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IDEIAS PARA UM
NOVO TEMPO O mundo pรณs-pandemia visto sob o olhar de jovens da Rede Cuca, em Fortaleza a partir do jornalismo, da prosa, da poesia e da fotografia.
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EDITORIAL Fortaleza, 27 de junho de 2020
PARA INÍCIO DE CONVERSA Olá leitores,
expediente FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência: João Dummar Neto Direção Administrativo-Financeira: André Avelino de Azevedo Gerência Geral: Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Análise de Projetos: Emanuela Fernandes O POVO EDUCAÇÃO Concepção e Coordenação Geral: Cliff Villar Coordenação Executiva: Ana Cristina Barros Coordenação Adjunta: Patrícia Alencar Coordenação de Produção: Gilvana Marques Produção: Ana Luisa Duavy Marketing e Estratégia: Wanessa Góes e Kamilla Damasceno Performance Digital: Fernando Diego e Isadora Colares Assessoria de Comunicação: Joelma Leal Estratégia e Relacionamento: Alexandre Medina e Adryana Joca CADERNO O POVO EDUCAÇÃO Editorial e Edição: Regina Ribeiro Edição de Arte, Projeto Gráfico e Design: Andrea Araujo Textos e fotos: Correspondentes O POVO da Rede Cuca Foto da capa: Andressa Carvalho Banco de Imagem: Gettyimages
O POVO Educação tem o prazer de publicar mais uma edição de um caderno especial cujo conteúdo é produzido integralmente por alunos que fazem parte deste projeto. Este suplemento, portanto, reúne textos, fotografias e charge cuja autoria são dos correspondentes O POVO da Rede Cuca, em Fortaleza. A Rede Cuca e O POVO Educação são parceiros no trabalho comum de ampliar as possibilidades para que adolescentes e jovens descubram e aperfeiçoem seus talentos. O tema central desta publicação gira em torno de reflexões sobre o mundo pós-pandemia. Aqui, jovens estudantes do ensino médio, universitários e professores deixam suas reflexões sobre experiências vividas neste período, investigam a etapa pós-pandemia e exercitam a criatividade em textos de ficção em prosa e poesia. Além disso, este caderno traz um ensaio fotográfico realizado por cinco correspondentes O POVO da Rede Cuca. Agora, um convite à leitura e ao compartilhamento das ideias.
LUAN
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OPINIÃO
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OPINIÃO
ENSINAR E APRENDER
ENSAIO FOTOGRÁFICO
PÓS-PANDEMIA: O QUE NOS ESPERA?
EU E MINHA CIDADE: O RECOMEÇO
PROSA E POESIA
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OPINIÃO
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O NOVO NORMAL A atual conjuntura pôs em evidência algo extremamente necessário, mas nem sempre valorizado: a ciência. Não é nenhum segredo que todos esperam ansiosamente por uma vacina para o coronavírus a fim de que se possa voltar ao normal ou, pelo menos, ao que hoje está sendo chamado de “novo normal”. Andar livremente, reencontrar pessoas queridas, retomar a rotina agitada e estressante da cidade grande ainda parece uma realidade distante - especialmente para quem está respeitando as recomendações de restrição social. Há pouco tempo presenciamos o desamparo federal à ciência e à educação. Hoje, pesquisadores correm contra o relógio e educadores reiventam o ensino do Brasil. Processos que tentam ser tão rápidos quanto o avanço da pandemia e que não recebem o reconhecimento devido. Desejo que o novo normal inclua uma maior preocupação em todas as escalas de produção, consumo e descarte. Que se valorize os laços humanos e também a ciência. Só o conhecimento é capaz de impedir que a sociedade seja refém de seus próprios medos e mitos. IZABEL TININ, correspondente da Rede Cuca, estudante de Jornalismo e bolsista do programa Bolsa Jovem.
SER ENCRUZILHADA! A pandemia provocada pelo novo coronavírus despiu feridas que há muito tempo doem e adoecem a sociedade. Para quem, como eu, teve condições favoráveis para se manter em isolamento social, já passou da hora de reconhecer os privilégios e repensar a forma como ocupamos o mundo. Entoamos aos quatro cantos: “Eu só quero que tudo volte ao normal”. Desconsideramos, porém, que o nosso normal pode significar para outras pessoas a fome, a morte, a violência, o descaso do Estado e o agravamento das muitas vulnerabilidades sociais. Quando falamos em normalidade, a que nos referimos? O normal que o aquece no conforto da sua casa, e que exclui e mata tantos outros do lado de fora? Uma das nossas urgências é rever este cenário do injusto normal. Espero para o pós-pandemia que busquemos ser lugar de encruzilhada nessa sociedade de estrada única. Um lugar de encontro, de multiplicidade, de novos caminhos possíveis. Da reinvenção completa. Precisamos parar de nos negar às trocas! Precisamos ser encruzilhada! SUZANA MOREIRA, correspondente da Rede Cuca, estudante de Jornalismo e bolsista do programa Bolsa Jovem.
