A silvicultura do carbono - OpCP68

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Opiniões

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira ano 19 • número 68 • Divisão F • jun-ago-2022

a silvicultura do carbono


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EDITORIAL DE ABERTURA: 10. Fábio Nogueira de Avelar Marques, Plantar Carbon PRODUTORES DE FLORESTAS: 14. Adriana Maugeri, AMIF 18. Embaixador José Carlos da Fonseca Jr, IBÁ-FAO 22. Antônio Joaquim de Oliveira, Dexco 26. Mauricio Harger, CMPC 28. Fábio Luís Brun, RMS 32. Heuzer Saraiva Guimarães, WestRock 36. João Carlos Augusti e Bruno Marco de Lima, Bracell 40. Elcio Trajano Junior, Eldorado 42. Fabiano Rodrigues, Sylvamo 46. Júlio César Natalense e Sarita Cunha Marques Severien, Suzano 50. Roosevelt de Paula Almado, Gerdau Aços Longos 54. Leandro Alexis Farina e Ricardo Bernasconi, Irani 58. Luiz Henrique Tápia, Veracel CONSULTORES E ESPECIALISTAS: 60. Gustavo Laporinê Baêsso, Canopée 64. Marco Antônio Fujihara, FBMC e Rangel Leandro Romão, Ecofix 66. Diego Serrano, BrCarbon 68. Fabian Peres Gonçalves, SGS

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O, TECNOLOGIA E SUSTENTABILIDADE

Nossas raízes mais profundas estão na floresta, elas são a origem do nosso negócio e sabemos que são o futuro para um mundo melhor. Por isso, o propósito da Ponsse é entregar soluções sustentáveis para o benefício dos nossos clientes e meio ambiente.

Podemos afirmar que inovação e sustentabilidade fazem parte do osso dia a dia, pensando em soluções de produtos e serviços para atingir a nossa meta de uma operação carbono neutro e que atendam a necessidade real de cada cliente.

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Editorial de abertura

carbono, indústria florestal e valor:

desafios externos e internos

A cada dia que passa, a humanidade tem mais consciência sobre a urgência de se agir para enfrentar a mudança do clima, causada pelo excesso de concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, em função de padrões insustentáveis de produção e consumo adotados desde a Revolução Industrial. O papel das florestas e, especialmente, da silvicultura, foco deste artigo, é frequentemente citado como uma das soluções para o problema, especialmente no caso do Brasil, que tem condições edafoclimáticas favoráveis e dispõe do que há de mais avançado em tecnologia.

Porém, para combater a mudança do clima, a humanidade precisa transformar a economia estruturalmente, gerando soluções que reduzam emissões e removam carbono da atmosfera, em escala sem precedentes. Para que isso ocorra, é fundamental criar diversos instrumentos capazes de gerar valor a ações de mitigação e agregar valor a cadeias produtivas de base renovável, tornando-as mais atrativas. É o caso da cadeia produtiva da silvicultura no Brasil. Mesmo com nossas vantagens naturais, o setor ainda enfrenta barreiras, e esses instrumentos podem aumentar a escalabilidade das soluções florestais, tornando a atividade mais competitiva e gerando demanda sustentável por produtos tradicionais ou inovadores que conciliem mitigação e competitividade. Um dos instrumentos mais conhecidos é a precificação de carbono, especialmente por meio de mercados de carbono. Certamente, é uma alternativa estratégica. Porém uma nova economia global de baixo carbono precisa lançar mão de um portfólio de mecanismos que viabilizem o compartilhamento de benefícios climáticos na cadeia produtiva, a diferenciação de produtos em

Se o Brasil e o setor não se esforçarem para serem protagonistas, não haverá quem seja por nós, e, nosso potencial, que inclui uma série de peculiaridades em relação ao mundo, pode ser desconsiderado ou tratado inadequadamente. "

