ANDRÉ NOGUEIRA ACCIOLY | EDSON PALOMARES | FRANCISCO CRISTIANO SOUSA | JÚLIO CÉSAR GOMES DA SILVA | MARCELO SOLDON | RICARDO HUGO GONZALEZ | WILSON SABÓIA
CATUNDA
RICARDO
ANDRÉ NOGUEIRA ACCIOLY | EDSON PALOMARES | FRANCISCO CRISTIANO SOUSA
JÚLIO CÉSAR GOMES DA SILVA | MARCELO SOLDON | RICARDO HUGO GONZALEZ | WILSON SABÓIA
RICARDO CATUNDA (ORGANIZADOR)
Fortaleza – Ceará 2025
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Projeto Gráfico e Editora de Design
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Designer Gráfico Welton Travassos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
P957
2025-213
1. Esporte 796
2. Esporte 796
Princípios da prática esportiva / organizado por Ricardo Catunda ; design de Andréa Araújo, Welton Travassos ; ilustrador de Rafael Limaverde. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2025. 104 p. : il. ; 27,5cm x 20cm.
Inclui bibliografia e anexo.
ISBN: 978-65-5383-147-6
1. Esporte. 2. Lei Geral do Esporte. 3. Pedagogia do Esporte. 4. Treinamento Desportivo. 5. Ensino do Esporte. 6. Talentos esportivos. 7. Jogos. I. Catunda, Ricardo. II. Araújo, Andréa. III. Travassos, Welton. IV. Limaverde, Rafael. V. Título.
CDD 796
CDU 796
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático:
Este livro é parte integrante do projeto Programa de capacitação dos Princípios da Prática Esportiva em decorrência do Contrato de Patrocínio celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria do Esporte do Estado do Ceará, sob o nº 000114038-15201900.
1.
SUMÁRIO
2.
APRESENTAÇÃO
O esporte é princípio e fundamento para a formação humana
Aprender a praticar um esporte, além de ser reconhecido entre os pilares da formação integral, torna-se necessário para um crescimento sadio e para o desenvolvimento humano, independentemente da modalidade ou da dimensão esportiva escolhida. O esporte é um dos grandes aliados da educação por promover o exercício dos valores éticos e morais, como a socialização, a cooperação, a solidariedade, a disciplina, o espírito de equipe e tantos outros, fundamentais para a formação integral das novas gerações. A busca de uma melhor compreensão do esporte como marco social para as crianças e os adolescentes, aliada às ideias da Carta Olímpica, aos valores e à realidade esportiva é um princípio para o desenvolvimento de uma abordagem pedagógica acerca do esporte contemporâneo (UNESCO, 2013).
O esporte é um fenômeno com pluralidade de sentidos, formas e modelos, o esporte ganhou o reconhecimento como manifestação social que impacta a vida de todas as pessoas. Seu conceito, em linguagem própria do professor Jorge Bento, é representativo, agregador, sintetizador e unificador de dimensões biológicas, físicas, motoras, lúdicas, corporais, técnicas e táticas, culturais, mentais, espirituais, psicológicas, sociais e afetivas. No âmbito da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentá-
vel, o esporte é reconhecido como um facilitador importante do desenvolvimento e da paz. Sua promoção favorece a tolerância e o respeito entre as pessoas, empoderando especialmente as mulheres, os jovens, os indivíduos e as comunidades.
Documentos como o Movimento é Vida: Atividades Físicas e Esportivas para Todas as Pessoas, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2017), advogam que os governos adotem políticas públicas condizentes com a importância do esporte para o desenvolvimento humano, bem como, prescreve que o setor privado e as organizações da sociedade civil promovam iniciativas no mesmo sentido. É necessário que as prioridades das políticas públicas, acompanhem a nova configuração social, onde o esporte se apresenta como ferramenta privilegiada para o desenvolvimento humano e inclusão social.
Para que se concretize os benefícios do esporte é fundamental que os agentes responsáveis pelo seu desenvolvimento, como: professores, técnicos desportivos, gestores da educação e do esporte, Conselho Federal de Educação Física e a classe política, unam forças de forma integrada, garantindo: As oportunidades de prática e a intervenção profissional qualificada; a adoção de políticas públicas inclusivas como direito de todos ao esporte;
a construção e manutenção dos espaços esportivos em condições de estrutura e segurança; criação de leis para financiamento permanente do esporte e a fiscalização do exercício profissional.
Essas medidas são necessárias no enfrentamento aos desafios para o ensino dos esportes e permanência de forma vitalícia de suas práticas ao longo de toda a vida. No cenário atual, enfrentamos o aumento do comportamento sedentário, da obesidade na infância e adolescência, dos baixos níveis de proficiência motora e da desistência da prática esportiva, particularmente nas meninas. Mudar Em se tratando de princípios para esta realidade é assumir o desafio necessário para ensinar esportes para as crianças com experiências exitosas e prazerosas, utilizando métodos e modelos de ensino globais, ativos e individualizados.
É preciso que as crianças desenvolvam no tempo certo a literacia física, para que aprendam a conhecer, praticar e a gostar do esporte ao ponto de incorporarem em seu estilo de vida, comprovando as evidências científicas de que existe uma relação positiva entre a prática de atividades físicas e esportivas na infância e a continuidade na vida adulta. Advogamos a criação de uma educação desportiva a partir das aulas de educação física, onde os aprendizes passam a ocupar posição central como construtores de suas aprendizagens desenvolvendo sua autonomia; Exercitando a percepção de competência e aprendendo a participar ativamente das tomadas de decisão e resolução de problemas próprios do ambiente de jogo; Adotarem visão estratégica fazendo uso da técnica e de táticas trabalhando em prol de objetivos coletivos e praticando o fair play.
Este livro traz a contribuição de profissionais especialistas para que o esporte cumpra sua função como atividade socialmente relevante, sendo reconhecido como manifestação humana capaz de unir as nações em busca do ideal de um mundo regido por uma cultura de paz. Para que o esporte alcance
os objetivos técnicos e pedagógicos relativamente à intervenção profissional, serão abordados os conhecimentos necessários para uma aprendizagem segura, inclusiva e eficaz.
Iniciaremos pela Lei Geral do Esporte, que pressupomos ser o suporte necessário para que você possa fazer uma análise da nova estrutura dos níveis de prática para a Formação Esportiva, Excelência Esportiva e Esporte para Toda a Vida, adquirindo condições de analisar os impactos e propor estratégias de intervenção na nova conjuntura. Outro campo de conhecimento considerado princípio para a aprendizagem dos esportes são as Habilidades motoras fundamentais e especializadas como base para prática esportiva, que trarão a compreensão da necessária transição das habilidades motoras fundamentais para as habilidades motoras especializadas e habilidades esportivas, estabelecendo a relação da proficiência motora com os níveis de atividade física, saúde e prática esportiva ao longo da vida.
O livro segue em uma visão inovadora, com a Pedagogia do Esporte: contribuições nas competências para a vida. Neste capítulo, será apresentado o aspecto global de um campo que integra conceitos de pedagogia e ciências do esporte para promover o desenvolvimento holístico dos indivíduos por meio da prática esportiva, abrangendo o ensino para a compreensão tática, valores esportivos e desenvolvimento pessoal pelo esporte. O que nos levou a abordar um tema considerado importante para os que ensinam o esporte, e também atuam nos níveis mais elevados de participação e competição, e que se concretiza no Treinamento Desportivo: diferentes intencionalidades para crianças, adolescentes e adultos, possibilitando a compreensão e aplicação das bases teóricas que orientam o planejamento do treinamento desportivo e da preparação física em diferentes faixas etárias.
Em se tratando de princípios para a prática esportiva, o estudo dos Métodos para iniciação à aprendizagem dos esportes trará contribuições para os desafios do ensino dos esportes, visando apresentação de alternativas metodológicas do planejamento à aplicação das atividades com intencionalidade, utilizando métodos e estratégias adequadas aos diversos públicos. O conhecimento dos métodos é fundamental para o Ensino do esporte em contextos escolares, lazer, projetos sociais e clubes esportivos e terá como objetivo apresentar a diferenciação do ensino do esporte em escolas, clubes esportivos e projetos socioeducativos, analisando as tarefas e intervenções propostas a professores e treinadores.
Esperamos que os assuntos aqui tratados, como ciclo de discussões, reflexões e conhecimentos essenciais para a intervenção profissional, sejam uma contribuição permanente àqueles que militam no ensino dos esportes nos diversos níveis. Com esta intenção, apresentamos os estudos sobre a Especialização Precoce X Detecção de Talentos Esportivos contextualizando os efeitos do treino especializado precoce no esporte, as estratégias de detecção e desenvolvimento de talentos com base em princípios científicos. Para concluirmos, consideramos que a Conduta profissional, visão estratégica e tática de sistemas de jogo para treinadores esportivos poderão ser diferenciais no campo do trabalho, abordando os procedimentos adotados pelo Professor/Técnico de esporte relacionado aos saberes aplicáveis no treino e no jogo, como também o desenvolvimento de competências para o ensino e aprendizagem dos esportes e suas especificidades.
Ricardo Catunda
MARCELO SOLDON BRAGA KLEBER AUGUSTO RIBEIRO 1
LEI GERAL DO ESPORTE: A INTERVENÇÃO PROFISSIONAL PARA A FORMAÇÃO ESPORTIVA, A EXCELÊNCIA ESPORTIVA E O
ESPORTE PARA TODA A VIDA
Oesporte é um fenômeno sociocultural que tem se desenvolvido significativamente e ganhado destaque no cenário mundial contemporâneo especialmente na transição do século XX para o século XXI (TUBINO, 2010). No Brasil, a relevância do esporte se intensificou especialmente nas últimas décadas, com a criação do Ministério do Esporte em 2003 e com a realização dos maiores eventos esportivos do mundo pelo país. No período compreendido entre 2007 a 2016, conhecido como “década de ouro do esporte”, o país realizou os maiores megaeventos esportivos do mundo, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, que geraram desenvolvimento urbano, investimentos no esporte e um legado social.
O contexto de desenvolvimento do esporte descrito até o momento desvela a existência de um poder estruturado do campo esportivo decorrente de seus capitais político, econômico, cultural e até simbólico (BOURDIEU, 1989), que elevou seu status e o consequente interesse público. Esse cenário demandou, e tem demandado, iniciativas públicas de normatização e de regulação que promoveram, e têm promovido, a evolução legislativa do esporte brasileiro.
As normas são uma das essências do esporte. O esporte é um jogo e, dessa forma, pressupõe a existência de regras para a sua prática. Não obstante, por ser um fenômeno socialmente construído e desenvolvido, o esporte não fica à margem do ordenamento jurídico dos estados de direito. Nesses termos, compreender a legislação nacional acerca do esporte e que possui o potencial de afetá-lo é fundamental para a atuação profissional no campo esportivo.
As leis são normas jurídicas que fazem parte da sociedade desde seus primórdios e integram o que chamamos de Direito Positivo. A legislação ou o conjunto de normas de um estado de direito é instituída para regular a convivência em sociedade
e o comportamento do cidadão, garantindo justiça, segurança, o exercício da liberdade, a igualdade de direitos e de oportunidades.
Podemos também afirmar, que o esporte é um fenômeno criado e presente na sociedade contemporânea e que a cada dia tem se desenvolvido socialmente e economicamente como um setor significativo do contexto mundial. Embora possua normas próprias como regras e regulamentos, o esporte não está à margem da legislação comum estatal.
No Brasil, dada sua importância social, o esporte foi normatizado desde 1941, com a publicação do Decreto-Lei 3.199/41, primeira norma jurídica a estabelecer bases de organização do esporte no Brasil. Em 1988, o esporte passou a integrar a principal norma jurídica nacional como um direito social, a Constituição Federal. Após a publicação da atual Constituição Federal, diversas normas jurídicas foram promulgadas no país com o objetivo de regular o setor esportivo e suas práticas. Em 1998, foi promulgada a Lei 9.615, conhecida como Lei Pelé, principal norma jurídica do esporte brasileiro e que vigora até hoje (2024). Dada a necessidade de aperfeiçoamento da Lei Pelé e de aglutinação de outras normas criadas para regular o esporte brasileiro, foi promulgada parcialmente em 2023 a Lei 14.597, “nova” Lei Geral do Esporte. Até o momento da publicação deste texto, parte da Lei Geral do Esporte ainda se encontrava em análise e, portanto, vigorava no país duas leis gerais sobre o esporte nacional: a Lei Pelé e a Lei Geral do Esporte.
Atualmente, as normas jurídicas mais importantes que regulam o esporte brasileiro são a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Lei 9.615/98 - Lei Pelé (BRASIL, 1998) e a “nova” e ainda em análise Lei 14.597/23 - Lei Geral do Esporte (BRASIL, 2023). Na sequência, vamos apresentar as principais contribuições dessas normas para a prática esportiva e para a intervenção profissional no esporte.
1.1. Constituição
Federal de 1988
A versão atual da Carta Magna brasileira, datada de 5 de outubro de 1988 (BRASIL, 1988), é a primeira da história do Brasil a incluir o esporte em seu texto principal. O esporte foi contemplado com uma seção específica no Capítulo III, que trata da Educação, da Cultura e do Desporto. Na Seção IIIDo Desporto, o Artigo 217 do texto constitucional reconhece o esporte como um direito dos cidadãos e o Estado como detentor do dever de sua garantia enquanto direito social no país.
Além de reconhecer o esporte como um direito e o dever do Estado de promover sua garantia à população, a Constituição Federal de 1988 trouxe outros dispositivos que contribuíram como o desenvolvimento deste fenômeno do país e que implicam, de forma direta e indireta, na intervenção profissional no campo esportivo.
O primeiro ponto instituído é o respeito à autonomia das organizações esportivas privadas do país quanto a sua organização e funcionamento. Segundo autores como Chelladurai (2014) e Slack e Parent (2006), as organizações esportivas são o lócus principal do esporte, pois para que ele exista e seja ofertado, a existência de uma organização esportiva se apresenta como aspecto fundamental tendo a sociedade como beneficiária.
As organizações do esporte são um importante campo de intervenção dos profissionais que atuam em sua prática, como professores, treinadores, preparadores físicos, entre outros. Dessa forma, é importante para os profissionais que atuam nesse campo saber, que as organizações esportivas privadas possuem autonomia no estabelecimento de suas finalidades e no seu funcionamento, contudo, relacionam-se entre si para finalidades específicas, como a realização de competições, dando origem aos sistemas esportivos.
1.2. Lei Pelé e suas manifestações esportivas
Publicada em 25 de março de 1998, a Lei 9.615 ficou conhecida como Lei Pelé e passou a instituir, desde então, normas gerais para o desporto brasileiro. Até a promulgação da Lei Pelé, vigorava no país a Lei Zico (BRASIL, 1993).
Em relação a norma antecessora, a Lei Pelé trouxe um aperfeiçoamento legal, especialmente relacionados à profissionalização da gestão das organizações do esporte, às relações de trabalho do atleta profissional e às manifestações da prática esportiva.
A Lei Pelé teve um papel fundamental na profissionalização e no consequente desenvolvimento das organizações esportivas brasileiras, especialmente das entidades de administração do esporte nacional, como as confederações e Comitês Olímpico e Paralímpico. Por meio do estabelecimento principalmente dos Artigos 18 e 18A ao texto, diversos requisitos de gestão profissional e ética passaram a ser exigidos para que essas organizações passassem a receber recursos financeiros públicos do Governo Federal.
No campo do esporte de formação e profissional, a Lei Pelé aperfeiçoou a relação de trabalho do atleta profissional e do atleta em formação, impondo limites importantes como idade mínima para contratos de formação, duração dos contratos e requisitos relacionados à garantia de direitos desses atletas.
A Lei Pelé consolidou, em seu texto, a visão de que a prática do esporte pode se manifestar nas perspectivas educacional, da participação e do lazer, da formação atlética ou do rendimento e performance. Na sequência, você terá um quadro com as manifestações da prática esportiva estabelecidas pela Lei Pelé e exemplos de suas aplicações:
Quadro 1: Manifestações da prática esportiva segundo a Lei Pelé.
Manifestações desportivas Redação da Lei Pelé
Desporto educacional
Desporto de participação
Desporto de rendimento
Praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer
Praticado de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente;
Praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Essas manifestações nortearam e ainda têm norteado programas e projetos esportivos da esfera pública, como: Programa Segundo Tempo; Programa Xadrez nas Escolas; Programa Esporte e Lazer na Cidade; Centros de Iniciação ao Esporte; leis de incentivo; entre outros. Contudo, algumas lacunas permaneceram entre gestores, autores e estudiosos do esporte, na tentativa de classificar ações existentes de acordo com suas características, como os jogos escolares: rendimento, participação
Exemplos de aplicação
Educação física escolar; projetos sociais esportivos; festivais; jogos cooperativos; interclasses.
Andar de bicicleta (ciclismo); corredores (grupos de corrida); coletivas; grupos de vôlei e beach tennis, “rachas” de futebol.
Treinamento sistemático voltado para resultado esportivo e com vínculo institucional; Campeonatos Federativos; Campeonatos Continentais; Campeonatos Federativos; Copas do Mundo; Jogos Olímpicos; Torneios Internacionais.
ou educacional? Embora tenha sido financiado por muito tempo com recursos destinados ao desporto educacional, é inegável que essa ação possui características antagônicas como seletividade e a hipercompetitividade de seus praticantes.
Dessa forma, buscando atender a um limbo existente entre o desporto educacional e o desporto de rendimento, foi criada pela lei complementar 13.155/2015 o Desporto de Formação, como mais uma manifestação esportiva.
Quadro 2: Manifestação do desporto de formação segundo a Lei Pelé.
Desporto de formação (criado em 2015 pela Lei Complementar 13.155).
Caracterizado pelo fomento e aquisição inicial dos conhecimentos desportivos que garantam competência técnica na intervenção desportiva, com o objetivo de promover o aperfeiçoamento qualitativo e quantitativo da prática desportiva em termos recreativos, competitivos ou de alta competição.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Especialização e aperfeiçoamento de atletas e de equipes de base de clubes; atletas de clubes formadores com contrato de formação; Jogos Escolares Brasileiros; Jogos da Juventude; Torneios de categorias de base; Torneios Intercolegiais.
Desde a promulgação da Lei Pelé até a presente data, a tipologia de manifestações esportivas estabelecida norteou o entendimento e a intervenção na prática esportiva no país, sendo base para a elaboração de diversas normas legais estaduais e municipais, além de programas, projetos e políticas públicas.
Com a chegada da Lei Geral do Esporte é natural um movimento de realinhamento de princípios norteadores para novas ações, bem como a revisão e reformulação daquelas já existentes. Desta forma, disseminar e amadurecer essa Lei é papel de cada profissional envolvido com o esporte em âmbito nacional.
1.3. Lei Geral do Esporte
Sancionada em junho de 2023, a Lei 14.597, conhecida como Lei Geral do Esporte, teve como principal objetivo unificar as diversas leis existentes relacionadas ao esporte nacional, bem como aperfeiçoar e suprir lacunas existentes na Lei Pelé. O texto da Lei Geral do Esporte contempla temas relacionados ao esporte como direito, seus princípios, níveis de prática, o estabelecimento do Sistema Nacional do Esporte (Sinesp) e do Sistema Nacional de Informações e
Indicadores Esportivos (SNIIE), a ordem econômica esportiva, a integridade esportiva e o Plano Nacional pela Cultura de Paz no Esporte. Com o objetivo de promover avanços, a nova lei reúne outras normas que tratam do esporte, revogando várias delas, como o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671, de 2003) e a Lei do Bolsa-Atleta (Lei 10.891, de 2004), criando novo marco legal para o setor e pondo fim à parte da colcha de retalhos legal do esporte brasileiro.
Embora tenha buscado reunir as normas jurídicas esportivas em um único texto, dispositivos da Lei Geral do Esporte, que revogam totalmente a Lei Pelé (Lei 9.615, de 1998) e a Lei de Incentivo ao Esporte (Lei 11.438, de 2006), foram alvos de veto presidencial. No total, foram 397 dispositivos legais vetados pelo presidente Lula. O que representa cerca de 40% de toda a nova lei. Esse excesso de vetos descaracterizou o texto normativo, sendo recebido com ressalvas relativamente aos anseios da classe esportiva que tinha expectativa para uma lei do esporte brasileiro unificada e atualizada.
Mesmo com grande parte de seus dispositivos sendo ainda analisados, a Lei Geral do Esporte representa um amadurecimento de conceitos e de leis anteriores e se apresenta como um importante passo na evolução da legislação esportiva nacional.
1.4. Evolução das manifestações esportivas para níveis de prática esportiva
Entre os avanços mais significativos da nova lei do esporte para a intervenção profissional, citamos os dispositivos relacionados às relações de trabalho do atleta profissional e em formação, o estabelecimento do Sistema Nacional do Esporte (Sinesp) com atribuições dos entes públicos para a promoção da prática esportiva, a criação do Fundo Nacional do Esporte (Fundesporte) e a nova perspectiva de compreensão e do desenvolvimento da prática esportiva por níveis distintos e integrados: formação esportiva; esporte para toda a vida; e excelência esportiva.
Na figura 1 é possível compreender a perspectiva sistêmica de fluxo do Sinesp. No nível de formação esportiva, 100% das crianças e dos adolescentes do país possuem o direito e devem ter acesso à vivência, à fundamentação e à aprendizagem da prática esportiva. A partir de requisitos específicos, oportunidades e interesse, a população predominantemente composta por adolescentes ou jovens na transição para a fase adulta, podem caminhar rumo ao nível de excelência esportiva ou esporte para toda a vida.
Esporte para toda a vida
APRENDIZAGEM ESPORTIVA PARA JOVENS E ADULTOS EM RECUPERAÇÃO
VIVÊNCIA
Fonte: Ministério do Esporte [s/d].
Esporte de Lazer
Atividade Física
EsporteCompetitivo
Esportiva
Figura 1: Visão do Sistema Nacional do Esporte (Sinesp)
No nível de excelência esportiva, o cidadão atleta segue um fluxo formativo de especialização e de aperfeiçoamento com vistas a atingir, em última instância, o alto rendimento esportivo. Caso possua interesse ou não obtenha desempenho suficiente para permanecer ou para progredir na carreira esportiva de excelência, esse cidadão pode se manter na prática esportiva no nível chamado de esporte para toda a vida, seja em competições amadoras, práticas voltadas para o lazer e para a manutenção da saúde. Esse modelo tem como premissa, além da garantia do direito à prática esportiva por todos os cidadãos do país, compreender as diversas possibilidades de níveis de prática esportiva e os fluxos de mobilidade das pessoas entre esses níveis.
Na sequência, vamos detalhar o que a nova lei estabeleceu para cada um desses níveis de prática esportiva, comparando com sua manifestação análoga definida pela Lei Pelé e analisando suas implicações para intervenção profissional nesse novo cenário.
1.5. Formação Esportiva
A formação esportiva engloba o acesso inicial à prática esportiva, ou seja, o primeiro contato da criança com o esporte. Na visão do Grupo de Trabalho nomeado para elaborar Projeto de Lei do Sistema Nacional do Esporte, o nível de formação esportiva visa a oferta de oportunidades de acesso à prática esportiva em suas diversas manifestações por meio de ações planejadas, inclusivas e lúdicas para crianças e adolescentes. Neste nível, as práticas formativas geralmente iniciam nos primeiros anos de idade e têm um direcionamento educativo e lúdico, voltado para o desenvolvimento integral do indivíduo.
1.6. Constituição do nível de formação esportiva
Vivência esportiva: visa desenvolver as primeiras aproximações de uma base ampla e variada de movimentos, atitudes e conhecimentos relacionados ao esporte, por meio de práticas corporais inclusivas e lúdicas. A prioridade é gerar oportunidades de vivências;
Fundamentação esportiva: objetiva o autocontrole da conduta humana e autodeterminação do sujeito. Visa apresentar e solidificar uma base constitutiva de todo e qualquer esporte, como princípios, valores, respeito às regras, conceitos de técnicas e táticas;
Aprendizagem da prática esportiva: oferta de múltiplas práticas corporais para aprendizagem de diferentes modalidades, por meio de conhecimentos científicos, habilidades técnicas e táticas esportivas, regras, com o objetivo de apropriação crítica para autodeterminação na construção da cultura esportiva universal e brasileira. Esporte na sua composição.
1.7. Excelência Esportiva
O nível de excelência esportiva compreende a prática sistematizada do treinamento esportivo, realizada nas diversas modalidades olímpicas e não olímpicas, voltadas para a formação de atletas, o alcance de alto desempenho e a máxima performance em competições, abrangendo as diferentes modalidades esportivas regidas por normas formais e institucionalizadas pelas organizações e sistemas esportivos, nacionais e internacionais. No Brasil, essa prática é caracterizada por ser realizada por atletas ligados às entidades de prática esportiva ou clubes que, por sua vez, são filiados às entidades de administração do esporte estaduais e nacionais, como ligas, federações, confederações e comitês.
1.8. Constituição do nível de excelência esportiva
Especialização esportiva: corresponde ao treinamento sistematizado das capacidades e habilidades motoras/técnicas em modalidades esportivas específicas, em busca de uma melhor adaptação e consolidação do potencial esportivo dos atletas em formação para a transição aos serviços de aperfeiçoamento e alto rendimento;
Aperfeiçoamento esportivo: diz respeito ao treinamento sistematizado e especializado para otimizar as capacidades e habilidades esportivas específicas de atletas em níveis elevados de competições regionais e nacionais;
Alto rendimento esportivo: relacionado ao treinamento sistemático e altamente especializado para alcançar e manter o desempenho máximo de atletas em competições nacionais e internacionais.
