pratt

A descoberta do bóson de Higgs

As coisas que deixam os cientistas animados – como uma partícula minúscula que custa US$ 10 bilhões para ser localizada, por exemplo ‒ geralmente não significam nada para o resto das pessoas. É hora de os especialistas aprenderem a se comunicar com o público e o público aprender a entendê-los. KATHY SYKES É professora de ciências na Universidade de Bristol

Bóson de Higgs. E daí? Distribuído por The New York Times Syndicate

E

Os anéis de Satur­no e outra­s visõe­s do espaç­o sider­al conqu­istam até aquel­es que detes­tavam ciênc­ias na escol­a

xplicações claras sobre o bóson de Higgs, também chamado de “partícula de Deus”, são tão difíceis de encontrar como ela própria, que finalmente foi detectada em julho  – e, apesar da grande cobertura da imprensa, muita gente ainda não entende seu significado e importância. E isso faz diferença? Faz, sim. A ciência tem um impacto profundo na sociedade, influenciando culturas, vidas e economias. Os cientistas podem estar tentando criar uma nova vida, melhorar o desempenho de nosso cérebro e nosso corpo, criar novos materiais ou avaliar as mudan-

ças climáticas, não importa, somos todos afetados. Por isso, precisamos entender o trabalho deles. Quando há países ao redor do mundo gastando US$ 10 bilhões para procurar o bóson de Higgs, todos nós temos o direito de saber em que esse dinheiro está sendo usado e como podemos nos beneficiar. Os problemas econômicos fazem com que esse tipo de gasto seja difícil de justificar; assim, os cientistas precisam explicar muito bem o valor potencial de seu trabalho se quiserem continuar sendo financiados. O principal argumento para que o governo continue investindo em pesquisas básicas  – motivadas por curiosidade, sem nenhum impacto à vista  – é que as descoAndre­w Counc­ill para The New York Times

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bertas passadas acabaram sendo aproveitadas para melhorar a nossa vida. As pesquisas sobre mecânica quântica, na primeira metade do século XX, foram motivadas por curiosidade. Os cientistas queriam explicar o comportamento das partículas subatômicas (como elétrons, fótons e quarks) que compõem todos os tipos de matéria. Graças à sua exploração, pudemos chegar à tecnologia do mundo moderno: transistores e microchips, celulares e computadores, laser e aparelhos de tomografia. A descoberta de uma nova partícula, décadas depois que ter sido prevista por Higgs, preenche uma lacuna fundamental no entendimento do universo. Sabe-se lá aonde isso pode nos levar? Há também o prazer da ciência em si. O ser humano é curioso. Em todos os cantos do mundo as pessoas se perguntam sobre o funcionamento e a origem do cérebro e do corpo, da Terra e do universo. Mesmo que você tenha detestado ciências na escola, pode se maravilhar com a beleza dos anéis de Saturno vistos pelo telescópio, ficar fascinado com o frenesi das formigas trabalhando ou imaginar como se forma um raio. A capacidade de formular perguntas, mesmo sem saber a resposta, observar e testar o resultado encontrado são habilidades que nos ajudam a viver  – e combinadas a uma cabeça aberta para esperar o inesperado, são as características principais de um cientista. Na última década, os especialistas da Cern, a Organização Europeia para Pesquisa Nuclear onde o colisor foi montado e a partícula foi finalmente detectada, melhoraram sua relação com o público  – e até criaram um rap que se transformou em viral, com frases como “as coisas que ele revela vão acertar a sua cabeça”, e animações engraçadas para explicar as noções de física de seu trabalho. Sua pesquisa ganhou grande atenção da imprensa, mas, mesmo assim, poucos deles conseguiram transmitir com clareza o significado daquele projeto. Cientistas em geral são seres otimistas e imaginam apenas os benefícios que suas descobertas podem trazer, mas a ciência nem sempre leva a coisas boas. A decisão a respeito do uso da ciência não deveria ficar a cargo de cientistas e políticos; quem trabalha de perto num tópico, cercado de pessoas na mesma situação e com pontos de vista semelhantes, geralmente se esquece de fazer as perguntas mais básicas. São os leigos que


CERN vía The New York Times­

A busca pelo bóson de Higgs levou a um grand­e anúnc­io há algun­s meses­, mas o que ele realm­ente quer dizer­?

Cientistas em geral são seres otimistas e imaginam apenas os benefícios que suas descobertas podem trazer, mas a ciência nem sempre leva a coisas boas

Richa­rd Lilla­sh

sugerem formas de tornar os impactos da ciência mais aceitáveis e imparciais e detectam os problemas que possam surgir. É por isso que os cientistas e o público precisam se comunicar. Sociedades e cidadãos precisam compreender a ciência o suficiente para definir quais os projetos que são bem-vindos e quais precisam de cautela e monitoramento constante. Precisam ajudar a fazer com que as perspectivas de benefícios da ciência melhorem a vida de todas as pessoas e não só a dos ricos. Esse caso aconteceu no Reino Unido, em 2008, durante discussões sobre como novas substâncias chamadas “nanomateriais”, feitas de matéria numa escala semelhante a dos átomos, podiam ser aplicadas à medicina. Em um debate público organizado por um grupo científico, um grupo bastante diverso de leigos analisava os projetos que deveriam ser custeados. Durante vários meses, estudaram várias propostas e discutiram suas opiniões com os pesquisadores. Os cientistas ficaram animados com os “teranósticos”, através dos quais dispositivos implantados no paciente poderiam diagnosticar e tratar a doença nas pessoas automaticamente, dando insulina para a diabete, por exemplo. Os leigos se mostraram os menos entusiasmados porque achavam que as pessoas precisam se manter no controle de sua saúde, aprendendo como o corpo se comporta, para poderem monitorar e controlar suas doenças em vez de serem cuidados por máquinas. Também se mostraram menos empolgados em relação ao desenvolvimento de nanomateriais a serem usados em hospitais como superfícies autolimpantes. Eles só queriam boas regras de higiene e hospitais limpos. O que os entusiasmou foram as sugestões de novas formas de prevenção de doenças e diagnósticos precoces. Os cientistas e investidores não tinham pensado nessas questões. No fim, foi um grupo de cientistas que decidiu quais propostas seriam financiadas  – e não foram aquelas sobre as quais os representantes do público manifestaram preocupação ou dúvida. Os especialistas, instigados por uma questão da imprensa, criança ou adulto, podem abrir uma nova área de pesquisa ou debater um conceito bem estabelecido. Meu colega Paul Valdes, professor de modelagem de clima da Universidade de Bristol, conta que uma questão da imprensa o fez criar um método completamente novo de modelagem de climas passados que já havia resultado em cinco artigos e novas parcerias. Durante minha pesquisa de doutorado, estudando um plástico biodegradável espantoso feito por bactérias em vez de petróleo, um grupo de cientistas norte-americanos descobriu que poderia fazer com que plantas crescessem nele. Colocaram dois genes diferentes da bactéria em duas plantas e as “acasalaram”. O resultado foi o crescimento de pequenos nódulos de plástico em suas folhas. Isso foi em 1995, muito antes das preocupações do público com as sementes geneticamente modificadas. Nenhum cientista das várias disciplinas ou países que participaram das conferên47


A descoberta do bóson de Higgs Peter Zeray para the New York Times­

Os cient­istas que fizer­am pesqu­isas sobre a eletr­icida­de no sécul­o XIX não sabia­m que sua curio­sidad­e resul­taria em inven­ções que se torna­riam parte do nosso dia-a­-dia

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cias a que assisti sobre o tema questionaram se aquela era uma boa ideia. Todo mundo estava empolgado demais com a perspectiva de tornar o plástico mais viável economicamente. Comecei a pensar no fator “e se…” quando uma mulher, numa das palestras que eu ministrava, perguntou o que aconteceria se os genes que fizeram as plantas desenvolver plástico fossem enxertadas com outras espécies. Naquele momento, percebi a importância de manter uma perspectiva mais ampla sobre o meu trabalho e a ciência em geral. Entre os diferentes usos para esse plástico, vendido com o nome de Biopol, incluem suturas internas que são biodegradáveis. Por que o bóson de Higgs é importante? Encontrar a partícula era descobrir a peça essencial que faltava para entender por que as coisas são como são. Os cientistas não sabiam bem por que as partículas têm massa. Você pode não ligar para isso, mas, da mesma forma que aconteceu com o entendimento da mecânica quântica, a resposta tem uma grande influência na forma de os cientistas encaram algo tão fundamental sobre a massa, os blocos de matéria, os blocos de que somos feitos, os planetas e as estrelas. Deve afetar a nossa vida diária, só não sabemos ainda como. Peter Higgs sugeriu que a massa pode ser explicada através de um novo elemento, que seria o bóson de Higgs. Algumas das partículas fundamentais que compõem o universo praticamente não a “sentem”, pois passam voando sobre ela, o que significa que têm pouca ou nenhuma massa; outras, que a “sentem” melhor,

têm massa maior. Encontrar o bóson significa comprovar esse entendimento. Se removermos tudo de uma área do espaço, ainda assim o bóson de Higgs permanece. Ele está em todo lugar, mas não só mais uma partícula no “zoológico” das partículas subatômicas; é ele quem dá massa a todas elas. Se aumenta a massa de uma, aumenta de todas. Estava presente frações de segundo depois que o universo foi criado. É a partícula inicial que, de certa forma, define todas as outras. Talvez seja por isso que o vencedor do Prêmio Nobel, Leon Lederman, o chamou de “partícula de Deus”. O bóson soluciona um grande mistério na compreensão fundamental do universo. É incrível que tenha sido previsto há quase 50 anos. Os cientistas não puderam provar sua existência na época, mas achavam que ele estava ali, já que havia sugestões matemáticas sobre o fato: para manter a simetria das equações que descreviam as partículas, era necessária uma outra, nova e totalmente diferente de tudo o que já se tinha observado. Parecia uma ideia maluca; na época, muitos acharam mesmo que era. O conceito de simetria parece quase romântico, mas parte da beleza da física é que a matemática pode revelar segredos e a busca pela simplicidade e equilíbrio pode ser o meio mais eficiente de descobrir o que acontece, não só aqui na Terra, mas em todo o universo. É arrepiante pensar que, com toda a confusão da vida e da existência, algumas equações elegantes podem transcender o tempo e o espaço.

QUER ENTENDER UM POUCO DE CIÊNCIA, MAS PARECE MUITO COMPLICADO?

1

Acredite que se a explicação foi clara o bastante, você pode entender. Não se deixe levar por aqueles que acham “complexo demais”. Faça perguntas até compreender.

2

Alguns sites podem ajudar. Dê preferência aos mais visitados, mas verifique as credenciais de quem dá as explicações. Por exemplo, as explicações mais claras sobre o Higgs que eu encontrei foram as de Derrick Pitts, astrônomo do Franklin Institute da Filadélfia, do noticiário da NBC e de Don Lincoln, físico da Fermilab.

3

Vá à imprensa, local ou nacional, e peça explicações científicas, principalmente de um projeto como o Higgs; isso pode dar aos editores e produtores que também tiveram dificuldade de compreender motivação para cobrir a história novamente.

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Entre em contato com as agências de investimento em projetos como esse e diga que quer explicações científicas sobre os projetos que está ajudando a financiar.


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Aqui estão cinco, para começar. A Codemig e o Governo de Minas querem que você conheça o ambiente ideal de negócios, inovação e eficiência: Minas Gerais, seu melhor investimento.

Minas cresce com a gente.

