FORTALEZA-CE, AGOSTO DE 2020
Consumo
INTELIGENTE E SUSTENTÁVEL COMO PENSA QUEM DECIDE TROCAR O IMPULSO PELO CONSUMO CONSCIENTE. E OS IMPACTOS NA QUALIDADE DE VIDA DE QUEM ESTÁ EM BUSCA DO EQUILÍBRIO
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editorial
BUSCA PELO EQUILÍBRIO Contamos várias histórias sobre o consumir nas páginas a seguir. Gente que parou para refletir sobre o mundo que vive e mudou os hábitos. Quem se dedica a pequenos processos artesanais para fazer leites, sabões e outros produtos naturais para o dia a dia, reaproveitando embalagens e diminuindo a produção de lixo. Quem decidiu virar vegetariano por uma questão socioambiental e quem mesmo sem deixar de comer carne, elege um dia da semana para evitar proteínas animais. Não são poucas pessoas. Pesquisas
sobre comportamento do consumidor revelam que o brasileiro tem se tornado mais consciente em relação ao que consome nos últimos anos, devido à rapidez com que as informações circulam e o aumento da percepção sobre o impacto direto que a questão da sustentabilidade tem na qualidade de vida de cada indivíduo. Queremos instigar: consumo consciente não é apenas consumir produtos sustentáveis, mas estar consciente inclusive sobre se você precisa de determinada coisa. Você precisa de tudo o que consome?
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MUDANÇA de hábito para consumo mais consciente SUSTENTABILIDADE além das questões ambientais ARTIGO
expediente
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA PRESIDÊNCIA: João Dummar Neto DIREÇÃO ADMINISTRATIVO-FINANCEIRA: André Avelino de Azevedo GERÊNCIA GERAL: Marcos Tardin GERÊNCIA EDITORIAL E DE PROJETOS: Raymundo Netto ANÁLISE DE PROJETOS: Aurelino Freitas, Fabrícia Gois, Emanuela Fernandes PALCO VIDA & ARTE DIREÇÃO GERAL: Cliff Villar e Valéria Xavier COORDENAÇÃO EXECUTIVA: Ana Cristina Barros COORDENAÇÃO ADJUNTA: Patrícia Alencar COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: Gilvana Marques PRODUTORA: Luisa Duavy ESTRATÉGIA E ANÁLISE DE MARKETING: Patrícia Alencar PROJETO GRÁFICO: Andrea Araujo EDIÇÃO DE DESIGN: Kamilla Damasceno PERFORMANCE DIGITAL: Fernando Diego CONTROLLER DE MÍDIA: Valeska Cruz ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO: Joelma Leal ESTRATÉGIA E RELACIONAMENTO: Alexandre Medina, Adryana Joca e Juliana Menezes GERÊNCIA GERAL DOS CADERNOS ESPECIAIS: Gil Dicelli EDITORA EXECUTIVA DOS CADERNOS ESPECIAIS: Paula Lima EDIÇÃO DE DESIGN DOS CADERNOS ESPECIAIS: Raphael Goes e João Maropo REPÓRTERES DOS CADERNOS ESPECIAIS: Amanda Araújo, Ana Beatriz Caldas, Hamlet Oliveira, Lia Bruno
SUSTENTABILIDADE rentável e consciente
ARTIGO
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PRISCILA SMITHS
Mudanças
DE HÁBITOS PARA UM CONSUMO MAIS CONSCIENTE OS CAMINHOS PARA ESCOLHAS DO QUE CONSUMIR SE AMPLIAM E MUITOS SÃO GUIADOS PELA CONSCIÊNCIA SUSTENTÁVEL
Ana Beatriz Caldas
beatriz.caldas@opovo.com.br Em 2018, a fotógrafa e artista visual Tay Moreira, 25, resolveu se propor um desafio: ficaria um ano sem comprar roupas nas principais lojas de fast fashion que compunham seu armário, consumindo apenas – quando necessário – peças adquiridas em brechós. A ideia surgiu como complemento de uma série de mudanças que ela havia decidido fazer
em seu cotidiano ao longo dos anos, como parar de comer carne e ter, como principal meio de transporte, uma bicicleta. Quando completou um ano da experiência, no entanto, resolveu continuar, investindo na reforma de roupas que rasgavam ou descosturavam e transformando peças usadas em novas com bordados e customizações. “Comecei a me preocupar com meus hábitos de consumo com a comida, evitando comer carne, diminuindo o consumo de alimentos industrializados e, depois, virando vegana. Como tenho muitas alergias e intolerâncias, tive um motivo a mais para mudar meu estilo de vida. Hoje, vivo isso nas minhas roupas, nos cosméticos que uso, na minha locomoção e na própria relação que tenho com a cidade. Quando mudamos os nossos há-