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CENÁRIO DE CRISES Durante os últimos meses, diversos acontecimentos relacionados à pandemia do novo coronavírus marcaram o país. As diferentes maneiras como chefes de Estado, médicos e cientistas lidaram com as consequências provocadas pela doença gerou divergência e atritos entre governantes, resultando em um acirramento político entre lados antagônicos. Em meio a um grave problema sanitário, o país atravessa ainda uma grave crise política. Além disso, lidamos com os impactos econômicos resultantes da pandemia. Milhões de trabalhadores informais e autônomos tiveram suas rendas afetadas por conta da suspensão de atividades econômicas não essenciais. O país ainda registra um elevado número de infectados e mortos pelo vírus. É fato que, diante deste cenário, as projeções para o Brasil não são animadoras. Há uma tendência de expressiva recessão econômica, assim como de vivermos um período com alto índice de desemprego. Neste momento, é urgente e necessário haver convergência de esforços em prol do país. LEVI CÉSAR, correspondente da Rede Cuca
MAIS EMPATIA PÓS-PANDEMIA Em meio à pandemia mundial do Covid-19, vivenciamos uma experiência bem atípica neste ano de 2020: o isolamento social. Aplicado de forma coletiva, ficou claro desde o início que essa medida seria um desafio. Após quatro meses desde a confirmação do primeiro caso no Brasil, foi possível tirar algumas conclusões sobre o isolamento social e de como ele pode interferir na nossa rotina pós-pandemia.
Nós vemos ações que buscam o interesse coletivo através do comportamento individual. Afinal, o isolamento de um pode salvar a vida de muitos. Mas e depois? Nosso questionamento é saber se essas atitudes permanecerão após o fim da quarentena e o recomeço de uma nova era na vida das pessoas. É exatamente nisto que acredito e espero: que as pessoas darão mais valor
aos momentos compartilhados com quem ama. Consigo enxergar um futuro que ainda parece incerto, em que o ser humano possa ser não perfeito, mas evoluído o suficiente para olhar o próximo com mais amor e empatia. ISRAEL MORRISSON, correspondente da Rede Cuca e bolsista do programa Bolsa Jovem.
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ENSINAR E APRENDER
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NOSSA TAREFA DE CASA
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vocabulário dos novos tempos inclui uma série de termos tecnológicos. Plataformas de videochamada, softwares de transmissão ao vivo, conexões outras entre as pessoas. Na arte, no esporte, na economia e na educação, o imperativo é se reinventar. Entre lives e bytes, seguimos fundamentalmente humanos. Hoje, isto significa enfrentar as fronteiras que nos separam. Não que as desigualdades sejam novas. A precariedade no acesso à internet é uma realidade de cerca de 70 milhões de brasileiros, segundo pesquisa de um núcleo ligado ao Cômite Gestor da Internet do Brasil. A despeito da qualidade do conteúdo ofertado e do esforço de educadores e instituições em produzí-lo, como tornar virtuais as salas de aula e assegurar que todos os alunos possam integrá-las? A resposta não é simples. Às escolas, universidades e centros culturais cabe seguir inovando, ouvindo a comunidade estudantil e respeitando o ritmo dos professores. Ao país, cabe ampliar o debate sobre a universalização da internet e levar banda de qualidade para todos os lugares. JOÃO BENTO, coordenador de Comunicação Comunitária da Rede Cuca
DESAFIOS DO NOVO NORMAL
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pandemia trouxe o que eu mais tentara evitar na faculdade: as aulas online. Sempre achei o método tradicional mais eficaz. Por esse motivo, ao descobrir que havia quatro disciplinas virtuais na minha grade curricular do semestre, retirei-as imediatamente. A maioria dos meus colegas também fez isso. Porém, a vida tem suas peripécias. Não demorou muito e nos vimos obrigados a aceitar esse método de ensino. Após algumas semanas, enquanto acessava a plataforma da instituição na qual estudo, encontrei uma mensagem da mãe de um aluno. Desesperada, ela dizia que o filho, que possui uma deficiência mental, não estava conseguindo acessar as aulas da disciplina em que estava matriculado. A mãe, apesar de muito ter tentado, não obteve êxito. Diante daquele pedido de socorro, percebi os desníveis que vivemos com as tecnologias. As desigualdades sociais, econômicas, físicas e psicológicas afetam o acesso à educação e precisam ser levadas em consideração neste cenário em que tentamos sobreviver. KELLY MARTINS, estudante de Jornalismo e correspondente da Rede Cuca
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ESTÃO ME OUVINDO?