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Rodrigo Clemente/O Tempo

Os desafios do Estado em 2013

Em meio a um cenário internacional de incetezas no campo econômico, Minas Gerais aposta na instalação de empresas de tecnologia de ponta e na capacitação da mão-de-obra como fatores diferenciais para os próximos anos. A Copa das Confederações e a Copa do Mundo também são consideradas grandes oportunidades para atrair investimentos. ANTONIO ANASTASIA Governador do Estado de Minas Gerais

No povo, onde Minas faz a diferença

O

daram. A implantação do Plano Real pode ser encarada como um divisor de águas. A espiral inflacionária dos anos que o precederam criou uma receita irreal. Com os preços estáveis, os entes federados se viram desnudos diante do espelho e de desafios a serem enfrentados. Se o dragão da inflação estava sendo domado, os monstros da falta de perspectivas tiravam o sono daqueles que tinham responsabilidade com os destinos do país. Há alguns anos, Minas já acordara para essa realidade. O Choque de Gestão, implantado em 2003, teve como objetivo retomar as ideias e as práticas do planejamento de médio e longo prazos, ao mesmo tempo que propunha ações imediatas para solucionar problemas históricos. Figurativamente, era como mudar um plano de voo já com o avião no ar, consertar avarias e chegar ao destino com segurança e tranquilidade, mesmo que Aqui, a gestão pública sempre foi o patinho feio, sempre ficou passando por turbulências. Assim, o termo Choque de escondida na periferia das questões relevantes do dia a dia da política. Gestão não foi uma escolha No mundo político relevante brasileiro, poucos imaginavam que a gestão aleatória. Tinha razão para pública, em algum momento, devesse ter papel de prestígio isso. A situação era tão dramática, tão grave que se não tivéssemos dado tal choque, certamente - em razão da queda de sua autoestima, pela ausência absoluta conjunturais, de forma que estas não se de recursos para investimentos, pela falta de transformem em crises estruturais. Esse placredibilidade - não teríamos condições de nejamento é um dos alicerces de uma gestão restaurar a majestade, a integridade, a honpública eficiente e que persegue resultados rabilidade, as condições de investimento, de tangíveis ou não para a sociedade, a quem prestígio que um Estado tão importante como deverão ser dirigidos todos os esforços do Minas Gerais não pode prescindir. administrador público, por ser ela a responSem presunção, podemos garantir que, sável e o fim da existência do estado. num tempo relativamente curto para o EstaA Coreia, por exemplo, após sair de uma do, mas, provavelmente, longo para aqueles guerra, conseguiu construir o que é hoje setores mais carentes, Minas Gerais conseuma das principais economias do mundo, guiu, nos últimos anos, dar um salto qualitagraças a um projeto de longo prazo, onde tivo. O equilíbrio das contas públicas abriu a educação era o principal alicerce. Entrecaminhos para a reinserção do Estado no tanto, no Brasil, esse pensamento não precircuito internacional das agências multilavaleceu. Aqui, a gestão pública sempre foi terais de fomento, conseguindo captar reo patinho feio, sempre ficou escondida na cursos para financiar projetos estruturantes periferia das questões relevantes do dia a e para atender áreas vitais. Simultaneamendia da política. No mundo político relevante te, foram feitos investimentos em educação, brasileiro, poucos imaginavam que a gestão saúde, infraestrutura, que melhoraram os pública, em algum momento, devesse ter indicadores e, mais do que isso, puderam papel de prestígio. ser sentidos pela população, haja vista os Entretanto, os ventos – felizmente – muprocesso de interação e interrelação social, econômica e política mundial tem conduzido os países e, consequentemente, as suas comunidades a refletirem sobre seu papel e como se inserem no mundo. Não foi com o advento de tecnologias modernas e de massa que o mundo se globalizou. Elas apenas aceleraram o processo de circulação da informação, fazendo com que os efeitos – positivos ou devastadores – de qualquer medida, acidente ou incidente se façam sentir de maneira quase imediata nos rincões mais remotos do planeta. Há muito, países diversos, especialmente aqueles que mais se desenvolveram social e economicamente, tiveram no planejamento de médio e longo prazos eficientes antídotos para reduzir os impactos das crises globais

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resultados do Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) e a redução na taxa de mortalidade infantil. Foram quebradas resistências e cânones, dando ênfase à premissa de que era preciso gastar menos com o Estado e mais com o cidadão. Minas saiu na frente e, pioneiramente, criou todo o arcabouço legal para a contratação por meio de Parceria PúblicoPrivada (PPP). Ao mesmo tempo, conseguiu retomar o relacionamento com organismos, como os bancos Mundial e Interamericano de Desenvolvimento, recuperar sua capacidade de investimentos e, assim, pleitear recursos para projetos fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico. Nesses dez anos, muito caminhamos, mas com a consciência de que há ainda muita estrada a percorrer. Minas Gerais tem sido um dos Estados que, proporcionalmente, mais tem gerado empregos no país. No campo social, temos outros resultados muito concretos, já tendo, por exemplo, cumprido sete dos oito Objetivos do Milênio, desafios estabelecidos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em áreas como saúde, meio ambiente, educação, igualdade de direitos e combate à miséria. Se o mundo tem até 2015 para reduzir em 50% o número de pessoas pobres e miseráveis, alcançamos esta meta em 2006.


GEORGES DUARTE

Enquanto a ONU exige que se atinja a igualdade entre os sexos e a garantia da autonomia da mulher daqui a três anos, em Minas Gerais, já em 2009, o tempo de estudo das mulheres era de 8,3 anos contra 7,8 anos entre os homens. Estamos na terceira geração do Choque de Gestão, que é a Gestão para a Cidadania, cuja principal meta é ter a sociedade como partícipe e corresponsável na execução das políticas públicas, não apenas mera receptora. Se através do Estado para Resultados é possível implantar uma escola nova com equipamentos, ginásio, laboratório ou biblioteca, e se faz o concurso e contrata os professores, os pais precisam saber que eles têm que participar. Não adianta só colocar o filho para estudar. Tem que ter participação, crítica, acompanhamento. A comunidade não pode depredar aquela escola, pois ela é um patrimônio que pertence a todos. Essa ideia da participação cidadã se torna o grande desafio. Não pode haver um divórcio entre o poder público e a sociedade. Daí a importância de que as pessoas percebam que a participação, que a definição, em conjunto com o Estado, das políticas públicas é o caminho mais curto para que consigamos avançar de forma mais rápida. Assim, mais fácil se tornará vencer os desafios e alcançar objetivos. E desafios e obje-

tivos não nos faltam para os próximos anos. Mas com criatividade e responsabilidade serão vencidos ou alcançados, mesmo sob uma conjuntura externa não muito propícia. Afinal, estamos, nos últimos anos, trabalhando para reduzir os impactos negativos provocados por fatores externos adversos. Minas Gerais está inserida na rota do desenvolvimento. Lideramos a produção de minério e café, entre outros. Somos os principais exportadores brasileiros de nióbio, ouro em barra e silício. Temos vocação e potencialidades. O mineiro sabe receber como ninguém e tem o que mostrar: cultura, belezas naturais, arte. Aqui, o turista encontra opções variadas de lazer, visitar um rico período da história, conhecer uma culinária ímpar. Nos próximos anos, eventos como a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão oportunidades para mostrar ao mundo uma Minas por muitos desconhecida, para darmos ao nosso Estado uma dimensão internacional. E capital para isso, estou convencido, temos de sobra. É com seu povo que Minas faz a diferença. Orgulho-me de poder dizer a potenciais investidores externos que temos aqui o ativo mais importante de todos, que é a qualidade de nossa gente, o capital humano mineiro. É esse capital humano que tem se desenvolvi-

Essa ideia da participação cidadã se torna o grande desafio. Não pode haver um divórcio entre o poder público e a sociedade. Daí a importância de que as pessoas percebam que a participação, que a definição, em conjunto com o Estado, das políticas públicas é o caminho mais curto para que consigamos avançar de forma mais rápida

do e servido de diferencial para que nós tenhamos aqui empresas inovadoras. Nessa linha, o desafio é prosseguir na mudança do perfil da economia mineira, procurando agregar valor aos produtos, buscar investimentos com alto conteúdo tecnológico, como os da SIX Semicondutores, em Ribeirão das Neves, da unidade de Case New Holland (CNH), em Montes Claros, ou da unidade da Mitsui, para produção de plástico obtido a partir da cana de açúcar, de Santa Vitória. Dessa forma, fazer girar o círculo virtuoso: emprego de qualidade – mais renda – mais oportunidade – mais pesquisa – mais produtos – mais investimento – mais emprego. Enfim, uma Minas Gerais que se transforme, num espaço não muito longo de tempo, no melhor dos estados para se viver e investir. 53


daniel Iglesias/O Tempo

as Oportunidades para os próximos 20 anos

Ambiente de maior segurança para os investidores apresenta perspectivas favoráveis em termos mercadológicos em uma série de setores econômicos

OLAVO MACHADO Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Fiemg

A hora é do Brasil. O lugar é Minas! vale/Divulgação

Minas tem relevantes vantagens nos setores que atuam no processamento de minérios

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O Brasil é o país preferido por investidores de todo o mundo, destacando-se como o quinto maior receptor mundial de inversões diretas estrangeiras. Em 2010, recebemos 3,9% do total mundial e em 2011 chegamos a 4,4%, superando US$ 60 bilhões, conforme dados do Banco Central do Brasil. Nosso país, cada dia mais, vem criando um ambiente de maior segurança para os investidores,ao mesmo tempo em que apresenta perspectivas extremamente favoráveis em termos mercadológicos em uma série de setores econômicos. Somos uma democracia consolidada, que avança nos seus fundamentos macroeconômicos. Dispomos de uma regulação bancária que permitiu ao país mitigar riscos no seu sistema financeiro, mesmo em cenário de grave crise econômica internacional. Naturalmente que precisamos avançar ainda mais institucionalmente, buscando, especialmente, maior estabilidade de regras e no respeito às relações contratuais, reforçando um ambiente de negócios amistoso e seguro para atrair os investidores nacionais e internacionais. Vivemos um cenário de alto crescimento do emprego, renda e crédito, com elevado efeito positivo sobre uma série de mercados de consumo. Desde o lançamento do Plano Real, em 1994, até hoje, o rendimento médio no Brasil cresceu 4,5% ao ano. A taxa de desemprego reduziu-se de quase 14% em 1994 para menos de 6% em 2012. Este processo incorporou 32 milhões de brasileiros ao mercado consumidor e mais 36 milhões deverão se juntar a eles até 2014, nas classes A, B e C, segundo projeções do Ipea.

Neste cenário, o crédito total superou 50% do PIB e o crédito ao consumo saltou de pouco menos de 3% para quase 16%. Com esses resultados, o Brasil passou a ocupar espaços importantes: somos o quarto maior mercado mundial na venda de veículos automotores; o terceiro na venda de computadores; o quarto na venda de passagens aéreas. Temos a segunda maior frota de aviões executivos do mundo e, em maio de 2011, o país atingiu 215 milhões de celulares em operação. Entre muitos, outro segmento ligado ao consumo que surpreende positivamente é o mercado de TI, que vem sendo estimulado pela grande massa de internautas brasileiros. A Fundação Getúlio Vargas e a Ernst & Young consideram que o Brasil crescerá 3,8% ao ano em termos médios e saltará da 8ª posição para a 5ª em termos do tamanho do seu mercado consumidor. De um consumo calculado em US$ 1,06 trilhão em 2007, o Brasil verá seu mercado consumidor crescer mais de 150% até 2030, atingindo valor estimado de US$ 2,5 trilhões. Não há dúvidas, portanto, de que o Brasil é hoje uma das melhores oportunidades de investimento do mundo – por suas perspectivas econômicas, políticas e mercadológicas.