Fábio Nogueira de Avelar Marques Diretor da Plantar Carbon

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Opiniões mercados nacionais e globais, critérios de governança e investimentos baseados na avaliação da performance climática, políticas públicas coordenadas, novos arranjos financeiros, tais como climate bonds, entre outros. Esse conjunto de instrumentos e mecanismos tem se difundido aos poucos em diversos setores da economia, mais intensamente fora do Brasil. Mas, quando se analisa o potencial de aplicação de tudo isso na indústria de árvores brasileira, ainda existem desafios importantes que precisam ser superados para que o setor alcance o seu pleno potencial como parte da solução para a mudança do clima. Quem trabalha no setor pode ter a percepção legítima de que todos os benefícios climáticos gerados deveriam ser automaticamente reconhecidos e valorados. Porém, apesar de ser um pleito lógico, instrumentos capazes de agregar valor econômico direto e indireto requerem regras, métricas e percepções políticas alinhadas, para que sejam aceitos e praticados no mercado e pelos que fazem escolhas na sociedade. A transformação da economia tradicional em uma economia de baixo carbono começa por novas “regras do jogo” oficiais, corporativas, além da “licença social”. A inserção do setor nesse esforço global de criação de novos padrões passa pela superação de dois grandes grupos de desafios: 1) Compreensão pelo mercado, governo e sociedade em geral sobre os benefícios climáticos gerados pela indústria florestal. O termo silvicultura já indica claramente o benefício climático mais conhecido do setor, qual seja, o “sequestro de carbono” ou remoção de CO2 da atmosfera, por meio da fotossíntese inerente ao plantio de árvores. No setor, a silvicultura baseada em espécies exóticas, para fins de produção, e a silvicultura ou atividades de manejo florestal baseadas em espécies nativas, voltadas para a restauração de ecossistemas, andam de mãos dadas. Ainda que por dinâmicas temporais diferentes, ambas removem e estocam carbono por longos períodos. No caso do objetivo de produção, mantém-se um estoque médio de carbono ao longo do tempo, com fluxos contínuos de plantio e colheita. No caso do objetivo de restauração de ecossistemas, mantém-se também um estoque

médio de carbono que cresce gradualmente, mais lentamente, mas se estabiliza em um bom patamar de maturidade. Não obstante, a geração de sequestro e estoques de carbono representam só uma parte desses benefícios. Provavelmente, é a parte mais visível, mas talvez a mais difícil de se compreender por quem não conhece o setor, pela dinâmica de plantio e colheita e pela falsa dicotomia entre florestas de produção e conservação. A parte por vezes menos óbvia é justamente o efeito substituição gerado pelo uso dos diversos tipos de produtos baseados em florestas renováveis, ou seja, quando se usa um produto de base florestal ao invés de produtos baseados em fontes fósseis ou não renováveis, podem-se evitar emissões de GEE. Não faltam exemplos: uso de embalagens de papel, de carvão vegetal, de produtos inovadores baseados no uso da lignina, uso energético direto da madeira de forma tradicional ou pelo beneficiamento em biorrefinarias, etc. Por fim, ainda existe o benefício climático gerado pelo estoque de carbono em produtos madeireiros, por exemplo, chapas, pisos e painéis. Portanto a indústria florestal pode gerar diversos benefícios climáticos: (i) sequestro e estoques de carbono; (ii) emissões evitadas pelo uso de produtos baseados na madeira; e (iii) o estoque de carbono em produtos madeireiros. Promover mais clareza sobre o potencial e os efeitos desse autêntico portfólio de soluções é o primeiro passo para a inserção adequada do setor nas novas regras da economia global de baixo carbono. 2) Capacidade de articular as particularidades do setor na criação das novas regras de competitividade global. A riqueza de oportunidades mencionada no item anterior é diretamente proporcional à complexidade de se gerarem regras adequadas para a aplicabilidade dos diversos instrumentos da economia de baixo carbono ao setor. Algumas perguntas frequentes ilustram bem esse desafio. 1) Como computar adequadamente o balanço entre emissões e remoções de carbono de uma indústria de celulose e papel, ou de uma siderúrgica a carvão vegetal, ou, ainda, ; de uma termelétrica a biomassa?

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Editorial de abertura Por enquanto, algumas iniciativas globais que determinam regras para o estabelecimento de metas de mitigação baseadas em ciência sequer reconhecem adequadamente essa possibilidade, mas influenciam diretamente a avaliação das empresas por investidores e clientes. 2) É possível reivindicar a carboneutralidade a partir dessa dinâmica de emissões e remoções, diante de metas globais e corporativas alinhadas ao status “net zero” em carbono até 2050? Ainda existe confusão na visão de alguns stakeholders-chave entre o que significa ser “carbono-neutro” e o que é ter um balanço de emissões equilibrado ou negativo ao longo do tempo. 3) Como assegurar a integridade de um crédito de carbono florestal em mercados de carbono, se o carbono previamente estocado e vendido voltar para a atmosfera? Mercados oficiais no nível da ONU e mercados voluntários têm abordagens diferentes para o mesmo problema (risco de não permanência), e as negociações sobre o novo mecanismo de mercado do Artigo 6 do Acordo de Paris ainda não abordaram esse tema. 4) Haverá vinculação entre remoções de carbono e metas de redução de emissões em um mercado nacional de carbono? Como? Esse tema ainda não foi tratado em nenhum outro mercado nacional de carbono no mundo. O Brasil precisará exercer liderança e pioneirismo se quiser implementar a lógica nacionalmente e, depois, garantir sua aceitabilidade em mercados de carbono e no mercado financeiro. 5) A sobretaxa de carbono a ser aplicada pela União Europeia a produtos importados (CBAM ou Carbon Border Adjustement Mechanism) considerará o sequestro de carbono associado aos produtos? Por enquanto as regras ainda não contemplam esse aspecto. As perguntas acima somente exemplificam ,de forma bastante genérica, alguns dos desafios para o setor. Não são poucos nem simples. Por outro lado, a boa notícia é que, como setor, acumulamos conhecimento que nos leva a já saber parte das respostas e a ter capacidade de construir respostas adequadas para o que não soubermos ou para o que ainda está por vir. A qualidade e a amplitude dessa capacidade coletiva serão tão boas quanto a capacidade de mobilização

