editorial
Fundado em 7 de janeiro de 1928 por Demócrito Rocha
GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO
Presidente Institucional & Publisher
Luciana Dummar
Presidente Executivo
João Dummar Neto
Diretores-Executivos de Jornalismo
Ana Naddaf e Erick Guimarães
Diretor de Negócios e Marketing
Alexandre Medina Néri
CARROSSEL
DE EMOÇÕES
Nesta edição da revista O POVO Cariri nossa adrenalina foi a mil. Em cada matéria uma mistura de sentimentos invade o peito. A boa história de empreendedorismo que a Ana Ricarda nos conta na matéria de capa é inspiradora e forte. Ela mistura na trajetória as dores de quem começa a gerir um negócio pró prio com a garra de quem não desiste. E hoje, ela comemora o sucesso das 10 lojas que tem pelo Centro-Sul do Estado, o bom relacionamento com os colaboradores e a alegria de honrar o legado que recebeu do pai e do avô. Ela mesmo se define como uma pessoa de “pura energia”. E é mesmo contagiante sua fala suave, sincera, de riso fácil.
E para se emocionar mesmo, fomos aos pés de Padre Cí cero, na Colina do Horto, para reunir testemunhos de fé no padre que teve anunciado seu processo de beatificação pelo Vaticano. A força da fé sertaneja é revigorante.
Ainda nesta edição, preparamos dois Guias. Um de dar fre nezi para sair, chamar os amigos e a família para se entreter nos points da região e comer bem, o Guia de Delícias. E o Es pecial Kids para querer voltar a ser criança e gastar toda ener gia que a infância exala com muita diversão.
Se tem algo que não falta no Cariri é emoção. Vem desco brir o que mais te comove nas páginas a seguir.
Boa leitura!
Diretora de Gente e Gestão
Cecília Eurides
Diretor Corporativo
Cliff Villar
Gestora Comercial: Ranilce Barbosa
Gestora de Projetos: Lela Pinheiro
Estratégia e Relacionamento: Gerlaine Sombra
Analista de Projetos: Damaris Magalhães
Representante no Cariri: Carlos Henrique
Foto da capa: Allan Bastos
Tratamento de imagens: Robson Pires
EDITORA. Jornalista e Mestre em Comunicação pela UFC. É editoraexecutiva do estúdio de branded content do O POVO. Mora em Fortaleza, mas foi arrebatada pelo amor ao Cariri desde a primeira vez que visitou as terras de Padre Cícero e deu voltas no cajado da estátua no Horto, em 2018. O amor pela região cresce a cada edição da revista O POVO Cariri.
A revista O POVO Cariri é executada pelo
O POVO Lab – estúdio de branded content do O POVO
Gerente-Geral Gil Dicelli
Editora-Executiva Paula Lima
Editora-Adjunta
Ana Beatriz Caldas
Edição Ana Beatriz Caldas e Paula Lima Edição de Arte Gil Dicelli
Projeto Gráfico Marina Mota Design Natasha Lima
A REVISTA O POVO CARIRI
É UMA PUBLICAÇÃO DO GRUPO DE COMUNICAÇÃO O POVO
Av. Aguanambi, 282 CEP: 60055-402. Fortaleza/CE +55 85 3255 6000 www.opovo.com.br
+ FALE CONOSCO Representante no Cariri: Carlos Henrique (88 98884.3797)
IMPRESSO NA GRÁFICA HALLEY
QUEM FEZ ESTA EDIÇÃO DA O POVO CARIRI
ANA BEATRIZ CALDAS _
Editora-adjunta. É jornalista e mestre em Comunicação e Culturas Midiáticas (UFPB). Meio cearense, meio pernambucana e com um pé na Paraíba, hoje mora em Fortaleza. Já trabalhou com assessoria, eventos e mídias sociais, mas gosta mesmo é das conversas que surgem de uma boa pauta.
LETÍCIA DO VALE _
Repórter. É jornalista e apaixonada por escrever. Mesmo natural de terras cariocas, chegou em Fortaleza ainda muito nova e se considera cearense de coração. Gosta de ouvir e contar histórias, descobrindo novas culturas, artes e pessoas.
NATASHA LIMA_
Designer, nascida e criada no Ceará, é apaixonada por histórias em todas as suas formas e, por isso, é formada em jornalismo desde 2019. Vê no design uma forma de criar e dar cor a suas ideias. Não dispensa um bom livro e uma xícara de café.
ALLAN BASTOS_
Fotógrafo. Formado em Administração e Marketing, fez parte da equipe da escola de fotografia do Movimento PróCriança (PE) e deixou como legado o livro “Recife debaixo das pontes”. Passou pela assessoria de imprensa da Fundação Joaquim Nabuco e deu aulas de fotografia em muitas instituições. Estuda Artes Visuais na URCA.
MÁRCIO SILVESTRE_
Repórter. Do teatro ao jornalismo, sempre gostou de construir histórias. É jornalista e ator, graduado pela Universidade Federal do Cariri e pós-graduando em Comunicação e Marketing Político pela Uninabuco. Natural do Crato, se identifica como caririense, e reconhece nesta terra sua força e expressividade.
SABRINA RIBEIRO_
Repórter. É jornalista e pós-graduanda em Marketing Estratégico Digital. Natural de Teresina-PI, mas apaixonada pela Chapada do Araripe e as terras caririenses. Seu hobby é ser fotógrafa, sempre com olhar único para com a natureza. Leonina de sangue arretado, carrega consigo a alma aventureira e o espírito de liberdade.
EMANUELLE LOBO _
Repórter. Filha do Crato, só deixou a região para se formar em Jornalismo, pela Unifor, quando ainda não tinha o curso no Cariri. É especialista em Gestão Financeira e Consultoria Empresarial (URCA) e pósgraduanda em Comunicação e Marketing Político (Uninassau). Gosta de quase tudo e detesta uma injustiça.
moda
DIVULGAÇÃO
PRODUTO CARIRIENSE EM BARCELONAnotas
A Caboclo Brasil leva o artesanato do Crato para a Europa. A marca criada por dois brasileiros, Juliano e Leonardo Lima, radicados em Barcelona, preza pela sustentabilidade em todos os seus processos. A Caboclo foi criada em 2005, na cidade espanhola, com o objetivo de produzir sapatos de couro bonitos e de alta qualidade. Os sapatos são feitos inteiramente à mão, por artesãos cratenses – Sr. Francisco, Durão e Léo -, um a um, em número limitado, com couro curtido naturalmente e solas de pneus reciclados. A loja conceito da marca está localizada no centro de Barcelona, mas os sapatos também podem ser adquiridos pelo site da marca pelo preço médio de 100 euros. Com uma estética minimalista e natural, a marca desenvolve objetos transcendentais, com atenção aos detalhes, resultando em sapatos artesanais de couro legítimo que nunca perdem seu valor. É um sapato
a vida inteira
made in Cariri.
Lobo)
cultura
Cinema GRATUITO
No Cariri, quem é amante da sétima arte tem um espaço especial com curadoria e exibição de filmes clássicos e alternativos de forma gratuita: o Cine Café. Um trabalho idealizado pelo mediador de cinema, Elvis Pinheiro, em parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), que há 12 anos organiza exibições nesta sala, religiosamente, às 17h30 dos sábados. O cardápio, além dos clássicos, possui lançamentos, com destaque para produções da África, da Ásia e da Europa. As sessões do Cine Café ocorrem na sede do CCBNB em Juazeiro do Norte. (Márcio Silvestre)
Uma nova história para o São Bento
O barzinho, que marcou a memória de muitos caririenses, volta a funcionar após fechar em 2021. Antes localizado em Crato, o novo espaço ocupa agora o polo gastronômico da Lagoa Seca, em Juazeiro do Norte. O projeto traz nova decoração, com traços característicos da arquitetura rústica e chama a atenção pela enorme árvore de balaios que funcionam como luminárias, no centro do ambiente. O Grupo Seu Boêmio, responsável pela novidade e formulação da proposta, traz um toque regional aos pratos do cardápio e mantém os destaques para os famosos drinks que você só encontra no Terraço São Bento. O boteco abre de segunda a domingo, com música ao vivo a partir da quarta-feira. (Sabrina Ribeiro)
Terraço São Bento
Av. Plácido Aderaldo Castelo, 776, Lagoa Seca, Juazeiro do Norte-CE @terracosaobento
notas
feiras livres reisado Ô de Casa, Ô de Fora!
Dentre as tradições natalinas do Cariri, estão os festejos do ciclo de Reis. Os municípios da região abrem editais para que os grupos e mestres de reisado, lapinha e brincantes participem da programação. Nesse período é possível encontrar artistas nas praças apresentando peças de reisado, brincantes nas ruas em cortejo, grupos folclóricos, autos de Natal, operetas populares, encontros de reisados, lapinhas, cocos, manero pau, bandas cabaçais fazem festa de cores, música, dança e alegria para celebrar o nascimento do menino Jesus. A programação segue até 6 de janeiro, o dia de Reis. A data é alusiva ao encontro dos Reis Magos com a sagrada família na manjedoura. Neste dia, é comum a queima da Lapinha nas comunidades da zona rural.
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
Quem gosta de alimentos frescos e apoia a agricultura familiar e economia criativa tem muitas opções para adquirir seus alimentos diretamente dos produtores, sem atravessadores. O circuito de feiras é uma ação contínua que busca fortalecer o escoamento da produção agrícola e artesanal do município. Segundo a Prefeitura do Crato, a região conta com 11 feiras da agricultura familiar em funcionamento, que acontecem de forma periódica, incentivando a economia local e garantindo emprego e renda para mais de 200 agricultores familiares, extrativistas e artesãos do Crato. Confira o cronograma:
•Feira da quadra bicentenário: aos sábados a partir das 5 horas;
•Feira da encosta: As quarta-feira a partir das 16 horas;
• Feira do sítio Carrapato: quinzenalmente aos sábados a partir das 16 horas;
• Feira do Conjunto Filemon Lima Verde: quinzenalmente aos sábados a partir das 16 horas;
• Feira do Conjunto Monsenhor Montenegro: quinzenalmente aos sábados a partir das 16 horas;
• Feira da vila Guilherme: quinzenalmente aos sábados a partir das 16 horas;
• Feira da vila São Francisco: quinzenalmente aos sábados a partir das 16 horas;
• Feira do sítio Cruzeiro: aos domingos a partir das 6 horas;
• Feira do Mirandão: mensalmente a partir das 16 horas;
• Feira do sítio Serraria: mensalmente a partir das 15 horas;
• Feira da Bréa: aos sábados a partir das 6 horas.
meio ambiente
AJUDE A PRESERVAR OS FÓSSEIS DO CARIRI
Você sabia que pode denunciar o comércio ilegal ou contribuir com a recuperação dos fósseis da pedreira de Santana do Cariri? Este ano, uma fiscalização realizada pelo Batalhão do Meio Ambiente do Cariri recuperou 19 fósseis, sendo 14 de peixes, quatro de plantas e um de inseto O material foi entregue espontaneamente por trabalhadores do local. Para denunciar o comércio ilegal ou contribuir com a recuperação dos fósseis, a população pode ligar para a Polícia Militar pelo número 190. Após reportados, as autoridades responsáveis pelo resgate dos itens são enviadas ao local.
Sebrae
Documento foi elaborado por meio do Programa LIDER e estabeleceu metas para alavancar municípios do Cariri cearense até 2032
No último ano, 30 lideranças do setor público, privado e do terceiro setor do Cariri se reuniram periodicamente para elaborar estratégias focadas no desenvolvimento sustentável da região. Assim nasceu a Agenda de Desenvolvimento Estraté gico da Região, plano econômico de infraestrutu ra, logística, inovação e geração e distribuição de emprego e renda oriundo do Programa LIDER do Sebrae Ceará, que reúne ações para alavancar a economia de 26 municípios.
O programa surgiu em 2020, após a chegada da pandemia, como medida para auxiliar micro e peque nos negócios a superarem a crise. A partir daí, foram realizados encontros e fóruns para planejar metas.
A Agenda LIDER tem como objetivo tornar o Cariri um polo de oportunidades, conexões e sus tentabilidade, e se baseia em três eixos: inovação e tecnologia, infraestrutura física e inteligente e ren da e empreendedorismo.
“A partir das vocações dos municípios, elabora mos um plano de trabalho com ações a serem de senvolvidas até 2032, com o intuito de tornar o Cariri um polo empreendedor”, explica Wilma Almeida, ge rente estadual da Unidade de Articulação Institucio nal e Políticas Públicas do Sebrae Ceará.
Saiba mais
Essa é a quarta Agenda LIDER desenvolvida no Ceará. As três primeiras ocorre ram em Ibiapaba, Baixo Jaguaribe e Sertões dos Cratéus Inhamuns. Desta vez, inicialmente, serão contempladas as cidades de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Nova Olinda, Santa na do Cariri, Assaré, Araripe, Farias Brito, Várzea Alegre, Brejo Santo e mais.
PRINCIPAIS VOCAÇÕES ECONÔMICAS CARIRIENSES
Comércio
Economia criativa
Indústria
Ovinocaprinocultura Turismo
vai beneficiar 26 municípios do Cariri
FOCO EM
2023
Responsáveis por gerar mais de 70% dos empregos no Brasil no primeiro semes tre deste ano, os pequenos negócios estão no centro das soluções pós-crise.
No Cariri, o Sebrae Ceará projeta que não será diferente. “O principal desafio será forta lecer a infraestrutura local para trazer mais competitividade e qualidade de vida. Por isso, estamos criando um ecossis tema de inovação e tecnologia”, ressalta Wilma Almeida.