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omo está a conexão? Conseguem ver o slide? Estou aparecendo para vocês? Estas perguntas ficaram frequentes na boca dos educadores. Já eram muitos os desafios da formação presencial dos alunos, em qualquer modalidade que fosse. Transpor o ambiente educativo para o espaço digital exigiu dos profissionais uma reinvenção completa. A rotina muda, coexiste com os hábitos da casa. Um cômodo deixa de ser lar e se torna sala de aula. Uma nova forma de conviver com os alunos. Acostumados à interação no mesmo espaço, alunos podem apresentar muita dificuldade de se concentrar em casa, onde qualquer estímulo é uma distração. Para os professores, lidar com a obrigatoriedade de aderir a tecnologias digitais de produção e transmissão de vídeos constitui um elemento importante da jornada de trabalho e da saúde mental. A grande quantidade de mensagens em aplicativos e redes sociais passa a fazer parte do cotidiano do educador. E é preciso muita criatividade e empatia para viver este momento com respeito e compreensão. NADLA GOIS, correspondente mestre da Rede Cuca
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O ENSINO E AS DISTÂNCIAS
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s determinações de combate à COVID- 19 mudaram a realidade de diversos setores. Os centros de ensino públicos e privados, por exemplo, sentiram a urgência de se adaptar à nova realidade e a Educação a Distância (EaD) ganhou espaço entre as instituições, numa tentativa de preservar o ano letivo. “Estude em qualquer lugar, de diferentes formas”, dizia a campanha do Ministério da Educação (MEC) para manutenção das datas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Sob a ideia de que “O Brasil não pode parar”, O MEC desconsiderou a realidade que grande parte dos estudantes brasileiros vivencia. Além de muitas vezes privada dos direitos básicos, como a merenda escolar, uma grande parcela dos alunos não possui acesso à internet de qualidade ou a qualquer outro serviço de conexão digital. Em um país onde o índice de evasão escolar é preocupante, é preciso compreender que o ensino remoto, por mais importante que seja neste momento, não atende às crianças e aos jovens brasileiros da mesma maneira. Campanhas como essa só aprofundam o abismo social. ISABELA GOMES, correspondente da Rede Cuca
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CLEONICE SANTOS A solidão de um homem
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AMANDA ALVES Vivência durante a quarentena
ENSAIO
FOTOGRÁFICO OS CORRESPONDENTES O POVO DA REDE CUCA ANTÔNIO NERI, ANDRESSA CARVALHO, AMANDA ALVES E CLEONICE SANTOS APURAM O OLHAR PARA TRADUZIR A CIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA E SEUS PERSONAGENS EM TRABALHOS INÉDITOS. NARYANE GOMES APRESENTA IMAGEM QUE COMPÕE SÉRIE DE FOTOS.