Tay acredita que todos somos seres políticos e que cada ação micro influencia no macro
Tay Moreira bitos de consumo, a forma como pensamos também muda”, explica Tay, que desde então começou a se dedicar a pequenos processos artesanais para fazer leites, sabões e outros produtos naturais para o dia a dia, reaproveitando embalagens e diminuindo a produção de lixo. Com a chegada da Covid-19, Tay teve alguma facilidade em manter a maior parte desses hábitos, como cozinhar em casa e se locomover, quando necessário, de bicicleta. Após ser demitida da escola de idiomas onde dava aulas em parte da semana, devido a cortes ocasionados pela pandemia, ela percebeu que sua forma de consumir contribuiu, inclusive, para a manutenção de uma reserva financeira. “Continuei fazendo praticamente tudo o que fazia e percebi que, mesmo com a demissão,
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SUSTENTABILIDADE: UM NOVO CAMINHO Segundo Cláudia Buhamra, professora titular da FEAAC/UFC, o caso de Tay não é uma exceção. De acordo com pesquisas sobre comportamento do consumidor, o brasileiro tem se tornado mais consciente em relação ao que consome nos últimos anos, devido à rapidez com que as informações circulam e o aumento da percepção sobre o impacto direto que a questão da sustentabilidade tem na qualidade de vida de cada indivíduo. “Quando o consumidor percebeu que, para determinado produto sair da fábrica, ele precisava poluir o rio que dá o peixe que vem para a sua mesa, ou o solo que lhe dá verduras e legumes, ele percebeu que a sustentabilidade não é mais uma questão macro, que compete apenas ao governo e à legislação, mas uma questão que compromete a sua própria qualidade de vida e que tem interferência na qualidade de vida de seus filhos e netos”, afirma Buhamra. Por conta dessa ressignificação, termos como “consumo consciente”, “sustentabilidade” e “responsabilidade ambiental” têm sido cada vez mais incorporados ao discurso de empresas, instituições e ao próprio cotidiano de muitos consumidores na última década. Com o uso de canais digitais para produção de conteúdo e informação, a exemplo de canais no YouTube e perfis no
Instagram, no entanto, ao mesmo tempo em que a mensagem de redução de danos ao meio ambiente se espalha, pode haver uma simplificação do termo, tornando o consumo consciente mais um nicho de um sistema que estimula o consumo desenfreado. A observação é feita pela consultora ambiental Magda Maya, autora do livro Sustentabilidade 4.0. “A revolução na comunicação que começou a dominar esses canais e dar voz a todo mundo é extremamente relevante, pois o chamado ciberativismo é fundamental para que haja uma maior consciência em relação a diversas causas. No entanto, é necessário ter cuidado com o que é propagado e buscar aprofundamento científico para que haja, de fato, uma revolução ecológica. Consumo consciente não é apenas consumir produtos sustentáveis, mas estar consciente inclusive sobre se você precisa de determinada coisa”, ressalta Maya.
Para quem costuma se alimentar fora de casa ou ir ao supermercado com frequência, a nutricionista Sara Ortins recomenda a adoção de hábitos simples que podem reduzir a produção de lixo e contribuir para a sua saúde: > LEVE LANCHES rápidos na bolsa, feitos com frutas, sementes e oleaginosas; > SUBSTITUA descartáveis por um kit lixo zero com talheres, vasilha, guardanapo de pano, copo ou garrafinha. O ideal é usar o que você já tem em casa, quando possível, para evitar maior produção de resíduos. Essa dica também é interessante para evitar uso de talheres compartilhados, um cuidado necessário em tempos de Covid-19; > PARA O SUPERMERCADO, leve a sua maior ecobag, e saquinhos de pano ou potes que você já tenha em casa para compras a granel, e sempre dê preferência as embalagens 100% recicláveis ou de vidro.