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais trabalha para que o Estado se aproprie desse cenário favorável. Com esse objetivo, temos contratado estudos de importantes consultorias nacionais e internacionais – entre elas a Accenture e o GUD – Global Urban Development (EUA). O que visamos é identificar oportunidades em nosso mercado para o segmento industrial nos próximos 20 anos. A Fiemg também está investindo na inovação e no desenvolvimento de tecnologia, com apoio do governo do Estado e suporte da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), que, com o apoio do governo federal, financia, em nosso Estado, a instalação de Centros de Pesquisa e Inovação. No caso de Minas Gerais, o exemplo mais emblemático é o do Cetec/Senai. Já contratamos o Instituto Frauhoff, da Alemanha, que com a participação do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e apoiados pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT,) formata nossos institutos de Tecnologia de Aços Especiais, Mineração, Siderurgia e Metalurgia. Novos institutos também estão sendo criados para apoiar o desenvolvimento de projetos de agregação de valor nas cadeias produtivas de alimentos, biotecnologia e meio ambiente. Toda essa estruturação será feita em conjunto e com a participação das nossas grandes empresas industriais e também com empresas internacionais. A Embraer já se encontra instalada no campus Cetec/Senai, com a presença de 150 engenheiros desenvolvedores de novos produtos. No setor elétrico, onde temos uma das mais importantes empresas de energia do país – a Cemig –, vamos instalar, com o apoio da própria empresa, o maior laboratório de pesquisa, teste e desenvolvimento de equipamentos elétricos e eletrônicos da América Latina. Nosso objetivo é consolidar, no Estado, o melhor conjunto de empresas dedicadas ao setor elétrico, inclusive de smartgrid e cidades sustentáveis. O detalhamento e desenvolvimento da engenharia desses projetos contam com a participação efetiva do Laboratório Kema (EUA), nos quais serão investidos pelo Sistema Fiemg, por meio do Senai, e empresas parceiras, mais de US$ 120 milhões. Para a implantação desse projeto, vamos convidar pesquisadores brasileiros e internacionais para trabalhar em conjunto com as empresas industriais que nos apoiam. Quando analisamos os setores onde se registram os principais investimentos em projetos greenfield no Brasil, observa-se alto predomínio das inversões realizadas no setor industrial. Os investimentos nos últimos quatro anos – 2008/ 2011– responderam por 72%

Precisamos avançar ainda mais institucionalmente, buscando, especialmente, maior estabilidade de regras e no respeito às relações contratuais, reforçando um ambiente de negócios amistoso e seguro para atrair os investidores nacionais e internacionais


o ministério da cultura e O Minas Tênis Clube apresentam o novo espaço cultural para os sócios e para a cidade.

Sentir o aroma dAs palavras. É possível?

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Para fundos escuros, é permitido o uso das versões com letras brancas sem moldura, além das versões com a moldura branca de proteção e letras em suas cores originais.

Marca da Lei de Incentivo à Cultura

Teatro Bradesco. Só sentindo. Início da programação: março/2013. Assinatura do Ministério da Cultura, sempre acompanhada da marca do Governo Federal

• Para detalhes sobre a aplicação e o uso da marca do Governo Federal, consulte o manual

USO DAS VERSÕES DA MARCA EM FUNÇÃO disponível no sítio da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República DAS CORES DO PROJETO E SUA LEGIBILIDADE (Secom-PR) – http://www.secom.gov.br/sobre-a-secom/patrocinio/manuais

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Setor elétrico vai receber laboratório de pesquisa, teste e desenvolvimento de equipamentos elétricos

das inversões totais no período. Dentro do setor, predominaram os investimentos nos segmentos de alimentos e bebidas (7,3%), metalurgia (39,9%), máquinas e equipamentos (2,7%) e material de transportes, que respondeu por 12,5% dos investimentos diretos realizados no Brasil no período 2008/2011. Esses, exatamente, são os segmentos onde a indústria de Minas Gerais se destaca no cenário nacional, comprovando haver uma série de fatores que tornam o Estado altamente atrativo e competitivo. Nesses segmentos, o Estado apresenta importantes vantagens comparativas, o que é confirmado pela liderança nesses mercados: 44% da produção brasileira de minério de ferro; 40% do aço produzido no Brasil; 27% da fundição e 28% da produção nacional de cimento. Esse predomínio de Minas nos setores que atuam no processamento de minérios diversos mostra que o Estado tem relevantes vantagens comparativas nessa área. Minas Gerais abriga a maior concentração e variedade de riqueza mineral do mundo, destacando-se as reservas de ferro, ouro, zinco, nióbio, calcário, bauxita e os chamados metais de terras-raras utiliza-

dos na produção de tablets, carros elétricos, celulares, computadores e televisores. As mesmas vantagens comparativas de Minas Gerais estão presentes também no agronegócio. É importante registrar, contudo, que essas vantagens comparativas guardam uma relação direta com a inovação de processos, de forma a elevar a produtividade do trabalho e do capital. Minas quer, sim, mais investimentos, mas também busca – e é nessa direção que trabalhamos – a inovação e a tecnologia para agregar valor aos nossos produtos primários, dentro do próprio Estado. Em recente encontro nos Estados Unidos, onde fomos para discutir economia e mostrar as vantagens comparativas de Minas Gerais, pude constatar que os estudiosos do nosso país ainda insistem em destacar nossos indicadores que, efetivamente, são ainda deficientes quando considerados na média. No entanto, os números de Minas impactam a média nacional para melhor. As informações apresentadas pela nossa Secretaria de Desenvolvimento Econômico mostram uma realidade positiva, que são motivo de orgulho para qualquer lugar do mundo, inclusive para os Estados Unidos. Certamente insistem em focar números 56

Minas Gerais abriga a maior concentração e variedade de riqueza mineral do mundo, destacando-se as reservas de ferro, ouro, zinco, nióbio, calcário, bauxita e os chamados metais de terras-raras

médios para desvalorizar nossos ativos e criar espaço para exigências que não fazem em outros países. Diante desta estratégia, compete a nós – mineiros e brasileiros – nos prepararmos para negociar soberanamente, criando melhores condições de infraestrutura e segurança jurídica. Isso feito, seremos imbatíveis. Vale dizer: além da extração de minerais e produção agropecuária, a meta de Minas Gerais deve e precisa ser, cada dia mais, elevar a agregação de valor aos bens nos quais temos vantagens comparativas naturais e insuperáveis. Minas Gerais busca, portanto, um gradual e permanente processo de transformação da atividade produtiva na direção de maior agregacemig/Divulgação ção de valor aos seus produtos minerais e agropecuários. Avançando nesse caminho, hoje Minas Gerais já transforma parte do minério que produz em aço e do aço fabrica 15% dos carros brasileiros, além de caminhões, autopeças e veículos ferroviários. Temos, em Minas, a única fábrica da GE Transportation no Brasil, para fabricar locomotivas de grande porte. E o Estado é também responsável por 15% da produção nacional de máquinas e equipamentos voltados à mineração e metalurgia, além de possuir a única fábrica de helicópteros da América Latina. Também podemos oferecer aos investidores as oportunidades presentes na cadeia metal-mecânica, que, a cada dia, agregam mais inovação e tecnologia aos produtos, inclusive para a exploração do pré-sal. A esta realidade se soma a forte expectativa da exploração de gás não convencional no Norte de Minas. Há, ainda, boas oportunidades para a instalação de empresas que se dediquem à exploração de novas formas de energia renovável. Diante de tantas vantagens comparativas, podemos afirmar que os investidores com planos voltados para os segmentos extrativo, automotor, metal-mecânico, material elétrico, siderurgia, metalurgia e agronegócios devem, necessariamente e obrigatoriamente, incluir Minas Gerais em seus projetos. Nosso interesse é estimular um amplo processo de diversificação da estrutura empresarial e econômica do Estado na direção de setores intensivos em conhecimento e tecnologia. Nessa trajetória, entendemos que a busca por parcerias estratégicas nas áreas da biotecnologia, eletroeletrônica e tecnologia da informação e comunicação, entre outros setores,

podem ser promissoras. Afinal, o Estado tem sido muito bem-sucedido em projetos nestes segmentos. Também precisamos, cada vez mais, de profissionais, mestres e doutores que, com a inovação e desenvolvimento de tecnologia, tragam novas oportunidades e horizontes para nossa indústria. Nessa direção, estamos nos preparando para que um número crescente de jovens use as bolsas e incentivos dos programas da CNI e do governo federal. Indo além, precisamos criar condições para que brasileiros já capacitados, e atualmente no exterior, regressem ao país, para trabalhar aqui, visando o desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil. Muitas empresas já vieram em busca das oportunidades existentes em Minas. A Google mantém, há sete anos, o escritório da empresa em Belo Horizonte, que opera como um dos principais centros de desenvolvimento de projetos em toda a América Latina, em ampla sintonia com a nossa universidade. A Fiat criou em sua fábrica de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, o Polo de Desenvolvimento Giovanni Agnelli, com centenas de engenheiros e técnicos dedicados à pesquisa e desenvolvimento na área automotiva. Na verdade, a integração universidade/ empresa constitui objetivo visado por Minas e empresas para adensar o capital intelectual e a infraestrutura educacional como fatores de competitividade, utilizando as vantagens comparativas de que dispomos – temos, em Minas Gerais, 14 universidades públicas. Nessas universidades, estamos avançando no desenvolvimento de atividades de P&D, bem como de inovações para atendimento ao setor produtivo, cabendo acentuar que, no período 2000/2011, somente a UFMG depositou 418 patentes no INPI. Para novos projetos e investidores – e também para as empresas que aqui já se encontram – além do Cetec Senai, contamos com o importante e decisivo apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), que, além da disponibilização de recursos não só para a academia, mas também para as empresas, promove e apoia sua interação com a indústria local. Estamos, também, concluindo a reestruturação do Cetec. A partir de janeiro próximo – por determinação do governador Antonio Anastasia e com a dedicação empenho do secretário de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues –, a instituição atuará para identificar e disponibilizar as mais modernas formas de conhecimento, inovação e tecnologia para a indústria mineira. Enfim, Minas Gerais está pronta para receber investidores interessados em aproveitar e usufruir das oportunidades que oferece, construindo parcerias que tragam tecnologia e gestão para o Estado. Buscamos, em essência, investimentos de qualidade, que contribuam para a promoção do crescimento econômico e a melhoria das condições ambientais e socioeconômicas do nosso Estado. Estamos preparados para replicar emblemáticos “cases” de sucesso, como os da Fiat, GE Transportation e Helibrás, que vêm desenvolvendo em Minas Gerais um parque de fornecedores cada vez mais qualificado e ampliando o conteúdo nacional em produtos de qualidade mundial. Sem dúvida, a hora é do Brasil. E o lugar é Minas.


Os avanços tecnológicos nos últimos 50 anos geram efeitos sem similaridade na história humana, na rapidez e na profundidade das mudanças de valores. O potencial da mente humana expande as relações econômicas de forma integrada em todo o globo, tornando o desenvolvimento sustentável prioritário. Países emergentes, como o Brasil, ocupam novo papel na geopolítica mundial. As cidades recebem novo olhar. Nova Lima, uma cidade referência como centro de atração de investimentos, nos indicadores de educação básica e responsabilidade social, busca o desenvolvimento investindo no capital humano, compartilhando nossa cultura e nossos valores.

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Cortesia de Raquel Perez/ NYT Syndicate

A visita do Papa Bento XVI a Cuba

Há muito a Igreja Católica se dedica a ações sociais e humanitárias e sua influência em Cuba, que até recentemente era um país ateu, está crescendo.

CARDEAL JAIME ORTEGA Arcebispo de Havana. Arcebispo de San Cristóbal de la Habana desde 21 de novembro de 1981.

