O POVO Educação - Nov/22

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ANUÁRIO DO CEARÁ

Publicação do O POVO reúne dados, estatísticas e rankings sobre o Estado do Ceará e se consolida como importante fonte de pesquisa e ensino

Juntos vamos mais longe

A força dos coletivos que dão voz a minorias e personagens periféricos, a pluralidade de um Conselho de Jovens Leitores, a potência de uma companhia de dança redesenham a educação

�������� OPOVOEDUCACAO.FDR.ORG.BR 21 ANOS O POVO EDUCAÇÃO é um projeto realizado pelo O POVO. Edição de 12 páginas encartada no jornal O POVO. Proibido ser vendido separadamente. ����/����/

EMPRESA JORNALÍSTICA O POVO

PRESIDENTE Luciana Dummar

PRESIDENTE-EXECUTIVO João Dummar Neto

DIRETORES-EXECUTIVOS DE JORNALISMO Ana Naddaf Erick Guimarães

DIRETOR DE JORNALISMO DAS RÁDIOS Jocélio Leal

DIRETOR CORPORATIVO Cliff Villar

DIRETORA DE GENTE E GESTÃO Cecília Eurides

DIRETOR ADJUNTO DA REDAÇÃO Erick Guimarães

DIREÇÃO DE NEGÓCIOS E MARKETING Alexandre Medina Néri

EDITORIALISTA-CHEFE E EDITOR DE DIVERSIDADE E INCLUSÃO Plínio Bortolotti

EDITOR-CHEFE DE OPINIÃO Guálter George

ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO Daniela Nogueira

OMBUDSMAN Juliana Matos Brito

ESTRATÉGIA E RELACIONAMENTO Adryana Joca

DIRETOR DE ESTRATÉGIA DIGITAL André Filipe Dummar de Azevedo

ESPECIAL O POVO EDUCAÇÃO 21 ANOS

CONCEPÇÃO E COORDENADOR GERAL Cliff Villar

COORDENADORA DE OPERAÇÕES Vanessa Fugi COORDENADORA PEDAGÓGICA Patrícia Lima de Alencar

ANALISTA ADMINISTRATIVA Elma Gonçalves

GERENTE EXECUTIVA DE PROJETOS Lela Pinheiro

ANALISTA DE PROJETOS Herica Paula Morais

DIRETOR DE NEGÓCIOS E MARKETING Alexandre Medina Néri ASSESSORA DE COMUNICAÇÃO Daniela Nogueira

ESTRATÉGIA E RELACIONAMENTO Adryana Joca O POVO LABESTÚDIO DE BRANDED CONTENT

OPOVO EDUCAÇÃO

Educação, conexão e aliados

Educar é conectar. Conexão se faz com alianças. Aliados nos complementam, nos fazem melhores.

O POVO Educação aborda nessa edição tudo isso. Os diálogos sociais dos coletivos de periferia, a história e o legado do Anuário do Ceará e a trajetória transformadora da Edisca.

As três pautas emulam a essência da educação e da comunicação: ser ponte, memória e propósito. Os coletivos são pontes entre comunidades, passagens entre realidades advindas de um desequilíbrio social e econômico que existe em Fortaleza. O Anuário é nossa escrita rupestre que traduz o que somos, através de dados e análises, e de que forma nos organizamos como sociedade. A Edisca nos aproxima da nossa humanidade através da arte e da inclusão.

Além desses pilares, esse caderno traz um registro importante do Conselho de Jovens Leitores, aqui do Grupo de Comunicação O POVO, que reúne jovens de entidades e instituições da sociedade civil organizada. Esse grupo de jovens conselheiros possui um papel fundamental de propor o dialogo geracional através de pautas transversais de nossa realidade.

Para finalizar, uma entrevista especial com o jornalista Alan Neto, um ícone da imprensa cearense. Tradição e inovação. Memória e tendência. Impresso e virtual. O POVO Educação é para invocar o senso crítico que propõe mudar o mundo através do conhecimento.

DIRETOR DE NEGÓCIOS E MARKETING Alexandre Medina Néri

GERENTE-GERAL Gil Dicelli

EDITORA-EXECUTIVA Paula Lima

EDITORA-ADJUNTA Ana Beatriz Caldas

TEXTOS Rubens Rodrigues

DESIGNER Gil Dicelli

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|ENTREVISTA | Jornalista esportivo, Alan Neto chega aos 82 anos, em plena atividade profissional, lembra dos furos do início da carreira e celebra a nova geração

Alan Neto com a bola toda

Mais de cinco décadas de profissão fazem de Alan Neto um nome tradicional no jornalismo esportivo cearense. Com uma coluna longeva no O POVO e programas importantes no segmento no rádio e na TV, Alan Neto, o homem por trás do “Trem Bala”, chega aos 82 anos comemorados neste dia 27 como uma espécie de fenômeno da comunicação, virando até meme nas redes sociais. Nesta entrevista, Alan Neto lembra o começo da carreira, a estreia como colunista, a marcante entrevista com Pelé e celebra nomes da nova geração do jornalismo.

Como o senhor começou no Jornalismo?

Alan Neto: Comecei como estagiário na Gazeta de Notícias, quando fui convidado para fazer uma coluna. Meu irmão Hider, muito criativo, disse: “Confidencial”. Porque eram as notícias por trás dos bastidores. Com menos de um mês, fui chamado para ter coluna de futebol no jornal O POVO. Escrevia muito mal ainda. Eu tinha experiência de rádio, mas não de jornal. É diferente.

Qual a lembrança mais marcante dessa trajetória?

