Biblioteca Municipal Cora Coralina (Antigo Palace Hotel de Campinas)

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Pensando uma intervenção em um edifício preexistente

Biblioteca Municipal Cora Coralina Biblioteca Municipal Cora Coralina

Antigo Palace Hotel de Campinas

Antigo Palace Hotel de Campinas

Setor Campinas, Goiânia - GO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ARTES VISUAIS CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

JULIA SANTANA COSTA RAFAEL FERREIRA DA SILVA THÁSSILA BERNARDES DIAS PEREIRA

BIBLIOTECA MUNICIPAL CORA CORALINA (ANTIGO PALACE HOTEL DE CAMPINAS)

Pensando uma intervenção em um edifício preexistente

GOIÂNIA – GO 2022

JULIA SANTANA COSTA

RAFAEL FERREIRA DA SILVA THÁSSILA BERNARDES DIAS PEREIRA

BIBLIOTECA MUNICIPAL CORA CORALINA (ANTIGO PALACE HOTEL DE CAMPINAS)

Pensando uma intervenção em um edifício preexistente

Projeto de Pesquisa apresentado como projeto educacional à disciplina de Patrimônio Arquitetônico e Técnicas Retrospectivas, do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Faculdade de Artes Visuais, da Universidade Federal de Goiás

Orientador: Prof.ª Dr. Fernando Antônio Oliveira Mello. Área de concentração: Patrimônio Arquitetônico.

Linha de pesquisa: História da arquitetura e da cidade.

GOIÂNIA – GO 2022
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 01 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................................... 02 2.1 VITALIDADES DOS CENTROS URBANOS 02 2.1.1 A cidade como lugar de encontro ..................................................................... 02 2.2 PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DAS CIDADES 03 2.2.1 A cidade como lugar de memória 03 2.2.2 As intervenções na cidade ............................................................................... 04 2.2 3 Como intervir nos centros urbanos em dias atuais 07 3 HISTÓRICO DO BAIRRO DE CAMPINAS ............................................................ 09 3.1 O BAIRRO ENQUANTO CIDADE ....................................................................... 09 3.1.1 Campininha das Flores: o povoado que precede Goiânia .................. 09 3.2 EXPANSÃO URBANA E FORMAÇÃO DE GOIÂNIA .......................................... 13 3 2.1 De cidade a bairro: a construção da nova capital .................. 13 3 2 2 Inovação arquitetônica .................. 16 3.2.3 O bairro ao longo do tempo .............................................................................. 17 3 3 PRAÇA JOAQUIM LÚCIO E A AVENIDA 24 DE OUTUBRO 18 3.3.1 A expansão edificada ao “moderno” ................................................................ 18 4 O ANTIGO HOTEL QUE HOJE É BIBLIOTECA ................................................... 22 4.1 O PALACE HOTEL DE CAMPINAS 22 4.1.1 Histórico e contexto .......................................................................................... 22 4.1.2 A reconstrução art déco .................. 25 4.1.3 O tombamento federal ...................................................................................... 33 5 ESTUDO DO LUGAR ............................................................................................ 34 5 1 ANÁLISE DO EDIFÍCIO 34 5.1.1 Partido e programa (original e modificações) .................................................... 34 5 2 LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO 41 5 3 LEVANTAMENTO DE ESTÁGIO DE CONSERVAÇÃO E MAPEAMENTO DE DANOS ............................................................................................................... 43 6 PLANO DE INTERVENÇÃO E PATRIMÔNIO ....................................................... 49 6.1 PLANO DE AÇÕES ............................................................................................. 49 6.1.1 Espaço público, patrimônio e memória 49 6 2 PROPOSTA PROJETO DE INTERVENÇÃO 50 6.2.1 A biblioteca Cora Coralina ................................................................................ 50 6 2 2 O centro de memórias de Campinas .................. 50 6.2.3 O quintal de Cora ............................................................................................. 51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 54

REFERENCIAL TEÓRICO REFERENCIAL TEÓRICO 2.

2.

INTRODUÇÃO

Campinas é um bairro de Goiânia, mas antecede a cidade. Outrora foi um povoado autônomo, fundado no século XIX, e foi fundamental para a construção da nova capital de Goiás. Sede provisória do governo estadual, por algum tempo, deteve a concentração das atividades urbanas da nova cidade em construção. Com o passar do tempo, Goiânia assume o protagonismo, e o bairro de Campinas permanece como centralidade comercial e de perpetuação das tradições goianas. As inquietações a respeito do bairro de Campinas iniciam-se na atividade de ensino voltado ao patrimônio, como uma ligação afetiva e precedente ao surgimento da capital. Como resultado do trabalho pesquisa e projeto sobre o bairro em questão, estuda-se aspectos da memória do lugar, em que se identifica o patrimônio como uma permanência. Desse modo, nesta pesquisa, decide-se aprofundar os estudos sobre as edificações campineiras pioneiras como aspecto da sua formação e memória.

Várias foram as perguntas que nos conduziram pelo patrimônio arquitetônico campineiro. A vocação e histórica do bairro é antiga, vem da sua fundação, mas como ela se sedimenta? A construção de Goiânia interferiu e interfere nessa vocação? Ao longo do tempo, o bairro manteve-se como lugar principal da capital? O que acarretou as mudanças de uso edificado para uso comercial? Quais foram as transformações ocorridas na paisagem urbana em decorrência do comércio e especulação imobiliária ao longo do tempo?

Diante de todos esses questionamentos, o enfoque deste trabalho visa analisar os fatos que contribuíram para a formação da centralidade edilícia do bairro de Campinas, em Goiânia, avaliando o que permanece como memória urbana. Adotamse como objeto central das investigações a atual e esquecida Biblioteca Municipal Cora Coralina antigo Palace Hotel, primeiro edifício hoteleiro desse bairro, observando as transformações na paisagem urbana.

O interesse pelo bairro conduziu à arquivos que revelaram diversas fontes para este estudo. O Arquivo Histórico Estadual de Goiás contém uma diversidade de documentos oficiais, periódicos e também projetos arquitetônicos sobre o bairro de Campinas. Igualmente foram de muita valia os documentos encontrados na Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo (SEPLAM) e no Centro de Documentação e Biblioteca da SEPLAM, como fotografias, mapas, decretos e recortes de jornais.

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IINTRODUÇÃO NTRODUÇÃO 11. .

REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 VITALIDADES DO CENTROS URBANOS

A CIDADE COMO LUGAR DE ENCONTRO

Ao longo da história, o espaço da cidade funcionou como ponto de encontro das pessoas. A vida social e econômica acontecia nas praças e ruas em um sistema integrado de diversidade e vitalidade sob à prática do caminhar. A moradia, o trabalho, o comércio, os eventos, as manifestações populares, artísticas e culturais, tudo aconteciam no meio público (KARSSENBERG, 2015).

"A vida no espaço da cidade era uma parte vital dessa riqueza de experiência e acreditava-se, naturalmente, que as cidades eram construídas para pessoas." (GEHL, 2015, pXIV)

Até o século XX, a cidade continuava funcionando como lugar de encontro, entretanto, a crescente transformação do espaço urbano, provocada pelo crescimento populacional e expansão urbana descontrolada, as ideologias aplicadas do Movimento Moderno e o excessivo aumento dos automóveis, reformularam as paisagens e estilos de vida em torno das novas necessidades urbanas (GEHL, 2015).

AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO URBANO

A partir de 1933, as ideologias do Movimento Moderno mudaram a forma de conceber o espaço urbano das cidades europeias, americanas e brasileiras. Elas são vistas a partir de funções racionais da necessidade humana. Os conceitos principais da atuação do urbanismo modernista foram o habitar, trabalhar, recrear e circular. A cidade é planejada em grandes distâncias e segregação de usos, priorizando o automóvel para os deslocamentos e o acesso aos serviços urbanos.

Os espaços públicos, as relações sociais e a caminhabilidade perdem força e as tendências arquitetônicas também mudam, de conexões diretas com os espaços comuns da cidade para edificações individuais, isoladas, autossuficientes que negam o contexto urbano. O comércio e os serviços passam a se concentrar em grandes centros de compras fechados, como shopping centers e hipermercados (GEHL, 2015).

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O exemplo mais notável do urbanismo modernista e próximo e concomitante de Goiânia, é a cidade de Brasília, construída entre os anos 1956 e 1960. A cidade é dividida por setor administrativo, habitacional, hoteleiro, hospitalar, comercial, de lazer e cultural. A imagem da cidade é bem estruturada e bela, mas só funciona com o uso dos veículos. Os espaços urbanos não são convidativos para as pessoas (GEHL, 2015).

Com as novas prioridades nas transformações do espaço urbano, a cidade se tornou perigosa. A ruas e as calçadas são os órgãos vitais da cidade e são responsáveis para que ela seja livre da violência e do medo. Para isto, é necessário a presença ininterrupta de pessoas nas calçadas e nos espaços públicos, enquanto os proprietários e a vizinhança mantêm os olhos sobre a rua, a partir do sistema simples de vigilância cidadã. Entretanto, isso só se torna possível, com a diversidade de usos, uma realidade distante do urbanismo modernista (JACOBS, 2000).

A cidade também adquiriu problemas sociais devido a segregação do espaço. O crescimento avançado estimulou o surgimento dos subúrbios, formando novos bairros residenciais fora do núcleo urbano, o esvaziamento habitacional do centro e as áreas de habitação informal com grande adensamento e carência de serviços. No geral, os habitantes de baixa renda tem acesso limitado aos equipamentos públicos, automóveis particulares e o transporte público é pouco desenvolvido, caro e lento, o que dificulta a locomoção e o acesso as atividades cotidianas (GEHL, 2015).