Cuba evoluiu e o papel da Igreja também

o ataque na Baía dos Porcos, o embargo comercial dos EUA, as guerras na África e a proximidade do governo cubano de mourante o voo para o México, na vimentos revolucionários de outras nações mesma viagem que o levaria a (especialmente na América Latina, onde Cuba, no fim de março deste ano, eles se alastraram); essas eram as histórias Bento XVI disse a um jornalista: que nos colocavam no noticiário. Também “É óbvio que a ideologia marxista, como foi é bastante conhecido o conflito longo e cusconcebida, hoje já não corresponde à reatoso com os EUA que, às vezes, parece ser lidade; não é mais possível reagir ou consa causa, outras a consequência de todos os truir uma sociedade dessa forma. É preciso problemas mencionados acima. encontrar novos modelos, com paciência, Entretanto, desde abril de 2010, um de forma construtiva.” novo capítulo começou a ser escrito em O papa  – um teólogo, homem sábio e nossa história recente e notado no exterior: analítico, que entendeu e vivenciou os granfoi quando enviei uma carta a Raul Castro des eventos que sacudiram a Europa no úlexpressando minha rejeição pessoal e da timo século  – queria estar conosco em seu Igreja à oposição do governo às mulheres Ano Jubilar para comemorar os 400 anos dos prisioneiros políticos, conhecidas como as “Damas de Branco”, que se reuniam depois É verdade que houve conquistas sociais importantes, mas também muito da missa, todos os dosofrimento; racionamentos e confrontos; excessivas limitações à liberdade e mingos, na porta da frustração. Durante anos, a Igreja, tanto em público quanto em particular, Igreja de Santa Rita, em Havana. pediu às autoridades que pusessem em prática as mudanças necessárias para O resultado foi uma melhorar a vida da população para que ela realizasse todo o seu potencial resposta verbal positiva vinda do presidente. Em fevereiro de 2008, junto com os bispos de Cuba, eu o da presença de nossa santa padroeira, a Vircumprimentei rapidamente quando ele regem da Caridade, em nossa terra. Ele tamcebeu o secretário de Estado do papa, o carbém sabia que estava visitando Cuba num deal Tarcisio Bertone, que estava em Cuba momento único de nossa história. para presidir vários eventos e comemoraSuas palavras, pronunciadas dias antes ções do 10º aniversário da inesquecível viside sua recepção, não foram rejeitadas pelo ta de João Paulo II. Alguns meses depois, em governo  – o mesmo que, presidido por Raul novembro, nós nos encontramos de novo, Castro desde 2008, iniciou uma nova etadessa vez em Camagüey, para a cerimônia pa na vida do país. Aplicou várias reformas de beatificação do frei José Olallo Valdes, líeconômicas e sociais que sugerem que, de der religioso do século XIX que dedicou sua fato, as propostas socioeconômicas nascivida a servir os pobres e doentes da cidade. das durante o marxismo, baseadas numa A presença do novo chefe de Estado sugeria concepção materialista do mundo e do houma nova abordagem não só em relação à mem  – que não oferecem nenhum ponto de necessidade de mudanças socioeconômicas, referência transcendentes, estabelecendo mas em relação à Igreja. limites que não apoiam e são contraproduPorém, o passo mais significativo e centes à liberdade humana  – não funciotransformador desse relacionamento com a nam em Cuba. Igreja foi a resposta positiva de Raul Castro Nos últimos dois anos ocorreram alguns à minha carta de abril de 2010, na qual me eventos em nosso país que chamaram a disse que tinha posto fim às ações contra as atenção internacional de uma nova maneimulheres e familiares dos prisioneiros e deira. Desde 1959 e o triunfo da revolução poxado claro seu desejo de ouvir, através da pular liderada por Fidel Castro, Cuba semintervenção da Igreja, suas exigências. pre foi manchete na imprensa mundial: os Foi um gesto inédito e inesperado, que conflitos iniciais com a Igreja, emigração, Distribuído por The New York Times Syndicate

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Depois de anos nas sombras, a Igreja Católica finalmente tem a chance de desempenhar um papel mais forte na transição econômica e social de Cuba. Iglesia de la Popa, uma igreja do século XVIII na região central de Cuba Ting-Li Wang/The New York Times

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A visita do Papa Bento XVI a Cuba Todd Heisl­er/Th­e New York ­Times

A multi­dão acena para o papa Bento XVI perto de Santi­ago de Cuba em março­

surpreendeu a todos. Não era a primeira vez que os bispos cubanos apelavam para as autoridades intercederem em nome dos prisioneiros e suas famílias ato apropriado à missão da instituição mas quase nunca tínhamos uma resposta. A Igreja em Cuba nunca tinha sido reconhecida como uma mensageira respeitada do povo. Minha carta tinha gerado uma resposta e a resposta gerou o diálogo. Diálogo esse que levou à libertação de Nossa função, como pastores 53 prisioneiros de um grupo de 75 que estaem Cuba, abrange homens e va preso desde 2003. mulheres, com seus medos Outro grupo, de mais e frustrações, ilusões e expectade 70, foi solto depois, de maneira que, entre tivas, possíveis ou irreais julho de 2010 e março de 2011, mais de 126 pessoas foram libertadas. A maioria foi para a Espanha, para encontrar os familiares; outros se mudaram para Miami ou outras cidades dos EUA; 12 preferiram ficar em Cuba. Em dezembro de 2011, o governo soltou quase 3.000 presos, motivado, de acordo com Raul Castro, pela visita de Bento XVI, em março de 2012, e por respeito ao 400º aniversário da santa padroeira do país. O diálogo nos permitiu discutir outros assuntos de interesse da Igreja e da sociedade. Falamos com as autoridades  – não só o presidente  – sobre a precária situação econômica do país, os medos e exigências dos cidadãos, as dúvidas, desejos e esperanças

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de uma parte significativa da população. Conhecemos essas realidades graças à rede de paróquias, igrejas e capelas que nossos padres construíram pelo país e aos religiosos e missionários que visitam os doentes, como os voluntários do Caritas, catequistas e outros agentes pastorais que vão de cidade em cidade, por menor que sejam. Nossa função, como pastores em Cuba, abrange homens e mulheres, com seus medos e frustrações, ilusões e expectativas, possíveis ou irreais. De fato, a situação está se alterando, talvez com idas e vindas difíceis de definir e objetivos ainda não claros. A mudança começou, esporadicamente e sem um caminho traçado, mesmo que alguns não a desejem nem a reconheçam. Nesse contexto social em mutação, no qual as mais variadas expressões sociais querem ser ouvidas, de uma forma ou de outra, a Igreja conseguiu ser reconhecida como uma instituição que tem um papel na sociedade cubana. Não sabemos até que ponto esse diálogo vai avançar, nem seu conteúdo ou os possíveis resultados que trará, mas é através dele e só dele que a Igreja almeja o bem-estar material e espiritual dos cubanos e da sociedade. É parte essencial da nossa missão. Em meio à profunda crise econômica que afeta o mundo, Cuba vive seu turbilhão particular. Incapaz de escapar das dificuldades mais amplas, vivemos também um momento de aflição espiritual e existencial. O “sonho cubano”, iniciado em janeiro de 1959, mesclado à simples intuição e o desejo sincero dos pobres dessa terra, não foi realizado,

pelo menos não como foi idealizado. É verdade que houve conquistas sociais importantes, mas também muito sofrimento; racionamentos e confrontos; excessivas limitações à liberdade e frustração. Durante anos, a Igreja, tanto em público quanto em particular, pediu às autoridades que pusessem em prática as mudanças necessárias para melhorar a vida da população para que ela realizasse todo o seu potencial. Ela estimula as mudanças que estão acontecendo e espera que outras sejam introduzidas pelo bem do país e de seus cidadãos. “Nesse processo”, disse Bento XVI a bordo do avião que o levou à América Latina, “que requer paciência, mas também determinação, pretendemos ajudar com o diálogo, para evitar traumas. Por essa razão queremos que todos se unam num esforço pela reconciliação e renovação da esperança.” As cinzas dos sonhos passados não ajudam a construir um futuro promissor. É preciso uma transformação que venha do coração e é por isso que agimos de acordo com a fé cristã.

O silêncio que separava o governo cubano da Igreja Católica há décadas recentemente se rompeu através do diálogo. O cardeal Jaime Ortega foi uma das peçaschave na abertura e expansão dessas discussões. Esta é a história dele e de como a Igreja se aproximou do governo e seus cidadãos numa época de transição.


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9

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necessidades das famílias com uma infra-estrutura completa de bens e serviços.

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11. OS INVESTIMENTOS DA

FIAT E PETROBRAS EM BETIM SOMAM MAIS DE

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12. A chegada de universidades, escolas e shoppings

demonstram a consolidação de Betim como um novo pólo de desenvolvimento.

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Mais uma paixão do Grupo Vale Verde


charges

O ano em humor Distribuído por The New York Times Syndicate

JANEIRO

REPENSANDO O EURO Em janeiro, o euro registrou a maior desvalorização em 16 meses perante o dólar, ameaçando a economia global. Enquanto os políticos discutiam se deveriam impor mais medidas de austeridade, mais estímulo ou ambos, a agência Standard & Poor’s rebaixou a nota de nove países europeus. De Angelis Roma, Itália/CartoonArts International

FEVEREIRO

O INVERNO ÁRABE DA SÍRIA Horas antes do impasse causado pelo veto da Rússia e da China no Conselho de Segurança da ONU para acabar com a violência na Síria, o governo de Bashar al-Assad lançou uma ofensiva contra as forças da oposição em Homs. O ataque de 4 de fevereiro incluiu um bombardeio a áreas residenciais que, segundo ativistas, matou centenas de civis. Van Dam ‒ Landsmeer, Holanda/ CartoonArts International

Março

Todos os votos da Rússia vão para... Eleitores russos reclamaram da falta de opção nas eleições de 4 de março, vencidas com facilidade por Vladimir Putin, que ganhou o direito ao terceiro mandato como presidente depois de passar os últimos quatro anos no cargo de primeiro-ministro. O ex-oficial da KGB se empenhou para acabar com a oposição interna e praticamente concorreu sozinho. Tunin — Moscou, Rússia/CartoonArts International 62


contagem

Em dia com o presente, preparada para o

futuro.

Com um PIB nominal de R$ 20 bilhões em 2011, maior que o de muitas capitais, Contagem vem crescendo a médias superiores às de Minas Gerais e do Brasil. Nos últimos oito anos, a cidade gerou mais de 70 mil novos empregos formais, diversificou a economia sem perder sua vocação industrial e encara o futuro com confiança e respeito ao meio ambiente. Por isso Contagem é, cada dia mais, uma cidade melhor para viver, morar, trabalhar, educar os filhos e investir.