Alan Neto: Uma entrevista exclusiva que fiz com o Pelé no auge. Eu aluguei um apartamento com o Sérgio (Ponte) no mesmo prédio onde o Santos estava. Pensei: “E agora? Como é que eu vou chegar no Pelé?” Falei que precisava entrevistar o Pelé ou iria perder o emprego e pedi uma declaração bombástica, para sair na primeira página. “Diga aí que a Copa de 70 é a minha última Copa. Bote aí que vai ser a última que vou disputar como jogador da seleção brasileira”. Eu digo: “Se você for para a Copa de 74, me acaba”.

Ele: “Ou você confia em mim, ou termina aqui a entrevista”. Eu só não lembro quando foi. Não decoro datas, nem dias. Quando me perguntam a minha idade, eu digo que é o dia de hoje. Porque a gente nasce quando acorda, e morre quando dorme. Eu faço aniversário todo dia.

O jornalismo esportivo sempre foi uma paixão?

Alan Neto: Eu sempre lidei com o esporte, desde a época da Rádio Iracema. Uma vez, o Chico Alves, que era jornalista também, falou pra eu fazer o programa por ele. Eu falei que faria à minha maneira, não faria à maneira dele. A minha maneira é o improviso. Depois, chamei o Sérgio e disse: “Vamos bolar um

Quando me perguntam a minha idade, eu digo que é o dia de hoje. Porque a gente nasce quando acorda, e morre quando dorme

torcedor de futebol, sem apelar para palavras difíceis. Eu fui me adaptando até encontrar o eixo de como fazer coluna.

E como a TV entrou nessa jornada?

Alan Neto: Foi um lance de pura sorte. Chagas Vieira, hoje chefe da Casa Civil do Estado, é meu colega há muito tempo. Na época, assumiu o jornalismo da TV Jangadeiro. Ele me chamou lá e disse: “Vamos lançar um programa. Você tem experiência em TV?” Eu disse que não tinha nenhuma experiência. Ele falou: “Não precisa. Eu só quero que você seja o Alan do rádio aqui pra gente mudar a linguagem do jornalismo esportivo na TV”. No programa, a Sandra Chaves mandava a bola e eu fazia comentários rápidos e incisivos. Atualmente o Trem Bala é uma espécie de fenômeno, inclusive nas redes sociais. A que o senhor atribui esse sucesso?

Alan Neto: Credibilidade do programa. Sobretudo pela linha de verdade e independência que o Trem Bala tem. Minha bancada é livre para criticar, elogiar e dar informação. Como o Sérgio é bem informado, ele ficou com esse segmento da informação. Para o Evaristo Nogueira, eu criei esse personagem do “Homem Mau” porque ele, quando fala, dá impressão que quer brigar contigo. Nós começamos o programa na TV O POVO. Dummar Neto chamou e disse que queria um programa nesse estilo. A Daniela Nogueira fez parte da primeira leva da mesa. Eu devo isso ao Dummar Neto. Foi ele quem descobriu o Trem Bala na TV.

programa diferente, jogar especulação no ar para ganhar audiência”. Foi assim que comecei. Era assim: “O Ceará está visando uma contratação bombástica. A qualquer momento pode anunciar”. Meu amigo, vou te contar, começou a encher de telefonema perguntando quem era. E eu falava que não iria revelar antes da diretoria do clube. O programa foi se firmando, se chamava Esporte no Ar. Aí o Sérgio disse: “Muda o nome para Programa do Alan, personaliza”.

E o senhor acabou se tornando uma referência no colunismo esportivo.

Alan Neto: Porque fui o único da minha época que sobreviveu como colunista esportivo. Não tinha coluna esportiva na época. As pessoas pensam que escrever sobre futebol é fácil, mas não é. A grande lição que recebi é que estava escrevendo para

O senhor também trabalha com jornalistas mais jovens. Como avalia essa última geração?

Alan Neto: O jornalismo esportivo está numa safra excelente.

O Brenno Rebouças, que chamo de nerd, entende de tudo. O Lucas Mota que também é muito bom. O (Fernando) Graziani fez o Trem Bala na rádio O POVO.

Ele chegou sem experiência, e eu falei: “Eu também não tinha experiência. Eu solto o assunto e você comenta. Você é desatinado e vai se adaptar”. Com o Brenno foi a mesma coisa. Notei que ele tem um baú de conhecimento e se revelou no Trem Bala. Ele é plural, narra, comenta. Pessoas foram reveladas tanto no rádio como no jornal, por mim, e nunca aleguei isso para ninguém. Só cito assim, an passant

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JÚLIO CAESAR

|DIÁLOGOS | Grupo de Comunicação O POVO lança olhar, ouvidos e plataformas ao Conselho de Jovens Leitores (CJL) com 21 integrantes, de 16 a 27 anos, indicados ao colegiado por entidades de diversos segmentos da sociedade cearense

Duas bem sucedidas experiências do O POVO desaguaram em uma oportunidade de traçar diálogo entre realidades e gerações distintas. Uma dessas experiências é o Conselho de Leitores, formado em 1999. A outra é a vivência com os correspondentes do O POVO Educação, que também soma duas décadas de relevância social. Agora, o Grupo de Comunicação O POVO (GCOP) lança olhar, ouvidos e plataformas ao Conselho de Jovens Leitores (CJL).

Fundado em julho de 2021, o CJL reúne 21 integrantes, de 16 a 27 anos, indicados ao colegiado por entidades de diversos segmentos da sociedade cearense. A composição inicial, no ano passado, era apenas de estudantes do ensino médio indicados por jornalistas do O POVO. Hoje, o CJL conta com a representatividade de 20 entidades, incluindo universidades, coletivos estudantis, culturais, movimentos sociais, sindicatos e associações empresariais.