2.2 PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DAS CIDADES

A CIDADE COMO LUGAR DE MEMÓRIA

A valorização do passado tem sido uma característica comum nas sociedades deste milênio. Por muito tempo se cultuava a inovação e a negação do passado das cidades, isso resultou na perda de heranças e da identidade social. Agora, o cotidiano de várias cidades, inclusive as brasileiras estão sendo tomados por discursos e projetos que retomam a preservação da memória urbana, através da restauração e o resgate dos mais diversos vestígios do passado, em busca de suas raízes. (ABREU, 2001).

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A memória urbana é fundamental para a formação da identidade de um lugar e das pessoas. Ao longo da história, as cidades passaram pelo processo de acumulação de valores e práticas sociais, vividas pelos moradores, famílias e grupos. Esse conjunto de valores e práticas é o que constituí a singularidade, a identidade das cidades e das pessoas (ABREU, 2001).

Tanto as manifestações culturais, populares e eruditas, quanto as igrejas, os monumentos, qualquer produto arquitetônico, as praças e jardins, o traçado das nuas é caminhos, os arquivos e museus, as obras de arte, os fazeres e as peculiaridades do comportamento social, a paisagem e os vestígios arqueológicos, podem ser reunidos no cenário da cidade. Tudo isso constitui na cidade, as suas referências, a sua memória e sua identidade (CERTEAU apud BORGES 2013).

Os centros históricos, são para várias cidades o que há de mais dinâmico, devido ao seu processo de transformação. Eles representam hoje, o patrimônio cultural e possibilitam o resgate dos valores e a identidade das cidades e das pessoas (CARRION apud CASTILHO, 2006).

Patrimônio cultural - É o conjunto de bens, materiais que são considerados de interesse coletivo, suficientemente relevantes para a perpetuação no tempo. O patrimônio faz recordar o passado, é uma manifestação, um testemunho, uma invocação ou melhor uma convocação do passado (MARTINS apud RODRIGUES, 2012).

Identidade - É um processo de identificações historicamente apropriadas que conferem sentido ao grupo. Ela implica um sentimento de pertença a um determinado grupo étnico, cultural, religioso (CRUZ apud RODRIGUÊS, 2012).

AS INTERVENÇÕES NA CIDADE

Após o surgimento da cidade industrial, a forte valorização crescimento populacional e a expansão urbana das cidades, provocou problemas letais ao centro. As cidades passam por um momento de deterioração das áreas centrais, não apenas de sua estrutura física, dos edifícios e espaços públicos, mas também da sua perda de funções e rebaixamento do nível de valor das transições econômicas.

Em busca da solução dos problemas de degradação de áreas centrais, são realizados nas cidades entre os anos 1950 e os dias atuais, diversos projetos e

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intervenções, visando o resgate urbano e econômico em diferentes atitudes em relação ao passado.

As décadas de 1950 à 1960 são marcadas pelo radicalismo, com o período da Renovação Urbana. A atuação teve em suas bases a inovação e negação do passado. Para isso foram feitas inúmeras demolições, por ser necessário abrir espaço entre os edifícios para a criação da nova paisagem (CASTILHO, 2006). Neste caso, a valorização do patrimônio era restrita ao monumento e o espaço urbano aparecia como complemento do edifício (KARA JOSÉ, 2012).

Na Europa, o processo de intervenções, também cultua o novo, mas pela prática de reconstrução das cidades atingidas no período pós-guerra e consegue impedir as demolições em larga escala. Entretanto, na América do Norte, o processo de demolições atingiu grandes proporções (CASTILHO, 2006).

O objetivo das intervenções era reconstruir o centro, em sua imagem e economia. Portanto, foram construídos edifícios altos, com maior densidade por metros quadrados, destinados à população de renda alta e aos espaços de trabalho. Estas atitudes acabaram por expulsar os antigos moradores, principalmente aqueles de baixa renda (KARA JOSE, 2006).

"As estatísticas mostram que os negócios são conduzidos no centro. Isto significa que avenidas precisam passar pelos centros de nossas cidades. Portanto os centros existentes precisam vir abaixo. Para salvar-se a cidade grande deve reconstruir seu centro." (LE CORBUSIER apud KARA JOSÉ, p. 2)

No início dos anos 1970, as cidades são motivadas pela defesa do patrimônio histórico e ambiental, e formam uma oposição à renovação, dando abertura ao período da Preservação urbana, que segue até os anos 1980 (CASTILHO, 2006). As atuações deste período são configuradas em duas ideias principais. A primeira, baseada na preocupação com a preservação da memória e do patrimônio cultural que se manteve na paisagem urbana. E a segunda, no comprometimento com a questão social das intervenções, sobretudo, no resgate dos centros urbanos tradicionais, através das práticas de comércio e serviços locais e o convite para atrair as pessoas ao centro e trazer de volta os antigos moradores (KARA JOSÉ, 2012).

Em busca da solução dos problemas de degradação de áreas centrais, são realizados nas cidades entre os anos 1950 e os dias atuais, diversos projetos e

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intervenções, visando o resgate urbano e econômico em diferentes atitudes em relação ao passado.

O objetivo esteve centrado na valorização da memória, na organização da sociedade em defesa do patrimônio histórico e no discurso de que os centros das cidades seriam elementos essenciais de vida urbana e gerariam identidade e orgulho cívico." (CASTILHO, 2006, p. 16)

Neste período, é reforçada a importância das relações sociais e a restauração histórica de edifícios antigos e simbólicos, juntamente com a produção de projetos arquitetônicos atraentes e populares. A vitalidade dos centros urbanos foi reforçada através da construção de espaços culturais, turísticos, comerciais e de lazer nas antigas estruturas das cidades (CASTILHO, 2006).

Utilizam-se de antigas estruturas industriais, atos de trem, armazéns, mercados e teatros, introduzindo nesses espaços o comércio e os serviços varejistas, as atividades de lazer e cultural (CASTILHO, 2006).

A educação patrimonial também é reforçada. Torna-se necessário educar as pessoas para o reconhecimento da identidade com o lugar, para a conscientização de preservação e a capacitação da população nas discussões urbanas. Com este intuito de participação popular, Lisboa na década de 1980, cria os gabinetes técnicos municipais instalados nos bairros para que a população possa opinar e ajudar na elaboração dos projetos. O mesmo aconteceu em diversas cidades, como Lorent em 1980, São Luís em 1979, Recife em 1986 e Porto Alegre em 1989.

As pessoas passaram a serem vistas como consumidores e agora o predomínio dos espaços urbanos deixa de ser tradicionalmente lugar de encontro e de trocas sociais, para lugar de fórmulas de vendas, de indução ao consumidor, de transição e movimento (CASTILHO, 2006).

Neste período, a imagem da cidade é reinventa para atrair o fluxo de consumidores em áreas comerciais e turistas. O objetivo principal é incentivar o crescimento econômico das cidades, para gerar emprego e renda. Cidades com diferentes posições econômicas e territoriais, passam a utilizar políticas culturais melhoria de sua imagem interna e externa (KARA JOSÉ, 2012).

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O investimento em atividades e serviços culturais passou a ser visto como requisito básico em cidades interessadas em conquistar seu posto na competição originada pela mobilidade, ou desterritorização do capital financeiro.” (KARA JOSÉ, 2012, p. 17)

O poder público e o mercado imobiliário se unem com o mesmo propósito, reinventar o ambiente construído. Áreas abandonadas, mas que tenha valor histórico são as mais para intervenção (CASTILHO, 2006).

Neste contexto foram lançados grandes projetos unindo a arquitetura espetacular, com a cultura a partir estruturas antigas de valor patrimonial para as cidades ou completamente inovadoras. Como por exemplo, é o caso de Paris, França com a Pirâmide do Louvre, de 1989 (KARA JOSÉ, 2012).

COMO INTERVIR NOS CENTROS URBANOS EM DIAS ATUAIS?

Como vimos, para intervir nos centros urbanos será preciso avaliar sua herança patrimonial, seu caráter funcional e questionar qual a justificativa para tantas mudanças (CASTILHO, 2016). Para isso é necessário o planejamento eficaz e unificado com a participação popular.

Os modelos de intervenções da Renovação e Reinvenção urbana contribuíram para a perda parcial da memória e identidade das cidades ou acabou mascarando os conflitos de desigualdade social, pela imagem do urbanismo espetacular e a criação de espaços melhores para poucos.

Se por um lado os grandes projetos urbanos são apresentados sinônimo de resgate urbano e econômico de áreas descartadas pelo capital, por outro, é possível notar evidencias destas intervenções como sinônimo de expulsão dos pobres e o conflito com a preservação do patrimônio histórico (KARA JOSE, 2012).

A cidade é um espaço de história e cultura, e isso precisa ser considerado antes de ser implantada qualquer ação que modifique as cidades. Além da preservação patrimonial, é necessário entender os diferentes estilos de vida, otimizar os espaços, dinamizar o comércio, o turismo, a circulação, o lazer, a cultura, a gerar empregos. Será preciso implementar ações em busca de investimentos que

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estimulem a economia urbana e a qualidade de vida de todos, de forma democrática (CASTILHO, 2016).

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Imagem: Homem Em Frente Ao Museu Do Louvre De Paris. Autor: Tommy Milanese | Fonte: Pexels.com

HISTÓRICO DO BAIRRO DE HISTÓRICO DO BAIRRO DE CAMPINAS CAMPINAS 3. 3.

HISTÓRICO DO BAIRRO DE CAMPINAS

3.1 O BAIRRO ENQUANTO CIDADE

CAMPININHA DAS FLORES: O POVOADO QUE PRECEDE GOIÂNIA

Campininha, Campinas das Flores de Nossa Senhora da Conceição ou ainda Campininha das Flores, esses são alguns dos nomes presentes na história e na memória desse lugar que viria a ser posteriormente um bairro de Goiânia.