A articuladora do Escritó rio do Sebrae no Cariri, Eli zangela Andrade, reitera que a região tem se destacado na abertura de novos negó cios, com destaque para o MEI. “Um dos setores em as cendência é o de construção civil, que fomenta outras ati vidades secundárias, gerando emprego e renda”, detalha.
nota
arteSAGRADO OFÍCIO
O Cariri vai receber a primeira exposição do Mestre Espedito Seleiro. SagradoOfício, no Centro Cultural Juazeiro do NorteCE - CCBNB Cariri, apresenta ao público a saga de Espedito Seleiro e família, que há cinco gerações transformam o couro em arte, pelas mãos habilidosas que trabalham, de sol a sol. Com curadoria da arquiteta e advogada Cecília Rossé, a exposição estreia dia 26 de outubro e segue aberta ao público gratuitamente até 16 de dezembro. “Em setembro de 2019, estava sentada ao lado do Mestre Espedito Seleiro, em Fortaleza, depois que havíamos visitado a Exposição do Mauc - UFC, anos de couro e alma e ele, na intimidade da conversa, falou-me: "Já tive exposições em tantos cantos, mas nunca fizeram no Cariri!", conta Cecília. Comovida, ela prometeu ao Mestre que realizaria esse sonho em sua terra natal. Na exposição serão exibidos os principais itens de criações do Mestre Espedito Seleiro, como bolsas, sandálias, móveis e sua trajetória no ofício de transformar "couro em arte". Destaque para as principais parcerias e o apoio inicial dos amigos. Ele cedeu peças de seu acervo pessoal. “Falaremos também da transmissão do saber familiar, que já está na quinta geração de "seleiros". O foco é fazer os visitantes saírem tendo amor pelo ofício da família Seleiro e que também vejam o trabalho manual, que ultrapassa várias gerações, como algo sagrado, pois "tudo que move é sagrado"”, conta Cecília.
Sagrado Ofício
Centro Cultural Juazeiro do Norte-CE - CCBNB Cariri Rua São Pedro, 337 – Juazeiro do Norte Quinto andar
De 26 de outubro a 16 de dezembro
Terça a sábado, das 10h às 19 horas.
crescer
O Cariri cearense tem uma história que se confunde com a do agronegócio brasilei ro. Quando se fala nessa trajetória, é impos sível não mencionar Pedro Felício Cavalcan ti, pecuarista que hoje nomeia o Parque de Exposições onde ocorre a Expocrato e que participou da idealização da primeira edição da feira, em 1944.
Junto à esposa, Ailza Goncalves Felí cio, Pedro Felício foi um dos responsáveis por alçar a criação de animais de raças a um novo patamar no Ceará, com foco na seleção de zebu. Quase 80 anos depois, o legado de Pedro e Ailza continua vivo por meio de José Kleber Calou Filho, neto que conciliou a advocacia e a agropecuária, após o falecimento de sua mãe Marylee G Felício Calou e de seu pai José Kleber Ca lou, também agropecuarista, sempre con tando com o seu sobrinho, Eduardo Felício Calou, concludente de medicina que já será a quarta geração deste trabalho na pecuária cearense.
Desde criança, Kleber Filho gostava de estar na fazenda. Já em 2019, quando to mou a frente dos negócios, recebeu a me dalha de Mérito Nacional da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), concedida no ano em que a família comple tava 75 anos de agropecuária.
O incentivo foi decisivo para que Calou Filho resolvesse investir ainda mais nos negócios da família, pioneira no controle lei teiro no Cariri e na inseminação artificial no Ceará. A partir dali o foco foi o melhoramen to genético das raças Gir Leiteiro, Girolando e recomençando o Nelore, todos PO “Nosso maior desafio foi adequar o Bai xio dos Oitis para que ele se tornasse produ tivo e sustentável, com recuperação de pas tagem e preservação de árvores seculares”, explica o empresário, que afirma dinamizar processos também com foco no bem estar dos animais, que são criados a pasto e che gam a produzir 23kg de leite por dia.
Evolução
Para melhorar a genética do gado, os animais passam por procedimentos de insemina ção artificial e transferência de embriões. Segundo Kleber Calou Filho, o melhoramen to genético tem como intuito potencializar os resultados do Ceará no segmento, fazendo com que o estado possa dis putar com outros gigantes do Nordeste, como Alagoas, Piauí e Bahia.
“Aqui é onde ocorrem os grandes eventos e os produ tores expõem seus animais. A agropecuária se movimenta a partir do momento em que re alizamos shoppings, leilões e vendas individualizadas - isso aquece a economia local e se estende para a regional”, refor ça o empresário.
Casa sede da Agropecuária Pedro Felício
SERVIÇO
CAPA
PURA ENERGIA
PROPRIETÁRIA DA REDE DE LOJAS DE CALÇADOS AZTECA, ANA RICARDA TAVARES CONTA A HISTÓRIA DO NEGÓCIO QUE NASCEU NO CRATO PELAS MÃOS DO SEU PAI, MAS QUE RESSURGIU PELA FORÇA DO EMPREENDEDORISMO DELA
CAPA
Ana Ricarda está há 24 anos à frente do comércio de calçados e celebra: “Sou muito feliz com as minhas escolhas, com a pessoa que me tornei”
Ana Ricarda é a filha mais nova de sete irmãos. Mas garante que é a única que tem o varejo na veia. Foi o pai, Seu Modesto, que a ensinou a trabalhar. Ela conta essas e outras histórias sobre a loja de calçados que se espalha pelo Centro-Sul do Estado em uma entrevista por telefone.
Casada há 31 anos, mãe de dois filhos e avó de uma menina, ela comanda há 24 anos a Azteca. Conta que nem as dificulda des da pandemia se compararam aos de safios do começo do negócio quando co meçou a vender calçados. Ana Ricarda não herdou o negócio do pai, ela recuperou o nome que havia sido de uma loja do pai do mesmo segmento. “Foi uma homenagem em vida a ele. E o nome forte que ele teve durante muitos anos, voltou ao mercado e abriu muitas portas para mim”, revela.
É uma conversa boa. Depois de mais de uma hora de entrevista, Ana Ricarda diz, entre alguma das boas risadas: “per gunta mais!”. Um convite amoroso para entrar na vida dela, que ela mesma define ser pura energia, e passear pela Azteca.
O POVO Cariri - Como começou a história da Azteca Calçados?
Ana Ricarda - Meu pai trabalhou como of fice boy do meu tio, meu avô deixou a loja de calçados Azteca para o filho mais velho. Era comum naquela época o filho mais ve lho ficar com a liderança do negócio. Meu pai juntou dinheiro e comprou a Azteca do meu tio. Ele ficou na liderança durante 35 anos. Nessa época, com 13 anos, comecei a ir trabalhar com ele na loja, durante a tarde. Ajudava nas vendas, fazia crediário, carnê era manual. Eu não gostava de estar lá, (ri sos) mas como ele me pagava o salário era como se fosse a mesada, aí eu gostava. Até os 18 anos eu fiquei entre viagens, porque fui estudar em Fortaleza, e sempre que eu estava no Crato, nas férias, meu pai me le vava pra loja. Depois eu casei e vim morar em Juazeiro. Meu esposo era fabricante de calçados. Parece até que os calçados me seguem. Eu não trabalhava, fiquei em casa cuidando dos filhos. Até que meu esposo
TEXTO: PAULA LIMA FOTOS: ALLAN BASTOS
decidiu abrir a loja da fábrica, a Apê Calça dos, e eu fui ser gerente. A loja ia de mal a pior e pensei que tinha que fazer alguma coisa. Decidi fazer o Empretec, curso do Se brae. Tirei primeiro lugar, isso foi há mais de 20 anos. Sempre fui audaciosa (risos). Meu cunhado, que era sócio do meu marido, disse: vamos fechar a loja. E eu resolvi com prar a parte dele, mudei o nome para Via Show. Paguei com quatro cheques de R$ 5 mil. Falei pro meu marido que ia passar um ano naquela loja. Era eu sozinha, era o cai xa, o pacote. Comprava do meu concorren te por R$ 18 e vendia por R$ 18, só pra ter o produto. Era a vontade de entrar pro co mércio. Foi aparecendo cliente, foram apa recendo os cursos. Fui melhorando, melho rando. Na época só se comprava estoque à vista e eu juntava dinheiro para comprar. Até que foi folgando e foi melhorando. Com três anos eu já estava comprando de fábricas de São Paulo, contratei a moça do pacote, a moça do caixa e eu era a gerente da loja. Com cinco anos, abri a primeira filial aqui no Juazeiro também. Foi dando certo. Com seis anos abri a terceira filial. Come cei a comprar, fui pegando gosto. Passei a ir para São Paulo para as feiras de calçados, morrendo de medo, nunca tinha viajado de avião, mas fui. Fui aprendendo na mar ra. Não tenho formação, cursei Economia durante dois anos na Urca, no Crato. Mas eu adoro planilha. Meu ponto forte no co mércio é estudar estoque, estudar compra, venda, resultado, isso me ajudou muito. A imagem do meu pai reconhecida como um comerciante do Crato também impulsio nou e abria portas. Hoje temos 24 anos de empresa. Lideramos todo o Centro-Sul do Ceará no ramo de calçados. Com 10 anos de loja, voltei a ser lojas Aztecas para fazer uma homenagem em vida para meu pai.
OP Cariri - Em que momento você decidiu que a loja voltaria a ser Azteca?
Ana Ricarda – Tinha um concorrente que di zia que eu comprava um modelo e copiava na fábrica do meu marido, ninguém queria me vender porque meu esposo era fabri
CAPA
cante. Tentei até vender roupa, passei um ano na luta, não gostava de vender roupas. Tá no meu DNA trabalhar com calçados. En tão pensei em mudar o nome da loja. Falei pro meu pai e ele amou. Fiz uma placa em homenagem a ele. Na inauguração da loja do Crato, ele quem tirou o paninho da pla ca. Foi um divisor de águas, eu estava com a energia do meu pai. Impulsionou muito, os antigos fabricantes também conheciam a história da Azteca, isso abriu as portas e a gente avançou. Hoje temos cinco lojas no Juazeiro, essa concorrente não tem mais nenhuma loja no Juazeiro. Somos hoje 10 unidades de loja e queremos abrir mais 4 lo jas fora do Ceará nos próximos meses. Além de reformas as já existentes trazendo-as para o novo conceito Azteca.
OP – Já pensaram em ir para Fortaleza?
Ana Ricarda - Já cotamos ir para as capitais, mas queremos trabalhar cidades do interior com população a partir de 100 mil habitan tes e avançar no território do Centro-Sul. Pensamos em ir, mas não é a hora ainda.
OP Cariri – Você juntou com a loja do seu pai ou você buscou o nome da loja do seu pai que não existia mais?
Ana Ricarda - Meu pai chegou a fechar a Az teca. Meu pai morava em Fortaleza e deixou meu irmão mais velho como gerente da Az teca, ele até trabalha comigo hoje. E ele não desenvolveu a loja na época, então meu pai veio de Fortaleza e fechou a loja. Na época eu era vendedora, fazia faculdade e de ma nhã e de tarde trabalhava na loja. Eu pre cisava de dinheiro, era classe média baixa, trabalhava o dia todo e ia pra faculdade. A loja Azteca passou uns 8 a 10 anos fechada. Eu casei, passei três anos em casa, abri a loja da fábrica e teve todo esse processo. Meus irmãos tiveram um tempo bem grande para voltar com a loja, mas ninguém quis.
OP Cariri – Então, você fez a loja ressurgir.
Ana Ricarda – Foi. Engraçado que eu dizia assim: vou mudar o nome da Via Show e
colocar Azteca, o povo dizia assim: afe, que nome feio! Na minha história de vida eu luto muito para não ser dentro da caixinha. Esse nome tem um valor, estou levando a histó ria do meu avô, do meu pai, é isso que eu quero. Na minha visão de mundo você tem que ter sua própria história. Remar contra a mare é necessário. Eu queria uma razão pa ra continuar. A loja da fábrica não deu certo. Como era um produto fabricado no Juazeiro as pessoas não valorizavam. O faturamen to era baixo, era um sacrifício pagar a folha. Eu fazia tudo para dar certo. Eu ficava até de madrugada na loja, trocava caixa velha por caixas novas para o produto parecer lança mento, porque não tava conseguindo ven der. O produto era bom, mas não tinha valor de mercado. Tinha mil motivos para desistir, mas eu procurei outro modelo e disse: não vou sair do ramo do calçado.
OP Cariri – O que te motivava mais?
Ana Ricarda – Antes da loja da fábrica, quando eu estava em casa, meu esposo passava dificuldade financeira na fábri ca. Fui vender produtos da Avon, Natura, da Beauty, ia bater de porta em porta. “Amiga, quer comprar produto?”. Passei um ano e decidi que nunca mais ia que rer isso pra mim. Porque o problema não era vender, era cobrar. Quando eu ia co brar, as pessoas se escondiam. Quando meu esposo disse que ia colocar a loja da fábrica eu disse: vai ter que dar cer to. As dificuldades que passei nas lojas não eram nada diante do que passei ven dendo de porta em porta. O mal que vivi naquela época me trouxe o bem. Se não fosse essa experiência anterior, talvez eu tivesse desistido fácil.
OP Cariri – A fábrica ainda existe hoje em dia?
Ana Ricarda – A fábrica teve 20 anos de existência. Meu esposo mudou de ramo, porque a fábrica entrou em dificuldade. Hoje meu marido trabalha com lotea mentos, mas me ajuda muito nas refor mas e construções das lojas.
OP Cariri - Hoje qual a importância da Azteca pra região?
Ana Ricarda - Em termos de calçados a Azteca é referência. Temos produtos do A ao C, trabalhamos com moda, confor to e marcas. As maiores marcas estão na Azteca, com os melhores preços, melho res prazos de pagamento. Lojas clima tizadas, trabalhamos com automação. Vendedores digitais, temos iPads dentro das lojas. Já são três lojas modelo: Bar balha, Juazeiro e Brejo Santo. Os três pilares fortes da Azteca hoje são: nosso cliente, por isso temos o melhor caixa, melhor provador de calçados, o melhor pufe para o cliente sentar. O segundo pilar: fornecedores. Temos duas salas montadas para recebê-los, trabalhamos com hora marcada, projetamos todo conforto para nosso fornecedor. O ter ceiro pilar são nossos colaboradores.