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NARYANE GOMES Foto faz parte da série: Daqui de cima, eu ainda quero o embaixo
ANTÔNIO NERI O extraordinário olhar novo do meu quintal
ANDRESSA CARVALHO Olhar de esperança
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PÓS-PANDEMIA
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O QUE NOS ESPERA? ENTRE TODAS AS INCERTEZAS QUE RONDAM O PERÍODO DE FLEXIBILIZAÇÃO DO ISOLAMENTO SOCIAL DEVIDO À COVID-19, UMA COISA É CERTA: TODOS OS RELACIONAMENTOS SOCIAIS ENTRARAM NUMA CURVA DE MUDANÇA. # EDUARDA MENDES # GABRIELA MORAES # RAUITHY GOMES Correspondentes da Rede Cuca
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travessar uma pandemia é uma realidade que ninguém cogita viver. Parece um assunto restrito às aulas de história. Por isso, o início da década está marcado por muitas dúvidas e incertezas. As expectativas para o futuro já não são as mesmas e as rotinas podem não voltar a ser como eram antes. Até as relações devem exigir mais compreensão e solidariedade. Para o psicólogo Carlos Alberto Roque, não há como prever as especificidades de cada pessoa diante da crise. Porém, existem meios para ajudar a adaptação ao novo normal. “Algumas condições poderiam facilitar: aceitação da situação, uma maior empatia com os diferentes, e uma maior autenticidade
nas relações”, afirma o psicólogo. Para ele, é preciso um ajuste criativo para pensarmos novas formas de nos relacionar. De criatividade, o produtor musical Felipe Mendes entende bem. Profissional da área de eventos, ele analisa os desafios que os artistas estão enfrentando. “ Em meio à pandemia, a classe artística se reinventou de uma maneira nunca vista, com as lives. Acredito que esta alternativa tenha vindo para ficar”. Felipe promove festas em grandes condomínios da cidade, com cada morador aproveitando da varanda dos prédios, sem aglomeração. “É muito bacana ver todo mundo poder curtir da sua própria casa”, pontua. A rotina escolar foi outra que recebeu uma nova roupagem.
Os alunos passaram a assistir aula pela internet e isso pode ter implicações na forma com que costumam se relacionar. “Enquanto alguns conseguirão desenvolver habilidades para novos ciclos sociais, outros podem acabar sofrendo pela falta de interação e, no futuro, terem problemas de socialização”, alerta Amanda Carvalho, professora da rede privada de ensino em Fortaleza. A relação entre serviço e consumidor, família e amigos estará, daqui para frente, se encaixando no novo normal. Não há uma fórmula para enfrentar os dias que virão, além da paciência e respeito com o outro e com o mundo. Com o presente suspenso, o que fica é a curiosidade de saber como será o futuro.
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EU E MINHA CIDADE:
O RECOMEÇO
MORADORES DE VÁRIOS BAIRROS DA CAPITAL E MUNICÍPIOS DO CEARÁ REFLETEM SOBRE O MUNDO PÓS-PANDEMIA # SÂMYLLA COSTA # JULIANA KELLY # ANTONIO NERI # ALLAN DE FREITAS Correspondentes da Rede Cuca
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que você gostaria que mudasse na sua cidade daqui por diante? Entre desejos confessos de mais arte, cultura e entretenimento, questões pendentes do mundo pré-pandemia, e a esperança de um cenário com mais gentileza, senso de coletividade e autocuidado, moradores de diferentes bairros da Capital e de alguns municípos do Estado elegem prioridades para o mundo pós-pandemia. Em comum, a compreensão do isolamento social como um período de reflexão e o anseio por cidades mais justas, com maior investimento na vida população para garantir a segurança econômica e sanitária, além de serem capazes de oferecer condições para hábitos permanentes de higienização.
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SENSIBILIDADE E GENTILEZA
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LIVES E CAUSAS SOCIAIS
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SEGURANÇA E HIGIENE
“Queria que a galera fosse mais sensível. Que valorizasse mais a empatia, a gentileza e tantas outras coisas que antes eram tidas como besteira e agora fazem muita falta. A pandemia trouxe um impacto social. Eu imagino que agora a sociedade possa se ver como um todo e deixe de ser individualista. Até porque vamos vencer isso pensando no coletivo”. Moisés Oliveira, 20 anos, mora no bairro Cajazeiras
“Gostaria que continuasse essa onda de lives musicais. É uma forma de mostrar a arte de uma maneira bem mais acessível para o público que mora longe da Capital, onde costumam se concentrar as apresentações culturais. Me sinto feliz por toda essa luta que está acontecendo [com o caso George Floyd]. Descobri uma nova forma de lutar pelas causas que acredito”. Joana Gonçalves do Nascimento, 68 anos, mora no Triângulo do Marco, interior do Ceará
“Espero poder sair de casa e ter a segurança de que vou para um local limpo e esterilizado. Álcool em gel na porta dos lugares, mesas mais separadas, distanciamento entre as pessoas e consciência da população para continuar usando as máscaras para evitar a propagação do contágio”. Lanara Thaynar da Silva Pinheiro, 24 anos, residente no bairro Arvoredo