As origens de Campinas localizam-se em 1810, quando o alferes meiapontense Joaquim Gomes da Silva Geraes, à procura de minas de ouro no Rio Anicuns, resolveu se fixar na região e formar uma fazenda, atraído pela beleza incomparável daquelas terras (CAMPOS, 1985). Como era usual no século XIX, o proprietário doou uma porção de terras para uma igreja dedicada à Nossa Senhora da Conceição, por volta de 1813, segundo Moreira (2014), que recorreu aos registros no livro de óbitos nº 1 de Campinas. A partir da formação do patrimônio religioso, algumas famílias se mudaram para o local, nomeando-o de Campininha das Flores. Campinas se destacava por suas belas paisagens e por ter uma terra rica. Se situou numa vasta e pitoresca campina, de onde extraiu o nome que perpetuou. Dentro de seu território corria o límpido Córrego Cascavel (MOREIRA, 2014). Como se encontrava no caminho da capital de Goiás, os transeuntes, que iam ao centro administrativo da província paravam naquele povoado para retomar as energias, reabastecer e seguir adiante (MOREIRA, 2014).

Essa foi a primeira fase de urbanização da Campininha, caracterizada apenas como pouso e abrigo. A produção agropecuária era somente para o abastecimento do povoado, e este teve pouco desenvolvimento ao longo desse período.

No final dos anos 1800, na segunda fase de urbanização, os caminhos para acessar a capital de Goiás se alteraram, mas Campinas continuou como rota para quem vinha do sul de Goiás, em decorrência da proximidade com a linha férrea. Nesse sentido, Campinas atraiu pessoas de várias regiões do Brasil. Pequenos comerciantes, agricultores e criadores de gado vieram habitar a região. Entretanto, o que impulsiona o seu crescimento é a chegada em Campinas, em 1894, dos Padres Redentoristas da Congregação do Santíssimo Redentor da Baviera, sul da Alemanha.

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Estabeleceram-se no povoado para cuidar da romaria do Divino Espírito Santo que acontecia em Barro Preto, atual cidade de Trindade. Os padres introduziram novos costumes e alteraram a vida do lugar e de toda a região. A contribuição dos religiosos marcaria para sempre a vida dos campineiros. Ali construíram o seu primeiro convento e uma segunda capela em 1900 (CAMPOS, 1985).

Essa foi a primeira fase de urbanização da Campininha, caracterizada apenas como pouso e abrigo. A produção agropecuária era somente para o abastecimento do povoado, e este teve pouco desenvolvimento ao longo desse período.

Oliveira (2003) relata que, por volta de 1896, o fluxo comercial e de pessoas que vinham de Minas Gerais e iam até a capital de Goiás era preferencialmente por Campinas, com a ampliação da linha de ferro até a cidade de Araguari, MG, que distava aproximadamente 265 quilômetros de Campinas, como anteriormente citado. Por esse motivo, houve desenvolvimento comercial e populacional do povoado, contribuindo para sua elevação à categoria de vila em 1907 e à de cidade em 1914. Esse aumento do fluxo de pessoas pelo povoado de Campinas provavelmente acarretou o surgimento de doenças até então desconhecidas do local. A que causou mais danos na sua população foi a varíola. O arraial foi afetado por surtos dessa doença três vezes: 1904 (o surto da "bexiga"), 1910 e 1926.

Apesar das doenças, o comércio do povoado foi se sedimentando em decorrência da sua localização e do aumento do fluxo de pessoas. Daquele momento em diante, dois nomes tiveram muita relevância para o comércio na Campininha enquanto formação de cidade: Licardino Oliveira Ney e Honestino Guimarães, advogado e farmacêutico, vindo de Bela Vista. Campinas possuía apenas duas casas comerciais, sendo os proprietários, os Coronéis José Rodrigues de Moraes Filho e Joaquim Lúcio Tavares.

Além dos padres alemães, como já mencionado, também chegaram à pequena cidade em 1921 as Irmãs Franciscanas, igualmente provindas da Alemanha, para fundar o Colégio Santa Clara, em 1922.

Acerca da paisagem urbana daquele momento, o comércio se concentrou nas proximidades dos edifícios religiosos. Algumas lojas comerciais no entorno da igreja, do convento (atual Centro Cultural Gustav Ritter) e do colégio das Irmãs Franciscanas (atual colégio e igreja Santa Clara). Nota-se que o comércio se localizava na Rua Senador Morais Filho e na atual Avenida Sergipe, no perímetro antigo da cidade. Essa

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avenida era a única a fazer a ligação com Trindade, possuindo um fluxo maior de pessoas, e foi se tornando um local ideal para a instalação de casas comerciais. As construções possuiam duas, três e até quatro portas voltadas para a rua, com as janelas também, que se abriam para ela.

Nesse momento inicial, a paisagem da cidade foi se alterando devagar. Vale o registro de que o conjunto urbano seguiu a ordem de qualquer cidade colonial brasileira, ou seja, em que se destacam edifícios religiosos, o urbano e o arquitetônico, com edifícios residenciais e comerciais constituindo a massa edificada, sem grandes distinções, morfologicamente semelhantes.

Naquele primeiro século de existência, Campinas era um povoado com poucas pessoas e construções. Passou por momentos de estagnação, sem modificações significativas. A vinda dos Padres Redentoristas e, posteriormente, das Irmãs Franciscanas, foi um evento de significativa importância à pequena cidade.

A chegada dos Padres Redentoristas na Campininha em 1894, conforme estudos de Gomes (2012), contribuiu significativamente, como já referido, para o crescimento do povoado. Os religiosos residiam próximos ao Córrego Cascavel, onde

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Igreja, convento e lojas comerciais de Campinas, final da década de 1940 - Acervo Hélio de Oliveira, editado pela autora, 2017. | Fonte: Dissertação - Daniele Severino

construíram o Convento São José – que já não existe mais – e uma nova igreja, que mais tarde levaria o mesmo nome.

Campinas recebeu grandes melhoramentos com a atuação dos religiosos. Dos vários benefícios realizados, podem ser elencadas a instalação, em 1921, da primeira usina hidrelétrica e a edição do primeiro jornal. Em 1922, colaboraram com as Irmãs Franciscanas na fundação do Colégio Santa Clara e introduziram a primeira motocicleta em Campinas. Em 1924 foi a vez da instalação do primeiro telefone do Estado entre Campinas e Trindade, bem como do relógio na torre da igreja (MOREIRA, 2014). Além disso, podem ser citadas a implantação da primeira serraria e ainda de novas técnicas de pastagem, moendas de cana, moinhos de trigo e milho, e a fabricação de vinho.

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Imagem: Vista aérea de Campinas, 1935. Fonte: Acervo da família Corrêa Lima. Enviado por Juca Fernandes. Imagem: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, 1954. Fonte: OLIVEIRA, 2012, p. 173. Imagem: Residência dos Padres Redentoristas, inaugurada em 1949, hoje denominado Instituto de Educação em Artes Professor Gustav Ritter. Fonte: Matriz de Campinas (2017).

3.2 EXPANSÃO URBANA E FORMAÇÃO DE GOIÂNIA

DE CIDADE A BAIRRO: A CONSTRUÇÃO DA NOVA CAPITAL

Em 1930, os moradores da Campininha levavam uma vida pacata, como em qualquer cidade do interior do Brasil. Na Cidade de Goiás, a então capital do Estado, o interventor federal Pedro Ludovico Teixeira decidiu mudar a capital de lugar e para isso urgia escolher um local para a construção da nova cidade (OLIVEIRA, 2003).

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Imagem: Colégio Santa Clara, 1928. Fonte: Colégio Santa Clara (2017). Imagem: Colégio Santa Clara, década de 1930. Fonte: Colégio Santa Clara (2017). Imagem: Colégio Santa Clara reformado e ampliado, década de 1948. Fonte: Colégio Santa Clara, 2017. Imagem: Romaria da Festa do Divino rumo à Trindade, em frente a Igreja de São José em Campinas, 1928. Fonte: Pe. Wellington Silva - reproduzida do livro “A freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas”. Imagem: Romaria da Festa do Divino rumo à Trindade, na Praça Joaquim Lúcio em Campinas, 1930. Fonte: Alois Feichtenberguer - Goiânia Antiga.

Goiânia nasceu diante da Marcha para o Oeste e se utilizou de Campinas para apoio em sua construção. No ano de 1931, Licardino Oliveira Ney (NEY, 1975) foi nomeado prefeito de Campinas, permanecendo no cargo até 1935, data em que Campinas passa a ser bairro da nova capital. Foi uma figura muito atuante, tendo contribuído de forma significativa para o crescimento da cidade de Campinas. Das obras públicas que foram executadas durante seu mandato, podem ser destacados: a praça Coronel Joaquim Lúcio e o coreto, o Grupo Escolar Pedro Ludovico (depois Henrique Silva, a Cadeia Pública, a avenida 24 de Outubro. Das obras particulares, construiu o Campinas Hotel, com dois pavimentos, localizado na praça Coronel Joaquim Lúcio, e o edifício Oliveira Ney, com três pavimentos, todos em alvenaria, apontando a influência da nova capital.

Em 1932, o interventor Pedro Ludovico Teixeira decretou a mudança de capital, nomeando uma comissão para a escolha do lugar. Foram enviados então, ao interventor, uma ata e o relatório elaborado pela comissão técnica, confirmando Campinas como local adequado e escolhido para ser a futura capital, tendo em vista sua localização e topografia. Em maio de 1933, o interventor Pedro Ludovico publicou o Decreto nº 3.359, definindo que a região às margens do Córrego Botafogo, que compreendia as fazendas Criméia, Vaca Brava e Botafogo, do município de Campinas, fosse o local escolhido para a construção da nova Capital.

Em 2 de agosto de 1935 foi editado um dos mais importantes decretos-lei, o de número 327, para a vida estadual. Esse decreto determinava a criação do município de Goiânia, com sede na cidade com mesmo nome, assim como o estabelecimento da Comarca de Goiânia, que ficou subordinada ao Distrito de Campinas, por meio da fusão de Campinas, Hidrolândia e parte de territórios de Anápolis, Bela Vista e Trindade. Nesse momento, a cidade de Campinas passou à categoria de Distrito de Goiânia (CAMPOS, 1985).

