Revista Cariri - Edição 24

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NEGÓCIOS JOIAS OPORTUNIDADES QUE ATRAEM OLHARES

ARTE COMO INOVAÇÃO E RESISTÊNCIA

Fósseis, legado e futuro

editorial

EDIÇÃO 24 JULHO/2025

A ESSÊNCIA

DO CARIRI

Esta edição da revista O POVO Cariri reúne a essência da região. Falamos de tradição, arte, contemporaneidade, negócios, sustentabilidade, futuro e comunicação. Sem deixar de lado os amores e paixões que nos atravessam. Na matéria de capa, o assunto que hoje coloca o Cariri na pauta do mundo inteiro: a paleontologia. O jornalista Guilherme Carvalho conversou com Allysson Pontes Pinheiro, diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, e representante do Cariri no Conselho Mundial de Geoparques da Unesco. Entre uma agenda e outra na rotina intensa entre fósseis, pesquisas e compromissos nacionais e internacionais em defesa do patrimônio paleontológico da Chapada do Araripe, Allysson fala sobre o maior desafio da paleontologia no Cariri; as estratégias para tornar a paleontologia algo que realmente transforme a economia da região, principalmente de modo sustentável; sua carreira e vida pessoal.

Outro cenário que analisamos é o da joalheria. Na matéria de Lucas Casemiro entramos no universo da produção artesanal de joias e encaramos os desafios econômicos e culturais que a atividade enfrenta. Então enxergamos novos caminhos que vêm sendo construídos por meio da academia, da sustentabilidade e do design autoral. Conversamos com os designers Leo Ferreira, Dayane Araújo e Marcia Ferreira sobre suas trajetórias artísticas na joalheria contemporânea que revelam um Cariri ousado, moderno e instigante.

E pela primeira vez, nas páginas da Revista Cariri, abrimos a porta da Rádio O POVO CBN Cariri, que neste 2025 celebra sete anos de atuação no sul do Ceará. A Rádio O POVO CBN Cariri segue sendo a única all news da região e do interior do Ceará, com uma proposta editorial marcada pela independência, profissionalismo e uma conexão profunda com as demandas locais. Todos os dias, adota uma abordagem proativa em sua cobertura jornalística, buscando não apenas informar, mas também contribuir para a solução dos problemas da região.

O Guia de delícias dessa edição percorre o Cariri sob as asas da imaginação da literatura e dos afetos. Tá saboroso e amoroso. Não deixe de conferir o artigo da antropóloga Vanessa Moreira que conta sobre a vivência na Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, em Barbalha, quando o pau sobe e a fé desce à mesa.

Para nós, que fazemos a revista O POVO Cariri, é um prazer ter você como leitor. Aproveite!

Fundado em 7 de janeiro de 1928 por Demócrito Rocha

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Foto da capa: Allan Bastos

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Coordenadora de Projeto

Paula Lima

Edição

Paula Lima

Lucas Casemiro

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Coordenador de Criação

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Diagramação

Natasha Lima

Planejamento

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A REVISTA O POVO CARIRI É UMA PUBLICAÇÃO DO GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO

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IMPRESSO NA GRÁFICA HALLEY

MATÉRIA DE CAPA AS HISTÓRIAS

DESENHADAS NAS

PEDRAS DO CARIRI

RÁDIO O POVO CBN CARIRI JORNALISMO ALL NEWS NO INTERIOR DO CEARÁ

54 ARTE A IDENTIDADE DO CARIRI NO CINEMA

70 ARTIGO QUANDO O PAU SOBE, A FÉ DESCE À MESA

63 GUIA DE DELÍCIAS CONHEÇA OS SABORES QUE CONTAM A HISTÓRIA DA REGIÃO

72

EMPREENDEDORISMO OS NEGÓCIOS QUE BROTAM NO SOLO CARIRIENSE

78 EXCLUSIVO O JEITO CARIRIENSE DE EXISTIR POR MAX PETTERSON

JOIAS ARTE COMO TRADIÇÃO, INOVAÇÃO E RESISTÊNCIA 20

POLO CALÇADISTA DO CARIRI:

TERRITÓRIO DE PRODUÇÃO, INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE

COM VOCAÇÃO E ESTRATÉGIA, O CARIRI CEARENSE AVANÇA EM UM DOS MAIS PROMISSORES

POLOS CALÇADISTAS DO PAÍS – COM GERAÇÃO DE EMPREGOS, IDENTIDADE PRODUTIVA E PRESENÇA INTERNACIONAL

O Polo Calçadista do Cariri, um complexo produtivo que movimenta a economia da região metropolitana do Cariri, tem fortalecido o Ceará no mapa da indústria brasileira e destacado o setor entre os maiores polos calçadistas do Brasil

Se em décadas passadas a produção artesanal de sandálias nos quintais de Juazeiro do Norte era o comum, hoje a profissiona -

ALIANÇA QUE TRANSFORMA

O salto de qualidade e competitividade do polo não aconteceu ao acaso, mas a partir de estratégia. Estamos falando do Projeto Polo Calçadista do Cariri, desenvolvido com governança compartilhada e soma de esforços locais e nacionais.

O projeto possui cinco frentes estruturantes: gestão competitiva; acesso à inovação; inserção de novos mercados nacionais e internacionais; inteligência de mercado e Governança.

O crescimento consistente e sustentável tem como foco resultados concretos a partir de indicadores

Cada ação é pensada para fortalecer as empresas individualmente e consolidar o Cariri como território produtivo e competitivo, capaz de competir com polos tradicionais do Brasil – com identidade própria, valor agregado e crescente reputação.

De acordo com Elizângela Melo,

lização do setor vem impulsionando seu crescimento

O Polo reúne centenas de empresas de indústrias de calçados, acessórios e componentes, que empregam milhares de pessoas e formam uma cadeia que se estende da produção ao design, passando pelo fornecimento de componentes, até chegar à exportação.

“O Polo Calçadista do Cariri é um exemplo vivo do que acontece quando unimos vocação regional, estratégia e parcerias sólidas”

articuladora da unidade do Sebrae no Cariri, o compromisso é com o fortalecimento de empresas para “transformar o Cariri em um território de desenvolvimento sustentável, gerador de emprego e renda, que inspira uma nova geração de empreendedores a acreditar no potencial do interior nordestino”, relata.

A iniciativa é realizada por meio de uma parceria entre o Sebrae Ceará, a Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte - por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Turismo e Romarias de Juazeiro do Norte (Sedetur), e o Sindicato das Indústrias de Calçados e Vestuário Fortalecendo o setor Juazeiro do Norte e Região (Sindindústria).

FOTOS

FEIRAS QUE ABREM PORTAS INTERNACIONAIS

A presença do Polo em eventos de grande porte, como a BF Show – a maior feira de calçados da América Latina –, o SICC – salão de Inovação do Couro e do Calçado – e o Inspiramais – salão de inovação, design e sustentabilidade – é reflexo de uma nova postura: proativa, ousada e conectada com tendências globais.

Apresentando-se através de estande coletivo e integrado, o novo momento abre oportunidades viáveis de negócios e de impacto. Na edição mais recente da BF Show, realizada em São Paulo, o estande do Cariri se destacou por sua atuação coletiva, conectando empresários a compradores nacionais e internacionais. Em três dias, o estande gerou oportunidades de negócios de mais de R$ 5 milhões e abriu diversas

INDÚSTRIAS QUE

CRESCEM, INVESTEM E GERAM IMPACTO

Além da expansão de empresas já consolidadas, novas indústrias estão sendo implantadas por empresários do próprio setor, reforçando a confiança no potencial produtivo da região, ampliando a capacidade instalada do polo e consolidando a confiança no crescimento do setor. São investimentos que fortalecem a base produtiva e ampliam o impacto econômico no território

Muitas dessas indústrias vêm adotando tecnologia de ponta, processos automatizados e soluções sustentáveis, alinhando-se às demandas do mercado global, ao passo que olham para qualidade e inovação.

Algumas indústrias do Cariri iniciam a adoção de tecnologias ligadas à Indústria 4.0, como maquinário automatizado e ferramentas digitais, em um movimento gradual de modernização.

Polo Calçadista do Cariri está presente em eventos nacionais de grande porte

oportunidades no mercado global.

O Polo Calçadista do Cariri deu um passo importante em sua estratégia internacional com duas missões distintas: 1 - Missão técnica à China: realizada pela Federação das Indústrias, proporcionou às indústrias locais acesso direto às mais avançadas tecnologias e tendências, promovendo a modernização e o aumento da competitividade produtiva da região.

2 - Missão comercial em Bogotá (Co-

lômbia): uma rodada de negócios de três dias com compradores internacionais qualificados e selecionados por curadoria, além de visitas a polos comerciais relevantes, abriram portas para oportunidades comerciais com alto potencial.

A estratégia conta com parceiros para ações pontuais, como Fiec, Apex-Brasil, Abicalçados, Brazilian Future e Assintecal.

EXPORTAÇÃO: QUANDO O INTERIOR CONECTA-SE AO MUNDO

O interesse internacional por calçados do Polo Calçadista do Cariri tem crescido. Esse movimento abre novas oportunidades, posiciona o Cariri como um polo produtivo com alcance global crescente, além de reposicionar a região no mapa global do setor calçadista – como produtor confiável, competitivo e inovador. Com isso, empresas da região já exportam para mercados da América do Sul, Europa e Ásia.

Países com importações do Polo Calçadista do Cariri:

América do Sul

Argentina Colômbia

Bolívia Paraguai Peru

Espanha

O avanço gradual da inserção internacional do polo é resultado de um trabalho contínuo de qualificação, inovação e fortalecimento das parcerias comerciais. A estratégia coletiva envolve inteligência de mercado, desenvolvimento de produto com apelo global, negociação em rodadas internacionais e suporte técnico especializado. Com tudo isso, o Polo Calçadista do Cariri torna-se, cada vez mais, uma alavanca de desenvolvimento regional, sendo um motor de geração de empregos e uma vitrine da capacidade do interior nordestino de produzir com identidade e competitividade.

Europa França
Ásia Tailândia

notas

MEDALHA DA ORDEM DO MÉRITO CULTURAL

Reconhecido como um dos maiores nomes do artesanato em couro no Brasil, Espedito Seleiro foi agraciado na categoria Cavaleiro da Ordem do Mérito Cultural. A premiação ocorreu no Palácio Gustavo Capanema, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Emocionado, o artesão comentou: “Só tenho que agradecer a Deus e ao povo que está vendo o meu trabalho, que eu faço com todo carinho e gosto.” A homenagem destaca a importância do trabalho de Espedito para a preservação da cultura popular do Cariri cearense.

GRANDE ENCONTRO ENTRE PÚBLICOARTISTAS, E TRADIÇÕES

Considerada um dos maiores eventos de valorização da cultura popular brasileira, a Mostra Sesc Cariri de Culturas retorna em 2025 com programação entre os dias 21 e 24 de agosto, com o compromisso de democratizar o acesso à arte e incentivar a diversidade cultural. Com apresentações de música, teatro, dança, literatura e cultura popular, a mostra ocupará espaços em diversas cidades do Cariri, como Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha e Nova Olinda. O evento receberá artistas de todo o País, consolidando a região como um polo cultural vibrante e inclusivo, e tem destacado a diversidade musical da região. Grupos como o Ivison Trio apresentam repertórios autorais que mesclam ritmos nordestinos, como xote, coco, baião e xaxado, com influências internacionais como blues e rock. Essas apresentações têm contribuído para a valorização da música instrumental no Cariri.

FOTO

MAILSON FURTADO LANÇA LIVRO "O DIA"

O poeta cearense Mailson Furtado, vencedor do Prêmio Jabuti em 2018, lançou sua obra intitulada "O dia". O livro foi apresentado em eventos no Crato e em São Paulo, reafirmando a relevância do autor na cena literária nacional. Em O dia, Furtado nos leva para uma casa onde é noite, apesar do título; “e/ toda a vida cabe/ nesta noite”. O “poema em ato único” tece as horas insones, prensadas entre um dia que não vai embora e outro que não quer chegar. Não há amanhã, não há mundo, não há tempo: tudo que existe é a noite ao longo da qual o poeta enfrenta suas tantas inquietações a respeito da vida, do que ela se tornou nestes dias que não nos deixam dormir e o monólogo que dá a elas como resposta, com a velocidade e a clareza características de sua poesia. Esta é uma obra de um poeta maduro, muito consciente do que pretende tocar e revelar com seus versos.

O Dia, de Mailson Furtado

Editora: Círculo de Poemas

Número de páginas: 72 páginas

Preço médio: R$ 39,90

A CASA DO SOLDADINHODO-ARARIPE ESTÁ PROTEGIDA

O Soldadinho-do-Araripe não tem esse nome à toa. O pequeno pássaro, ameaçado de extinsão, vive apenas nas encostas da Chapada do Araripe, na Caatinha Cearense. Com o objetivo de garantir a proteção de seu habitat foi criado o Refúgio de Vida Silvestre do Soldadinho-do-Araripe. Localizado nos municípios de Barbalha, Crato e Missão Velha, o refúgio, de 4.874 hectares, protege ainda as escarpas da Chapada do Araripe, florestas úmidas e nascentes, além de outras espécies que ocorrem apenas ali, como a perereca-folha e o caranguejo-de-água-doce. O principal fator de ameaça ao soldadinho é justamente a perda e fragmentação de habitat. Outro objetivo do decreto é estimular o ecoturismo, principalmente de base comunitária na região.

DIVULGAÇÃO
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notas

CONSAGRADA!

Pelo terceiro ano consecutivo, a Nação Nordestina, grupo cultural de Juazeiro do Norte, alcança o topo do Campeonato Estadual de Quadrilhas, consolidandose como tricampeã em uma trajetória marcada por excelência, beleza e rigor artístico. A competição, promovida pela ONG União Junina do Ceará, foi realizada em Maracanaú, município da Região Metropolitana de Fortaleza. Com uma apresentação que reverenciou a vaquejada como expressão da cultura nordestina, a agremiação arrebatou também os títulos de Melhor Noiva e Melhor Rainha — reconhecimentos que evidenciam a potência estética e simbólica do grupo. A Nação Nordestina foi destaque na seção Cultura da última edição desta revista, na reportagem “A energia do movimento junino”, e volta agora a ocupar seu lugar de honra entre os grandes nomes da cena cultural popular cearense.