OP Cariri – São quantos colaboradores atualmente?
Ana Ricarda - São 300 colaborado res diretos. Nosso turnover é baixo, a maioria das pessoas tem 15, 20 anos de empresa. Fazemos de tudo para um colaborador não sair da empresa. A gen te adequa, muda de função. A Azteca é como se fosse a segunda casa do clien te. Aqui o cliente tem acesso livre, po de entrar para beber água gelada, ficar no ar-condicionado, usar o wi-fi. Pode ficar! A sapataria tem que ter a cara do cliente. Pode até não comprar. Nosso colaborador tem que estar feliz tam bém. A gente tem uma boa comunica ção com nossos colaboradores.
OP Cariri - Qual o segredo de manter um negócio de sucesso no Cariri?
Ana Ricarda - Um dos segredos da Azteca são pessoas. Trabalho muito bem com pes soas. Amo. Gosto de me relacionar. Nós tra zemos muitas pessoas para ajudar. Contra tamos consultorias para melhorar. Temos gerente de gestão, de compras. Trabalha mos muito com processos, investimos em
tecnologia. Nossas lojas são todas no Cen tro, na rua principal de cada cidade. É onde tem o maior número de pessoas. Nosso calçado também vende no shopping, mas a gente vende na principal rua do Crato, do Brejo, do Iguatu... com a cara de uma loja moderna, bem estruturada. Nosso painel de led, só a gente tem no Ceará. Queremos confirmar para nosso cliente que ele está comprando na melhor loja de calçado do Ceará. (risos) Vamos atrás de quem está em evidência para vir trabalhar com a gente, fazemos TikTok com os funcionários, reels, temos bom relacionamento com os forne cedores. Isso tudo é o que move a gente. Fazemos treinamento fora daqui, vamos pra São Paulo com a equipe e investimos muito em capital humano.
OP Cariri – Qual o ticket médio?
Ana Ricarda - Está na faixa de R$ 98.
OP Cariri – Qual o perfil do cliente?
Ana Ricarda – Nosso cliente quer um terapeuta dentro da Azteca (risos). A maioria dos clientes conhecem o vende dor pelo nome. O cliente quer novidade. Quer entrar no perfil da Schutz no Insta gram, ver um calçado de R$ 800 e quer comprar por R$ 99, por R$ 120. Temos cliente aqui que compra sete a nove pa res de sapato uma vez. E na semana que vem quer ver mais novidade. Hoje, nos sos concorrentes parcelam em 10 vezes, também parcelamos em 10 e damos des conto parcelando em três vezes. Temos o melhor preço do mercado e crediário próprio. Nossa inadimplência é baixa. Tem muito cliente que coleciona carnê da Azteca. Cada mês é uma campanha diferente no carnê com artes diferentes.
OP Cariri - Aonde você ainda quer chegar com a empresa?
Ana Ricarda – (risos) Na verdade, eu nun ca pensei que eu pudesse chegar até aqui onde cheguei. Agora com 23 anos fizemos nosso escritório novo. Estamos trazendo mais pessoas para equipe. Na
CAPA
pandemia continuamos vendendo onli ne, não demitimos ninguém. Bancamos com capital de giro próprio. Enquanto muitas lojas estavam fechando, a gente seguiu alugando e comprando prédios. Quero parar em 20 lojas. Não tenho pla nos de abrir novas lojas em 2023. Que ro no máximo chegar a 20 lojas, mais do que isso, não invente não (risos).
OP Cariri - O e-commerce está nos planos da Azteca?
Ana Ricarda – Seria um segundo negócio paralelo, daqui uns cinco ou dez anos vai ser o caminho.
OP Cariri - Como você pensa a representatividade feminina na empresa? Hoje o quadro de funcionários é equilibrado?
Ana Ricarda - Tenho muitas mulheres na minha equipe. Minhas 10 gerentes são todas mulheres. Nossas supervisoras são todas mulheres. Trabalhamos muito bem com gestão feminina. Tivemos a primeira filial com gerente homem em julho. O lado feminino é muito forte na Azteca, eu como líder me comunico muito bem com as mu lheres. O perfil de gestoras resolutivas que pensem de forma diferente, encontro mui to mais entre as mulheres.
OP Cariri - Qual o principal desafio que você tem hoje nos negócios?
Ana Ricarda - Conciliar minha vida pessoal e profissional. Como sempre foi, agora que es tou com equipe formada, que tenho chan ce de ir mais pra frente, meu esposo cobra muito que eu esteja mais com ele. Por isso, estou procurando mais lideranças. Hoje eu não estou mais na operação da Azteca, es tou na liderança. Tudo o que for operacional estou contratando. Para eu poder passar 15 dias fora e ter pessoas qualificadas para trabalhar com os calçados, mas sempre com minha supervisão. Venho duas a três vezes por semana na loja. É muito desafiador, você abrir mão do seu cargo para outras pessoas trabalharem. Mas é importante pensar de
PINGPONG
RESTAURANTE
Central Goumett e Sirigado do Pedro
BARZINHO
Feed Gastrobar e Mais88 Gastrobar
LOJA DE ROUPA
Walesca Cavalcante, Jully Ribeiro e Toor
MÚSICA
“Te desejo Vida”, de Flávia Wenceslau
PRATO PREFERIDO
Baião de dois, piquizada e farofa e picanha
PERFUME
CH - Carolina Herrera FRASE
Crescer e contribuir
CALÇADO FAVORITO
Sandália de salto médio
PROJETOS SOCIAIS
“Só trabalhamos com estoque por três anos. Se aquele produto estiver há três anos no estoque e não vender, fazemos doações. Temos 20 entidades cadastradas e entregamos. Todo mês fazemos essas doações”.
fora para conseguir liderar. Dessa forma não penso em parar. Está sendo bom contratar pessoas. Estou aprendendo a delegar a lide rança e a confiar nos processos. Investimos bastante nos sistemas. Nosso sistema é 100% digitalizado.
OP Cariri - Quem é a Ana Ricarda longe do trabalho?
Ana Ricarda - Esportista. Malho todos os dias de manhã, sete horas estou na aca demia. Pedalo duas vezes por semana à noite, jogo beach tennis, gosto de dançar, adoro festa e comemorar meu aniversário. Em média faço duas viagens por mês com minha família. Eu digo que sou pura ener gia. Gosto dos livros de Abílio Diniz, ele co loca como pilares a espiritualidade, a fé e o corpo. No sentido de que tenho que estar bem fisicamente, se quero viajar tenho que estar bem, se quero trabalhar tenho que ter saúde. Invisto muito em autocuidado, em alimentação, em saúde. Há dez anos faço terapia. Delegar a empresa a lideran ças foi uma coisa que a terapia me ajudou a fazer. Sou muito feliz com as minhas esco lhas, com a pessoa que me tornei. Consigo ter um bom relacionamento com meus co laboradores. Digo pra eles: só sai da Azte ca para ir para uma empresa melhor. Se eu controlar tudo na empresa, a gente não vai crescer. Tem sido um processo e a Azteca está só evoluindo. O varejo hoje no Cariri é a cara da Azteca. Não dá dor de cabeça por que a gente se diverte.
OP Cariri – Você falou no pilar da espiritualidade, como ela se manifesta na sua vida?
Ana Ricarda - Sou devota de Padre Cí cero. Nossa loja matriz é aos pés de Pa dre Cícero. Em dias santos a gente não abre a loja. Finados e Sexta-feira Santa não abrimos. Nossa religiosidade é mui to forte. Respeito a cultura. Faço minhas orações pessoais, toda quarta-feira faço o Evangelho em casa com meus filhos. Procuro sempre ir à missa. Gosto muito de livros e filmes sobre espiritualidade.
OP Cariri - Quem são as suas inspirações?
Ana Ricarda - Dona Luiza Trajano. Tive oportunidade de assistir a uma palestra dela, como ela é uma mulher simples e for te. Ela não tem uma formação tradicional, mas tem vontade de trabalhar, tem orgu lho dela. Tem o lema de crescer e contribuir. A gente também quer crescer e contribuir. Trabalhamos com o Jovem Aprendiz. Al guns a gente já contrata. Temos um jovem do programa que foi contratado e já vai pra gerência. Ele ganhou, mas a gente ganhou muito mais com ele.
OP Cariri – Como é sua relação com seus filhos?
Ana Ricarda – Sempre criei meus dois fi lhos com liberdade de escolha. Todos fi zeram faculdade e quiseram entrar no comércio. Minha filha, Andressa, tem 27 anos e também tem uma loja de calçados. É minha concorrente. Ela resolveu sair em carreira solo, abriu a loja há um ano e já está expandido. Eu sempre apoio, troca mos ideias. Meu filho, Isaac, tem 30 anos, tem o loteamento dele e também traba lha junto com o pai dele em loteamentos diferentes. Eles moram comigo, de segun da a quinta em Juazeiro, e no fim de sema na cada um vai para o seu apartamento. Eles têm autonomia na vida deles, puxa ram a mãe e ao pai (risos). Também tenho uma neta de 11 anos.
OP Cariri - Na sua opinião, em que o comércio no Cariri precisa de incentivo?
Ana Ricarda - No caso de Juazeiro, que é onde está nossa matriz, deveria ser inves tido em turismo religioso. É o que traz di nheiro para Juazeiro. Quando os romeiros chegam, eles não têm conforto, não tem pessoas que orientem eles. Poderia haver investimento em uma estrutura melhor para o turismo religioso, isso movimenta ria mais o comércio. É preciso criar estrutu ra gratuita para o romeiro. Ele deixa muito dinheiro na cidade. Os próprios romeiros trazem bolinho de dinheiro e compram os produtos mais caros.
Espetáculo
CADÊ O TEATRO QUE ESTAVA AQUI
Acima, galpão sede do Grupo Ninho de Teatro, no Crato. Nesta imagem, espetáculo RetalhosdeminhaTerra, da Cia de Teatro Louco em Cena
COMPANHIAS DE TEATRO DO CARIRI FALAM SOBRE OS DESAFIOS DE MANTER VIVO O CENÁRIO DE MAIOR EXPRESSÃO DE VIDA DO ARTISTA: O PALCO
TEXTO MÁRCIO SILVESTRE
O Cariri é reconhecido como um território que exala cultura e tradi ção. Aqui, vivenciamos a plenitude da arte sem precisar ir longe. Nas próprias comunidades é possível ter contato com figuras populares como os caretas, brincantes e mestres de reisado, lapinhas e outros folguedos. A milenar arte do teatro também se desenvolve dentro deste caldeirão cultural, se entrelaçando com as de mais artes e se reinventando, num complexo e diverso processo de criação da identidade Cariri.
Em um anúncio de 29 de ju lho de 1857, do jornal “O Araripe”, número 103, fundado por João Brígido dos Santos, registra-se a existência de um teatro no Crato, chamado “Teatro de Todos os San tos”. O equipamento era mantido pela Sociedade Melpomenense, referência à Melpômene, musa da tragédia na mitologia grega. O anúncio, que tornava público aos sócios da sociedade a queda do teto do teatro, é o registro mais antigo acerca de um equipamento voltado à arte cênica da região.
Um século e meio depois, os grupos teatrais da região do Cariri se encontram sem equipamentos públicos para apresentações e com dificuldade de manter sede própria para realização de suas atividades. Teatros fechados, sem funciona mento, esse é um relato comum nas três maiores cidades do Cariri: Crato, Barbalha e Juazeiro do Norte.
ARTE À DERIVA
“Eu vejo o teatro hoje como uma arte à deriva, procurando sobreviver em alto mar. Na esfera municipal a gente não recebe apoio de nada. Na esfera estadual temos essa políti ca de editais que a gente nem sabe como se dão os processos, às vezes parece feito de forma escusa, ten denciosa, privilegiando sempre os mesmos grupos. E a nível federal acabou foi tudo, não existe mais nada de incentivo”, lamenta Jean Nogueira, ator da Cia de Teatro Livremente, de Juazeiro do Norte.
Fundada em 1985, a Livremente tem em seu repertório espetáculos que já foram vistos por mais de 1 mi lhão de pessoas, como “Esperando Comadre Daiana”, que conta a história de duas irmãs solteironas do Cariri que decidem que a filha adotiva terá como madrinha a princesa Daiana.
A diversidade estética é um marco no trabalho da Cia. Livremente. “Tra balhamos com todos os estilos, dos clássicos, como Kafka e Stanislavski, até comédia popular e regionalismo.
A gente passeia por todas as escolas tentando criar uma identidade Cariri”.
O alvo do grupo é o trabalho de formação de plateia, popularizando o teatro. “A duras penas nós mantemos esta instituição. As dificuldades são inúmeras. A gente tinha uma sede e teve que fechar. Reduzimos as nos sas coisas a um depósito, perdemos mais de 50% do figurino, de adereços e cenário. Agora estamos conseguin
do retomar um lugar maior, também pagando com recursos próprios.”.
UM NINHO SEM CASA
No Crato, um dos principais gru pos de teatro da região corre o risco de perder sua sede por falta de recur sos para manutenção. O grupo Ninho de Teatro foi criado em 2008, após montagem do espetáculo “Avental Todo Sujo de Ovo”, a história de uma travesti rejeitada pela mãe ao voltar para casa. Em 2011, o grupo conse guiu alugar um galpão, no Centro da cidade do Crato, lugar que se tornou ponto de cultura para apresentações e formações artísticas: a Casa Ninho.
“Alguns grupos acabam tentan do ter suas sedes e espaços, por conta de uma autonomia de traba lho. Mas não é simples manter um espaço em funcionamento, porque as contas chegam todos os dias. Não temos uma política de incenti vo que pense um fomento a médio e longo prazo para além da política de editais. Que não dá mais de con ta, já que o edital tem um tempo de terminado”, afirma Edceu Barboza, ator do Grupo Ninho de Teatro.
