O Tempo Pampulha - Sáb, 14/09/2013

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reportagem

pampulha jornalpampulha.com.br BELO HORIZONTE 14 a 20 de setembro de 2013

ATÉ VIA SKYPE>Projeto mundial de incentivo à meditação facilita iniciação na experiência

Revolução na busca da paz PEACE REVOLUTION/DIVULGAÇAO

Numa maJessica nhã de sábaAlmeida do, há quase dois anos, a jornalista Tamira Marinho, 25, reuniu um grupo de amigos para meditar. “Vamos, vai ser legal! Quem vai guiar a meditação é um monge tailandês”, dizia empolgada, ao convidar cada um deles. Algumas dessas pessoas, já no apartamento em que a atividade seria realizada, aguardavam ansiosamente a chegada triunfal do mensageiro da paz, quando Tamira explicou: “vai ser por Skype” – ferramenta que permite a realização de chamadas de áudio e vídeo à distância, pela internet. Aquele encontro fazia parte de uma espécie de “Telecurso 2000” da meditação, a que a jornalista estava se submetendo. Iniciativa do “Peace Revolution”, projeto mundial de incentivo à meditação, o programa pressupõe o cumprimento de 42 lições de meditação, com o auxílio de material em áudio e vídeo, como uma forma de desenvolvimento pessoal. Ao final dessas lições, sempre registradas numa espécie de diário online e comentadas por “peace coachs” (treinadores da paz), e após a realização de uma meditação coletiva via Skype, pessoas de qualquer parte do mundo, de 18 a 30 anos, podem se candidatar a uma vaga num retiro promovido na Tailândia pela associação. Tamira foi uma entre os 14 brasileiros que já foram a esse retiro – desses,

13 são belo-horizontinos. “Nem todo mundo que faz o curso precisa ir para o retiro. Mas as pessoas podem se candidatar e, inclusive, receber uma ajuda de custo”, explica. ROTINA PESADA No entanto, está enganado quem pensa que essa é uma forma fácil de conseguir passar férias relaxantes em praias tailandesas paradisíacas. Existe uma série de regras e a ideia é, basicamente, que as pessoas sejam inseridas na rotina de um monge, o que implica em acordar muito cedo, comer o que eles comem, se encarregar da limpeza do espaço e, sobretudo, fazer quatro horas de meditação diárias. “O retiro foi transformador para mim em vários sentidos, foi uma imersão. Você passa as duas semanas sem contato com o mundo exterior, num lugar desconhecido. Eu chorei muito e senti muita dor durante as meditações”, relembra. A produtora cultural Raphaela Simões, 29, teve uma experiência menos so-

Após o retiro, me tornei uma ‘peace agent’ e tento manter um grupo de meditação semanal

Experiência

Tamira (centro) participa de um retiro na Tailândia: grande imersão

frida. Ela acabou indo por duas vezes, desde 2009, e estendendo sua permanência na Tailândia. Hoje, é coordenadora do Peace Revolution na América Latina. “Eu nunca tinha tido contato nenhum com meditação, nem com budismo. O que me cativou no programa é que eles mostram que a filosofia do budismo é prática e aplicável na nossa vida. Buda foi um homem comum e, até certa idade, ele era um príncipe, não tinha nenhum caminho espiritual. Isso foi algo que ele foi desenvolvendo. O contato com essa história faz a gente ver que podemos sempre começar de onde estamos. Não é necessário nascer em um lugar onde exista a filosofia budista, ela é universal”, explica.

CORRENTE DO BEM O envolvimento delas – e de outros moradores da capital – já proporcionou duas visitas dos monges à cidade, para guiar meditações para grupos maiores e promover pequenos retiros. Raphaela relata que o grupo procurou lugares que pudessem sediar os workshops de meditação na base da parceria. “Aqui, eles foram feitos em universidades e num espaço de arte. Além disso, fizemos uma sessão numa penitenciária de Ribeirão das Neves. Foi muito interessante e uma espécie de desafio convencer os detentos – muitos deles evangélicos – de que ninguém precisa ser budista pra meditar e, muito menos, monge”, afirma. A ideia é manter a atividade na instituição.

Tamira acredita que a iniciativa do Peace Revolution está alinhada com um espírito muito presente entre os jovens de Belo Horizonte. “Tem a ver com essa ‘onda’ de mudar a si mesmo para mudar o mundo, coisa que eu vejo muito pela cidade. E também com a tendência de mundialização das coisas. No retiro eu conheci pessoas de todas as partes do mundo e até hoje converso com uma menina do Kosovo, troco mantras com outro dos Estados Unidos. Isso tem potencial para ser muito forte, como uma corrente do bem. Uma espécie de ‘Capitão Planeta’ contemporâneo”, brinca, aludindo ao desenho animado dos anos 1990. * Conheça o projeto acessando www.peacerevolution.net

SAIBA MAIS

REPRODUÇÃO

“O Pequeno Buda” (Little Buddha, 1993), filme do diretor Bernardo Bertolucci, foi indicado pelos representantes de todas as correntes do budismo ouvidos para esta matéria. Estrelado por Keanu Reeves e Bridget Fonda, usa uma história análoga à de “Joia Rara” – a reencarnação de um grande mestre do budismo em uma criança – para contar como o príncipe Siddhartha Gautama alcançou a iluminação e se tornou o primeiro Buda a passar pela Terra


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