MUSEUS À VISTA

O segundo semestre do ano é reservado à inauguração de importantes museus, fortalecendo a valorização da cultura e da memória do Cariri. Confira!

BARBALHA

Agosto - No dia 23, o município receberá oficialmente o Museu Orgânico do Ladrilho Hidráulico Seu Jaime, instalado na antiga fábrica de mosaicos do Mestre Jaime, reconhecido guardião da arte dos ladrilhos hidráulicos no Cariri. O espaço faz parte do projeto Museus Orgânicos, realizado pelo Sesc Ceará em parceria com a Fundação Casa Grande, e celebra a trajetória de Mestre Jaime, que há quase seis décadas mantém viva essa tradição ao lado de sua família. A casa onde viveu e trabalhou o mestre passará a receber visitantes interessados em conhecer de perto o ofício, as histórias e os processos que moldaram gerações.

BREJO SANTO

Setembro - Inauguração do Museu Orgânico de Francisco Graciano, escultor popular cuja arte ganhou o mundo sem nunca perder as raízes fincadas no Cariri. Nascido em Juazeiro do Norte e filho do mestre Manoel Graciano, Francisco cresceu entre madeira, mato e imaginação, elementos que até hoje moldam suas esculturas fantásticas e coloridas. Conhecido como “Mozinho dos Bonecos”, seu ateliê se tornará um espaço de visitação dentro do projeto Museus Orgânicos, realizado pelo Sesc Ceará e Fundação Casa Grande. Com obras que já circularam em museus internacionais, como em Nova York, Francisco transforma madeira em memória viva do sertão. Além da arte do mestre, o museu vai celebrar também a história de vida dele, marcada pela resistência, criatividade e profundo vínculo com a natureza e a cultura popular nordestina.

SEMINÁRIO

CHEGA AO CARIRI

COM DEBATE SOBRE POLARIZAÇÃO POLÍTICA

E OS DESAFIOS DAS

DEMOCRACIAS NA ERA DIGITAL ,O SEMINÁRIO

lidade e imparcialidade nas plataformas digitais; como o Trumpismo impacta na geopolítica global por meio das redes; o Brasil nesse contexto”.

SERÁ REALIZADO EM OUTUBRO. INSCRIÇÕES

SERÃO ABERTAS EM BREVE

DE JULIETE COSTA

O futuro da humanidade está, atualmente, ameaçado por uma extrema polarização política, armadilhas tecnológicas, conflitos armados, guerras comerciais e crise climática. Surge, então, a pergunta: para onde vamos? Com o intuito de promover um debate acerca deste questionamento, o Futura Trends chega ao Cariri para repetir na região o êxito do projeto que há 15 anos faz sucesso em Fortaleza e em todo o Nordeste.

O evento terá o tema “Ameaças às democracias: como as tecnologias digitais afetam as relações humanas e instituições, inflamando a polarização política e o Brasil nesse contexto”. O seminário, que acontece no dia 2 de outubro, de 13h30 às 18h, no Centro de Convenções do Cariri, é uma realização da Rádio O POVO CBN Cariri e Revista O POVO Cariri.

A programação do seminário coloca em questão a ascensão do Trumpismo, moldado pela polarização nas redes sociais. Trata, assim, de alguns dos temas mais discutidos na atualidade: o impacto das tecnologias digitais e da inteligência artificial nas relações humanas, governos e organizações; as redes sociais e a saúde mental.

O Futura Trends Cariri recebe o professor Marco Aurélio Ruediger, da Fundação Getúlio Vargas, para a palestra com o tema “A democracia sob ameaça: neutra-

Autoridade latino-americana no tema das redes sociais e impactos na saúde mental dos adolescentes, a juíza Vanessa Cavalieri discute como as tecnologias digitais ameaçam as novas gerações. Além disso, suscita o debate acerca dos riscos das ferramentas digitais, dos limites do acesso às redes pelos adolescentes e das consequências da epidemia digital, como violência, depressão e ansiedade.

O educador e terapeuta Talib Tyler Fisher, especialista em traumas humanos, apresenta a palestra intitulada “Pensar, sentir, decidir: o que ainda é exclusivo da Inteligência Humana?”. Ele aborda os desafios e as possibilidades da Inteligência Humana em tempos de transformação digital acelerada, com foco especial na integração entre emoções, relações e decisões conscientes em um mundo onde a Inteligência Artificial avança rapidamente.

O seminário também conta com o painel “Lidando com a Geração Z: características da geração que valoriza a colaboração, a tecnologia, a liberdade, a gestão da motivação e do engajamento nas relações de trabalho”. A professora Alcilane Mota, gestora do Senai Ceará e especialista em Pedagogia Empresarial, comanda a conversa sobre essa temática.

Coordenador de Projetos Especiais do Grupo de Comunicação O POVO, o jornalista Nazareno Albuquerque destaca que o Cariri é hoje um forte polo de difusão do conhecimento. Sendo assim, a região será beneficiada com a realização do evento no que se refere à formação social da comunidade.

“O Futura Trends, com o seu conteúdo de alto nível, é um seminário que certamente oferecerá uma forte contribuição de informações privilegiadas para seus gestores públicos e privados, profissionais liberais, empresários e estudantes universitários interessados em ir além. Muito além em capacitação e educação, especialmente em temas e tecnologias focados no futuro”, ressalta Nazareno Albuquerque.

A JUÍZA VANESSA

CAVALIERI ABORDA OS PERIGOS EXISTENTES NO AMBIENTE DIGITAL, CITANDO CASOS CONCRETOS PARA ALERTAR FAMÍLIAS

TEXTO

SEMINÁRIO

GEOPOLÍTICA GLOBAL

E OS NOVOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DIGITAL

“Quais camadas indutoras de transformação compõem esse mosaico de mudanças pelas quais passamos?”. Esta é a principal indagação da palestra de Marco Aurélio Ruediger. O diretor da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas analisa a geopolítica global e o Brasil nesse cenário.

Durante o debate, o professor discute como a arquitetura do poder global está se transformando e como esse processo se manifesta, por exemplo, em eventos como a COP30, sob o pano de fundo de forças como o Trumpismo, o colapso multilateral tradicional e a guerra cultural mediada pelas redes digitais.

Nesse contexto, o Brasil tenta se posicionar como agente relevante na tentativa de superação de déficits de cidadania. O professor res -

salta que “as plataformas digitais e a Inteligência Artificial passam a ser os novos ‘territórios da política’, os algoritmos incorporam-se como (co) atores, influencers sobrepõem-se a diplomatas e políticos, e os novos meios de comunicação digital passam por dupla inscrição: como ferramentas e o próprio terreno da batalha de um novo momento histórico”.

Marco Aurélio Ruediger promete provocar no público um olhar mais transversal e crítico a respeito da temática. “Se a audiência, e eu próprio, terminarmos esse encontro desafiados mutuamente a uma reflexão mais disruptiva, será para mim o objetivo realizado desse encontro”, enfatiza.

REDES SOCIAIS E OS IMPACTOS NA SAÚDE

MENTAL DOS ADOLESCENTES

Atualmente, a sociedade está diante de um cenário epidêmico de doenças mentais na infância e na adolescência causadas majoritaria -

mente pela grande reconfiguração de uma infância baseada no livre brincar para uma infância baseada em telas. Pensando nisso, a juíza Vanessa Cavalieri aborda os perigos existentes no ambiente digital, citando casos concretos para alertar famílias e educadores.

Vanessa Cavalieri salienta a importância de discutir o crescimento da violência entre adolescentes, tanto no ambiente escolar quanto familiar. Além disso, alerta sobre os perigos do uso da tecnologia sem supervisão, especialmente o uso intensivo e precoce de redes sociais.

“Espero trazer a experiência da Vara da Infância Juventude, dividindo com os participantes as estratégias que desenvolvemos através do protocolo ‘Eu te vejo’, focadas numa atuação sistêmica e intersetorial para apoiar alunos, famílias e escolas, com objetivo de tornar o ambiente escolar mais jus to e equânime, alegre e pacífico”, ressalta a juíza.

OS DESAFIOS DA GERAÇÃO Z

NO MERCADO DE TRABALHO

A Geração Z enfrenta vários desafios no mercado de trabalho, tais como adaptação a hierarquias rígidas, busca por flexibilidade e necessidade de desenvolver habilidades comportamentais. Para debater impactos, reflexos e paradigmas desta faixa etária da população, a professora Alcilane Mota, mestre em pedagogia empresarial, participa de uma das rodas de conversas.

“Compreendendo os diferentes perfis de empresa e sua atividade fim, o desafio será o de buscar encontrar equilíbrio no âmbito das boas práticas laborais e proporcionar mais experiências compartilhadas, pois essas ações em grupo podem fortalecer laços e ampliar a troca de aprendizados, o que contribui para que os colabora

permitir vislumbrar novos cenários que contribuam no processo de desmistificar traços comportamentais.

“Cada geração tem o seu próprio ritmo, sua própria história e seu lugar no mundo”, reflete.

A INTELIGÊNCIA HUMANA

EM TEMPOS DE AVANÇO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Um contexto de crise global em relação à saúde mental associa-se, ao mesmo tempo, a uma explosão tecnológica sem precedentes. Essa combinação cria um cenário onde a humanidade precisa urgentemente resgatar e fortalecer aquilo que os torna humanos. Assim, falar sobre Inteligência Humana — e mais especificamente, sobre a qualidade das nossas relações e decisões — é essencial para construir ambientes de trabalho mais saudáveis, famílias mais conectadas e lideranças mais conscientes. É o que afirma Talib Tyler Fisher, educador e terapeuta especializado em resolução de traumas e questões relacionais.

Talib Tyler Fisher sugere uma proposta prática de como é possível desenvolver essa inteligência relacional e emocional, tanto em ambientes pessoais quanto corporativos. Para tanto, o profissional expõe o método ARIE — Avanço da Inteligência Relacional e Emocional — uma estrutura prática para fortalecer a autoconsciência, a regulação emocional e a tomada de decisões conscientes.

“Minha intenção é criar uma ponte entre ciência, prática terapêutica e experiência aplicada em liderança. Através do método ARIE, ofereço ferramentas para que indivíduos e organizações desenvolvam Inteligência Humana com a mesma clareza e seriedade com que investem em tecnologia e inovação”, explica.

INSCRIÇÕES

FUTURA TRENDS CARIRI Em breve, em: www.futuratrendscariri.com.br

JOIAS

Peça do artista e designer caririense
Leo Ferreira

ARTE COMO TRADIÇÃO, INOVAÇÃO E RESISTÊNCIA

EM JUAZEIRO DO NORTE, ARTISTAS E DESIGNERS LAPIDAM

IDENTIDADES EM OURO, PRATA E PEDRAS. CAMINHOS SUSTENTÁVEIS MOLDAM A NOVA ERA – CONTEMPORÂNEA –DA JOALHERIA NA REGIÃO

TEXTO DE LUCAS CASEMIRO

JOIAS

JOIAS

ARAÚJO

FOTO ALAN

O brilho das joias já iluminou com força o centro comercial de Juazeiro do Norte, no Cariri cearense. Movida pela devoção a Padre Cícero, a cidade se transformou, décadas atrás, em um importante polo de produção joalheira – um fenômeno diretamente ligado ao fluxo intenso de romeiros e visitantes em busca de fé e lembranças com valor simbólico e material.

Hoje, o cenário é outro: a produção artesanal de joias enfrenta desafios econômicos e culturais, enquanto novos caminhos vêm sendo construídos por meio da academia, da sustentabilidade e do design autoral.

Essa mudança de paradigma é observada de perto por quem pesquisa e vive a joalheria na região há mais de uma década. Uma das principais vozes sobre o tema é a professora e pesquisadora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Ana Videla, que há 15 anos acompanha os movimentos do setor local.

“Quando cheguei a Juazeiro, em 2010, a produção de semijoias já liderava o mercado local.

As oficinas de joalheria tradicional estavam em declínio, com muitas fechando as portas”, relata. Segundo ela, o impacto da concorrência de peças vindas da China, mais baratas, somado à elevação do preço do ouro, criaram o ambiente que culminou na retração do mercado.

Apesar disso, a tradição resiste. Ainda há oficinas no centro da cidade que produzem especialmente anéis de formatura e alianças por encomenda. Ao mesmo tempo, uma nova geração de designers formados na UFCA vem ressignificando o conceito de joalheria.

“O curso de Design da UFCA foi pensado com a joalheria como uma das ênfases desde a sua criação, em 2010. Nosso objetivo é formar técnicos e pensadores do fazer joalheiro, que questionem o extrativismo e valorizem materiais locais”, afirma a professora, que também lidera o grupo de pesquisa Benditos: Núcleo de Design e Antropologia. O núcleo se debruça sobre objetos religiosos e de uso pessoal, como as joias, buscando entender seus sentidos estéticos, simbólicos e sociais.

Anel Águia, de Dayane

Araújo: “joia como agente de comunicação viva entre o corpo e o mundo”

O caminho da joalheria em Juazeiro do Norte, no entanto, ainda é desafiador. “A comercialização é difícil. A maioria dos alunos usa o Instagram ou busca parcerias com galerias do Sul e Sudeste. Não temos uma estrutura de exportação consolidada no Cariri”, relata a professora.

Mesmo assim, o desejo é que a joalheria caririense siga viva, reinventada, com mais identidade e menos dependente de matérias-primas que agridam o meio ambiente. “A gente precisa pensar a joia como narrativa, como memória, como política do corpo. E nisso, Juazeiro tem muito a ensinar”, conclui a professora.

A IDEIA DE JOALHERIA “SITUADA” PROPÕE UMA PRODUÇÃO CONECTADA AO TERRITÓRIO, À CULTURA LOCAL

TERRITÓRIO E HISTÓRIA

Em uma cidade onde fé e tradição caminham lado a lado, a ourivesaria nasceu do encontro entre devoção e talento manual. Desde 1893, os primeiros brincos, anéis e correntes começaram a ganhar forma nas mãos de artesãos locais – mas foi a explosão das romarias, por volta de 1910, que fez da cidade um polo fervilhante para o comércio de joias.

