Salomé Lamas no topo do mundo www.publico.pt /2017/02/08/culturaipsilon/noticia/salome-lamas-no-topo-do-mundo-1761141 Luís Miguel Oliveira Encontrou, nos Andes peruanos, uma "terra de ninguém" cujas minas de ouro atraem gente desesperada em busca da promessa do enriquecimento. Salomé gosta de se atirar de chofre, é uma forma de preservar a dimensão aventurosa das suas rodagens. Eldorado XXI chega às salas portuguesas. Luís Miguel Oliveira 8 de Fevereiro de 2017, 9:57 Bem-vindos a La Rinconada, ruína viva dos sonhos dos "conquistadores" que noutros séculos exploraram os confins da América do Sul à procura da mítica cidade a que chamavam "Eldorado". Salomé Lamas encontrou-a num ermo algures nos Andes peruanos, enorme e árida "terra de ninguém" (que por acaso é o título de um dos mais conhecidos filmes de Salomé) cujas minas de ouro atraem gente desesperada ou meramente gananciosa em busca da promessa do enriquecimento rápido. É o topo do mundo – para lá chegar acima eram duas horas de viagem por caminhos intransitáveis todos os dias durante a rodagem, como nos conta a realizadora em conversa –, mas ao mesmo tempo também é a base do mundo, a "cave do mundo", num sentido que tem um pouco de, digamos, moral ou moralista, como uma espreitadela ao inferno da avidez material, como tem um pouco de fisicamente descritivo, porque aquelas pessoas sobem aquilo tudo para se enfiarem num grande buraco, como tem mesmo um pouco de teoricamente político, porque a Rinconada é a expressão, menos irónica do que possa parecer, de um capitalismo arcaico e rudimentar, sem outra lei que não as que ele espontaneamente cria, "selvagem" sem força de expressão.
Eldorado XXI Realização:Salomé Lamas Há muitas razões para Salomé Lamas ter chamado ao seu filme Eldorado XXI, desde logo o que o título, por contraponto às imagens, sugere acerca de uma "deflação mitológica". Não há aqui nem a beleza nem o esplendor da "cidade dourada" que os exploradores espanhóis, por exemplo os filmados por Werner Herzog em Aguirre, anteviam e idealizavam. Bem pelo contrário, não há na Rinconada qualquer beleza ou esplendor. Mas há uma espécie de grandiosidade, provavelmente a mesma que nos leva, por lapso, a escrever Eldorado XXL, e depois a achar que também esse título seria justo – e particularmente apto para descrever um plano do filme, um plano XXL, que leva metade da sua duração total, praticamente uma hora num filme que tem cerca de duas.
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