Diários de Otsoga: o paraíso já não é o que era [PT]

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Diários de Otsoga: o paraíso já não é o que era dn.pt/edicao-do-dia/06-jul-2021/diarios-de-otsoga-o-paraiso-ja-nao-e-o-que-era-13906909.html 6 de julho de 2021

Crista Alfaite e Carloto Cotta em "Diários de Otsoga": à procura da natureza perdida © DR

Se é verdade que nem mesmo a crueza desta pandemia retirou aos humanos o desejo do paraíso, então o filme de Maureen Fazendeiro e Miguel Gomes - seleccionado para a Quinzena dos Realizadores - distingue-se como maravilhosa ilustração da nossa obstinação. E da nostalgia que a alimenta. Chama-se Diários de Otsoga e acompanha um trio de personagens - Crista Alfaiate, Carloto Cotta e João Nunes Monteiro - que, precisamente em cenário de pandemia, como se diz na sinopse oficial do filme, "constroem juntos um borboletário". O que a partir daí acontece envolve um misto de transparência e mistério que, creio, agora como no momento da estreia do filme (agendada para 19 de agosto), importa preservar, dando inteira liberdade ao olhar de descoberta do espectador. Falemos apenas da transparência. E de uma espécie de reconciliação melancólica com a natureza, ou melhor, com uma certa ideia de natureza. Dir-se-ia que Crista, Carloto e João são herdeiros tardios de Robinson Crusoé, náufragos das nossas queridas "sociedades de consumo", que vivem o isolamento imposto pela pandemia como uma redescoberta da possibilidade de estabelecer alguma relação com os elementos naturais. A cena de construção do borboletário possui, assim, uma beleza muito especial: por um lado, pressupõe a sedução abstracta de

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