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Opiniões interna e externa do setor em nível técnico e, especialmente, em nível político. A diferença entre termos a capacidade de gerar respostas e colocá-las em prática requer o convencimento construtivo de quem faz as regras: governos, empresas, organizações não governamentais e outros stakeholders-chave. O que parece ser um desafio para qualquer setor da economia é ainda mais especial para o setor de base florestal. Isso porque o Brasil e o setor têm um dos maiores, senão o maior potencial do mundo, em gerar mitigação por meio da economia florestal sustentável, conforme o portfólio de soluções apresentado anteriormente. Não é a realidade dos principais atores governamentais e corporativos de outros países, especialmente atores de países desenvolvidos, que são os que têm tido maior protagonismo na criação de regras globais e, especialmente, em nível corporativo. Porém esse protagonismo externo geralmente é baseado em uma lente muito voltada para aquilo que é uma realidade diferente da que encontramos no Brasil (maior potencial e necessidade de redução de emissões em setores não florestais). Muitas vezes, isso gera um viés regulatório, mesmo quando não intencional. Se o Brasil e o setor não mantiverem o esforço de serem protagonistas, não haverá quem seja por nós, e, muito provavelmente, nosso potencial, que inclui uma série de peculiaridades em relação ao mundo, pode ser desconsiderado ou tratado inadequadamente. Isso dificultaria ainda mais a inserção do setor nos novos instrumentos, que podem gerar diferenciação e valor na economia de baixo carbono, que, nesse caso, são meios para o objetivo maior: escalar soluções para a mudança do clima, ações coletivas e organizações setoriais, como a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), e tantas outras que congregam o setor em nível institucional, corporativo, acadêmico etc. terão papel cada vez mais fundamental, ancorado na necessidade de engajamento crescente e de alto nível das empresas que a constituem. É hora de acelerar o plantio de regras adequadas e justas para uma nova governança da economia global.n



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Quem aceita perder vegetação nativa no Brasil e ganhar mais carbono? A indústria florestal, definitivamente, não aceita mais! Os benefícios climáticos proporcionados pela indústria florestal são múltiplos e alcançam diretamente os principais aspectos que hoje tomam a pauta das discussões sobre as mudanças climáticas, como uso eficiente de energia e, proporcionalmente, o percentual de fontes renováveis que compõem a nossa matriz energética, emissões de GEE das operações fabris, sequestro e estoque de carbono, desmatamento alarmante, incêndios florestais em crescente. Para cada um dos exemplos citados, a indústria florestal no Brasil tem se voltado, nos últimos anos, para oferecer soluções que sejam, de fato, aproveitáveis e benéficas a todos. Sem dúvida, o papel singular que as árvores plantadas realizam ao sequestrar e estocar carbono da atmosfera é o mais evidente benefício climático que a indústria florestal entrega para a sociedade. Muito mais que madeira, entregamos vida, ar limpo e, consequentemente, melhor qualidade de vida, indistintamente para todos os seres vivos. Motivo de alegria, inclusive, é vivenciar como a biodiversidade é grata ao receber florestas preservadas em harmonia com florestas plantadas, multiplicando as entregas positivas ambientais. Felizmente, só o ser humano, entre as classes animais, é eivado de “pré” conceitos

A eliminação do desmatamento em todos os biomas brasileiros deve ser nossa bandeira mais vibrante, pois sua ação está diretamente relacionada ao nosso negócio. Sabemos como fazer e fazemos muito bem. "

Adriana Maugeri Presidente executiva da AMIF Associação Mineira da Indústria Florestal

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que são absurdos, como discriminar espécies de árvores e de animais em razão de ideologias e um mergulho raso, bastante superficial na ciência. A história das civilizações nos mostra como essas “crenças” discriminatórias trouxeram perdas imensuráveis para o nosso planeta. Como a ciência perdeu disputas valiosas por causa da ideologia fundamentada, quase sempre, na manutenção do interesse de poucos, utilizando-se da manobra e massacre intelectual de tantos. A indústria florestal destaca e, com razão, o incomparável estoque anual de 4,5 bilhões de tCO2eq em nosso país; frisa-se que o Brasil emite, anualmente, cerca de 1,15 bilhão de tCO2eq, ou seja, segundo a nossa eminente entidade representativa, a Indústria Brasileira de Árvores- IBÁ, a indústria florestal brasileira estoca, aproximadamente, quatro vezes o que o Brasil emite. Entretanto gostaria de reforçar aqui outro serviço climático que a indústria florestal realiza e que merece nossa atenção: a conservação de vegetação