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COMPROMISSO COM A PERIFERIA
“Sempre a periferia foi a mais ignorada. Durante os cursos que já fiz, vi boa parte das pessoas desistirem por motivos financeiros, pois estavam estudando longe de seu bairro. Gostaria então de maior comprometimento dos governantes em atuação nas periferias, com geração de empregos, renda e cursos de capacitação nesses bairros”. Antônio Carlos, 55 anos, morador do bairro Parquelândia
“Acredito que muitas coisas vão mudar. Eu mesmo vou aderir mais ao uso da bicicleta e vou preferir locais abertos. Shows? Não penso em ir tão cedo, gostei dos shows em live. Essa deveria ser uma ideia fixa”. João Gabriel Bastos de Carvalho, 20 anos, reside no bairro Padre Andrade
PLATAFORMAS DIGITAIS
“Estou achando bom poder resolver algumas questões sem precisar sair de casa, graças às melhorias das plataformas digitais. Facilitou muito minha vida. Espero que o cuidado com a saúde continue forte. Especialmente entre as pessoas que utilizam transportes coletivos, evitando toques desnecessários e utilizando máscaras e álcool em gel”. Claudiane Sousa Vieira, 32 anos, mora no bairro Quintino Cunha
INCENTIVO ÀS ARTES
“Moro numa cidade no interior (do Ceará). Aqui não tem muita oportunidade de emprego. Sou artista e pretendo trabalhar com arte. No meu caso, as ofertas são ainda mais escassas. Minha esperança é (viver) uma cidade com mais possibilidades para quem deseja ingressar na área cultural. O governo municipal poderia criar projetos de incentivo aos artistas independentes da cidade”. Wesley Martins, 18 anos, mora em Mulungu, região de Baturité
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NOVOS HÁBITOS
“Haverá mudanças drásticas nas relações entre as pessoas e a cidade. Vamos preferir usar mais bicicleta e o deslocamento será o menor possível. Acredito também que os espaços públicos terão equipamentos para higienização das mãos. Essa prática irá se tornar um hábito, pois o novo mundo será de autocuidado”. Ruan Moreira Peixoto, 19 anos, reside no bairro Vila Velha
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CAFÉ E ESPAÇOS PÚBLICOS
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MUDANÇA DE COMPORTAMENTO
BICICLETA E AR LIVRE
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“As pessoas mudarão a forma de olhar a cidade. Visitas a museus e um singelo café na Praça do Ferreira vão ser rotineiros. Os espaços públicos vão ser ocupados e a gente vai reviver novamente nesse novo mundo”. Eric Wagner, 25 anos, reside no bairro Antônio Bezerra
“A primeira mudança precisa partir de todos nós. A partir disso, a cidade muda. As ações locais devem acompanhar essas mudanças de comportamento. Acredito que sem isso, nada muda. Nós ainda temos essa necessidade de evoluir neste aspecto, e não deixar que o vizinho faça sua parte sozinho. Esse momento nos ensinou muito”. Neuton Rodrigues, 30 anos, mora na Praia de Iracema
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PROSA E POESIA
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VOCÊ É UMA BELA GAROTA! Você é uma bela garota! Com suas curvas e suas formas. Com seus cabelos crespos e lisos. Com seus tons de pele e seus sorrisos. Com seus “ois” e seus “adeuses”. Com seus trabalhos pesados e sonhos leves. Com seus delineadores e bonés. Com suas botas e blusas de botões. Com suas saias curtas e seus cargos na presidência. Com suas borboletas no estômago e suas bebidas no bar até tarde. Com seus amores e desamores. Com suas paixões particulares e seu amor a si própria. Não se esqueça, garota: Você é, SIM, uma bela garota! E se alguém discordar disso, que essa pessoa se preocupe sozinha. Que se preocupe por não conseguir enxergar a imensidão de beleza que você carrega em si. ANDRÉ SOLIDÃO, correspondente da Rede Cuca
LIÇÕES DO CORAÇÃO Dois irmãos brincavam na sala de casa. Pararam e começaram a observar pela janela as poucas pessoas que passavam na rua. Alice questionou: — Nossa mãe disse que as pessoas não podem mais se abraçar e devem usar máscara ao sair. Mas assim como podemos mostrar que estamos felizes ou que amamos alguém? Pedro não pensou, mas respondeu sabiamente: — Falando, ora! — Mas não basta falar — replicou ela, com tristeza. A mãe vendo aquela cena, aproximou-se e refletiu. — Sim, filha, nesses tempos, que não podemos abraçar quem amamos e as máscaras escondem sorrisos, é preciso saber dizer o que sentimos, falar “eu te amo”. O olhar também diz muito. Sorrir com os olhos é uma das coisas mais lindas que podemos fazer. As crianças, pensativas, concluíram: — Então, devemos sorrir com o olhar? — perguntou Pedro. — E tocar as pessoas com as palavras? — completou Alice. A mãe, orgulhosa, respondeu: — Isso mesmo, meus filhos. Sorrir com os olhos e tocar as pessoas com palavras não é fácil, mas são lições importantes para esse momento. A família se olhou e teve certeza que o amor é capaz de superar qualquer coisa. DANI CARDOSO, correspondente da Rede Cuca.