À medida que romeiros vinham de todos os cantos para reverenciar Padre Cícero, medalhas de santos, alianças de casamento e pingentes religiosos passavam a circular como extensões da fé, como amuletos moldados em metal precioso.

Durante décadas, esse saber moldado em fogo e paciência ocupou um lugar de prestígio na cidade. Oficinas alinhavam-se nas ruas centrais, transformando o centro de Juazeiro em um verdadeiro corredor do ouro. Mas com o tempo, a tradição enfrentou revezes. O avanço das indústrias de folheado e o alto custo da matéria-prima minaram a força econômica do setor, que viu muitos de seus espaços desaparecerem ou se adaptarem.

Hoje, mesmo em menor número, os ourives resistem. Em oficinas discretas do centro urbano, continuam a moldar histórias em metal – fazendo sob encomenda joias que celebram batizados, casamentos, promessas e devoções.

Esse panorama baseia-se no levantamento “A joia e a arte: um estudo sobre a ourivesaria de Juazeiro do Norte”, publicada em 2022 pelo caririense Leo Ferreira e apresentado como dissertação ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

É nesse cenário em constante transformação onde desponta uma nova geração de joalheiros e designers que, como guardiões de um saber ancestral, buscam reinterpretar a ourivesaria em diálogo com o presente.

A ideia de joalheria “situada”, como chama a professora Ana Videla, propõe uma produção conectada ao território, à cultura local e às urgências do nosso tempo, como a crise climática e o esgotamento de recursos naturais. “A gente não pode continuar pensando joia só como metal nobre. É preciso pensar no valor simbólico, na identidade. A madeira, tecidos, resíduos, biomateriais... tudo isso pode se tornar adorno”, defende.

É preciso, portanto, repensar a matéria-prima e o fazer joalheiro na caatinga. Em disciplinas de experimentação, ela e outros artistas pesquisam formas de criar adornos que mantenham o sentido ancestral do enfeite e respeitem os ciclos da natureza e as urgências ambientais do presente.

Leo Ferreira é artista, designer caririense e pesquisador da tradição de ourives na região

UMA PRÁTICA ARTÍSTICA

A produção joalheira em Juazeiro do Norte ultrapassa o limite funcional ou ornamental. Cada peça carrega histórias, trajetórias e valores que refletem as complexas relações entre tradição, identidade e subjetividade. É nesse contexto que a ourivesaria tem sido compreendida como prática artística – pelo notável requinte técnico, mas sobretudo pela carga simbólica e afetiva que acompanha a criação dos adornos.

Já no início da década de 1970, a carioca Maria Rosilene Barbosa Alvim se debruçava sobre a produção joalheira local. Em sua dissertação de mestrado em Antropologia pelo Museu Nacional e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rosilene investigou a relação entre a produção de arte e o ouro.

Na pesquisa “A Arte do Ouro: um estudo sobre os ourives de Juazeiro do Norte”, publicada em 1972, a autora retrata o cenário da joalheria na cidade durante a década de 1960, revelando uma percepção já madura sobre o ofício como expressão artística. Para os mestres ourives, não se tratava tão somente de técnica, mas da inteireza do fazer manual – do esboço à lapidação. “É arte porque fazem à mão e não na máquina”, afirmava um deles, distinguindo a produção artesanal da criação artística.

Se, no passado, os ourives do centro da cidade eram reconhecidos como mestres das “artes” por dominarem ofícios manuais como a lapidação e a moldagem do ouro, hoje, a chamada “Arte do Ouro” se reinventa em meio a novos olhares e influências.

Alianças, anéis de formatura e pingentes com símbolos religiosos seguem sendo protagonistas no comércio local, testemunhos de uma devoção coletiva enraizada na cultura romeira. Mas, paralelamente, emergem joias autorais que transitam pela arte contemporânea, projetadas a partir de conceitos individuais, como forma de expressão pessoal e crítica.

Esse deslocamento não rompe com o passado. Amplia o repertório. Designers mais jovens têm utilizado os conhecimentos adquiridos no curso de

Design de Produto da Universidade Federal do Cariri (UFCA) – com ênfase em joalheria – para experimentar materiais, formatos e narrativas. Enquanto alguns se aproximam dos circuitos de arte, ocupando exposições e galerias, outros mantêm ateliês independentes ou atuam sob demanda.

Também joalheiro, a pesquisa de Leo Ferreira, “A joia e a arte: um estudo sobre a ourivesaria de Juazeiro do Norte”, parte da perspectiva de que a joia –quando feita artesanalmente, do início ao fim, com técnica, intenção e simbologia – é uma arte ances-

Acima, peça de Leo Ferreira e, ao lado, pingente de Dayane Araújo em pedra Cariri

A VEZ DO CONTEMPORÂNEO

No novo momento da joalheria em Juazeiro do Norte, o contemporâneo ganha força com a chegada do curso de Design de Produto da UFCA. É nesse cenário que navega Dayane Araújo, designer e artista joalheira cuja trajetória une pesquisa acadêmica, experimentação e produção autoral no Cariri.

Seu trabalho de conclusão de curso deu origem à sua marca homônima (em processo de redesenho) e, em 2017, participou de um coletivo criando uma coleção de joias em Pedra Cariri, projeto que ganhou repercussão nacional e internacional, com passagens por eventos como a Stone Fair (Porto Alegre) e uma feira em Verona, na Itália.

Desde então, Dayane desenvolve joias autorais. Algumas com caráter experimental, como peças cinéticas inspiradas no cotidiano e na natureza. Também participa de exposições e atua em coletivos ligados à joalheria contemporânea, com foco em peças orgânicas, duráveis e feitas à mão, alinhadas ao slow fashion.

“Utilizo articulações e mecanismos inspirados no mundo natural e nas artes visuais para criar objetos vestíveis que se movem em resposta ao toque, ao gesto e à observação. Acredito que meu trabalho forma uma tríade entre obra, usuário e espectador, onde a joia deixa de ser estática para se tornar um agente de comunicação viva entre o corpo e o mundo”, reflete.

Entre seus projetos mais marcantes estão uma mini coleção inspirada no voo das aves, o pendente Cápsula do Tempo – criado para o filme Todas as Vidas de Telma (Adriana Botelho, 2022) – e uma joia animada com técnica de scanimation, que se transforma conforme o movimento.

Mesmo com pausas, como durante a pandemia, ela segue criando. Em 2025, retorna com a coleção “Tem Macaxeira no Feijão”, em parceria com o designer Alan Araujo para o Dragão Fashion Brasil. As peças, inspiradas em memórias afetivas nordestinas, resgatam formas da macaxeira e das vagens de feijão, símbolos de laços familiares e do cotidiano regional.

Joias de Dayane Araújo. Acima, coleção Cápsula do Tempo e abaixo, peça em parceria com o designer Alan Araújo

FOTO BEATRIZ SIQUEIRA
FOTOS DIVULGAÇÃO

JOIAS

TRADIÇÃO INTERGERACIONAL

Além de joalheiro, Leo Ferreira é designer e artista visual, com uma trajetória profundamente conectada à memória familiar, à tradição artesanal e à experimentação artística. Nascido e atuante no Cariri cearense, Leo escolheu a joalheria como meio de expressão por ser um campo que permite conciliar técnica, criação e ancestralidade.

Seu trabalho começou a se delinear ainda durante a graduação, quando passou a compartilhar a bancada de criação com seu bisavô, Luiz Pedro, artesão tradicional da região. O vínculo intergeracional marcou sua produção, que hoje resgata ferramentas, memórias e saberes herdados.

Para ele, criar é também um modo de pensar o mundo, posicionar-se politicamente e estabelecer pontes entre o passado e o presente. Talvez por isso a sua produção transite entre o design, a arte contemporânea e o artesanato, incluindo desde encomendas personalizadas a peças conceituais, em que utiliza materiais diversos como metal, madeira e Pedra Cariri –muitas vezes reaproveitados de descartes, como um gesto ecológico e político.

CRIAR É MODO DE PENSAR O MUNDO,

POSICIONAR-SE POLITICAMENTE

E ESTABELECER PONTES ENTRE PASSADO E PRESENTE

PARA COMPRAR

A joia do Leo, por Leo Ferreira

Site: www.ourodeartista.com/shop

WhatsApp: (88) 98828-5296

Instagram: @ajoiadoleo

Dayane Araújo

Instagram: @dayanearaujoias

Marcia Ferreira

WhatsApp: (88) 9980-60448

Leo Ferreira mescla materiais como metal, madeira e Pedra Cariri – muitas vezes reaproveitados de descartes
FOTOS DIVULGAÇÃO

Regionalismo &religiosidade

Na produção contemporânea local, a fé continua se fazendo matéria e linguagem. Muito além da inspiração, as romarias dedicadas a Padre Cícero se tornam estrutura e sentido na criação de joias autorais que unem espiritualidade, identidade e território.

É o caso da designer e ourives Marcia Ferreira, um exemplo dessa fusão entre cultura popular e joalheria contemporânea. Sua coleção “Caminhos”, fruto do trabalho de conclusão de curso em Design de Produto com ênfase em joias pela UFCA, transforma percursos sagrados em adornos corporais.

Utilizando o Google Maps como ferramenta de mapeamento afetivo e simbólico, Marcia rastreou os trajetos feitos pelos romeiros entre pontos religiosos da cidade, como o Santuário São Francisco das Chagas e o Sagrado Coração de Jesus.

As rotas, convertidas em formas orgânicas, deram origem a peças como a “Argola Reginaldo”, feita em prata oxidada e inspirada nas peregrinações do romeiro que batiza o brinco. A joia é, ao mesmo tempo, objeto de memória e mapa devocional – uma cartografia da fé em forma de metal.

“Minhas peças têm um olhar antropológico sobre o cotidiano”, afirma Marcia, que vê a prática joalheira como uma maneira de registrar condutas humanas, transbordando estética e espiritualidade.

Marcia Ferreira transforma o formato dos trajetos feitos pelos romeiros entre pontos religiosos de Juazeiro do Norte para dar forma a brincos e anéis

O POVO CBN CARIRI

Parte da equipe da Rádio

O POVO CBN Cariri na sede do estúdio em Juazeiro do Norte

JORNALISMO NAS

ONDAS DO RÁDIO

FOI A PRIMEIRA. E CONTINUA SENDO ÚNICA. PIONEIRA NO JORNALISMO ALL NEWS DO INTERIOR DO CEARÁ, A RÁDIO O POVO CBN CARIRI CHEGA A 2025 COM A CREDIBILIDADE DE QUEM DEU VOZ ÀS RUAS E CRUZOU FRONTEIRAS ENTRE O RÁDIO, O DIGITAL E O IMPRESSO

GUILHERME
CARVALHO
TEXTO DE

O POVO CBN CARIRI

Em 2025, a Rádio O POVO CBN Cariri celebra sete anos de atuação no sul do Ceará, consolidando-se como uma referência em jornalismo profissional e imparcial na região. Sediada em Juazeiro do Norte, a emissora é fruto da parceria entre o Grupo de Comunicação O POVO, com quase um século de história, e a Central Brasileira de Notícias (CBN), rede nacional reconhecida pela credibilidade.

Desde sua inauguração, em 20 de novembro de 2018, a Rádio O POVO CBN Cariri tem se destacado pela programação voltada às necessidades e interesses da população caririense. Com uma equipe formada por jornalistas locais, a emissora garante uma cobertura próxima e sensível às demandas da comunidade. Pioneira, a O POVO CBN Cariri segue sendo a única all news da região e do interior do Ceará, com uma proposta editorial marcada pela independência, profissionalismo e uma conexão profunda com as demandas locais. Todos os dias, adota uma abordagem proativa em sua cobertura jornalística, buscando não apenas informar, mas também contribuir para a solução dos problemas da região.

É o que define o jornalista Jocélio Leal, diretor de jornalismo das rádios O POVO CBN Cariri e O POVO CBN. Segundo ele, a identidade da emissora é firmada no trabalho diário da equipe jornalística, especialmente no momento em que o repórter vai às ruas e ouve a população. “A gente não comete o erro de querer chegar ao Cariri com as respostas. Não. A gente faz as perguntas aqui e responde o que vai ao encontro do interesse editorial do ouvinte do Cariri. A rádio não é uma filial de Fortaleza. Tem nome e identidade própria. É uma rádio caririense. O fato de carregar na marca o nome O POVO a torna uma referência editorial — mas sempre conectada com os interesses da região. A redação é formada por jornalistas da região, formados na região, que conhecem as fontes e sabem o que está na agenda local”, afirma Leal.

“CHEGAMOS À REGIÃO HÁ 7 ANOS, OUVINDO, APRENDENDO E FAZENDO ESSE RÁDIO

JOCÉLIO LEAL

FOTO ALLAN BASTOS

ALÉM DO DIAL: JORNALISMO QUE ULTRAPASSA AS ONDAS DO RÁDIO

Mais do que informar, a rádio busca soluções. A atuação não se limita ao dial: a presença estratégica nas redes sociais amplia o alcance e fideliza uma audiência diversificada, jovem e conectada. Em um cenário de convergência midiática, a Rádio O POVO CBN Cariri tem expandido sua presença digital, adaptando conteúdos radiofônicos para os formatos das redes sociais e alcançando novos públicos.

Segundo dados da Meta — empresa administradora do Facebook e Instagram —, entre os meses de fevereiro e maio de 2025, o perfil da rádio nas redes sociais alcançou quase 12 milhões de visualizações. O número é fruto de um trabalho diário traçado pela equipe de jornalismo com um único objetivo: ser um espelho da região do Cariri para o mundo.

Além disso, a emissora colabora diariamente com o jornal O POVO — tanto no portal quanto na edição impressa, a única publicação jornalística com tiragem cotidiana em todo o Ceará. O objetivo é garantir uma cobertura integrada e multiplataforma.