Para se ter uma ideia dessa diversidade, entre as entidades representadas no Conselho de Jovens Leitores estão: o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), a Central Única das Favelas (Cufa), a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), o Coletivo Dendê de Luta, a Fundação Beto Studart, o Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creace), o Instituto Dragão do Mar e a Associação Das Comunidades dos Índios Tapeba de Caucaia.

O CJL foi constituído a

partir de uma necessidade que o Grupo O POVO tem de criar espaço de diálogo com as novas gerações. De acordo com o coordenador do CJL, Cliff Villar, com a larga experiência do Conselho de Leitores, era chegada a hora de “romper essa questão geracional abrindo espaço para que tivéssemos jovens opinando sobre os nossos produtos, discutindo”.

Além disso, há também um trabalho de formação de análise crítica, que é um dos papéis do jornalismo.

As reuniões do Conselho são realizadas com palestras e painéis seguidos de debates. A própria feitura do jornalismo é uma questão importante, discutida dentro do Conselho, inclusive com oficinas técnicas, a exemplo da oficina de podcast.

Os jovens membros do Conselho têm acesso às plataformas digitais e produtos do O POVO.

Há troca de informações com jornalistas, gestores públicos e pessoas do movimento social.

Além de encontros técnicos, realizados fora da sede do jornal. Na última reunião técnica, no Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE), os jovens conselheiros tiveram a oportunidade de contemplar um equipamento relevante para a cultura e para a memória do Estado do Ceará.

“Tanto O POVO Educação quanto o Conselho trazem as várias realidades, faces da sociedade cearense, criando também essas pontes de diálogo dentro de uma sociedade extremamente desigual, com uma desigualdade social e de oportunidades”, avalia Cliff. (Rubens Rodrigues, rubensrodrigues@opovo.com.br)

Conselho de Jovens Leitores e o impacto de uma juventude crítica

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FERNANDA BARROS

Lugar de vanguarda

Diretora-presidenta do Instituto Dragão do Mar (IDM), Rachel Gadelha celebra a relevância do O POVO enquanto veículo de comunicação e cultural, além do papel de vanguarda em apostar no Conselho de Jovens Leitores. “O POVO tem essa história de contribuir não só com a informação, mas com o desenvolvimento cultural e social a partir de iniciativas que marcam gerações, inclusive pessoas que estão assumindo cargos importantes no Estado, na gestão pública e iniciativa privada, que tiveram sua trajetória de alguma forma marcada pelo jornal”, afirma.

Perspectivas plurais

Membro do Conselho, o jovem Emanuel Vinícius Araújo da Silva, da licenciatura em Química no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), destaca a dinamicidade das reuniões como ponto alto. “É muito massa trabalhar com pessoas de vários locais, totalmente diferentes, com visões e contextos diferentes”, pontua o estudante de 27 anos. Para ele, as oficinas e visitas a lugares como o MIS-CE, a Biblioteca Estadual do Ceará (Bece) e a própria sede do O POVO valorizam os jovens enquanto coletivo, mostrando equipamentos que muitos dos jovens ainda não conheciam.

“Tem sido um grande aprendizado ver esse reconhecimento da instituição de indicar um discente para fazer parte de um conselho como esse, e também pela aprendizagem de entender a dinâmica de como um dos maiores meios jornalísticos do Estado funciona.

Fazer parte disso é engrandecedor e fortalecedor”, aponta Vinicius.

“Faço parte de um grupo de divulgação científica, e sei que a comunicação e a informação são essenciais e o meio jornalístico é um grande fortalecedor desse aspecto. É um desafio muito bom”.

A jovem Madalena Hermínio Carneiro, de 21 anos, é estudante de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e estagiária na Bece. Ela representa o Instituto

Dragão do Mar (IDM) ao lado de Francisco Cairo Silva Sousa, de 18 anos. “Acho interessantes as questões que são trazidas, diferentes temas, experiências. E gosto também da forma como requerem nossa opinião, que é muito bem vinda, muito ouvida. Adoro falar nas reuniões. São discussões ricas, trabalhamos questões sociais, culturais, políticas. Expande nossa criticidade”, afirma Madalena.

A estudante destaca que não ser uma “questão individual” é um dos pontos altos dos encontros, levando em consideração que os conselheiros representam instituições que afetam diretamente na sociedade: “Estamos ali para entender o que é coletivo”.

Bruno Ellery, diretor para a Jovem Advocacia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE), indica a importância de ter um representante do Direito no Conselho: “A linguagem jurídica tem toda uma especificidade. É importante ter a expertise da linguagem jurídica, de conhecer o universo constitucional e, ao mesmo tempo, o advogado é um ser político. Ele tem dentro dele essa missão social, jurisdicional, e acho importante o Conselho ter esse olhar”.

O representante da OAB-CE lembra que as leis e os princípios regem a dinâmica da sociedade, e incluir essa vivência uma traz visão social, constitucional e de orquestração de todo ordenamento jurídico. “A função do nosso conselheiro (Gabriel Rabelo do Nascimento, de 22 anos) e de quem representa o Conselho é essa. O advogado tem a missão de fazer essa e qualização entre a sociedade e o que é publicizado, principalmente nesse contexto da liberdade de expressão”.