A artista visual percebeu com a pandemia que sua forma de consumir contribuiu, inclusive, para a manutenção de uma reserva financeira
FOTOS PRISCILA SMITHS
conseguia guardar algum dinheiro, o que me possibilita algum conforto. Esse momento também reafirmou a minha visão de que todos somos seres políticos e que cada ação micro influencia no macro: porque ficamos mais em casa, vimos animais aparecendo com mais frequência nas cidades, além de águas mais limpas. É necessário que continuemos refletindo sobre isso, para que possamos coexistir com mais respeito”, pontua.
Fora de casa
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REDUZINDO IMPACTO DE DENTRO PRA FORA
Patrícia Belo A empresária acredita que com a pandemia a pauta da alimentação mais saudável e consciente pode ganhar força
Muitas pessoas têm começado uma mudança de hábitos com o objetivo de consumir de maneira mais consciente a partir da alimentação, aderindo a dietas restritivas que visam uma rotina mais saudável, o reaproveitamento da comida e a redução de danos ambientais causados pela produção de certos alimentos, como a carne. Para a empresária Patrícia Belo, o exemplo veio de casa. Desde pequena, acostumada com a dieta macrobiótica da mãe e passando muito tempo no sítio da família, ela teve uma relação diferente com a comida – algo que levou para a vida adulta e que hoje busca passar para os filhos. “Sempre busquei trazer um pouco mais desse estilo de vida mais natural para onde morei, com muitas plantas e pequenas hortas. Acredito muito no equilíbrio como uma forma de consumo consciente: não comer apenas batata, alface, mas procurar se alimentar do que é da época, respeitar o ciclo da natureza”, conta. A partir dessas decisões, a empresária foi adequando outros setores de seu dia a dia a um modo de viver mais sustentável. Começou a prestar mais atenção no lixo que produzia, separando o lixo orgânico do reciclável, utilizando parte do lixo orgânico como adubo e evitando o uso de plástico sempre que possível. “Diminuir o uso de plástico fora de casa e destinar o lixo para os lugares corretos é difícil, mas é necessário que tentemos reduzir os danos sempre que possível. No supermercado, por exemplo, sempre peço caixas ao invés de sacolas e, quando uso algo plástico, tento reutilizar ao máximo”, conta. Apesar de não ser vegetariana nem vegana, Patrícia também acredita que diminuir o consumo de carne é um fator importante para reduzir o impacto socioambiental. “Penso muito na questão do aumento populacio-
nal, da falta de água no mundo e o quanto de água se gasta para isso. Por isso, em casa, estabeleci dias em que não comemos carne, uma forma de substituir a proteína animal pela proteína de outros alimentos”. Em um momento em que hábitos de saúde preventiva são primordiais, Patrícia acredita que a pauta da alimentação mais saudável e consciente pode ganhar força. “Apesar de a pandemia ter mexido muito com o emocional de todo mundo, o que às vezes faz com que descontemos na comida, muitas pessoas têm buscado fortalecer seu organismo, adquirir imunidade, e dessa forma acrescentam novos alimentos em sua dieta”, completa. Essa tendência de buscar uma alimentação mais saudável e que cause menos impacto socioambiental, inclusive, é uma mudança de comportamento que já chegou ao Ceará, segundo a nutricionista Sara Ortins, especialista em Nutrição Vegetariana. "A maioria dos meus atendimentos ainda é composta por vegetarianos estritos que estão procurando balancear a dieta ou ter uma melhor performance, mas ultimamente muitas pessoas me procuram com o intuito de iniciar uma transição por conta de uma consciência ambiental, mesmo, seja por um documentário que viu ou porque sempre teve vontade e agora se sente mais seguro", afirma.