O modelo adotado pela Rádio O POVO CBN Cariri é exemplo de convergência de mídias bem executada. Do dial ao digital, do impresso às redes sociais, o jornalismo circula em múltiplas plataformas, mantendo a identidade editorial e ampliando o alcance. Para Luciano Cesário, coordenador de jornalismo e âncora do programa O POVO no Rádio, essa diversidade de canais ressalta o papel ativo da emissora no cotidiano da população. “Boa parte do conteúdo que produzimos para o rádio passa por uma adaptação de formato e vira publicação no Instagram, onde alcançamos um novo público. Nosso desafio é ficarmos atentos a tudo que a região pode oferecer em termos de relevância jornalística para gerar publicações conjuntas (collab) com O POVO no Instagram, o perfil de jornalismo mais engajado do Ceará. Isso nos faz alcançar milhares e até milhões de pessoas. É essa convergência que nos permite chegar mais longe”, frisa Cesário.

O POVO CBN CARIRI

“NOSSA MISSÃO NÃO TERMINA QUANDO LEVAMOS A INFORMAÇÃO AO AR. PROVOCAMOS OS RESPONSÁVEIS EM BUSCA DA RESOLUÇÃO.”

LUCIANO CESÁRIO

Luciano Cesário é coordenador de jornalismo e âncora do programa O POVO no Rádio

PIONEIRISMO NAS COBERTURAS: DOS DEBATES ELEITORAIS AO CONCLAVE

Em 2024, durante as eleições municipais, a Rádio O POVO CBN Cariri foi a única emissora da região a realizar debates com os candidatos às prefeituras de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, reafirmando sua liderança na cobertura jornalística e seu compromisso com a democracia.

Na programação, os microfones também foram abertos aos candidatos ao executivo do Crajubar, que puderam debater suas propostas e planos de governo.

Nas semanas que antecederam o pleito, O POVO foi mais uma vez pioneiro ao realizar pesquisas eleitorais com os candidatos do Crajubar, ouvindo a população e servindo como termômetro político. Alinhados à cobertura multiplataforma, os resultados foram repercutidos na rádio, no portal O POVO, no jornal impresso e nas redes sociais.

Para João Dummar Neto, presidente executivo do Grupo de Comunicação O POVO, a cobertura jornalística atenta às necessidades da população reforça o compromisso da rádio com a região do Cariri — princípio fortalecido há quase sete anos. “A rádio chega aos sete anos reforçando nosso compromisso com a região. O primeiro ponto é a importância da região para o jornalismo que fazemos. O segundo é o reconhecimento da sociedade — seja nos debates, nas pesquisas eleitorais ou nas pautas do cotidiano. Esse reconhecimento vem através da rádio, que se tornou referência no Cariri”, afirma Dummar.

SINTONIZE NA 93,5 FM

SIGA NO INSTAGRAM: @OPOVOCBNCARIRI

FOTO ALLAN BASTOS

A emissora também é a única do Cariri com programação local 100% jornalística: O POVO no Rádio, das 9h às 11h, e o Revista O POVO Cariri, das 15h às 16h, apresentado pelo jornalista Guilherme Carvalho. Esse arranjo permite uma cobertura em tempo real, alinhada aos principais fatos ao redor do mundo.

Um exemplo foi a cobertura da morte do Papa Francisco e o Conclave que elegeu o Papa Leão XIV. Por meio do trabalho versátil da equipe, a rádio acompanhou os acontecimentos em tempo real, com entrevistas ao vivo com especialistas e representantes religiosos diretamente do Vaticano. Após o encerramento do programa, os temas foram repercutidos nas demais plataformas do O POVO, garantindo que a informação correta e bem apurada chegasse a mais públicos.

Foi assim que, por exemplo, o Ceará soube que o papa Leão XIV poderia acelerar o processo de beatificação do Padre Cícero Romão Batista, patriarca de Juazeiro. Mais uma vez, a rádio reforça seu compromisso com o público e com a região, cumprindo seu papel social de informar com seriedade e precisão.

OS PROJETOS DO FUTURO ALINHADOS AO O POVO

A celebração dos sete anos da Rádio O POVO CBN Cariri ocorre em sintonia com os preparativos para o centenário do Grupo de Comunicação O POVO, que será comemorado em 2028. Os veículos completarão, respectivamente, dez e cem anos de atuação. Essa sinergia reforça o compromisso com a expansão e o fortalecimento do jornalismo regional, valorizando as especificidades e potencialidades do Cariri.

Com um reposicionamento comercial iniciado em 2023, a rádio ampliou sua atuação. Além de investir em estrutura e pessoal, passou a apoiar eventos, projetos culturais e iniciativas de impacto regional. A previsão é de crescimento e fortalecimento da marca.

A independência editorial é um dos pilares dessa nova fase. A gerente de negócios da rádio, Fernanda Araújo, destaca a credibilidade como diferencial da emissora. “Nossos esforços têm sido no sentido de falar a linguagem do Cariri para o Cariri. O trabalho desse time em sintonia vem fortalecendo nossa relação com a região, com os formadores de opinião, os ouvintes e com parceiros antigos — além de atrair uma nova carteira de clientes que reconhecem a rádio como um veículo sério e estratégico para comunicação. Seguimos nessa caminhada de construção com a nossa região”, afirma.

Devido à sua trajetória marcada por inovação, compromisso com a verdade e conexão com a comunidade, a Rádio O POVO CBN Cariri se prepara para novos desafios e oportunidades. Para 2025, duas etapas serão fundamentais para fincar ainda mais suas raízes na região.

A primeira será o seminário Futura Trends, iniciativa inédita na região. Realizado pelo Grupo de Comunicação O POVO e pela Fundação Demócrito Rocha, o evento acontecerá no Centro de Eventos do Cariri, no dia 2 de outubro, das 13h30 às 18h30. O seminário reunirá palestrantes nacionais e internacionais para discutir temas emergentes nas áreas de economia, educação e tecnologias digitais.

A segunda será um capítulo dedicado ao Cariri no Anuário do Ceará 2025–2026. A edição reunirá os principais dados e informações da região dentro da mais antiga publicação do Estado em circulação.

“É uma ampliação do trabalho que a gente vem desenvolvendo há mais de sete anos — de forma exitosa, com muito carinho e respeito pela região e por sua identidade. Esse é o nosso grande desafio”, conclui Dummar. “NÓS COMEMORAMOS

CAPA

AS HISTÓRIAS DESENHADAS

nas pedrasdoCariri

DIRETOR DO MUSEU DE PALEONTOLOGIA PLÁCIDO CIDADE NUVENS, EM SANTANA DO CARIRI, E REPRESENTANTE DO CARIRI NO CONSELHO MUNDIAL DE GEOPARQUES DA UNESCO, ALLYSSON PONTES PINHEIRO FALA SOBRE OS DESAFIOS DE TRANSFORMAR

A PALEONTOLOGIA EM MOTOR SUSTENTÁVEL DE DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO

TEXTO DE GUILHERME CARVALHO

O fóssil Cordulangomphus fenestratus é símbolo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri
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Allysson Pontes Pinheiro é biólogo marinho de formação, potiguar de nascimento e caririense de coração. Aos 46 anos, tornou-se um dos nomes mais importantes da paleontologia no Brasil. É diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri — instituição que está sob a gestão da Universidade Regional do Cariri (Urca), atualmente dirigida pelo reitor Carlos Kleber. Também representante do Cariri no Conselho Mundial de Geoparques da Unesco, Allysson vive uma rotina intensa entre fósseis, pesquisas e compromissos nacionais e internacionais em defesa do patrimônio paleontológico da Chapada do Araripe. Pai da pequena Luise, de 5 anos, ele divide com a esposa — a também bióloga Jacqueline Andrade — o cotidiano entre a vida em família, o trabalho acadêmico e a gestão pública da ciência. Mas foi o acaso — e não um plano — que o conduziu à paleontologia, após uma carreira voltada ao estudo de crustáceos marinhos. A partir de sua chegada à Universidade Regional do Cariri (Urca), instituição onde é professor em Crato, sua trajetória profissional tomou novos rumos. Hoje, é um dos principais articuladores das discussões sobre decolonialismo científico no País, com atuação direta em processos de repatriação de fósseis, como o dinossauro Ubirajara jubatus — símbolo de resistência científica e cultural do Cariri e o Irritator challengeri, levado ilegalmente à Alemanha nos anos 90.

Allysson Pinheiro recebeu a equipe da revista O POVO Cariri em meio a uma semana cheia de compromissos voltados à paleontologia, na véspera de uma viagem diplomática à Europa. Durante a conversa, compartilhou sua trajetória, falou dos desafios no combate ao tráfico de fósseis no Cariri, da relação com o Geopark Araripe e do sonho de transformar a paleontologia em motor sustentável de desenvolvimento regional. Sem deixar de lado, claro, sua base e principal motivação para a dedicação ao trabalho: o legado a ser deixado para sua família e para as futuras gerações.

A PALEONTOLOGIA AQUI, NÃO É UMA PALEONTOLOGIA COMO

EM QUALQUER OUTRO LUGAR DO MUNDO. AQUI ELA

TEM UM PAPEL SOCIAL, DE

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

O POVO Cariri: Como a paleontologia entrou em sua vida e por que você decidiu dedicar sua vida a essa área de estudo?

Allysson Pinheiro: A paleontologia se impôs na minha vida, nunca foi um desejo. Na verdade, lá atrás, quando estava entrando na faculdade, pensando o que vai fazer da vida, eu pensava em trabalhar com biologia marinha e, por isso, me formei em Biologia Marinha na UFRN. Interação com o mar, contato com a natureza, tinha sempre essa história. Mas o futuro é uma caixinha de surpresas. As coisas me levaram a fazer um concurso e ser aprovado aqui na Urca. Eu já trabalhava com descrição de espécies, mas com espécies viventes. Chegando aqui, eu me deparei com uma quantidade enorme de coisas para fazer com fósseis, inclusive espécies fósseis a serem descritas de crustáceos, que é o meu grupo de formação. Então, eu comecei a descrever espécies fósseis de crustáceos. A coisa foi evoluindo e, como eu disse, a paleontologia se impôs, também com a interação com o Geopark Araripe. A paleontologia aqui, não é uma paleontologia como em qualquer outro lugar do mundo. Aqui ela tem um papel social, um papel de desenvolvimento territorial, que é associado à estratégia do Geopark. E tudo isso encanta. Isso tomou uma dimensão que eu não tinha planejado, mas que me agrada muito. Preciso dizer que eu não estou fazendo isso por obrigação. Eu estou fazendo isso com prazer. E, claro, que são grandes os desafios, mas a gente está colhendo grandes frutos também.

OP Cariri: Quais foram os seus passos como pesquisador?

Allysson Pinheiro: Eu sou natural do Rio Grande do Norte, de Natal. Minha família é do interior, mas eu já nasci na capital. Eu sempre tive uma grande interação com natureza e com o mar. Eu sempre gostei de pescar, de estar na praia, de olhar os bichos, conversar com o pessoal, ir no mangue, pegar caranguejo. Até que um dia, quando eu tinha entre 17 e 18 anos, na casa de praia da minha família, eu cheguei do mangue com uma sacola cheia de caranguejos para preparar e minha mãe disse: "por que que você não faz biologia?". Fui fazer biologia porque minha mãe me alertou que daria certo. E ela estava

Allysson Pontes Pinheiro é biólogo marinho de formação e hoje enxerga na paleontologia um motor de desenvolvimento regional e social
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certa. Quando entrei na biologia, pensava em trabalhar com tubarão, mas acabou que trabalhei com crustáceos de ilhas oceânicas. Viajei bastante em navios e em barcos de pesca por aí a fora. Fiz minha graduação na UFRN e o mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), com crustáceos também. Doutorado fui para Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Crustáceos, também, todos marinhos. Fiz o pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), no Museu de Zoologia da USP, também com crustáceos, só que todos atuais. Surgiu a oportunidade na Universidade Regional do Cariri, passei no concurso e as coisas foram acontecendo. O mar ficou longe, mas comecei a trabalhar com crustáceos de água doce. Inclusive, por exemplo, com a descrição de uma espécie de caranguejo da encosta da Chapada do Araripe, que ninguém conhecia e foi uma novidade. Hoje a gente continua trabalhando com ele, continua em atenção a ele para tentar conservá-lo, já que ele está em risco de extinção. Mas, nesse meio tempo, apareceram os fósseis. Aí, já somam umas 10 espécies fósseis descritas daqui e de outros locais do Brasil. Continuo a trabalhar com os crustáceos atuais. Mas hoje grande parte do meu tempo profissional é dedicado à paleontologia e ao patrimônio paleontológico. Para mais do que o material, mas o que isso representa para a região como oportunidade.

OP Cariri: Hoje, além de pesquisador, você é diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri. Para você, isso é uma realização?

Allysson Pinheiro: Como eu te disse, trabalhar com paleontologia nunca esteve no meu radar. Mas enquanto trabalhei em museu, especialmente no Museu de Zoologia da USP, me encantei. Eu cheguei (ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens) conhecendo toda a história do Plácido, e senti ser uma grande honra. Estar tentando levar à frente esse projeto que foi sonhado por ele, idealizado por ele, construído por ele. O Museu é o que é por causa de Plácido. Tentar fazer com que isso tome cada vez mais corpo é uma grande honra, uma grande realização. Eu me sinto muito feliz de estar

FOTOS

contribuindo com o museu, com a Urca, com o Geoparque Araripe e com a região. OP Cariri: Um equipamento como o Museu de Santana do Cariri precisa de investimentos robustos. Qual o cenário atual do equipamento?

Allysson Pinheiro: Hoje, o Museu passa por um dos seus melhores momentos. Tanto pela quantidade de investimentos realizados recentemente quanto pela quantidade de pessoas envolvidas diretamente com o equipamento. Ainda não de uma forma ideal, que são os contratos temporários e pesquisadores visitantes. O ideal é que a gente tenha pesquisadores contratados permanentemente pelo Museu, ou seja, um concurso para pesquisadores. Esse momento chegará, mas a gente ainda não está nessa realidade. A infraestrutura hoje do museu está muito boa, já tem coisas acontecendo para melhorar ainda mais a infraestrutura física que temos, mas também há uma discussão de uma ampliação física importante do Museu. Um segundo prédio, digamos assim, do Museu em Santana do Cariri, próximo onde é a sede atual, para dar conta de abrigar toda importância que o Museu e a paleontologia da região tem. Então, a gente tem discutido com atores políticos essa necessidade e essa possibilidade. Esse projeto está maturando,

A GENTE

FAZ PARTE DO

CONSELHO QUE AVALIA A QUALIDADE DO QUE EU JULGO

SER A MAIOR ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO

SUSTENTÁVEL

EM

VOGA NO MUNDO

não está ainda definido, mas está na mesa.