CONSELHEIROS DO CJL E ENTIDADES REPRESENTADAS

> Emanuel Vinícius Araújo da Silva - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

> Loislane da Silva Teixeira - Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (IBEF CE)

> Isabela Rodrigues de Melo - Central Única das Favelas (Cufa)

> Pedro Rian Paulino Lima - Fundação Beto Studart

> Neusa Teresa Costa Pereira - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia AfroBrasileira (Unilab)

> Guilherme de Carvalho Oliveira - Coletivo Dendê de Luta

> Ana Júlia de Souza Pereira - Comunidade Católica Shalom

> Mikely do Vale Barbosa - Fundação Batista Central

> Katarine Ribeiro Nobre - Universidade Estadual do Ceará (Uece)

> Naíra Le Bolloch - Instituto Verdeluz

> Vitória Teixeira dos Santos - Casa Azul Ventures

> Italo Bernardo Ribeiro - Centro de Referência em Educação e Atendimento Especializado do Ceará (Creace)

> Francisco Cairo Silva Sousa - Instituto Dragão do Mar

> Madalena Herminio CarneiroInstituto Dragão do Mar

> Jefferson Carlos Pimenta da Silva - União Nacional dos Estudantes (UNE)

> Germano Belchior Filho - Associação dos Jovens Empresários de Fortaleza (AJE Fortaleza)

> Isaías Mateus Alves de Sousa - Instituto de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Instituto Cuca)

> Antônio Renan Sousa da Silva - Associação das Comunidades dos Índios Tapeba de Caucaia

> João Eduardo Vasconcelos BrígidoSindicato de Agências de Propaganda do Estado do Ceará (Sinapro)

> João Victor Carneiro de Alencar - Universidade Federal do Ceará (UFC)

> Gabriel Rabelo do Nascimento - Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-CE)

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A dramaticidade da poesia abolicionista de Castro Alves (1847-1871) que relata em "O Navio Negreiro" (1869) as condições em que os escravizados africanos eram trazidos para o Brasil ecoa até hoje na sociedade brasileira. Seja a partir de estudiosos que discutem a negritude e o racismo estrutural, herança escravocrata, seja na arte. “Todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, música lançada pelo O Rappa em 1994, é um clássico brasileiro que retrata esse cenário. Em novembro de 2014, duas

décadas após a música d’O Rappa ser lançada, o grupo Nóis de Teatro estreou o espetáculo que leva o nome da canção.

Nas artes cênicas, o coletivo encontrou lugar para se tornar referência quando se fala em arte a partir da matriz negra e periférica. O Nóis surgiu no Grande Bom Jardim, uma das regiões mais vulneráveis social e economicamente em Fortaleza, quando adolescentes se uniram para realizar espetáculos na festa de uma comunidade católica. Passados os primeiros anos, essa turma de artistas passa a se entender como

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um grupo de teatro para pensar a Cidade de outras formas.

Cidade

Há sete anos, o Nóis de Teatro conta com uma sede fixa na Granja Portugal. Além de ser espaço para os ensaios do grupo, na sede são realizadas noites culturais e oficinas para crianças e adolescentes. Agora, o grupo começa os trabalhos do edital Escolas Livres de Cultura, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE), resultando em escola para jovens de comunidades que estão estudando teatro.

Toda essa gama de significado e contexto social e político

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RESISTÊNCIA | O encontro com coletivos periféricos ressignifica os desenhos e cores que pulsam na
reverbera em vertentes de um teatro performativo, que se desdobra nos espetáculos “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”, “Despejadas” e "Ainda Vivas - Três Peças do Nóis de Teatro". Ator, dramaturgo e um dos coordenadores do Nóis de Teatro, Altemar Di Monteiro lembra que há 20 anos, quando o grupo começou, as discussões da sociedade eram outras. Ainda que essas questões atravessassem a vivência do coletivo, formado em sua maioria por pessoas negras. (Rubens Rodrigues - rubensrodrigues@opovo.com.br) de Fortaleza e nos define como cidadãos
COLETIVOS ARTE E CIDADANIA PARA PENSAR A CIDADE

Processos de resistência

Discussão de políticas públicas na comunidade

Criado em 2007 no Conjunto Palmeiras, o coletivo Cia.

Bate Palmas realiza atividades culturais como shows, cortejos, atividades arte-educacionais e até confecção de instrumentos musicais. O coletivo começou quando o Banco Palmas e a Associação de Moradores do bairro convidaram o cantor, compositor e arte-educador Parahyba de Medeiros para coordenar encontros de discussão de políticas culturais. Coordenadora administrativa do Ponto de Cultura Cia. Bate Palmas, Bete Augusta explica que o coletivo hoje abriga várias iniciativas, como a banda Parahyba e Cia. Bate Palmas, o Projeto Palmerê, o Batuque de Mulher, integrado só por mulheres, e o Coletivo de Juventude do Palmeiras (CJP), além da Biblioteca Comunitária Bate Palmas.

Para Bete Augusta, a importância maior desse movimento é a de acabar com o estigma de que a periferia é sinônimo de violência. “Mostrar que é um local de produção e fruição de arte e cultura, de discussão de ideias e de criação de perspectivas para a comunidade, especialmente para as crianças e a juventude”, analisa. “A maior dificuldade é conseguir manter nossa sede a partir de recursos próprios, pois infelizmente ainda é muito complicado viver do trabalho artístico. Por conta disto, tem sido um desafio conseguir que o espaço fique aberto a maior parte do tempo possível, para maior acesso da comunidade à biblioteca e às programações culturais que com muito trabalho e luta o coletivo consegue oferecer”, desabafa a coordenadora do coletivo.

