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‘Animal Amarelo’ ruge brasilidade em Roterdã Rodrigo Fonseca 20 de dezembro de 2019 | 18h31
Rodrigo Fonseca Casa do cinema autoral mais radical feito no Brasil, sempre atento às experiências narrativas capazes de pôr nossas identidades (políticas e morais) em xeque, o Festival de Roterdã abriu muitas trincheiras para a produção nacional em sua 49ª edição, agendada de 22 de janeiro a 2 de fevereiro. Numa delas, a mostra Big Screen, prepara-se a erupção de um exercício de longa metragem no qual Felipe Bragança (“Não devore meu coração”) deposita sua inquietação sobre uma encruzilhada colonial. Encruzilhada que nos une a Moçambique e à nossa antiga metrópole, Portugal, numa ciranda de débitos históricos e cicatrizes existenciais: e é dela que brota “Um Animal Amarelo”. Trata-se de uma das grandes apostas brasileiras para o ano, dada a solidez do currículo de exposição internacional do diretor carioca, seja em suas dobradinhas de direção com (a sempre afiada) Marina Meliande – vide “A Fuga da Mulher-Gorila”, troféu Aurora de Tiradentes em 2009 -, seja em voos solos. Agora, o foco de Bragança está na jornada por terras lusófonas de Fernando (Higor Campagnaro, do ótimo “O que resta”), um cineastas de 30 e poucos anos, liso, leso, duro e louco em suas finanças, a fim de desbravar nossas raízes no Além Mar. Uma obsessão vai levar o personagem à geografia moçambicana em busca de um norte ou de algum entendimento acerca dos dilemas do Brasil. Este ano, por lá, Bragança topa com produções com perfume de brasilidade como “Mosquito”, de João Nuno Pinto; como “Desterro”, de Maria Clara Escobar”; como “Apiyemiyekî”, de Ana Vaz; como “A Chuva Acalanta a Alma”, de Leonardo Mouramateus; “Swinguerra”, de Bárbara Wagner e Benjamin de Burca; e “Em Pedaços”, do mestre Ruy Guerra. Estima-se que esse número possa aumentar. Mas, até lá, celebremos as vozes artísticas que foram selecionadas. Na entrevista a seguir, Bragança – que foi produzido pela Duas Mariola, do Brasil, e pela O Som e Fúria, de Luis Urbano, de Portugal – fala ao Estadão sobre seu recorte geopolítico em “A Yellow Animal”.