OP Cariri: Recentemente, você foi eleito representante do Cariri no Conselho de Geoparques da Unesco. O que você e o Cariri ganham com isso?

Allysson Pinheiro: Isso foi outra grande surpresa. Os fósseis me levaram a caminhos e a locais que eu não esperava, por estarmos em um território Unesco, ou seja, do programa Unesco Geoparques Mundiais. Como eu disse, eu trabalho com um patrimônio paleontológico para além do fóssil. É sobre o que o fóssil pode trazer de desenvolvimento para essa região. E a gente se envolveu muito com o Geoparque Araripe. Então, eu já era avaliador do programa Geoparque, ou seja, a gente era convidado a ir a locais do mundo conhecer territórios que se candidatam a ser geoparques ou territórios que estão passando por processos de reavaliação da Unesco. Como é o nosso caso. De vez em quando vem gente nos avaliar para saber se a gente está se desenvolvendo bem. Nesse caso, eu era a outra ponta. Eu ia lá ver se os caras estavam fazendo as coisas direito. Nisso, visitei alguns territórios da América Latina e na Europa também. E aí surgiu a oportunidade de concorrer a

Estudantes em visita guiada no Museu de Paleontologia

Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri

CAPA TENHO ESPERANÇA DE QUE A EXPLORAÇÃO DA PEDRA CARIRI POSSA SE MODIFICAR, TORNANDO-SE UMA COISA MAIS

SUSTENTÁVEL

E ALIMENTANDO

A PALEONTOLOGIA

essa vaga do Conselho da Unesco. A gente chega onde chega porque temos a ajuda de muita gente. Então, nesse caso, foi o professor Patrício Melo, ex-reitor da Urca, que disse: "Allysson tá na sua vez, tá na sua hora". Ele foi o primeiro avaliador de território de geoparques do Brasil e um dos primeiros da América Latina. Ele já ocupou a vaga que eu ocupo hoje no Conselho Mundial da Unesco. Eu concorri à vaga despretensiosamente, mas para minha surpresa, recebemos essa candidatura. O meu nome recebeu muito apoio. Recebeu apoio do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação. A ministra Luciana Santos preparou uma carta de endosso a essa candidatura e enviou à Unesco. O Itamaraty fez isso e também o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Então, só isso já me realizou em um patamar que eu não esperava. Quando meu nome foi escolhido, isso foi outra grande honra. Hoje, a gente faz parte do Conselho que avalia a qualidade do que eu julgo ser a maior estratégia de desenvolvimento sustentável em voga no mundo. É uma responsabilidade e uma honra enorme. Uma realização profissional. E o que o Cariri ganha com isso? Reconhecimento dos profissionais que existem no Cariri através do que a gente vê lá. Ou seja, todos os processos de candidaturas e revalidação a geoparque do mundo, obrigatoriamente eu tenho que ler. Então, essa experiência toda vem ao Cariri. Eu partilho com o Cariri, com Geoparque Araripe, com os projetos em desenvolvimento na região e não só na região, no Brasil. Há pouco tempo eu estive na Paraíba para incentivar um território a tentar a candidatura de geoparque. É algo que, como eu disse, julgo ser o projeto mais importante de desenvolvimento sustentável do mundo. Então, a gente tem obrigação de procurar desenvolver esses territórios nesse modelo, o que é um sonho para todo biólogo. O biólogo entra na graduação pensando que vai salvar o planeta. A gente não salva só, mas a gente contribui. E essa é uma forma de contribuir. Ao longo do período da formação, você perde um pouco desse brilho. Mas o geoparque e a paleontologia me trouxeram de

volta esse brilho.

OP Cariri: Casos emblemáticos de tráfico de fósseis oriundos do Cariri, como o Ubirajara jubatus e o Irritator challengeri, ocorreram em décadas passadas. Hoje, ainda existe tráfico de fósseis no Cariri?

Allysson Pinheiro: Eu receio que sim. O que a gente sabe é que o cenário mudou muito. Há 50 anos, os fósseis eram vendidos abertamente em feiras livres e em grandes quantidades. Ninguém sabia que não podia comercializar um fóssil. Hoje, essa informação está muito mais difundida. Então, a população está se apropriando ainda dessa informação, a população do local, do território. Tem muita gente que chega de fora visitando que não tem esse conhecimento e acaba, às vezes, inocentemente adquirindo e depois devolvendo o material, mas esse não é o problema. O meu receio é que aparenta que existe uma rede estruturada de comércio ilegal de fósseis na região, de modo a escolher as peças mais importantes e, em uma estrutura profissional, vendê-las aos mercados onde paga-se muito dinheiro, especialmente na Europa e na América do Norte. Então, receio que isso ainda aconteça, mas a gente avançou muito. Antes, essas pessoas vendiam abertamente. Hoje, tem que fazer muito escondido porque sabe-se qual é o tamanho do problema, sabe-se que é um crime federal. A sociedade hoje está de olho nisso. Eu acho que é muito difícil acabar com toda espécie de tráfico, seja qual for o produto. Se existe quem queira comprar, sempre você vai achar alguém disposto a vender. Mas a gente tem que ter controle sobre as coisas e estamos chegando próximo desses patamares. Existem pessoas que tentam se aproveitar de fragilidades e vão insistir nisso. Por isso, é importante a força da fiscalização e da coação. Para essas pessoas, não adianta a educação. Não adianta a gente falar da importância para a região. Essas pessoas só vão entender na força da lei. E tenho a impressão de que a gente está

chegando nesse patamar.

OP Cariri: O tráfico de fósseis ainda é o maior desafio da paleontologia no Cariri?

Allysson Pinheiro: O maior desafio da paleontologia no Cariri é fazer com que o Cariri se aproveite mais dessa paleontologia. O grande desafio é tornar a paleontologia realmente algo que transforme a economia do Cariri, principalmente de modo sustentável, proporcionando oportunidade para as pessoas do território. A gente pode mais e está tentando fazer mais. Por exemplo, as montanhas de rejeito a partir da exploração da Pedra Cariri, que não é exatamente paleontologia, mas é um subproduto e não está passando desapercebido. Na verdade, o rejeito desse material pode ser a matéria-prima para muita coisa, gerando divisas de forma legal, de forma sustentável, mitigando o impacto de uma ação específica.

OP Cariri: O que mais traz orgulho a você?

Allysson Pinheiro: A repatriação do Ubirajara é algo a ser mencionado. Eu acho que essa aí realmente é um divisor de águas na

relação da ciência com a paleontologia. Não somente para o Brasil, mas para o mundo. Ou seja, a gente conseguiu não só com que o Ubirajara retornasse, mas que fosse uma realização que alertou a paleontologia mundial para um problema muito sério que é o colonialismo científico. E, por isso, a gente tem que trabalhar o decolonialismo científico, ou seja, a concentração de poder em alguns grupos, fazendo com que patrimônios desses locais sejam por eles aproveitados e não dos grupos onde o patrimônio se originou, que é o caso do Ubirajara. O patrimônio era aqui do Araripe, mas os frutos desse patrimônio estavam sendo aproveitados por pessoas de outro território, e não pelas daqui. Aqui, a gente teve a notícia de que saiu um dinossauro novo da região. Que legal, nos orgulhamos. Mas o que mudou para a vida do pessoal daqui? Mudou quando o Ubirajara chegou. Ele tornou-se um símbolo. Hoje tem gente tatuada com o Ubirajara na pele. Isso é muito legal. As crianças se orgulhando, desenhando o Ubirajara abraçado a bandeira do Brasil, desenhando o Ubirajara da forma que eles entendem o que seria um dinossauro. Então, ter participado disso talvez seja a

grande realização da profissão até então.

OP Cariri: Quais as lutas atuais?

Allysson Pinheiro: Onde a gente pode chegar, como território, como defensores do patrimônio, não sei, mas a gente está fazendo força para isso. O Irritator é um exemplo. Não só o Irritator, a gente está conversando com muita gente no mundo todo sobre devolução de fósseis, com boa recepção. Então, eu sou um otimista. Eu tenho expectativas que a gente consiga devolver ainda ao Cariri e ao Brasil muitos de seus patrimônios. Eu tenho esperança que a exploração da Pedra Cariri possa se modificar, tornando-se uma coisa mais sustentável e alimentando a paleontologia do Brasil como um todo, com seus fósseis. Vamos à Alemanha, em uma agenda coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, comandada pelo pelo secretário Inácio Arruda. Vamos negociar com os principais museus públicos alemões, uma cooperação científica em paleontologia. O que a gente está propondo é trabalhar em conjunto. Vamos tentar construir pontes entre o Brasil e a Alemanha no sentido que a gente possa trabalhar junto por um futuro melhor. Pare-

CAPA
Grupo de pesquisadores de 12 países estive em junho no Cariri para debater patrimônio

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ce umas frases meio prontas, assim, né? [Risos]. Mas é isso mesmo. Trabalhar junto para criar oportunidades, para avançar na Ciência, reconhecer, restituir, respeitar e corrigir erros históricos. O que acontece é que muitas das pessoas que estão hoje nos museus, que detêm esses patrimônios que são nossos, não foram culpados para esses patrimônios estarem lá. Não foram exatamente eles que fizeram isso. Mas eles são os que têm que lidar com a situação atual. E a gente vê muita abertura, mas vê também receios das instituições, de como isso pode se desenvolver. Então, a gente vai lá esclarecer o que estamos querendo, não estamos indo lá para criar confusão, estamos indo para estabelecer cooperação. Então, temos mantido contato com vários museus de outros lugares, pedindo a devolução de fósseis. A gente pode citar a Suíça, o Reino Unido, Portugal, onde tem algumas dessas peças importantes que a gente está negociando para que elas retornem.

OP Cariri: De que maneira o turismo religioso do Cariri dialoga com o turismo ecológico?

Allysson Pinheiro: Eu acho que um pode se aproveitar do outro. A gente pode fazer essas conexões. O turista, seja qual for o motivo dele estar na região, tem que aproveitar a estadia para que ele conheça a região. Tanto os aspectos espirituais do turismo religioso quanto os aspectos naturais. Aqui nós temos a primeira floresta nacional do Brasil, a Floresta Nacional do Araripe, com várias espécies que só ocorrem no mundo aqui. Tem coisas muito bacanas a serem feitas e tem o turismo mais científico também. Então, a pessoa que veio para a ciência, a gente deve chamar para o turismo de natureza e deve chamar para o turismo de religião. E assim com os outros também. A gente tem que fazer essa conexão. Porque quem visita quer absorver, quer conhecer. Alguns pesquisadores dizem que o turismo é o próximo petróleo do mundo. Então, não queremos o turismo em massa, porque esse é predatório. Mas, queremos esse turismo qualificado e de experiência, de sensações. É o que o território, o Geoparque, o Museu e a candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade, gosta. É o que eu gostaria para mim, para minha filha. Viver num território qualificado no sentido de ter essas experiências, preservando os seus patrimônios e usufruindo desse desenvolvimento. Outro dia, em uma fala, me perguntaram: “Por que você faz isso, é para as gerações futuras?”. Não, eu faço para minha filha. Não é para alguma coisa abstrata que eu nunca vi. Faço isso para criar condições, oportunidades, um ambiente mais saudável para minha filha. Quando eu estou fazendo para ela, claro que eu estou fazendo para todos que vivem na região.

OP Cariri: O que você faz no seu tempo livre?

Allysson Pinheiro: A coisa mais especial que aconteceu na minha vida foi ser pai. Eu sou apaixonado por minha minha esposa, sou louco por minha filha. Então, o tempo que eu tenho livre, eu tento passar com elas. Tento fazer trilha, visitar a Chapada, ir no Museu, falar de fósseis. Ir a Barbalha e ver lá o cortejo do Pau da Bandeira, para que ela também desperte essas coisas. O tempo com a família é maravilhoso.

Allysson entre o acervo de fósseis do Museu de Santana do Cariri

MUSEU DE PALEONTOLOGIA PLÁCIDO CIDADE NUVENS

Horário de funcionamento:

Segunda-feira: fechado

Terça-feira: 8h às 12h

Quarta a sábado: 8h às 16h

Domingo: 8h às 13h

Endereço: Rua Doutor José Augusto, 298, Santana do Cariri

“PEDRAS DO ARARIPE”: CENTRO CULTURAL DO

CARIRI RECEBE EXPOSIÇÃO INÉDITA SOBRE FÓSSEIS DA

CHAPADA

O Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, equipamento inaugurado no Crato em 2022, receberá em breve a exposição inédita “Pedras do Araripe”, que contará com curadoria do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, de Santana do Cariri. A mostra destacará a diversidade paleontológica da Chapada do Araripe, com fósseis de insetos, peixes, vegetais e até mesmo dinossauros que habitaram a Bacia do Araripe há centenas de milhões de anos, ainda durante o período Cretáceo.

Além de apresentar os fósseis encontrados no Cariri, a exposição também evidenciará o fortalecimento recente da divulgação científica voltada ao patrimônio paleontológico da região. Um dos pontos de destaque é a crescente conscientização sobre a importância de preservar e valorizar esse acervo, especialmente diante das vitórias no processo de repatriação de fósseis brasileiros que estavam no exterior — a exemplo do dinossauro Ubirajara jubatus, devolvido ao Brasil em 2023.

A seleção de materiais fósseis da Chapada do Araripe busca ilustrar a complexidade dos ecossistemas antigos do Cariri e despertar o interesse do público pelo rico patrimônio científico e natural da região. Trata-se de um verdadeiro passeio pelo passado, que coloca o Cariri em evidência no contexto da evolução do planeta Terra.

Exposição "Pedras do Araripe"

Abertura: 20 de julho, às 19h

Local: Centro Cultural do Cariri Sérvulo

Esmeraldo – Av. Joaquim Pinheiro

Bezerra de Menezes, bairro Gizélia

Pinheiro, Crato-CE

O objetivo da exposição é apresentar fósseis locais e evidenciar o fortalecimento da divulgação científica voltada ao patrimônio paleontológico da região

notas

PARA CONFERIR...