WWW.CONTAGEM.MG.GOV.BR 63


charges

Abril

Coreia do Norte: Mísseis, sim; comida, não A Coreia do Norte, pobre e com problemas crônicos de falta de comida, desafiou a moratória assinada com os EUA em troca de ajuda alimentar ao testar um míssil de longo alcance. O lançamento foi um fiasco, mas Kim Jong-un, que assumiu o lugar do pai, Kim Jongil, em dezembro de 2011, conseguiu frustrar os alienados chineses e se indispor com os norte-americanos, que suspenderam novas ofertas de alimentos. Moir, Morning Herald — Sydney, Austrália/CartoonArts International

Junho

O colapso da Espanha Em junho, a Espanha se tornou o maior país da zona do euro a receber socorro da União Europeia, que concordou em emprestar US$125 bilhões a seus bancos. Apesar de ter um crescimento robusto durante grande parte da última década graças ao crescimento do mercado imobiliário, a nação sofreu com uma recessão, desemprego, desvalorização de imóveis e queda na receita pública. Tom, Trouw — Amsterdã, Holanda/CartoonArts International Setembro

Protestos fatais Um curta anti-muçulmano postado no YouTube, feito nos EUA, gerou protestos contra o país por todo o mundo islâmico em setembro. Os tumultos começaram em 11 de setembro, no Egito, onde uma multidão enfurecida atacou a embaixada norte-americana. Na mesma noite, na Líbia, militantes armados invadiram o Consulado dos EUA, matando o embaixador, J. Christopher Stevens, e outros três funcionários. Hajjaj, Al-Rai — Amã, Jordânia/CartoonArts International

Outubro

A União Europeia, em frangalhos, ganha Prêmio Nobel Enfrentando uma crise econômica e um futuro incerto, a União Europeia ganhou o Prêmio Nobel da Paz 2012. O comitê norueguês reconheceu o papel do órgão na estabilização e transformação da maior parte da Europa “num continente de paz” nos últimos 60 anos. Miel, The Straits Times — Cingapura/CartoonArts International

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Maio

Mudança de poderes no Afeganistão Os EUA e os aliados da Otan concordaram, em maio, em transferir o comando das operações de combate no Afeganistão às forças afegãs. Depois de uma década de guerra, todos os envolvidos reconhecem que o Talibã continua sendo uma ameaça. A visita do presidente Barack Obama ao país no início do mês motivou uma série de ataques nos centros urbanos. Hagen, Verdens Gang —– OsloNorway/CartoonArts International

Julho

O Irã afundado em petróleo O petróleo iraniano teve poucos compradores depois que a comunidade internacional apertou as sanções econômicas ao país em julho na tentativa de forçar o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad a abandonar quaisquer ambições de desenvolver armas nucleares. Apesar disso, ele reluta em reduzir a produção, temendo danificar os poços. Moshik, Maariv — Tel Aviv, Israel/CartoonArts International

Agosto

Jogos bem protegidos Os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres gastaram mais de US$1,5 bilhão na segurança do evento. Presença militar maciça, scanners de raio-X, detectores de metal e grades eletrificadas cercaram os principais locais de prova, além do sobrevoo de caças e instalação de mísseis antiaéreos na cobertura dos prédios do centro. Tom, Trouw –— Amsterdã, Holanda/CartoonArts International

Novembro

Na sala de Justiça Sob a liderança do relator, ministro Joaquim Barbosa, o julgamento dos 38 réus do mensalão foi considerado o maior e mais importante já realizado pelo Supremo Tribunal Federal. Entre os 25 condenados, estão membros do núcleo político do governo Luiz Inácio Lula da Silva, empresários e agentes públicos. Admitiu-se pela primeira vez que votos foram comprados para a aprovação de matérias no Congresso. Também foi comprovada a origem pública de dinheiro usado nos subornos. Duke, jornal O TEMPO

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Nabil Elderkin

A prisão das integrantes do Pussy Riot na Rússia

A música aumenta a força do protesto, mas esse poder está ameaçado.

ANGELIQUE KIDJO É uma artista premiada que aju­ dou a colocar a música da África no cenário mundial

A música não pode calar Keith Negley

Guillaume Bonn/The New York Times

Distribuído por The New York Times Syndicate

E

m 1974, eu era uma garotinha e assistia ao noticiário nigeriano, na nossa TV meio capenga, sentada no pátio da minha casa, que ficava na cidade de Cotonou, em Benin; de repente, vi Winnie Mandela no meio de uma multidão, falando sobre seu marido, preso na África do Sul. Foi a primeira vez que ouvi falar do apartheid. Meu mundo desabou. Eu tinha sido criada por nove irmãos e irmãs numa família modesta, mas muito amorosa, protegida da dura realidade do meu continente. Meus pais tinham me ensinado que todos nascemos iguais e a não julgar as pessoas pela cor da pele. Era comum recebermos (bem) gente de todos os cantos do mundo. Naquele dia, mesmo pela tela da TV, pude ver a revolta e o desespero nos olhos dos sul-africanos. Tinha acabado de descobrir a injustiça do apartheid. E senti uma fúria súbita. Eu cantava nos palcos desde os 6 anos; a música sempre foi a minha razão de viver. Vendo aquilo, minha primeira reação foi compor: em vez de gritar para mostrar a minha raiva, eu iria cantá-la. A canção que fiz saiu dura, hostil, cheia de ódio. Quando meu pai a ouviu, disse: “Você não pode cantar isso; a música não é canal para incentivar o ódio e a violência. Entendo a sua frustração e a sua dor, mas você não pode usar suas canções para botar lenha na fogueira. A música deve ser usada para unir as pessoas e na luta pela paz porque tem a ver com arte e beleza e, não, com política.” Muitos anos depois, ainda acredito que a música ajudou a libertar Mandela  – principalmente quando me vêm à mente “Asimbonanga”, de Johnny Clegg, e “Biko”, de Peter 66

Canções de cunho social e político ainda atraem fãs no mundo todo, como a multidão que se reuniu em 2005 para comemorar o 60º aniversário de Bob Marley

Gabriel, mas foram muitos artistas que fizeram músicas para ele, tanto denunciando o apartheid como fazendo uma pressão internacional sobre a África do Sul. Elas foram mais fortes que os discursos. Quem se lembra das palavras de algum político? Por outro lado, todo mundo conhece o verso de Bob Marley que diz: “Libertem-se da escravidão mental.” Os poucos discursos

que fizeram história  – de Haile Selassie, Martin Luther King ou John Kennedy  – têm cara e jeito de música! Esse é o poder que ela tem. A combinação de melodia e versos contém uma mensagem muito mais forte do que conceitos falados. Por quê? Talvez porque, como alguns cientistas sugerem, o canto tenha surgido antes que a fala no desenvolvimento huma-


Stephen Crowley /The New York Times

Os discursos políticos mais marcantes geralmente reproduzem a cadência da música. Martin Luther King, homenageado por esse monumento, é sempre lembrado pela força de suas palavras

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A prisão das integrantes do Pussy Riot na Rússia João Silva/The New York Times

A música de vários artistas internacionais ajudou a denunciar o apartheid e pressionar o governo para acabar com o regime. Agora, sul-africanos de todas as raças participam de eleições democráticas, incluindo aqueles que esperaram para votar em 2004

Um site islâmico ofereceu uma recompensa de

no; ou, quem sabe, seja porque quando alguém canta, sua mensagem nos atinge direto no coração. Com os anos 60, surgiram músicas de protesto que mudaram o mundo. Duas décadas depois, o rap começou a falar das realidades sociais que ninguém queria ouvir. Na nossa era digital, o público-alvo para canções de cunho social e protesto cresceu e se você quiser expressar suas ideias, não precisa mais de uma gravadora, basta postá-las na internet. De certa forma, a indústria fonográfica

US$ 100 mil

do rapper iraniano Shahin Najafi por causa de suas opiniões políticas e religiosas

pela morte

não controla mais o conteúdo político da música. Em 2003, eu me uni, com muito orgulho, a um grupo de artistas para colocar um anúncio de página inteira no “The New York Times” criticando a perspectiva do início de uma guerra no Iraque. O mundo estava tão dividido que, na época, duvidava que a minha gravadora me deixasse voltar a gravar. O grupo russo Pussy Riot também não precisou de gravadora para levar sua mensagem política ao mundo. Isso explica por que o maior desafio que a música de protesto enfrenta hoje é a cen68

sura. Todos vimos o preço que as três integrantes da banda estão tendo que pagar: foram condenadas a passar dois anos numa colônia penal, embora uma delas já tenha sido solta. Um site islâmico ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil pela morte do rapper iraniano Shahin Najafi por causa de suas opiniões políticas e religiosas. A autocensura também faz parte do problema: o artista pode pensar duas vezes antes de cantar pedindo a liberdade do Tibete quando sabe que pode ser impedido de faturar e fazer turnê por um país imenso como a China. Como o conteúdo das canções não pode mais ser controlado, é o potencial de violência que, aos poucos, ameaça a própria existência da música: a paquistanesa Ghazala Javed, que se casou numa família muçulmana superconservadora, foi morta este ano muito provavelmente porque estava cantando. A música em si é expressão de liberdade e, em algumas partes do mundo, a alegria e a abertura que evoca são insuportáveis. É doloroso imaginar que no norte de Mali, terra de Ali Farka Toure, região que muitos acreditam ser o berço do blues, ela esteja sendo totalmente sufocada por militantes que obedecem a leis islâmicas ultrarrígidas. Durante a minha infância na África Ocidental, a música fazia parte do dia a dia. Músicos tradicionais recontavam a nossa histó-

ria e faziam comentários políticos e morais. Quando eles tocavam, todos nós dançávamos, cantávamos e até respirávamos no mesmo ritmo, sentindo a alegria simples daquela união. A mensagem mais importante da música nos dias de hoje nos aconselha a não ouvir aqueles que dizem que as culturas são irreconciliáveis e não podem conviver em paz. Já cantei em muitos países, para plateias de todas as cores, que quase nunca entendem o significado das minhas canções; apesar disso, em cada apresentação, sinto o mesmo calor humano, a mesma alegria gerada pelas melodias e pelas danças. O sorriso no rosto dos fãs, tão parecido em todos os shows, é a minha verdadeira recompensa. O acesso universal à música deve ser valorizado; temos que continuar a lutar contra a censura apoiando os artistas que são forçados a se calar e denunciando as ditaduras que fazem isso. O que aconteceria se os cantores pop de hoje começassem a compor canções políticas como Bob Marley e Bob Dylan fizeram? E se Lady Gaga fizesse uma música promovendo a liberdade de expressão na China? Quando a israelense Rita Jahanforuz canta as músicas iranianas de sua infância, as fronteiras políticas e religiosas começam a ruir e seu sucesso, em ambos os países, me enche de esperança. Nessa mensagem também está incluído o conselho que meu pai me deu há tantos anos: “Cante para unir e não para dividir!”


Novo site da AP Ponto, mais moderno, mais interativo e descomplicado.

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Tania Savayan

diferenças em paz

Às vezes, um estranho é quem lhe mostra sua origem. Histórias comuns, rotas de imigração diferentes.

AMAN ALI É escritor, comediante e um dos autores de “30 Mosques in 30 Days”, o diário de uma viagem de Ramadã pelos EUA

Como o humor aproxima as pessoas Distribuído por The New York Times Syndicate

N

o início do ano, no palco do Teatro Babylon, em Berlim, comecei a contar histórias da minha vida. Eu estava nervoso. Sou muçulmano praticante e não sabia como o público alemão reagiria diante de um cara estranho, cabeludo e escuro. E falei. Contei que, quando era criança, levava para casa o boletim da escola, com 95 pontos, e meu pai dizia: “Por que não 100? Se não fizesse corpo mole, teria conseguido aproveitamento máximo.” A história é antiga, mas consegue arrancar risadas – se bem que ainda me deixa maluco como naquele tempo. Dei uma entrevista na TV a Christiane Amanpour depois de lançar “30 Mosques in 30 Days”, blog no qual um amigo e eu falamos sobre os muçulmanos que conhecemos durante uma viagem de carro aos 50 Estados norte-americanos. Logo em seguida, meu pai me mandou um e-mail: “Foi muito bom, estou orgulhoso de você. Mas por que não usou gravata? Com esse cabelo você já tem cara de traficante! Pelo menos ia ficar parecendo um traficante que sabe se vestir bem.” Meu pai tem 67 anos e tem a saúde debilitada. Nos últimos dez anos, tivemos que interná-lo por causa de dois enfartes, um colapso da válvula do coração que ganhou um implante de stent, duas pedras no rim, diabete e um glaucoma que o está fazendo perder a visão. Teimoso, ele se recusa a se aposentar por