Simultaneamente, as obras para a construção de Goiânia, conforme Oliveira (2003), tiveram um grande impacto sobre a então cidade de Campinas, que passou por muitas transformações. Com a construção da nova cidade, vieram mais pessoas de vários estados e até mesmo de outras nacionalidades. Hotéis, postos de gasolina, casas comerciais foram construídas para atender às novas demandas que a construção de uma nova cidade exigia.

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Segundo Manso (2001), com o passar dos anos e o crescimento de Goiânia, Campinas incorporou-se ao traçado da capital e, em 1935, oficialmente deixou de ser cidade-satélite, como havia sido definida no plano anterior, para se tornar bairro de Goiânia.

Campinas se encontrava adensada e com um traçado mais bem definido do que Goiânia, no ano de 1937, que começava a sua implantação. O aeroporto também era um divisor físico entre Campinas de Goiânia. Campinas, ao longo dos anos, teve seus limites físicos alterados como definiram alguns decretos e planos diretores. Conforme Campos (1985), “em 1938, o Distrito de Goiânia é dividido em duas zonas, sendo a primeira constituída por Goiânia e a segunda por Campinas”.

Campinas dava o apoio necessário para a construção da nova capital, tanto no quesito moradia como também no fornecimento de materiais de construção necessários e mão de obra. Por esses motivos, Campinas teve sua ocupação acelerada, e em pouco tempo áreas entre o bairro e Goiânia foram sendo loteadas, diminuindo o vazio que existia entre elas, além de surgirem várias ocupações.

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Imagem: Praça Coronel Joaquim Lúcio e coreto (1935). Fonte: NEY, 1975. Imagem: Grupo Escolar Pedro Ludovico. Fonte: NEY, 1975.

INOVAÇÃO ARQUITETÔNICA

Além da expansão territorial e do desenho inovador, a nova capital trouxe novidades na arquitetura dos edifícios. O estilo art déco foi, segundo Mello (2006), em Goiânia, uma maneira de exprimir a modernização conquistada pela mudança da capital, que também tinha a intenção de mostrar uma linha divisória entre o Estado atrasado e novos tempos de progresso e desenvolvimento. Além do art déco, outras linguagens arquitetônicas estiveram presentes nos primeiros edifícios de Goiânia, como a eclética, com algumas manifestações como o normando, entre outros, e o neocolonial.

As construções existentes em Campinas, já referenciadas anteriormente, eram tradicionais, mas, com a edificação de Goiânia, passaram por reformas, e as novas acompanhavam a linguagem estilística e construtiva dos edifícios da capital. Algumas delas são o convento dos Padres Redentoristas e o Colégio Santa Clara Esses dois edifícios passaram por modernização de sua construção e fachada, buscado se adequar à novidade trazida pela nova capital, o estilo art déco. Não só eles, como também a Praça Coronel Joaquim Lúcio e as edificações residenciais e comerciais de seu entorno – como Campinas Hotel – passaram pelo mesmo processo. No caso do grupo escolar Pedro Ludovico, o edifício foi demolido para dar lugar a novas construções. Iniciavam-se as primeiras transformações na paisagem do bairro.

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Imagem: Avenida 24 de Outubro (1935). Fonte: Eduardo Bilemjian e Eliézer Bilemjian. Imagem: Praça Coronel Joaquim Lúcio e Campinas Hotel. Fonte: Eduardo Bilemjian e Eliézer Bilemjian). Imagem: Auto Posto Amazonas, Avenida Anhanguera, esquina com José Hermano. Fonte: Acervo Hélio de Oliveira, 2017. Imagem: Evento na porta da matriz de Campinas, 1950. Fonte: Acervo Hélio de Oliveira.

O BAIRRO AO LONGO DO TEMPO

Campinas passou, ao longo dos anos, por mudanças em seus aspectos culturais e físicos. A construção da nova capital acarretou transformações na paisagem do bairro e também deu origem a uma certa disputa entre os campineiros e goianienses. Conforme Oliveira (2003), “vieram pessoas estranhas, construíram-se hotéis, postos de gasolina, grandes casas comerciais. Assim, o comércio de Campinas era muito mais desenvolvido do que o de Goiânia, o que persistiu até a década de 1960”.

Na década de 1950, segundo Melo (1998), muitos equipamentos de lazer ainda existiam em Campinas e eram usados pelos moradores de toda a cidade, como a piscina do Peclat, um clube, que se localizava próximo ao Córrego Cascavel; bem como o campo da Feirinha, que era um trecho de uma quadra onde se realizava a

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Imagem: Avenida 24 de Outubro, esquina com Praça Coronel Joaquim Lúcio, início década de 1930. Fonte: Eduardo Bilemjian e Eliézer Bilemjian, 2017. Imagem: Comércio da Av. 24 de Outubro, meados década de 1930. Fonte: Eduardo Bilemjian e Eliézer Bilemjian, 2017. Imagem: Projeto de uma “face de fachada” a reconstruir-se, 17 fev. 1936. Fonte: Arquivo Histórico Estadual de Goiás. Imagem: Projeto de fachada e aumento de dois compartimentos, 16 out. 1936. Fonte: Arquivo Histórico Estadual de Goiás.

feira livre de produtores rurais duas vezes por semana, e que era utilizado nos outros dias como campinho de futebol pelas crianças e que existia antes mesmo da criação do campinho do Atlético, hoje Estádio Antônio Accioly. Este campinho também recebia o circo e exposições de gado. Em Campinas existiam diversos bares, dentre eles: o Bar do Fiore, ponto de parada do time do Atlético; e o Bar do Chico, que também comercializava sorvetes. Campinas dispunha de casas para exibição de filmes – Cine Campinas, Cine Avenida, Cine Eldorado, que já não existem –, bem como de prostíbulos, com destaque para o de Maria Branca, Virgulina, Maria Bonita e Etelvina. O bairro de Campinas contribuiu para o surgimento de diversos loteamentos entre os anos 1945 e 1955. Nessa época, era considerada uma importante centralidade. Campinas era visto como um bairro autônomo e independente de Goiânia, em razão da intensa atividade comercial nela praticada. A quantidade de residências no bairro, até a década de 1950, era maior que a dos setores Central e Norte do novo plano. O bairro de Campinas atraía pessoas principalmente por sua infraestrutura urbana mais sedimentada.

3.3 PRAÇA JOAQUIM LÚCIO E A AVENIDA 24 DE OUTUBRO

A EXPANSÃO EDIFICADA AO "MODERNO"

Campinas, ao longo do tempo, passou por diversas transformações em sua paisagem, principalmente durante a construção da nova capital. Muitas de suas construções existentes passaram por reformas e alterações nas fachadas. Acumularam-se tempos diferentes. Era o antigo querendo parecer o novo. Era o desejo de ser moderno. Afora essa primeira modificação da paisagem de Campinas, com a construção de Goiânia, o percurso temporal assinala outras, sobretudo em relação ao seu comércio. A concentração comercial nas grandes e principais avenidas espraia-se para todo o bairro, conformando-o como um shopping center aberto, orientado por marcos que resistem ao tempo na sua paisagem.

A Campininha, que possuía suas edificações com uso predominantemente residencial e algum comércio aos moldes tradicionais, geralmente anexados às moradias, viveu uma significativa mudança com a ampliação dos estabelecimentos

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comerciais. A oportunidade de comercializar produtos para a nova cidade que estava sendo construída era bem convidativa e rentável aos olhos dos moradores, que poderiam construir novas salas ou até mesmo alugar um cômodo comercial com entrada independente da sua residência.

Da década de 1930, aponta o início dessa transformação da paisagem campineira. A praça Coronel Joaquim Lúcio juntamente com a Avenida 24 de Outubro pontos propulsores e iniciais dessas transformações, dispunham de várias residências em seu entorno, nos moldes tradicionais. As construções eram inicialmente de adobe e, posteriormente, construídas em alvenaria.

As residências possuem telhado de barro aparente e com beiral, com duas ou quatro águas e janelas e portas em madeira. Aparentemente, essas casas tradicionais eram também comércio, pois possuíam duas portas para a rua. Contudo, haviam das casas também com cobertura de telha francesa e foram construídas em alvenaria: a de dois pavimentos e um alpendre, com entrada lateral. A praça, o coreto e seus canteiros floridos e organizados indicam, assim como as novas casas, a influência de Goiânia.

Não existia recuo frontal, e às vezes nem recuos laterais, uma novidade. Notam-se diversas árvores ao longo do calçamento, modernidades para uma cidade tradicional. Essa paisagem em transformação, onde o antigo mistura-se ao novo, onde o residencial mescla-se ao comercial, era o que estava sendo produzido em Campinas durante a construção da nova capital. A avenida possuía posteamentos centrais, contribuindo assim para o comércio no período noturno, pois as lojas podiam ficar abertas até mais tarde.

As edificações que dispunham de uso inicialmente residencial passaram a ter seu uso alterado por completo para comercial, ou passaram por reformas, em que novos ambientes foram acrescentados. Esses novos ambientes geralmente possuíam sua fachada principal rente à testada do lote e eram alugados para fins comerciais para estranhos ou traziam uma nova atividade de comércio para a família.

Alguns projetos mostram essas mudanças de fachadas em Campinas, tanto de estabelecimentos comerciais como residenciais, e tiveram início no final da década de 1930. Os projetos eram nomeados como “Projeto de Frente”, “Projeto de Face” ou “Projeto de Fachada”. As intervenções propostas eram superficiais, ou seja, optavase por modificar somente a fachada do edifício nessa tentativa de modernização, e as

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modificações em seu interior eram excluídas. Espacialmente, as construções mantinham-se tradicionais, mas ganhavam um invólucro “moderno”.