FAROFA FÓSSIL – SOLO, AR E PENSAMENTO É um ensaio fotográfico de Allan Bastos iniciado em 2010, a partir de sua experiência como pesquisador no Geopark Araripe, no Cariri cearense. O trabalho revela os contrastes entre a riqueza geológica da região – marcada por fósseis do Cretáceo Inferior – e os impactos da mineração de calcário. Em cidades como Nova Olinda e Santana do Cariri, rastros da exploração alteram o solo e os ecossistemas. A sobreposição entre fósseis e resíduos industriais expõe tensões entre o tempo geológico e a velocidade humana. A fotografia emerge como instrumento de denúncia e reflexão, propondo um olhar atento à memória da Terra e à responsabilidade sobre seu futuro. O ensaio estreou na 14ª edição do Festival de Fotografia de Tiradentes – Foto em Pauta, na seleção “Novas Ecologias”, com exibição entre 26 e 30 de março deste ano.

FOTOS ALLAN BASTOS

ARTE CI NE MA

A IDENTIDADE DO CARIRI NO

ARTE

O desabrochar do cinema caririense é acompanhado pelo anseio por oportunidades. Inspirados pela pungência cultural da região, profissionais independentes driblam apertos para levar a herança do Cariri adiante, enquanto o público celebra a chance de se ver representado nas telas. Há quem queira fazer e quem queira assistir, mas há quem possa financiar? Nesse cenário de guerrilha, as armas são a criatividade, a coletividade e, sobretudo, a crença no propósito transformador da arte.

Um exemplo dessa movimentação cultural é a produtora Fulô Filmes, criada em 2018 pelos cineastas Cheyenne Alencar, Jaildo Oliveira e Alisson Flor. Com sede em Potengi, o grupo já produziu mais de 10 filmes, entre curtas, médias, longas-metragens e documentários. O trabalho da produtora encontra inspiração na tradição oral regional, recheada de causos, lendas e histórias passadas de geração em geração, buscando, assim, traduzir o Cariri para as telas.

“Trabalhamos com o imaginário caririense e transformamos em filme. Desde criança, sempre gostei muito de terror e fui apaixonada por suspense, então nossos filmes também trazem essa pitada. Fazemos produções baseadas em contos, lendas, tudo muito regional. Temos uma riqueza muito grande, e o audiovisual está cada vez mais presente para contar essas histórias e levar isso a lugares que ninguém nunca imaginou”, descreve Cheyenne.

Atualmente, a equipe da Fulô Filmes conta com mais de 20 colaboradores voluntários, que atuam não só no Cariri, mas em Fortaleza e outros estados. Além disso, a

cada produção, são abertas seleções para que a população local possa integrar a equipe, seja como atores, figurantes ou na produção.

“Sempre produzimos com a ajuda de amigos e família. No momento, estamos apostando nas leis de incentivos para conseguir produzir os próximos trabalhos, pois atualmente não conseguimos arcar. Os maiores desafios que encontramos é a falta de incentivo financeiro, porque fazer cinema é muito caro. O que falta são mais leis de incentivos, editais que promovam a produção e a distribuição desses produtos em audiovisual”, relata Cheyenne.

No momento, a Fulô Filmes está desenvolvendo a obra Nazara, realizada por meio da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022). Na visão da diretora, o caráter independente do cinema do Cariri é um diferencial capaz de agregar profundamente à cena nacional e internacional.

Foi o caso do filme “Os Olhos de Alice”, realizado de maneira totalmente independente, na cidade de Aurora, em 2018. O curta-metragem, criado

FAZEMOS PRODUÇÕES BASEADAS EM CONTOS, LENDAS, TUDO MUITO REGIONAL. TEMOS UMA RIQUEZA

MUITO GRANDE, E O AUDIOVISUAL

MAIS PRESENTE

e dirigido por Lamarck Dias, chamou a atenção do fotógrafo e cineasta carioca Wallace Moura, radicado nos Estados Unidos, e vai inspirar um longa americano, baseado na história caririense. Até o momento, já foram produzidos o roteiro adaptado e a seleção de elenco, processos acompanhados de perto por Lamarck. O longa ainda não tem data de lançamento.

“A nossa realidade era complicada. Lidamos com pessoas que nunca tinham estado em frente a uma câmera, a estrutura de som era precária, então, o filme ter chegado onde chegou é muito satisfatório. Eu tomei um choque quando recebi o contato do Wallace. Ele disse que estava acompanhando o filme desde os primeiros

processos, porque também é uma realidade muito presente nos Estados Unidos”, conta Lamarck.

A obra retrata o drama de Alice, uma adolescente abusada e oferecida sexualmente a outros homens pelo próprio pai. Apesar de ser uma obra de ficção, a história reflete uma realidade ainda presente na sociedade, como destaca o cineasta.

“Acredito que a arte tem esse poder de provocar, trazer alguma reflexão. Tiveram meninas que, depois que viram o filme na escola, denunciaram seus abusadores. Isso não tem preço”, relembra.

A recepção do filme em Aurora não poderia ter sido melhor. Com a maior parte da equipe de produção e atores formada por moradores locais, o cur-

ta se transformou em uma espécie de evento para a cidade, com direito a uma vaquinha realizada pela população para auxiliar no custeio e exibição da obra em cinemas e festivais.

“A recepção das pessoas e os convites para exibições foram muito satisfatórios. Marcou muito porque tivemos a presença de atores nacionais, Marcos Wainberg (“Zorra Total”), e Miguel Nader (“As Aventuras de Poliana” e “Orgulho e Paixão”), além das oportunidades que conseguimos gerar para atores e não-atores do município. Foi um filme muito buscado, até hoje as pessoas me perguntam”, relata Lamarck.

O curta foi exibido em eventos, escolas da região e no Orient Cinemas, no Cariri Shopping, em Juazeiro do Norte.

Bastidores da gravação do filme Nazara, da Fulô Filmes, que foi contemplada com o edital da Lei Paulo Gustavo
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O FAZER CINEMA NO CARIRI

Para o ator Bruno Tavares, do distrito de Jamacaru, de Missão Velha, a criação de medidas federais de incentivo ao setor, como a Lei Paulo Gustavo e a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (Lei nº 14.399/2022), tem dado fôlego à luta do cinema caririense. No entanto, a conexão criada entre as cidades e os profissionais independentes em busca de expandir a pluralidade da região para além das fronteiras territoriais continua sendo o principal combustível para o audiovisual caririense.

“A cena no Cariri está bem mais efervescente por conta das leis federais, mas, mesmo antes, muita gente boa já fazia produção independente com essa característica de guerrilha, mesmo sem dinheiro, com a cara e com a coragem. Muitos artistas saiam do Cariri para buscar oportunidades, mas hoje quase não é necessário. Ainda é difícil, mas a região é um celeiro cultural muito vasto, e isso dá pano para manga para que sejam desenvolvidas produções grandiosas”, garante.

A atriz Frân Calíxto, do Crato, também vê com bons olhos o cenário atual do cinema caririense. A artista reitera a constante

ebulição cultural da região, a qualidade e a perseverança dos profissionais e assegura que existem oportunidades de capacitação. Mas salienta: “é preciso ter muito amor”.

“Tem onde estudar, onde fazer curso, oficinas. Antigamente, a gente tinha aquela ilusão de que só existia o eixo Rio de Janeiro e São Paulo. Mas aqui no Cariri tem muita gente boa, talentosa. As pessoas estão cada vez mais aprendendo”, aponta.

Apesar do claro potencial da região, Bruno atenta para a necessidade de mais políticas públicas, não só de formação profissional, mas também de acesso à arte, como o aumento de salas de cinema independente. “O que precisamos é ter acesso a pontes que façam com que a gente continue mostrando o que o Cariri tem. É difícil, mas é dever nosso, enquanto artistas caririenses, lutar para que o Cariri tenha esse lugar de representatividade. A arte faz com que tenhamos o poder de representar um povo e tornar protagonista uma região que pulsa cultura”, indica.

Outro ponto importante é o impacto econômico gerado pelo setor. De acordo com Lamarck, apesar da arte ser uma indústria capaz de gerar empregos e movimentar a economia local, a área ainda é pouco valorizada pelo poder público.

“Só é possível fazer cinema quando você conta com uma rede de pessoas que acreditam que a arte ainda é um grande instrumento social importante para a cultura daquele povo, porque ainda é muito caro. Parece que as pessoas têm medo da provocação que a arte pode trazer e acabam investindo muito pouco. Elas não entendem que, quando eu faço um filme desse, eu estou gerando renda para 70, 120, 200 pessoas. Estamos construindo lazer para o interior. Isso é muito revolucionário”, ressalta.

Bruno Tavares é ator, natural de Jamacaru, em Missão Velha, e já atuou em 10 produções audiovisuais
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NOS BASTIDORES:

INICIATIVAS

PROJETO "FULÔ DE CAJUÍ"

QUE IMPULSIONAM O CINEMA CARIRIENSE

Cinema itinerante com base em Milagres, produzido pela Fulô Filmes. Todos os filmes da produtora, após finalizados, são exibidos no Sítio Cajuí, como parte das ações do projeto.

Instagram: @cineclubecajui

MONTECINE

Plataforma de streaming gratuita criada pelo cineasta caririense Lamarck Dias. Com um amplo catálogo de obras brasileiras disponíveis, o objetivo do site é priorizar a disseminação de produções cearenses independentes. Interessados em ingressar na plataforma com as próprias obras podem entrar em contato.

Site: montecine.com.br

Instagram: @montecineplay

ESCOLA POPULAR DE AUDIOVISUAL DO CARIRI (EPAC)

Iniciativa do programa FilminBrasil, núcleo formativo da produtora InCartaz, que oferece formação profissional gratuita em audiovisual para jovens do Cariri. Atualmente, a escola prepara a abertura de novos cursos.

Site: filminbrasil.com

Instagram: @filminbrasil

CURSO DE TEATRO NA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI (URCA)

Disponível no campus São Miguel, no Crato, na modalidade de Licenciatura.

Site: urca.br/teatro

CASA NINHO

Ponto de cultura e espaço cultural independente e sede do Grupo Ninho de Teatro. É localizada no Crato.

Instagram: @casaninho_

EM CENA FILMES

Escola de Formação de Atores para TV, Novela, Cinema e Agência Artística, com atuação em Juazeiro do Norte e outras localidades do Brasil. Também trabalha em Portugal e promove ensino à distância.

Site: agenciadeatores.com.br

Instagram: @emcena.tv

CURSO DE TÉCNICO EM PRODUÇÃO DE ÁUDIO E VÍDEO NA EEEP MARIA VIOLETA ARRAES DE ALENCAR

GERVAISEAU

Localizado no Crato, o curso prepara o profissional para captação de imagem e som, ambientação, operação de equipamentos, tratamento acústico e de imagem, luminosidade, animação, concepção de roteiros, desenhos de produção, edição e efeitos especiais, elaboração de fichas técnicas, mapas de programação e mais.

Site: eeepmariavioleta.wixsite.com Instagram: @eeepvioleta

MOSTRA SESC CARIRI DE CULTURAS

Reúne artistas de diversas linguagens para celebrar e fortalecer a produção cultural brasileira, incluindo Artes Visuais e Audiovisual. Este ano, o evento ocorre de 21 a 24 de agosto, em diversas cidades do Cariri e Centro-Sul cearense.

Site: www.mostrasescdeculturas.com.br Instagram: @mostrasesccariri

CANTINA ZÉ FERREIRA

Bar, museu e cinema localizado em Juazeiro do Norte. Conta com exibição gratuita de filmes às sextas e aos sábados.

Instagram: @cantina_ze_ferreira

1ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE CINEMA TELA CARIRI

Realizado em fevereiro deste ano, no Crato, o festival promoveu um encontro entre realizadores cinematográficos e apaixonados pela arte, além de palestras, encontros de negócios e uma premiação especial.

Site: telacariri.incartaz.com

De acordo com o ator Bruno

Tavares, houve um abaixoassinado para a criação de um curso de cinema na Universidade Federal do Cariri (Urca). Outra iniciativa em desenvolvimento é o Cine Clube de Aurora, cujo objetivo é transmitir filmes variados para a comunidade do município, segundo o diretor Lamarck Dias.

PREPARE A PIPOCA

FILME “OS OLHOS DE ALICE”, DE LAMARCK DIAS

Sobre a obra: conta a história de Alice, uma adolescente abusada e oferecida sexualmente a outros homens pelo próprio pai.

Onde assistir: youtube.com/@lamarckpromocoes3798

FILME “O VALOR DO TESOURO PERDIDO”, DA FULÔ FILMES

Sobre a obra: o casal Manuel e Toinha e seus quatro filhos vivem no sertão nordestino, na década de 1920. Enquanto Manuel vê sua vida ameaçada devido a uma dívida com um rico fazendeiro da região, o pior acontece.

Onde assistir: exibição na TV aberta, por meio do programa da “TV Padre Cícero”, em Juazeiro do Norte.

FILME “ÔXE”, DA FULÔ FILMES

Sobre a obra: encontro de histórias de vários personagens, dentro da romaria de Juazeiro, desde o personagem malandro, ao pagador de promessas.

Onde assistir: youtube.com/@fulofilmes194

FILME “AS DESVENTURAS DE ANA”, DA FULÔ FILMES

Sobre a obra: uma princesa foge do castelo para escapar das maldades de um rei cruel, mas precisa enfrentar os próprios medos e superar desafios para salvar a mãe.

Onde assistir: youtube.com/@fulofilmes194

PARA FICAR DE OLHO

FILME “UMA VOZ CHAMADA FRANCISCA”, DE LAMARCK DIAS

Sobre a obra: conta a história de Mártir Francisca, santa popular de Aurora que foi vítima de feminicídio nos anos 50. Lançamento: 2025

FILME “PÉTALAS DE ROSAS”, DO COLETIVO CULTURAL ÁGUA DE CHOCALHO

Sobre a obra: conta a história de Olivia, que vive um ciclo de relacionamentos abusivos, enquanto traz à tona a reflexão sobre esse cenário de abuso e violência psicológica. A obra foi selecionada para o Festival de Cinema de Carpina, de Pernambuco. Lançamento: em breve. A obra estará disponível na plataforma gratuita Montecine.