Segundo um relatório de maio do Censo norte-americano, pela primeira vez mais da metade das crianças nascidas nos EUA pertence a um grupo de minoria. O que isso significa? mais que eu e meus quatro irmãos peçamos para tentar relaxar. O caçula ainda está na faculdade e meu pai insiste em pagar todas as suas despesas. “Meus olhos podem não funcionar direito, mas ainda tenho as mãos, entendeu? Vou continuar trabalhando”, ele me disse. Meu pai pode ser um homem extraordinário para mim, mas sua história é a mesma de milhões de imigrantes que fogem da pobreza, de regimes ditatoriais e outras péssimas condições de vida para dar uma vida 70

melhor para os filhos. Segundo um relatório de maio do Censo norte-americano, pela primeira vez, mais da metade das crianças nascidas nos EUA pertence a um grupo de minoria. O que isso significa? Simples: mais e mais pessoas estão chegando a esse país para trabalhar porque amam suas famílias como meu pai ama a minha. Mas por que ainda usamos o termo “minorias”? Os conservadores podem reagir a essa estatística com um medo xenofóbico; alguns deles, comentando outros assuntos, dizem que a estrutura das famílias tradicionais está desmoronando – justamente quando estão cercados de imigrantes que vêm para esse país para preservar suas famílias. No palco, sempre menciono a história do meu pai. A dor e a preocupação que sinto em relação à sua saúde se mesclam com minha admiração eterna por sua ética de trabalho. E me consolo com a plateia quando percebo que não sou o único a enfrentar esse tipo de situação. Meu pai fez engenharia civil na Índia porque sonhava em construir pontes e estradas. E recusou um emprego “moleza” numa companhia elétrica quando se formou; queria vir para os Estados Unidos para encontrar oportunidades melhores. Foi para Chicago para conseguir a equivalência em engenharia civil. Trabalhava numa fábrica montando parafusos em lâminas usadas em máquinas moedoras por US$ 240 por semana. Estudava de dia e fazia um turno de dez horas à noite. Fez isso durante vários meses. Até descobrir que um amigo trabalhava no Dunkin’ Donuts por US$ 250 por semana, US$ 10 a mais que poderia mandar para a mãe e o irmão na Índia. Pediu demissão na fábrica e foi trabalhar no Dunkin’ Donuts. Depois de um ano conciliando turnos puxados com as aulas, meu pai recebeu uma promoção para virar gerente e a chance de ser dono das lanchonetes. Recém-casado e com o primeiro filho a caminho, ele desistiu da faculdade. Já faz mais de 40 anos que meu pai desistiu de estudar para se dedicar ao Dunkin’ Donuts em tempo integral e só fiquei sabendo o quanto lhe doeu tomar essa decisão numa conversa que tivemos há pouco tempo. “Toda vez que pego uma estrada ou uma


Brad Vest/­The New York ­Times­ Jim Wilso­n/The New York Times

Essas frases eu nunca vou esquecer: “É por isso que eu pego no seu pé para você dar duro; não quero que jamais tenha que dizer: ‘Poderia ter sido eu’”.

ponte, começo a ficar triste”, disse ele. “Porque poderia ter sido feita por mim. Eu era bom de projeto, aquele poderia ter sido o meu.” Essas frases eu nunca vou esquecer: “É por isso que eu pego no seu pé para você dar duro; não quero que jamais tenha que dizer: ‘Poderia ter sido eu’”. Este ano, eu me apresentei como comediante stand-up na Inglaterra, Dinamarca, Bélgica e Alemanha, países sobre os quais sabia muito pouco. Conheço a maioria dos países europeus para os quais viajei só através de filmes tipo “A Identidade Bourne”. (Na Dinamarca, toda vez que via uma van branca passando, juro que ficava esperando um cara com um silenciador sair de lá e me atacar.) Já tinha viajado muito com meu espetáculo e, como a maioria das pessoas no mundo fala inglês, achei que não teria problema. Foi na Alemanha que fiquei mais ansioso. Li sobre a disseminação do sentimento antimuçulmano na Europa, principalmente ali, onde o ministro do Interior tinha dito: “O islã na Alemanha não é e nunca foi fato histórico.” O país tem uma das maiores populações muçulmanas do continente. É claro que também tem um monte de caipira antimuçulmano nos EUA, mas nem de longe tem a ver com o que acontece ali na Alemanha. Mesmo assim, cheguei lá de mente aberta. E foi assim que cheguei a Berlim, meio nervoso no palco do Babylon. Para minha surpresa e alegria, a plateia foi para lá de receptiva, mas o show só se tornou inesquecível depois que saí do palco. Um alemão não-muçulmano se aproximou enquanto eu amarrava o sapato. Tinha um moicano loiro no meio da cabeça, uma faixa de couro com tachinhas em volta do pescoço e as letras do nome “David” tatuadas nos dedos. Estendeu a mão para me cumprimentar. “Oi, meu nome é David”, ele disse. “Estou sabendo … quer dizer, dá para ler”, respondi, apontando para seus dedos.

Comed­iante­s de stand­ -up não têm onde se escon­der e devem encon­trar um jeito rápid­o de se conec­tar com o públi­co

Na vida, as ponte­s podem ser metáf­oras ou proje­tos de engen­haria­... mas també­m um meio que permi­te o encon­tro entre as pesso­as

“Só queria dizer que eu … curti muito o seu show”, ele prosseguiu, meio nervoso. Fez uma pausa; parecia não saber se continuava ou não. Ficava abrindo e fechando a boca e balançando a cabeça até finalmente falar. “Nunca conheci um muçulmano antes.” E continuou: “Vou ser sincero, tenho muito medo de vocês. Ouço as notícias o tempo todo e a ideia de ter muçulmanos vivendo aqui me assustava... mas aí vi sua apresentação, vi quem você era e me toquei que tinha me esquecido de que todos somos seres humanos. Agora estou com vergonha por ter sentido medo.” David me contou que o pai nasceu na Polônia e imigrou para a Alemanha, do mesmo jeito que o meu pai – porque sonhava em dar uma vida melhor para os filhos. Como o meu pai, o de David foi superexigente com ele na infância, forçando-o a estudar numa escola particular e começar a trabalhar aos 14 anos. O rapaz nunca entendeu por que ele agiu assim até ouvir a minha história. “Nunca pensei em como os nossos pais se sacrificaram só para a gente poder continuar sorrindo”, ele prosseguiu. “Por sua causa, fiquei com vontade de ir para casa e dar um abraço no velho.” “A sua história me deu vontade de fazer o mesmo”, respondi. Pensei no papo que tive com David, um cara com quem, até uma hora antes, jamais pensaria em conversar. As histórias de nossos pais nos aproximaram. Meu pai nem sonha com a belezura de ponte que tinha acabado de construir. Giann­i Cipri­ano/T­he New York Times

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Uma sequência de eventos e tendências surpreendentes, sérios e até bobos registrados pela primeira vez em 2012.

Pela primeira vez Distribuído por The New York Times Syndicate

ESTÍMULO PARA OS CARROS ELÉTRICOS Israel, um país relativamente pequeno, abriga, desde maio, a primeira rede nacional de carros elétricos do mundo. O sistema inclui baterias trocáveis, disponíveis em vários postos. Motoristas que tiverem um longo percurso pela frente podem, em cinco minutos, trocar a gasta por uma cheia, que oferece uma autonomia de 160 quilômetros. Os israelenses podem comprar um carro elétrico da Renault por cerca de US$ 32 mil, alugar a bateria e se inscrever no plano de recarga que oferece acesso às estações de troca. Para distâncias mais curtas, a bateria pode ser recarregada num período de seis a oito horas. O projeto ecologicamente correto, criado pelo empresário Shai Agassi, foi introduzido na Dinamarca meses depois.

QUEM É A FORÇA DE TRABALHO DA APPLE Depois de anos de silêncio, em 13 de janeiro a Apple divulgou os nomes de 156 fornecedores, adotando uma prática que outras grandes corporações norte-americanas há muito seguem. A decisão foi tomada depois que ativistas e jornalistas revelaram desrespeito a leis trabalhistas, de segurança e ambientais em algumas dessas companhias no exterior. A lista saiu junto com seu relatório anual, dando detalhes sobre seu código de conduta. Mais da metade das fábricas violou as regras da Apple e algumas infringiram a lei em questões de excesso de horas extras, registros falsificados e manipulação incorreta de dejetos nocivos à saúde. A empresa anunciou sua decisão de pedir à Fair Labor Association, uma ONG custeada pelo setor, que monitorasse as condições de trabalho e denunciasse abusos ocorridos nas empresas fornecedoras.

CADÊ A CARNE? NO MCDONALD’S É QUE NÃO ESTÁ Os peregrinos não precisam mais passar vontade de experimentar a comida do McDonald’s ao visitarem dois dos principais centros religiosos indianos, onde é proibido comer carne: a cadeia de lanchonetes anunciou, em setembro, planos de abrir seu primeiro restaurante sem carne em 2013 em Amritsar, onde fica o Templo Dourado, sagrado para os sikhs. O segundo deve ser erguido em Katra, base para os hindus em visita ao templo Vaishno Devi, nas montanhas. A Índia possui um mercado de fast-food de US$ 12 bilhões, mas é relativamente pequeno para o McDonald’s, que tem menos de 300 casas num país de 1,2 bilhão de habitantes. Isso porque 80% dos indianos são hindus e não comem carne. Ali, o McDonald’s nunca serviu carne bovina: metade de seu cardápio é vegetariano e oferece opções como o popular Maharaja Macburger, feito de frango.

O MAIOR BLECAUTE DO MUNDO Mais da metade da Índia ficou sem energia em 31 de julho quando partes da rede elétrica  – no norte, leste e nordeste  – entraram em colapso, causando o maior blecaute da história. Cerca de 670 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial, foram afetadas. No dia anterior houve outro apagão, menor, causado por uma falha na rede do norte e deixou nove Estados no escuro durante seis horas. Com isso os trens, metrôs e semáforos pararam, deixando passageiros e comerciantes mergulhados no caos. Os hospitais apelaram para os geradores, enquanto no leste do país 200 mineiros de carvão ficaram presos várias horas no subsolo por falta de elevadores. 72


Robert Stolarik/The New York Times

O público continua fiel à Apple, apesar das dúvidas quanto a seus fornecedores estrangeiros. Em setembro, os clientes fize­ ram fila na porta da Apple Store de Nova York para serem os primeiros a comprar o iPhone 5

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Numa entre­vista para a TV na Casa Branc­a, em maio, o presi­dente Barac­k Obama afirm­ou que casai­s de mesmo sexo dever­iam ter o direi­to de se casar

OBAMA DIZ ‘SIM’ AO CASAMENTO GAY

Barack Obama se tornou o primeiro presidente norte-americano a apoiar o casamento de pessoas do mesmo sexo, refletindo assim uma mudança drástica na opinião pública do país. Obama disse numa entrevista em rede nacional que seus sentimentos em relação ao assunto tinham mudado desde a campanha de 2008, quando era contra o casamento, mas a favor da união civil entre casais gays, e alegou que se tornou “sensível ao fato de que, para muita gente, a palavra ‘casamento’ invocava tradições e credos religiosos muito fortes”. Ele justifica sua mudança de opinião pensando na “regra de ouro: trate os outros como gostaria de ser tratado”, mas diz que esse é um tema sobre o qual os Estados devem decidir.