Os projetos trazem em suas fachadas características do estilo art déco, que era o mesmo que estava sendo realizado nas construções da nova capital. Muitos moradores das construções existentes, principalmente de edifícios em que o uso era comercial, optaram por realizar esse tipo de reforma de fachada, numa tentativa de modernizar suas construções. Ao mesmo tempo, além das fachadas, novos edifícios comerciais e residenciais estavam sendo construídos, e alguns reformados. Os novos edifícios já traziam em seus projetos características do art déco. E à maioria dos reformados, tais características eram acrescidas na área construída, também compartilhando a mesma linguagem. Muitas casas deixaram de exercer a função residencial para transformarem-se em comerciais.

Todas essas transformações que ocorreram com os edifícios foram a primeira e significativa mudança na paisagem de Campinas e no seu comércio.

A Avenida 24 de Outubro, primeira avenida comercial do bairro, passou por diversas transformações em sua paisagem ao longo das décadas. O que causou essas mudanças foi o comércio que aos poucos se instalou por lá. A avenida surgiu nos arredores da Praça Coronel Joaquim Lúcio e, posteriormente, foi crescendo, no sentido Goiânia. Sua ligação direta com a capital impulsionou esse desenvolvimento, dado o grande fluxo de pessoas que transitavam por lá (e ainda transitam), o que favoreceu a predominância de estabelecimentos comerciais variados. Essa avenida já passou por mudanças estruturais e funcionais, como diz Santos (2014).

No ano de 1937, as edificações da avenida já se encontravam em sua maioria com seus usos e fachadas já completamente alteradas para uso comercial. Já não é notada arborização ao longo da via. Os calçamentos estavam sendo construídos, os postes elétricos estavam locados ao centro da via de rolagem e eram de madeira. A avenida não possuía asfalto, era de chão batido. As edificações não possuíam recuo frontal nem lateral, e também eram compostas por fachadas com platibanda, que escondia o telhado e evitava que a água da chuva escoasse pela calçada. O gabarito das edificações mantinha um padrão de altura com um pavimento.

Na década de 1960, com uma paisagem já bem diferente da anterior, a Avenida 24 de Outubro estava sendo preparada para receber encascalhamento, com máquina de compactação do solo disposta ao longo da via.

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Na década de 1970, a paisagem da Avenida 24 de Outubro continuou sendo transformada. O processo da retirada das árvores, pois elas, além de atrapalharem o comércio, impediam o alargamento da via. Os edifícios com gabaritos mais altos, e também a modificação nas fachadas das lojas. O que antes era representado pela pintura, agora passa a esconder a edificação: as fachadas pintadas em chapa ou em outros materiais. As calçadas possuíam pisos trabalhados, e um intenso fluxo de pessoas nelas. Os veículos participam com representatividade nas ruas. A avenida também já está asfaltada.

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Imagem: Reforma de fachada em estabelecimento comercial na Avenida 24 de Outubro, sem data. Fonte: Eduardo Bilemjian e Eliézer Bilemjian. Imagem: Calçamento da Avenida 24 de Outubro e lojas comerciais, 1937. Fonte: Eduardo Bilemjian, arquivo SEPLAM. Imagem: Avenida 24 de outubro, 1940. Fonte: Autor desconhecido. Acervo MIS| GO. Imagem: Calçamento da Avenida 24 de Outubro e lojas comerciais, 1937. Fonte: Eduardo Bilemjian, arquivo SEPLAM.

O ANTIGO HOTEL QUE O ANTIGO HOTEL QUE HOJE É BIBLIOTECA HOJE É BIBLIOTECA 4.

4.

O ANTIGO HOTEL QUE HOJE É BIBLIOTECA

4.1 O PALACE HOTEL DE CAMPINAS HISTÓRICO E CONTEXTO

O Palace Hotel de Campinas foi um edifício construído em 1938 e inaugurado em 1939, localizado na lateral direita sentido centro-norte de uma importante praça em Campinas, denominada Praça Coronel Joaquim Lúcio. Atualmente, seu funcionamento é destinado à Biblioteca Municipal Cora Coralina, propriedade da Prefeitura Municipal. O edifício, com área de 319,98 m², recebeu, em 1999, reforma com acréscimo e alteração de uso para Biblioteca Municipal. O projeto de restauração e readaptação foi financiado pela Embaixada do Japão.

Trata-se do primeiro hotel construído no estilo art déco que a pacata Campininha recebeu como ares de modernidade num momento em que Goiânia nascia sobre o berço desse antigo município que, anos atrás, já recebia viajantes, por ser um local de pouso.

Foi construído com dois pavimentos com aproximadamente 30 quartos e duas baterias de banheiros feminino e masculino em cada pavimento, além de uma loja comercial (salão), recepção, estar, lavanderia, cozinha e área de serviço, com uma área total de 581,67 m². O restaurante localizado no térreo era local de eventos da sociedade campineira, como festas e casamentos.

O edifício Palace Hotel de Campinas situa-se a oeste da Praça Joaquim Lúcio, estaca ou marco zero/zero da cidade, na confluência das Avenida 24 de Outubro esquina com a rua Geraldo Ney, posição de fácil acesso para quem chega pela Avenida Anhanguera (GO-060 e GO-070) e dos municípios vizinhos, como Trindade, Abadia de Goiás, Guapó, Inhumas, Santa Bárbara de Goiás, etc. e para quem vai para o centro de Goiânia. A outra rua, a Geraldo Ney, é perpendicular à Avenida Anhanguera e à Avenida Castelo Branco e também à Avenida Rio Grande do Sul, que é a rua da Matriz de Campinas.

O terreno possui área de 781,79 m², sendo as suas medidas: de frente, 34,44 m²; lateral esquerda, 18,00 m²; esquina, 3,30 m²; lateral direita, 29,26 m²; e fundos 22,80 m² e 12,60 m².

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Olhar para o Palace Hotel denominado hoje Biblioteca Cora Coralina, na Praça Joaquim Lúcio, é viajar no tempo e reencontrar com Campinas e sua rica história, que, em 2023, completará 213 anos de existência (a cidade) e 84 anos (o edifício do Hotel).

Contar a história do edifício do Palace Hotel de Campinas é remontar à história das imediações, do entorno, das construções vizinhas, das ruas, avenidas, da esquina e, inevitavelmente, da Praça Coronel Joaquim Lúcio, que estabelecia um diálogo vivo com cada construção, que, ao mesmo tempo, compartilhava também as transformações da praça. As remodelações ocorridas na praça influenciaram significativamente as mudanças nas edificações do entorno, como aconteceu com o Palace Hotel.

O prefeito de Campinas, o empresário Licardino de Oliveira Ney, além de morar de frente à praça, era proprietário de outros estabelecimentos situados em local posterior à sua casa e de outros que a circundavam. Eram a primeira construção em alvenaria da cidade.

Conforme informações da ex-funcionária pública, campineira, Maria Bárbara de Freitas (Dona Bita), nascida em 1922, em entrevista para esta pesquisa, nessa época o hotel se chamava Novo Hotel. Para administrá-lo, o proprietário convidou o casal João Manuel da Silva e Madalena Reis, D. Neném: “eram muito simpáticos e ela cozinhava muito bem e eram residentes em Trindade”. Posteriormente, em 1933, o hotel foi vendido para Arthur Magalhães e sua esposa Neném Maria, também ela de tradicional família trindadense. Nesse momento, ficou conhecido como Hotel Magalhães.

Alguns anos mais tarde, ainda nos anos 30, o imóvel foi adquirido pelo fazendeiro, juiz e desembargador Raul Naves, que o cedeu, em comodato, ao cunhado João Duarte, tornando-se então Hotel Duarte.

A construção era como um casarão com paredes de adobe, janelas de madeira e telhado colonial de quatro águas.

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Segundo a arquiteta e técnica do patrimônio histórico da SEPLAN, Kátia do Carmo, em entrevista: “o segundo momento significativo da praça ocorre provavelmente entre 1933 e 1935, que é a primeira urbanização da Praça Joaquim Lúcio, ainda na presença do urbanista Atílio Correa Lima, que vai embora em 10 de janeiro de 1935”. Do que se pode constatar que foi Atílio Correa Lima quem projetou o primeiro coreto da praça em 1931, com uma linguagem da arquitetura vernacular: elevado coberto, tinha formato hexagonal, com telhado triangular, sustentado na base por seis pilares em alvenaria. Em volta dos pilares, na parte superior, existia um guarda-corpo trabalhado com detalhes geométricos do déco.

O jornal O popular, de 12 de maio de 1938, relatou o surgimento de uma vida cultural em Campinas e a necessidade de trazer a modernidade para os edifícios do

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Imagem: Pensão Duarte, 1934. Fonte: Autor desconhecido. Imagem: Os passeios internos da praça ainda eram de terra. Só os externos tinham acabamento e o Hotel Duarte se localizava atrás do coreto. Fonte: Hélio de Oliveira. Imagem: Pensão Duarte ao lado do cinema na Praça Joaquim Lúcio. Alois Feichtenberger, c.1936, Goiânia. Fonte: Acervo MIS/GO. Imagem: Pensão Duarte e construção do segundo coreto na Praça Coronel Joaquim Lúcio. Sílvio Berto, década de 1940 (atribuído), Goiânia-GO. Fonte: Acervo MIS/GO.

entorno da praça, determinando demolições das arquiteturas vernáculas, como a Casa de Câmara e Cadeia e, inclusive, do Hotel Duarte:

Um dos logradouros mais aprazíveis de Goiânia é sem dúvida alguma, a praça Joaquim Lúcio, no bairro de Campinas. O bem cuidado jardim que se delineia em seu centro, além de emprestar-lhe um lindo e agradável aspecto, faz dessa praça um ponto predileto, procurado pela nossa sociedade. Nela vai ter a avenida 24 de Outubro, a mais ampla e movimentada do bairro. Ali levanta-se ainda o Cine Teatro Campinas, que se impõe pela grandeza de suas linhas arquitetônicas. Há, contudo, qualquer cousa contrastando com a beleza do lugar, pondo uma nota dissoante e anti-estética no conjunto harmônico. São diversos prédios, de estilo antiquadro e que uma Capital, construída dentro das exigências urbanísticas, não comporta e não tolera. Tais prédios acabam de ser condenados pela prefeitura Municipal, que já determinou as primeiras demolições. Entre os prédios a serem demolidos figura o Hotel Pouso Alto, antigo Hotel Duarte. Dentro de poucos meses estará a praça Joaquim Lúcio completamente remodelada. (O POPULAR,1938).