“O Nóis sempre esteve na periferia urbana. Durante muito tempo, se colocava o nosso trabalho como um teatro de bairro, ou um teatro social. Que é uma forma que a pretensa elite da cultura da Cidade cria para forjar códigos de distinção e colocar o nosso teatro como um teatro menor”, explica Di Monteiro, doutor em Artes pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

“Por mais que as discussões sobre as populações pretas de Fortaleza não tivessem a mesma repercussão que têm hoje, sempre atravessaram o nosso fazer. Porque nós somos um grupo de teatro que vivencia a periferia a partir dessa perspectiva negra, a partir do racismo estrutural que a gente sempre vivenciou, inclusive na cultura”, aponta. “Os diversos avanços que nosso trabalho teve são em função, sobretudo, da experiência que a gente tem de periferia. Esse é um espaço que está sempre em disputa. Ainda não é um espaço resolvido, principalmente dentro de Fortaleza, que nega insistentemente sua negritude e sua ancestralidade indígena”, analisa.

Altemar Di Monteiro é dramaturgo dos espetáculos “Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro” e “Ainda Vivas”. No primeiro, que completa oito anos em cartaz neste mês, ele conta a história de uma criança negra que vive na periferia, é hostilizada e passa por todo racismo estrutural. O espetáculo “Ainda Vivas”, por outro lado, estreou em 2019, antes da pandemia. “É um projeto que a gente teve muito dentro das nossas pautas de discutir a questão LGBTQIAP+ na periferia a partir dos corpos que constituem o grupo. Temos esse debate muito forte tanto na perspectiva antirracista e antimachista. Percebemos que não poderíamos falar de LGBTfobia sem interseccionar com outras pautas”, explica o dramaturgo.

Espaços de formação e democracia

É característico de espaços culturais, como os coletivos, serem também lugares de formação. Há, também, coletivos que surgem dentro desses lugares formativos. Um equipamento importante em Fortaleza é a escola de formação e criação Porto Iracema das Artes, da Secult. No Porto Iracema nasceu o Coletivo Grão, em 2017. Neste ano de 2022, o grupo volta aos palcos sob a direção de Murillo Ramos com a montagem inédita “Matriarca”, baseada na obra “A Matriarca Encarcerada”, de Clarisse Ilgenfritz, e protagonizada pela atriz e cantora Luiza Nobel.

“Entre os temas recorrentes presentes no repertório do coletivo, estão a luta pela democracia, o viver no Brasil pós-golpe de 2016 e as questões que perpassam o momento atual do País, como a (des)valorização da profissão de artista, o protagonismo feminino e a busca pela dignidade da economia criativa e diversa - buscando sempre trabalhar, dialogar e retratar questões pertinentes à cidadania LGBTQIA+”, afirma Ícaro Eloi.

A atriz e produtora executiva do Coletivo Grão, Juliana Maria, defende a importância de equipamentos de formação, como o Centro Cultural do Bom Jardim, a Vila das Artes e o Teatro José de Alencar, visto que despertam

Coletivo para sobreviver

Criado em 2015, na Universidade Estadual do Ceará (Uece), o coletivo de combate à transfobia Transpassando foi formado inicialmente como cursinho pré-vestibular para pessoas trans. Isso porque, de acordo com a maquiadora e cabeleireira Shábilla Moura, colaboradora do coletivo, uma “onda transfóbica” incentivou a criação do projeto. A primeira turma do cursinho pré-vestibular para pessoas trans foi formada em 2016, e Shábilla foi uma das primeiras a passar no vestibular. Ela foi aprovada no curso superior de Tecnologia em Gestão de Qualidade, na Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Havia um debate grande de que não existiam pessoas trans dentro do ambiente acadêmico e que era necessário criar condições para que essas pessoas entrassem para ocupar os espaços”, pontua. “Depois, nós passamos de pessoas assistidas pelo projeto para agentes de combate a transfobia”, relembra. A fundação do

o olhar atento para a cultura local e movimentam esse cenário. “Fazer arte é cíclico, e é muito bom que nós, que entramos na escola como indivíduos separados que sequer se conheciam, tenhamos saído de lá enquanto um grupo que trabalha junto já há cinco anos”, afirma. “São de extrema importância para manter renovado o fazer artístico da Cidade e do Estado”.

“A arte existe por conta da democracia, que viabiliza a liberdade de expressão que vem sendo tão deturpada e atacada com pessoas defendendo ideais fascistas”, aponta Ícaro Eloi. “O Coletivo Grão, desde sua formação, aponta para os atentados contra nossa tão recente democracia. O espetáculo ‘Além Aquém Daqui’ é uma alegoria que em determinado ponto traz uma Rainha sendo deposta por motivo algum. Agora, com ‘Matriarca’, nós continuamos a fazer nossa arte-manifesto, apontando para este recente Brasil, roubado das mãos do povo, de instituições frágeis e com uma parte da população tão alienada que acredita que patriotismo é cantar o hino nacional para um pneu. Já que temos o privilégio de estar em um palco e falarmos para tantas pessoas, decidimos falar sobre nosso país, com bom humor, um tanto de drama e muita acidez”.

Transpassando coincide com uma lei importante para esse público no País: em 28 de abril de 2016, a presidenta Dilma Rousseff assinou o decreto nº 8727, autorizando uso do nome social no âmbito da administração pública.

O Transpassando gerou outros projetos culturais que surgiram de novas demandas, como o cineclube Cine Transpassando e o coletivo artístico Quintal de Afetos.