Além dos serviços citados, no nível de excelência esportiva estão inseridos os serviços de transição de carreira de atletas, o controle antidopagem, a justiça desportiva e o fomento e difusão do conhecimento científico, tecnológico e a inovação.
1.9. Esporte para Toda a Vida
Caracteriza-se pela vivência do esporte com autodeterminação a partir do conhecimento esportivo adquirido pela transmissão pedagógica crítica e assumido dentre os hábitos culturais saudáveis ao longo da vida. É parte integrante da cultura, fator de desenvolvimento humano, promoção social, saúde e qualidade de vida a partir da prática de esporte de lazer; atividade física; esporte competitivo e; aprendizagem esportiva para jovens e adultos.
1.10. Constituição do nível de Esporte para Toda a Vida
As atividades físicas gerais, porém, sistematizadas e voltadas para o desenvolvimento e manutenção de hábitos, costumes e conduta autocontrolada da vida e cultura como educação, saúde, lazer;
Esporte e lazer, compreendidos como práticas corporais lúdicas no âmbito do tempo e espaço de lazer por toda sua vida, apropriadas de forma crítica e criativa pela sua vivência com autonomia, conhecimento e assistência, contribuindo para o desenvolvimento humano, bem-estar e cidadania;
Esporte competitivo, caracterizado por vivências do esporte de competição na dimensão amadora, realizadas por opção e livre de obrigações profissionais em qualquer momento da vida, como um caminho pré-definido ou como uma sequência ou transição do esporte de excelência. Nesse nível, inclui-se o esporte acessado por indivíduos adultos e idosos que nunca tiveram oportunidade de praticá-lo anteriormente e para indivíduos que apresentam necessidade de recuperação/readaptação corporal.
1.11. Implicações da Lei
Geral do Esporte para a intervenção profissional
Diante da nova perspectiva da prática esportiva por níveis estabelecida pela Lei Geral do Esporte, quais são as implicações práticas para a intervenção profissional no campo esportivo?
Na sequência, serão apresentados os elementos que permitem refletir e orientar sobre a intervenção profissional nas mais diversas dimensões em que práticas esportivas ocorrem, seja no ambiente escolar, no esporte formal das organizações e sistemas esportivos, no campo do lazer, da saúde e nos negócios.
1.12. Ambiente Educacional
Os ambientes educacionais básico e superior, locais onde o indivíduo passa boa parte das suas primeiras décadas de vida, têm conexão direta com todos os níveis de prática esportiva.
No ambiente escolar, crianças e adolescentes têm o primeiro contato com o esporte. Por meio de atividades planejadas, inclusivas, educativas, culturais e lúdicas que devem incluir a vivência, a fundamentação e a aprendizagem de uma variedade de modalidades esportivas, os estudantes têm o potencial de ampliar suas capacidades desenvolvendo habilidades motoras especializadas em busca de uma formação integral. Esse nível de prática corresponde ao nível de formação esportiva
No ambiente e período escolar e universitário, estudantes que demonstram capacidades físicas e desempenho técnico diferenciados naturalmente são direcionados para a excelência esportiva, nível de prática em que podem se especializar, se aperfeiçoar e até atingir o alto rendimento esportivo.
Para além do esporte de competição, o processo educacional tem o potencial de promover na cultura do estudante o esporte para toda a vida, nível de prática que pela sua semântica está transversalmente presente em todos os momentos da vida do indivíduo, praticado nas perspectivas lúdicas, da saúde e competição amadora.
No ambiente escolar, temos predominantemente a intervenção do Licenciado em Educação Física, profissional que deve ser orientado pelas normas e legislação da Educação Básica (Lei de Diretrizes e Bases, Base Nacional Comum Curricular, Projeto Político Pedagógico e outros). Nesse contexto, a Lei Geral do Esporte traz elementos que orientam e, por isso, implicam a intervenção profissional.
Cabe destacar a necessidade de o profissional de educação física ofertar aos estudantes do ambiente escolar um grande leque de opções de prática que permita aos indivíduos vivenciar e enri-
quecer o seu arcabouço motor, cognitivo e psicossocial. Nas séries iniciais, o lúdico deve ser o foco da abordagem (BERNIERI, 2021). Dessa maneira, o esporte formalmente concebido dentro de regras universais e organismos internacionais de regulamentação deve ter sua prática flexibilizada para permitir sua vivência, aprendizagem e fruição lúdica.
Por tratar-se de uma lei voltada para o esporte como fim próprio, a sua utilização secundária como estratégia e ferramenta pedagógica, social ou psicomotora não foi contemplada no texto atual.
Com o avançar do ensino para as séries finais do fundamental e ensino médio, naturalmente a implementação do esporte como fim fica mais facilitada pelo grau maturacional físico e psíquico do aluno. Entram aí elementos da excelência esportiva, principalmente com os serviços de especialização esportiva e aprimoramento esportivo, quando o treinamento se direciona a modalidades específicas e seu aprimoramento, visando uma transição em competições locais para regionais e nacionais. Esse nível é geralmente conduzido por profissionais bachareis em educação física e desenvolvido em momentos extracurriculares e em parceria ou em paralelo com entidades de prática esportiva, como os clubes.
No ambiente do ensino superior, algumas instituições de ensino ofertam programas esportivos que se enquadram nos níveis de esporte para toda a vida e até de excelência esportiva. Tem sido evidente o desenvolvimento do esporte universitário no país e das instituições de ensino superior como ambientes de aperfeiçoamento técnico esportivo.
Paralelo ao desempenho esportivo, as instituições de ensino superior devem promover programas, curriculares ou não, mas que tenham potencial de estimular a prática esportiva na perspectiva do lazer em contraponto ao tempo do trabalho e do desenvolvimento de hábitos saudáveis para toda a vida.
Por fim, é importante para o profissional de educação física compreender sua inserção nesses ambientes educacionais e as diretrizes práticas para cada nível de ensino, seja no contexto curricular ou extracurricular.
1.13. Nas organizações esportivas
No âmbito do esporte formal, a intervenção se dá principalmente nas organizações esportivas, seja àquelas voltadas para a administração do esporte, como ligas, federações, confederações e comitês, ou às voltadas para a prática esportiva, como clubes, associações e academias.
No nicho representado pelas entidades de administração do esporte, a intervenção profissional demanda conhecimentos, competências e habilidades relacionadas à gestão e ao exercício de suas tarefas de planejamento, organização, direção e controle (RIBEIRO, 2024). Nas ligas, federações, confederações e comitês, o profissional atuará em ações de desenvolvimento do esporte, especialmente a realização de eventos esportivos, como campeonatos, torneios, training camps, cursos e clínicas técnicas de formação de técnicos, árbitros e outros agentes do esporte. Nesse contexto, competências relacionadas à gestão de eventos são fundamentais para o profissional. Para a atuação profissional nestes ambientes, cursos de formação específicos são disponibilizados pelas próprias organizações esportivas e também pelas instituições de ensino, como cursos técnicos de eventos e cursos de graduação e pós graduação em gestão do esporte.
Nas entidades de prática esportiva, a intervenção profissional se dá tanto na dimensão da gestão quanto na prática do esporte. Na dimensão da gestão, os profissionais têm a atribuição relacionada especificamente ao provimento de recursos e de suporte para permitir que a prática esportiva aconteça nas melhores condições. Nesse sentido, a gestão é uma atividade-meio para a prática esportiva, configurada como atividade-fim. Na dimensão da prática esportiva, a intervenção profissional é multidisciplinar, composta por técnicos, assistentes técnicos e preparadores físicos, bem como profissionais de suporte técnico, como analistas de desempenho e
da área da saúde como massoterapeutas, fisioterapeutas, médicos e outros. Para a intervenção em cada campo de atuação mencionado é exigida uma formação específica.
No campo técnico, uma das implicações mais significativas estabelecidas pela Lei Geral do Esporte na atuação profissional é a permissão concedida às entidades nacionais de administração do esporte de certificar, por meio de cursos próprios, ex-atletas para o exercício profissional como técnico esportivo sem a necessidade de formação superior em educação física. Essa permissão traz para o campo esportivo uma implicação significativa que deve nos levar à reflexão sobre a qualidade e amplitude dessa atuação.
A intervenção profissional na área técnica esportiva nos clubes e associações pode englobar os diversos níveis de prática. Na formação esportiva, a intervenção está relacionada à oferta de práticas voltadas para a aprendizagem dos fundamentos esportivos, como escolinhas de iniciação ao esporte. Na sequência da formação esportiva, os clubes são responsáveis pela identificação, especialização e aperfeiçoamento de talentos esportivos, práticas relacionadas ao nível de excelência esportiva.
Na dimensão social, os muitos clubes também possuem a finalidade de promoção do esporte para toda a vida, ou seja, práticas voltadas não só para o alto rendimento, mas para a promoção da prática na perspectiva amadora, do lazer, da qualidade de vida e da integração social. No mesmo contexto podemos incluir as academias de ginástica ou mercado fitness, que configuram-se como espaços para a prática de atividades físicas e modalidades esportivas fitness, praticadas principalmente na perspectiva do esporte para toda a vida.
1.14. Gestão Pública do Esporte
No Brasil, o estado desempenha um papel protagonista no desenvolvimento do esporte nacional.
O estado brasileiro detém o dever constitucional de garantir o acesso à prática esportiva a toda a população brasileira. A garantia desse direito se dá por meio do estabelecimento de políticas públicas de oferta direta ou de fomento para a oferta indireta de programas, projetos e ações esportivas em todos os níveis de prática.
Embora o estado possua o dever legal e normativo do esporte no país, ele deve garantir a liberdade das entidades esportivas privadas na sua autonomia administrativa, na sua governança e organização interna. As organizações esportivas privadas exercem um papel fundamental de apoio ao estado no desenvolvimento do esporte nacional. Dentro das possibilidades, seu papel de fomentador pode ser mais direcionado para a questão estrutural do esporte, como construção e manutenção de parques, praças, ginásios, arenas, quadras, campos e outros espaços públicos de prática esportiva fundamentais para uma sociedade ativa. Para que haja prática esportiva parece fundamental a existência de espaços, instalações e equipamentos esportivos.
A cidade de Fortaleza, capital do Ceará, é um bom exemplo de projetos públicos de fomento ao esporte por meio da construção e disponibilização de infraestrutura para sua prática. Citamos aqui as Areninhas e a extensa malha de ciclovias, ciclofaixas e bicicletas compartilhadas que tiveram reconhecimento e premiação internacional. A política de construção de espaços esportivos contribui não só com a garantia do direto à prática esportiva, mas também com a urbanização e combate à violência urbana.
Dada a intersetorialidade das políticas públicas é muito comum que as ações em prol do esporte também tenham potencial e objetivos diversos, como promoção da saúde, inclusão social, combate à violência, urbanização e outros. É inegável a importância e a eficácia do esporte para o combate a problemas sociais. Entretanto, é importante chamarmos a atenção para a necessidade de o
gestor público do esporte não deixar de lado, em suas políticas, o fomento do esporte pelo esporte e não só do uso do esporte enquanto ferramenta para outros fins e problemas sociais.
No ambiente público do esporte, o profissional poderá atuar tanto na gestão de políticas como na oferta das ações esportivas resultantes desses programas e projetos. Na dimensão da gestão, o profissional tem a atribuição de propor e de gerir programas e projetos esportivos do órgão gestor do esporte ou setor específico do órgão responsável. Como já dito anteriormente, a função de gerir engloba tarefas como planejamento, organização, direção e controle ou avaliação das ações realizadas. Na dimensão prática das ações ofertadas, o profissional poderá atuar na operação de eventos esportivos realizados e de responsabilidade do poder público, como jogos escolares, jogos abertos e outros, bem como professor ou monitor de ofertas práticas de esporte, como programa segundo tempo, programa esporte e lazer na cidade e outros. Um dos elementos mais importantes trazidos pela Lei Geral do Esporte em relação à Lei Pelé foi o estabelecimento de atribuições para cada nível de ente estatal, ou seja, o papel específico dos municípios, dos estados e do governo federal para a promoção do esporte. Essa definição de papeis permite a otimização dos recursos públicos, a redução da duplicidade de ações no mesmo fim e o aumento da eficiência e da eficácia da atuação pública. Nesse sentido, é fundamental para a intervenção profissional no âmbito público o conhecimento da Seção II da Lei Geral do Esporte, que trata do Sistema Nacional do Esporte (Sinesp) e das atribuições dos seus entes no processo de desenvolvimento do esporte nacional.
Conclusão
No âmbito público ou privado, os gestores e os profissionais que atuam na oferta da prática es-
portiva devem estar atentos a maneira como o esporte vem evoluindo e sendo percebido na sociedade. Proprietários de espaços de atividade física, gestores dos diversos tipos de organizações esportivas e de instituições de ensino e profissionais que atuam diretamente com a prática esportiva devem, cada um dentro da sua seara, se apropriar da nova Lei Geral do Esporte e de todas as implicações dessa norma para a atuação profissional.
Conhecendo e compreendendo essa importante legislação e se apropriando das sugestões aqui apontadas para os diversos ambientes e níveis de prática esportiva, temos a certeza que você estará mais capacitado para a atuação profissional no esporte.
Essa disseminação do conhecimento sobre a nova lei impactará na revisão de programas, projetos e políticas públicas que tiveram como base legislações anteriores. Esse processo de revisão e evolução tem como sujeito principal os diversos profissionais do esporte.
Como qualquer nova lei, a Lei Geral do Esporte deve sofrer diversas outras regulamentações menores em seus artigos. Aos profissionais do esporte, mas acima de tudo os cidadãos, cabe acompanhar e contribuir construtivamente para esse processo legislativo, levando suas experiências, considerações e contribuindo de maneira direta com o desenvolvimento do esporte no Brasil e no mundo.
Para saber mais:
Conheça a Lei Pelé
A compreensão dos aspectos legais para os profissionais que atuam no esporte é prerrogativa para uma intervenção com segurança, sendo também, aspecto que trará diferencial para a abordagem dos diversos conhecimentos necessários para a atuação nos diversos processos constantes para o desenvolvimento das aulas e treinos. Neste sentido, continuando a caminhada que contribua com o seu aprimoramento profissional e promova os resultados esperados para a aprendizagem e prática vitalícia do esporte, abordaremos a seguir o que é considerado princípio básico para que sejam alcançados níveis elevados de aprendizagem no esporte.
Você sabia que para aprender um esporte as crianças devem desenvolver proficiência motora? Esta capacidade se refere à condição de uma pessoa realizar movimentos combinados, precisos e coordenados, relativos à motricidade global, composta e fina. Para que alcancem este estágio, primeiramente precisam desenvolver as habilidades motoras fundamentais e passarem por uma transição, para em seguida aprenderem as habilidades especializadas, que são a base para a aprendizagem dos esportes.
Referências
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BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
BRASIL. Lei 14.597, de 14 de junho de 2023 – Institui a Lei Geral do Esporte. Brasília: Diário Oficial da União. De 15 de junho de 2023.
BRASIL. Lei 9.615, de 24 de março de 1998 – Lei Pelé. Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9615consol.htm>. Acesso em: 12 out. 2024.
BRASIL. Lei 8.672, de 6 de julho de 1993 – Lei Zico. Institui normas gerais sobre desportos e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8672.htm>. Acesso em: 12 out. 2024.
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RIBEIRO, Kleber Augusto. Gestão de Organizações Esportivas: proposição de modelo de avaliação de desempenho para federações estaduais. 2025. Tese (Doutorado) - Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2024.
SLACK, T.; PARENT, M. M. Understanding Sport Organizations: the application of Organization Theory. Champaign, IL: Human Kinetics, 2006.
TUBINO, Manoel José Gomes. Estudos brasileiros sobre o esporte: ênfase no esporte-educação. Maringá: Eduem, 2010.
FRANCISCO CRISTIANO SOUSA PAULO HENRIQUE DE SOUZA
DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES
MOTORAS FUNDAMENTAIS E
ESPECIALIZADAS COMO BASE PARA
PRÁTICA ESPORTIVA
Oesporte se apresenta como um importante elemento para a formação humana na medida em que agrega numa mesma atividade as dimensões físicas, motoras, lúdicas, corporais, culturais, técnicas e táticas, espirituais, psicológicas, sociais e afetivas (Tani; Bento & Petersen, 2006). Todo este potencial formativo contribui para que o esporte esteja presente como um dos elementos da cultura de diversos países do mundo, muito por conta da evidência científica que aponta para o papel que o esporte desempenha na saúde e bem-estar dos adolescentes (Mckay et al., 2019).
É a prática que faz com que o esporte contribua para o pleno desenvolvimento humano (Gaya, Marques & Tani, 2004) e a prática esportiva se materializa por meio da execução das diversas técnicas esportivas específicas de cada modalidade, que por sua vez são precedidas pela correta execução das habilidades motoras fundamentais (HMF) e habilidades motoras especializadas (HME), ou seja, a habilidade motora vem primeiro, depois vem a técnica esportiva (Tani; Bento & Petersen, 2006).
Para além de servir de base para o desempenho nas técnicas esportivas, a proficiência nas HMF contribui com melhores níveis atividade física (AF) e saúde das crianças (Duncan, Bryant, & Stodden, 2017; Jones et al., 2020) e a proficiência nas HMF e HME favorece a obtenção de melhores níveis de saúde dos indivíduos ao longo da vida (Barnett, Van Beurden, Morgan, Brooks, & Beard, 2008; Cattuzzo et al., 2016; Barnett et al., 2019; Sackett & Edwards, 2019; Duncan, Hall, Eyre, Barnett, & James, 2021), o que leva ao entendimento de que proporcionar esta educação motora de base contribui para a formação esportiva, para a saúde e cidadania das crianças e adolescentes.
2.1. Diferenciando conceitos
A compreensão dos conceitos é fundamental para que os profissionais de Educação Física possam desenvolver práticas que levem ao cumprimento dos objetivos de ensino, pois, a interpretação errada de um conteúdo pode levar a tomada de decisões enviesadas e à proposição de abordagens de ensino inadequadas. Diante do exposto, você deve dominar os seguintes conceitos:
Habilidades motoras fundamentais: São padrões básicos de movimento considerados como “blocos de construção” de habilidades mais complexas e específicas do contexto, como os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas (Malina et al., 2009; Logan et al., 2018).
Habilidade motora especializada: São padrões de movimentos formados pela combinação de duas ou mais HMF que atingiram sua fase madura, podendo ser utilizadas nas atividades cotidianas e na prática dos esportes, danças, lutas, jogos e ginásticas (Gallahue & Ozmun, 2005).
Competência motora: É a capacidade do indivíduo de realizar uma ampla gama de movimentos coordenados e controlados que permitam alcançar um resultado satisfatório numa tarefa da vida diária, ou dos esportes (Estevan & Barnet, 2018).
Proficiência motora: É a performance e/ou resultado obtido em testes motores, sendo também utilizado como sinônimo de competência motora (Venetsanou & Kambas, 2016).
2.2. Habilidades Motoras Fundamentais
As Habilidades Motoras Fundamentais (HMF) estão divididas em habilidades de equilíbrio, de controle de objetos e locomotoras, ocorrendo o seu desenvolvimento influenciado por fatores genéticos, da tarefa e ambientais, sendo o ambiente e a tarefa modificáveis, tornando possível a inter-
venção do profissional de Educação Física na estruturação destes dois fatores com vistas ao pleno desenvolvimento das HMF por parte dos alunos.
Conhecendo as Habilidades Motoras Fundamentais
Habilidades de locomoção: Caminhada, corrida, salto de uma determinada altura, salto vertical, salto em distância, saltito, galope e deslizamento, pulo, salto misto.
Habilidades de manipulação: Rolamento de bola, arremesso por cima, recepção, chute, ato de aparar, rebatida, quicar bola, voleio.
Habilidades de equilíbrio: Movimentos axiais, giro corporal, desvio, equilíbrio em um só pé, rolamento do corpo, caminhada direcionada, apoios invertidos.
As crianças podem apresentar diferentes níveis de desenvolvimento das HMF, podendo ser classificado em elementar, intermediário e maduro (proficiente), sendo que todas elas têm potencial para alcançar níveis maduros da maior parte das HMF por volta dos 6/7 anos (Malina et al., 2009), podendo alcançar a proficiência até por volta dos 10 anos quando submetidas a intervenções de boa qualidade metodológica (Bandeira, De Souza, Zanella, & Valentini, 2017). A figura abaixo mostra um exemplo dos três estágios de desenvolvimento de uma habilidade motora.
Alerta aos professores e técnicos desportivos: visando ao enfrentamento de um problema em escala mundial. Chamamos a atenção para o fato de
que a maioria das crianças não apresenta níveis proficientes nas HMF, evidenciando que não estão recebendo os estímulos adequados (Bolger et al., 2021).
No Brasil, a maioria das crianças também apresenta baixa proficiência nas HMF (Valentini et al., 2016), sendo os meninos superiores às meninas e crianças de escolas particulares superiores às crianças de escolas públicas (dos Santos et al., 2020).
2.3. Habilidades Motoras
Fundamentais como base para o esporte
A literatura indica que a participação em esportes organizados contribui para a proficiência nas HMF de crianças (Da Silva Sousa et al., 2016; Ribeiro-Silva et al., 2018; Schembri et al., 2019), contudo, o objetivo nesta seção é analisar se o inverso também é verdadeiro, ou seja, se a proficiência nas HMF contribui para o desenvolvimento das habilidades esportivas.
Você pode se perguntar: Não seria perda de tempo estimular as HMF das crianças, se elas podem aprender desde cedo as habilidades do futebol? Jukic et al., 2019 mostrou que crianças praticantes de futebol da categoria sub-10 proficientes nas HMF apresentaram melhores qualidades técnicas e táticas quando comparadas com crianças não proficientes.
Ser proficiente nas HMF, HME e ter boa percepção de competência motora contribuiu mais que a aptidão física para o aprendizado das habilidades técnicas do futebol por parte de crianças de 7 a 12 anos (Duncan et al., 2022a) e adolescentes (Duncan et al., 2022b). Estimular o desenvolvimento das HMF juntamente com o treino das capacidades físicas pode ser relevante para a formação de jogadores.
Ainda sobre o futebol, ser proficiente nas HMF já na primeira infância pode favorecer um melhor nível técnico de controle da bola, precisão de passe, chute mais eficiente e desempenho técnico geral por parte
de adolescentes (Subhan & Suripto, 2024), resultado que evidencia que estimular o desenvolvimento das HMF na fase correta pode gerar melhorias de longo prazo na performance atlética dos futebolistas.
Ao que parece, crianças e adolescentes proficientes nas HMF apresentam melhores níveis de autoconfiança física (McGrane et al., 2017), o que pode estimular a adesão à prática de esportes organizados como o futebol, portanto, o profissional de Educação Física deve entender que ser proficiente nas HMF é tão importante quanto ter boa aptidão física para desempenhar bem no futebol (Kokstejn & Musalek, 2019), já que é necessário um certo nível de domínio destas habilidades motoras para desenvolver as habilidades específicas do jogo.
Deve-se partir do entendimento de que a proficiência nas HMF se apresenta como uma barreira potencial para o aprendizado das habilidades esportivas, é o que Costa et al., 2021 indica ao identificar que a proficiência nas HMF influenciou no desenvolvimento das habilidades relacionadas ao saque do vôlei de crianças e no padrão de movimento e precisão na execução do saque e ataque (Costa et al., 2018).
Outro exemplo de associação positiva entre proficiência e aprendizado de habilidades esportivas é o da ginástica rítmica, onde crianças proficientes nas HMF apresentaram melhor aprendizado das habilidades para todos os aparelhos (Kezić, Miletić & Lujan, 2018). Estimular a proficiência nas HMF é possibilitar a inclusão das crianças nas práticas físicas e esportivas, assim sendo deve-se atentar para não ensinar as habilidades esportivas antes das HMF.
Perceba o quanto o assunto aqui tratado pode contribuir com sua rotina de aulas/treinos e busque ampliar seus conhecimentos sobre as Habilidades Motoras Fundamentais e sua relação com saúde, esporte e educação por meio da leitura de vários artigos científicos produzidos pelo Grupo de Avaliações e Intervenções Motoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2.4. Ensinando as Habilidades Motoras Fundamentais
As HMF não “emergem naturalmente” durante a infância e são desenvolvidas como resultado da interação entre vários fatores (Haywood & Getchell, 2016), dentre os quais, o ensino desempenha um papel importante ao possibilitar o acesso a experiências que estimulem as crianças a desenvolver níveis proficientes nas HMF.
A evidência científica aponta que a intervenção de qualidade dos professores orientada para o ensino das HMF pode contribuir para que os alunos alcancem a proficiência nessas habilidades (McDonough, Liu, & Gao, 2020) para tanto, a estruturação das atividades de ensino deve seguir alguns princípios para garantir que todas as crianças se tornem proficientes nas HMF. Veja Segundo Valentini & Toigo, 2006 quais são os princípios e como se aplicam na prática:
1. Criação de um ambiente favorável à prática que promova a inclusão de todos os alunos por meio de atividades adequadas às crianças de diferentes níveis de habilidade.
2. Implementação de um protocolo a ser combinado com os alunos, deixando claro o tempo necessário para a prática, como se organizar para as atividades, a atenção nos momentos de instrução e de mudança de uma atividade para a outra.