A RECONSTRUÇÃO ART DÉCO

No lugar da arquitetura colonial da Pensão/Hotel Duarte, Raul Naves, em 1937, inicia uma nova construção em estilo art déco, inaugurando-a no final de 1938 como Palace Hotel. Muitas autoridades, políticos e engenheiros que vieram construir Goiânia hospedavam-se no Palace Hotel. A Sra. Lilian Yabec Chiarella, filha de Camilo Francis Yasbec, em entrevista ao jornal O Popular, 19/07/92, p.7, diz que o fato mais importante envolvendo o Palace Hotel foi a mudança da Capital: “O Dr. Pedro saiu da Cidade de Goiás e chegou à noite, a Campinas, onde se hospedou na parte antiga do Palace Hotel. Ali se reuniu com o prefeito Licardino de Oliveira Ney e outras autoridades e traçou os planos de mudança da capital.”

Nesse momento, a Superintendência de Obras de Goiânia era diretamente subordinada ao interventor federal Dr. Pedro Ludovico Teixeira e as arquiteturas produzidas eram vinculadas a nomes como os engenheiros Geraldo Rodrigues dos Santos e Eurico Viana, José Neddemeyer, Salvador Batalha e outros. É um período em que se reconhece a identidade do art déco na Praça Coronel Joaquim Lúcio, como

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se Campinas participasse do Batismo Cultural de Goiânia acontecido em 5 de julho de 1942. O Palace Hotel é um edifício de destaque, com sua implantação na esquina do lote e sacada voltada para a praça, dialogando com esta.

A praça era um local onde aconteciam eventos sociais, festas religiosas, footings dos jovens da pequena sociedade campineira, local de encontros, desencontros, inícios de inúmeros namoros que resultaram em significativos casamentos. Local de comícios políticos, tendo como pano de fundo o Relógio e o Coreto em art déco.

A prefeitura de Goiânia acertou sexta-feira, dia 31, com o proprietário do Palace Hotel de Campinas, Toceo Mevia, a indenização do prédio adquirido por Cr$ 236 milhões. A entrega do cheque foi no gabinete do secretário de Finanças, Valdivino de Oliveira, na presença do secretário municipal de Cultura, José Mendonça Teles. (O POPULAR, 1992)

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Imagem: Construção do Palace Hotel, 1936. Fonte: Hélio de Oliveira. Imagem: Pedro Ludovico Teixeira em solenidade da sacada do Palace Hotel, em Campinas, 1957. Fonte: Hélio de Oliveira. Imagem: Praça Joaquim Lúcio, 1945. Fonte: Autor desconhecido.

Nion Albernaz desapropiou, por meio do Decreto nº 095, de 30 de janeiro de 1992, o imóvel para fins de utilidade pública. Em 05 de dezembro de 1991, a Câmara Municipal de Goiânia já havia aprovado o projeto do vereador Rosiron Wayne (Lei Nº 7.022), declarando o Palace Hotel integrante do Patrimônio Histórico-Cultural de Goiânia, conforme o Diário Oficial do Município, nº. 974, sexta-feira, 27/12/91.

O edifício do Palace Hotel de Campinas ficou um tempo desativado, até que surgiu uma proposta de sua ocupação pela diretora da Biblioteca Cora Coralina, que já funcionava, desde 1985, do outro lado da Praça Joaquim Lúcio, onde hoje funciona a Junta Militar. Sônia Imai, a diretora da Biblioteca, enfrentava uma série de problemas, inclusive de espaço, e teve a iniciativa de buscar verba junto à Embaixada do Japão, ao saber da existência de um convênio deste país com o Brasil. Em entrevista, Sônia Imai detalha:

Como o prédio era muito pequeno, a gente não conseguia suprir a demanda dos usuários. Diz que na época era uns 800 alunos/dia – porque Campinas não tinha Biblioteca, então a gente atendia Campinas, setores periféricos e também cidades adjacentes, como Inhumas, Goianira, Trindade. Então o público era muito grande. […] Eles fizeram uma primeira avaliação e vieram fazer uma vistoria. Aprovaram o projeto, a partir de então, a coisa tomou outro rumo.

A parceria foi estabelecida entre a contratante, Embaixada do Japão no Brasil, representada pelo embaixador Katsunari Suzuki, e o contratado, o Governo do Município de Goiânia, representado pelo prefeito Nion Albernaz e pelo Secretário de Cultura César Luíz Garcia, em 15 de outubro de 1999.

De acordo com o Contrato de Assistência Financeira entre a Embaixada do Japão no Brasil e o Município de Goiânia para o Projeto de Mudança e Reforma da Biblioteca Cora Coralina (anexo) […], o Japão concedeu assistência financeira gratuita ao Município de Goiânia no valor máximo de US$ 83.183,00 […]. Segundo documento enviado pela embaixada à diretora Sônia Imai, já em 2001, pedindo os custos da reforma do edifício (anexo), estes foram avaliados em R$ 222.793,85. A parte desembolsada pela prefeitura de Goiânia foi de R$ 76.264,33 e a parte desembolsada pela embaixada do Japão, de R$ 146.529,52.

Seguindo informações contidas no Relatório Técnico sobre o Projeto de Ampliação, Reforma, Restauração e Adequação do Edifício “Palace Hotel De

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Campinas”, para a instalação da Biblioteca Municipal Cora Coralina, o início das atividades ocorreu em junho de 1999, contando com uma equipe composta pela Secretaria Municipal de Planejamento (SEPLAN), das arquitetas Kátia do Carmo de Paiva e Maria Aparecida de Jesus Cuevas (dados históricos da edificação e diretrizes com acompanhamento para restauração do edifício); pela Secretaria Municipal de Cultura (SECULT) e Biblioteca Cora Coralina, da bibliotecária Sônia Imai (Programa para a Biblioteca); pela Companhia Municipal de Obras (COMOB); e pela Execução das Obras, arquitetos Cleumar Moura Amaral, Nagib Rahime (Projeto de Arquitetura) e Eng. Civil Rosane Rotoli; e pela Companhia Municipal de Urbanização (COMURG), Arq. Margaret Luisa Pimentel (Projeto de Luminotécnica).

As vantagens da ocupação do Palace Hotel de Campinas pela Biblioteca Cora Coralina foram as que se seguem: por se tratar de um prédio público tombado, o seu uso evita o seu esquecimento; depois, pela sua localização privilegiada pela convergência de linhas de ônibus e centralização em relação ao maior número de escolas, torna-se apto a melhor atender à sua demanda.

Para adequar o edifício ao novo programa de necessidades, algumas adaptações tiveram de ser orientadas, tendo em vista: as condições técnicas (estrutura e de materiais), as condições físicas do espaço, flexível para atender novos arranjos na estrutura funcional, as condições de acessibilidade aos portadores de necessidades especiais e as exigências ambientais, como iluminação, ventilação, insolação, ruído e cor.

O processo de intervenção ocorreu nas etapas a seguir. A Secretaria Municipal de Obras fez a licitação, a firma contratada que executou a ampliação, adequação e reforma foi a JW Construtora Ltda. e o Responsável Técnico foi Wilmar de Sousa Pereira. As obras iniciaram-se com a colocação do tapume e da placa de obra.

O processo de intervenção ocorreu nas etapas a seguir. A Secretaria Municipal de Obras fez a licitação, a firma contratada que executou a ampliação, adequação e reforma foi a JW Construtora Ltda. e o Responsável Técnico foi Wilmar de Sousa Pereira. As obras iniciaram-se com a colocação do tapume e da placa de obra.

O edifício recebeu a conclusão da reforma em 2000, com acréscimo e alteração de uso para a Biblioteca Municipal. O projeto de restauração e readaptação financiado pela Embaixada do Japão se confirma na placa instalada na recepção.

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Imagem: Av. 24 de Outubro. Abaixo, a Rua Couto Magalhães, 1974. Fonte: Hélio de Oliveira.

Imagem: Fachada frontal do Palace Hotel abandonado, 1997 (atribuída). Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Fachada lateral do Palace Hotel abandonado, Rua Oliveira Ney, 1997. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Sacada do Palace Hotel com a placa da obra da Reforma, 1999. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Palace Hotel sem cobertura com tapume, 1999. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Demolição das paredes do pavimento superior do Palace Hotel, 1999. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

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Imagem: A estrutura metálica foi utilizada como malha estrutural que sustentou todo o edifício. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: A estrutura metálica incorporada à caixa da escada em alvenaria estrutural. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: A caixa de alvenaria autoportante em volta da escada central foi preservada e utilizada como elemento que apoiou a malha estrutural em estrutura metálica. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Os pilares, vigas e tesouras em estrutura metálica se unem à caixa da escada para compor toda a estrutura da reforma. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: A estrutura metálica também utilizada na cobertura. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

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Imagem: Colocação de novas telhas sobre caibros, terças e tesouras metálicas. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Vista do forro parcialmente colocado em 02 de abril de 2000, em lambril. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Guarda-corpo em metal do pavimento superior. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Antigo lavatório dos banheiros. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Ampliação dos banheiros, copa, cozinha, área de serviço e vista posterior do Palace Hotel. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Imagem: Cápsula para Portadores de Necessidades Especiais. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

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A entrega da obra de reforma e ampliação do Palace Hotel em 2000 provocou um movimento que repercutiu na administração seguinte, a do Prefeito Pedro Wilson Guimarães, que implantou um projeto de revitalização da praça e reconstrução do coreto. A Secretaria de Cultura fez um plebiscito e a população foi consultada para decidir sobre qual versão do correto deveria ser reconstruída: o Projeto de 1931 ou o de 1942. O primeiro Projeto do Coreto de 1931 foi aprovado, conforme figura a seguir: coreto com formato hexagonal, em alvenaria, telhado de madeira e telha de barro, remetendo ao primeiro coreto que provavelmente fora projetado por Atílio Correa

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Imagem: Vista interna do pavimento superior. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina. Imagem: Placa de Entrega da Reforma e Ampliação. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina. Imagem: Fachada Frontal após a Reforma, 2000. Fonte: Arquivo Biblioteca Cora Coralina.