“Nós entendemos que é necessário continuar ocupando esses espaços por vontade própria”, afirma Shábilla, que também é membro consultiva da Comissão de Diversidade de Gênero da Ordem dos Advogados do Estado do Ceará (OAB-CE). “Estamos com projetos em andamento para focar no mercado de trabalho, atendendo demandas de geração de emprego e renda, mas sem perder a característica principal que é a educação. Como tudo o que foi feito no Transpassando, faremos de forma auto-organizada e horizontal”.

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ARQUIVO PESSOAL
NAYRA MARIA/@BUFOLICA DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO

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31 anos trabalhando no desenvolvimento de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, a Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca) foi idealizada pela coreógrafa Dora Andrade, que fundou a Edisca em 1991 junto a um grupo de bailarinos. Aulas de dança, ensaios, cursos, oficinas e até assistência à saúde são ações da Edisca que tornam a organização relevante para o contexto social de atendimento às populações mais vulneráveis. A transformação social, ampliando as potencialidades das crianças e dos jovens por meio da produção artística - reconhecida pela qualidade do trabalho reconhecido inclusive fora do Ceará e do Brasil - é o ponto chave da entidade.

Para Dora Andrade, a criação da Edisca ocorreu quase como “um acidente de percurso”. Após anos de grupo de dança próprio e trabalhos sociais pontuais, Dora viu a oportunidade de atender crianças e jovens do Morro Santa Terezinha, no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza.

“Fui lá, fiz uma audição e começamos um trabalho com 50 crianças. Esse grupo explodiu, chegou a ter 200 crianças. Foi assim que a Edisca surgiu”, lembra. “Na observação constante, observando a condição que a criança chegava na instituição e também na conversa com a família”.

A partir desse momento, Dora Andrade e a equipe da Edisca viram a necessidade de criar outras perspectivas para atender esse público, que vinha de um contexto de vulnerabilidade social. “Havia a perspectiva da nutrição porque crianças chegavam com fome na Edisca. Depois, percebemos que as crianças passavam na escola, mas não tinham domínio de conteúdo”, relata. “Assim, com esse olhar, foram sendo criados projetos e programas que constituíram a Edisca como é hoje, olhando para a nutrição, olhando para o fortalecimento da escola formal”.

A idealizadora da Edisca afirma que o alcance social está ligado à missão institucional da Edisca. Para ela, ainda que a janela de visibilidade da escola seja a dança, o que faz com que a Edisca seja vista dessa forma, “é um reducionismo imenso” pensar que a missão da entidade seja apenas formar bailarinos. “A arte vem porque acreditamos que a vivência artística qualificada é um caminho de educação fantástico, moderno e atemporal. A missão é a redução da pobreza, tudo o que fazemos é pensando em interferir nessa pobreza que não acaba nunca, em nenhuma geração”, aponta.

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Edisca

Dança como ferramenta de transformação social

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Foram sendo criados projetos e programas que constituíram a Edisca como é hoje, olhando para a nutrição, olhando para o fortalecimento da escola formal

Transformação social

A coreógrafa destaca que uma satisfação pessoal é ver “transformação radical” que muitos alunos passam, conseguindo romper a barreira da pobreza, fazendo graduação, passando em concursos e conseguindo trabalhos dignos - cenário familiar diferente de muitas dessas crianças antes da chegada da escola. “É isso que justifica a existência da Edisca: tentar reduzir o tempo dessas populações periféricas na pobreza extrema e quebrar de alguma forma esses ciclos”, diz.

Dentre os rompimentos de barreiras, a inclusão social e a autoestima são pontos importantes nesse processo. Para Dora Andrade, a entrada das crianças na escola de dança já influencia em autoestima revigorada para esse público. Além disso, ela declara que há um

“acompanhamento amiúde” no programa de fortalecimento da escola formal, com parceria com grandes escolas. “Sabemos como as crianças estão, quais são as dificuldades, conversando com família e escola pelo menos no primeiro ano de adaptação”, explica. “É um conjunto de ações muito focado na dignidade humana, na formação de direito, na percepção de valores. É olhar o que essas crianças trazem e fortalecer as potencialidades”.

Há cinco anos na Edisca, o bailarino Fernando Bernardo, 25, afirma que a escola contribui para o crescimento pessoal dos alunos, principalmente no que diz respeito à maturidade e responsabilidade. Fernando criou três das coreografias do espetáculo “Periferia”, montado a partir da visão dos alunos da instituição, que passaram a

integrar a equipe de realização após se destacarem nas oficinas. “Nada na minha vida foi como esse processo, de cerca de seis meses de muito ensaio, muita pesquisa. Nada foi tão transformador”.

O professor aposentado estadunidense William Calhoun, conselheiro da instituição, considera o trabalho da escola “excepcional”: “A Edisca, por meio de um compromisso muito sério com a juventude, desenvolveu uma tecnologia social extremamente sofisticada para responder aos problemas da sociedade cearense, principalmente no que diz respeito às questões de exclusão, marginalização e desenvolvimento humano”, avalia o antropólogo, que já trabalhou com intercâmbio de universitários norte-americanos no Brasil, na Cuba e no Quênia.

“A escola chama a atenção para pensar o potencial, o intelecto e a capacidade que a sociedade perde ao não dar esses direitos humanos plenos para a juventude de Fortaleza”.

Agora, 31 anos depois, Dora Andrade acredita que seja hora de parar para “olhar para dentro, para eventuais equívocos e revisitar a prática com coragem”. “Precisamos ver se o que fazemos ainda responde às demandas do mundo de hoje, se esse trabalho está proporcionando as habilidades necessárias para que essas crianças continuem rompendo a cadeia da pobreza”, avalia. “Sem dúvida, todo o trabalho do próximo ano será voltado para repensar o institucional, para que a gente ressurja no fim de 2023 com bastante vigor, com um trabalho fresco e atemporal”.