6 LOGÍSTICA REVERSA E BRECHÓS SÃO OPÇÕES DE MODA SUSTENTÁVEL Dos setores que sentiram o impacto desse novo discurso “verde” que tem a sustentabilidade como base, um dos mais atingidos foi o segmento da moda, considerado um dos mercados mais poluentes por seu modelo de produção, geralmente em escala. Em oposição ao formato tradicional de produzir moda, novas marcas de vestuário têm nascido já com o propósito de criar peças em número reduzido e reaproveitando materiais. Criada em 2019 pelas sócias Larissa Viegas e Carol Farias, a marca cearense Ziguezá surgiu com a ideia de criar roupas confortáveis e ecologicamente corretas para crianças. “Quando resolvemos empreender nessa área, sabíamos que a questão da produção e do descarte das peças era muito séria e que íamos acabar gerando mais lixo. Por isso, criamos o Ziguevolta, que é um programa que recolhe peças que não cabem mais e dá desconto em peças novas, porque o que a gente menos queria era que nossas peças virassem lixo. Dessa forma, a gente pode transformar as peças usadas em acessórios ou doar para instituições que precisam”, explica Larissa. Além de marcas com produtos novos produzidos e comercializados de maneira sustentável, o boom do consumo consciente estimulou a criação e a popularização de bazares e brechós. Em Fortaleza, eles podem ser encontrados em feiras, lojas colaborativas ou ainda online, através de perfis em redes sociais ou site próprio. Um dos nomes mais conheci-
dos por quem busca a circulação de peças é o brechó Retroagir, criado pela designer Orleanne Barreto e sua irmã, a fotógrafa Anie Barreto. Na época, o objetivo era conseguir um meio de renda para as estudantes. Hoje, administrado apenas por Orleanne, o brechó virou negócio, já conta com uma cartela cativa de clientes e é um dos preferidos por quem busca peças vintage, difíceis de encontrar em outros espaços. "Nosso público é formado por pessoas que procuram peças diferenciadas e que contenham história, pessoas que têm mais consciência da sua forma de consumo, do seu estilo de vida e do impacto de suas escolhas", comenta. As vendas, que também incluem peças feitas a partir do processo de upcycling ou reconstrução criativa, são feitas através da internet. Localizada na avenida Monsenhor Tabosa, no coração da cidade, a Revival também partiu do brechó como forma de estimular uma moda mais consciente. Atualmente com 700 peças de segunda mão à venda, a
loja também comercializa produtos novos e usados de dez marcas locais em um espaço colaborativo comandado pelas sócias Pérola Castro e Tainan Fernandes. Segundo Pérola, a experiência ganhou vida após uma viagem em que as duas designers se depararam com diversos brechós e resolveram, finalmente, criar o seu próprio. "Inicialmente, quando planejamos a Revival, traçamos um perfil de público jovem, com uma vida cultural específica, que entendesse o conceito de brechó e de consumo consciente, mas depois de abrir a loja tivemos a boa surpresa de um público bem variado. Hoje recebemos turistas, moradores do entorno, pessoas de idades diversas, de diferentes gostos e classes sociais", conta.
FOTOS DIVULGAÇÃO
Brechó Retroagir já conta com uma cartela cativa de clientes com vendas sempre pela internet
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EDUCAÇÃO E LAZER INFANTIL COM FOCO EM UM FUTURO MELHOR
As vendas do brechó Retroagir também incluem peças feitas a partir do processo de upcycling ou reconstrução criativa
Muitos millenials – nascidos entre a década de 80 e meados da década de 90 – que estão começando a formar suas próprias famílias têm repensado as formas atuais de educação e entretenimento para os pequenos. Desde que souberam que teriam seu primeiro filho, a designer de moda Raquel Araújo e seu companheiro, o administrador Érico Praça, decidiram adotar uma série de hábitos para estimular ao máximo uma consciência mais livre na criança que estava chegando, começando por uma lista de enxoval bem enxuta e com peças que durariam muito. “Os maiores influenciadores do consumismo da criança são os pais: são os pais que enchem as crianças de brinquedos e de atividades que às vezes as crianças nem demandam. Somos responsáveis, inclusive, pelo consumo imaterial, por proporcionar atividades ao ar livre e um brincar mais livre”, afirma Raquel. Desde que nasceu, a pequena Elis, hoje com quatro anos, usou fraldas de pano, eliminando o uso de fraldas descartáveis, lencinhos umede-
cidos e pomadas. Amamentando a filha por dois anos e três meses, Raquel também conseguiu evitar a compra de muitas chupetas e mamadeiras. “Ela nunca esteve cercada de muitas coisas, e isso fez com que a gente consumisse menos do que aquilo que é tido como prioridade”, ressalta. Atualmente, os pais de Elis dividem a ideia do consumo consciente na infância com outras famílias através de um grupo de trocas no WhatsApp. “A gente faz circular tudo o que a Elis tem. Nesse grupo, tanto consumimos como passamos para frente brinquedos, roupas e sapatos usados. Ela já tem a consciência de que existem outras crianças que não têm a mesma quantidade de roupas e brinquedos que ela, então sempre fazemos doação e trocas”, conta.