3. Estimulação da socialização e cooperação entre os pares para induzir o desenvolvimento das habilidades socioemocionais e a troca de feedbacks entre os alunos sobre as habilidades praticadas.
4. Organização do ambiente e dos materiais antes do início das aulas como forma de au-
Avaliações e intervenções motoras
mentar o tempo efetivo de aula, garantir a segurança dos alunos durante as práticas e evitar a dispersão da turma durante a troca de atividades.
5. Demonstração como facilitadora da aprendizagem por meio da execução de uma habilidade por parte do professor, de um aluno, bem como, da apresentação de uma figura ou de um vídeo, já que o desempenho motor do aluno tende a ser influenciado pela exibição de um modelo.
6. Utilização de dicas verbais como facilitadoras da aprendizagem para direcionar a atenção dos alunos para aspectos relevantes das habilidades.
7. Feedback contínuo para motivar o aluno e facilitar a aprendizagem, guiando-o na execução correta da tarefa e reforçando o desempenho correto da HMF.
2.5. Vamos ver mais sobre a prática?
Você deve ter se interessado em saber se existe alguma proposta interventiva, que contribua para uma melhor estruturação das aulas e treinos de esportes de forma a estimular o desenvolvimento das HMF. A resposta é sim! No Brasil, temos o modelo do “Clima motivacional para a maestria” que é uma proposta interventiva estruturada a partir de evidências científicas com foco na proficiência das HMF. Neste modelo, as aulas estão estruturadas com a prática de atividades analíticas e jogos orientados para as HMF (Valentini & Toigo, 2006). As premissas pedagógicas deste modelo são:
1. Tarefa: Oferta de uma variedade de tarefas dirigidas e jogos orientados.
2. Autonomia: O professor estimula que as crianças executem as tarefas e resolvam as situações problemas de forma independente, a partir das suas capacidades.
3. Reconhecimento: As crianças recebem estímulos positivos para todos os avanços na proficiência motora e o erro de execução é valorizado como meio para a aquisição da proficiência nas HMF.
4. Grupo: Todas as atividades são desenvolvidas sempre em grupos para estimular a socialização e a percepção de avanços e dificuldades entre as crianças.
5. Evaluation (avaliação): As crianças são estimuladas a autoavaliar seu desempenho em todas as tarefas e jogos como forma de buscar um progresso contínuo, tendo como referência o processo (evolução no nível de proficiência) e o produto (nível de proficiência).
6. Tempo: O professor estimula a prática contínua das tarefas e jogos para que as crianças percebam que a persistência temporal na execução das atividades levará à proficiência motora. O modelo interventivo do “Clima motivacional para a maestria”, além de contribuir para o desenvolvimento das HMF, também contribui para a melhoria da autoestima e percepção de competência de crianças (Bandeira et al., 2017; Carvalho Nobre & Valentini, 2018). Por ser testada cientificamente, esta proposta interventiva se apresenta como uma ferramenta valiosa para a melhoria das aulas de educação física e treinos de esportes para crianças.
2.6. Habilidades Motoras Especializadas
As HME são formadas a partir da combinação entre duas ou mais HMF maduras. A proficiência no maior o número de HMF possibilitará um maior repertório de HME e dificultará o desenvolvimento de automatismos motores (Güllich, Macnamara & Hambrick., 2022), mostrando que a variedade das práticas é um importante elemento para o desempenho esportivo de excelência sustentado a longo prazo, seja no esporte educacional, participação ou rendimento.
HABILIDADES MOTORAS FUNDAMENTAIS DESENVOLVIDAS E REINADAS NA INFÂNCIA
Locomoção
1. Básica
(um elemento)
a. Caminhar
b. Correr
c. Pular
d. Saltar
e. Elevar-se
2. Combinações
(dois ou mais elementos)
a. Galopar
b. Deslizar
c. Saltar
HABILIDADES
Fonte: Gallahue e Ozmun (2005, p.369).
Manipulação
1. Propulsiva
a. Aremessar
b. Chutar
c. Impedir
d. Atingir
e. Rebater
f. Quicar
g. Rolar
2. Absortiva
a. Apanhar
b. Driblar
Estabildade
1. Axial
a. Inclinar-se
b. Alongar-se
c. Girar
d. Virar
e. Balançar
2. Posturas estáticas e dinâmicas
a. Apoios invertidos
b. Rolamento corporal
c. Iniciar
d. Parar
e. Desviar
f. Equilibrar-se
Habilidades para o futebol
Habilidades para o beisebol
Habilidades para o basquete
Habilidades para o hóquei
Habilidades para a acrobacia
Habilidades para o atletismo
Habilidades para a natação
Habilidades para a luta
Habilidades para esportes com raquetes Habilidades para a dança etc.
O desenvolvimento das HME é influenciado positivamente por diversos fatores como o peso saudável, sexo (masculino), bom estatuto socioeconômico, níveis adequados de AF e a participação esportiva (Barnet et al., 2016), sendo negativamente influenciado por um número limitado de oportunidades para a prática, ausência ou deficiência de ensino, falta de encorajamento e por não ser proficiente nas HMF (Gallahue & Ozmun, 2005).
Observa-se que os profissionais de Educação Física podem intervir em muitos dos fatores que influenciam o desenvolvimento das HME já que são modificáveis. Assim sendo, as intervenções devem estimular o desenvolvimento e manutenção da coordenação das HME, já que esta capacidade coordenativa pode diminuir com o avanço da idade, especialmente em crianças com sobrepeso ou obesidade (Giuriato et al., 2019).
2.7. Habilidades Motoras
Especializadas Relacionadas à Prática Esportiva
É comum escutar que a proficiência nas HME é a base para o sucesso na prática esportiva. Nesta seção serão listadas evidências que respondam à questão: A proficiência nas HME de fato contribui para uma melhor performance esportiva?
Atletas de elite de badminton que se mostraram proficientes nas HME apresentaram melhor nível de habilidades específicas da modalidade (Jaworski et al., 2021), de forma que essas habilidades devem ser levadas em consideração no treinamento técnico destes atletas, especialmente nas categorias de base.
Estimular a proficiência nas HME vai além da performance esportiva, visto que possibilita a inclusão social do indivíduo que se sente apto a se inserir na prática esportiva, é o que mostra Chagas, Ozmun & Batista, 2017 ao identificar que mesmo em contexto de esporte participação a proficiência nas HME favoreceu a correta execução das habilidades do vôlei.
Mesmo quando os adolescentes não apresentam força e velocidade desenvolvidas nos níveis desejados para a prática competitiva deve-se considerar a proficiência nas HME e habilidades específicas do futebol como um critério para detecção de talentos esportivos (Romers et al., 2019), em outras palavras, a aptidão física não deve ser o único critério para decidir se um indivíduo reúne as condições para se tornar um competidor, visto que há a possibilidade de um indivíduo habilidoso desenvolver suas capacidades físicas no decorrer dos treinamentos.
É consenso que a criatividade é um diferencial para a vida e para o desempenho esportivo, seja na competição ou no lazer. Assim sendo, o estímulo ao desenvolvimento da criatividade passa a ser um dos objetivos a serem alcançados por meio das aulas e/ou treinos esportivos. Contudo,
até que ponto a proficiência nas HME pode contribuir para a formação de jogadores criativos? Veja evidências científicas a seguir!
Zahno & Hossner, 2023 mostraram que jogadores de futebol com melhor repertório de HME e habilidades específicas da modalidade apresentaram melhores níveis de criatividade nas situações reais de jogo quando comparados com jogadores submetidos a treinos direcionados ao desenvolvimento do pensamento divergente, portanto há indícios de que a criatividade no futebol tem suas bases na proficiência nas HME.
A proficiência motora nas HME também pode ser utilizada como um dos critérios para subsidiar os profissionais de Educação Física na definição do nível de competição para o qual os atletas estão aptos a participar, seja competitivo ou recreativo (O’Brien-Smith et al., 2019). Fica claro que a proficiência nas HME é fundamental para garantir melhores níveis de prática esportiva seja para a saúde, para a educação ou para a competição.
A ciência deve ser a “bússola” permanente para orientar as ações dos profissionais para o ensino dos esportes. Você sabia que é possível prever o desempenho de jovens atletas nas habilidades específicas do vôlei ao identificar seus níveis de proficiência nas HME? Esse achado científico pode auxiliar os profissionais de educação física e técnicos esportivos na tomada de decisão sobre a formação das equipes (Marinho & Vargas, 2022).
2.8. Ensinando as Habilidades
Motoras Especializadas
A fase motora na qual são desenvolvidas as HME é composta por três estágios que devem ser conhecidos pelo profissional de Educação Física que deverá dinamizar atividades apropriadas para cada um destes estágios (Gallahue & Ozmun, 2005).
Estágio de transição: É caracterizado pelas primeiras tentativas de refino e combinação de
habilidades motoras maduras por parte do indivíduo, que se esforça para entender como fará para desempenhar determinada habilidade. Neste estágio a competência motora é limitada. O indivíduo tende a buscar vários tipos de esportes como forma de experimentar um maior número de habilidades motoras.
Estágio de aplicação: É marcado pela ênfase do indivíduo na melhoria da proficiência motora. Neste estágio, o treino é a peça principal para proporcionar maior domínio das habilidades motoras.
Estágio de utilização permanente: Os indivíduos escolhem algumas atividades para participar, seja na dimensão recreativa ou competitiva como forma de buscar uma maior refinamento das HME.
Ampliando ainda mais a sua visão, saiba que existem outras classificações das habilidades motoras consideradas importantes no contexto de ensino dos esportes, são elas:
Habilidades motoras abertas – São realizadas em ambientes onde a execução da habilidade por parte do indivíduo é influenciada pelas condições externas que mudam constantemente. Exemplo: Jogos e esportes coletivos onde o indivíduo executa a habilidade de acordo com o posicionamento de colegas de equipe e dos adversários.
Habilidades motoras fechadas – São realizadas em ambiente estável ou previsível, permitindo ao indivíduo definir quando a ação deve iniciar. O ambiente influencia muito pouco na execução deste tipo de habilidade. Exemplo: Atividades onde os alunos executam dribles de basquete, ou condução e chute de futsal deslocando-se entre pontos pré-definidos.
Não proporcionar os estímulos adequados para cada um destes estágios pode acarretar sérios prejuízos ao alcance da proficiência nas HME. Como forma de orientar o ensino das HME, sugere-se:
1. Estruturar o ambiente de prática de acordo com a natureza da habilidade a ser desenvolvida. Aqui cabe ao professor conhecer a classificação das habilidades motoras como sendo fechadas ou abertas.
2. Iniciar com atividades que possam ser controladas pelo praticante. Um exemplo seria iniciar o ensino de uma habilidade priorizando inicialmente as tarefas motoras fechadas.
3. Introduzir situações que exijam reações a fatos inesperados, na medida em que a habilidade se desenvolve. Exemplo: A cada silvo do apito o aluno deverá executar uma habilidade diferente dentre um leque de habilidades previamente definidas.
4. Reduzir progressivamente o grau de liberdade de execução da HME para níveis de execução com maior estabilidade, consistência e precisão. Não se trata de mecanizar os movimentos dos alunos e sim de estimular que os alunos executem as habilidades motoras de forma proficiente.
5. Estimular o aprendiz a pensar na execução da HME, principalmente nos primeiros estágios de aprendizado. Ao executar o passe de futsal a bola está chegando ao colega de forma adequada? Por que o resultado obtido com o passe não foi satisfatório? Questionamentos como estes levam os alunos a refletir sobre a execução das habilidades motoras.
6. Conhecer e respeitar o estado cognitivo e os objetivos do aprendiz, pois, propor atividades de baixa ou alta complexidade, ou propor atividades inadequadas para os objetivos dos alunos (Competição ou lazer) poderá desestimulá-los para a prática.
2.9. Estratégias de Ensino das Habilidades Motoras
Especializadas
A estruturação das atividades para o ensino das HME poderá ser experimentada por meio de atividades analíticas e jogos com orientação, sendo a intencionalidade e objetivos definidos em conformidade com o planejamento das aulas ou plano de treino.
2.10. A Prática de Atividades
Analíticas
São estruturadas de forma que sua execução seja realizada em ambiente estável no qual o praticante determina o começo e o fim da ação motora (Habilidade motora fechada). Como exemplo: dispor os alunos distribuídos em quatro colunas, devendo passar a bola de vôlei entre as colunas no sentido horário, utilizando o toque e se deslocando para o final da coluna para a qual passou a bola.
Estas atividades são adequadas para o ensino e refino das HME e habilidades esportivas pela possibilidade da execução repetida da habilidade e pelo contexto controlado de prática, que permite que ao professor fornecer feedbacks constantes aos praticantes. Contudo, apresentam limitações para a aplicação da técnica em contexto real de jogo.
Os profissionais de Educação Física devem proporcionar a maior quantidade possível de experiências motoras por meio da variação de exercícios como forma de contribuir para a ampliação do repertório motor dos praticantes.
O professor poderá incluir atividades de dissociação de membros, sendo esta a capacidade do indivíduo de realizar diferentes tarefas motoras simultâneas de forma controlada com segmentos corporais distintos.
Atividades envolvendo apenas membros superiores: driblar a bola de basquete com uma mão e girar um bambolê com a outra mão.
Atividades envolvendo apenas membros inferiores: conduzir a bola de futsal com um pé e saltitar com o outro pé.
Atividades envolvendo membros inferiores e superiores: girar o bambolê com um braço e trocar passes com a bola de futsal.
As atividades de dissociação de membros apresentam grande potencial para o ensino das HME e consequentemente para as habilidades esportivas dada a complexidade da sua realização que supera a complexidade das habilidades
aplicadas no cotidiano ou em contexto esportivo. Trata-se de ensinar do mais complexo pela dissociação de membros, para o complexo que são as habilidades esportivas.
Os exemplos das atividades de dissociação de membros tiveram a intenção de despertar você para que conheça mais sobre essas estratégias de ensino. A referência na área é o Professor Dr. Pablo Juan Greco que demonstra a execução de um variado repertório destas atividades.
Atividades do Professor
2.11. Jogos com Orientação
São jogos que contém os fundamentos técnicos e táticos do esporte, também denominados de jogos pré-desportivos, nos quais o professor inclui a execução de uma ou mais HME e habilidades esportivas como parte obrigatória da sua execução, portanto, o jogo é adaptado de forma a estimular a proficiência motora dos alunos (Valentini & Toigo, 2006). Um exemplo seria um jogo de pega-pega onde o perseguidor e os fugitivos só podem se deslocar driblando bolas de basquete.
Nos jogos com orientação os alunos têm a possibilidade de praticar habilidades motoras abertas e são estimulados a praticar as habilidades específicas dos esportes em contexto real de jogo, fato que contribui também para o aprendizado da tática ofensiva e defensiva do esporte (Kröger & Roth, 2002).
Metodologia bastante versátil na sua utilização, permite ao profissional de Educação Física a dinamização de jogos com habilidades de u7m determinado esporte ou com habilidades de dois ou mais esportes, como por exemplo o jogo de “futbasquete” onde os jogadores trocam passes com os pés, mas pontuam arremessando a bola na cesta de basquete do adversário.
Dr. Pablo Juan Greco
Outra possibilidade é elevar o grau de complexidade dos jogos aumentando o número de bolas utilizadas no jogo e de áreas a serem invadidas, como também definindo várias formas de pontuar. Exemplo: Jogar Handebol podendo marcar gol nas traves convencionais e em cones que formam balizas nas laterais da quadra somente com arremessos em suspensão, pontuando também ao driblar a bola dentro de bambolês espalhados pela quadra.
Entende-se que os jogos com orientação são atividades de elevado valor pedagógico que possibilitam o ensino e a prática das habilidades num contexto de jogo que é mais complexo do que o contexto do esporte propriamente dito, podendo ser amplamente utilizado pelos profissionais de Educação Física nas aulas e treinos de esporte educacional, participação e rendimento.
Um aspecto que propõe o permanente exercício da criatividade, é a condição oferecida pelos jogos orientados para o ensino das habilidades motoras especializadas e esportivas de serem modificados, adaptados, criados e recriados livremente pelos profissionais de educação física, inclusive com a participação dos alunos e atletas, de acordo com seus objetivos e as necessidades do grupo. Assista aos vídeos de jogos orientados que podem servir de base para você criar seus próprios jogos.
Reflexão final
Após compreender que a proficiência nas HMF e HME está diretamente relacionada com a saúde, com a participação e com a performance esportiva, algumas reflexões se fazem necessárias: Devemos continuar ensinando os esportes mantendo o foco apenas nas habilidades específicas das modalidades, desconsiderando o desenvolvimento das HMF e HME? Seria correto ensinar os esportes somente com base nas experiências esportivas que tivemos em nossas vidas, ignorando a evidência científica que disponibiliza métodos de ensino validados? Pelo que foi até aqui apresentado, o conhecimento tratado oferece oportunidades de melhoria das aulas e treinos esportivos, permitindo a dinamização de práticas de ensino que conduzam o aluno/atleta ao pleno desenvolvimento por meio do esporte.
Consolidada a compreensão de que a base motora é fundamental para uma aprendizagem segura e eficaz do esporte, voltamos à atenção para o aspecto definidor e central, que nos remete diretamente à intervenção dos profissionais de Educação Física. Me reporto ao conhecimento dos comportamentos de ensino e decisões didáticas, que impactam no desenvolvimento dos alunos/atletas, quer sejam nos âmbitos físicos, técnicos, sociais, psicológicos e emocionais. Agora vamos abordar a pedagogia dos esportes numa perspectiva inovadora, voltada às competências para a vida, com um olhar no bem-estar e percepção de competência visando o pleno usufruto dos benefícios dos esportes pelos mais jovens.
Jogos Orientados
Jogos Orientados
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RICARDO HUGO GONZALEZ
EDUARDO GERMAN GONZALEZ
PEDAGOGIA DO ESPORTE. CONTRIBUIÇÕES NAS
COMPETÊNCIAS PARA A VIDA
Se você está lendo este livro, provavelmente tem um interesse prático e/ou teórico em um ou mais aspectos do esporte. Também é possível que você tenha assimilado um valor pessoal com seu envolvimento nesta manifestação cultural do movimento e atividades relacionadas ao esporte e educação física. Provavelmente viu o esporte na escola como parte da educação física, em clubes esportivos, prefeituras, projetos sociais ou como uma atividade de lazer compartilhada com a família e amigos. Talvez alguns de vocês tenham se destacado no esporte de rendimento, para outros, suas experiências podem ter sido bem mais diversas e nem todas positivas. Contudo, você decidiu estudar esporte, então podemos presumir que quaisquer que sejam seus percursos de vida até este ponto, o esporte de uma maneira ou de outra despertou seu interesse e entusiasmo. Sendo assim, existe uma forte crença que outros devem ter essa oportunidade de usufruir das recompensas que o envolvimento no esporte pode oferecer, e alguns de vocês estarão comprometidos em ajudar crianças e jovens a ganhar tanto com o esporte quanto você ganhou para o desenvolvimento de competências para a vida.
Partimos do pressuposto que o envolvimento no esporte não é sempre uma “coisa boa” para todos os envolvidos em algum momento das suas vidas. Reconhecemos que o esporte tem o potencial de ser uma ferramenta ímpar para o bem-estar nas vidas dos jovens, mas especificamente se for ensinado e treinado por adultos formados e experientes com habilidade para aproveitar seu poder de maneira eficaz. Em alguns casos, essas experiências negativas são simplesmente o reflexo de um ensino ou treinamento mal conduzido.
Para aqueles que se importam com o esporte e com as contribuições que ele pode oferecer, isso deve ser uma preocupação. Sendo assim, este tema educativo está alinhado à Pedagogia do Esporte com foco nas Competências para a Vida e pretende contribuir na capacitação dos profissionais na educação física e no treinamento esportivo.
3.1. Pedagogia do Esporte
O esporte, ao longo dos tempos, tem sido visto como um fenômeno cultural dinâmico, plural e em constante transformação, refletindo a evolução da sociedade e atendendo às necessidades variadas de seus praticantes (Bento, 2006). Hoje, ele engloba múltiplas formas de prática, desde os esportes coletivos, individuais, esportes eletrônicos, esportes de aventura e esportes adaptados, sendo praticado em contextos diversos, como escolas, clubes, espaços públicos e programas municipais. No campo da Educação Física e do treinamento esportivo, é importante reconhecer o esporte como uma manifestação que transcende a mera atividade física.
Ele possui valores e características próprias que o diferenciam de outras práticas corporais, destacando-se pela busca por excelência, pela presença e interação corporal, pelo caráter competitivo e pelas regras ou regulamentos específicos que orientam cada modalidade (Gonzalez, Machado, 2017). É um dos fenômenos socioculturais mais importantes do século XXI (Reverdito, Galatti, Scaglia, 2022). Tendo em vista o número de pessoas envolvidas diariamente em práticas esportivas nos diferentes contextos, presença nos veículos de comunicação (Tv, rádio e internet) e no número de modalidades. O esporte foi tomado como objeto de investigação em diferentes áreas de conhecimento, ampliando as possibilidades de sua compreensão (Galatti, et al., 2014). Compreender o esporte como uma prática cultural e educativa amplia o papel de professores e treinadores no desenvolvimento integral dos jovens. A prática esportiva, quando abordada de maneira inclusiva e adaptativa, oferece um espaço para o crescimento pessoal e social, incentivando o respeito mútuo, a disciplina, a resiliência e a criatividade. Esses aspectos são cruciais para preparar os jovens não apenas como atletas, mas como indivíduos capazes de contribuir positivamente para a sociedade.
A Pedagogia do Esporte é o campo que integra conceitos de pedagogia e ciências do esporte para promover o desenvolvimento holístico dos indivíduos por meio da prática esportiva. Ao definir e explanar sobre esse tema, podemos basear-nos em várias evidências científicas e teorias reconhecidas dentro das Ciências do Esporte e da Educação. Esta área do conhecimento, como um campo interdisciplinar, combina princípios educacionais e práticas esportivas. Abrange o ensino e a aprendizagem de habilidades motoras, compreensão tática, valores esportivos e desenvolvimento pessoal por meio do esporte.
Esta abordagem tem o intuito de oferecer uma oportunidade única para que profissionais de Educação Física e técnicos esportivos desenvolvam práticas assertivas que vão além da simples instrução em habilidades motoras. Por meio da aplicação dos princípios da pedagogia do esporte, habilidades socioemocionais, metodologias e estratégias de ensino e práticas inclusivas, os educadores podem criar ambientes de aprendizado que promovam o desenvolvimento integral dos alunos. A adoção dessas abordagens ativas não só enriquece a experiência esportiva, mas também contribui para a formação de cidadãos mais conscientes, empáticos e preparados para os desafios da vida.
À medida em que os professores de educação física e técnicos esportivos se tornam agentes de mudança em suas comunidades, é essencial que compreendam e empreguem os princípios da pedagogia do esporte em sua prática diária, enfatizando as Competências para a Vida.
Ela se destina principalmente a professores de Educação Física, técnicos esportivos e gestores de esportes, com o intuito de:
1. Ensinar e Aprender Habilidades Motoras: Visa ao desenvolvimento motor dos praticantes, desde a iniciação esportiva até a especialização, promovendo um aprendizado progressivo e contextualizado.
2. Compreensão Tática: Envolve o desenvolvimento de habilidades cognitivas e a capacidade de tomar decisões eficazes em contextos esportivos, tornando o aluno/atleta mais autônomo e estratégico no jogo.
3. Valores Esportivos: Foco na formação ética, como o respeito, a cooperação, o trabalho em equipe e a gestão emocional, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e socialmente responsáveis.
4. Desenvolvimento Pessoal: O esporte é utilizado como uma ferramenta para promover o bem-estar, a autoestima, a disciplina e a resiliência, elementos fundamentais para o crescimento integral do indivíduo.
Exemplos de Aplicação:
• Professores de Educação Física: Aplicam princípios pedagógicos do esporte em contextos escolares, adaptando atividades lúdicas e jogos pré-desportivos para fomentar tanto o desenvolvimento motor quanto às competências sociais e emocionais dos alunos;
• Técnicos Esportivos: Utilizam a Pedagogia do Esporte para planejar treinamentos que, além de focar no desempenho esportivo, promovam a compreensão tática e o desenvolvimento de atitudes fair play dos atletas;
• Gestores de Esportes: Integram práticas pedagógicas na gestão de programas esportivos, garantindo que os objetivos educacionais, sociais e físicos estejam alinhados com a formação integral dos participantes.
3.2. Competências para a Vida
Uma revisão das Competências de Vida (CV) ao longo das últimas décadas tem mostrado a complexidade de definir esse conceito de forma consensual entre pesquisadores, sem um modelo teórico definitivo que explique completamente seu funcionamento e impacto no comportamento humano (Williams et al., 2022). Uma das defini-
ções pioneiras, proposta por Danish et al. (2004), conceitua CV como habilidades que facilitam o sucesso em diferentes contextos. Essa visão foi recentemente endossada por Camiré (2023), que descreve CV como habilidades pessoais que capacitam indivíduos a lidar com suas responsabilidades diárias e a manter um vínculo significativo com seu ambiente social, escolar e profissional. Além disso, Jones (2020) afirma que as CV são adquiridas por meio de experiências práticas, permitindo o desempenho de tarefas essenciais em diversos contextos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2003) também contribui para esse debate, sugerindo que as CV são fundamentais para enfrentar os desafios e exigências do dia a dia, promovendo o bem-estar e a produtividade. No contexto esportivo, Gould e Carson (2008) propõem que as CV englobam habilidades internas, como definição de objetivos e controle emocional, que são desenvolvidas e aplicadas no esporte e podem ser transferidas para outros aspectos da vida.