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Edisca |ARTE | Escola de Desenvolvimento e Integração Social para Criança e Adolescente (Edisca) é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha a educação por meio da arte PRODUÇÕES ARTÍSTICAS DA EDISCA PRÊMIOS 2022 - Periferia 2019 - Estrelário 2015 - Religare 2013 - Paideia 2012 - Só 2011 - Sagrada 2006 - Urbes Favela – a grande dança 2004 - Demoaná 2003 - Mobilis 2000 - Duas Estações 1997 - Koi-Guera 1995 - Jangurussu 1995 - Brincadeiras de Quintal 1993 - Elementais 1992 - O Maior Espetáculo da Terra 2012 - Ordem do Mérito Cultural, concedido pelo Governo Federal 2012 - Prêmio ODM (Objetivos do Milênio), concedido pela Presidência da República 2010 - Prêmio Brasil Social na categoria Arte e Cultura 2010 - Prêmio Perfil Gestor na categoria Responsabilidade Socioambiental 2009 - Prêmio Banco do Brasil de Tecnologias Sociais: projeto A Vida é Feminina 2003 - Reconhecimento Rotary Clube de Fortaleza 2001 - Prêmio Banco do Brasil de Tecnologias Sociais: projeto Fortalecimento do Ensino Formal 2000 - Prêmio Sereia de Ouro 1999 - Prêmio Itaú Unicef 1999 - Medalha da Abolição 1999 - Prêmio Unesco Juventude e Cidadania 1999 - Homenagem à Dora Andrade na II Bienal Internacional de Dança do Ceará 1998 - Troféu Iracema – 1º Prêmio Dragão do Mar de Arte e Cultura 1997 - Prêmio Abrinq pelos Direitos da Criança 1997 - Prêmio “Bem Feitor da Criança da Cidade”- Prefeitura Municipal de Fortaleza 1997 - Prêmio Funart na categoria Melhor Coreografia Nacional DIVULGAÇÃO

|PESQUISA | Em 14 capítulos e quase 700 páginas, edição 20222023 tem estudo realizado pelo Ipece, assim como o Datafolha, contratado para a pesquisa Anuário Datafolha Top of Mind

ANUÁRIO DO CEARÁ

o Estado traduzido em dados, pesquisa, arte e análise

Um mapa para entender a complexidade do Ceará e projetar caminhos possíveis. É assim que o Anuário do Ceará, em publicação desde 1872, se posiciona. A edição passou a ser produzida pelo Grupo de Comunicação O POVO em 2002, responsável pela renovação editorial do livro. A edição 2022-2023 é dividida em 14 capítulos e quase 700 páginas.

O Índice Comparativo de Gestão Municipal (ICGM), ponto de partida da publicação, estabelece um parâmetro de ranqueamento das gestões municipais. O documento foi elaborado para o Anuário do Ceará pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), da Secretaria do Planejamento e Gestão (Seplag). O estudo para o Anuário do Ceará é feito todos os anos pelo Ipece, assim como o Datafolha, contratado para a pesquisa Anuário Datafolha Top of Mind.

O Anuário conta ainda com guia das cidades, um capítulo dedicado inteiramente a dissecar informações sobre Fortaleza e outros sobre administração Estadual, infraestrutura, economia, legislativo, judiciário, cultura, futebol - a novidade da edição - e universidades. Para fechar, o tradicional Anuário Datafolha Top Of Mind e um capítulo especial sobre o centenário do artista visual Aldemir Martins.

Editor-geral do Anuário, o jornalista Jocélio Leal explica que a publicação deixou de ser apenas uma retrospectiva quando O POVO assumiu os cuidados do projeto. “Tornou-se uma fonte primária de dados e também um compilador de dados diversos, de fontes de referência e bem variadas. E logo em seguida foi ganhando mais consistência e ampliando os conteúdos exclusivos”, relembra.

A editora-executiva Joelma Leal classifica o Anuário do Ceará como um raio-x do Estado. “É um retrato tradicional

e mais atual do Estado”, estabelece. “Temos, sim, os dados estáticos, por meio de mapas e tabelas no impresso, que mudam ano a ano, porém temos, também, artigos exclusivos, análises e no site é possível acessar conteúdos e fazer cruzamentos de dados, de forma dinâmica”.

dados possível

“O Anuário nunca é o mesmo. Embora ele mantenha estrutura semelhante em determinados capítulos, sobretudo aqueles desenhados em forma de fichas, como o Guia das Cidades - no qual trazemos cerca de 100 dados sobre cada um dos 183 municípios do Ceará, afora a Capital, com capítulo inteiro dedicado a ela - a publicação procura sempre agregar novos conteúdos também às fichas”, explica Jocélio Leal. “Os dados são atualizados na versão impressa e todos os dias conforme a demanda, na versão web. Isto vale, por exemplo, para o ranking do Índice Comparativo de Gestão Municipal (Anuário-Ipece)”. (Rubens Rodrigues - rubensrodrigues@opovo.com.br

Documento em constante atualização

Multiplataforma e acessível, o Anuário do Ceará passa por um processo de constante atualização com dados úteis, acessíveis e novos. O conteúdo do livro também pode ser acessado pelo site anuariodoceara.com.br. Nele, é possível baixar gratuitamente o pdf completo e acompanhar informações atualizadas diariamente.

Além disso, o Anuário se desdobra em podcasts, produto audiovisual, transmitido no Canal FDR e disponível no YouTube e site, e redes sociais. Diariamente, as pílulas de conteúdo “Tá no Anuário” são transmitidas pelas rádios O POVO CBN e CBN Cariri.