PISTAS DE UM ANCESTRAL MISTERIOSO Pesquisadores descobriram evidências de uma espécie antiga e misteriosa nos genes dos africanos contemporâneos. Eles analisaram o DNA de três grupos isolados e encontraram sequências que não se assemelham nem com a dos humanos nem com a do homem de Neanderthal, presentes nos genomas de alguns europeus em 2010. “Nós a chamamos de espécie irmã do Neanderthal na África”, disse Joshua Akey na Universidade de Washington em Seattle. Segundo ele, esses hominídeos mantiveram relações com humanos de aparência contemporânea entre 20 mil e 50 mil anos atrás. A descoberta reforça a teoria de que durante 150 mil anos os humanos conviveram e se acasalaram com “primos” evolutivos que acabaram extintos. Em 2010, testes revelaram que 5% do genoma da população da Nova Guiné consiste no DNA da espécie hominídeo Denisova. 74

O ÚLTIMO OCEANO LIMPO? JÁ ERA As águas cristalinas do oceano Antártico não são mais tão puras, pelo menos segundo os pesquisadores, que afirmam que elas contêm restos de plástico como qualquer outro oceano. A descoberta, divulgada em setembro pelo navio de pesquisas científicas francês Tara, pegou todos de surpresa, já que a região, reconhecida pela Organização Hidrográfica Internacional como o quinto oceano, é relativamente isolada e raramente se mistura com os outros. Os traços de plástico vêm de lixo como sacolas e garrafas, decompostas ao longo dos anos pelos raios ultravioleta e a água do mar.

Pesqu­isado­res desco­brira­m que as águas na Antár­tida não são tão limpa­s como se pensa­va


Pete Souza­/Whit­e House­

TESTE CASEIRO DE HIV O primeiro teste de HIV caseiro já está disponível nas farmácias dos EUA e alguns sites desde outubro. O kit de US$ 40 é promovido como uma maneira discreta e conveniente para indivíduos de grupos de risco determinarem se estão contaminados pelo vírus da Aids, embora também possa ser usado para checar prováveis parceiros sexuais. O OraQuick In-Home HIV Test, semelhante ao usado no mundo todo por médicos e clínicas, usa uma amostra oral e oferece o resultado num período que varia de 20 a 40 minutos. É o primeiro teste caseiro para determinar uma doença infecciosa do mercado.

Um teste casei­ro, que pode ser reali­zado em 20 minut­os, diz se a pesso­a está conta­minad­a com o vírus da Aids Angel Franc­o/The New York ­Times

NASA/­equip­e GRACE­/DLR/­Ben Holt ­Sr

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pela primeira vez Felix Baumg­artne­r sai da cápsu­la para salta­r, em queda livre­, da estra­tosfe­ra

O PRIMEIRO HOMEM SUPERSÔNICO Em 13 de outubro, o primeiro paraquedista a ultrapassar a velocidade do som saltou de uma cápsula presa a um balão de hélio, na estratosfera, fazendo um pouso perfeito 38 quilômetros depois, no Estado do Novo México. O austríaco Felix Baumgartner teve que usar um macacão pressurizado, pois alcançou uma velocidade de 1.342 km/h, ou Mach 1.24. Ele bateu vários recordes, incluindo o de salto mais alto e o de voo de balão tripulado mais alto, mas não conseguiu superar o recorde de tempo de queda livre, obtido há 50 anos por seu mentor, Joe Kittinger, um coronel exonerado da Força Aérea dos EUA.

UM DIA SÓ DAS MENINAS O que significa ser menina? Em muitos lugares, significa casamento e nenhuma educação, como a ONU enfatizou no primeiro Dia da Menina, estabelecido em 11 de outubro. A organização pediu o fim do casamento infantil e promoveu a educação para garotas como base para uma vida melhor para todos. “Vamos fazer a nossa parte e permitir que as meninas sejam meninas, não noivas”, disse o secretário geral Ban Ki-Moon. Segundo o Unicef, uma em cada três jovens entre 20 e 24 anos ao redor do mundo se casa antes de chegar aos 18, e um terço delas o fez antes de completar 15 anos.

A norte­-amer­icana Quani­tta “Quee­n” Under­wood foi uma das prime­iras boxea­doras a parti­cipar dos Jogos Olímp­ícos

Justi­n Edmon­ds /the New York Times

pel nin mo

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Red Bull Strat­os

NOVOS LIMITES PARA AS ATLETAS OLÍMPICAS

Brunei, Catar e Arábia Saudita enviaram atletas mulheres para competir nas Olimpíadas de Londres la primeira vez; com isso, todos os países que foram aos Jogos de 2012 enviaram representantes feminas. A estreia do boxe feminino marcou também a primeira vez nos 116 anos das Olimpíadas da história oderna em que as mulheres competiram em todos os esportes.

VITÓRIA FEMININA NO CINEMA SAUDITA Haifaa al-Mansour, a primeira diretora de cinema da Arábia Saudita, lançou seu primeiro longa-metragem totalmente nacional no Festival de Veneza, em setembro. Mansour desafiou vários preceitos religiosos conservadores do reino ao filmar “Wadjda”, a história de uma garota que queria comprar uma bicicleta, desafiando um tabu cultural. Financiado pela Razor Film de Berlim e disputado por vários distribuidores europeus, o longa não será exibido em seu país de origem, onde não há cinemas e os filmes são considerados “imorais” pelos clérigos conservadores. Mansour rodou sua obra numa locação em Riad, onde tinha que se esconder numa van para evitar ser presa por ser vista com homens, dirigindo as cenas na rua.

UM VILAREJO ALPINO FEITO NA CHINA O pitoresco vilarejo austríaco de Hallstatt, tombado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, agora tem uma réplica no sudeste da China. Construído como um condomínio de alto luxo na província de Guangdong, não muito distante de Hong Kong, o complexo foi inaugurado em junho. O projeto de US$ 940 milhões foi construído sem conhecimento dos moradores da aldeia original que, apesar disso, aceitaram a réplica (que inclui até a praça principal e os monumentos) como publicidade lisonjeira e mandaram uma delegação para a inauguração. Já os visitantes chineses ficam bem empolgados. “Assim que pisei aqui, senti que estava na Europa”, confessou Zhu Bin, 22.

OS NÔMADES E A CERÂMICA MAIS ANTIGA DO MUNDO Arqueólogos dizem que os fragmentos de vasos de cerâmica encontrados numa caverna do sul da China têm mais de 20 mil anos, o que os torna os mais antigos do mundo. Os testes feitos por uma equipe de cientistas chineses e norte-americanos contradizem as teorias de que a cerâmica surgiu durante a expansão da agricultura, há 10 mil anos. Em junho, os especialistas afirmaram no jornal “Science” que o radiocarbono datava os vasos no pico da Era do Gelo, quando caçadores/coletores nômades organizavam acampamentos sazonais e a cerâmica era usada para cozinhar ossos ou moluscos e preparar bebidas alcoólicas. O material, porém, começou a ser manipulado bem antes: na Europa Oriental foram descobertas pequenas figuras de 23 mil anos atrás. 77


Moham­med Morsi­, presi­dente do Egito­, discu­rsou em setem­bro na Assem­bleia Geral da ONU

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UMA ERA DEMOCRÁTICA NO EGITO Os egípcios participaram da primeira eleição democrática da longa história de seu país e a primeira eleição presidencial direta da história do mundo árabe. No segundo turno, realizado em junho, foi apertada a vitória de Mohammed Morsi, da Irmandade Muçulmana, sobre Ahmed Shafiq, o primeiro-ministro do líder deposto Hosni Mubarak. Morsi é o primeiro líder civil do Egito e o primeiro islâmico a ocupar o cargo de chefe de Estado entre os países árabes. A Autoridade Palestina já promoveu várias eleições presidenciais, mas não é reconhecida mundialmente como Estado.

UM NEGRO NO TOPO DA JUSTIÇA O ministro Joaquim Barbosa se tornou o primeiro negro a assumir a presidência da principal corte de Justiça de um país onde 50,7% da população se declara descendente de africanos. Mineiro de Paracatu, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal afirmou em seu primeiro pronunciamento que uma revisão da história brasileira nas últimas seis décadas mostra a “bem-sucedida trajetória de um povo que soube sair da posição de quase pária no contexto internacional e passou a ser uma das nações mais destacadas no mundo”. Barbosa, um poliglota que fala inglês, espanhol, alemão e francês, é filho de um pedreiro e uma dona de casa e subiu na vida pública graças a sua capacidade intelectual.


Corte­sia da Fiat/ NYT S­yndic­ate

Chang W. Lee/T­he New York Times­

Por medid­a de segur­ança, a máqui­na de café do novo Fiat 500L só funci­ona quand­o o carro estiv­er parad­o

A VIDA NA VIA DO EXPRESSO Na Itália, os motoristas sonolentos já podem tomar uma injeção de ânimo no meio do caminho: saiu a primeira máquina de expresso para o carro. Em outubro, a Fiat introduziu a versão de seu compacto, o 500L, com uma máquina de expresso portátil na Itália e no resto da Europa logo depois. Ela é acondicionada num compartimento no console central e só funciona se o carro estiver parado. É pouco provável, porém, que o 500L já venha equipado com o novo “opcional” quando entrar no mercado norteamericano, em 2013.

NADANDO COMO A REALEZA Os plebeus que visitarem Osborne, em Isle of Wight, podem nadar naquela que foi a praia particular da rainha Vitória, aberta ao público em 27 de julho. O English Heritage, grupo de preservação histórica que administra a propriedade pública, “limpou” o trecho de 300 metros da praia. A rainha e seu consorte, o príncipe Albert, compraram a propriedade em 1845 para usá-la como retiro. Pena que os banhistas não podem recriar a mesma experiência da rainha, já que a “máquina de banho”, uma engenhoca de madeira que era levada para a areia ao longo de um trilho e permitia que vossa majestade mergulhasse na água, não está disponível para uso público. A casa de banhos construída durante a Primeira Guerra Mundial, quando Osborne era local de convalescência para os oficiais do Exército, hoje é um café e vestiário.

UM OURO NAS ARGOLAS A primeira medalha brasileira na ginástica em Olimpíadas foi conquistada por Arthur Zanetti, que ficou em primeiro lugar nas argolas nos Jogos de Londres. O atleta bateu o favorito da prova, o chinês Yibing Chen.

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quadrinhos

Um repórter suíço se aventura por uma pacata cidade cubana cujo nome ficou mais conhecido como uma prisão norte-

PATRICK CHAPPATTE

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-americana.

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O ano em imagens Distribuído por The New York Times Syndicate felipe dana/ap photo

Janeiro

Três prédios desabam e matam 18 no Rio Eram quase 21h da quarta-feira, dia 25 de janeiro, quando um enorme barulho, seguido por muita poeira, correria e gritos, tomou conta do centro do Rio de Janeiro. Três prédios haviam desabado na avenida Treze de Maio, bem perto do edifício histórico do Teatro Municipal. Após dias seguidos de buscas, bombeiros e equipes de resgate contabilizaram 18 pessoas mortas. A causa mais provável para o desastre foi uma reforma irregular no 9º andar de um dos prédios. Paredes e um pilar de sustentação teriam sido retirados provocando o desabamento do edifício Liberdade e de outros dois ao lado.

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GREGÓRIO BORGIA/ASSOCIATED PRESS cristiano trad

Janeiro

Pesadelo de férias Costa Concordia encalhou na costa da Toscana, na Itália, em 13 de janeiro, com 4.229 pessoas a bordo: 32 morreram. Com sua remoção cara e difícil, não esperada até a próxima primavera, o navio emborcou e é uma atração turística macabra e objeto de ações judiciais buscando dezenas de milhões de dólares em danos para a Carnival Corp., uma das maiores empresas de cruzeiros do mundo. O capitão foi acusado de homicídio e abandono de navio.