Contudo, persiste a incerteza sobre o que constitui uma CV. Seriam estas “competências”, “características” ou “potencialidades”? Essa dúvida se estende ao debate sobre a natureza dessas competências: seriam estruturas estáveis, baseadas em características pessoais, ou dinâmicas, moldadas pelas experiências vividas? Para clarificar essa questão, Gomes e Resende (2020) propõem uma definição abrangente e adaptativa, vendo as CV como potencialidades humanas que podem ser desenvolvidas tanto por meio de treinamento sistemático quanto pelas experiências do cotidiano, facilitando a adaptação a mudanças em contextos variados. Essa definição abrange não apenas competências cognitivas e emocionais, mas também habilidades motoras e físicas, especialmente quando usadas para promover resiliência e adaptação a desafios.
Em relação ao aprendizado das CV, no contexto esportivo, são descritas duas abordagens. A abor-
dagem implícita, segundo Turnnidge et al. (2014), assume que as CV são adquiridas naturalmente através da socialização e enfrentamento de desafios próprios do esporte. Já a abordagem explícita requer que os treinadores ensinem essas competências diretamente, fornecendo instruções e oportunidades de aprendizado (Turnnidge et al., 2014; Camiré, 2023). Modelos mais recentes, como os propostos por Bean et al. (2018) e Gomes e Resende (2020), exploram um continuum no desenvolvimento das CV, com fases que vão da criação de um ambiente esportivo propício à motivação e aprendizado das CV até a aplicação prática em diferentes contextos de vida. Portanto, as CV são amplamente reconhecidas como ferramentas valiosas para o desenvolvimento positivo dos jovens e a estruturação de programas esportivos que promovam o crescimento integral dos atletas.
Vamos à Prática:
1. Criar o ambiente esportivo facilitador das competências de vida
Implica: Definir claramente os objetivos do programa esportivo e explicar como ele facilita a aprendizagem de competências de vida pelos atletas.
Não esquecer:
• Programas esportivos de ampla abrangência facilitam o desenvolvimento de competências de vida (valorizar tanto os resultados obtidos pelos atletas quanto a melhoria do desempenho individual e das competências esportivas).
• Valorizar e reconhecer os progressos dos atletas, e não apenas os resultados esportivos que alcançam.
• Reconhecer que os programas esportivos impactam não só as competências físicas, motoras e técnicas, mas também as competências sociais, psicológicas e emocionais.
2. Criar uma filosofia de trabalho facilitadora das competências de vida
Implica: Definir claramente como os agentes esportivos (e.g., treinadores, assistentes, psicólogos, educadores, nutricionistas, dirigentes, etc.) podem facilitar a aprendizagem de competências de vida pelos atletas.
Não esquecer:
• Os agentes esportivos devem focar seu trabalho não apenas na melhoria das competências físicas, motoras e técnicas, mas também no desenvolvimento das competências de vida dos atletas.
• Devem valorizar e fornecer feedback sobre o desenvolvimento integral dos atletas, além do desenvolvimento esportivo.
3. Proporcionar atividades de desenvolvimento de competências de vida
Implica: Explicar aos atletas como o esporte pode facilitar o desenvolvimento de competências de vida. Organizar situações esportivas onde os atletas possam aplicar essas competências. Favorecer o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de tomada de decisão sob pressão. Alunos e atletas que participam de atividades que envolvem decisões autônomas desenvolvem melhor capacidade de resolver problemas e atuar com autonomia (Côté, et al., 2019).
Não esquecer:
• Os agentes esportivos devem esclarecer de que forma o esporte contribui para o desenvolvimento de competências de vida dos atletas.
• Devem organizar atividades específicas que favoreçam o desenvolvimento de competências de vida dos atletas.
4. Aceitar que cada atleta é único na aprendizagem das competências de vida
Implica: Definir como o programa esportivo se adapta às características, particularidades e ritmos de aprendizagem de cada atleta.
Não esquecer:
• Os agentes esportivos devem ajustar os conteúdos esportivos (incluindo os voltados para competências de vida) às especificidades de cada atleta, garantindo oportunidades de aprendizado para todos.
• Devem fornecer feedback e oportunidades de aprendizagem de competências de vida para todos os atletas.
5. Envolver as famílias dos atletas no desenvolvimento das competências de vida
Implica: Definir como as famílias podem ajudar os atletas a desenvolverem e aplicarem de forma positiva as competências de vida aprendidas no esporte.
Não esquecer:
• Orientar as famílias sobre como podem colaborar no desenvolvimento de competências de vida dos atletas.
• Organizar atividades específicas que envolvam as famílias no desenvolvimento dessas competências.
3.3. Estratégias e Benefícios para o Desenvolvimento Juvenil
A pesquisa sobre Competências para a Vida (CV) no contexto esportivo destaca a importância dessas habilidades para a saúde, bem-estar, desempenho acadêmico e social dos jovens. Estudos recentes reforçam que o esporte, quando organizado de forma intencional e com foco em CV, contribui para o desenvolvimento pessoal e social dos atletas, aprimorando habilidades como trabalho em equipe, liderança, definição de metas e controle emocional (Ciampolini et al., 2020; Dias et al., 2015).
3.4. Pontos Essenciais
no Desenvolvimento de Competências para a
Vida
no Esporte
Pesquisas, como as de Sonjaya et al. (2024) e Freire et al. (2024), investigaram programas de CV e observaram melhorias significativas em jovens que participaram de atividades estruturadas para desenvolver habilidades de vida. Por exemplo, um programa de jogos aquáticos resultou em um aumento de habilidades como comunicação e resolução de problemas, enquanto uma análise longitudinal com jovens jogadores de handebol indicou que a qualidade da relação treinador-atleta potencializa o desenvolvimento de CV ao longo da temporada.
Além de habilidades físicas e técnicas, o desenvolvimento de CV envolve o fortalecimento de competências emocionais e sociais, fundamentais para a adaptação e sucesso em diversos contextos. Varney e Coakley (2023) evidenciaram que treinadores que priorizam a construção de relações de confiança e oferecem um ambiente de apoio e valores partilhados contribuem para uma experiência de aprendizado de CV mais eficaz.
O ensino de CV a partir de uma abordagem explícita pode potencializar o desenvolvimento de valores na Educação Física escolar (Ciampolini, et al. 2024). Sendo assim, considerações e reflexões são elencadas para auxiliar professores no processo de implementação desta proposta.
3.5. Abordagens para o Ensino de Competências para a Vida
Existem duas principais abordagens para o ensino de CV no esporte: a abordagem implícita e a explícita. Na abordagem implícita, as habilidades de vida são desenvolvidas de forma natural, durante
o treinamento, sem instrução direta dos treinadores. Por outro lado, a abordagem explícita envolve o ensino intencional e o feedback estruturado sobre as CV, o que tem se mostrado efetivo para maximizar o desenvolvimento dessas competências em jovens (Turnnidge et al., 2014; Camiré, 2023).
Para otimizar o impacto das CV, é recomendado que treinadores utilizem uma combinação dessas abordagens, proporcionando tanto atividades espontâneas quanto oportunidades de aprendizado intencional. Martin et al. (2021) identificaram que professores-treinadores conseguem facilitar a transferência de CV para a vida diária dos atletas quando atuam em ambos os contextos – esportivo e educacional – reforçando valores e práticas que favorecem o bem-estar e a adaptação social.
3.6. Exemplos práticos para a aplicação de Competências para a Vida no Cotidiano da Educação Física e Esporte
1. Definição de Metas: Em aulas e treinos, professores e treinadores podem incentivar a formulação de metas individuais e coletivas, como forma de fortalecer o comprometimento e o foco dos alunos. Um exemplo é o professor de educação física que estabelece metas claras de desempenho em uma atividade de resistência, incentivando os alunos a monitorarem seu progresso ao longo do semestre.
2. Trabalho em Equipe e Liderança: Organizar competições ou projetos em equipe onde cada membro assume uma função específica ajuda a desenvolver habilidades de liderança e cooperação. Em um projeto de basquete escolar, os estudantes podem ser responsáveis por funções como capitão, estrategista e mediador, refletindo posteriormente sobre a experiência.
A prática esportiva é um terreno fértil para o desenvolvimento de habilidades de liderança e
cooperação, fundamentais para o trabalho em equipe. Turnnidge e colaboradores (2019) destacam a importância de programas estruturados de esportes para o fortalecimento do senso de liderança, responsabilidade e cooperação.
Estruturar mentorias onde alunos mais experientes orientem novatos em atividades esportivas, com enfoque no desenvolvimento de resiliência e autocontrole. Exemplo: durante o treinamento esportivo, incentivar os alunos a lidarem com situações de pressão, como competições, discutindo como manter a calma e controlar o estresse.
3. Controle Emocional: A introdução de exercícios de respiração e reflexão durante os treinos ensina os atletas a gerenciar emoções, especialmente em situações de pressão, como uma competição ou apresentação pública.
A participação em esportes auxilia na construção de resiliência e autocontrole, elementos cruciais para o bem-estar e sucesso pessoal. Programas que incluem treinamento para lidar com frustrações, tanto em vitórias quanto derrotas, têm mostrado sucesso no fortalecimento dessas habilidades (Potts, et al., 2023).
Os esportes favorecem o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de tomada de decisão sob pressão. Alunos e atletas que participam de atividades que envolvem decisões autônomas desenvolvem melhor capacidade de resolver problemas e atuar com autonomia (Herbison et al., 2019).
4. Feedback Construtivo: Professores e treinadores devem proporcionar feedback que valorize não apenas o desempenho esportivo, mas também o esforço e o desenvolvimento pessoal. A utilização de uma rotina de feedback após os treinos permite aos atletas refletirem sobre seus pontos fortes e áreas para crescimento. Programas que combinam atividades físicas e discussões sobre autocuidado incentivam práticas de vida saudável, alinhando o aspecto físico ao bem-estar mental. Intervenções que incluem educação sobre autocuidado e saúde mental, como programas de
meditação e ioga em contexto escolar, mostraram impacto positivo na saúde mental de jovens (Durlak et al., 2015).
A implementação de Competências para a Vida na Educação Física e nos esportes é um investimento no desenvolvimento integral dos alunos. Incorporar atividades estruturadas e reflexões sobre essas habilidades promove uma formação que transcende o âmbito escolar, preparando jovens para os desafios da vida com base em evidências científicas sólidas e aplicáveis.
Para maximizar o impacto dos programas de CV, é fundamental que professores, treinadores e gestores adaptem as práticas esportivas às características dos jovens, fomentando um ambiente de aprendizagem contínuo e alinhado ao desenvolvimento integral. Essa abordagem não apenas favorece o desenvolvimento de competências para o esporte, mas prepara os jovens para os desafios da vida cotidiana, promovendo cidadãos mais resilientes e capacitados para o futuro.
Você pode buscar mais conhecimentos nas leituras:
Instituto Português do Desporto e Juventude
International Council for Coaching Excellence (ICCE) – O ICCE promove conteúdos sobre treinamentos esportivos e práticas pedagógicas para desenvolver treinadores e educadores esportivos globalmente. Disponível em: icce.ws
Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) – Uma das principais publicações acadêmicas no Brasil, focada em pesquisa e discussões sobre Ciências do Esporte e Educação Física, incluindo temas de Pedagogia do Esporte. Disponível em: rbceonline.org.br
Mais um passo concluído em busca da excelência para o ensino dos esportes que traga efeitos práticos na vida das crianças e jovens. Abordaremos a seguir, a relação das estratégias e métodos de ensino com os níveis de aprendizagem A intencionalidade e o cumprimento dos objetivos nas aulas e treinos, requerem a capacidade dos professores e técnicos de aplicarem um modelo de ensino que seja flexível ao ponto de permitir a mistura de estratégias para o êxito na consecução dos objetivos definidos no planejamento.
REFERÊNCIAS
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CIAMPOLINI, V. et al. Percepções sobre um projeto esportivo organizado para o desenvolvimento de habilidades para a vida. Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, v. 10, n. 1, 2020. ISSN 19819145. Available at: < https://dx.doi.org/10.31501/ rbpe.v10i1.11372 >
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RICARDO CATUNDA LÍVIA MARQUES QUIXADÁ
MÉTODOS PARA INICIAÇÃO À
APRENDIZAGEM DOS
ESPORTES
Quando você se reporta aos métodos de ensino pensa em aplicar estratégias eficientes já experimentadas, com base em um processo sistemático de pesquisa, organizado e rigoroso. Na promoção de aprendizagens no esporte onde os espaços de prática são geralmente livres, manter a disciplina pedagógica se transforma em desafio permanente pelos diferentes agentes externos a que esta ação é submetida, dentre outras, a estrutura física, os materiais, a formação contínua e atualizada do professor/técnico e o foco nas tarefas pelos participantes. Como princípio é fundamental que os gestores e os profissionais de Educação Física, compreendam o esporte para além das aulas de educação física, do treino, do lazer e do espetáculo, alargando seus conhecimentos para o fator desenvolvimento humano e ferramenta de educação.
Como exemplos, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (PNUD, UNICEF, UNESCO) reconhece o potencial do esporte para aproximar as culturas e sociedades, promover a paz, prevenir a violência, mobilizar públicos diferenciados, favorecendo a tolerância e o respeito entre as pessoas, empoderando especialmente as mulheres, os jovens e as comunidades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece o papel importante da educação física, e do esporte na promoção da atividade física para a saúde, lançando em 2018 o Plano de Ação Global para promover a atividade física. A Constituição Federal do Brasil (CF/1988) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) preconizam o esporte como direito assegurados à população infanto-juvenil, sendo ferramenta eficaz, desde que utilizado por profissional qualificado, para a inclusão social, igualdade de gênero, o respeito à diversidade cultural e étnicoracial, e direitos da Pessoa com Deficiência. Neste cenário é imperativo estabelecermos que, para o esporte cumprir com a sua nobre função social, é necessário que as crianças tenham oportunidades de aprendizagem no tempo certo.
Pelo contexto apresentado, visando a qualificação profissional no que refere ao ensino e aprendizagem, temos a intenção de trazer conhecimentos e experiências para o aprendizado da prática esportiva, partindo de um processo pedagógico com base em modelos e estratégias de ensino ativos e inclusivos. Me refiro de imediato, a um processo que deve ser desenvolvido em um ambiente apropriado e capaz de prover os participantes de motivação, técnica e confiança, por meio de uma intervenção profissional qualificada.
Para que o ensino tenha um percurso positivo, serão apresentados os princípios que regem as condições de uma aprendizagem exitosa para o esporte, as técnicas de ensino, a visão da Educação Desportiva, da aprendizagem pelo Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino, dos Jogos para a Compreensão e da inclusão dos diversos grupos, em especial as meninas, os menos habilidosos e as Pessoas com Deficiência. Por fim, identificar e fazer uso das competências para o ensino, necessárias para a melhor gestão do tempo de aula e do tempo potencial de aprendizagem.
4.1. Literacia Física para a aprendizagem dos esportes
Você sabe o que é Literacia Física? Veja que todos nós podemos desenvolver esta competência quando participamos de experiências motoras diversificadas e sob orientação técnica qualificada. Para que isto se concretize no esporte, que é uma ferramenta e para ser eficaz necessita da ação humana intencional, o profissional deverá ter conhecimentos e efetivá-los na prática. Esta afirmação se ancora na seguinte premissa: para que as crianças pratiquem um esporte são necessárias, primeiramente, desenvolver as habilidades motoras fundamentais e especializadas, possibilitando que demonstrem a percepção de competência motora aplicada em um contexto
esportivo. Leia o conceito a seguir e verifique o quanto esta ação carece da sua intervenção.
Literacia Física é o conhecimento, a motivação, a confiança, a compreensão e a competência motora para manter a atividade física ao longo da vida (WHITEHEAD, 2019). Diz respeito ao alcance de habilidades e capacidades, pois envolve o desenvolvimento e a conquista da saúde, da aptidão física e domínio de habilidades motoras, ou seja, além de conquistar competências físicas, saber utilizá-las de forma integral, trabalhando o corpo e o cognitivo (CAROLO; ONOFRE; MARTINS, 2023). Ser fisicamente letrado significa que uma pessoa possui um catálogo de habilidades técnicas, juntamente com a confiança e a motivação para participar de diferentes tipos de esportes e atividades físicas em todas as fases de suas vidas (SPORTS WALES, 2019).
4.2 Objetivos da Literacia Física:
• Auxiliar no desenvolvimento de habilidades e competências que permitam praticar variadas atividades físicas e esportivas;
• Promover e incentivar a conquista e a manutenção de níveis de atividade e aptidão física que promovam saúde e qualidade de vida;
• Contribuir para que as pessoas tenham uma visão abrangente do esporte como importante fator para interação social, saúde, auto expressão, superação e diversão;
• Fazer com que o participante saiba colocar em prática tudo que evolve a atividade física, utilizando os conceitos, os princípios e as estratégias;
• Conquistar uma atitude crítica, sendo responsável consigo mesmo e com a sociedade tendo uma visão individual e coletiva.
Fique atento!
Se você observar os princípios da atividade física, será possível identificar aspectos norteadores do esporte que tem atividade física constante durante a prática. Ou seja, o esporte é uma atividade física, tendo como diferença a existência de regras e competição.
Na sua intervenção o profissional poderá trabalhar por um desenvolvimento holístico dos participantes, utilizando-se de métodos e estratégias que proporcionem aprendizados físicos, como: habilidades motoras mais complexas, aptidão física e competência motora, mas também os benefícios da prática do esporte para a liberação de neurotransmissores que beneficiam a saúde mental. Para a aprendizagem futura do esporte, é fundamental o trabalho para formação de uma base para a literacia física na infância, proporcionando um clima acolhedor, positivo, inclusivo e desafiador, independente dos níveis que estes apresentem, estimulando-os a buscarem desenvolver suas capacidades.
Os jovens aos desenvolverem a literacia física, se movimentam com harmonia e confiança em uma ampla variedade de situações fisicamente desafiadoras; se antecipam à necessidades e possibilidades de movimento, respondendo adequadamente com inteligência e imaginação; apresentam auto expressão fluente, comunicação não verbal, interação perceptiva e empática com os outros (WHITEHEAD, 2019), sendo estes comportamentos aspectos positivos para a aprendizagem dos esportes
A bola está com você!
Para que se consolide o desenvolvimento da literacia física você deverá desenvolver a capacidade de aplicar uma abordagem inclusiva, visando o aumento da participação de todos o tempo todo e de todas as formas tendo atenção especial aos seguintes grupos:
• Pessoas com Deficiência, motivando a participação, descobrindo potencialidades, treinando, adaptando atividades, materiais e espaços;
• Meninas, zelando pela equidade com igualdade de oportunidades, respeito à coeducação e aprendizagem individualizada que ofereça multiexitos em multiespaços durante as práticas;
• Crianças que não desenvolveram habilidades motoras especializadas que são necessárias para praticar um esporte, oportunizando uma recuperação por meio de revisão de conhecimentos práticos específicos;
• Crianças com sobrepeso e obesidade, dedicando maior atenção para evitação do Bullying e propagação de estereótipos, adotando estratégias adaptadas, ampliando as oportunidades e níveis de complexidade de forma progressiva na mesma atividade.
Base para a Formação da Literacia Física
0 - 3 Anos
Incentivar prematuramente o movimento.
3 - 5 Anos
Expandir o jogo e manter as características lúdicas.
5 - 8 Anos
Aumentar o foco nas habilidades motoras fundamentais.
8 - 12 Anos
Introduzir as habilidades especializadas para o ensino dos esportes à medida em que as crianças estejam confiantes e preparadas.
ATENÇÃO!
Para que esta ação seja eficaz tornando as crianças e adolescentes fisicamente cultos, é necessário que sejam aplicados estímulos que caracterizem as atividades desenvolvidas.
Para mais conhecimento: O Que é a Literacia Física?
Princípios da Literacia Física
4.3. Organização do Processo de Ensino e Aprendizagem
Professores e técnicos em suas intervenções no campo profissional poderão refletir inicialmente nos seguintes aspectos: Intencionalidade e objetivos em cada aula ou treino;
Estratégias metodológicas, ações e comportamentos didáticos que serão aplicados nas atividades visando produzir altos níveis de participação, desafios, engajamento e aprendizagens;
Decisões eficazes para feedback dos participantes na consolidação da aprendizagem e cumprimento dos objetivos propostos na aula ou treino.
Agindo com este nível de interação você oportunizará experiências que gradativamente se tornarão mais complexas e desafiadoras, gerando aprendizado e evolução técnica dos aprendizes.
Fique atento ao Tempo Potencial de Aprendizagem, que é o tempo suscetível de promover a aprendizagem. Você deve proporcionar atividades desafiantes e ajustadas às capacidades de cada participante. É seu papel criar condições para que haja
um elevado tempo de empenhamento motor, que por sua vez é fundamental para que o indivíduo passe no mínimo 50% das aulas/treinos realizando atividade física de moderada à vigorosa na perspectiva da aprendizagem do esporte. Isto você aprenderá quando abordarmos os métodos de ensino, mas antes, vamos apresentar as Técnicas de Ensino que irão potencializar os níveis de aprendizagem dos participantes e otimizar o uso do tempo em suas aulas/treinos.
4.4. Técnicas de Ensino
Superando situações críticas para a qualidade das aulas/treinos.
Você perceberá que não existe uma técnica única que dê conta de todos os desafios que surgem no cotidiano da prática.
Seja um observador crítico de suas aulas/treinos pois somente você tem a capacidade de analisar o contexto em que atua para poder avaliar as circunstâncias e situações que serão determinantes na escolha de técnicas adequadas para cada momento.
Técnicas de Ensino adaptadas para situações nos esportes
Informação Inicial – É o início da aula/treino, onde você deve transmitir aos participantes os objetivos, a estrutura e a organização da atividade.
• Começar no horário.
• Informação inicial breve e concisa, consumindo o menor tempo possível.
• Estabelecer relação das aulas/treinos anteriores com o trabalho que você irá desenvolver.
• Garantir a atenção e concentração de todos durante a informação inicial.
• Posicionar-se de forma a ser visto e a ver todos.
• Certificar-se que a mensagem é compreendida, privilegiando questionamentos.
Instrução – Consiste na apresentação das atividades de aprendizagem ao grupo e representa 15% a 25% das interações entre você e os participantes.
Deixe bem claro o que pretende fazer, para que irá fazer a atividade e como esta será desenvolvida.
O quê? Para quê? Como?
O quê? A atividade a ser realizada.
Para quê? Apresentar o objetivo e a finalidade da atividade.
Como? Descrever a atividade escolhida para alcançar os objetivos.
Importante!
Planejar cuidadosamente a explanação das instruções é de suma importância para otimizar o tempo disponível à prática da atividade, devendo serem observadas as seguintes questões:
• Qualidade da informação em pouco tempo.
• Visualização da demonstração pelos participantes.
• Demonstrar corretamente a habilidade.
• Contextualizar onde a habilidade será utilizada.
• Demonstrar diferentes velocidades e formatos até atingir o objetivo.
• Diversificar os participantes que demonstram.
• Destacar os critérios de êxito.
• Planejar com cuidado a demonstração.
Organização - Gerencie a formação de grupos; circulação dos participantes nas situações de aprendizagem; a distribuição e arrumação de materiais e equipamentos, os momentos de interrupção e a transição para o reinício das atividades.
Como potencializar a dinâmica da atividade reduzindo o tempo de organização:
• Criar rotinas a partir das primeiras aulas/treinos.
• Responsabilizar os alunos proporcionando atividades organizativas.
• Ter clareza, consistência e positividade nas intervenções.
• Correta e segura montagem e desmontagem do material.
• Rapidez na formação de grupos de trabalho.
• Rapidez nas transições entre atividades evitando dispersões ou que se sentem.
• Gestão adequada do fluxo das atividades.
Controle das atividades dos participantes
O objetivo aqui é regular as atividades para obter o máximo de envolvimento dos participantes, garantindo a segurança e um clima propício ao trabalho. A disciplina pode ser definida por pontos de vista diferentes como positivo e negativo. Os participantes vão experimentando e aprendendo o que é correto ou não, seja seguindo as regras ou falhando com as mesmas.
Garantir uma prática adequada, empenhada nas tarefas e segura:
• Deixar clara as regras das aulas/treinos.
• Definir e ensinar para um comportamento apropriado.
• Variar métodos de intervenção, prevenindo e não remediando.
• Utilizar interações verbais dissuasivas (repreensões), imediatas e eficazes.
• Ignorar o comportamento inapropriado quando possível.
• Utilizar de correções específicas, justas e eficazes.
• Não utilizar a atividade física como forma de castigo.
Clima Relacional
Relação Professor-Aluno/atleta
• Conhecer e interagir.
• Demonstrar entusiasmo com a atividade e o aprendizado.
• Garantir coerência e consistência na interação.
• Ser honesto, íntegro e respeitoso.
Relação Aluno/atleta-Aluno/atleta
• Promover a convivência, empatia, amizade e tolerância.
• Garantir o respeito pela diferença, inclusão e equidade.
• Incentivar a colaboração e a busca de soluções envolvendo todos do grupo.