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O NOVO NORMAL Respira. Inspiro e sinto o ar passando por mim, me concentro apenas nisso. No ato de encher o pulmão com oxigênio e liberar devagar. Estou sentada no chão com as pernas cruzadas e os olhos fechados. Tenho meditado por toda a noite, tentando me agarrar a qualquer senso de rotina que me resta em meio ao caos do mundo. Mas esse não é o momento para pensar. Já li as notícias, já respondi os emails, já tentei interagir com o maior número de grupos possíveis e silenciei outros. Agora é hora de respirar, trago o ar devagar me concentrando nessa tarefa e... toc toc toc Solto um suspiro. Tudo bem, isso pode acontecer, minha vizinha do andar de cima também tem coisas para fazer. Não posso desligar o mundo. Tento trazer minha atenção novamente a para respiração, ajeito a coluna, penso no ar nas minhas narinas e... toc toc toc toc toc Impaciência. Tudo bem. Esses sentimentos apenas entram e saem de você. Reconheça que estão lá, aceite e deixe eles passarem. Repito como um mantra. Eu não sou a raiva e a vontade de jogar um sapato na casa da minha vizinha. Esse é apenas um sentimento que está povoando a minha mente. Reconheço ele, identifico-o e deixo que ele siga seu caminho. toc toc toc toc toc TOC! Solto um palavrão, levando o olhar para o teto. É meia noite. O que minha vizinha de 80 anos pode estar fazendo que exige tanta batida? Toc. Ela parou? Toc, toc toc, toc toc toc, toc. Tem um ritmo? Começo a rir quando percebi. Ela está dançando! No meio da noite, a minha vizinha, que eu só via na varanda regando as plantas, está dançando! Sento de novo e mando uma mensagem para a minha namorada: “Acho que encontrei outro sinal de que os tempos mudaram”. FERNANDA MARIA, correspondente da Rede Cuca
SENTIMENTAL Ela costumava chorar bastante. Chorava tão forte que chegava a tremer. Eu deitava com ela na cama e, sem saber o que dizer, apenas a abraçava. Eu acho que ela chorava assim sozinha também. Ela nunca me dizia o motivo nem parecia triste antes da crise começar. Ela simplesmente começava. Aquilo me assustava tanto que eu sentia vontade de fugir. Ela não falava nada durante o choro. Só soluçava. Eu sempre me questionava se o motivo era eu, se tinha feito ou dito algo de errado, mas nunca ousei perguntar com medo da resposta “Ela só desaba e espera que eu consiga suportar suas crises”. Eu também espero do fundo do meu coração que consiga suportar. Quero que ela possa contar comigo. Mesmo que na maioria das vezes eu nunca saiba o que dizer, sinto que meu colo é o que ela precisa. Mas… Ultimamente tem sido mais difícil. Eu a amo tanto que me dói imensamente vê-la desse jeito. Hoje, por exemplo, eu confesso que não queria vir. Hoje eu não queria ver meu amor, porque não me sinto forte o suficiente para vê-la sofrer. Amor, me desculpe, mas hoje vou embora antes que você termine de chorar.
KEYSS MORAIS, correspondente da Rede Cuca e bolsista do projeto Bolsa Jovem
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UMA NOVA REALIDADE Hoje em dia, distância é sinônimo de cuidar. Passos ligeiros, um aceno, cumprimento. É uma realidade oposta ao que costumávamos viver. As notícias só aumentam, Ainda temos muito a aprender. Ultimamente, é cada um na sua casa. Para alguns parece exagero. Mas esse foi o meio de estarmos perto do que queremos alcançar. As notícias só aumentam, Mas creio na esperança de que isso passe. As notícias só aumentam, Mas só melhorará se fizermos nossa parte. LILA SOUZA, correspondente da Rede Cuca
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REALIZAÇÃO