RAMIRO_E agora, Ramiro, o que vai ser da tua vida? E da nossa?

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E agora, Ramiro, o que vai ser da tua vida? E da nossa? observador.pt /2017/10/19/e-agora-ramiro-o-que-vai-ser-da-tua-vida-e-da-nossa/

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André Almeida Santos Mais sobre

Cinema Cultura A Cervejaria Ramiro tem pessoas à porta por volta das onze da manhã. Por vezes antes. As portas abrem ao meio-dia e a partir daí começa o cenário comum para quem passa regularmente pelo número 1-H da Almirante Reis: aquele pátio forçado no meio da rua torna-se numa sala de espera ao ar livre, com self-service de imperiais durante as doze horas seguintes. É o dia-a-dia da Cervejaria, a espera é menor do que o número de pessoas sugere e há um sistema de chamadas muito bem montado. A maioria da clientela nos últimos anos faz-se de turistas, contudo, a Ramiro fecha em agosto. É um gesto que ignora tudo em volta, a lógica do negócio, e é também um que mantém um elo com uma Lisboa que está a desaparecer: aquela lembrança de um mês de agosto em que a maior parte dos estabelecimentos estavam fechados. “Ramiro”, o mais recente filme de Manuel Mozos, que tem a sua estreia na sessão de abertura do Doclisboa (19 de Outubro, Grande Auditório da Culturgest às 21h30) e que depois passará pela Viennale e pelo Festival de Cinema de Sevilha, é descrito como “uma comédia delicada”, não é um filme sobre a cervejaria mas é um retrato dessa Lisboa confortável e naturalmente ordenada (sabe-se lá como e porquê) que está a desaparecer. “Ramiro”, com o mesmo nome da cervejaria, é uma ficção, uma história em volta de um alfarrabista (António Mortágua) que também é um poeta com um livro editado e que está há anos num processo de bloqueio criativo. 1/2


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