Relação Aluno/atleta-Tarefa
• Assegurar que os alunos/atletas atribuam significado às propostas de aprendizagem.
• Proporcionar uma prática motora diversificada.
• Garantir atividades técnicas desafiantes.
• Adaptar atividades para gerar inclusão.
• Garantir que os alunos/atletas tomem decisões e consentir quando apropriado.
• Garantir que os alunos/atletas se sintam seguros, apoiados e sem receio de errar.
No link abaixo você terá acesso ao livro
“Educação Física Escolar: Referenciais para o Ensino de Qualidade” (CATUNDA e MARQUES, 2017).
O capítulo Técnicas de Ensino para uma Educação Física de Qualidade (GOMES, MARTINS e CARREIRO DA COSTA) foi a fonte de referência para o tópico tratado aqui sobre as Técnicas de Ensino para o Esporte.
Educação Física Escolar: Referenciais para o Ensino de Qualidade
4.4. Métodos e Modelos de Ensino
Apresento agora sugestões de métodos e modelos de ensino para sua apreciação. Você terá a liberdade de promover adaptações em conformidade com as características do seu grupo, recursos materiais, espaço físico e intencionalidade das aulas e treinos.
Dicas para aplicação
A mistura de estratégias de ensino deve ser praticada por você como um exercício de autonomia e criatividade.
Seja ousado e flexível não se deixando permanecer somente repetindo os modelos, mas agindo como protagonista, reinventando e experimentando as diversas formas de aplicação sugeridas.
A partir das experiências vividas você será o autor de suas próprias práticas e terá a capacidade de promover adaptações em conformidade com o progresso de seus alunos/atletas.
Trabalhe sempre a progressão das atividades em nível de intensidade e complexidade.
A cada aula/treino inicie a atividade seguinte com uma revisão do que foi praticado no encontro anterior. Isto reacende o interesse e a memória motora dos participantes.
4.5. Estratégias para aplicação do Modelo de Educação Desportiva, o Teaching Games for Understanding (TGfU) e o Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino (MARE)
Modelo de Educação Desportiva
Para pensarmos uma formação esportiva que proporcione uma prática duradoura e marcada pela motivação e protagonismo dos participantes, as primeiras experiências práticas devem promover sentimentos positivos, despertar confiança, serem vivenciadas em ambientes seguros e sob a supervisão de um profissional qualificado para uso eficaz do esporte como ferramenta de desenvolvimento humano. Como você interpreta esta afirmativa? Para Mesquita (2012), independemente do contexto da prática desportiva e do nível de habilidade dos praticantes, a formação desportiva deve ser capaz de responder a essas prerrogativas, contribuindo para tal, e em definitivo, com os procedimentos didáticos implementados pelos professores ou treinadores.
A transferibilidade para a vida das aprendizagens vivenciadas no esporte é considerada um aspecto importante para o caráter formativo e educativo. Para que ocorra esta ação, além de um planejamento com base na intencionalidade e clara definição de objetivos, os autores da Educação Desportiva afirmam ser papel do profissional aplicar estratégias de instrução mais informais, valorizando a dimensão humana e cultural do esporte. Um ponto de atenção será você enfrentar o desafio de manter o rigor dos pressupostos existentes nos modelos de ensino, e ao mesmo tempo reconhecer a importância de democratizar a competição inerente ao esporte, assumindo o compromisso pedagógico entre aprendizagem, inclusão e competição.
O Modelo de Educação Desportiva tem como premissa um esporte plural, onde cada um participa de acordo com suas possibilidades e interesses. Entende que a competição tem um valor esportivo insubstituível, sendo esta uma prioridade natural para quem treina. Na prática, o impacto se efetiva por meio de cinco domínios, a saber: Desenvolvimento das habilidades; Consciência tática e competência para jogar; Aptidão física; Desenvolvimento pessoal e social; Atitudes dos alunos e valores (HASTIE, 2011).
Como estratégia pedagógica, você deve promover situações em que os praticantes aprendam a analisar, perceber e agir para a tomada de decisões acertadas. Esse estado de compreensão é determinante e depende da forma como ocorre a comunicação professor-aluno/atleta.
Como fazer?
Durante as atividades em grupo acrescente desafios menos e mais complexos de forma progressiva e em conformidade com o nível dos participantes, de modo que eles possam se reunir, discutir melhores soluções e praticar para verificar se as decisões tomadas são as melhores.
Como exemplo: aplicar habilidades desportivas de ataque e defesa.
Organize os participantes em dois grupos e delimite o campo de prática dividindo em três espaços para os participantes se localizarem em defesa, meio e ataque, dividindo em três e incluindo grupos
A e B juntos em cada um desses espaços para o jogo. Observe se a organização das equipes está clara na ocupação dos espaços.
Inicie a atividade e realize rodízios de modo que todos possam experimentar a aplicação de habilidades para defender (defesa), linha de passe, troca de passes e lançamentos (meio) e atacar (ataque).
Antes de iniciar a atividade, conceda um tempo de 2 minutos para que os dois grupos montem suas estratégias de jogo.
Inicie as atividades e defina um tempo para fazer o rodízio dos campos de jogo, podendo ser o comando “rodízio” e todos devem mudar de espaço na seguinte ordem: defesa vai para o meio, o meio para o ataque e o ataque para a defesa. Reinicie a atividade!
Após iniciar o jogo observe o desenvolvimento da atividade e indague os participantes sobre a necessidade de um “tempo técnico” para reorganização e novas estratégias. Não será permitido sair do grupo inicial do espaço de jogo.
A cada retomada do jogo verifique se há progressão em nível de organização e aplicação da técnica e da tática.
Após a experimentação faça uma parada técnica para que os grupos se reorganizem em times e pratiquem o jogo livre sem as delimitações de espaço. Ofereça ao final uma roda de conversa para escuta dos participantes e recomendações de sua parte.
Esta atividade se aplica para a formação desportiva de base possibilitando aos participantes o exercício da autonomia, liderança, responsabilidade e aplicação técnica pela experimentação real sob pressão própria do jogo e pela orientação dos professores.
Teaching Games for Understanding (TGfU)
A proposta do Teaching Games for Understanding (TGFU) compreende os jogos reduzidos como um princípio para a iniciação esportiva. Para autores que seguem esta linha teórica, a prática destes jogos contribui para a compreensão da lógica tática do jogo formal. Para Light (2007), aulas de iniciação esportiva que se baseiam no ensino de habilidades técnicas, estruturadas a partir da repetição de gestos, geram pouco interesse nos alunos. Esta afirmativa faz você pensar sobre suas práticas? Consegue refletir sobre o nível de motivação e engajamento de seus alunos/atletas nas atividades que propõe? Como vimos, o processo de aprendizagem esportiva requer que sejam desenvolvidas competências para a resolução de problemas e tomadas de decisão em situações de pressão próprias da prática esportiva. Aqui veremos que o TGfU é uma possibilidade aplicável!
Para apresentar uma outra opção ao exercício monótono das repetições de técnicas esportivas isoladas do contexto de sua aplicação, ou seja, do jogo, recorremos aos autores Bunker e Thorpe (1982). Estes autores propuseram na Inglaterra a implementação de uma proposta pedagógica a partir da insatisfação com os modelos pedagógicos esportivos que tinham o tecnicismo como principal característica. Neste contexto, apresentaram uma nova concepção para o ensino baseada no entendimento, compreensão, reflexão e problematização de elementos estruturais dos próprios jogos.
Os estudos de Mitchell, Oslin e Griffin (2003) afirmaram com base no TGfU, que as crianças aprendem a solucionar os problemas táticos durante a vivência do jogo. Para que a intervenção atinja os objetivos propostos, você deverá analisar as ações dos alunos durante os jogos e manter o foco em como lidar com os aspectos táticos do
jogo, para em seguida preparar uma sequência de atividades que possam solucionar possíveis problemas por você identificados.
Como se aplica o
Teaching
Games for Understanding?
A proposta foi dividida em 6 etapas:
1. De acordo com o nível dos alunos, será introduzida uma forma completa ou simplificada do jogo a fim de promover uma maior apropriação de seu funcionamento e o envolvimento inicial dos praticantes com os seus problemas;
2. Corresponderá à reflexão sobre lógica interna do jogo (regras, dinâmica, funcionamento), na qual os próprios alunos/atletas fariam suas considerações sobre a prática;
3. Referente à conscientização tático-estratégica, os alunos/atletas seriam estimulados a refletir, identificar e propor soluções práticas para os problemas de ataque e defesa do jogo;
4. Compreenderá a contextualização da tomada de decisão, como, por exemplo, definições sobre o que se fazer com ou sem a posse da bola, onde se colocar em determinada situação, como fazer determinados movimentos, etc;
5. Indicará o desenvolvimento das técnicas de jogo necessárias para um bom desempenho a partir dos problemas encontrados em etapas anteriores;
6. Será realizada a avaliação da performance dos alunos e a preparação de um jogo, com maior complexidade, para o início de um novo ciclo.
Veja como aplicar o TGfU na prática assistindo a esta vídeo aula:
Para saber mais consulte os links abaixo: Uma visão integrada do modelo teaching games for understanding: adequando os estilos de ensino e questionamento à realidade da educação física
Visão integrada
Princípios pedagógicos do modelo teaching games for understanding: uma visão praxiológica sobre o ensino para compreensão do esporte
Princípios pedagógicos
Modelo Ativo e Reflexivo de Ensino (MARE)
Desenvolvido por meio de experimentações em uma pesquisa de campo por intervenção nas aulas de educação física, com base no Ensino Aberto e na problematização de situações e suas superações pelos alunos/atletas. Estas estratégias de ensino utilizam pressupostos das Metodologias Ativas com a intenção de aplicação a todos os conteúdos da educação física, em particular ao ensino do esporte (CATUNDA, 2019). O Modelo apresenta como objetivo capacitar os participantes para a prática vitalícia das atividades físicas, promovendo a auto percepção de competência motora pelo desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais e especializadas, esta última, necessária para que as crianças aprendam a praticar esportes.
O modelo foi criado após uma investigação que promoveu intervenção prática em escolas por meio de atividades controladas, propostas em ambiente educativo, adequado e desafiador. Os resultados permitiram concluir, que a interação aplicada pelos professores durante as atividades, como: instrução eficiente, controle da atividade, gestão do tempo, motivação, foco na tarefa, criação permanente de novos desafios
durante a prática, transição rápida, atenção para a participação dos alunos corrigindo se necessário, promoveram a melhora na literacia física que é base para a aprendizagem dos esportes.
Por ocasião do desenvolvimento das atividades foi constatado que, o uso da comunicação positiva, a aplicação das Técnicas de Ensino, a atenção para a adaptação dos espaços, a variedade de material pedagógico e o conhecimento de estratégias de ensino ativas, aumentaram os níveis de participação e o engajamento nas tarefas por parte dos participantes.
Na conclusão do estudo verificamos avanços na tomada de decisão e reconhecimento da visão e organização tática e na execução das habilidades. Você considera possível que a aplicação do modelo de ensino ora apresentado possa prover seus alunos/atletas de motivação, compreensão e confiança para aprender, praticar e treinar o esporte que desejar com segurança?
Veja a seguir como o MARE se desenvolve na prática!
Características
1. É um modo de ensinar por trilhas flexíveis e criativas misturando estratégias de ensino e modificando permanentemente a atividade, sempre que baixar o nível de interesse ou os participantes já demonstrarem ter aprendido.
2. Alta interação do professor/técnico junto aos participantes, promovendo a motivação e ampliando o interesse nas atividades. Requer comunicação com os participantes durante a execução das tarefas, promovendo correções, destacando os êxitos e demonstrando interesse pela aprendizagem destes.
3. Centrado na realização e cocriação, o aluno também é criador de tarefas mediadas pelo professor. Permitir e incentivar aos participantes utilizarem a criatividade na realização das tarefas trará ganhos.
4. Valorização de desafios constantes a professores e alunos. Desafie os participantes e se imponha desafios mantendo a atividade renovada.
5. Inclusão de todos, o tempo todo e de todas as formas no processo de aprendizagem. Faça as devidas adaptações às atividades de modo que haja participação em conformidade com os níveis de competência motora.
6. Organização das atividades prioritariamente em grupos, com variações no número de participantes e condições de amadurecimento motor.
7. Aprendizagem por times incluindo a escolha de lideranças pelos alunos. Crie times permanentes nas atividades para que os participantes se conheçam e se ajudem mutuamente.
8. Oportunidade constante para a tomada de decisão e resolução de problemas. Inclua nas transições de atividades um problema a ser resolvido.
9. Controle do tempo e manutenção do foco para realização das tarefas.
10. Possibilidade aberta e híbrida de estratégias, métodos e técnicas de ensino, mantendo os objetivos a serem alcançados na aula ou treino. Misture as estratégias e métodos pois não existe fórmula certa ou única, você decide a sua.
11. Atenção aos níveis de atividade física e aprendizagem declarada pelos alunos ou atletas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a maioria dos jovens não cumprem o mínimo de 60 minutos de atividade física diária. As aulas e treinos são importantes para que sejam ativos. Faça sua parte!
4.6. Fixando a aprendizagem a partir do “como fazer”
O MARE requer uma intensa interação professor/ aluno; aluno/aluno; aluno/tarefa para que ocorra altos níveis de aprendizagem. Para o êxito na proposição e realização das tarefas é fundamental que o professor/técnico se apresente com boa
entonação de voz, postura atenta ao que ocorre nas atividades e intervindo quando necessário. Para que a atividade seja bem recebida pelos participantes no início da jornada, demonstre e promova motivação; faça correções; redefina a tarefa logo que perceber a necessidade de maior energia do grupo, prezando pelo baixo tempo de transição e de organização da atividade. Desafie os participantes à aplicação de ações similares em contextos diferentes, apresentando situação problema para que seja resolvida coletivamente, concretizando os objetivos inicialmente definidos e avaliando a aprendizagem por meio de observação e feedback.
Na prática!
Vejamos o exemplo do conteúdo “Agilidade na prática do Esporte”. Como aplicar?
Iniciamos com informações básicas definindo o que iremos ensinar: A agilidade é a habilidade de mudar a posição do corpo de maneira eficaz. É uma qualidade que se atribui a uma pessoa que obtém um controle total das partes do corpo e pode se mover com rapidez, eficácia e destreza. É fundamental você ensinar sobre os conceitos no início das práticas.
Material: Cones e bolas.
Como fazer?
• Inicie uma conversa com os participantes sobre a importância do desenvolvimento de habilidades como a agilidade motora para a aprendizagem dos esportes.
• Na organização da atividade forme três grupos e distribua o maior número de bolas para um dos grupos. Posicione os três grupos em filas paralelas e ao meio e à frente uma fileira com três cones distantes um dos outros aproximadamente três metros, localizados na diagonal, centro e diagonal oposta. Um aluno deve iniciar a atividade no gol.
• A fileira 1 ficará de posse de bola e o primeiro aluno sairá conduzindo a bola em linha reta, ao mesmo tempo que o aluno da fileira 2 sairá em direção ao gol, tendo que tocar nos três cones e o aluno da fileira 3 substituirá o aluno do gol.
• O aluno de posse de bola deve tocar para o aluno que passou pelos cones para que esse chute à gol.
• Ocorrerá troca, independentemente de haver ou não gol, da seguinte forma: O aluno da fila 1 vai para a fila 2, o aluno da fila 2 vai para a fila 3 e o aluno da fila 3 vai para a fila 1.
• O professor deve atentar para que a informação inicial e instrução sobre a atividade fique bem entendida por todos. Faça uma demonstração com a participação dos alunos.
• Verifique o ritmo da atividade certificando-se que os alunos estejam engajados na tarefa. As fileiras devem permanecer ATIVAS!
Experimente a inclusão de desafios ampliando o nível de complexidade da tarefa:
Desafio 1: O aluno que toca a bola para o chute do colega faz uma oposição tentando impedir o gol.
Desafio 2: Os dois de cada equipe que chegarem ao meio devem formar uma dupla de ataque enquanto um terceiro tenta defender o gol.
Desafio 3: Sair em direção ao gol dois alunos das fileiras 1 e 2 e um aluno da fileira 3 (goleiro) 1 e 2 disputam a bola trocando passes para tentar o chute à gol.
Desafio 4: O aluno criará um desafio para realizar.
Exercitando a criatividade:
Aqui os alunos/atletas irão propor mudanças para a atividade e experimentar. Em seguida compartilhar com o outro grupo, que também compartilhará a experiência deles.
Reflexão final
Você recebeu conhecimentos sobre como aplicar métodos de ensino e promover aprendizagem dos esportes em seus alunos/atletas. Os métodos são um conjunto de ações que utilizamos para alcançar os objetivos traçados para as aulas ou treinos e requerem atenção, compromisso, respeito, criatividade, adaptabilidade e flexibilidade de pensamento. Além de uma base teórica para suas intervenções, apresentamos formas de aplicação e exemplos de atividades, mas somente você será capaz de aplicar este conhecimento em uma intervenção profissional de qualidade, transformando as pessoas e promovendo aprendizagem esportiva em que os participantes aprendam e utilizem para toda a vida.
Leituras recomendadas
Ensino de Esportes por meio de Jogos: Desenvolvimento e Aplicações.
Uma visão integrada do modelo teaching games for Understand
Carta Internacional da Educação Física, da Atividade Física e do Esporte (UNESCO)
OPAS. Plano de Ação Global para a Atividade Física e a Saúde.
REFERÊNCIAS
BUNKER, D., & THORPE, R. A model for the teaching of games in secondary schools. Bulletin of Physical Education, 18(1), 5-8. 1982.
CAROLO, D.; ONOFRE, M.; MARTINS, J. Origens e definição do constructo de literacia física: da compreensão conceptual à criação coletiva de um referencial europeu. Retos: nuevas tendencias en educación física, deporte y recreación, n. 48, p. 761-774, 2023.
CATUNDA, R. Relatório de Estágio Pós Doutoral. Universidade de Lisboa, Pt. 2019.
CATUNDA, R.; MARQUES, A. Educação Física Escolar: referenciais para o ensino de qualidade. Belo Horizonte, Casa da Educação Física, 2017.
HASTIE, P. The Nature and Porpose of Sport Education na as Educational Experience. In Hastie, P. (Eds.) Sport Education: International Perspectives (pp.1-12). London: Routledge.
LIGHT, R. Accessing the inner world of children: The use of student drawings in research on children’s experiences of Game Sense Proceedings In: The Asia Pacific Conference on Teaching Sport and Physical Education for Understanding. 2007. p. 72-83. Disponível em: http://www.proflearn. edsw.usyd.edu.au/resources/papers/Proceedings_TGfU_06_AsiaPacificSport.pdf
MESQUITA, I.; BENTO, J. Professor de Educação Física: Fundar e Dignificar a Profissão. In. Subsídios para a aplicação do Modelo de Educação Desportiva no ensino do desporto nas aulas de educação física. Rolim, R., Mesquita, I. Belo Horizonte,: Instituto Casa da Educação Física, 2012.
MITCHELL, S.; OSLIN, J.; GRIFFIN, L. Sport fundations for elementary Physical Education: a tactical games approach. Kent, Ohio: Human Kinetics, 2003.
SPORTS WALES. Esporte e estilos de vida ativos –relatório sobre o estado da nação. 2019.
WHITEHEAD, M. (Org.) Letramento Corporal: ativi dades físicas e esportivas para toda a vida. Porto Alegre, Penso, 2019.
JÚLIO CÉSAR GOMES DA SILVA KALINNE FERNANDES SILVA
O ENSINO DO ESPORTE EM CONTEXTOS ESCOLARES, LAZER, PROJETOS SOCIAIS E
CLUBES ESPORTIVOS
Oesporte é um elemento sociocultural com particularidades complexas e dinâmicas que seguem o processo evolutivo da sociedade. A prática esportiva desenvolvida na escola, em projetos socioeducativos e até mesmo em clubes esportivos promovem o desenvolvimento de qualidades sociais e morais e a aptidão física, sendo considerado uma ferramenta importante para manutenção da saúde. Dessa forma, aqui abordaremos princípios importantes do ensino do esporte em clubes esportivos, escolas e projetos socioeducativos, além da historicidade e evolução da prática esportiva como ferramenta de lazer no Brasil. Vamos iniciar localizando como o esporte se desenvolve em um ambiente privilegiado como a escola, espaço que conta com a intervenção obrigatória de um profissional de Educação Física, o que traz maior segurança para este importante período da vida por se tratar de uma intervenção profissional direcionada às crianças e adolescentes em formação. Para além de conteúdo nas aulas de educação física, na escola o esporte está presente por exemplo, em escolinhas esportivas, projetos, treinamento de equipes e competições como os jogos escolares. Certamente pelas condições e objetivos voltados à educação a escola é recomendada como um ambiente seguro para a aprendizagem do esporte.
5.1.
O Esporte
como conteúdo pedagógico na Educação
Física Escolar
O esporte é um conteúdo pedagógico que proporciona diversos benefícios para os seus praticantes e está inserido nas instituições de ensino atribuindo valores na formação educacional dos alunos (COSTA et al., 2018). Compreende-se que o esporte
é um fenômeno sociocultural presente em cenários diferentes, como por exemplo: escolas, clubes, prefeituras, organizações não-governamentais (ONGs), e permite aos seus participantes dar múltiplos sentidos e significados a essa prática (LEONARDI et al., 2021).
O esporte na escola tem um caráter formativo, que pode ser subdividido em: esporte educacional e esporte escolar (TUBINO, 2006). O esporte educacional é baseado em conceitos e princípios educacionais, como a coeducação, cooperação, responsabilidade, inclusão e participação (COSTA et al., 2018), já o esporte escolar tem como característica os conceitos abordados pelo esporte na escola, o qual proporcionam uma aproximação com o esporte de rendimento.
Na perspectiva do esporte educacional, o perfil do professor de educação física está diretamente associado ao processo de aprendizagem dos alunos, segundo Lorenzini et al. (2015) os mesmos devem mostrar uma proposta de conceitos referentes à inclusão dos alunos nas aulas, compreendendo as possibilidades que podem ser utilizadas nas suas metodologias, realizando uma autoavaliação referente à sua prática e acompanhar a evolução dos alunos, oportunizando a todos a participação nas aulas.
Na Educação Física Escolar os professores utilizam como instrumento norteador a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica (BRASIL, 2018). Seguindo os pressupostos da BNCC o ensino fundamental é dividido em: Anos iniciais (1ª ao 5ª ano) e anos finais (6ª ao 9ª ano), no quadro 1 é possível visualizar os objetos de conhecimento relacionados a unidade temática esportes para cada ano do ensino fundamental.
Quadro 1. Esportes como unidade temática e objetos de conhecimento de acordo com os anos iniciais e finais do ensino fundamental.
UNIDADE TEMÁTICA: ESPORTES
1ª e 2ª ANOS
3ª ao 5ª ANO
6ª e 7ª ANOS
8ª e 9ª ANOS
Fonte: Base Nacional Comum Curricular, 2018..
Dessa forma, os professores tendo o conhecimento do tipo de esporte que pode ser aplicado em cada ano do ensino fundamental devem buscar ensinar o esporte na escola com a utilização de princípios que não promovam a comparação entre os alunos e com isso poderão promover melhoras no desenvolvimento motor e socioafetivo (COSTA et al., 2017). Dessa forma, é essencial que o professor de educação física na escola ensine os gestos técnicos esportivos, sem evidenciar a especialização, pois este deve apresentar as finalidades pelos quais cada gesto técnico é necessário e em quais momentos ocorrem sua execução no jogo, promovendo a reflexão dos alunos (COSTA et al., 2018).
Assim, a prática de esportes na escola é fundamental para o desenvolvimento integral, além de contribuir para a formação de habilidades sociais, como trabalho em equi-
OBJETOS DE CONHECIMENTO
Esportes de marca
Esportes de precisão
Esportes de campo e taco
Esportes de rede/parede
Esportes de invasão
Esportes de marca
Esportes de precisão
Esportes de invasão
Esportes técnico-combinatórios
Esportes de rede/parede
Esportes de campo e taco
Esportes de invasão
Esportes de combate
pe e respeito ao próximo. A prática esportiva promove melhoras na atenção e disciplina (POLEVOY et al., 2024), que são fatores essenciais para o aprendizado acadêmico. Portanto, promover a prática esportiva nas escolas é uma estratégia eficaz para preparar as crianças e adolescentes para os desafios da vida.
Ao investir em atividades esportivas, as instituições de ensino não apenas promovem o bem-estar dos alunos, mas também cultivam um ambiente mais saudável e colaborativo.
Em suma, o esporte na escola é a base para a participação em atividades socialmente relevantes como veremos a seguir e uma ferramenta poderosa para formar cidadãos.
Para ampliar seus conhecimentos veja o Link: Ensino do esporte na escola
Ensino do esporte na escola
5.2. O ensino do esporte em projeto socioeducativo
Os projetos socioeducativos são ações que visam promover a educação e o desenvolvimento social de indivíduos ou grupos, principalmente aqueles em situação de risco/vulnerabilidade social (CASTAMAN; MACHADO, 2020). Esses projetos socioeducativos podem incluir atividades educativas, culturais, esportivas e de capacitação profissional, buscando estimular o protagonismo, a inclusão social e a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com a sociedade (FERREIRA; MARRERO, RAMOS, 2019).