Em 2018, o grupo cratense já ha via tornado pública a situação de im possibilidade de manutenção do es paço. No período, conseguiu apoio da classe artística, com apresentações beneficentes e dividiu a responsabili dade de manutenção com outro gru po, o Coletivo Atuantes em Cena. Hoje, a situação voltou a ser preocupante.
ARTE
E a Casa Ninho corre risco de fechar suas portas. “Com muita dificuldade e desafios os artistas mantêm o espa ço, mas sem atuação efetiva do poder público na sustentabilidade da casa. O grande desafio para nós é termos sustentabilidade a partir do nosso tra balho”, afirma Monique Cardoso, pro dutora cultural e atriz da Casa Ninho.
Com estética de linguagem ampla e diversificada, o grupo Ninho tem re alizado pesquisa de linguagem base ada na tradição popular, nos nossos mestres da cultura. No seu mais novo trabalho “Cabras”, o grupo utiliza um recorte investigativo da performativi dade dos próprios artistas criadores.
LOUCO EM CENA
“A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”, são os versos da música O Bêbado e o Equilibrista, imortalizada na voz de Elis Regina. Assim como na canção, ser artis ta no Brasil é um desafio marcado por inconstâncias. Em Barbalha, o Grupo Louco em Cena se reinventa constantemente e precisa sempre adaptar sua arte para qualquer es paço. “O que temos são espaços para experimentos, como a rua, um terreiro, uma casa, um balneário. Mas, quando pensamos em espaço de teatro, enquanto local apropriado para a gente realizar a nossa arte, acho que há poucos disponíveis na região”, afirma Gilsimar Gonçalves, diretor do Grupo Louco em Cena.
“O teatro vive em crise. Nós vol tamos da pandemia transtornados. Saímos desnorteados, mas com a certeza de fazer a nossa arte. É uma necessidade do nosso corpo, da nossa alma. Enquanto Barba lha, nós ainda somos um peque no grupo que tenta fazer a coisa acontecer. Nós viemos resistindo, fazendo um trabalho de formação
A MILENAR ARTE DO TEATRO TAMBÉM SE DESENVOLVE DENTRO DESTE CALDEIRÃO CULTURAL, SE ENTRELAÇANDO COM AS DEMAIS ARTES
de plateia, fazendo com que surjam novos talentos. Fazendo com que surjam novos artistas”.
Esse trabalho realizado pelo Grupo Louco Em Cena acontece no Caldas, onde está situado a sua sede. De acordo com Gilsimar, o espaço acolhe outros artistas que não têm a oportunidade de ocupar um teatro. “A gente busca oferecer aos grupos um espaço que muitas vezes nos é negado. Temos agora uma sede onde apresentamos os espetáculos, oficinas e formações para as crianças e jovens da comu nidade”, destaca.
ONDE O TEATRO RENASCE
O curso de licenciatura em Teatro da Universidade Regional do Cariri (URCA) foi criado em 2012. Um mar co para a comunidade artística pre cursora que exercia o teatro amador na Sociedade de Cultura Artística do Crato (SCAC), onde funcionava o Tea tro Rachel de Queiroz, desde 1977. A graduação trouxe um novo momento para a produção artística na região, apresentando pesquisas, técnicas e métodos aos artistas locais.
O grupo foi criado em 2013, ini ciando seus trabalhos dentro da própria universidade. O coletivo tem dez anos de existência. Foi fundado
pelo ator Thiago Ápria, dentro da URCA. Os processos criativos apre sentados nas disciplinas culmina vam em espetáculos que depois se tornavam repertório do grupo.
O ambiente acadêmico possibili tou o encontro de um grupo de jo vens, que descobriu dentro da URCA uma estética de pesquisa, que cul minou na criação do Coletivo Dama Vermelha, que trabalha performan ce, dança e teatro contemporâneo. O Coletivo Dama Vermelha tem trabalhado com uma pesquisa inti tulada PODTEATRO, um podcast que traz uma perspectiva de peças para serem ouvidas. O trabalho está dis ponível no canal do Coletivo Dama Vermelha no Youtube.
Membro do grupo, Paulo Andre zio, ator e produtor cultural, tem uma opinião própria sobre as dificuldades do teatro, pela experiência de atu ação nas secretarias de Cultura de Juazeiro do Norte e do Crato. “Depois que passei a trabalhar diretamente no setor público enquanto produtor, vejo que o problema é para além. A gestão em si tem até o desejo de fo mentar os grupos, de oferecer cultu ra e arte para os municípios. O que falta é recurso para poder efetivar, patrocinar e ter essa disponibilização de verba”, afirma Paulo.
Acima, espetáculo A comédia da fome, da cia de teatro Livremente. À esquerda, espetáculo EueMinhasCabeças Avessas, do Coletivo Dama Vermelha. À direita, espetáculo Poeira, do Grupo Ninho
GEOPARK
PRIMEIRO GEOPARQUE DAS AMÉRICAS
RECONHECIDO PELA
UNESCO, ESPAÇO É
TERRENO FÉRTIL PARA PESQUISA CIENTÍFICA, MAS TAMBÉM PARA
MOMENTOS DE DIVERSÃO E CONTATO
COM A NATUREZA
TEXTO: ANA BEATRIZ CALDAS
uardião da memória, da fauna, da flo ra e de fósseis de centenas de milhões de anos, o Geopark Araripe, primeiro parque geológico das Américas reconhecido pela Unesco, completou 16 anos de integra ção à Rede Global de Geoparques neste ano. Com uma área de 3.796 km2, o espa ço - que passa pelas cidades de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri - obser vou, como consequência da pandemia, seu público se transformar: além de pes quisadores de todo o mundo, cada vez mais famílias da região e de outros luga res do País se apropriam do espaço para apreciar o patrimônio caririense e fazer atividades ao ar livre.
Para o diretor executivo do Geopark, Eduardo Guimarães, um dos motivos pelos quais o ambiente tem atraído ca da vez mais o público não especialista é a intensa experiência sensorial dispo nível na região para diferentes públicos. “Há a Floresta Nacional do Araripe (Flo na), com mais de 100km de trilhas natu ralmente cobertas, e várias opções para quem busca turismo ecológico: o Circui to Araripe de Corridas, área para prática de Mountain Bike, o Circuito das Águas de Barbalha, além das atividades de tu rismo científico e comunitário”, destaca.
A natureza, de fato, tem papel de finitivo no aumento do interesse pela região e no fomento à economia local. Quem já visitou alguns dos pontos do parque promete um pôr do sol inesque cível, bem como boas chances de obser var o Soldadinho-do-araripe, ave que só se encontra por ali. Mas a geoconserva ção, o outro grande atrativo do espa ço, não perde em majestade nem nas “atrações”. Além das trilhas e mirantes, os nove geossítios acolhem escavações paleontológicas, ruínas de construções antigas e museus cheios de história.
Uma das missões do Geopark, ex plica o professor Eduardo Guimarães, é relembrar ao Ceará a importância dos fósseis para o território e a população, já que comumente pensa-se que essas riquezas só são importantes para cien tistas e universidades. “Quando vo cê vai ao Museu do Louvre (Paris), por exemplo, você tem acesso a patrimô nios culturais que, em 99% das vezes, não são originários dali, mas que mo vimentam muitos recursos de pessoas que querem ver aquele patrimônio. Aqui é a mesma coisa, mas mantendo o pa trimônio dentro do território a que ele pertence”, ressalta.
O diretor lembra que os efeitos po sitivos do geoturismo são ainda maiores para moradores de cidades com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) bai xo, como algumas que envolvem trechos do Geopark. “Santana do Cariri não é mais uma cidade de passagem hoje em dia, por exemplo. Você vai para Santana visitar o patrimônio do Cariri. E esse pa trimônio cria oportunidades para filhos, netos e bisnetos do território”.
GEOSSÍTIOS
GEOPARK
OLHARES PARA O PASSADO COM FOCO NO FUTURO
É próximo ao Parque dos Pteros sauros, um dos geossítios mais famo sos do Geopark, que está localizado o Museu de Paleontologia Plácido Cida de Nuvens da Universidade Regional do Cariri (Urca), que abriga cerca de 11 mil exemplares fósseis - uma coleção impressionante, que se destaca inter nacionalmente e não para de cres cer. Com quase quatro décadas de existência, o Museu de Pa leontologia recebe diariamente doações de fósseis encontrados pelas autoridades competentes, em escava ções e através da devolução de fósseis retirados de seu local de origem.
Segundo o diretor do museu, Allys son Pinheiro, isso ocorre porque até cerca de 30 anos atrás era comum que fósseis fossem comercializados ao ar livre, sem fiscalização ou cons cientização sobre a importância do patrimônio. Só no ano passado, foram
repatriados mais de 500 fósseis, mui tos deles oriundos de exposições de museus estrangeiros, como no caso de um acervo de 37 aranhas que estava preservado na Universidade do Kansas (EUA). Entre os espécimes resgatados, estava a aranha Cretapalpus vittarinomeada em homenagem à cantora e drag queen Pabllo Vittar -, cujo fóssil havia sido levado para fora do Brasil por meios não oficiais.
Para Allysson, especialmente nos úl timos três anos, a gestão tem tido grande sucesso na repatriação de peças que es tavam no exterior nos últimos anos. Mas não é um trabalho simples nem fácil, por ser um processo caro, e que precisa da ajuda das autoridades competentes, co mo Governo do Estado e Polícia Federal. “A partir da campanha ‘Lugar de fóssil é no museu’, muitos materiais foram entre gues, como uma diversidade enorme de plantas, libélulas, escorpiões, camarões e algumas espécies de pterossauro - alguns deles muito raros”, pontua.
Entre as aranhas repatriadas está a Cretapalpus vittari, nomeada em homenagem à cantora Pabllo Vittar
Antes da pandemia, o museu re cebia cerca de 35 mil pessoas por ano. Aos poucos e com um público mais di versificado, ele retomou as atividades, visando unir, cada vez mais, a tecno logia e a geoconservação. “Ainda este ano, teremos uma exposição renovada, com grande interatividade e incorpo ração de tecnologias, bem como maior capacidade para fabricação de réplicas. Também esperamos poder realizar, em breve, exposições itinerantes no Ceará para mostrar ao Estado os nossos patri mônios que estão de volta”.
Os fósseis encontrados nas escavações no Geopark estão no Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (Urca), que abriga cerca de 11 mil exemplares fósseis, ou espalhados pelo mundo
Roteiro
UM DIA NO GEOPARK
Com tantas atividades e riquezas geológicas para conhecer, é certo dizer que, para conhecer bem o Geopark, é preciso de al guns dias de folga no Cariri. Mas com a proximidade das cidades, é possível aproveitar um dia inteiro com qualidade seguindo al gumas dicas: primeiro, é importante ter um carro a disposição (próprio ou alugado) para ir de uma cidade a outra, ainda que elas sejam próximas; em segundo lugar, é essencial estar acompanha do de um guia de turismo (ou alguém que conheça bem a região) para evitar acidentes e curtir melhor o passeio.
“O mais indicado é procurar alguém que conheça a realida de do turismo do Cariri. É possível buscar nas agências ou no próprio Geopark, e, como todos os guias da região se conhe cem, você sempre vai ter uma boa indicação”, explica Andressa Alencar, geógrafa e guia da Anhanguera Turismo.
Os valores dos passeios variam de acordo com a alimenta ção e transporte escolhidos. Na agência de Andressa, um ro teiro para até quatro pessoas costuma custar em torno de R$ 280, com almoço e lanche inclusos. “Tudo depende do tama nho do grupo e das preferências para o passeio”, completa. Os percursos são personalizados e podem incluir, além dos pon tos turísticos, refeições ao ar livre preparadas pelo receptivo.
Confira um dos roteiros recomendados pela geógrafa para curtir um dia no Geopark:
MANHÃ
> Trilha dos mirantes na Chapada do Araripe (Crato) ou Visita ao geossítio Colina do Horto (Juazeiro do Norte)
ALMOÇO
> Restaurante Arriégua (Crato) ou Restaurante Coisas do Sertão (Juazeiro do Norte)
TARDE
> Visita ao geossítio Ponte de Pedra (Nova Olinda)
> Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (Santana do Cariri)
> Pôr do sol e lanche no geossítio Pontal da Santa Cruz (Santana do Cariri)
Reconhecimento
O Geopark já foi avaliado quatro vezes pela Unesco: uma na submissão do território para reconhecimento como geoparque e mais três para reavaliação das medidas de salvaguarda e promoção do espaço. Nas três avaliações, o ambiente recebeu selos verdes por, entre outros fatores, sua íntima ligação com a pesquisa científica e o desenvolvimento de capital humano na região, além do fomento à economia local. Em setembro deste ano, o parque comemorou seu 16º aniversário com 15 dias de atividades alusivas à data, como expedições fotógraficas, palestras, seminários, oficinas e lançamento de livros.
Para aproveitar
Quem quer se aventurar pelo parque deve estar atento ao vestuário, utilizando roupas e sapatos adequados, levar água, lanche e se proteger do sol. Outras orientações são oferecidas pelos guias, que tornam o passeio mais seguro e enriquecedor.
PARA SABER MAIS SOBRE O ESPAÇO, ACESSE: www.geoparkararipe.urca.br @geoparkararipe @museudepaleontologia
DE TODAS AS
TRIBOS
Com gaiolas, plumas espalhadas pe lo ambiente e pontos instagramáveis: assim é o Pirikita’s, novo barzinho do Crato. O pôr do sol, visto ao horizon te, encanta o público no fim de tarde. As palmeiras, características do bairro, cercam o espaço e são responsáveis pe lo toque singular do bar e restaurante. O lugar, no Palmeiral, antes abandona do, com acesso limitado e até esqueci do pela população, com a implantação do boteco, foi ressignificado.
O Pirikita’s, inaugurado em 21 de ju nho de 2022, surgiu de forma inusitada. Fábio Bezerra, 44, apaixonado por culi nária, costuma cozinhar para amigos, e foi em um desses encontros que pen sou, junto aos seus atuais sócios, em proporcionar ao público algo importante e significativo em sua vida.