Lima. Possuía características da arquitetura colonial e detalhes do déco, como guarda-corpo em madeira. A inauguração aconteceu em abril de 2002.

O TOMBAMENTO FEDERAL

Em dezembro de 2002, foi aprovada pelo IPHAN, a proposta de tornar patrimônio nacional o acervo arquitetônico art déco de Goiânia. O edifício do Palace

Hotel de Campinas se inseriu nos bens a serem tombados, de acordo com o Ofício n° 467/02 do presidente do IPHAN, Carlos Henrique Heck, encaminhado à prefeitura de Goiânia. A praça Joaquim Lúcio entrou dentro do contexto do tombamento do Palace Hotel como subárea com restrições de ocupação, uma vez que o diálogo do edifício e seu entorno eram marcantes para a preservação histórica do bem e da identidade do lugar.

Imagem: Planta de Situação do Tombamento do Palace Hotel, 1992. Fonte: MUBDG – Mosaico Aerofotogramétrico Digital (GOIÂNIA ART DÉCO, acervo arquitetônico e urbanístico – Dossiê de Tombamento, 2010)

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ESTUDO DO LUGAR ESTUDO DO LUGAR 5. 5.

ESTUDO DO LUGAR

5.1 ANÁLISE DO EDIFÍCIO

PARTIDO E PROGRAMA (ORIGINAL E MODIFICAÇÕES)

Sendo o partido geral a síntese dos diferentes problemas gerados pelos vários aspectos da composição, contendo as formas gerais da obra, é possível analisar que o partido do Palace Hotel de Campinas sofreu influência do terreno de esquina, da técnica construtiva, que não permitia vãos maiores, e do programa de necessidades. Por se configurar num hotel, teve as distribuições dos quartos na maior dimensão horizontal e a circulação no meio desses ambientes, a partir dos quais se configuraram as aberturas presentes nas fachadas e a intenção de uma implantação de esquina sem recuo, aos moldes do estilo art déco. Trata- -se de um partido que reúne todos esses elementos e possui a forma de um paralelograma retangular que, na esquina, se torna abaulado e recebe um tratamento decorativo que lhe suaviza o volume monolítico.

O Programa de Necessidades do Palace Hotel de Campinas registrado no memento em que foi feito o levantamento que precede o projeto de reforma se encontra traduzido nas imagens subsequentes, contendo a planta baixa do pavimento térreo e do pavimento superior e planta de cobertura.

O térreo possui área total de 435,11 m², considerando todas as construções existentes, sendo a área da edificação de 287,37 m², o barracão dos fundos, de 103,0 m² e a sala da lateral, de 44,16 m². O programa de necessidades verificado no memento se constituía de uma barbearia, uma recepção, sete salas comerciais, três sanitários e uma escada. Provavelmente pela planta original, na lateral esquerda funcionava o restaurante. Na lateral direita, uma loja, e, no fundo, um barracão.

No pavimento superior, há uma sacada, quatro banheiros, dois masculinos e dois femininos, vinte dois quartos e uma escada de circulação vertical. A área total é de 291,58 m².

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O projeto da reforma do hotel foi elaborado após levantamento efetuado pelo arquiteto Nagib Nagib Rahime e sob orientação da equipe especializada em patrimônio histórico da prefeitura.

A planta baixa do pavimento térreo informa todas essas modificações orientadas pela equipe técnica através de legendas: as paredes tracejadas (em amarelo) indicam paredes a demolir; as paredes com hachuras inclinadas (em vermelho) indicam a construir; e paredes representadas em traços contínuos indicam que devem permanecer. Das soluções definidas, não foram executadas as do anexo II, que seria uma biblioteca infantil, onde se localizava o barracão, e as do anexo I ou a organização dos ambientes – bateria de sanitários, incluindo o de deficientes físicos, copa e área de serviços. As modificações podem ser verificadas na imagem a seguir. A seguir, também a proposta de resgate das aberturas das janelas conforme originais existentes na edificação, com esquadrias de madeira na dimensão de 1,75 m x 2,00 m, seguindo o alinhamento das existentes.

No documento Proposta de Intervenção, elaborado pela equipe técnica, lê-se:

Conforme entendimento entre três secretarias envolvidas e diante do projeto de arquitetura elaborado e programa de necessidades, chegaram ao entendimento de que o edifício do Palace receberá os seguintes compartimentos.

Piso Térreo interno à construção: recepção, terminal de computador, Xerox/ reprografia, biblioteca de consulta, mesas de trabalho e elevador de deficientes.

Piso Térreo externo: um anexo com bateria de sanitários, inclusive para deficientes físicos, copa e área de serviços. A bateria de sanitários proposta no projeto será edificada no afastamento lateral esquerdo, da Av. 24 de Outubro, terá um só pavimento, sem deixar a cobertura aparecer para a fachada dessa avenida, ficando com o aspecto de muro, como o que existia antes.

Piso superior: três compartimentos destinados às sessões: periódicos/ jornais e revistas, sessão goiana e sessão reserva.

Além desse anexo (I), haverá o anexo (II), esta edificação que terá dois pisos, deverá receber uma arquitetura de contraste com o imóvel Tombado, exteriorizando a estrutura metálica autoportante, utilizada no interior deste imóvel. Piso térreo do anexo (II), ficou acertado a proposta inicial de biblioteca infantil. Piso Superior para suporte dos compartimentos: administrativos, técnico/ serviços e digitação.

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Fachadas

Preservação das três fachadas (norte, sul e leste) com todos os elementos construtivos originais descritos e onde houver sido descaracterizado, fazer a recomposição conforme o original, com materiais atuais. Embora a cor original encontrada seja o amarelo caqui, entendeu-se que poderá ser substituída por uma cor mais atual e que lhes dê maior destaque. A fachada sul, da Avenida 24 de Outubro, deverá ser resgatada com abertura de duas janelas conforme originais existentes na edificação, com esquadrias de madeira na dimensão de 1,75 m x 2,00 m, venezianas e vidros coloridos em azul, verde, rosa, e transparente no piso inferior e no superior deverão ser restauradas as três janelas existentes. O anexo com porta de enrolar, em fase de demolição, que originalmente era um acesso lateral por meio de um muro será substituído por:

Fachada Frontal – esq. da Av. 24 de outubro com a Rua Geraldo Ney - Esta porta antiga deverá ser resgatada conforme a original – que dava acesso a uma recepção / pequeno salão e depois a uma barbearia – em esquadria de madeira, com duas folhas, e bandeirola com vidros coloridos em azul, verde e rosa.

Fachada Oeste – sofrerá alteração no térreo com a construção de um módulo com sanitários e copa. As quedas livres do telhado, beiral, nas fachadas norte e oeste, foram asseguradas com seus acabamentos em lambril.

Áreas internas ao edifício

Pisos: Preservação da sacada no segundo piso e da circulação referida, com piso diferenciado no térreo, que deverá ser incorporado ao atual como elemento de destaque.

Caixa da escada: Preservação da caixa de escada, e da parede anexa a ela, onde existem duas janelas da época.

Preservação exatamente como era, com a pintura à base de cal, e reboco desigual, o cômodo ao lado da sacada, assim como a pequena circulação entre elas, pois servirão de exemplar e para guardar o acervo histórico desta edificação, como fotografias, documentos da época, materiais construtivos, como tijolo, telha, pedaço de reboco, ladrilho, fiação, bancada de granitina, tomada, vidros, cor da parede, etc.

Propor a estrutura interna a ser feita, em forma aparente, para mostrar as intervenções.

Pisos externos

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Propor rebaixo do meio fio defronte a entrada para a guarda de carro. Propor três vagas /veículos para a administração.

Reserva de área na pista de rolamento da Rua Geraldo Ney, para estacionamento próximo à esquina para o carro-biblioteca, devendo receber sinalização horizontal e vertical de identificação.

Telhado

Deverá ser feito o levantamento do telhado existente inclusive com fotos aéreas, para que, juntamente com os desenhos, constem do livro de inventário desse bem histórico.

Devido aos desgastes sofrido pelo tempo, abandono às traças, à falta de manutenção e às intempéries, estando seu madeiramento carcomido pelo tempo e podre, suas telhas porosas, fatos estes constatados pelos técnicos competentes da COMOB, a continuidade do telhado (telhas e vigamentos) foi considerada perigosa, entretanto, como esse telhado tem uma divisão de águas, com solução muito original, aparente externamente e dado também seu conteúdo histórico, optou-se por retirá-lo, mas substituindo-o por outro que se não igual, pelo menos parecido.

Sua nova forma com telhas francesas novas e vigamento metálico será igual nas laterais, permitindo que o volume externo seja preservado. O centro do telhado sofrerá uma pequena intervenção, para atender à necessidade da existência de vãos livres para a implantação do uso de biblioteca, que não alterará a fachada e internamente será feito um forro de lambril que deverá acompanhar a inclinação do telhado.

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Imagem: Planta do Pavimento Térreo e Pavimento Superior do Palace Hotel de Campinas. Fonte: Daniella Medeiros Rocha.
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Imagem: Planta da Cobertura do Palace Hotel de Campinas. Fonte: Daniella Medeiros Rocha. Imagem: Planta da Reforma do Pavimento Térreo do Palace Hotel de Campinas. Autor: Arquiteto Nagib Rahime. Fonte: Daniella Medeiros Rocha.