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Pesquisas

Esta é a quinta edição do Índice Comparativo de Gestão Municipal (ICGM) no Anuário do Ceará. Nesta edição (2022-2023), o ICGM segue o modelo adotado na edição passada, sendo dividido por grupos populacionais: até 20 mil habitantes, entre 20 mil e 50 mil, entre 50 mil e 100 mil habitantes e acima de 100 mil habitantes (este formado por apenas nove destinos). A avaliação do ICGM é feita em observância de quatro dimensões. São elas: Planejamento, Recursos Financeiros, Serviços e Transparência. É a partir dessa classificação técnica que os leitores têm ao dispor a possibilidade de aferir competências e limitações.

Como é tradicional, o Datafolha foi contratado pelo Anuário do Ceará para ir às ruas de Fortaleza e descobrir, entre a população adulta, quais são as marcas mais lembradas de produtos e de serviços, o chamado Top Of Mind, em 23 categorias. Além disso, também foi perguntado qual a marca Top do Top, a mais lembrada entre todos os produtos e serviços. Devido a pandemia, o levantamento ocorreu por telefone nos dois anos anteriores.

De acordo com Jocélio Leal, ao pesquisar marcas com base em levantamento científico, “o Anuário estabeleceu um nível mais exigente de percepção das marcas pelo público consumidor e pelo mercado da comunicação. Por sua vez, o ICGM sepultou premiações de prefeitos e gestões desprovidas de critérios claros. Essas elevações de nível não comportam retrocesso. Desse modo, o Anuário procura qualificar o debate”.

Centenário

Aldemir Martins

O artista visual, ilustrador, pintor e escultor autodidata Aldemir Martins (1922-2006), que completaria centenário neste ano, é o homenageado desta edição. Em sete décadas e mais de sete mil obras, Aldemir deixou um trabalho extenso e diverso, com traços em abertura de novelas (Gabriela, 1975; e Terras do Sem Fim, 1981) e até em embalagens de sabonetes, latas de tinta e sorvetes.

Jocélio explica que a decisão por Aldemir dividiu a atenção com o centenário de Antônio Bandeira (capa da edição 2008-2009). “A partir das propostas elencadas por toda a redação e pelos editores, nós batemos o martelo em conjunto com a Direção da Fundação Demócrito Rocha”, expõe. “Ao longo de sua história recente tivemos a alegria de lidar com muitas personagens, histórias e acervos valorosos. Dentre os quais, os 60 anos do Mauc na edição 2021-2022, o Geopark Araripe, os 80 anos do Iphan, a história da água no Ceará, histórias da propaganda cearense e tantas outras”.

Relevância histórica

O senso histórico é ponto fundamental na produção do Anuário do Ceará, que para além de um livro, pode ser considerado “obra de arte” devido ao apelo artístico e conceitual. No entanto, o Anuário é, antes de tudo, um documento do seu tempo. “A despeito da perecibilidade de parte das informações na versão impressa, nós temos consciência do valor artístico do livro e do valor da versão on-line como guia para consulta permanente. O saudoso professor Geraldo Nobre, presidente do Instituto do Ceará, falava-nos do Anuário como uma publicação, na época com mais de 140 anos. Hoje, com mais de um século e meio, com diferentes configurações editoriais e gráficas, a obra segue muito viva e sendo objeto de desejo”, pondera Jocélio Leal.

A jornalista Joelma Leal reconhece a “tremenda responsabilidade” que é trabalhar num projeto como o Anuário, levando em consideração a proposta de ser uma fonte confiável, que traz o retrato para quem quer conhecer o Estado. “Não à toa, além da equipe de jornalistas focada na apuração, temos um profissional dedicado à checagem de todos os dados, assim como outro voltado para revisar o conteúdo”, aponta. “Desde 2002 a publicação iniciou a sua fase moderna, após radical reformulação editorial e gráfica. Por vezes, o Anuário é utilizado como fonte para provas de concursos, vestibulares e livros didáticos Brasil afora. Daí a responsabilidade de desenvolver um trabalho sério e com credibilidade”.

WWW.OPOVO.COM.BR SEGUNDA-FEIRA FORTALEZA - CEARÁ - 28 DE NOVEMBRO DE 2022 11 ANUÁRIOCEARÁ CEARÁ O ANUÁRIO É COMPOSTO POR 1. Índice Comparativo de Gestão Municipal (ICGM) 2. Guia das Cidades 3. Fortaleza 4. Administração do Ceará 5. Governo Federal no Ceará 6. Infraestrutura 7. Economia do Ceará 8. Legislativo 9. Judiciário, MP e tribunais de contas 10. Ceará Universitário 11. Ceará da Cultura 12. Futebol Cearense 13. Anuário Datafolha Top Of Mind 14. Centenário de Aldemir Martins A OBRA DE ALDEMIR MARTINS NAS PÁGINAS Cap. 1: Três Gatos (2004) Cap. 2: Peixe Escorpião ou Aranha (1953) Cap. 3: Coruja (1970) Cap. 4: Gato (1977) Cap. 5: Bumba Meu Boi (1992) Cap. 6: Mulher Rendeira (1986) Cap. 7: Ave (1978) Cap. 8: Cangaceiro (1971) Cap. 9: Peixes (1978) Cap. 10: Gato Azul (1982) Cap. 11: Pássaro (1990) Cap. 12: Futebol (1980) Cap. 13: Família de Gatos (2000)
Ca.14: Cangaceiro (1979)

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