Janeiro

Chuvas, destruição e mortes As fortes chuvas do início do ano, combinadas com a falta de planejamento e prevenção da maioria das cidades brasileiras, resultaram mais uma vez em destruição e mortes. A pequena cidade mineira de Guidoval, na Zona da Mata, foi um dos retratos mais expressivos dessa tragédia nacional. Após ser castigada pela chuva durante as primeiras 48 horas de 2012, o município de cerca de 6.000 habitantes acordou com um cenário assustador: o rio Xopotó – no auge da chuva o nível das águas ficou 15 m acima do normal – varreu com enorme violência todos os obstáculos à frente. Casas, veículos e famílias inteiras foram levados pela força da inundação. Mais de 2.000 pessoas ficaram desabrigadas; a cidade ainda tenta se reerguer. 83


o ano em imagens Uli SeitThe New York Times

Fevereiro

Repórteres silenciado 2012 tinha tudo para se tornar o mais negro ano para jornalistas, desde o Instituto de Imprensa Internacional (IPI) começou os registros, há 15 anos. A Síria foi o país mais perigoso para jornalistas, de acordo com o IPI. Os mortos incluíam Marie Colvin, repórter do “Sunday Times of London”, que morreu em 22 de fevereiro, quando as forças do governo sírio bombardearam a cidade de Homs. Anthony Shadid, do “The New York Times”, também morreu naquele mês na Síria.

Christian BellaviaThe New York Times

Março

Sangue frio Enlutados assistiram a uma cerimônia, em 20 de março, em Toulouse, na França, um dia depois de um rabino e três filhos terem sido assassinados. Mohammed Merah, que admitiu os assassinatos e outros três, morreu dois dias mais tarde atingido por uma saraivada de balas da polícia quando ele pulou de uma janela durante a fuga. Março

E o vencedor é... Votação na eleição presidencial da Rússia, em 4 de março, cujo resultado não surpreendeu ninguém, com a vitória esmagadora de Vladimir Putin, que retornou à Presidência depois de ocupá-la de 2000 a 2008. Putin ganhou um novo mandato de seis anos, mas terá de lidar com grupos de oposição, que têm repetidamente protestado em massa, e uma nova geração sem memória do que é viver sob o sistema soviético, que moldou a visão de mundo do seu líder. 84

Dmitry KostyukovThe New York Times


A Araujo tem mais uma revelação a fazer. Você sabe por que a Araujo está em todos os lugares da cidade? Porque a gente faz questão de estar sempre perto quando você precisa, oferecendo a maior variedade de medicamentos e produtos, com garantia de qualidade, procedência, preço baixo e o melhor atendimento. E é assim, trabalhando para conquistar você, que a gente conquista a confiança e o reconhecimento dos mineiros.

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o ano em imagens Maio

Obras empacadas Inúmeras greves de operários, ocupações de índios e processos na Justiça comprometeram o andamento das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte, o maior empreendimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal em curso no país. Projeto polêmico desde a década de 80, foi palco de tropeços na gestão dos aspectos políticos, ambientais e sociais.

Maio

Arte superstar A venda, em 2 de maio, de uma versão de “O grito”, de Edvard Munch, por US$ 119,9 milhões, fez da imagem a mais cara obra de arte do mundo vendida em leilão. Jennifer S. AltmanThe New York Times

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cristiano trad

Angel FrancoThe New York Times

Maio

Facebook vacila Oferta pública do Facebook estreou no dia 18 de maio com fanfarra na sede da Nasdaq, em Nova York e em outros lugares. Falhas técnicas e acusações de que o IPO foi definido muito alto — avaliação foi mais de US$ 100 bilhões — trouxe a queda do preços, ações judiciais e inquéritos. Facebook anunciou em outubro que 1 bilhão de usuários no mundo inteiro logam pelo menos uma vez por mês, mas críticos perguntam se a empresa pode ganhar dinheiro. 87


o ano em imagens Tomas Munita New York Times

Junho

Egito Na primeira controvertida eleição presidencial no Egito, Mohammed Morsi tornouse o primeiro islâmico eleito como chefe de um Estado árabe. Simpatizantes apoiaram a declaração de 24 de junho de sua vitória com fogos de artifício, na praça Tahrir, o centro da Revolução Egípcia de 2011. No dia seguinte, Morsi mudou-se para o Gabinete Presidencial anteriormente ocupado por Hosni Mubarak.

Junho

Ensaio sobre o futuro Com o propósito de formular um plano para que a humanidade se desenvolvesse de modo a garantir vida digna a todas as pessoas, administrando os recursos naturais para que as gerações futuras não fossem prejudicadas, a Rio+20 reuniu no Brasil representantes e chefes de Estado de 188 países. O documento final da conferência da ONU, no entanto, foi considerado pouco ambicioso e sem ações concretas de implementação das ações voltadas ao desenvolvimento sustentável. 88


amazon watch ho/ap photo

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o ano em imagens Denis BalibousePool via New York Times

Julho

Eureka! O físico britânico Peter Higgs chegou no CERN, Organização Europeia para Investigação Nuclear, em 4 de julho, para ouvir os cientistas anunciarem a descoberta de uma partícula subatômica cuja existência ele previu quase 50 anos antes. A partícula, o Bóson de Higgs, é a última parte que falta do modelo padrão, a teoria predominante que explica como o universo funciona.

Agosto

Triunfo britânico O sol brilhou quando as Olimpíadas 2012, em Londres, superaram as preocupações com a segurança, o tráfego e o normalmente impiedoso clima da cidade. A Inglaterra comemorou sua soma de medalhas mais alta até hoje: 65, sendo 29 ouros – incluindo a vitória emocionante do tenista Andy Murray sobre Roger Federer. No U.S. Open, em setembro, Murray venceu Novak Djokovic e pôs fim à espera de 76 anos de seu país para ter um campeão de um torneio do Grand Slam. Doug Mills/The New York Times

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jed jacobshn/new york times

Agosto

Ninguém para Usain Bolt O jamaicano Usain Bolt fez jus, mais uma vez, ao apelido de raio. O atleta assombrou o Estádio Olímpico de Londres em agosto deste ano. Na prova dos 100m rasos, ele quebrou o seu próprio recorde em uma Olimpíada (9s63) e ainda sagrou-se bicampeão olímpico da prova. Ele repetiu o feito na prova dos 200m. Depois das vitórias, Bolt se autodenominou uma “lenda” – com toda razão. 91


o ano em imagens Meridith Kohut/The New York Times

Agosto

Wikileaks e o Equador O Equador é dividido politicamente, mas todos se uniram em agosto, quando o Reino Unido ameaçou invadir a embaixada do país em Londres para capturar Julian Assange. Em Quito, manifestantes apoiaram a decisão do presidente Rafael Correa de dar asilo político para o fundador do WikiLeaks, que passou a viver na representação em junho para evitar a extradição para a Suécia e ser interrogado sobre as acusações de crime sexual. As autoridades britânicas acabaram desistindo da ameaça, mas insistem em dizer que têm o direito de extraditá-lo se ele sair do prédio rumo ao Equador ou qualquer outro lugar.

Agosto

Tragédia em templo nos EUA No Wisconsin, milhares de pessoas de várias raças e credos se reuniram no dia dez para homenagear as seis pessoas mortas a tiros num ataque ocorrido num templo sikh num bairro de Milwaukee. Outras três ficaram feridas. O responsável pelo massacre, que se matou na cena do crime, era Wade Michael Page, um ex-militar, supremacista e vocalista de uma banda de rock racista. Em respeito à comunidade, muitas mulheres usaram véu. Nathan Weber/The New York Times

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o ano em imagens Setembro

Briga por ilhas na Ásia Uma disputa antiga ganhou novo fôlego em setembro, quando o governo japonês anunciou a compra de um grupo de ilhas no Mar da China por quase US$ 30 milhões. Horas depois, a China acusou o país de roubar as ilhas, conhecidas como Senkaku, no Japão, e Diaoyu, na China, o que gerou protestos violentos em dezenas de cidades do país. Ativistas chegaram a desembarcar numa das ilhas, que também são disputadas por Taiwan. Japão e China enviaram navios para patrulhar a região. Membros de um pequeno grupo ultraconservador japonês foram às ilhas em setembro e posaram ao lado da bandeira nacional, mas as autoridades impediram seu desembarque.

Setembro

Embaixador norteamericano é morto O embaixador norte-americano J. Christopher Stevens e três outros cidadãos norte-americanos morreram em onze de setembro, quando um grupo armado atacou e incendiou o consulado dos EUA em Benghazi, na Líbia. Stevens, um diplomata veterano que estava na cidade durante o levante contra Gaddafi, é o segundo da direita para a esquerda nessa foto de arquivo, tirada em junho de 2012, em Trípoli. Segundo relatos iniciais, a violência foi consequência da revolta pública contra “Innocence of Muslims”, vídeo feito nos EUA que zomba do profeta fundador do Islã e que causou conflitos por todo o Oriente Médio; já o Departamento de Estado disse que militantes com armas pesadas planejaram o ataque. Stevens foi o primeiro embaixador norte-americano morto num atentado, exercendo suas funções, desde 1979. BRYAN DENTON/THE NEW YORK TIMES

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Kosuke Okahara/The New York Times

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o ano em imagens Chang W. Lee/The New York Times

Setembro

Ajuda visual na ONU Quando discursou na Assembleia Geral da ONU, em 27 de setembro, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu usou um diagrama para provar a capacidade do Irã de enriquecer urânio para armas nucleares ‒ e deixou clara sua intenção de acabar com o programa do país fazendo uma linha vermelha sobre o quadro. O evento, que durou uma semana, incluiu discursos do líder palestino Mahmoud Abbas e do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, além dos dois novos líderes do Oriente Médio, Mohammed Morsi, do Egito, e Mohammed Magarief, da Líbia.

Outubro

Reviravolta na campanha eleitoral dos EUA Os candidatos à Presidência dos EUA Mitt Romney e Barack Obama se cumprimentam no início do primeiro dos três debates, em 3 de outubro, na Universidade de Denver. O primeiro, com um desempenho agressivo, e o segundo totalmente apagado, acirraram a disputa na qual o presidente levava grande vantagem. 96


Bryan Denton for The New York Times

OUTUBRO

Tensões entre turcos e sírios Os fortes laços que uniam Turquia e Síria foram esquecidos, já que o governo de Bashar al-Assad continua a reprimir a oposição política. As tensões se agravaram ainda mais na fronteira de 800 quilômetros depois que um morteiro disparado pelos sírios caiu num vilarejo turco, matando cinco civis. Em resposta, a Turquia disparou contra alvos sírios, enquanto manifestantes protestaram contra a retaliação em Istambul. O confronto já incluiu a Rússia, aliado militar mais próximo da Síria, depois que autoridades turcas disseram ter encontrado munição daquele país num voo comercial que ia para Damasco. Caças turcos forçaram o avião a pousar na Turquia em 10 de outubro.

Doug Mills/The New York Times

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o ano em imagens

Agosto a novembro

Julgamento histórico Ao longo de 40 sessões, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) analisaram a denúncia da Procuradoria Geral da República sobre a existência de um esquema de pagamento de propina para deputados da base do governo Lula, com o objetivo de aprovar projetos de interesse do Planalto na Câmara. Ao fim do processo, o STF concluiu que o mensalão existiu e condenou 25 dos 37 réus. O ex-ministro José Dirceu foi condenado a cumprir pena de dez anos e dez meses, inicialmente, em regime fechado. O publicitário mineiro Marcos Valério, considerado o operador do esquema de desvio de dinheiro público, foi condenado a 40 anos de prisão. O ex-presidente Lula não foi incluído na ação da Procuradoria.

Novembro

Goleiro Bruno no banco dos réus Depois de dois anos e cinco meses, o goleiro Bruno, ex-jogador do Atlético e do Flamengo, acusado de sequestro, cárcere privado e morte da amante Eliza Samudio, começou a ser julgado no fórum de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Além de Bruno, o amigo do atleta Luiz Henrique Romão, o Macarrão, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, também respondem pelos mesmos crimes. Macarrão foi condenado a 15 anos de prisão. Fernanda de Castro (ex-namorada) também foi sentenciada a cinco anos em regime semiaberto pelo crime de sequestro e cárcere privado. Bruno, Bola e Dayane Souza (ex-mulher do jogador) conseguiram adiar o julgamento para 2013. 98


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