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Sustentabilidade
QUE VAI ALÉM DE QUESTÕES AMBIENTAIS GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO APOSTA EM COMITÊ DE SUSTENTABILIDADE E INVESTE EM PRÁTICAS DENTRO DO TRIPÉ: PLANETA, PESSOAS E LUCRO O Comitê de Sustentabilidade do Grupo de Comunicação O POVO existe há pouco mais de dois anos. A iniciativa começou na comissão administrativa, onde existiam várias ações que eram voltadas ao consumo consciente, como economia de custo da empresa, papel, energia. Desde então, o grupo tem adotado medidas para garantir o selo sustentável da empresa. Algumas práticas já se enquadravam dentro do tripé da sustentabilidade: planeta, pessoas e lucro. O comitê acredita que não existe uma empresa sustentável que não dê lucro. Foi quando se decidiu fazer a coleta seletiva, filiados a uma associação, as lixeiras do Grupo O POVO foram todas etiquetadas. Além disso, a empresa já trabalhava com papel reciclado na fabricação do jornal impresso antes mesmo da criação do comitê. Mas hoje, o jornal é o primeiro a ter o selo Ceflor, que atesta que ele vem de um manejo sustentável. O selo é uma certificação auditada pela Associação Portuguesa de Certificação (APCER) e reconhecida internacionalmente pelo Programme for the Endorsement of Forest Certification Schemes (PEFC). Apoiado nisso, o conselho passou a trabalhar nas políticas de sustentabilidade, que tiveram orientação da presidente Luciana Dummar. Foi quando perceberam que boa parte dos princípios estavam relacionados com o Pacto Global da Organiza-
ção das Nações Unidas (ONU). O comitê solicitou a presidente do O POVO que enviasse uma carta a sede da ONU, em Nova York, Estados Unidos, e logo foram respondidos e a filiação foi oficializada. Para além de títulos e selos, Demitri Túlio, repórter especial e colunista do O POVO, evidencia a relevância sobre a preocupação da entidade com as questões ambientais. “Essa discussão também deságua no jornalismo praticado pelas plataformas do O POVO. Tanto que o veículo é reconhecido como um dos que mais influenciaram na legalização do Parque do Cocó e outras questões ambientais travadas em Fortaleza e no Estado.” O repórter - que faz parte do comitê desde o início- ainda acrescenta que fazer parte do grupo o fez pensar em problemáticas básicas que foram naturalizadas pelo “analfabetismo ambiental”. Demitri enfatiza que “precisamos, urgente, aprender que não dá mais para utilizar copo plástico para be-
ber água no ambiente de trabalho, incorporar ao nosso dia a dia a coleta seletiva do lixo que produzimos em casa ou no trabalho.” De acordo com ele, são necessárias pequenas, “médias e grandes ações para fazer com que a Terra retome equilíbrios que foram exauridos pelo homem - por nós - ou que estão à beira de um colapso.”