Planta da Reforma do Pavimento Superior do Palace Hotel de Campinas. Autor: Arquiteto Nagib Rahime. Fonte: Daniella Medeiros Rocha.

Corte e Fachada Leste pela Av.Geraldo Ney e proposta de uma biblioteca infantil ao fundo do lote do Palace Hotel de Campinas. Autor: Arquiteto Nagib Rahime. Fonte: Daniella Medeiros Rocha.

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Imagem: Imagem:

5.2 LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO

Atualmente todo o terreno da biblioteca possui uma área registrada de 782,00 m². Sendo que, o térreo possui área total de 435,11 m², considerando todas as construções existentes, sendo a área da edificação de 287,37 m², o anexo lateral de salas e banheiros de 44,16 m², e a área dos fundos (o quintal) de 103,00 m². O pavimento superior também possui uma área total de 287,37 m².

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O térreo da edificação possui uma recepção, uma antesala foyer, o salão com parte do acervo bibliográfico e a escadaria de acesso ao pavimento superior. O anexo lateral, possui dois banheiros, sendo eles de classificação masculino e feminino, uma pequena área aberta que funciona como depósitos, e uma sala que é utilizada como copa. Partindo para a parte externa temos um corredor lateral e o grande quintal aos fundos do terreno utilizado como estacionamento de veículos. Já no pavimento superior da edificação, temos um grande salão com outra parte do acervo bibliográfico (a fim de preencher e utilizar os espaços vazios), a escadaria de acesso entre os pavimentos, uma pequena sala técnica e a famosa sacada ainda preservada e mantida do antigo hotel.

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5.3 LEVANTAMENTO DE ESTÁGIO DE CONSERVAÇÃO E MAPEAMENTO DE DANOS

Como a última obra e reforma sob a edificação ocorreu no ano 2000 à 23 anos atrás, ocorrendo neste tempo apenas “micro reformas” paliativas como disse a diretora atual da Biblioteca, mas que não são possíveis de solucionar os problemas de maneira definitiva; o estágio de conservação da edificação está bastante degradante e comprometido.

Como mapeamento de danos interferentes e contínuos no local edificado, podemos observá-los e citá-los:

1. Fachada externa e paredes internas em estado crítico de pintura e revestimentos;

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2. Espaços internos subutilizados para outros fins;

3. Janelas e portas originais em estado de isolamento por disfuncionalidade e defeitos, sem reparos e manutenção qualificada;

4. Alguns pontos do piso do pavimento superior em ruptura (cedendo);

5. Desgaste usual e velado dos pisos originários;

6. Interferência e expansão de patologias intempéries, como mofos e infiltrações;

7. Jardinagem sem manutenção e matagal exacerbado no terreno aos fundos.

Imagem: Acervo bibliográfico espalhados em locais desapropriados. Fonte: Autores

Imagem: Equipamento de acessibilidade com defeito Fonte: Autores

Imagem: Mobiliários antigos com defeitos ou remendos. Fonte: Autores

Imagem: Janelas originárias com defeitos e sem utilização e manutenção. Fonte: Autores

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Imagem: Janelas originárias com defeitos e sem utilização e manutenção. Fonte: Autores

Imagem: Janelas originárias com defeitos e sem utilização e manutenção. Fonte: Autores

Imagem: Espaços sem manutenções com interferência e expansão de patologias intempéries, como mofos e infiltrações. Fonte: Autores

Imagem: Desgastes dos pisos com rupturas e alguns casos cedendo. Fonte: Autores

Imagem: Desgastes dos pisos com rupturas e alguns casos cedendo. Fonte: Autores

Imagem: Desgastes dos pisos com rupturas e alguns casos cedendo. Fonte: Autores

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Imagem: Desgastes dos pisos com rupturas e alguns casos cedendo. Fonte: Autores

Imagem: Espaços subutilizados para outros fins desapropriados/inadequados. Fonte: Autores

Imagem: Desgastes dos pisos originários. Fonte: Autores

Imagem: Espaços subutilizados para outros fins desapropriados/inadequados. Fonte: Autores

Imagem: Espaços sem manutenções com interferência e expansão de patologias intempéries, como mofos e infiltrações. Fonte: Autores

Imagem: Espaços sem manutenções com interferência e expansão de patologias intempéries, como mofos e infiltrações. Fonte: Autores

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Imagem: Espaços subutilizados para outros fins desapropriados/inadequados. Fonte: Autores

Imagem: Espaços subutilizados para outros fins desapropriados/inadequados. Fonte: Autores

Imagem: Espaços sem manutenções com interferência e expansão de patologias intempéries, como mofos e infiltrações. Fonte: Autores

Imagem: Janelas originárias com defeitos e sem utilização e manutenção. Fonte: Autores

Imagem: Fachada externa e paredes internas em estado crítico de pintura e revestimentos. Fonte: Autores

Imagem: Fachada externa e paredes internas em estado crítico de pintura e revestimentos. Fonte: Autores

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Imagem: Fachada externa e paredes internas em estado crítico de pintura e revestimentos. Fonte: Autores

Imagem: Fachada externa e paredes internas em estado crítico de pintura e revestimentos. Fonte: Autores

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6.

6.

PLANO DE PLANO DE INTERVENÇÃO E INTERVENÇÃO E PATRIMÔNIO PATRIMÔNIO

PLANO DE INTERVENÇÃO E PATRIMÔNIO

6.1 PLANO DE AÇÕES

A proposta de intervenções urbanísticas na Biblioteca Municipal Cora Coralina (antigo Palace Hotel de Campinas), na área central do Setor Campinas de Goiânia, consiste no desenvolvimento de um Plano de ações gerais e específicas, com diretrizes que reforçam e valorizam a cultura popular e as pessoas da cidade, para fortalecer a vitalidade, as relações sociais, a qualidade de vida e a identidade campineira goianiense.

A proposta foi dividida em eixos de atuação espaço público, patrimônio e memória para preservação dos fortes laços de memória, costumes e tradições através dos espaços públicos e criação de atividades necessárias, opcionais e socias; meio ambiente paisagístico para recuperação e preservação dos recursos natural; atividades econômicas para reformular o comércio popular que é importante na escala bairrista e municipal. E os interesses coletivos para estimular as discussões políticas e patrimônio, bem como a participação popular nos processos de intervenção.

ESPAÇO PÚBLICO, PATRIMÔNIO E MEMÓRIA

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Imagem: Representação gráfica de ligação dos ambientes. Fonte: GEHL, 2015 - Autores

A presença do patrimônio cultural material e imaterial na edificação histórica. Entretanto, este patrimônio encontra-se descaracterizado, subutilizado ou degradado.

1. Resgatar a memória histórica através do restauro da Biblioteca Municipal Cora Coralina e da educação patrimonial;

2. Apropriar de espaços inutilizados da biblioteca para criação de um centro cultural;

3. Integrar o espaço dos fundos do terreno (quintal) da biblioteca ao espaço público para dar visibilidade e trazer atração ao edifício e facilitar o acesso através da caminhada, através da apropriação desse espaço.

4. Valorizar a cultura e as tradições populares, através da reestruturação dessa apropriação e integração do espaço da inutilização, e dar melhores condições de permanência ao transeunte e usuário local.

5. Requalificar a biblioteca, tanto no aspecto visual, como funcional, através do agrupamento das frações dos espaços fragmentados e isolados em três únicas, uma para contemplação e para atividades culturais e para o convívio social, a outra para atividades culturais literárias e outrora para contemplação arquivística histórica e de museu.

6.2 PROPOSTA PROJETO DE INTERVENÇÃO A BIBLIOTECA

CORA CORALINA

O projeto de restauro e requalificação da biblioteca compreende como princípios a visibilidade, acessibilidade e funcionalidade, somadas às necessidades de ampliação do acervo de livros, organização das áreas administrativas e estruturação da circulação foram ideias que nortearam o projeto. O partido inverteu o sentido organizacional da biblioteca, deixando-a apenas em pavimento térreo, passando para o nível da rua e tornando-se independente ambiente de ancoragem do restante do prédio, possibilitando definir claramente os diversos fluxos e níveis de acesso.

O CENTRO DE MEMÓRIAS DE CAMPINAS

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Para o segundo pavimento, ou pavimento superior da edificação, propusemos a utilização do espaço preexistente (lugar de relevância histórica e importância) para a criação e instalação do Centro de Memórias e Acervo Fotográfico de Campinas

Dada toda a opulência histórica do bairro de Campinas, e a importância dessa edificação dentro do bairro e da construção da cidade de Goiânia e sua localização, a proposta do centro de memórias pretende reunir acervos documentais, fotográficos e objetos que remetam e identificam ao período de formação do bairro ainda enquanto vilarejo, cidade e bairro, e das contribuições à cidade de Goiânia.

O QUINTAL DE CORA

Na área externa do terreno edificado, pretendemos requalificar o antigo quintal, hoje subutilizado como estacionamento, na proposta de criação de espaços de convivência e integração social e cultural chamado de Quintal de Cora

Desta proposta propusemos, a instalação de uma pequena Livraria de bestsellers a fim de sediar e acolher escritores locais e regionais, em uma ambiência de 23,36m²; com portas de madeira reutilizadas de demolições, com características de modelos antigos, e paredes cortinas-de-vidro.

Além da biblioteca, propusemos também, a instalação de uma cafeteria com espaço gourmet avarandado e jardins, o Café. Conta com uma cozinha interna de 9,98m², mais espaço interno de atendimento de 12,86m² e espaço externo gourmet de 22,35m² para disposição de mesas e cadeiras. Conta também, com um pequeno deck de 13,72m², para sediar pequenas apresentações culturais, pockets-shows, entre outros.

E para finalização deste espaço externo, propusemos a instalação de uma pequena Floricultura, com a comercialização de espécimes nativas do cerrado e outras também, levando em consideração ao pedido da atual diretora da biblioteca que solicita que, ao interver em projeto sobre o espaço da biblioteca não retire ou não desfaça das plantas preexistentes neste espaço externo.

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