Nessa perspectiva, os projetos socioeducativos que envolvem o ensino do esporte, podem ser realizados por organizações não-governamentais (ONGs), instituições governamentais, escolas e outros parceiros da comunidade, e em sua maioria abrangem a colaboração de educadores, assistentes sociais e voluntários (KRAVCHYCHYN; OLIVEIRA, 2015). Dentre os principais objetivos dos projetos socioeducativos esportivos, destaca-se a “educação e formação” oferecendo às crianças e adolescentes oportunidades de aprendizado e desenvolvimento de habilidades motoras básicas e esportivas, o “desenvolvimento pessoal” fomentando autoestima, autoconhecimento e cidadania e “prevenção da violência” criando alternativas para crianças e jovens em risco, evitando comportamentos violentos (CORTÊS NETO et al., 2015).
Atualmente, os projetos socioeducativos esportivos, embora não substituam o que é realizado na escola, ainda são empregados com a finalidade de preencher o tempo livre de crianças e jovens, principalmente no contra turno escolar, de modo a tirá-los das ruas, no contexto do uso de drogas e de más influencias (HIRAMA; MONTAGNER, 2012; FERREIRA; MARRERO, RAMOS, 2019).
Dessa forma, um projeto socioeducativo esportivo deve ter continuidade e profundidade, o que torna desejável que o professor tenha uma formação
inicial consistente e participação permanente em cursos de atualização, além de um conhecimento profundo sobre a modalidade esportiva que se propõe a ensinar.
O ensino dos esportes em projetos socioeducativos baseia-se nos referenciais “socioeducativos” e “tático-técnicos” (KRAVCHYCHYN; OLIVEIRA, 2015). No referencial socioeducativo, os professores devem preparar suas aulas estimulando o desenvolvimento e promoção da saúde, autonomia, cooperação, socialização e cidadania, bem como a inibição do uso de drogas, e deve ser enfatizado conteúdos relacionados ao bem-estar individual e coletivo dos alunos e aos aspectos éticos (MARQUES et al., 2016).
Já no processo de ensino tático-técnico dos esportes, os professores devem estimular a prática dos fundamentos técnicos e aspectos táticos relacionados à modalidade, e inserirem os alunos na participação em gincanas e festivais, procurando desmistificar que essas ações podem promover malefícios à formação esportiva, principalmente considerando os aspectos voltados a adesão e permanência dos alunos no projeto socioeducativo (KRAVCHYCHYN; OLIVEIRA, 2015).
Em relação ao perfil do professor em um projeto socioeducativo esportivo, esse deve ser um facilitador do aprendizado com habilidade para transmitir o conhecimento de forma acessível e está sempre preocupado com o desenvolvimento integral do aluno (HIRAMA; MONTAGNER, 2012). Isso está relacionado não apenas a ensinar o movimento específico de uma modalidade esportiva, mas da pretensão de ver o aluno aprendendo. Além disso, o professor deve ser conhecedor dos direitos humanos e das políticas públicas que enfatizam o ensino do esporte em projetos socioeducativos e demonstrar o interesse em compreender e se vincular com a realidade dos alunos mantendo a proximidade em que a afetividade, a atenção e disponibilidade para ensinar mostram-se integralmente (KRAVCHYCHYN; OLIVEIRA, 2015).
Dessa forma, os projetos socioeducativos esportivos devem ser algo para além de tirar as crianças e jovens da rua, mas um mediador de aprendizado e desenvolvimento pessoal e de habilidades motoras básicas e esportivas. Além disso, os projetos socioeducativos esportivos devem contar com profissionais qualificados que compreendam a realidade dos alunos, estimulem a participação nas atividades esportivas, buscando evidenciar o protagonismo, a inclusão social e a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com a sociedade.
Sugerimos que assista aos vídeos a seguir na perspectiva de ampliar a sua visão sobre o tema
Vídeo 1: Projetos esportivos de inclusão social – Câmara dos deputados
Vídeo 2: Projeto social esportivo em comunidade carente de Balneário Camboriú
Leitura 1: Ministério do Esporte fomenta projetos sociais que transformam vidas através do movimento
Plano de aula de esporte em projeto socioeducativo
5.3. O ensino do esporte em clubes esportivos
O processo de urbanização das cidades, o elevado crescimento da população e o aumento da violência conjuntamente com a falta de segurança, tem reduzido consideravelmente os espaços destinados à recreação, que antes eram utilizados pelas crianças e jovens para prática de esporte informal
(OLIVEIRA et al., 2014). Assim, os clubes esportivos têm se expandido no Brasil, pois são considerados locais seguros, e geralmente tem o acompanhamento de um treinador graduado em Educação Física que proporciona maior conhecimento tático-técnico e bem-estar aos participantes (ROSA; BORGES; FRAGA, 2020).
Os clubes esportivos são instituições fundamentais na promoção da atividade física e do bem-estar social. Nos últimos anos tem crescido a quantidade de clubes esportivos e de escolas brasileiras da rede privada que oferecem aulas esportivas como atividades opcionais no contra turno de crianças e adolescentes, as quais são denominadas de “esporte escolar”, “escolinhas esportivas” ou “turmas de treinamento” (TERRAGNO; GINCIENE, 2021). As sessões de treinamento em clubes esportivos devem ter uma sequência coerente, com treinos adaptados para cada faixa etária, nível técnico, e os treinadores devem estimular o atleta constantemente na prática da modalidade esportiva (FONTANA et al., 2013).
Os clubes esportivos objetivam promover a formação de novos atletas e a aproximação das crianças e adolescentes. Dessa maneira, proporciona diversos benefícios coletivos e individuais para os praticantes, tais como: inibe a inatividade física, promove o desenvolvimento do trabalho em grupo, auxilia na formação de valores, estimula o entendimento de regras e a melhora o convívio social (BRACHT, 2015).
Considerando as características e a complexidade dos esportes é possível identificar que ensinar modalidades esportivas de uma forma que garanta a atuação eficiente dos atletas, não é uma tarefa fácil (OLIVEIRA et al., 2014). Para que os treinadores tenham êxito em sua função torna-se pertinente dar atenção ao tipo de tarefa, que nada mais é do que as atividades que são propostas aos atletas (ROSA; BORGES; FRAGA, 2020). Como González e Bracht (2012) relatam, a atividade pode envolver grau de dificuldade, nível de esforço e tem-
po determinado para execução. Na área esportiva essas atividades correspondem aos jogos, educativos e exercícios, podendo ser utilizadas para solução de problemas vinculados tanto à técnica
quanto à tática. Os tipos de tarefas no processo de ensino do esporte de acordo com González e Bracht (2012) podem ser subdivididos em quatro categorias, como visto no quadro 2.
Quadro 2. Tarefas sem e com interação entre adversários.
TAREFAS SEM INTERAÇÃO ENTRE ADVERSÁRIOS
TIPO I
O atleta executa apenas uma habilidade técnica. Exemplo: chutar a bola.
TIPO II
O atleta executa duas ou mais habilidades técnicas de forma sequencial. Exemplo: passar, recepcionar e driblar.
TAREFAS COM INTERAÇÃO ENTRE ADVERSÁRIOS
TIPO III
O treinador pode alterar a estrutura do jogo. No entanto, faz parte do jogo, mas não envolve todos os seus elementos formais. Exemplo: jogo 2 x 2, em volta do perímetro 2 atletas.
Fonte: adaptado de González e Bracht (2012)
Ainda nessa perspectiva, outro elemento fundamental no processo de ensino do esporte em clubes esportivos é o papel que o treinador executa durante os treinos (ROSA; BORGES; FRAGA, 2020). Basicamente, a atuação do treinador é mediada pelo que ele comunica verbalmente para os atletas. E isso está relacionado a quatro grandes dimensões: a) organizar o trabalho, b) motivar os atletas, c) disciplinar os atletas que não observam adequadamente as orientações do treino/ou do trabalho e d) instruir (GONZÁLEZ; BRACHT, 2012).
A organização do trabalho se vincula com o objetivo de que o treino aconteça. Dessa forma, o treinador deve explicar como os atletas executarão o trabalho e qual tarefa será desenvolvida na sessão de treino (ROSA; BORGES; FRAGA, 2020). Além disso, o treinador deve constantemente motivar os atletas buscando que eles se envolvam na realização das tarefas propostas,
TIPO IV
Esse tipo de tarefa enfatiza todos os elementos formais do jogo. Exemplo: no ataque: o atleta mantém a posse da bola, progride no campo de jogo do adversário e constroi situações para finalizar na meta.
enquanto que o disciplinar, objetiva inibir os comportamentos que influenciem negativamente o andamento do treino e o empenho dos atletas com o trabalho (GONZÁLEZ; BRACHT, 2012).
Ainda segundo estes autores, a instrução está relacionada aos processos orientados a auxiliar os atletas a aprenderem o conteúdo do treino. As intervenções realizadas pelos treinadores durante o treino são fundamentais. As tarefas executadas pelos atletas poderão ter pouco impacto se a vivência prática não for acompanhada de informações ou reflexões sobre os conteúdos que se pretendem ensinar com sua execução.
Curiosidade!
Na pesquisa realizada por Mônaco (2005), foram submetidos dois grupos de alunos a uma intervenção em que tiveram que executar as mesmas tarefas durante várias semanas com o objetivo que eles melhorassem suas possibilidades de oferecer linha de passe num jogo de futsal. Foi avaliado o desempenho das crianças no início e no final do trabalho, numa situação de superioridade numérica 3x2. Após a conclusão da intervenção, ambos os grupos de alunos melhoraram o desempenho de jogo, no entanto, foi verificado que o grupo que foi induzido pelo treinador a pensar/refletir/falar sobre o que executar para ter uma melhor tomada de decisão nos diferentes exercícios e jogos teve uma melhora mais significativa do que o grupo ao qual foi induzida apenas a executar a tarefa. Assim, ficou evidente de que a forma de realizar o ensino e a qualidade do conhecimento ofertado pelo treinador faz toda a diferença no processo de ensino aprendizagem do aluno. Fonte: adaptado de González e Bracht (2012)
5.4. Esporte como ferramenta de lazer no Brasil
Os avanços históricos nos aspectos políticos do esporte e lazer refletem o encontro entre esporte e questões sociais, econômicas e de poder. O esporte e lazer são aspectos que enfatizam experiências lúdicas de conteúdos culturais, o que os apresentam como um elemento da vida social geral, relacionando com a cultura, política, educação e o trabalho (MONTENEGRO; QUEIROZ, 2021). A escolha do lazer pode surgir de situações distintas. Estas, podem partir da escolha em ter uma vida mais saudável, da necessidade de preencher o tempo com atividade considerada “educativa, saudável e socialmente útil” ou ainda do desejo pelo entretenimento (WERLE, 2018). Tratando-se especificamente do esporte e lazer, que se firmaram e vinculam-se à Educação Física, alguns autores apontam que a inserção das práticas esportivas na sociedade ocorreu ao longo do século XIX (OLIVEIRA; OLIVEIRA, NUNOMURA, 2023). A elite brasileira que governava o campo político e social reescreveu a história nacional ao apresentar uma atualização das formas de lazer e recreação para a sociedade (LUCENA, 2000). Durante o período da pandemia do COVID-19 houve uma interrupção do movimento do lazer em ambientes ao ar livre, dessa forma muitas pessoas ficaram sem opções para realizar práticas corporais visando ter uma vida mais saudável. Assim, isso promoveu uma nova perspectiva para prática de esporte e lazer, pois atualmente as pessoas também passaram a realizar atividades esportivas e de lazer em ambiente doméstico e online (CLEMENTE; STOPPA, 2020).
Na trajetória histórica da década de 1990, a história da legalização da Educação Física passou por uma modificação significativa ao ser publicada a nova Lei de Diretrizes e Bases, Lei 9394 (Brasil, 1996), Artigo 26, parágrafo 3º, constatou a Educação Física como componente curricular da Educação Básica (OLIVEIRA; OLIVEIRA, NUNOMU-
RA, 2023). No entanto, apenas em 2001 houve uma retificação no texto da lei e a palavra “obrigatória” foi implantada após o termo componente curricular, predizendo a obrigatoriedade legal. Ainda assim, não houve de forma efetiva mudanças profissionais consideráveis, valorização da área no meio político, tendo em vista que a Educação Física, o Esporte e o Lazer seguiram sendo instrumentos de domínio do Estado a laboração dos aspectos ideológicos dos burocratas governamentais (OLIVEIRA; OLIVEIRA, NUNOMURA, 2023).
De fato, é possível perceber avanços que afetaram o âmbito social das políticas públicas e que adentram nas dimensões da Educação Física, Esporte e Lazer ao privilegiar crianças e adolescentes. No estudo proposto por Milanezi em (2015) foi realizada a análise da efetivação das políticas públicas partindo da análise de programas fundamentais e projetos na área da criança e do adolescente, por meio da comparação em meio ao último Governo Fernando Henrique e o primeiro Governo Lula, foi verificado no estudo que aconteceram progressos importantes que permitiram
o crescimento das políticas de lazer e esporte na área da criança e do adolescente (OLIVEIRA; OLIVEIRA, NUNOMURA, 2023).
A partir do século XXI, ainda que motivada pelo esporte profissional e na expansão de lucros e negócios, o esporte passa a agregar mais espectadores e novos praticantes, que reconstroem ambientes para a vivência do esporte e passam a ampliar os significados do fenômeno (GALATTI et al., 2018). Além de formação de atletas e gerar lucros, o esporte ganha espaço também como uma possibilidade de lazer e tem seu significado educacional mais uma vez reconhecido, agora não apenas para uma elite socioeconômica ou para os poucos que chegam à plenitude atlética, mas para qualquer pessoa que pratique ou assista ao esporte (GALATTI, 2010).
Observa-se, então, uma evidência da complexidade do esporte: um mesmo fenômeno que promove a geração de lucros no denso mercado internacional é capaz de reunir homens e mulheres em cada região em que é praticado visando o lazer. Esse é o esporte na contemporaneidade, um
fenômeno complexo e plural, e particularidades regionais, espaço em que as pessoas oscilam entre o econômico e racional e as relações humanas mais profundas e sensíveis como as atividades de lazer (GALATTI et al., 2018). No Brasil, as pessoas praticam muitos esportes como ferramenta de lazer, dentre essas destacam-se as partidas de futebol, corrida, ciclismo.
Para saber mais!
Vídeo 1: Pesquisa sobre políticas públicas de Esporte e Lazer
Vídeo 2: Esporte e lazer para a transformação do Brasil diálogos pelo Brasil
Vídeo 3: As políticas públicas de esporte e lazer antes, durante e após a pandemia
Leitura 1: Programa Esporte e lazer da cidade (Pelc)
Ao finalizarmos este capítulo, vimos o quanto o ensino dos esportes em contextos diversos pode levar cada vez mais pessoas a assumirem a prática esportiva como processo de educação e desenvolvimento humano partindo do ambiente escolar. Percebemos o valor dos projetos sociais para a inclusão e o empoderamento das camadas menos favorecidas da população brasileira, por meio da participação em projetos sociais relacionados ao esporte. Identificamos as possibilidades do lazer ativo para a saúde e a qualidade de vida, bem como a responsabilidade dos governos para a implementação das políticas públicas afirmativas de fomento ao esporte. Vamos avançar agora
para mais um campo que exige conhecimentos com base em evidências científicas, sendo este, destacado entre os que apresentam constante evolução para o desenvolvimento do esporte no século XXI. Abordaremos a seguir as bases, conceitos e aplicação do treinamento desportivo, direcionado a diferentes objetivos e públicos que praticam o esporte.
REFERÊNCIAS
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CASTAMAN, A. S.; MACHADO, A. P. F. Um projeto socioeducativo com crianças e jovens do Lar da menina. Revista Brasileira de Extensão Universitária, v. 11, n. 2, p. 125-134, 2020.
CLEMENTE, A. C. F.; STOPPA, E. A. Lazer Doméstico em Tempos de Pandemia da Covid-19. LICERE -Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer, v. 23, n. 3, p. 460–484, 2020.
COSTA, L. C. A.; PASSOS, P. C. B.; SOUZA, V. F. M.; VIEIRA, L. F. Educação física e esportes: motivando para a prática esportiva escolar. Movimento, v. 23, n. 3, p. 935-948, 2017.
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TUBINO, M. J. G. O que é o Esporte. São Paulo: Brasiliense, 2006.
ANDRÉ NOGUEIRA ACCIOLY THIAGO CAVALCANTE FERREIRA COSTA
TREINAMENTO DESPORTIVO: DIFERENTES INTENCIONALIDADES PARA
CRIANÇAS, ADOLESCENTES
E ADULTOS
Uma vez que crianças, adolescentes e adultos apresentam características fisiológicas e psicológicas distintas, isto demanda uma abordagem diferenciada para o treinamento em cada uma destas etapas. Entender as particularidades do treinamento desportivo é de extrema importância para promover o desenvolvimento físico adequado em cada fase da vida, respeitando as necessidades e limites de cada indivíduo.
Nesse contexto, o treinamento desportivo desempenha um papel fundamental no desenvolvimento físico e motor de crianças, adolescentes e adultos. Ao longo das diferentes fases da vida, o treinamento assume múltiplas intencionalidades que devem ser cuidadosamente ajustadas às características e necessidades específicas de cada fase. A preparação física não se limita ao aumento do rendimento esportivo, mas também desempenha um papel crucial na promoção da saúde e da qualidade de vida.
Assim, visando trazer conhecimentos que possam contribuir com os avanços na área e com a intervenção dos profissionais, abordaremos o estudo dos princípios científicos e metodológicos do treinamento desportivo por ser um campo fundamental para a compreensão e aprimoramento das práticas de preparação física; também abordaremos os conceitos e características das principais qualidades físicas e seu desenvolvimento; trataremos o planejamento e desenvolvimento da preparação física em diferentes faixas etárias e, por fim, será discutido relações entre aptidão física, saúde e desempenho físico nas diferentes fases da vida.
6.1 .Princípios científicos do Treinamento Desportivo
Você sabia que, apesar da democratização da prática esportiva e da ampla disponibilidade de informações nos mais diversos meios de comu-
nicação, o planejamento do treinamento físico e desportivo se baseia em princípios sólidos? Sabia que estes princípios que norteiam todo o planejamento do treinamento físico se baseiam em evidências científicas? Portanto, o conhecimento destes princípios se torna requisito básico para o entendimento do processo de elaboração e prescrição de treinamento físico.
De maneira simples, o profissional de Educação física deverá compreender tais princípios antes de elaborar qualquer programa de treinamento. Vale ressaltar que o estudo destes princípios é realizado em separado, mas o entendimento e, sobretudo, a aplicação destes no processo de treinamento físico deverá ser feita em conjunto.
Os princípios científicos do treinamento desportivo fornecem uma base sólida para a elaboração de programas de exercício físico eficazes, seguros e adequados para cada faixa etária. Também destacamos sua importância no que se refere aos objetivos do treinamento, seja estes voltados para a melhoria da aptidão física relacionada à saúde ou ao desempenho esportivo. Fundamentados em pesquisas nas áreas de fisiologia, biomecânica, psicologia e outras ciências relacionadas ao esporte, esses princípios permitem a compreensão de como o corpo humano responde e se adapta ao treinamento físico. O quadro 1 apresenta os principais princípios científicos do treinamento desportivo segundo TUBINO e MOREIRA (2003).
Quadro 01 – Princípios científicos do treinamento desportivo
Princípio da individualidade biológica
Princípio da adaptação
Princípio da sobrecarga
Princípio da continuidade
Princípio da interdependência volume-intensidade
Princípio da treinabilidade
Fonte: Elaborado pelos autores com base em TUBINO e MOREIRA (2003).
Antes de abordar os princípios listados anteriormente, apresento o princípio da conscientização, cuja característica é de ordem pedagógico-metodológica e não biológica. Este princípio tem como base a premissa que conscientizar é educar. Espera-se que uma melhor compreensão dos objetivos e estratégias adotadas, além do processo de treinamento e dos exercícios realizados conduzam a melhores contextos de treinamento e, consequentemente, melhores resultados.
O princípio da individualidade biológica afirma que cada indivíduo responde de maneira única ao treinamento, devido a fatores como genética, idade, sexo, nível de aptidão física e histórico esportivo (WANG et al., 2021). Portanto, os programas de treinamento devem ser personalizados para atender às necessidades e características específicas de cada indivíduo. Isso é particularmente importante no contexto de pessoas de diferentes idades, uma vez que as demandas fisiológicas e funcionais são específicas a cada faixa etária.
O princípio da adaptação tem como base a capacidade que o corpo humano apresenta em responder ao estresse imposto por diferentes agentes. Quando estimulado por meio do exercício físico, mecanismos compensatórios são ativados imediatamente para responder a esta nova demanda fisiológica. Tais reações provocam adaptações ou danos ao mesmo, sendo esses estímulos determinados pela magnitude do agente estressor. Portanto, o treinamento físico, quando em excesso em seu volume e/ou intensidade poderá desencadear respostas desfavoráveis ao organismo do praticante.
O princípio da sobrecarga afirma que, para que o organismo se adapte e melhore seu desempenho físico, ele deve ser submetido a estímulos crescentes, aplicados no momento correto e seguidos de repouso adequado, que desafiem seu estado atual de treinamento. Esses estímulos podem ser aumentados em sua intensidade, volume ou frequência de treinamento. A aplicação desse
princípio deve ser progressiva e cuidadosamente planejada para evitar o risco de lesões e o excesso de treinamento (BOMPA e BUZZICHELLI, 2019).
Importante!
O fenômeno da supercompensação é um conceito fundamental no treinamento desportivo e refere-se à resposta adaptativa do corpo após uma sessão de treinamento. A supercompensação ocorre quando, após um período de esforço físico, o organismo passa por um processo de recuperação e adaptações que o preparam para lidar melhor com estímulos futuros. Esse processo modula a capacidade fisiológica e funcional do organismo, resultando em um aumento temporário de desempenho.
A chave para aproveitar o fenômeno da supercompensação está no tempo adequado entre estímulo e recuperação. Se o próximo treino for realizado muito cedo, o corpo ainda estará em recuperação e o desempenho pode ser prejudicado, levando ao overtraining. Por outro lado, se o intervalo for muito longo, os efeitos da supercompensação serão perdidos. Assim, o sucesso no treinamento depende de um equilíbrio entre a carga de trabalho, o tempo de recuperação e a aplicação do princípio de sobrecarga progressiva.
O princípio da continuidade está intimamente ligado ao princípio da adaptação. Uma vez que o organismo se adapta aos estímulos do exercício físico de maneira progressiva, o tempo se torna um elemento primordial na concepção de alterações significativas. Este princípio é importante em qualquer contexto e tem por premissa básica não permitir interrupções no processo de treinamento.
O princípio da interdependência entre volume-intensidade afirma que, no treinamento desportivo, o volume e a intensidade são variáveis inversamente proporcionais. Isso significa que, durante o processo de treinamento, à medida que a intensidade do treinamento aumenta (carga levantada, a velocidade ou a intensidade do esforço), o volume do treino (número de repetições, séries ou duração/tempo) deve ser reduzido, e vice-versa, salvo exceções em situações específicas.
O último princípio abordado é o princípio da treinabilidade. Este reconhece que diferentes indivíduos possuem diferentes níveis de resposta ao treinamento, influenciados por fatores como genética, idade, sexo, nível de aptidão física, entre outros fatores. Ou seja, a treinabilidade de uma pessoa indica o quanto ela pode melhorar suas capacidades físicas (Exemplo: força, resistência, flexibilidade) em resposta a um programa de treinamento específico. Indivíduos com baixa aptidão física tendem a responder mais rapidamente aos estímulos do treinamento. Já atletas avançados ou altamente treinados possuem um nível mais baixo de treinabilidade, pois já atingiram um alto grau de adaptação, e o progresso tende a ser mais lento e exigir maior especificidade nos treinos.
6.2. Caracterização e desenvolvimento das capacidades motoras ao longo da vida
As capacidades motoras representam atributos físicos que permitem ao ser humano realizar suas atividades diárias de maneira eficaz e eficiente, com economia de energia. Elas podem ser divididas em duas grandes categorias: capacidades motoras condicionais e capacidades motoras coordenativas. Enquanto as primeiras são determinadas pelos processos metabólicos que ocorrem nos músculos e sistemas orgânicos, as últimas envolvem o controle e a organização dos movimentos pelo sistema nervoso (BARBANTI, 2010).
As capacidades motoras condicionais são diretamente influenciadas pelos processos energéticos do corpo, como a capacidade cardiovascular, respiratória e neuromuscular. Essas capacidades dependem da produção de energia e da resistência à fadiga, sendo essenciais para o desempenho físico em atividades que exigem esforço com diferentes características, especialmente relacionadas a intensidade e/ou volume de exercício. Segundo TUBINO e MOREIRA (2003), as principais capacidades condicionais incluem:
Força muscular: Refere-se à capacidade de um músculo ou grupo muscular de exercer tensão. A força pode ser subdividida a partir de sua expressão em força máxima, potência muscular, força resistente e força isométrica;
Resistência: A resistência envolve a capacidade de sustentar um esforço físico ao longo do tempo. Pode ser subdividida, de acordo com o metabolismo energético predominante, em resistência aeróbica e resistência anaeróbica;
Velocidade: A velocidade é a capacidade de realizar um movimento ou deslocamento no menor espaço de tempo. Ela depende de vários fatores e não pode ser entendida como uma capacidade
isolada, mas sim como uma capacidade resultante de processos neurais, sensoriais e musculares. A velocidade pode ser subdividida em velocidade de reação, velocidade segmentar e velocidade de deslocamento;
Flexibilidade: Refere-se à amplitude máxima de movimento em uma articulação. Sendo essencial tanto para melhorar o desempenho físico quanto para a promoção da saúde, ela permite realizar movimentos amplos com menor restrição.