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consumir MUDE SEUS HÁBITOS AO
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ocê já ouviu falar sobre consumo consciente? Esse tema, que está cada vez mais sendo discutido atualmente. Consiste na mudança de hábitos do nosso cotidiano, que vão desde a escolha das compras no supermercado, das roupas que vestimos ou até mesmo na redução do consumo desnecessário de tecnologia. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, entre um quarto e um terço dos alimentos produzidos anualmente para o consumo humano é desperdiçado. Isso equivale a cerca de 1,300 bilhões de toneladas de alimentos o que, segundo a FAO, alimentaria algo em torno de dois bilhões de pessoas. Sobre o tema, o nutricionista Wylder Moreira Dantas Junior, 23, acredita que a médio custo existe o desperdício por parte dos supermercados e restaurantes principalmente, e que por conta de normas da Anvisa, alguns alimentos precisam ser descartados a partir de um período pré-estabelecido pelo órgão. “A aparência do alimento é um fator bem considerável para o seu descarte, principalmente quando se trata de frutas, legumes e carnes, por eles serem produtos in natura”, ressalta o profissional. Quando se trata das roupas que compramos, por exemplo, podemos levar em consideração a produção em massa para aten-
der a esse consumismo, e os resíduos químicos provenientes desse processo. Neste sentido, a moda consciente busca questionar essa forma de produção desenfreada. A preocupação em gerir um empreendimento sustentável foi o que motivou as designers Leslie Possidonio, 25, e Luciana Valente de Brito, 24, a criarem a Susclo, um brechó online que se propõe a comprar e vender peças seminovas e estimular o consumo sustentável de seus consumidores. No ato da compra, os clientes recebem seus produtos em embalagens denominadas “suscolinhas”, que são constituídas de resíduos têxteis coletados de fábricas. O processo de confecção dessas embalagens é totalmente manual, o que torna o empreendimento ainda mais sustentável. “A gente coleta uma matéria-prima que seria descartada e estava sendo destinada para o lixo, mas que pode ser reutilizada de forma criativa”, conclui Luciana.
Davi Holanda Repórter CUCA
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consciente SUSTENTABILIDADE RENTÁVEL E
COM FOCO EM LEVAR CONSCIENTIZAÇÃO SUSTENTÁVEL PARA A SOCIEDADE, EMPRESAS CEARENSES UNEM APRENDIZADO COM PRODUTOS E SERVIÇOS PRESTADOS
Hamlet Oliveira
hamlet.oliveira@opovo.com.br Não é de hoje que o fator da sustentabilidade está envolvido na escolha de um determinado item ou produto. Além do preço, confiança na marca, experiências anteriores, recomendações e outros pormenores, o aspecto do consumo sustentável ganha mais força a cada ano no poder de decisão dos consumidores. Nesse ponto, há ponderação acerca da escolha de itens como tempo de degradação de um material, facilidade de reciclagem, o impacto que ele terá ao ser descartado, entre outros. Em estudo realizado em parceria com a National Retail Federation (NRF), a empresa IBM registrou que os consumidores estão dispostos a pagar 35% a mais por produtos que estejam em sintonia com os valores que defendem. Outros 57% estão dispostos a mudar os próprios hábitos de compra. O estudo foi realizado em 28 países e contou com participação de 19 mil pessoas. Quando se fala em consumo sustentável, um dos tópicos sempre ressaltados é o descarte apropriado dos produtos. Nessa linha,
a empresa Green Bag Brasil trabalha, desde 2016, com o reúso de itens como cintos de segurança e velas de kitesurf para a produção de bolsas e mochilas. Gestor ambiental e com experiência em coleta seletiva, Juliano Pessoa, fundador da empresa, comenta que o “start” para a Green Bag se deu ao perceber que alguns resíduos não possuíam destinação adequada. “E comecei a estudar uma forma a possibilidade de reaproveitar esses materiais para outra função. Foi a partir daí que aprendi sobre ecoprodutos e upcycling.” O upcycling consiste na readaptação de um determinado item para outro diferente. Nas etiquetas que acompanham cada mochila ou bolsa, há uma explicação de sobre qual foi o caminho percorrido pelos itens até se transformarem nos novos produtos. “Quando as pessoas veem e leem, elas se admiram que uma vela de kite possa se