“A GENTE NÃO VENDE, A GENTE CUIDA”
Paulistano, mas filho de cearenses, Fabinho Biquinho, como também é co nhecido, relata a necessidade de ter um lugar que represente mais do que um negócio, mas sim, um ambiente acolhe dor e cultural. Com temperos obtidos da própria horta do Pirikita’s, o gerente co loca a “mão na massa” e cria os pratos. Ele mesmo, aliás, elaborou o cardápio.
“Aqui é uma área gastronômica, traz um pouco do boteco, com preços aces síveis, comida boa e de qualidade. Então, não é você deixar de comer algo porque é caro, ao contrário, você pode provar, pois lhe damos acessibilidade para isso. Costumo dizer que somos todas as tri bos, pois atendemos aos mais diversos públicos”, aponta Fábio, que de mesa em mesa, conversa e aceita sugestões dos seus clientes.
DA COZINHA DE CASA PARA O PALADAR DOS CARIRIENSES
O prato de destaque do boteco, Piri kita cremosa (R$ 15,90), feito com feijão verde cremoso e crocante de linguiça, surgiu após um teste do gerente com os alimentos que tinha na geladeira da casa de seu sócio. E é assim que Fábio com põe os seus pratos, com ingredientes
Culinária e drinks do Pirikita’s é acessível e criativa para todos os gostos
de fácil acesso e que estão disponíveis no momento. Outros pratos da lista dos mais pedidos são: camarão empanado (R$ 29,90) e o Burguers Pirikita’s (R$ 39,90). Os drinks autorais impressio nam, como o João-de-barro (R$ 25,90), que vem dentro da casa do pássaro feita de argila por um artesão local e o Arara louca (R$ 25,90), onde a bebida é coloca da em uma grande arara feita de gesso.
PIRIKITA’S
Funcionamento: Terça a domingo, das 18h às 3h
Av. Brg. José Sampaio de Macedo, 931, Palmeiral - Crato Instagram: @pirikitasbar
ITALIANO EM JUAZEIRO
ASPORTO PIZZARIA SURGIU DE UM INTERCÂMBIO EM PISA, NA ITÁLIA, E PROMETE PIZZAS COM A RECEITA ORIGINAL DO MÉTODO NAPOLITANO
TEXTO SABRINA RIBEIRO
Saborear uma boa pizza, com massa delicada e recheio de qualidade, é um dos prazeres da boa mesa. As pizzarias têm surgido aos montes, com varieda des de preços, sabores e apresentação. Por isso, nesse mercado, para se desta car é preciso apostar na inovação.
Jorge Théo de Araújo, 24, e Pamela Clemente de Meneses, 24, até então graduandos de Ciências Biológicas, de cidiram juntos aprofundar os seus es tudos através de um intercâmbio em terras italianas, na cidade de Pisa, a 340 km de Roma. Um casal dedicado e com futuro promissor, mas que se de parou com as limitações profissionais na área escolhida.
Com veias empreendedoras no ramo culinário desde a faculdade, onde ven diam cookies, Théo e Pamela optaram por trazer para o solo caririense a pai xão pela gastronomia italiana. Natural de Fortaleza, o jovem estudante es pecializou-se na produção de pizzas e enxergou em Juazeiro do Norte o local ideal para iniciar a sua jornada com a Asporto Pizzaria.
MÉTODO NAPOLITANO
A Asporto utiliza o método napoli tano no preparo das massas, que não é tido apenas como um estilo, é conside rado uma arte na Itália. “Prezamos por essa originalidade, através de técnicas, como o modelo de abertura da massa, o formato de assar com altas temperatu
ras, onde as pizzas devem ficar prontas em, no máximo, dois minutos! E, claro, tem a qualidade dos insumos, que jun tos geram um produto leve, saboroso e digestivo, com longa fermentação”, aponta Théo.
O cardápio da Asporto é variado. São 17 sabores de pizza, desde as clássicas italianas, com traços originais, até as clássicas brasileiras e as pizzas doces, nas versões de chocolate (R$ 49,90) e Nutella (R$ 52,90). Entre as mais pedidas está a Genovese (R$ 52,90), composta por mozzarella de búfala, manjericão, parmesão e molho pesto.
Além das pizzas, o cardápio tem an tepasto, como a bruschetta (torrada ita liana feita com pão artesanal) e arancini (bolinhas feitas com risoto recheadas com ragu à bolonhesa). Como sobreme sas, o cliente pode escolher entre as três opções disponíveis: cookie com gelato, petit cookie e tiramisù.
ASPORTO PIZZARIA
Terça-feira a domingo: 18h às 22h30 (Delivery) Quinta-feira a domingo: 18h às 22h30 (Presencial)
Endereço: Rua Sgt. José Marcolino Brasileiro – Frei Damião, 170, Juazeiro do Norte Contato: (88) 99762 3117 Instagram: @asportopizzaria
ITALIANO
No cardápio de sabores, as pizzas variam entre as legítimas italianas e as típicas brasileiras
DIVULGAÇÃO
Pamela Clemente de Meneses e Jorge Théo de Araújo trouxeram para o Cariri a paixão pela gastronomia italiana
GUIA DE DELÍCIAS
BAR, CINEMA E
RELÍQUIAS
CANTINA ZÉ FERREIRA TRANSFORMOU UMA
ANTIGA CASA NO CENTRO DE JUAZEIRO EM CINEMA GRATUITO, MUSEU E UM BAR COM CARDÁPIO DE DAR ÁGUA NA BOCA
TEXTO MÁRCIO SILVESTRE FOTO ALLAN BASTOS
A noite caririense é diversificada. Em Juazeiro do Norte, você consegue en contrar diversos bares e botecos para todos os estilos: dos tradicionais, sofis ticados aos mais despojados e alternati vos. Mas existe um lugar bem diferente, no Centro da cidade, na rua Padre Cíce ro, 158, bem em frente à casa paroquial da basílica de Nossa Senhora das Dores: a Cantina Zé Ferreira.
É uma casa de arquitetura típica do Centro de Juazeiro do Norte. A porta da frente já dá para a calçada. Não há muro na frente e nem divisórias com os vizinhos. O chão é todo em ladrilho hi dráulico, revestimento fabricado arte sanalmente à base de cimento e outras matérias-primas, que formam peças únicas, parecidas umas com as outras, mas nunca iguais. Estima-se que foi construída no final do século XIX. E te ria sido moradia da Beata Mocinha, go vernanta do Padre Cícero.
Hoje o endereço é comercial e foi transformado num espaço com três ser viços diferentes: bar, cinema e relíquias. Na parte da frente, fica um museu, com um acervo constituído por fotos em pre to e branco, móveis antigos de madeira e objetos curiosos como uma bala da Se dição de 1914, quando houve uma guerra entre jagunços de Juazeiro do Norte e as tropas do governo do Estado.
No piso superior, existe uma sala de cinema, onde são exibidos filmes nas quartas e nas quintas-feiras. São 48
cadeiras, doadas de um dos antigos cinemas de rua do município, o Cine Eldorado. Não se paga ingresso. “Se puder trazer um quilo de alimento para ajudar no abrigo dos velhos, beleza. Se não puder, assiste ao filme do mesmo jeito”, informa Humberto de Menezes, dono do espaço.
Na cozinha e no quintal da casa, fun ciona o bar, a Cantina Zé Ferreira. O de signer gráfico Jhoe Alecrim gosta de fre quentar o local e lista os motivos da esco lha: “Acho o espaço diferenciado por ter a parte do museu, a parte do cinema. Isso traz uma coisa nostálgica interessante, além do bar, para a gente conhecer”.
O prato mais pedido se chama Tá bua Zé Ferreira: carne de sol confitada na manteiga da terra, macaxeira frita ao ponto (crocante por fora e macia por dentro), queijo à milanesa e ainda acompanham baião, vinagrete e farofa (R$ 50). Também são vendidos petis cos, caldos e outras refeições. Para be ber, a bebida pode ser gelada ou quen te: cerveja, drinks e uísque.
CANTINA ZÉ FERREIRA
Aberto nas noites de quarta a sábado Exibição de filmes gratuitos nas quartas-feiras e nas quintas-feiras, a partir das 19h
Rua Padre Cícero, 158 - Juazeiro do Norte
RELÍQUIAS
Humberto de Menezes, proprietário da Cantina Zé Ferreira, na sala de cinema do espaço. Abaixo, o bar e parte do museu
GUIA DE DELÍCIAS
Maria do Carmo decidiu se dedicar ao sonho de trabalhar com gastronomia e fez do restaurante DonaCarmo um ambiente familiar e agradável. Acima, um dos pratos mais pedidos: Filé DonaCarmo
ABRAÇA COZINHA AFETIVA E QUE
NA ZONA RURAL DO CRATO, O RESTAURANTE DONACARMO
É UM REFÚGIO COM BOA GASTRONOMIA, ATIVIDADES INFANTIS E INSPIRAÇÃO EM “CASA DE VÓ”
Com pouco mais de um ano de fun cionamento, o restaurante DonaCarmo está na rota daqueles que querem vi venciar a gastronomia afetiva, em um ambiente que promove contato com a natureza e uma vista exuberante da Chapada do Araripe.
Localizado na zona rural do Crato, no distrito do Baixio do Muquém, o espaço desperta aquela sensação de estar che gando na “casa de vó”, uma avó do inte rior. Estrada rural, cheirinho de comida pelo ar, a casa rodeada de alpendre e al guns animais andando pelo espaço, tudo de forma muito harmoniosa.
O restaurante foi construído ao lado da casa de dona Maria do Carmo, que dá nome e sabor ao empreendimento. E no mesmo local também há um haras onde adultos e crianças podem curtir um pas seio a cavalo ou pônei.
Maria do Carmo deixou a carreira de empresária do segmento de calçados, onde atuou por 30 anos, para realizar o sonho de trabalhar com gastronomia. “Durante a pandemia, esse desejo foi maximizado. Em março de 2021, o res
taurante DonaCarmo começou a sair do papel”, comenta a arquiteta Janaina Maciel, filha de Maria do Carmo e tam bém diretora do empreendimento.
Inspirado em pilares familiares, o restaurante foi pensado com o pro pósito de ser um lugar fora do tempo. “Um lugar onde você se desconecta da rotina cotidiana para se reconec tar com o que realmente importa: as pessoas que você ama, ao redor de uma mesa, com uma gastronomia de excelente nível, em um ambiente que proporciona contato direto com a na tureza”, descreve Janaína.
Para os clientes, a proposta realmen te é alcançada. Suelane Cunha, empre sária, vai sempre ao DonaCarmo com a família e garante: “aqui é maravilhoso, tranquilo, comida boa”. Para Natália Macedo, psicóloga, “é importante ver um empreendimento desta qualidade no município. Essa é a segunda vez que venho aqui e eles já cresceram. Isso de monstra a qualidade do serviço e que as pessoas estão aprovando”.
Com funcionamento de sexta a do
mingo, “o DonaCarmo busca resgatar memórias e abraçar através da gastro nomia, com um cardápio equilibrado entre pratos típicos regionais, como a Galinha Caipira (R$ 124,90 para quatro pessoas), e àqueles com ingredientes mais nobres e/ou técnicas de gas tronomia mais avançadas, como, por exemplo, o Filé DonaCarmo (R$ 76,90 para duas pessoas), um filé mignon trinchado, maturado, puxado num cre me de queijo de manteiga”, comenta Janaína. No menu, também estão so bremesas e drinks, além de cervejas e uma carta de vinho.
DONACARMO
Funcionamento:
Sextas e Sábados: 11h30 às 22h
Domingos: 10h30 às 16h30
Estr. Crato Baixio das Palmeiras, 350Baixio do Muquém - Crato Informações e reservas: (88) 99364 4409
Instagram: @restaurantedonacarmo
KIDS
KIDS
MERGULHO no mundo da brincadeira
NA LAGOA SECA, ESPAÇO BLOOM TEM TEMÁTICA DO FUNDO DO MAR COM BRINQUEDOS DE REALIDADE AUMENTADA E 4D, ALÉM DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS
Você já pensou como deve ser legal brincar no fundo do mar? Não estou falando em submarinos e nem em histórias infantis. Essa é a proposta do Espaço Bloom, em Juazeiro do Norte, um local com tema marítimo que promete muita diversão para as crianças de todas as faixas etárias, inclusive aquelas mais crescidinhas.
O parque está localizado no co ração do bairro Lagoa Seca, cerca do por cafés, restaurantes e bares. É uma opção segura e divertida para as famílias deixarem as crian ças enquanto visitam e consomem na vizinhança. Os pais ou respon sáveis também podem ficar aguar dando no local e até mesmo brin car com as crianças.
A empresária Heloisa Pinhei
ro divide a administração do em preendimento com o irmão, João Pinheiro. Para ela, os quesitos segurança e inovação fazem to da diferença para o espaço. “Hoje, como mãe, percebo que seleciono os meus lugares condicionados à existência de um lugar bom para os meus filhos, seguro e de fácil acesso. É muito agradável para os pais deixarem seus filhos de forma segura”, comenta.
A diversidade de brinquedos também chama a atenção do filho da contadora Carol Reis, o João, de 5 anos. Ela conta que frequenta o espaço com o filho e gosta das no vidades. “A gente sempre vem para ele brincar, interagir com outras crianças. Sempre tem novidades, brinquedos novos”.
Atividades
PEDAGÓGICAS E ELETRÔNICOS
No local, além de um playground gigante que preenche parte do pri meiro e do segundo piso, com túneis, escorregadores, obstáculos e piscina de bolinhas, também estão disponí veis mesas pedagógicas, de pintura, cenários de supermercado, cozinha, mesa air play, videogame e, agora, brinquedos eletrônicos e com reali dade virtual.
“Essas são as nossas últimas aqui sições, os eletrônicos e os brinquedos com realidade aumentada. Nós so mos o único parque do Cariri que tem esse tipo de brinquedo, um simulador de montanha russa, com opções dife rente de cenários e ele é 4D, tem sis tema de vibração, som, ventilação e movimentação. E um outro simulador com vários jogos”, explica Heloisa.