As capacidades motoras coordenativas estão relacionadas à capacidade do sistema nervoso central de organizar e controlar os movimentos do corpo. Elas são responsáveis pela precisão, eficiência e sinergismo com que as ações motoras são realizadas. As capacidades coordenativas são particularmente desenvolvidas na infância, mas podem ser aprimoradas ao longo da vida (GALLAHUE, OZMUN, GOODWAY, 2013). Entre as capacidades coordenativas mais importantes estão:
Coordenação motora: É uma capacidade que envolve a organização e a regulação eficiente dos movimentos corporais a partir da integração entre o sistema nervoso, sistemas motores e sensoriais. Ela se refere à capacidade de realizar movimentos com precisão, economia de esforço e fluidez;
Equilíbrio: Refere-se à habilidade de manter ou recuperar a estabilidade do corpo no espaço, tanto em situações estáticas quanto dinâmicas. O equilíbrio está relacionado à interação eficiente do sistema nervoso com o sistema muscular e esquelético, permitindo que o corpo controle sua postura de maneira precisa. O Equilíbrio divide-se em equilíbrio estático, equilíbrio dinâmico e equilíbrio recuperado;
Agilidade: a agilidade é uma capacidade motora coordenativa que envolve a habilidade de mudar rapidamente e com precisão a posição do corpo no espaço, ou parte do corpo, combinando diferentes movimentos com eficiência. A agilidade exige uma integração precisa entre coordenação, força, velocidade e equilíbrio;
Ritmo: refere-se à habilidade de realizar movimentos em uma sequência temporal fluida, respeitando um padrão de tempo e cadência. O ritmo envolve a organização dos movimentos de acordo com estímulos temporais, sejam eles internos (como a percepção do próprio corpo) ou externos (como um ritmo de música ou batidas). Ele é fundamental em atividades motoras que exigem sincronização de movimentos, como a dança, ginástica e esportes coletivos.
6.3. Planejamento e desenvolvimento da preparação física para cada faixa etária
O planejamento e desenvolvimento da preparação física é fundamental para garantir que as atividades físicas e desportivas sejam adequadas às necessidades e capacidades de cada fase da vida. O treinamento físico deve ser adaptado às mudanças fisiológicas, motoras e psicológicas que ocorrem ao longo da vida. A seguir, são apresentadas as abordagens recomendadas para diferentes faixas etárias.
A infância é marcada por um rápido desenvolvimento motor e cognitivo. Segundo Gallahue e Ozmun (2013), essa fase é crucial para o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, como correr, pular e arremessar, que servem como base para habilidades mais complexas. O planejamento da preparação física deve enfatizar a diversidade de movimentos, por meio de atividades lúdicas que estimulem o desenvolvimento global. Weineck (2000) destaca a importância de criar ambientes que incentivem a participação em atividades variadas, sem foco na especialização precoce. Os estímulos devem priorizar a coordenação motora, agilidade e equilíbrio, promovendo a aquisição de habilidades motoras fundamentais.
Na adolescência, ocorrem importantes mudanças hormonais e de crescimento, o que afeta diretamente a estrutura corporal e a capacidade de desempenho físico. Segundo Bar-Or e Rowland (2004), essa fase é marcada pela maturação do sistema cardiovascular e neuromuscular, tornando o adolescente mais apto a suportar cargas de treinamento mais intensas, mas com atenção o estágio de maturação biológica de cada adolescente.
A ênfase do treinamento na adolescência deve incluir o desenvolvimento da força muscular, a resistência aeróbica e anaeróbica, bem como o aprimoramento das capacidades coordenativas. Nessa fase, os jovens começam a especializar-se em
modalidades esportivas de maior interesse. Contudo, Gallahue e Ozmun (2013) recomendam que o treinamento busque desenvolver uma condição física de forma global como forma de preparar o corpo para a vida adulta.
O planejamento e desenvolvimento da preparação física para indivíduos adultos deve ser realizado de forma personalizada, levando em consideração os objetivos, condição física e possíveis limitações. Nesta fase, o corpo já está plenamente desenvolvido, e o foco do treinamento pode variar entre a manutenção da saúde, o aumento do desempenho físico ou o aperfeiçoamento em uma modalidade específica.
De acordo com Weineck (2000), o treinamento para promoção da saúde em adultos deve priorizar o desenvolvimento equilibrado das capacidades físicas. Além disso, é importante que o programa de exercícios siga princípios de periodização, garantindo variação nas cargas de treino e tempo adequado de recuperação muscular, o que é essencial para prevenir lesões e promover ganhos progressivos. Tubino (2001) reforça que, para indivíduos que buscam otimizar o desempenho esportivo, o planejamento deve buscar especificidade nas capacidades motoras e gestos técnicos do esporte em questão, mas sempre respeitando a individualidade biológica e os níveis de aptidão física.
Pode-se considerar que a preparação física para idosos tem como principal objetivo a manutenção da autonomia funcional, controle de doenças crônicas e melhoria da qualidade de vida. A partir dos 60 anos, a sarcopenia (perda de massa muscular) e a diminuição da densidade óssea tornam-se fatores preocupantes. Por isso, o foco no treinamento de força muscular, exercícios de flexibilidade e atividades que melhorem o equilíbrio e propriocepção, prevenindo quedas e mantendo a independência funcional são fundamentais.
Dessa forma, percebemos que o planejamento da preparação física para cada faixa etária deve considerar as características fisiológicas e motoras.
Na infância e adolescência, o foco é o desenvolvimento motor e a diversificação de habilidades; na fase adulta, o treinamento pode ser mais específico e voltado para o desempenho; e, em idosos, a manutenção da funcionalidade e da saúde é a prioridade. O acompanhamento profissional e a individualização do treinamento são essenciais para garantir que as atividades físicas sejam seguras e eficazes em todas as fases da vida.
6.4 Aptidão física, saúde e desempenho físico nas diferentes fases da vida
A aptidão física pode ser definida como a capacidade de um indivíduo realizar atividades físicas com eficiência e sem fadiga excessiva, preservando energia para tarefas diárias e emergências. A aptidão física se divide em aptidão física aplicada à saúde e aptidão física voltada ao desempenho. Ela engloba diferentes componentes, como capacidades motoras condicionais e coordenativas, além da composição corporal (CASPERSEN et al., 1985).
A aptidão física é frequentemente considerada um dos principais indicadores de saúde. Segundo Shephard (2003), a aptidão física aplicada à saúde é fundamental para manter e melhorar a saúde geral, ajudando a prevenir doenças crônicas, como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade, e promovendo a longevidade e qualidade de vida. A aptidão física voltada a saúde também está associada à melhora da função metabólica e ao fortalecimento do sistema imunológico. Além de também ter um impacto positivo sobre a saúde mental, uma vez associada à redução de sintomas de depressão, ansiedade e estresse (PALUSKA & SCHWENK, 2000). Os principais componentes da aptidão física associados à saúde incluem a resistência cardiorrespiratória, a força e resistência muscular, a flexibilidade e a composição corporal.
Por outro lado, a aptidão física voltada ao desempenho físico tem como objetivo melhorar as capacidades motoras para maximizar o rendimento esportivo. Ela representa a capacidade de um indivíduo de realizar atividades físicas em um nível de exigência elevado, principalmente com o objetivo de melhorar o rendimento esportivo ou alcançar um desempenho superior em tarefas que exigem esforço físico intenso. Pode ser caracterizada pela excelência em componentes motores específicos, tal como a velocidade e suas derivações, a potência muscular, a agilidade, a coordenação, o equilíbrio, entre outras relacionadas a tarefas motoras específicas, além da excelência na composição corporal.
A relação entre aptidão física, saúde e desempenho se manifesta de diferentes maneiras ao longo das fases da vida. Na infância e adolescência, a prática de atividades físicas contribui para o desenvolvimento motor e previne o surgimento de doenças crônicas na fase adulta (GALLAHUE & OZMUN, 2013). Na fase adulta, manter uma boa aptidão física é crucial para prevenir o desenvolvimento de doenças relacionadas ao estilo de vida, como obesidade e doenças cardíacas (WARBURTON et al., 2006).
Também precisamos considerar que, em atletas, níveis de excelência da aptidão física são determinantes no desempenho esportivo. Já em idosos, a aptidão física desempenha um papel essencial na manutenção da funcionalidade e independência, consequentemente, na promoção da qualidade de vida.
Considerações finais
Neste capítulo, você aprendeu que o treinamento desportivo apresenta grande importância no desenvolvimento humano ao longo da vida. Primeiramente, é importante considerar que para
atender as necessidades de cada momento, o treinamento deve ser planejado de acordo com o contexto fisiológico, objetivos e demandas individuais, sejam para a promoção da saúde ou ganhos no desempenho esportivo.
Também perceba, que para um planejamento de excelência se faz necessário conhecer, assimilar e aplicar os princípios científicos do treinamento desportivo. Estes princípios norteiam o treinamento e se baseiam em preceitos científicos sólidos. Além disso, caracterizamos e definimos as capacidades motoras condicionais e coordenativas como qualidades físicas que nos permitem a realização de diferentes tarefas motoras, em diferentes intensidades e condições.
Por fim, foi discutido a aptidão física em crianças, adolescentes e adultos para uma melhor compreensão das necessidades de cada fase longo da vida. Observe que esta se divide de acordo com objetivo de promoção de saúde ou melhora no desempenho esportivo. Cada um com propósito e demandas específicas a se considerar no processo de planejamento da preparação física.
Os conhecimentos que foram abordados oferecem a segurança para que você planeje suas ações de treinamento com bases científicas, intencionali-
dades e capacidade de direcionar as ações em conformidade com as características e individualidade biológica de cada participante de sua equipe. A ciência do treinamento desportivo é o suporte para resultados exitosos nas ações do profissional, preparando alunos e atletas sob sua responsabilidade para que apresentem as condições excepcionais de usufruto do esporte nos níveis desejados. Concluída esta etapa, abordaremos na sequência a Especialização Precoce e a Detecção de Talentos Esportivos, um assunto presente nos ambientes de treinamento que é de responsabilidade dos Profissionais de Educação Física.
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EDSON PALOMARES
ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE X DETECÇÃO DE
TALENTOS ESPORTIVOS
Apartir dos Jogos Olímpicos de Los Angeles (1984), quando o esporte passou do amadorismo - até então oculto entre ditos militares e universitários -, para o profissionalismo, muito mudou. Até este período, o esporte causava prejuízo para o Estado. A partir de então, começou a despertar o interesse da iniciativa privada. Surgem os patrocinadores e os rumos mudam plenamente com o esporte vendendo produtos, gerando lucros, promovendo subsistência aos atletas.
Estes investimentos financeiros trouxeram para próximo do esporte o mundo científico, com o fortalecimento da Medicina, Psicologia, incremento da Fisiologia do Exercício, aproximação da Nutrição e Fisioterapia. Somadas a outras, estas ciências formam o que conhecemos como corpo científico do Treinamento Esportivo. Profissionais atuando em suas respectivas áreas com o objetivo claro de avaliação, melhoria, recuperação e manutenção da performance esportiva.
As marcas que pareciam insuperáveis começaram a cair. A periodização sofre alterações drásticas, pois os atletas passaram de 4 para 10 competições por ano em algumas modalidades. Daí surge a necessidade de selecionar, escolher, identificar, prognosticar futuros atletas, que deveriam suportar as cargas de treino e também manter o padrão de atletas anteriores, superando-os sempre que possível. Alguns países investem em seus jovens e programas de detecção de talentos começam a surgir nas principais potências esportivas tendo como expoentes a ex-URSS e EUA.
Os programas de detecção de talentos se baseiam em identificar futuros campeões com pequena margem de erro, para que os investimentos sejam corretamente aplicados, ou seja, quanto mais preciso forem os indícios de que os jovens serão campeões maior será o êxito esportivo. Estes futuros atletas são preparados para atingir o ápice esportivo em uma modalidade para qual ele está melhor adaptado.
Os critérios inicialmente avaliados são: clínicos, psicológicos, nutricionais, fisioterápicos e sociais.
O segundo grupo de critérios são: morfológicos, fisiológicos, físicos e motores.
Os jovens então são encaminhados para um processo de seleção generalista, que os separa de acordo com capacidades motoras gerais: força, velocidade, resistência, coordenação e flexibilidade. Ocorre então o encaminhamento para um grupo de modalidades em que a capacidade que ele apresenta é primária para o bom desempenho. A partir deste ponto, inicia-se o treinamento dos futuros atletas.
Os Centros de Reserva Olímpica basicamente são divididos em dois níveis: iniciantes e avançados. Para uma melhor compreensão, estamos falando de crianças e jovens que serão preparados para o mundo competitivo.
Surgiram então as questões que se arrastam até nossos dias: Como encontrar estes jovens atletas? Como detectar, identificar, selecionar e promover o desenvolvimento destes jovens talentos? Para que a seleção dos jovens ocorra de forma eficiente, faz-se necessário que o treinador tenha conhecimento sobre as características fisiológicas da infância e adolescência, aspectos sobre os períodos ideais para trabalhar cada capacidade física e como devem ser direcionados os critérios de seleção do talento no esporte.
Existem duas formas de detecção de talentos nos países desenvolvidos: A primeira (prospectiva), busca colocar o maior número possível de crianças em contato com o esporte; a segunda (extensiva), utiliza metodologias para descobrir tais talentos. A seleção de talentos pode ser comparada com uma procura por diamantes, onde se exige, acima de tudo, conhecimento científico, mas o “feeling” e a vivência com a modalidade auxiliam muito, de forma empírica, porém muito importante.
O mais alto nível ou resultado desportivo atingido por um atleta, depende de uma grande variedade de características esportivas genéticas, de ordem metabólica e morfológica. Duas das principais condições para se conseguir resultados no alto nível, é ter um talento nato ou aptidão atlética.
7.1. Evolução histórica do talento no esporte
A prática esportiva mundial demonstra que o desempenho esportivo para o alto nível de rendimento só pode ser alcançado, quando os fundamentos necessários para o mesmo são desenvolvidos na infância e adolescência, pressupondo um planejamento sistemático de um processo de treinamento a longo prazo. O primeiro passo para que isto aconteça é a identificação e seleção de talentos que suportem as cargas e exigências futuras de sua modalidade.
A formação de futuras gerações de atletas depende da identificação do talento e do treinamento em longo prazo ao qual os jovens são submetidos, realizados de forma planejada e sistemática. Com relação à idade para detecção do talento e início dos treinamentos, existe consenso entre a maioria dos autores, porém dentro de cada modalidade existem diferenças significativas, sendo que historicamente, ao longo das décadas foram se alterando as características do atleta, sejam elas física, fisiológica, anatômica, psicológica e até mesmo social.
A Tabela 1 apresenta uma sobreposição nas idades da detecção de talento e iniciação, pois muitas vezes a oportunização não ocorre no momento ideal, e a criança ou jovem acabam sendo descobertos como talentos quando já deveriam estar na iniciação e, em alguns casos, na especialização.
Autor: PALOMARES, E. M. G. (2024)
Tabela 1 – Média de faixas etárias para cada etapa defendidas pelos principais autores do treinamento esportivo mundial
A especialização precoce é largamente discutida no âmbito do treinamento esportivo, com defensores e opositores nas mais diversas modalidades. Porém, existe um consenso
de que na maioria das modalidades esportivas o tempo para se atingir o melhor desempenho varia entre 8 e 12 anos de prática e treino (Quadro 1 e Tabela 2).
Quadro 1 – Comparação entre a especialização precoce e o desenvolvimento multilateral
Especialização Precoce
Rápido desenvolvimento do desempenho Baixo desempenho
Melhor desempenho atingido a partir dos 15-16 anos devido à rápida adaptação
Melhor desempenho atingido a partir dos 18 anos ou mais, acompanhado da maturação fisiológica e psicológica
Desempenho inconsistente nas competições Desempenho consistente nas competições
Por volta dos 18 anos os atletas estão saturados –para eles os treinos são rotineiros
Longa vida atlética – prazer em treinar e competir
Suscetível a lesões devido à adaptação forçada Poucas lesões
AUTORES: FILIN, V. P.; VOLKOV, V. M. Organização e Adaptação Científica: Antonio GOMES, A. C.; PALOMARES, E. M. G. LANARO FILHO, P. Seleção de Talentos nos Desportos. Londrina: Midiograf, 1998.
Tabela 2 – Comparação entre o treino generalizado e o especializado
Autor: GOMES, A. C. Esporte - formação de atletas - infância e adolescência. Londrina: Sport Training, 2022.
7.2. Modalidades no Esporte
Atualmente, existem mais de 400 modalidades de esporte vinculadas ao Comitê Olímpico Internacional (COI), praticadas em todos os ambientes, fazendo parte das sociedades como um todo. As modalidades que atendem os pré-requisitos de ser regulamentadas em todos os continentes por
Quadro 2 - Grupos de modalidades no esporte
Modalidade
Coordenação complexa
Combate
ambos os sexos e possuir autarquias organizadas (Federações e Confederações), estão representadas em Jogos Olímpicos e Paralímpicos de verão e inverno, além dos XGames, perfazendo aproximadamente 20% das modalidades existentes no planeta (Quadro 2).
Características fundamentais (predisposição)
Elevado nível de coordenação motora, equilíbrio, bilateralidade. Normalmente existe uma nota para avaliar a performance
Não pode haver o medo de sentir dor, pois aqui a regra permite os golpes, imobilizações, traumas, nocautes – o objetivo é o corpo do adversário
Precisão Noção espaço-temporal acentuada
Alto risco Vida é colocada em risco
Radicais Necessário o espírito de arrojo
Força e Potência
Jogos
Cíclicas
Capacidades físico-motoras são determinantes para o êxito do atleta
Coletividade é predominante na maioria das variações, mas existe a forma individual e duplas
Movimentos repetitivos e semelhantes de forma contínua ao longo da prova
Combinadas Variações esportivas se fundem
Condução
Meios de transporte e condução são utilizados para que o atleta cumpra o percurso
Exemplo
Nado Sincronizado, Ginásticas, Salto ornamental, Patinação artística
Boxe, Karate, Tae Kwon Do, Judô, Esgrima, Greco romana, Wrestling, Kung Fu
Tiro com Flecha, Curling, Tiro Esportivo
Alpinismo, Wingsuit, Mergulho, Paraquedismo
Escalada, Trekking, Rapel, Skate, Le Parkour
Saltos, Lançamentos, Arremessos
Futebol, Voleibol, Rugby, Basquetebol, Tênis
Ciclismo, Corrida, Natação, Esqui
Triatlo, Pentatlo Moderno, Decatlo
Automobilismo, Surf, Motociclismo, Hipismo, Vela,
Autor: GOMES, A. C. Treinamento Desportivo - estrutura e periodização. Porto Alegre: Artmed, 2009.
7.3. Tipos de talento no esporte
Como existe uma gama considerável na quantidade de modalidades e formas de disputa, temos diferenciações nos tipos de talento, que tornam um atleta excelente em uma modalidade e extremamente fraco em outra, já que todas suas características são adaptadas para outro tipo de prática. Podemos dividir em três principais grupos os talentos no esporte (Figura 1):
Figura 1 - Tipos de talento no esporte
TALENTO
TÉCNICO FÍSICO COGNITIVO
O talento técnico apresenta domínio excelente de todos ou alguns fundamentos, elevado controle motor e técnica refinada. Podemos observar diversos exemplos:
• Basquetebol - Stephen Curry - arremesso de média e longa distância;
• Voleibol - Mireya Luis - potência no ataque com bola rápida;
• Greco-romana - Alexander Karelin - em 889 lutas só perdeu duas.
O talento físico possui parâmetros acima da média de seus companheiros e adversários no que diz respeito à manifestação de determinada capacidade física. Depende sobremaneira dos aspectos genéticos.
• Maratona - Kelvin Kiptum - 2 h 35”
• Peres Jepchirchir - 2 h 16´ 16”
• 100 m rasos - Usain Bolt - 9” 58””
• Florence Griffith-Joyner - 10” 49””
• Arremesso de peso - Ryan Crouser - 23 m 56 cm
• Natalya Lisovskaya – 22,63 m.
O talento cognitivo/intelectual possui a “malícia” esportiva ligada à sua modalidade, manifestada na parte tática e estratégica, apresen-
tando tomadas de decisão mais acertadas e ótima velocidade de raciocínio.
• Futebol - Lionel Messi - 08 bolas de ouro
• Marta Vieira da Silva - 06 bolas de ouro
• Tênis - Novak Djokovic - 24 grand slams
• Serena Williams - 23 grand slams Em algumas modalidades para que seja considerado um talento, o jovem deve apresentar destaque em um, dois ou até mesmo nos três aspectos diferenciadores. Os talentos são direcionados para as diversas modalidades, dentro dos grupos que mais se adequam aos seus dotes. Devem ser levadas em conta as características psicológicas para a combinação ideal do encaminhamento esportivo. Os atletas de sucesso que possuem o Sistema Nervoso Simpático dominante, pertencem ao
grupo dos eufóricos que tomam decisões rapidamente, impetuosos, velocistas, saltadores. Já os atletas que possuem o Sistema Nervoso Parassimpático na dominância, estão ligados aos esportes de maior duração, são mais calmos, tranquilos e calculistas. Os talentos nos esportes são como peças de um complexo quebra-cabeça, cada uma com sua importância e contribuição única para o sucesso. A fórmula para alcançar a excelência no esporte é uma mistura de fatores, incluindo:
Habilidades físicas
• Força e resistência: capacidade de gerar força e sustentar o exercício físico por longos períodos. Fundamental em provas do atletismo.
• Velocidade e agilidade: capacidade de se mover rapidamente e mudar de direção com precisão. Essencial em modalidades como atletismo, futebol e basquetebol.
• Coordenação e equilíbrio: capacidade de controlar os movimentos do corpo e manter o equilíbrio em diferentes situações sendo crucial em modalidades como ginásticas, danças e patinação.
• Mobilidade articular: capacidade de apresentar excelente mobilidade nas articulações. Observamos na natação, judô e luta greco-romana.
• Altura e envergadura: fatores físicos que podem ser importantes em modalidades como basquetebol, voleibol e tênis.
• Habilidades técnicas
• Domínio da técnica específica da modalidade: movimentos, passes, arremessos e golpes. Cada modalidade apresenta necessidades diferenciadas em seus fundamentos.
• Estratégias e táticas: compreensão e aplicação de estratégias e táticas para superar
adversários.
• Leitura competitiva: capacidade de analisar e tomar decisões rápidas e eficazes.
Habilidades mentais
• Concentração e foco: capacidade de manter o foco na tarefa em mãos, mesmo sob pressão.
• Determinação, foco e superação: capacidade de lidar com momentos adversos que ocorrem nas competições e na carreira como lesões e derrotas.
• Confiança e autoestima: acreditar em suas capacidades e ter confiança para enfrentar os desafios.
• Motivação e paixão: amor pela modalidade e desejo de superação constante.
Outros fatores
• Treinamento e preparação: treinamento específico e adequado para aprimorar as habilidades e desenvolver o potencial.
• Nutrição e recuperação: alimentação balanceada e estratégias de recuperação para otimização do desempenho.
• Cultura esportiva: ambiente de apoio e incentivo para a oportunização de uma variedade maior de modalidades e não somente uma duas ou três, como acontecem em muitos países, restringindo o talento dos jovens.
• Influência de mentores e treinadores: orientação e apoio de profissionais experientes para guiar o atleta em sua jornada.
Considerações finais
• Existe uma convergência evidente entre os autores no que diz respeito às etapas de seleção, fases de desenvolvimento e programas nacionais para formação dos jovens atletas. Num país com dimensões continentais como o Brasil, é importante que ocorra a descentralização com unidades de captação dos talentos esportivos distribuídas estrategicamente por todo território. Somente assim poderemos diminuir a chance de perdermos valores esportivos pela simples impossibilidade de serem avaliados.
• Temos que aproximar a tríade Escola – Treinador – Universidade. Somente desta forma iremos acompanhar a tendência mundial de se buscar crianças ainda em idade escolar e desenvolvê-las seguindo os parâmetros científicos, programados e controlados nos ambientes acadêmicos.
• Para o sucesso esportivo torna-se básico conhecer e identificar as capacidades físicas. Uma vez que é através do aperfeiçoamento destas que podemos forjar o atleta. O conhecimento prévio de capacidades, assim como tendências genéticas, pode colaborar tanto para a sua determinação como para o seu desenvolvimento no esporte. A elaboração de modelos científicos para a detecção de talentos vem sendo recomendada como base para um prognóstico confiável.
• O Brasil possui uma legião de “olheiros” – pessoas que de forma empírica identificam os futuros talentos no futebol. Mas este empirismo possui um fundo de ciência: ele observa o biótipo, a habilidade, a postura, a velocidade, a idade, o nível de desenvolvimento físico, a impulsão, ou seja, muitas vezes sem saber, ele utiliza-se dos princípios metodológicos utilizados na detecção de talentos.
• Sem dúvida, a soma dos fatores de observação, a formação dos modelos pré-existentes e a ciência nos darão muito mais recursos para encontrarmos os talentos com um potencial latente a ser descoberto.
A busca por talentos esportivos e os cuidados com os excessos que podem levar à especialização precoce nos esportes, requerem o conhecimento científico e o rigor de protocolos e procedimentos que os profissionais devem uti lizar com critérios.