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transformar numa mochila, uma lona de carreta pode se transformar numa bolsa, um cinto de segurança pode se transformar numa alça resistente.” O fim do ciclo de cada produto da Green Bag Brasil é se transformar em outro. Com garantia vitalícia, caso ocorra um rasgo ou descostura do item, ele não é jogado fora, mas reutilizado como matéria-prima para uma substituição. Dessa forma, não há desperdício. “Temos um programa de logística reversa das velas de kite, onde a gente visita praias que têm prática de kitesurf e oficinas de kite, disseminando que, quando tiver um kite rasgado, velho, ao invés de jogar no lixo, pode nos acionar que vamos buscar.” Para Roberto Pinto, professor do curso de Administração da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a participação das empresas na conscientização do público acerca do consumo sustentável é “tão importante quanto o das escolas”, por conseguirem levar um aprendizado em diferentes escalas. O docente ressalta, contudo, que tais comportamentos são mais comuns em empresas de grande porte - filiais de outras
Juliano Pessoa, fundador da Green Bag, diz que o “start” para o negócio se deu ao perceber que alguns resíduos não possuíam destinação adequada
do exterior e que já possuem essa tradição - e novos negócios, que já surgem alinhados a práticas sustentáveis. “Temos empresas tradicionais de médio porte que precisam entrar nesse grupo.” Com linhas de produtos como maquiagens, desodorantes, de skin care e outros, a loja cearense Flora Bamboo trabalha com itens orgânicos e veganos em seu catálogo. Além das vendas, o perfil da empresa no Instagram (@florabamboo) traz cotidianamente dicas e informações sobre os benefícios de produtos naturais para o corpo. “O que nos inspira é poder atuar com algo que está dentro de uma indústria que produz com menos impacto negativo ao organismo
e meio ambiente”, conta Dayane Uchoa, sócia proprietária. Em adição às postagens, a Flora Bamboo também organiza eventos, como workshops, feiras e rodas de conversa, como forma de aumentar o escopo do aprendizado sobre consumo sustentável. “Abordamos temas que provocam questionamentos sobre atitudes simples que podem ser incorporadas no dia a dia com foco sempre na mudança de comportamento que leva a hábitos mais saudáveis”, comenta Dayane. A sócia também explica que o retorno dos clientes vem como adesão ao consumo dos produtos e conscientização do comportamento.
12 ALEX GOMES
Marcelo Vieira explica que essa conscientização está desde a decoração da loja até no discurso de venda
IMAGINE AÇAÍ A ideia de transmitir para o consumidor uma mensagem de conscientização sobre o que se adquire está presente desde o primeiro dia da Imagine Açaí, em 2018. O fundador da empresa, Marcelo Vieira, explica que essa conscientização está desde a decoração da loja, até no discurso praticado durante a venda. “Em relação a água, nós aceitamos que o cliente deixe uma água paga pra quem não tem acesso a água potável. Nós nos encarregamos de fazer a entrega para moradores de rua. Temos também uma árvore de livros que é totalmente livre de qualquer burocracia.” Um dos diferenciais da empresa está no pote que transporta o açaí. Produzido a partir de papel biodegradável, o impacto do seu descarte é inferior em relação às contrapartes de plástico. Outro estímulo é a disponibilização de sementes para que os clientes possam plantar nos próprios potes que utilizaram. “No lugar dele jogar o pote no lixo, ele leva um girassol plantado pra casa. Caso ele não queira plantar, existe um local onde esses potinhos são colocados para serem reutilizados para plantio por qualquer outra pessoa. Quando o pote é reutilizado para o plantio, por conta das regas diárias e da exposição ao sol, a degradação dele é ainda mais rápida.” No âmbito do reaproveitamento, as mobílias na Imagine Açaí são produzidas com materiais que iriam ser descartados. As pias, por exemplo, são feitas de tambor de óleo; os bancos produzidos com latas, enquanto as prateleiras e balcão feitos de porta de geladeira.
YBY Nem só da comercialização de produtos vive a economia baseada na sustentabilidade. Tendo como moeda de troca o próprio aprendizado sobre um consumo mais consciente, a Yby Soluções Sustentáveis trabalha com a proposta de levar uma mudança no cotidiano para outras empresas e prédios comerciais. O projeto surgiu a partir da percepção do descarte equivocado de óleo de cozinha, que prejudica a rede hidráulica. Os primeiros projetos da Yby foram referentes a implantação de biocoletores de óleo nos andares dos prédios, com a posterior coleta e destinação do produto. “Posteriormente, vimos a necessidade de estender o trabalho para a implantação da coleta seletiva de outros resíduos recicláveis, como plástico, papel, vidro e metal”, conta André Marques, idealizador e diretor comercial da Yby.