A empresária conta que é feito um cadastro para receber a criança, inclu sive com informações sobre saúde, alergias e o telefone de contato do responsável. Além disso, o Bloom tem piso emborrachado e antiderrapante, banheiro adaptado e o espaço conta com cuidadoras nos dois pavimentos, para observação e orientação do uso dos brinquedos. Estes são utilizados por livre demanda das próprias crian ças, sem uma programação, mas são divididos por faixa etária. No piso in ferior, das crianças menores; e no su perior, crianças maiores.
O Bloom foi inaugurado em abril de 2019. Agora, a empresária e o seu sócio esperam abrir novas unidades em municípios da região do Cariri, já a partir do próximo ano. “Estamos muito felizes com a missão do nosso negócio, sempre tentando aprimorar, atualizar os brinquedos e os cenários. Agora, vamos levar brincadeira de qualidade e segurança para as crian ças de todo o Estado”, comemora.
ESPAÇO BLOOM
Endereço: Rua Tenente Luiz Coelho Rocha, 101 , Pátio Dió – Lagoa Seca, Juazeiro do Norte Funcionamento de domingo a quartafeira, das 16h às 22h; e de quintafeira à sábado, das 17h às 23h. Promoção de segunda a quarta-feira – R$ 30 Instagram: @bloom.espacoinfantil
Desconto de 50% para crianças com deficiência ou TEA
KIDS
DIVERSÃO e atividade física
A PRIMEIRA ACADEMIA INFANTIL
DO CARIRI REÚNE UM CATÁLOGO DE ATIVIDADES FÍSICAS PARA AS CRIANÇAS GASTAREM ENERGIA, FAZEREM AMIGOS E SE DESENVOLVEREM COGNITIVAMENTE
TEXTO EMANUELE LOBO
FOTOS ALLAN BASTOS
Ativi Kids foi pioneira no ramo de academias infantis no Ceará
Quem disse que academia é coisa só para jovens e adul tos, ainda não conheceu a Ativi Kids, primeira - e a única do Cariri - academia própria para crianças. Localizada em Juazeiro do Norte, a academia busca promover o desen volvimento da criança em seus aspectos cognitivo, afeti vo e motor, além de proporcionar momentos de alegria e diversão, por meio da prática regular de atividades físicas, jogos e brincadeiras.
“Começamos com um futebol de sabão que a minha só cia, Natália Ricarte, ganhou do irmão. Iniciamos com aniver sários, colônias de férias, atendimentos em escola, hotel,
parque, clube, mas não era o nosso espaço”, conta um dos criadores, só cios e professor da Ativi Kids, Edjunior Alves. A academia foi idealizada a par tir de um treinamento com o profes sor Thiago Aquino Paçoca, um dos me lhores recreadores do Brasil.
A partir daí, a Ativi Kids ganhou forma e foi pioneira no Cariri e no Ceará. Atualmente, as crianças e ado lescentes podem escolher dentre as modalidades esportivas, como bal let, judô, vôlei, futsal, ginástica ar tística, treinamento funcional, nata ção, jogos e brincadeiras e, ainda, o acompanhamento pedagógico. Com a chegada do período mais quente, os famosos meses do “B R O, bró”, a na tação está sendo a prática mais pro curada pelas crianças, mas atividades como vôlei, ballet e futsal também têm grande adesão.
O empresário Thiago Magno, de 37 anos, pai dos trigêmeos Theodoro, Alexandre e Cleo, de 4 anos, conta que a atividade física melhorou a rotina das crianças. “Vejo que o futebol de senvolveu bastante a socialização de les e até regularizou o sono”, comenta. Já Cleo está aprendendo as primeiras técnicas de ballet.
O profissional de educação física também destaca a importância das atividades no pós-pandemia. “Per cebemos que nosso público tem vol tado cada vez mais pela situação da socialização, que se perdeu duran te a pandemia. Fora todos os outros valores que são trabalhados, como o respeito, a humanização, a autonomia das crianças, que só vem somar na vi da delas em vários aspectos, motores, cognitivos, sociais e afetivos”, afirma.
O espaço da Ativi Kids é amplo, preza pela segurança das crianças e a equipe passa por capacitação anual mente, de acordo com Edjúnior. A pis cina e a quadra são isoladas com grade de proteção, as salas são climatizadas e o pátio, outro local de socialização entre os alunos e também as famílias. Neste espaço podem ser realizadas festinhas de aniversário.
ATIVI KIDS
Endereço: Rua Arnóbio Barcelar Caneca, 821, Lagoa Seca – Juazeiro do Norte
Funcionamento: Segunda, quarta e sexta-feira, das 14h às 19h; terça e quinta-feira, das 14h às 20h
Instagram: @espacoativikids
Pacotes semestrais e anuais, com valores entre R$ 95 e R$ 160 por modalidade/mês
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Park Mix funciona como espaço recreativo e salão de festas
ALE GRIA de festa ou de dia a dia
NO BAIRRO FRANCISCANOS, O PARK MIX TEM PLAYGROUND, PISCINA DE BOLINHAS, MESA DE AIR GAME E DIVERSOS OUTROS BRINQUEDOS PARA CRIANÇAS A PARTIR DE DOIS ANOS, ALÉM DE SALÃO DE FESTAS
TEXTO SABRINA RIBEIRO FOTOS ALLAN BASTOS
A correria dos tempos modernos para os adultos li mita os momentos de brincadeiras com os seus filhos, que recorrem às telinhas para ocupar a ociosidade. Os pais, para minimizar os impactos causados por tanto uso de dispositivos eletrônicos pelos pequenos, en contram nos parques de diversão, lugares para que os seus filhos possam brincar, fazer amizades e fugir um pouco do mundo digital.
Dono de um parque infantil, Francisco de Assis, 41, trabalhou durante a vida vendendo joias, frango assa do e frutas, mas sempre carregou consigo o sonho de abrir o seu próprio negócio. “Comecei com três moti nhas e um pula-pula. Investi e passei a alugar os brin quedos para aniversários”, relembra.
De Assis relata que além dos aluguéis, trabalhava todas as noites em praças da cidade, ofertando brin quedos para crianças que ali procuravam se divertir, o que o motivou ainda mais a alcançar o modelo de ne gócio que tanto sonhava. Foi então que, em viagens com a família, a ideia se concretizou. “Percebi que fal tava algo aqui na região. Os parquinhos existentes es tavam em outras cidades ou em shoppings. Renasceu em mim a vontade de empreender. Conversei com a minha esposa e juntos abrimos o Park Mix”.
Conheça o Park
O estabelecimento é um espaço recreativo e salão de festas, localizado em um famoso bairro de Juazeiro do Norte, o Franciscanos. O Park Mix conta com playground, piscina de bolinhas, mesa de air game e diversos outros brinquedos para crianças a partir de dois anos. Um paco te para festa infantil, por exemplo, pode custar R$ 1.400, com itens de decoração e estrutura de cozinha.
Há 12 anos no ramo de lazer para as crianças, Fran cisco tem a certeza que acertou em sua escolha de negócio e aponta, com satisfação, como o empreendi mento foi bem aceito pelo público, e revela ter sido o pioneiro da região.
O local funciona de 14h às 22h e é uma opção para quem precisa deixar os seus filhos, onde podem brincar e se divertir.
PARK MIX
Endereço: Av. Carlos Cruz, 1353 A, Franciscanos - Juazeiro
Norte
Funcionamento: Todos os dias, das 14h às 20h
(88) 98845 4739
@parkmix_
INOVAÇÃO
O Cariri cearense é terra de memória e preservação. Seja pela biodiversidade que pulsa na Flores ta Nacional do Araripe, pelos ricos geossítios com valor paleontoló gico incalculável ou pela história de seus mártires, a região é mais do que um retorno ao passado - é também ponte para o futuro. Com iniciativas voltadas para o desen volvimento econômico e a inovação dessa área do Estado, startups de diversos segmentos têm se multi plicado nos últimos anos, especial mente após o início da pandemia, e buscam solucionar problemas e potencializar bons resultados no turismo e na indústria, fortes mo tores da economia local.
Segundo Francisco Cunha, pro fessor do departamento de Quími ca Biológica da Universidade Regio nal do Cariri (Urca), os programas de pós-graduação do Ceará têm papel fundamental nesse desen volvimento, e o polo universitário caririense é um diferencial para que a região avance. “Temos que en contrar meios de transformar todo esse conhecimento em atividades de inovação, porque grande parte dos nossos mestres e doutores en contram espaço na academia para aplicar o que aprenderam em suas pesquisas”, explica.
Entre as medidas criadas pela Urca está a criação da Pró-reito ria de Inovação e Empreendedo rismo, que busca estimular uma formação que ultrapasse os mu ros da universidade. “É essencial que haja uma socialização do co nhecimento, fazendo com que o conhecimento acadêmico se transforme em inclusão social e geração de renda, melhorando a qualidade da população do Cariri de maneira sustentável”, comple ta o professor Cunha.
O movimento que conecta uni versitários e professores ao em
preendedorismo também inclui a participação das entidades de ensi no em eventos e programas de ino vação fora dos campi, a exemplo do programa Pré-Acelera Cariri, criado em outubro de 2021 pelo Hub de Inovação do Instituto Euvaldo Lodi (IEL Ceará). A primeira jornada de aceleração do projeto, concluída no último mês de julho, contou com a participação de equipes da Urca, da Universidade Federal do Cariri (UFC Cariri), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), da Unileão, da UniFAP e da Unijuazeiro.
De acordo com o head do Hub, Fábio Braga, o programa atual mente conta com 50 empreende dores - destes, 13 caririenses - e busca potencializar a atuação de projetos voltados para a indús tria. Na jornada de inovação, as atividades do Hub foram divididas em seis dimensões - time, capital, tecnologia, produto, gestão e mer cado -, com o objetivo de tornar a ideia um negócio que solucione problemas de maneira economica mente sustentável.
Apesar do ciclo ter sido finali zado, as ideias seguem sendo de senvolvidas e aprimoradas, com o objetivo de gerar renda não só para a região, mas também para o Ceará e o Brasil. “Estamos preparando es sas ideias para que elas se tornem empresas globais. Um ponto de destaque tem sido a área de sus tentabilidade, o que diz bastante sobre como a população pensa em contribuir com a preservação do Cariri”, ressalta Fábio. Dos projetos apresentados, dois já se transfor maram em CNPJ: a startup Realm, de vendas inteligentes, e a WBT, de soluções tecnológicas. Até o fim do ano, uma nova jornada de acelera ção, reformulada e abrangendo todo o Ceará, deve ser lançada pelo Hub de Inovação do IEL.
Inovação em 5 pontos
Foco na comunidade
O avanço do empreendedorismo com foco na inovação também é fruto do tra balho coletivo de segmentos distintos que, nos últimos anos, têm buscado inserir uma cultura tecnológica mais forte em ci dades ainda não tão digitalizadas. É o caso do grupo Kariri Valley, que nasceu em 2017 com a meta de ampliar o uso da tecnologia no Cariri, tendo apoio do poder público e privado e sem liderança formal.
Com a chegada da pandemia, foi preciso repensar o formato do coletivo: eventos como maratonas tecnológicas e
formações foram adaptados ou pausados e o grupo “perdeu muito com a falta da sensibilização presencial”, segundo Tatia ne Betat, integrante do Kariri Valley e dire tora executiva da Fundação de Desenvol vimento Tecnológico (Fundetec).
Ainda assim, com a retomada dos eventos e a digitalização causada pela Covid-19, a administradora acredita que o movimento tem crescido pela força do capital intelectual da região. “Temos mais de 180 cursos na região em diver sas áreas. Essa conexão acadêmica com
ESPAÇO CUIDA
O Espaço Cuida nasceu após o início da pandemia e tem como diferencial ser um negócio inovador que serve de lar para outros negócios inovadores. Idea lizado em 2019, quando os sócios Samya Angelim e Márcio Régio decidiram repensar as trajetórias profissionais e se dedi car à pesquisa de campo sobre inovação - a partir de laboratórios, viagens para eventos especializados e estudo da con corrência -, ele só saiu do papel em 2021, e direto para o online.
“A inauguração do nosso espaço seria em abril de 2020, então precisa mos repensar o projeto, porque o co working depende muito do presencial. Passamos o primeiro ano da pandemia todo em uma imersão no mundo online fazendo pesquisa e networking e começamos a realizar eventos presen ciais apenas de setembro de 2021 para cá”, conta Samya.
A espera, no entanto, valeu a pena: atualmente, o Espaço Cuida é um hub de inovação e empreendedoris mo focado em conectar profissionais e ideias inovadoras. Desde o começo das atividades presenciais, já reali
zou mais de 30 eventos, e impactou mais de cinco mil pessoas no digital. Só no espaço físico há, além do coworking, um galpão de eventos com capacidade para até 600 pessoas, um estúdio para podcast e um pátio comercial que, em breve, será ocupado por lojas e uma área gastronômica.
A empresa também oferece assessoria pa ra eventos e possui uma plataforma similar a uma rede social voltada para a jornada do empreendedor, o Cuida Digital, além da Academia Cuida, uma plataforma de educação. “Atendemos arquitetos, advogados, pessoas da área da comuni cação, do marketing, profissionais que já têm um olhar para um trabalho colaborativo. E propiciamos um ambiente em que eles podem encontrar possíveis clientes e se organizar entre si”, com pleta a empreendedora.
o mercado, que no Brasil não é tão forte, pode ser a responsável por potencializar o desenvolvimento econômico do Nor deste, pois o Cariri está em uma localiza ção privilegiada”, afirma.
A especialista destaca que setores co mo turismo, instrumental mecânica, setor calçadista e logística são estratégicos para a expansão e o fortalecimento desse novo momento do mercado. “Criando soluções a partir dos problemas que enxergamos aqui, teremos um diferencial competitivo para os negócios”, conclui.