São situações que requerem a responsabilidade técnica e ética de todos os envolvidos, neste que é um processo ainda incipiente no Brasil, mas que ao ser desenvolvido por pesquisadores em ambiente acadêmico pode vir a ser uma etapa para a formação dos novos atletas. Vamos agora abordar como a conduta dos treinadores esportivos, refle-
• O sucesso no esporte é o resultado da interação complexa de diversos talentos. Não existe uma fórmula mágica, e cada atleta possui um conjunto único de características e habilidades necessárias para seu desenvolvimento. O segredo reside na busca por aprimorar cada talento, trabalhando em conjunto com o treinamento e o apoio de profissionais, para alcançar o máximo potencial.
te diante dos desafios estratégicos e táticos dos sistemas de jogo.
No próximo capítulo, vamos abordar a conduta dos treinadores esportivos, reflete diante dos desafios estratégicos e táticos dos sistemas de jogo.
REFERÊNCIAS
BULGAKOVA, N. J. Natação – Seleção de Talentos e Treinamento a Longo Prazo. Organização e Adaptação Técnica e Científica: GOMES, A. C.; KLAR, A. Londrina: Palestra Sport, 2000.
FILIN, V. P.; VOLKOV, V. M. Organização e Adaptação
Científica: Antonio GOMES, A. C.; PALOMARES, E. M. G. LANARO FILHO, P. Seleção de Talentos nos Desportos. Londrina: Midiograf, 1998
GALLAHUE DL, OZMUN JC. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.
GOMES, A. C. Esporte - Formação de Atletas - Infância e Adolescência. Londrina: Sport Training, 2022.
GOMES, A. C.; ACHOUR JUNIOR, ABDALLAH. Esporte – Preparação de Jovens Atletas. Londrina: Sport Training, 2014.
GOMES, A. C.; LOPES, A. Esporte – Controle da carga e metodologia do treino. Londrina: Sport Training, 2024.
GOMES, A. C. Treinamento Desportivo - estrutura e periodização. Porto Alegre: Artmed, 2009.
JOCH, W. O Talento Esportivo. Rio de Janeiro: Publishing House Lobmaier, 2005.
GRECO, J. P. Iniciação Esportiva Inicial. Belo Horizonte: UFMG, 2007.
MOSKATOVA, A. K. Aspectos genéticos e fisiológicos no esporte: seleção de talentos na infância e adolescência. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1998.
WILSON SABÓIA
CONDUTA
PROFISSIONAL, VISÃO ESTRATÉGICA E TÁTICA DE SISTEMAS DE JOGO PARA
TREINADORES ESPORTIVOS
As manifestações esportivas apresentadas no Brasil, levando em consideração as mudanças conceituais advindas da Nova Lei Geral dos Esportes, com as denominações de esporte educacional, formação, participação e rendimento permearão este capítulo, onde serão aprofundados aspectos importantes na socialização dos conhecimentos sobre a conduta do Profissional/ Técnico de esportes, fazendo uma relação com os saberes conceituais, procedimentais e atitudinais, aplicáveis no treino e no jogo, como também, desenvolver competências para o ensino e aprendizagem dos esportes e suas especificidades. Acreditamos que a conduta ética do Educador/Técnico tem uma relevância primordial para o processo de ensino do esporte ter sustentação teórico/prática, ou seja, o discurso do professor tem que estar relacionado as suas atitudes de respeito, solidariedade, compromisso pedagógico e metodológico, evidenciando uma aprendizagem significativa para o aluno/atleta. Os treinadores esportivos são exemplos para os seus alunos/atletas, são ídolos, referência de integridade e moral, portanto, essa relação de Professor x Aluno, como também, Técnico x Atleta, tem que ser repleta de cumplicidade, honestidade, respeito no trato pessoal e profissional, objetivando uma relação humanizada, que todos venham a ganhar no processo de ensino do esporte. Percebo que o processo de formação continuada do Professor/Técnico esportivo é de extrema relevância, pois, acreditamos na evolução das metodologias, ou seja, as práticas pedagógicas e seus processos de ensino estão evoluindo com a profissionalização dos esportes, os elementos técnicos, táticos e físicos que foram desenvolvidos nas décadas passadas, estão sendo, através das ciências, modificados, modernizados, objetivando uma aprendizagem significativa, ou seja, uma relação ótima entre os Técnicos x Atletas x Ciência do Esporte.
8.1.
A conduta do profissional/técnico e a formação no ensino do esporte
A importância de refletir sobre o tema “Conduta Profissional, visão estratégica e tática de sistemas de jogo para os treinadores esportivos” em sentido amplo visa contribuir para aclarar uma concepção teórico-metodológica de ensino mais coerente, fundamentada cientificamente num modelo de formação que busca alcançar no aluno/atleta, seu limite técnico, tático, físico e cognitivo, numa perspectiva, sobretudo que privilegie a formação do cidadão, a formação para emancipação. Qualificamos esta discussão como de suma importância para evidenciarmos, a construção de um Profissional de Educação Física com perfil ético dos processos de ensino e aprendizagem, procurando desenvolver habilidades e competências no ato de ensinar o jogo por inteiro, aos protagonistas do esporte “os atletas”.
Você verá que a proposta aqui apresentada possibilitará mudanças e o conhecimento de tendências inovadoras no ensino dos esportes, mas naquilo que permite evidenciar mudanças, de desvelar desafios e apontar de certa forma avanços para o ensino dos esportes. Os referenciais teóricos ou marco de referência teórico que permitem abordar o tema para esse módulo se baseiam em vários eixos e autores, portadores dos fundamentos da discussão e apoiam posteriormente as análises dos dados coletados na investigação, tais como: a) BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018. A BNCC coloca os esportes como Unidade Temática da Educação Física e os classifica seguindo alguns critérios como: cooperação, interação com o adversário, desempenho motor e objetivos táticos da ação;
b) No Código de Ética do Conselho Federal de Educação Física - CONFEF (CONFEF, 2000, p.4)1, capítulo III do Art. 6º, inciso I, que trata das Responsabilidades e Deveres, referindo-se que se deve “promover uma Educação Física no sentido de que a mesma se constitua em meio efetivo para a conquista de um estilo de vida ativo de seus direitos através de uma educação efetiva para promoção da saúde e ocupação saudável do tempo de lazer”; portanto de preparação para vida;
c) Nos estudiosos sobre os esportes por Lucena (2000), Balzano (2012); e
d) A obra Metodologia do ensino do Futsal de Saboia (2023).
Entendemos a relevância, desse referencial teórico, para aprofundar saberes importantes na formação de um profissional de educação física que tenha as devidas competências para qualificar seus projetos pedagógicos no ensino dos esportes.
Curiosidade:
Você sabia que o livro “Metodologia do Ensino do Futsal” nasceu de um curso gratuito oferecido pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE)? Esse material, fruto do Programa Academia e Futebol da instituição, é um guia completo sobre conceitos, técnicas, modelos e métodos para o ensino do futsal. Ele aborda desde a formação de atletas até o aperfeiçoamento de equipes, sendo útil para clubes e projetos esportivos. É uma excelente oportunidade para mergulhar nas práticas pedagógicas que fortalecem o esporte e ampliam horizontes.
1. O CONFEF publicou em 2000 a Carta Brasileira de Educação Física e o Código de Ética e Deontologia da Educação Física. Tais documentos contêm os objetivos, responsabilidades e ação da educação física e de seus profissionais. (CONFEF, 2000).
8.2. As dimensões do conteúdo no ensino do esporte
Imagine a importância de refletirmos sobre os conteúdos relevantes para o ensino do esporte. Você já percebeu essa importância? Pois é, esse tópico irá fortalecer essas dimensões de conteúdo. Temos que entender as dimensões de conteúdos para facilitar o ensino conceitual (teórico), procedimental (prático) e atitudinal (saber ser) na construção do aluno/atleta no entendimento moderno sobre o esporte no qual devemos projetar no pensar e agir no treino e consequentemente no jogo. Portanto, essa classificação, baseada em Coll et al. (2000) , corresponde às seguintes questões: o que se deve saber? (dimensão conceitual), o que se deve saber fazer? (dimensão procedimental), e como deve ser? (dimensão atitudinal), com a finalidade de alcançar os objetivos educacionais. Entender esses conteúdos e aplicá-los nas aulas e treinos nos esportes, é a excelência no ensino desse esporte por inteiro.
Pensando assim, Darido e Souza Júnior apresentam modelos e ou propostas para os professores nas três dimensões de conteúdo: conceitual (o que se deve saber), na procedimental (o que se deve saber fazer), e na atitudinal (como se deve ser), classificação ancorada, no caso, nos escritos de Coll e seus colaboradores. Na primeira, ela elenca três importantes reflexões que envolvem o conhecimento das transformações pelas quais passa a sociedade com as tecnologias, o conhecimento das mudanças que ocorreram nos esportes e o conhecimento dos modos correto dos exercícios.
Com relação à dimensão conceitual o foco da reflexão se volta para o conhecimento teórico dos esportes. Exemplos: regras, posições dos atletas, sistemas de jogo e sua evolução, etc.
Com relação à dimensão atitudinal, a reflexão se foca na valorização do patrimônio de jogos
e brincadeiras. Como: respeito aos adversários e colegas, predisposição para atividades em grupo, reconhecer e valorizar atitudes não preconceituosas, dentre outras.
Com relação à dimensão procedimental, o foco é no saber fazer, atividades, jogos reduzidos, ampliados, recreativos, cooperativos e competitivos, através da vivência prática, daremos a condição do conhecimento dos fundamentos técnicos e estrutura tática dos esportes em todos os níveis da iniciação ao rendimento.
São reflexões importantes e necessárias que os autores sinalizam na obra e que surgem com o objetivo de direcionar e fundamentar o professor para sua aplicabilidade prática, sem deixar, no entanto, de lembrar que as dimensões não se separam e mostram que na realização de uma atividade física, um jogo de futsal, por exemplo, está sempre inserida duas ou mais dimensões.
Com ou nessa preocupação dos autores são colocados à diversidade na oferta dos conteúdos, e seu aprofundamento, uma vez que defendem que os professores não se limitem a ensinar somente as estratégias da técnica, mas que os aprofundem nas três dimensões abordando os diferentes aspectos que compõem a sua significação.
A defesa dos autores (DARIDO e SOUZA JUNIOR, 2010), caminha para qualidade do ensino dos esportes e entendem que esta deve estar na contextualização, interdisciplinaridade e para além do esporte, no sentido de uma formação integral, social e cultural.
Para refletir:
• É importante entender as dimensões, para que, como professor, eu possa ensinar o esporte com qualidade?
• Como posso abordar as dimensões conceitual, procedimental e atitudinal no ensino do esporte?
• Estou ajudando meus alunos/atletas a com-
preenderem não apenas o que fazer no esporte, mas também por que e como serem melhores como indivíduos?
8.3. A importância do ensino da tática do esporte
Iremos abordar neste capítulo os componentes táticos no ensino do esporte e suas especificidades, refletiremos sobre os componentes táticos e suas fases individuais, setoriais e coletivas no esporte de transição. Compreender tática é essencial para produzir a aprendizagem estratégica com seus atletas, e nesse tópico iremos refletir com autores que falam sobre a compreensão tática desde categorias de base, como transformar um atleta bom taticamente, que ferramentas podemos utilizar? Como construir elementos importantes para transformar o cognitivo de um atleta para resolver problemas táticos de uma ação, de um setor e de um jogo ampliado? Trago uma visão da construção da evolução tática, através dos jogos de inteligência, que objetiva dar repertório ao aluno/atleta constantemente nesses jogos a tomar decisões de natureza tática/cognitiva.
Os jogos para o desenvolvimento da inteligência tática ou atividades direcionadas ao desenvolvimento das capacidades das táticas básicas (KRÖGER; ROTH, 2002) tem por finalidade a compreensão da lógica do jogo, a compreensão do jogo na sua visão tática, o que fazer para obter melhores resultados, o que fazer para tomar as melhores decisões em uma ação no jogo. Entendemos que o ensino da tática, através dos jogos de inteligência tática propõe ao aluno/atleta uma situação real do jogo, certamente o aprendizado torna-se mais significativo, com isso, a contribuição pedagógica é de excelência. Nesse modelo, o aluno/atleta executa e aprende os objetivos propostos, mas também pratica o desporto futsal e suas relações, ou seja, ataque, defesa, fundamentos técnicos, regras. (BALZANO, 2012).
Esses jogos deverão condicionar os alunos/ atletas à tomar as decisões das ações do jogo com mais eficiência, pois no jogo em si, alguns componentes estão inseridos como: aprendizado prazeroso, inteligente e eficaz; aprendizado em situações reais do jogo; trabalha o aspecto coletivo; desenvolve a parte coordenativa; estimula a tomada de decisão; estimula a leitura de jogo; a visão periférica; o cognitivo está sendo contemplado a todo momento; melhoria da técnica individual; desenvolve os aspectos táticos de ataque e defesa; estimula a competitividade e tem uma relação ótima de trabalhar técnica x tática simultaneamente. O processo de ensino que privilegia a utilização dos jogos, nas suas mais diversas formas, também se sustenta na concepção de que a aprendizagem nas idades mais precoces (a partir dos 6 anos) deva centrar-se na perspectiva incidental, ou seja, num ambiente em que a busca por soluções motoras e cognitivas para as tarefas ou os problemas impostos pelo jogo faça parte do processo de aprendizagem (GRECO; BENDA, 1998).
A tática tem que ser compreendida em três fases: tática individual, tática setorial e tática coletiva. Acreditamos que as fases citadas acima, fazem a construção por etapas de um atleta na excelência no entendimento do jogo tático dos esportes de transição. Iremos conceituar e exemplificar algumas ações dessas fases táticas.
Primeiramente vamos falar sobre a Tática Individual, é um pressuposto de todas as outras fases, é a base, é a iniciação da construção do atleta/tático individualmente no jogo, sendo assim, essa fase irá construir elementos de conhecimento da sua posição na quadra, das suas funções individuais, ou seja, suas tomadas de posições nas funções que o professor/técnico solicitar nos treinos e jogos.
Exemplificando: um fixo no futsal tem suas funções mais defensivas, porém, ele terá que dentro do sistema de jogo que iremos falar posteriormente, ter ações como romper linhas defensivas do adversário, quando de posse de bola, executar
manobras de finta, para abrir espaços e ser linha de passe para seus companheiros, procurando individualmente se posicionar bem na defesa e no ataque, construindo sempre vantagem numérica nos setores da quadra de jogo.
A segunda fase é a tática setorial, temos a compreensão que o jogo de futsal, no caso, que é um jogo de invasão, temos que invadir, e ganhar espaços na quadra de jogo, portanto, tática setorial é a conquista dos setores da quadra de jogo, com ações conjuntas em duplas, trios e etc.
Exemplificando: seria a evolução de ações combinadas taticamente em conjunto, com variações de movimento (passes, conduções, fintas, drible, etc.) objetivando, progredir inteligentemente nos espaços fragilizados da equipe adversária.
A terceira fase tática é a fase coletiva, onde os 5 atletas, ou seja, goleiro, fixo, ala direita, ala esquerda e pivô, dentro de um sistema de jogo, que iremos falar no próximo tópico, irão construir elementos combinados para se sobrepor a marcação do adversário e sem a bola, fechar os espaços defensivos, objetivando retomar essa bola o mais rápido possível.
Caro leitor, fiz a relação do entendimento de como trabalhar a tática no esporte futsal, pois tenho uma relação com o ensino do referido esporte a bastante tempo, porém, todos os esportes de invasão, ou seja, basquete, futebol, handebol e outros, têm os mesmos princípios acima citados, pois, os esportes têm a mesma característica de invasão de um espaço para conquistar os objetivos do jogo, espero que tenhamos neste capítulo, refletido sobre a importância da tática e suas fases de evolução.
Para não esquecer
Tática Individual: a base da construção tática do atleta, centrada no desenvolvimento das funções individuais (posicionamento, ações ofensivas e defensivas).
Tática Setorial: ações conjuntas entre jogadores (duplas, trios) para conquistar espaços e progressão inteligente no jogo.
Tática Coletiva: coordenação de todos os jogadores dentro de um sistema de jogo para superar a marcação adversária e recuperar a bola rapidamente.
Jogos de Inteligência Tática: atividades que simulam situações reais de jogo, desenvolvendo a tomada de decisões, leitura de jogo, visão periférica, e habilidades técnicas e táticas simultaneamente.
Importância Pedagógica: a utilização de jogos e atividades para promover o aprendizado de táticas em situações reais do jogo, estimulando a competitividade, a coordenação e a tomada de decisão de forma prazerosa e eficaz.
8.4. Tipos de Conhecimentos
Táticos: avaliação no ensino
do esporte e transferência do treino para o jogo
Discorrer sobre avaliação, pressupõe: o que avaliar? Por que avaliar? Como avaliar? O que o atleta precisa saber para jogar um esporte? Tudo ao que o jogador está exposto no treino deve ser o mesmo que encontra no jogo? Essas perguntas que parecem simples têm vários contextos.
Para embasar a avaliação realizada com nossos atletas, primeiramente podemos pontuar ao que o jogador é exposto ao longo do jogo: o domínio técnico e tático, a imprevisibilidade e dinamismo do jogo, situações de superioridade, inferioridade e igualdade numérica, e tudo isso acarreta em tomadas de decisões constantes. Tomadas de decisões que para Filgueira e Greco (2008, p. 62) “é a capacidade de tomar decisões rápidas e taticamente exatas, constituindo uma das mais importantes capacidades do atleta”.
O que nos leva agora ao ponto: o que o aluno precisa saber para jogar? Apenas o domínio
técnico e tático já basta? Giacomini (2007) cita que o aluno ou atleta está exposto a dois tipos de conhecimentos táticos: o declarativo, aquilo que ele conhece e faz em certas situações do jogo, porém com base em situações já existentes e estudadas previamente; e o conhecimento processual, que faz com que o aluno/atleta execute a melhor tomada de decisão dentro do contexto do jogo, dominando a técnica e o cognitivo da ação.
Vamos entender que técnica é a ação dos fundamentos do esporte e a tática é pensar estrategicamente o que foi treinado para executar e encontrar soluções dos problemas do treino, com a intenção de colocar o atleta em eficiência para resolver os problemas do jogo.
Agora indo ao encontro a estes tipos de conhecimentos táticos, podemos pontuar as capacidades/ações táticas que existem durante um jogo:
Ações individuais: aquelas ações motoras específicas do jogo que envolvem apenas um jogador: passe, recepção, condução, drible, finta e chute;
Ações grupais: ações que envolvem dois a três jogadores;
Ações coletivas: ações que envolvem mais de três jogadores.
Sabemos também que o jogo não contempla somente ações individuais, grupais ou coletivas unitariamente, o atleta toma as decisões individuais em prol do coletivo, em contexto do setor da quadra de jogo, portanto, avaliar individualmente um atleta é resultante apenas em sua eficiência técnica, ou seja, a execução perfeita dos fundamentos do jogo, o que nos leva a concluir que este atleta então terá que ser avaliado e treinado para solucionar problemas de ordem tática setorial, ou seja, tomar uma decisão, ofensiva ou defensiva de acordo com as situações que o treino e o jogo se apresentam.
Mas e agora, o que fazer para que as ações do aluno/atleta nos treinos sejam levadas para dentro do jogo? Na minha visão, o treino terá que ser
de resolução de problemas de ações individuais 1x1, como também, de ações grupais e coletivas 2x1; 2 x 2; 3 x 2; 4 x 4; 5 x 4 etc. O técnico/professor terá que procurar elaborar ações de treinabilidade na realidade das variações dos fundamentos e deslocamentos utilizados no jogo, pois, o treino é o processo e o jogo é o fim. Neste tal processo (treino) é o momento essencial da produção da informação objetivando o conhecimento do atleta, com intenção de torná-lo eficaz no jogo.
Todo esse contexto relatado na minha fala inicial pressupõe que temos elementos evidentes no treinamento para avaliar o atleta, porém, o treino e a metodologia utilizada no treinamento são elementos preponderantes objetivando avaliar o atleta, avaliar o treino, com isso, avaliarmos o esporte como é jogado, avaliando o ator principal do esporte: o atleta, tornando-o autônomo e proativo de modo que resolva e tome as melhores decisões dentro do contexto que o jogo se apresenta.
Como fazer isso? Como avaliar esses atletas?
Durante alguns anos, o ensino dos jogos desportivos coletivos tiveram por base a fragmentação do jogo nos seus fatores de rendimento (ex. físico, técnico, tático e psicológico), que eram trabalhadas de forma analítica ou isoladas. Como relatamos anteriormente, apesar da pouca semelhança entre o treino e o jogo, esses fatores eram treinados em situações descontextualizadas do que o jogo pedia. Porém para avaliar o atleta e o treino temos que contextualizar ele à lógica interna do jogo, por intermédio, por exemplo, dos jogos reduzidos e condicionados, objetivando uma dificuldade na capacidade de controle do treino e sua real transferência para o jogo.
Um dos métodos adotados por muitos treinadores foi comparar a atuação dos atletas em treino e jogo através do recurso à análise notacional. Travassos (2019, p.64) cita que
Essa análise consiste na identificação das ações ofensivas e defensivas de cada atleta, como também a mensuração da sua frequência de ocorrência. Os indicadores de performance mais utilizados com referência a essa metodologia são o quantitativo de: passes certos x errados, perdas de bola, desarmes, chutes à gol, como também o setor da quadra que ocorreram essas ações.
Este mesmo autor, cita que existem também maneiras de avaliarmos o desempenho físico geral do atleta, para que seja extraído o melhor de cada jogador durante a partida ou treino. Temos a compreensão que avaliar o atleta desde a iniciação é um processo muito complexo, pois, percebemos que teremos vários pressupostos que irão inferir sobre a evolução desse atleta, irei citar aqueles que acredito que sejam mais relevantes: Metodologia de ensino dos esportes coletivos, princípios pedagógicos para o ensino dos esportes, como também, desenvolver aspectos do processo de ensino e aprendizagem nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais.
Reflexão final
A proposta para este capítulo foi apresentar a “Conduta profissional, visão estratégica e tática de sistemas de jogo para treinadores esportivos” um repertório de experiências teórica x prática, vividas na minha trajetória de 35 anos do ensino e aprendizagem dos esportes, incluindo as manifestações educacional, formação e rendimento, tenho a convicção, que produzir conhecimento é uma relação ética entre os pares (técnico e atleta) na produção dos saberes técnicos, táticos, físicos, cognitivos e comportamentais. Com isso, o planejamento dos conteúdos, como também, as metodologias de ensino dos esportes de forma inovadora, trazem subsídio horizontal e humano na forma de ensinar os conteúdos, ou seja, os atores técnicos e os atletas constroem pedagogicamente elementos que propõem as dimensões de ensino conceitual, procedimental e atitudinal aplicáveis no ensino e aprendizagem do esporte. Trago a reflexão sobre uma postura de técnico/humano, visando a evolução dos aspectos que não apenas a construção de um atleta que tecnicamente e taticamente sabe jogar esse ou aquele esporte. Procurei construir elementos objetivando uma qualificação profissional e portanto, uma visão mais ampliada na formação de um atleta que procura uma cidadania através do esporte, aquele que utiliza o esporte como ferramenta socializadora para uma sociedade igualitária e fraterna.
REFERÊNCIAS
BALZANO, O. N. Metodologia dos jogos condicionados para o futsal e Educação Física escolar. Várzea Paulista, SP: Fontoura, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017.
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DARIDO, Suraya Cristina; SOUZA JÚNIOR, Osmar Moreira de. Refletindo sobre a tematização do futebol na Educação Física escolar. Motriz: Revista de Educação Física, Rio Claro, v. 16, n. 4, p. 920-930, out./dez. 2010.
FILGUEIRA, F. M.; GRECO, P. J. Futebol: um estudo sobre a capacidade tática no processo de ensino-aprendizagem–treinamento. Revista Brasileira de Futebol, v. 01, n. 2, p. 53-65, jul.-dez. 2008.
GIACOMINI, D. S. Conhecimento tático declarativo e processual no futebol: Estudo comparativo entre jogadores de diferentes categorias e posições. Dissertação (Mestrado em Educação Física) — Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
GRECO, P.J.; BENDA, R.N. O Sistema de Formação e Treinamento Esportivo. In: Iniciação Esportiva Universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Minas Gerais: UFMG, 1998.
KRÖGER, Christian; ROTH, Klaus. Escola da bola: um ABC da bola para iniciantes nos jogos esportivos. São Paulo: Phorte, 2002.
SABOIA, Wilson. Metodologia do Ensino do Futsal. Curitiba: CRV, 2023.
TRAVASSOS, Bruno. A tomada de decisão no futsal. 3. ed. São João do Estoril: Prime Books, 2019.
PRÁTICA ESPORTIVA PRINCÍPIOS DA
O esporte é concebido como uma ferramenta eficaz para o desenvolvimento humano. Para que seus benefícios sejam plenamente alcançados, é essencial contar com uma intervenção profissional qualificada, ética e responsável.
O livro “Princípios da Prática Esportiva” reúne conteúdos didáticos destinados à formação continuada de profissionais e estudantes de educação física, atletas, entre outros agentes educativos, para o desenvolvimento de práticas esportivas que produzam conhecimento, segurança, confiança e equidade, pautadas por um planejamento com intencionalidade de objetivos e que gerem os resultados esperados.