André detalha que o maior desafio da empresa é a sensibilização dos clientes. Mas que, em geral, as inovações são bem recebidas durante a implantação do projeto. “É muito bacana ver que mais de 70% do público que dispõe do serviço colabora com a iniciativa”, diz. Hoje, os resíduos coletados são doados para associações de catadores, como forma de aumentar a renda de pessoas que lidam diretamente com esses insumos. Um projeto futuro é a possibilidade dos clientes, pelo site, consultarem todas as movimentações das coletas realizadas, assim como do encaminhamento dos resíduos a emissão dos documentos de comprovação. O idealizar também reforça a importância da população em atuar para mudanças no dia a dia. “O consumidor é o maior influenciador da mudança da indústria. Uma vez que ele repensa seu comportamento ele pode causar um grande impacto positivo na sociedade. Já vimos que várias cidades têm projetos de lei tramitando para proibições de copos, sacolas e outros plásticos de uso único que são os grandes vilões da poluição plástica”, encerra André.
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bem EMPRESAS AGENTES DO
artigo
O
lixo que você separa, o plástico que você recicla ou a água que raciona são de extrema importância, mas não podemos negar é preciso também que as Indústrias, os maiores responsáveis pela poluição, façam sua parte. Nesse contexto, inúmeras empresas passaram a rever seus valores adotando uma postura mais sustentável. As corporações mais conceituadas no assunto adotam a responsabilidade ambiental como um valor, educando funcionários e consumidores para que pensem sustentável. Dessa forma, além de contribuir para a preservação do planeta, a marca ganha a simpatia da sociedade, fazendo com que a companhia vá além de empregos e lucros, pas-
se a ser agente transformador da sociedade, aproximando a instituição do consumidor. Algumas empresas são referências e modelos a serem seguidos no quesito responsabilidade ambiental: 1: Natura - “Somos geradores de impactos econômicos, sociais e culturais positivos”: A fabricante brasileira, foi considerada em 2019 a 15° empresa mais sustentável do mundo, segundo o ranking Global 100. A companhia também possui um documento chamado “Visão 2050” que reúne metas sustentáveis. A linha Ekos usa ingredientes de origem natural e estabelece uma relação ética com as
comunidades parceiras. 2. Philips - “Trabalhamos para fazer do mundo um lugar mais saudável e sustentável através da inovação”: No Brasil, 7,7% do faturamento da empresa são destinados a fabricação de produtos com menos impacto ambiental. Nesse contexto, a companhia desenvolveu um projeto em Pedra Branca - SC que disponibiliza lâmpadas LED para iluminação pública do município. 3. Unilever - “Juntos podemos mudar o jeito que o mundo faz negócio”: Ao alterar a composição do sabão em Pó Omo, a multinacional reduziu 35% de sua emissão de gases
poluentes. Também foi lançado uma versão líquida do sabão Omo que reduz o uso de embalagens e transporte. 4. Fibria - “Uma floresta de Oportunidades”: Também brasileira, a produtora mundial de celulose, investe numa pegada mais humana ao oferecer uma educação sustentável às comunidades parceiras ao mesmo tempo que empregam essa população.
Keyssianne Morais Repórter CUCA
+ de 80 mil estudantes de escolas públicas do Ceará sensibilizados, em 2019, sobre a importância de não consumir bebida alcoólica antes dos 18 anos
Capacitação em artesanato com palha, geração de renda e resgate de cidadania para internas do sistema prisional feminino no Ceará
É por isso que tem um sorriso na nossa marca: acreditamos em um futuro melhor para todos O Instituto Diageo promove uma relação responsável da sociedade com as bebidas alcoólicas; empoderamento socioeconômico das comunidades e valorização do artesanato local, com geração de renda e ressocialização; além de capacitação profissional para o mercado de bares e restaurantes.
+ de 21 mil jovens capacitados gratuitamente como bartenders desde 2000, no Brasil
Mantido por