GLAM
A pandemia também teve um pa pel essencial no surgimento do Glam, aplicativo de delivery criado pelas irmãs Nadya e Nayara Mota em Jua zeiro do Norte no primeiro semestre de 2020. A ideia, segundo Nadya, era oferecer soluções de beleza com se gurança, já que salões e outros espa ços de beleza estavam fechados por conta do isolamento. “Sentimos fal ta desse tipo de serviço de delivery. Então, como nossa família sempre empreendeu, começamos a pensar de maneira prática em como levar um profissional especialista em beleza para a casa das pessoas”, conta.
3Inicialmente, as irmãs resolveram testar a ideia por WhatsApp e com cinco profissionais parceiros, divul gando a ideia para família e amigos no “boca a boca” e pelo Instagram. Hoje, com mais de dois anos de atuação, o Glam já conta com app - carro-chefe da startup, disponível para Android e
AZULOU
Com o objetivo de “azular a situação das empresas no Brasil”, tornando os ne gócios mais lucrativos através de uma boa gestão, a Azulou surgiu para simplificar o dia a dia de micro e pequenos empreendedores. Através de um aplicativo que per mite que donos de negócios possam rea lizar tarefas importantes de maneira fácil e rápida pelo celular, o sistema permite a criação e o gerenciamento de documentos como Geração de Pedido de Vendas, Ordens de Serviço e PDV (Venda Rápida), Gestão Financeira e Relatórios de Vendas.
“O nosso objetivo é tornar processos chatos e repetitivos em atividades sim
ples e automatizadas. Acreditamos que a profissionalização das empresas pode transformar a economia regional e, por isso, sempre aplicamos primeiro as novi dades com os clientes da região”, explica Antero Silva, fundador da startup.
Lançada em setembro de 2021, a empresa já conta com mais de 3 mil usuários cadastrados e iniciou um sis tema de assinaturas. Segundo Antero, a meta da equipe é chegar até 100 assinantes até o fim de 2022 - uma meta ousada que deve contar com o apoio do ecossistema de inovação do Cariri para ser atingida. “Os principais desafios es
iOS - e site oficial, e realizou mais de três mil atendimentos.
Após o primeiro ano, a empresa começou a operar também no Crato e em Fortaleza, e agora há 100 pro fissionais cadastrados nas três cida des. Com serviço similar a aplicativos de entrega, basta buscar pelos ser viços desejados e agendar o aten dimento domiciliar: unhas, cabelo, depilação, design de sobrancelhas, alongamento de cílios, maquiagem e penteado são as opções disponí veis para quem deseja flexibilidade de horários e segurança.
“O maior desafio é chegar no cliente, ele querer experimentar. Tem todo um caminho, mas a acei tação tem sido muito bacana. Por isso, nosso projeto é estar em todo o Nordeste até 2027 - e já estamos nos estruturando para chegar ainda este ano na Paraíba e em Pernam buco”, afirma Nadya.
tão voltados para a dificuldade em cap tar investimentos e ter uma comunida de de apoio e networking, algo que vem melhorando muito com a atuação do Espaço Cuida”, ressalta o empresário.
O aquecimento do setor de tecnologia devido à pandemia também deve contri buir positivamente para o crescimento do projeto. “O mercado de tecnologia nunca esteve tão aquecido e com tantas soluções prósperas sendo criadas para atender digitalmente a demandas que antes só existiam fisicamente, um cenário perfeito para o nascimento de startups e o aumen to nos investimentos nesse setor”.
CARIRI RESÍDUOS
Foi ainda na graduação, quando começou a pensar no tema do seu trabalho de conclusão de curso, que o topógrafo Kleveson Ferreira César teve a ideia que resultaria na plataforma Cariri Resíduos, um dos projetos selecionados pelo pro grama Pré-Acelera Cariri em 2021. “Eu queria algo voltado para sustentabilidade e que causasse um impacto real, não só mais um trabalho para ficar esquecido dentro do notebook ou em uma estan te da biblioteca”, lembra.
Sob orientação do professor Renato de Oli veira Fernandes, da Urca, Kleveson e outros dois alunos da instituição, Thiago Augusto e Danilo An drade, levantaram dados acerca da produção de Resíduos Sólidos da Construção Civil e Demolição (RCD) em Juazeiro do Norte, e constataram que mais da metade desses resíduos eram oriundos da construção civil.
Para solucionar o problema ambiental - que é também financeiro, já que pode representar per das de matéria-prima e custos adicionais para des carte -, o time criou a proposta que busca integrar empresas que geram resíduos, empresas trans portadoras de resíduos e órgãos ambientais, me lhorando a comunicação entre eles e facilitando a emissão de relatórios e licenças ambientais.
“A plataforma também poderá adotar servi ços gratuitos de geolocalização e criação de rotas apoiando a logística na destinação final correta de resíduos, fornecer acesso a legislação ambiental, banco de dados para armazenamento e acesso a informações remotas”, detalha Ferreira. A ideia tem sido aprimorada por meio de hackathons, mentorias e encontros com foco em networking ofertados pelo IEL Ceará.
Sede do IEL Ceará no Cariri
DIVULGAÇÃO
Soluções apartir de micro e pequenos empreendedores
Parceiro de iniciativas como o Kariri Valley, o Sebrae Cariri também atua com programas que estimulam a cultura em preendedora baseada na inovação. Para Elizangela Andrade, articuladora regional da entidade, o território caririense é frutífero para o nascimento de startups, pois possui a maioria dos atores necessários para a criação de um ecossistema inovador: instituições de ensino, pesquisa, fo mento e apoio.
“Nosso habitat hoje possui cowor king, labs, maker e incubadora. Além dis so, o Ecossistema de Inovação, através da Urca e outros parceiros, está pleiteando junto ao edital da Finep a implantação de um Centro de Inovação”, conta. A existên cia de fibra ótica com cobertura de 98% e de 4G com cobertura de 99% também favorecem o desenvolvimento tecnológico na região. “Toda essa rede contribui para a promoção de projetos e programas na re gião voltados para a criação de startups e soluções inovadoras, principalmente para negócios tradicionais”, completa.
A própria grade de programação do Sebrae Cariri também é fator decisivo pa ra a manutenção e evolução do habitat de inovação. Dentro os projetos realizados nos últimos anos, destacam-se o evento “Desafio Startup CE - Maratona Universitária Empreendedora”, a incubação de ideias no SebraeLab, o Sebrae Developers (voltado para o desenvolvimento de jogos) e o Programa de Aceleração Startup NE/Startup CE.
FÉ
Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, atrai milhares de romeiros em torno da estátua de Padre Cícero que tem 27 metros e foi imaugurada em 1969
FORÇA
RELIGIOSIDADE
A notícia da abertura do processo de beatificação do Padre Cícero Romão Ba tista, anunciada pelo Vaticano em agosto deste ano, encheu de alegria os corações dos fiéis. Para alguns, é uma retratação his tórica para o sacerdote, que mesmo sem o devido reconhecimento da Igreja Católica, já vem realizando milagres ao longo dos anos. Para outros, é só uma constatação que os seguidores do Padim já sabem: ele é o santo do povo.
Como é o caso do empresário Raimun do Tadeu de Alencar, de 73 anos, natural de Araripe, mas que desde o ano de 1980 mora em Juazeiro do Norte. “Não tinha presente melhor pro Crato dar a Juazeiro no mundo, que foi trazer Padre Cícero pra cá. Pra mim ele é um santo, eu não tenho nenhuma dúvida em relação a isso”, afirma.
Há 40 anos, Tadeu tem uma história de fé e gratidão com o Padim. Em 1983, o empresário foi surpreendido com uma no tícia que o abalou emocionalmente. “Um belo dia, eu estava sentado ali, chegou uma pessoa que cuidava de uma área muito im portante dos fabricantes, e me disse: ‘olha, eu vim aqui dizer que todos os pagamen tos seus, rapaz, têm que ser realizados até quatro horas da tarde. Você tem que pagar tudo hoje. Se você não pagar, infelizmente vai ter um problema muito sério’”.
Assim que o fornecedor saiu, seu Tadeu conta que pediu uma graça ao Padre Cícero para ajudá-lo a resolver a situação. Em troca, prometeu parar de fumar. Atitude essa que já tinha tentado sem sucesso. “Eu fumava uma carteira por dia. Aquilo foi um choque, um impacto violento pra mim. Aí eu fui pra casa tenso e, quando voltei, não deu meia hora, ele entrou de volta e disse que eu um novo prazo de 30 dias para pagar a dívida. Nem mesmo o fornecedor entendeu como tinham prorrogado o prazo”.
Na mesma hora, ele se desfez da car teira de cigarros que tinha no bolso e nun ca mais sentiu falta do vício. “Você pode
“A PARTIR DA MINHA PROMESSA TIVE A GRAÇA
PELO
perguntar a todo fumante. Ele tenta deixar e ele volta. Eu mesmo tentei umas três ve zes e não conseguia”, comemora.
A partir daí, Padre Cícero virou o seu elo com a Igreja Católica. Tadeu cumpre to dos os rituais que os fiéis do Padim costu mam realizar, como vestir preto no dia 20 de cada mês e ir à missa em sua homena gem. Hoje, a relação com o santo popular é de gratidão e cumplicidade. “Essa semana eu sonhei com ele. Ele sentado naquela ca deira branca ali”, apontou.
Seu Tadeu também homenageou o pa dre dando o seu nome ao filho e este, por sua vez, deu o mesmo nome ao neto. “Essa é a maior bênção que eu tive na minha vi da”, comemora. (Por Emanuelle Lobo)
“PROMETI SUBIR DE JOELHOS A ESCADARIA”
A romaria de Juazeiro do Norte é todo dia. Sempre é possível encontrar alguém que vem de outro estado visitar a cidade, principalmente gente do Nordeste. Maria Condetina, 71, diz que encontrou no Pa dre Cícero, ou Padim, como gosta de cha mar, a fé que transformou a sua vida. Um trágico acidente de moto acometeu o seu filho, que, antes já não conseguia movi mentar uma das pernas e, após o aconte cido, parou de andar de vez.
Com a voz trêmula, Dona Maria, na tural de Cabrobó, relembra a promessa que fez para o Padre a quem tem devo ção desde sua infância. “Meu filho chora va de dia e de noite, com dor. Então pro meti subir de joelhos a escadaria que le va à estátua do Padre Cícero, no Horto”.
Desde então a pernambucana, as sim como milhares de romeiros, vem ao Juazeiro do Norte todos os anos como ato de gratidão e fortalecimento da fé. “A partir da minha promessa tive a gra ça concedida pelo Padim Cícero: o meu filho voltou a andar e hoje está curado”. (Por Sabrina Ribeiro)
"QUEM NÃO CHEIROU QUE META O DEDO!"
Entre os romeiros do Padim, é comum ouvir histórias daqueles que resolveram fi car de vez em Juazeiro do Norte. A decisão costuma ser tomada depois de um mila gre alcançado e atribuído ao Padre Cícero. É quando o romeiro se agrada da cidade e não consegue mais ir embora.
Esse foi o caso de Antônio Cassimiro dos Santos, 84 anos. Ele é de Viçosa, muni cípio do sertão de Alagoas. Afirma que veio morar em Juazeiro do Norte após ter rece bido uma orientação de como evitar a que da do cabelo. Ele diz que quem o orientou foi o Padre Cícero, que o fez procurar pela pomada certa numa farmácia do centro comercial da cidade onde morava.
Em 1985, seu Antônio veio mo rar em Juazeiro do Norte com a família. Não lembra os nomes dos 13 filhos que vieram com ele. "Era um comboio", con ta. Três filhas continuam na cidade. A quarta filha e os 9 filhos vivem hoje na região Centro-Oeste do País. Seu Antô nio pretende continuar em Juazeiro do Norte até os últimos dias. É aqui onde ele continua trabalhando, sentado numa das calçadas do Horto, enfrentando o sol com seu chapéu de palha do tamanho de um sombreiro mexicano.
"Todo dia arrumo meu pão aqui. Eu não dou valor a ninguém. Dou valor a ele (apon ta para a estátua do Padre Cícero), que tá me trazendo com vida", afirma o idoso, que vende uma espécie de erva medicinal cha mada rapé. O pó é feito com vários ingre dientes: alecrim, noz-moscada, imburana de cheiro e eucalipto, todos pilados e moí dos. Para que serve? O vendedor diz que para uma lista de problemas, de sinusite a prisão de ventre. Ele faz troça:
"Esse rapé é conhecido como taba co. E quem não cheirou meta o dedo!", brinca o bem-humorado romeiro ala goano. (Por Márcio Silvestre)
RELIGIOSIDADE
Entrevista Lira Neto
A relação do jornalista e escritor Lira Neto com Padre Cícero foi muito além de terem nascido no mesmo Estado brasileiro, o Ceará. O autor, em 2009, escreveu a bio grafia Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão, pela Companhia das Letras, que foi pesquisado durante dez anos, antes de se materializar em literatura.
Segundo o próprio autor, apesar de não ser um homem religioso, nem dado a acreditar em santos ou milagres, depois que conheceu a história do possível san to, ícone religioso do Cariri, passou a “res peitar as crenças e os saberes da gente simples do Sertão”.
Direto de Portugal, onde reside, o jor nalista analisa os contextos do processo do Vaticano de dar “perdão” ao religioso e ago ra avançar em transformá-lo em beato*.
O POVO - O Vaticano deu início à beatificação de Padre Cícero e isso foi anunciado em 20 de agosto, em Juazeiro do Norte. Como o senhor analisa essa notícia?