FILME “QUIMAMI”, DA FULÔ FILMES

Sobre a obra: fala sobre a lenda da cidade de Milagres e construção da igreja de Nossa Senhora dos Milagres. Lançamento: 2025

FILME “NAZARA”, DA FULÔ FILMES

Sobre a obra: o enredo gira em torno de Nazara, mulher negra que habita o imaginário e a tradição oral da Comunidade Quilombola do Carcará, em Potengi. Nazara foge da casa do Barão de Aquiraz e enfrenta a fúria do Capitão do Mato. Lançamento: 2025

POLÍTICA NACIONAL ALDIR BLANC DE FOMENTO À CULTURA (LEI Nº 14.399/2022)

Institui uma política permanente de financiamento à cultura no Brasil. Prevê repasses anuais da União para estados, municípios e o Distrito Federal investirem em ações culturais, como editais, prêmios, cursos e manutenção de espaços culturais.

LEI PAULO GUSTAVO (LEI COMPLEMENTAR Nº 195/2022)

Criada para apoiar o setor cultural após os impactos da pandemia de Covid-19, a Lei Paulo Gustavo destinou cerca de R$ 3,8 bilhões do Fundo Setorial do Audiovisual e do Fundo Nacional de Cultura para estados e municípios investirem em atividades culturais.

GUIA DE

DELÍCIAS

GUIA DE DELÍCIAS

DE AFETO E ENCANTO A CULINÁRIA REGIONAL DO CARIRI

PARA ALÉM DO SABOR, COMER BEM PODE SER UMA

EXPERIÊNCIA GUIADA POR AFETO – PALAVRA DE SENTIDOS MÚLTIPLOS, MOLDADA PELAS REFERÊNCIAS

DE CADA PESSOA. NESTE ROTEIRO DE ENCANTOS, CONHEÇA OS SABORES QUE CONTAM A HISTÓRIA

DA REGIÃO SOB A PERCEPÇÃO DE QUEM A VIVE

TEXTO DE LUCAS CASEMIRO

A cozinha é, tantas vezes, o lugar onde as histórias mais profundas ganham cheiro, cor e gosto. Em Comida de Encanto, livro vencedor do I Prêmio Literário Demócrito Rocha, a jornalista e escritora caririense Thamyres de Souza transforma o ato de cozinhar em narrativa de resistência e pertencimento.

Inspirada nas vivências de sua mãe e tias, ela percorre os caminhos do Cariri revelando, por meio de receitas como o caldo de Juazeiro, a tapioca do Crato e a galinha de Barbalha, como a culinária é herança afetiva, transmitida por mãos femininas que alimentam corpos e memórias.

“Ao observar o papel que o cozinhar ocupa na vida da minha mãe e das minhas tias, que sempre contaram com a cozinha para sustentar a si e às suas famílias, percebi que existia nesse ofício uma forma de empoderamento bem diferente do que geralmente é associado ao ato de cozinhar”, explica a autora.

Thamyres tece uma cartografia afetiva em que tradição, identidade e pertencimento se entrelaçam. É com esse espírito que convidamos outras vozes femininas do Cariri para indicar lugares onde comer vai além do prato: é reencontro com lembranças, raízes e experiências afetivas.

Surge, assim, uma comida de afeto – aquela que desperta sentidos e sentimentos. De restaurantes familiares a balneários, de feiras a cafés com alma, este roteiro é temperado por memórias. Prepare-se para descobrir sabores que abraçam e lugares que contam histórias!

A jornalista e escritora caririense Thamyres de Souza foi vencedora do I Prêmio Literário Demócrito Rocha com o livro ComidadeEncanto

Livro Comida de EncantoThamyres de Souza

Edições Demócrito Rocha (EDR)

Valor: R$ 44

Adquira o seu exemplar no site: www.livrariaedr. org.br

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Roteiro de

AMOR ATÍPICO EM MOVIMENTO

Para Michelle Ferrúcio, atriz, produtora cultural e mãe de Enzo Rafael, um menino de 7 anos e autista de suporte 2, encontrar lugares de acolhimento no Cariri “é como achar ouro”: raro, precioso, transformador. Em sua voz de mãe atípica, tudo vira poesia da vivência real: o afeto mora no respeito ao ritmo da criança, na liberdade sem julgamentos, no silêncio possível de um mundo que, por vezes, grita demais. É com esse olhar que ela seleciona três sugestões onde a visita vale a pena.

SÍTIO PINHEIROS (BARBALHA)

É onde a alma tira o sapato e se deita na rede da chapada. Ali, o verde conversa com o vento, a galinha caipira carrega lembrança e Enzo Rafael, o filho de Michelle, corre livre, sem temer olhares. “Ali ele é ele”, diz. E ela, por fim, é nada além de mãe, sem armaduras.

Instagram: @sitiopinheiros_restaurante

Funcionamento: sextas, sábados, domingos e feriados

Contato: (88) 98806-9304

CASA CARIRI (JUAZEIRO DO NORTE)

CAMINHO DAS ÁGUAS (BARBALHA)

Lugar onde estão borradas as fronteiras clássicas de um balneário. É como um oásis onde o tempo desacelera. O lugar "abraça sem tocar", com suas águas calmas, sua tranquilidade sonora, seu peixe crocante e sua macaxeira que “tem gosto de carinho, de cuidado”. Lá, seu filho pode correr, pular, fazer som. Pode, enfim, ser ele – e isso é grandioso.

Instagram: @balneariocaminhodasaguas

Funcionamento: de segunda a domingo, das 8h às 17h

Contato: (88) 98138-9729

É como entrar na sala da mãe, com cheirinho de bolo, café quentinho e móveis que contam histórias. Michelle se emociona com o toque artesanal de Múcio Duarte e a doçura nos bolos da esposa, Luciana Almeida, “que parece ter sido pensado pra te dar aquele abraço que você nem sabia que precisava”. A Casa Cariri é, para ela, onde o mundo desacelera e acolhe. Não importa se você vem com filhos ou sozinho, o que se leva é sempre afeto.

Instagram: @casa_cariri

Endereço: Av. Maria Letícia Leite Pereira, Lagoa Seca, Juazeiro do Norte

Funcionamento:

terça a sexta - 7h30 às 14h e 16h às 21h / Almoço - 11h30 às 14h / Café da tarde - 16h às 21h | sábado - 7h30 às 14h / Café da manhã - 7h30 às 11h / Almoço - 11h às 14h | domingo - 7h30 às 11h / Café da manhã - 7h30 às 11h

Contato: (88) 98145-7770

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afetos

MEMÓRIA E SABOR: UM SÓ TEMPERO

Diretora do Teleférico do Horto, Charmene Rocha caminha pela vida com a sensibilidade de quem entende que comida é, mais do que sustento, uma ponte. Para ela, comida de afeto é ser “abraçada por todos os sentidos”. Seus lugares preferidos são espaços onde o sabor anda lado a lado com história, memória e cuidado.

NOVA OLINDA CAFÉ CULTURAL (NOVA OLINDA)

No restaurante da Fundação Casa Grande, a comida de Meirivan é um ato político de cuidado e resistência. Feita por mães dos meninos da Fundação, a comidinha caseira alimenta, sim, o corpo. Mas nutre também a ideia de um Cariri que vive da sua própria força. É cozinha que educa e transforma. “Vale muito fazer essa imersão ao visitar a casa em todos os espaços e se deliciar com o afeto da comida caseira”, garante Charmene.

Instagram: @novaolinda_cafecultural

Funcionamento: de terça a domingo, das 17h às 23h Contato: (88) 99930-3305

CENTRO HISTÓRICO DE BARBALHA

Charmene vê o centro como um polo afetivo-gastronômico. É onde os sabores se misturam aos sons de bandinhas, às fachadas coloniais, à arte viva. Padoca, Kame, Barbalho Bar... cada canto é um

convite ao encontro. “É um abraço cultural ao misto de possibilidades alimentares”, define.

FEIRA MIRARTE CALDAS (BARBALHA)

A Feira Mirarte Caldas de Produtos Orgânicos e Artesanais é uma feira orgânica, artesanal, com produção de mulheres empreendedoras. Comida que vem da terra, das mãos e das raízes. É saber local transformado em sustento. Para Charmene, a feira é um retrato vivo do Cariri profundo. A feira faz parte do programa de formação e difusão do Mirante do Caldas e é uma iniciativa tocada em conjunto com os produtores locais, em especial mulheres empreendedoras, para fomentar a economia criativa e desenvolver o turismo de base comunitária no distrito de Caldas.

PIZZA NO METRO (CRATO)

Na Morada de Conteúdo, nome da casa onde mora Alemberg Quindins e Rosiane Limaverde, o sabor da pizza feita por Ana Sewi, filha do casal, ganha tempero de ancestralidade e se mistura ao frio do sopé da chapada. O restaurante é extensão de um museu vivo, onde cada mordida parece evocar lembranças de histórias que o tempo fez questão de guardar.

Instagram: @pizzanometrocariri

Endereço: Rua Chapada do Araripe, Granjeiro, Crato Funcionamento: de quinta a domingo, das 18h às 22h Contato: (88) 99604-2786

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ENTRE VINHOS, PAISAGENS E VÍNCULOS

É filha do Crato. “E sei a sorte que tenho por isso”, é rápida na afirmação a advogada Isadora Oliveira, que escolhe o Restaurante Dona Carmo como seu refúgio afetivo. Localizado no distrito do Baixio do Muquém, no Crato, o lugar encanta pelo paladar, com a grata surpresa de um tempero guiado pela ética.

“Sei que os empregados são tratados de forma digna e, por isso, devolvem toda atenção aos clientes”, diz. Por isso mesmo entende que a comida é “de afeto”. “É feita por quem tem prazer em cozinhar. Muito mais que sabor: é intenção. É um convite à pausa”, explica.

Lá, Isadora sente o afeto no atendimento gentil, na comida “excepcional”, na vista aberta da Chapada. O jardim, os cavalos, o ar puro, a

trilha sonora do silêncio da natureza… tudo ali parece ter sido pensado para suspender o tempo.

“É um lugar amplo, arborizado, que se você quiser ir para ter uma conversa mais intimista, você vai. Se quiser socializar mais, ficar mais perto da música, também é uma ótima opção. A comida é, disparada, a melhor do Cariri”, descreve.

Instagram: @restaurantedonacarmo

Endereço: Baixio do Muquem, Crato

Funcionamento:

sextas e sábados - das 11h30 às 22h / domingos - das 10h30h às 16h30

Contato: (88) 99364-4409

Recadinho do amô

O POVO – Por qual comida do Cariri você toparia brigar com um turista em Paris para defender? Existem lugares gastronômicos que você recomenda a visita? :D Max Petterson – Eu brigava fácil por um baião de dois bem feito! Com queijo coalho derretido e uma carne de sol macia. Se fosse montar um menu degustação da minha infância, começava com uma macaxeira frita. No prato principal, baião com carne de sol. Já na sobremesa, um picolé de caju, esses que compramos em vendinhas por 75 centavos, sabe? [Risos] Quanto a lugares, recomendo DEMAIS visitar os mercados e feiras do Cariri. É lá que a verdadeira gastronomia da região acontece, com cheiro, sabor e afeto. Também tem restaurantes incríveis em Juazeiro e Crato que fazem essa cozinha afetiva com muito respeito à tradição. <3

Leia mais sobre as novidades da carreira do ator e comediante na página 78.

Max
FOTO
JONATAN AUGUSTO

QUANDO O PAU SOBE,

A FÉ DESCE À MESA

TEXTO DE VANESSA MOREIRA*

A música que mais ouvi no calor do Cariri cearense, onde o tempo se move entre a fé e o suor do povo dançante, foi Verdes Canaviais, de Alcymar Monteiro. A canção anuncia a riqueza da cultura alimentar e afetiva da região. A Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio, em Barbalha, é mais que manifestação religiosa: é um ritual de pertencimento coletivo. No domingo da festa, a cidade canta:

“SEUS

OLHOS VERDES SÃO LINDOS CANAVIAIS.

Houve um tempo que o Cariri viveu a cultura do engenho de açúcar intensamente. Hoje, ganha o título da região com a maior produção de mel do Brasil. Cantar é mostrar orgulho do chão que se pisa e da Chapada que se vê.

Barbalha, com menos de 100 mil habitantes, acolhe neste final de semana festivo mais de três vezes sua população. A rua vira altar, palco e mercado. Entre cortejos de manifestações culturais e barracas, a comida de rua ocupa seu lugar como prática alimentar imprescindível. Comer é sempre mais que nutrir-se: é um ato social, simbólico, de construção de identidade.

A comida de rua, historicamente anterior ao restaurante, carrega territorialidade e memória, alimentando agricultores e artesãos que precisavam comer enquanto negociavam. Até hoje, há tacho de óleo quente com filhós dourados; mas há também sanduíches, pastéis, mungunzá — fazendo o local e o global, o presente e o passado, interagirem. Há uma praça arborizada, com mesas e cadeiras espalhadas, recebendo pessoas que desejam comer a famosa codorna frita, confundida com avoante, e que deve fazer parte da história de infância de muita gente.

No Cariri, o mungunzá é salgado, marcando a festa da colheita do milho. Tem no

hotel, no restaurante e nas cozinhas de casa uma panela com a preparação que leva milho e carnes. Comer mugunzá é também celebrar a festa de São João, que se confunde com a festa de Santo Antônio.

Nas casas das ruas principais, anfitriões parecem combinar, sem dizer, que cada um servirá uma iguaria diferente. Numa delas, mantas de carneiro enfeitam o churrasco; em outra, a feijoada fumega como prato típico de festa. Cozinhar em grandes panelas é prática coletiva, marcada pela partilha e pela fartura que não significa excesso, mas generosidade.

Na Festa do Pau da Bandeira, o sagrado e o profano se tocam. Homens carregam o tronco com esforço ritual; as mulheres sustentam a festa com suas panelas. A comida, nesse contexto, é corpo da festa: alimenta o rito, une os laços, celebra a colheita, transmite saberes. É fé e resistência.

Em Barbalha, comer é também lembrar. É afirmar uma herança que pulsa no gosto e na festa. E, enquanto o pau sobe, a fé desce à mesa, temperada com os cheiros que o vento traz.

* Vanessa Moreira é colunista do O POVO, antropóloga, pesquisadora de culturas alimentares, doutoranda da UFBA e coordenadora de Cultura Alimentar e Pesquisa da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco

Ao lado, o tronco de Jatobá na festa do Pau da Bandeira, em Barbalha. Acima, Vanessa Moreira em visita à produção de agricultura familiar no Cariri

EMPREENDEDORISMO

Douglas Feitosa é CEO e fundador da ICARIR - Escola de Empreendedor, especializada em promover experiências empresariais
FOTO DIVULGAÇÃO

NO SOLO CARIRIENSE

EMPREENDEDORISMO

“O Cariri, na sua essência, é um território muito empreendedor”. A afirmação é do CEO e fundador da ICARIR - Escola de Empreendedor, Douglas Feitosa. Localizada em Juazeiro do Norte, a iniciativa é especialista em promover experiências empresariais por meio de expedições de negócios por todo o País e encontros no Cariri. O objetivo é desenvolver o empreendedorismo e fortalecer o networking desses profissionais.

A ICARIR - Escola de Empreendedor foi fundada em 2019, com o objetivo de tornar mais acessível para pequenos empreendedores a oportunidade de aprender com grandes empresas brasileiras, em locais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Santa Catarina, Pernambuco e Minas Gerais.

Para Douglas, esse intercâmbio de negócios promove aos participantes um olhar diferenciado de mercado e inovação, fortalecendo o empreendedorismo a partir do networking gerado, inclusive, entre os membros das missões.

“O empreendedor local precisa estar aberto, porque consumir não é só adquirir um produto ou serviço. Consumir é proporcionar uma nova experiência, e ele só vai saber dessas novas experiências se ele se permitir desbravar novas experiências também. O empreendedorismo não é só um processo de compra e venda, é mais do que isso. Nós não vendemos viagens, vendemos experiências empreendedoras”, relata.

Segundo o CEO, a demanda empresarial na região por esse tipo de serviço é crescente, assim como a economia local. “Juazeiro do Norte, por exemplo, tem um grande potencial de consumo e um aeroporto que promove essa dinâmica geograficamente. Esse público empresarial não era visto, porque esse tipo de serviço ou era realizado por grandes empresas, para grandes empresários, ou estava centralizado nas capitais”, indica.

UM CAMINHO DE MÃO DUPLA: OS ATRATIVOS CARIRIENSES

O tempo em que as grandes oportunidades de negócio eram centralizadas em poucas regiões brasileiras se foi. Nesse contexto, a riqueza cultural e social caririense enche os olhos de quem vê de fora. “Quando a gente vai para uma missão

dessa, a gente não vai só aprender. A gente também vai ensinar”, garante Douglas.

Ele revela que a demanda de missões de grandes empresas para o Cariri e o Nordeste também é crescente. “Nosso insumo principal se chama networking, e é justamente por essa rede de contato que nós conectamos não só o Cariri e o Nordeste pelo País, mas nossa ideia é uma via de mão dupla: quando essas empresas querem entrar no Nordeste, procuram a gente”, explica.

O diferencial do Cariri, na visão do especialista, é a possibilidade de aliar o mercado com aspectos culturais e sociais. Além disso, Douglas evidencia a heterogeneidade econômica da região, assim como a economia criativa.

“Temos calçados, semijoias, velas, alumínio. Você vai em barbalha, tem um pharmacy muito representativo. Em Juazeiro, tem a Cajuína São Geraldo, uma das marcas mais lembradas do Estado. Em Nova Olinda, tem o Mestre Espedito Seleiro, com economia criativa. Em Potengi, tem a observação de pássaros… Cada vez mais a gente vê o desenvolvimento econômico saindo dos grandes centros e se interiorizando, e o Cariri materializa muito bem isso. Em uma das nossas visitas, uma das falas de quem nos recebeu foi: “Douglas, vocês são muito ricos”. Hoje, todo mundo deseja consumir o Cariri”, salienta.

Com tamanha riqueza cultural e econômica disponível, Douglas convida todos os empreendedores caririenses a ampliarem o campo de visão para as chances de inovação e profissionalismo, saindo do empreendedorismo por necessidade para o empreendedorismo de oportunidade.

“Muitas vezes eles acham que essas experiências não são para eles, mas nós sabemos que eles são grandiosos. A partir do momento que esses empreendedores buscam novas relações de mercado, a tendência é que eles se fortaleçam e a nossa região cresça. Eu acredito muito na força empreendedora e de inovação do Cariri cearense”, reforça.

CONHEÇA A ICARIR - ESCOLA DE EMPREENDEDOR

Abarcando toda a região Nordeste, a instituição oferta tanto missões globais para um destino específico quanto missões temáticas voltadas para nichos como moda, saúde, tecnologia, comércio e beleza; e missões corporativas, direcionadas a empresas que desejam ampliar a visão de negócio de colaboradores ou clientes.

Além dos momentos junto às empresas visitadas, os pacotes incluem passagens aéreas, hospedagem, traslado e seguro. Atualmente, a Escola oferta, em média, 11 missões por ano.

Desde 2019, já são mais de 30 missões realizadas, sete estados desbravados e mais de 500 clientes em todos os estados do Nordeste.

ICARIR - ESCOLA DE EMPREENDEDOR

Sede: Espaço Cuida - Av. Ailton Gomes, 4900Lagoa Seca, Juazeiro do Norte Telefone: (88) 99629-5312

Instagram: @escoladeempreendedores Youtube: @escoladeempreendedoresbr

“CADA VEZ MAIS A GENTE VÊ O

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

SAINDO DOS GRANDES CENTROS

E SE INTERIORIZANDO, E O CARIRI MATERIALIZA MUITO BEM ISSO”

A ICARIR promove expedições de negócios para grandes empresas do País

Anselmo Alencar herdou a Pastel.com do pai, Raimundo Nonato Vieira, o Sr. Paulista, que fundou o negócio no ano de 1979, ao retornar de São Paulo para Juazeiro do Norte. A empresa iniciou as atividades como uma pequena venda, oferecendo produtos variados.

Um deles era o Pastel do Paulista, que logo ganhou o coração dos clientes e se tornou o carro-chefe do negócio. Em meados de 1996, o foco do empreendimento já era a fabricação e venda exclusiva dos pasteis caseiros, tornando-se um ponto de encontro da comunidade. A conexão gerada entre a clientela em volta de um bom papo e pasteis quentinhos logo inspirou o nome Pastel.com, marca registrada do negócio até hoje.

Em 2017, era a vez de Anselmo ficar à frente da empresa e dar continuidade à sua história familiar. Já experiente como empreendedor no ramo de entretenimento, o jovem seguiu atualizando o negócio a partir de um design moderno e implementando padrões e normas técnicas em todos os setores do empreendimento.

Com cardápio variado, plataforma on-line para pedidos e serviço de delivery, a Pastel. com se destaca pela receita de massa artesanal de mais de 10 anos de tradição e sabor único, produzida diariamente com o que há de melhor em insumos.

Além do famoso pastel, o empreendimento oferta pastéis exclusivos, como o pastel Crokant, com massa empanada, pastel de massa de chocolate e caldo de cana com mix de sabores. Para Anselmo, o diferencial da Pastel. com é a marca sólida com raízes bem estabelecidas, além do investimento em conhecer o segmento e procurar evolução contínua.

“SOMOS REFERÊNCIA NA FABRICAÇÃO

“Com muito trabalho e buscando conhecimentos e conexões com outras referências, fomos caminhando e evoluindo com o tempo. Somos referência na fabricação industrial de pastéis em alta demanda e massa de fabricação própria sem conservantes e aditivos de leite e ovos”, ressalta.

PASTEL.COM

SITE: pasteloficial.com.br

INSTAGRAM: @pastel.comoficial

ENDEREÇO: Rua Cap. Coimbra, 38, PirajáJuazeiro do Norte Rua Nelson Alencar, Centro - Crato

Anselmo Alencar une tradição familiar e modernidade na Pastel.com

MA CH É RIEMODA FITNESS

Taihanna Oliveira e Alex Pires eram recém-formados quando decidiram largar os empregos em fábricas de calçados e seguir o sonho de empreender. Sempre ligados à área da moda, os colegas da faculdade de Engenharia de Produção Mecânica perceberam a ausência na região de grandes marcas do setor fitness e, consequentemente, uma oportunidade de negócio.

Assim, em 2015, surgiu a Ma Chérie - Moda Fitness, em Juazeiro do Norte, voltada para venda em atacado. Com apenas um cartão de crédito universitário, os amigos compraram as primeiras máquinas de costura e iniciaram a confecção em uma casinha simples, dividindo o trabalho com uma costureira contratada.

Desde o início, o investimento na qualidade das peças e no marketing serviram de pilares para o desenvolvimento da empresa. A virada de chave foi a participação em um evento no Centro Universitário Doutor Leão Sampaio (Unileão), no qual uma modelo desfilando as peças sob luzes e flashes de um fotógrafo chamou chamou a atenção de todos.

Atualmente, a empresa funciona em um prédio próprio em Juazeiro, que apresenta em torno de 3 mil m2. Além disso, são mantidas por volta de 17 operações em todo o Nordeste, sendo 12 lojas e cerca de 150 funcionários.

Um dos destaques da Ma Chérie é a calça modelo Big Bumbum, produto patenteado pela marca e feito com malha exclusiva, zero transparência, alta compressão, redução de medidas na cintura e valorização do quadril e glúteos. O item é o mais vendido do catálogo e chega a ter cerca de 150 mil comercializações por ano.

“Nossas peças são voltadas para valorizar e trazer tecnologia ao corpo feminino. Então, são peças que, tanto na modelagem como em toda a matéria que a gente compra, têm tecnologia para a mulher se sentir melhor, ativar a circulação, reduzir sinais de celulite e absorver suor. Desde o início trabalhamos com produtos, malhas e estampas exclusivas, tudo que faz a gente se tornar diferente do básico”, destaca Taihanna.

MA CHÉRIE - MODA FITNESS

INSTAGRAM: @usomacherie

WHATSAPP: (88) 99920 7864

LOJAS: Olinda, Cajazeiras, Fortaleza, Recife, Petrolina, João Pessoa, Juazeiro do Norte, Crato, Feira de Santana, Campina Grande, Natal e Bacabal

Fábrica da Ma Chérie apresenta cerca de 3 mil m2, em Juazeiro do Norte

EXCLUSIVO!

Petterson:

UM ANFITRIÃO DO CARIRI

EM SEU MAIS RECENTE PROJETO, O “QUERIDINHO DO CARIRI” RECEBE E GUIA CONVIDADOS DE TODO O BRASIL EM UM ROTEIRO QUE É UMA HOMENAGEM AO JEITO CARIRIENSE DE EXISTIR

TEXTO DE

LUCAS CASEMIRO

O ator, comediante e youtuber Max Petterson retorna ao lar – e traz convidados. Sua mais recente criação, o projeto “Eh do Cariri” (@ehdocariri) reúne famosos para um mergulho na cultura que moldou o anfitrião: o ator cearense Silvero Pereira, o jornalista Zeca Camargo, o ator e neto de Sílvio Santos, Thiago Abravanel, a atriz Chandelly Braz, a influenciadora Morgana Camila, e os ex-BBBs Lucas Pizane, Giovanna Lima e a cearense Eva Pacheco. A convite de Max, essa turma foi ver de perto as riquezas culturais, naturais e históricas da região, em uma viagem que terminou na festa do Pau da Bandeira, em Barbalha. A ideia é transformar os registros audiovisuais em uma websérie de quatro episódios, no YouTube.

Em entrevista à revista O POVO Cariri, Max Petterson conta, por email, sobre as motivações por trás do projeto. Confira!

O POVO Cariri – Qual foi o momento em que você percebeu que ser "do Cariri" era, na verdade, um superpoder?

Max Petterson – Quando fui morar na França (2013), vi o quanto minhas raízes ainda eram marcantes em mim. O jeito de me comunicar, de contar histórias, de lidar com as situações vinha todo do Cariri. Percebi que carregar minha cultura era força, identidade e um superpoder que me acompanhava em qualquer lugar.

OP Cariri – Sobre o que é a sua atual produção, "Eh do Cariri"?

Max Petterson – É uma viagem afetiva pelo nosso território, uma forma de mostrar, com muito humor, emoção e respeito, o que o Cariri tem de mais bonito: sua gente, cultura e saberes. Em cada episódio, eu visito lugares, converso com personagens reais e incríveis, e mostro a força das tradições que fazem dessa região um patrimônio vivo. E ela é diferenciada porque é feita com o coração. Não é só conteúdo, é sentimento. Grande parte da equipe é daqui, tudo é pensado pra valorizar o Cariri de dentro pra fora. A gente não romantiza nem estereotipa, a gente mostra a potência real que o Cariri é. E isso faz toda a diferença.

OP Cariri – De onde surgiu a ideia da série?

Max Petterson – Nasceu de um desejo antigo que eu tinha de retribuir tudo o que o Cariri me deu. Sempre levei minha terra comigo, nos meus vídeos, nos palcos, nas entrevistas. Mas eu sentia que ainda faltava mostrar pro mundo, de forma mais profunda. A riqueza cultural, a sabedoria popular, a força do povo daqui, tudo isso precisava de um espaço só pra brilhar. Aí pensei: “e se eu voltasse às origens pra contar essas histórias com o meu olhar, do meu jeito, com humor, emoção e muito respeito?” E foi assim que nasceu o Eh doCariri,como um abraço audiovisual na minha terra.

OP Cariri – O que você quer que as pessoas do Brasil – e até do mundo – sintam ao assistir a esses episódios?

Max Petterson – Quero que sintam orgulho do Cariri. Que vejam a força, a beleza e a riqueza da nossa cultura. Que se emocionem, deem risada e entendam que aqui tem muito mais do que se imagina. Se ao assistir, a pessoa pensar “quero conhecer esse lugar” ou “que povo incrível”, já valeu. Quero mostrar que o Cariri é grande e merece ser visto pelo mundo inteiro.

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