Lira Neto - O processo de beatificação de Padre Cícero teve início há duas décadas, desde 2001, quando o então cardeal Jose ph Ratzinger, que depois viria a ser o papa Bento XVI, enviou à Nunciatura Apostólica no Brasil uma carta em caráter reservado, mostrando-se favorável à possível reabi litação canônica do sacerdote que morreu proscrito pela igreja. Como pano de fun do, havia a preocupação do Vaticano com o avanço das igrejas neopentecostais no País. Diante da sangria no número de fiéis, era contraproducente, na perspectiva da Igreja, deixar à margem do rito a devoção popular a um padre que é considerado, por milhões de fiéis, um homem santo. Acon tece que o tempo de Roma é diferente do tempo leigo. Foram necessários cerca de 20 anos para que tudo tramitasse e che gasse a este momento.
O POVO - De que forma destacaria a vida dele e atividades no Cariri?
Lira Neto - Padre Cícero era dono de um magnetismo pessoal extraordinário. Sendo ele próprio um sertanejo, sabia falar a lín gua do povo e tocar a alma de seus fiéis de forma singular, com absoluta sensibilidade e conhecimento de causa. Era um homem contraditório, com qualidades e defeitos, mas que foi condenado pela Igreja após um processo eclesiástico eivado de flagrantes etnocentrismos. As autoridades do Clero não queriam admitir a hipótese de um mi lagre eucarístico, a suposta transformação da hóstia em sangue na boca da beata Maria de Araújo, ter ocorrido no sertão do Ceará, entre uma gente simples, cabocla, sem ins trução. Enquanto outros presumidos mila gres eucarísticos ocorridos na Europa foram validados pela Santa Sé, os acusadores de Padre Cícero declararam-no culpado antes mesmo da investigação.
O POVO - Padre Cícero sempre foi uma pessoa politizada. Como analisa esse viés na personalidade dele? E o que contribui e o que atrapalhou em relação à igreja?
Lira Neto - Padre Cícero começou a se en volver na política com maior intensidade após sua condenação eclesiástica. A essa altura, ele já detinha um imenso capital social, decorrente de sua prática pastoral. Sua primeira grande campanha política foi pela emancipação de Juazeiro (do Nor te) em relação ao Crato. Muitos até hoje ainda têm Cícero Romão Batista na conta de um padre de aldeia caricato, mas a ver dade é que em seus documentos existem diversas correspondências entre ele e o Palácio do Catete, então sede da Presi dência da República. Era um homem arti culadíssimo em termos políticos, embora mantivesse um diálogo permanente, em linguagem simples, com seus devotos, a quem tratava por “amiguinhos”.
Entrevista Lira Neto
O POVO - Também foi uma personalidade polêmica na região e no Ceará. Como vê isso?
Lira Neto - Este é o aspecto que mais me fascina em Padre Cícero. Suas inúmeras contradições. Antes de biografá-lo, eu pró prio, nascido no litoral e no meio urbano, compartilhava dos muitos preconceitos, in clusive acadêmicos, que existem a respeito de sua trajetória. Precisei fazer uma espécie de mergulho etnográfico no universo dos romeiros para entender o significado e a vis ceralidade da fé sertaneja. Não sou um ho mem religioso, não sou dado a acreditar em santos ou milagres, mas depois de escrever a biografia de Padre Cícero passei a respei tar as crenças e saberes da gente simples do Sertão. Como diz a música de Caetano Veloso, inspirada em Jorge Amado: “Quem é ateu e viu milagres como eu...”.
O POVO - Quais passagens de sua vida destacaria?
Lira Neto - A vida de Padre Cícero é, toda ela, arrebatadora, com episódios que bei ram o quase inacreditável. Costumo dizer que nem Gabriel García Márquez, o maior expoente do realismo mágico, mesmo sob a hipotética influência de algum alucinó geno, não conseguiria conceber uma nar rativa tão prodigiosa. Isso me levou a pe dir emprestado ao jornalista Gay Talese, um dos maiores escritores de não ficção de todos os tempos, a epígrafe que esco lhi para a biografia Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão: “Há muito acredito que o realismo é fantástico”.
O POVO - Padre Cícero passa a ser o terceiro cearense reconhecido pelo Vaticano pela beatificação. O que isso representa para o Ceará na questão religiosa?
Lira Neto - Penso que não podemos perder de vista que há uma espécie de “guerra santa” sendo travada nos basti dores de tais reconhecimentos canôni
A VIDA DE PADRE CÍCERO É, TODA ELA, ARREBATADORA, COM EPISÓDIOS QUE BEIRAM O QUASE INACREDITÁVEL
1“O processo de beatificação de Padre Cícero não pode correr dissociado da recuperação da imagem da beata Maria de Araújo. Ela é que foi a verdadeira protagonista dos chamados “milagres de Juazeiro”.
Por ser pobre, negra e analfabeta, acabou sendo o elo mais fraco, a ponto de não ter tido sequer direito a um túmulo. Seus ossos, roubados por ordens da Igreja, sumiram para sempre. Uma violência inominável. O Vaticano deve desculpas, sim, urgentes, a Maria de Araújo.”
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cos. O ex-bispo do Crato, Fernando Pa nico, chegou a dizer numa entrevista ao New York Times que Padre Cícero seria “um antivírus contra os evangélicos”.
O POVO - O que pode detalhar sobre o afastamento dele da igreja e o perdão concedido em 2015?
Lira Neto - O perdão, a reabilitação e ago ra o início do processo de beatificação obedecem a uma lógica da Igreja Católica de rever suas posições e atitudes do pas sado, muitas vezes lastreadas na intole rância em relação ao outro, ao diferente, ao dissonante, visto como um herege que deveria ser punido, execrado, queimado na fogueira. Certa vez ouvi de uma romei ra: “Não é Padre Cícero que precisa ser perdoado pela Igreja; é a Igreja que preci sa pedir perdão a Padre Cícero”.
*Entrevista publicada originalmente no O POVO em 20 de agosto de 2022
“Nunca me ocorreu querer discutir a veracidade dos supostos milagres de Juazeiro. Isso não me interessa como pesquisador da história. Parece-me muito mais pertinente tentar entender as consequências e desdobramentos históricos de tais fenômenos, sejam eles reais ou não, ou seja, buscar compreender o processo de canonização popular de Padre Cícero como santo do povo, a centralidade de Juazeiro do Norte como a Jerusalém sertaneja.”
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Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844, no Crato, e partiu em 20 de julho de 1934
NEGÓCIOS
Marília Falcioni fala sobre o mercado de negócios do Cariri e conta como impulsiona a história de mulheres inspiradoras da região
ALLAN BASTOSQue mulher inspira você?
NEGÓCIOS
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econhecer a volta por cima e o suces so de uma mulher é sempre inspirador. Em um País onde o empreendedorismo feminino cresce a cada dia e as mulheres assumem cada vez mais a legitimidade de seus desejos pessoais e profissionais, dar voz a todas as narrativas possíveis se faz cada vez mais necessário. Nas páginas a seguir, a administradora Marília Falcioni fala sobre o mercado de negócios do Ca riri, apresenta seus projetos e conta como impulsiona a história de mulheres inspi radoras da região. Neste ano, Marília rea lizou o evento que reuniu 1.750 mulheres para ouvirem outras mulheres. Com fotos exclusivas de Allan Bastos, reproduzimos três das 16 histórias inspiradoras reunidas no livro publicado por Marília e Giordane Sampaio, Atitudes de Mulheres que Ins piram. E Marília abre o jogo sobre os mé todos de consultoria que são verdadeiros caminhos para tornar as empresas mais femininas e mais produtivas.
VIDA PROFISSIONAL
Doutora em Administração pela Uni for, Marília trabalhou para multinacionais antes de criar a Falcioni Consultoria, há 10 anos. Hoje, os processos de consul toria se dividem entre dois outros pi lares. Um deles é a empresa de Seleção de Equipes. “Nosso desafio é encontrar talentos e colocar as pessoas certas no lugar certo em cada empresa”. O tercei ro pilar é a plataforma Tudo Cariri. “É um Google da região, onde estão reunidos todas as empresas de serviço da região, é possível encontrar médicos, produtos e diversos serviços. São mais de 3.500 empresas cadastradas”, conta. Segun do Marília, o Tudo Cariri tem o objetivo de ser uma vitrine da região e contribuir com a digitalização dos serviços.
AMOR PELO CARIRI
Há 10 anos Marília Falcioni comanda a Falcioni Consultoria. Ao lado da sócia De bora Dantas e uma equipe de seis pessoas, a empresa presta consultoria para sete es tados brasileiros, além do Ceará, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe e Bahia. Marília é paulista, morou em Fortaleza, há 12 anos veio morar em Juazei ro do Norte e costuma dizer que “não sai do Cariri nem no último pau de arara”. Isso porque Marília se sentiu acolhida e tem hoje o propósito de contribuir com o desenvolvi mento da região, que é “inspiração, tem alto potencial de prosperar economicamente, além de ser lugar de pessoas com garra e uma boa vontade muito grande”.
MULHERES INSPIRADORAS
Este ano, Marília lançou o livro A ti tudes de Mulheres que Inspiram em que reuniu histórias de quem vive no Cariri e tem trajetórias de vida que servem de exemplos a outras mulheres. “Mulheres inspiradoras são aquelas que têm uma história de superação, é quem apesar dos desafios da caminhada sabe se re inventar e ressignificar os momentos difíceis, os transformando muitas vezes em crescimento pessoal e profissional”, descreve Marília.
EMPREENDEDORISMO FEMININO
O Brasil possui, hoje, 52 milhões de empreendedores, sendo 30 milhões (48%) mulheres, segundo dados da pesquisa Global Entrepreneurship Mo nitor 2020 (GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ). Essas mulheres consolidaram um no vo significado para a expressão em preendedorismo feminino. Isso porque a forma das mulheres comandarem um negócio é, em geral, mais humanizada. “Todas as empresas hoje estão se tor nando femininas, no sentido de valori zar a humanização, de olhar para o lado pessoal do colaborador, de capacitar e desenvolver as pessoas para reter os talentos”, reflete Marília.
MODELO DE CONSULTORIA
Através de manuais, indicadores e pro cedimentos para que equipes possam ter melhor desempenho com menos esforço, a Falcioni Consultoria já capacitou mais de 300 empresas no País, segundo Marília. No Cariri, as consultorias têm crescido em empresas do setor de saúde. “Juazeiro tem um polo na área de saúde, atendemos to da macro região, devido ao grande número de universidades de Medicina, temos mais médicos no mercado, e hoje a boa formação é apenas um pré-requisito porque a concor rência aumentou muito. Hoje, o paciente pode escolher além de um bom médico, en tre o melhor atendimento. Profissionalizar a área de saúde é tem um bom atendimento presencial, saber responder bem via what sapp para que não haja tanta espera, é tra balhar o acolhimento da dor. Independente do contexto, os pacientes estão pouco mais intolerantes, as pessoas estão ansiosas, querem respostas mais rápidas”, conta.
METODOLOGIAS DE GESTÃO
A Falcioni Consultoria usa como princi pal metodologia o Scrum. Nele, tem se vis to que as empresas conseguem produzir mais com menos. “O foco é nas pessoas, no gerenciamento de pessoas e dos proces sos. Depois das redes sociais, a tendência é as pessoas perderem muito o foco, com notificações constantes, minando a pro dutividade das empresas. O que fazemos é criar estratégias como rotina, indicadores, meritrocracia, gameficação para as pes soas ficarem mais focadas e produtivas. Criar jogos corporativos para instaurar a competitividade de forma positiva entre as equipes, por exemplo, reduz o nível de estresse e cobrança”, descreve Marília.
Mulheres que inspiram
Fotografamos com exclusividade para a O PO VO Cariri algumas mulheres donas das narrativas do livro Atitudes de Mulheres que Inspiram
Nara Sousa
EMPRESÁRIA
“O dia de Nara não tem 24h, tem 72h. Ela tem três filhos, é uma mãe presente que ensina tarefas e pega na escola; administra duas empresas; malha pesado; corre 5km em 24min e vai para o pódio das corridas de rua; e, como se não fosse muita coisa, ela ainda é síndica do Condomínio Terra dos Kariris. Nara diz o que podemos fazer para estarmos fortes diante de tudo o que nos acontece.
Dicas para seguir forte
física
Tempo para você
Caridade
Gratidão
Maria do Socorro
DIARISTA
“Maria do Socorro foi casada e teve sete filhos. Ela vivia em um relacionamento abusivo, seu marido chegou a espancá-la no meio da rua. Apesar do medo e da insegurança, ela buscou forças em Deus e decidiu mudar de vida. Não foi fácil. Mas ela se separou e passou a sustentar sozinha suas sete crianças. Todo dia, ela ia trabalhar como diarista em uma casa diferente e sempre deu o seu melhor, uma exímia profissional. Você pode imaginar que ela talvez seja uma pessoa amarga, mas, pelo contrário, é uma mulher sorridente, feliz, trabalhadora,
Dica de superação
Fernanda Melo
DIRETORA OPERACIONAL
“É uma mulher doce e forte. Ela é diretora operacional das Óticas Diniz do Juazeiro do Norte, a loja que mais vende dentre mais de 1.000 lojas da maior rede de varejo óptico do País. Apesar do grande feito mantido há anos, ela mantém o pé no chão. Ela é disciplinada na empresa, na alimentação e na atividade física.”
Dica
MANTEIGA
AZEITE?
Manteiga. Eu sou apaixonado pela culinária francesa, e isso já diz tudo: quanto mais manteiga, melhor!
Felipe Lustosa
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3 PERSONALIDADES INSPIRADORAS
PERFIL TEXTO:
A SÉRIE DO MOMENTO
Uma série que amei assistir foi This is us, que mostra o que toda família tem: que toda família briga, mas na hora que precisa, está todo mundo junto. É uma série que mostra bem a realidade de todas as famílias.
SONHO A SER REALIZADO
#3
5 VIAGENS/LUGARES INESQUECÍVEIS
Laurent Suaudeau, um dos chefs franceses que trouxe muito da culinária da França para o Brasil e com quem faço minhas especializações em São Paulo. Ele é a minha maior inspiração. Claude Troisgros, que também é um grande chef.
Helena Rizzo, uma grande chef brasileira que está atenta à nossa cultura e faz pratos incríveis com o que temos de melhor.