Opiniões nativa a qual abordo em duas vertentes: 1) a vegetação nativa conservada dentro das áreas próprias das empresas que compõem o setor florestal brasileiro; 2) a vegetação nativa fora dos limites do setor, a qual está sob influência e protagonismo desse setor junto aos governos, projetos e políticas públicas para promover seu monitoramento e conservação. De acordo com Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima, cerca de 44% das emissões da gases de efeito estufa no Brasil são provenientes da mudança do uso da terra, principalmente derivada do desmatamento. Em Minas Gerais, o mercado de madeira possui representatividade de praticamente todos os segmentos do setor. São, segundo a Associação Mineira da Indústria Florestal, a AMIF, 2,3 milhões de hectares de produção de florestas distribuídas por mais de 94% dos municípios mineiros. Mais de 800 municípios, que possuem a vocação histórica de plantar e cuidar de árvores e colocam o estado como maior produtor brasileiro. A produção do carvão vegetal é destaque e, juntamente com a celulose, são responsáveis pelo consumo da maior parte da madeira ofertada. A produção de carvão vegetal para consumo industrial em MG somente é autorizada se oriunda de florestas plantadas, porém o fantasma da produção de carvão ilegal de madeira nativa, inconcebível dentro da sustentável indústria florestal, ainda é a escolha de alguns que não podemos sequer denominar “produtor”, mas criminosos. Essa dualidade é inaceitável no mercado mineiro e menos ainda por um setor que se destaca pelos benefícios socioambientais praticados. O setor ocupa, hoje, 3,33% da área de Mata Atlântica e 4,8% da área do Cerrado Mineiro, dados recentes que desmitificam a injusta acusação de ser um dos principais responsáveis pelo desmatamento em Minas. Somando aos 2,3 milhões de áreas produtivas, estão mais 1,3 milhão de hectares de vegetação nativa, totalizando 3,6 milhões de hectares de vegetação conservada ou manejada pelo setor no estado. Essa entrega imensurável colocou o setor em posição diferenciada junto ao governo para propor que esse equilíbrio entre produção versus conservação se estenda para além de nossas fronteiras. Esse é o legado que o setor proporciona; ampliamos exponencialmente, aqui chamado propositalmente, o capital climático para a sociedade. Disponibilizamos vida, entregamos ar. Para esse legado, manter a vegetação conservada é essencial. Buscando maior entrega à sociedade mineira, o setor florestal se posicionou fortemente além do

tradicional papel de cobrança por fiscalização e punição; ele se qualificou como parceiro atuante do governo nesse incansável combate. Os crescentes índices de desmatamento e de incêndios florestais em MG atingiu a indignação e perplexidade daqueles que se esforçam para entregar ganhos socioambientais para esse estado: a AMIF e a IBÁ se uniram na formulação de uma proposta ao governo mineiro de implantação de um projeto de monitoramento e vigilância em tempo real, via sensores radar em órbita, de toda a cobertura vegetal nativa do estado. Para esse projeto, naturalmente a cooperação técnica é uma alternativa para aprimorar os sistemas e os resultados. Um projeto urgente e que deve unir as pastas públicas de interesse,como meio ambiente, agricultura e pecuária, desenvolvimento econômico e forças de segurança, em um movimento jamais visto por aqui. Para monitorar de fato a vegetação nativa, oferecer efetividade contra o desmatamento, incêndios devastadores e invasões criminosas, completa o projeto o rito sumário nos processos administrativos e criminais para punir proporcionalmente aqueles que insistem em praticar atos criminosos. Um dos diferenciais é a rápida restrição de direitos junto ao estado daqueles que forem autuados, podendo se tornar definitiva, caso sentença afirmativa julgada. Estima-se que o tempo de resposta do estado para as identificações das infrações, apuração e o devido processo administrativo e legal reduza, no mínimo, 20 vezes do atual. Essa será uma ação contundente, de baixo custo de implantação e manutenção, e que trará Minas Gerais para a vanguarda da conservação ambiental inteligente e consolidará o setor florestal como o atuante e propositivo agente de conservação florestal para muito além de seus atuais limites.A indústria florestal, como pioneira na crescente bioeconomia e com pilares das práticas e resultados ESG, é uma das principais atividades econômicas que, em posição de cooperação com os governos e a sociedade civil organizada, pode exponenciar os seus benefícios climáticos. A eliminação do desmatamento em todos os biomas brasileiros deve ser nossa bandeira mais vibrante, pois sua ação está diretamente relacionada ao nosso negócio. Sabemos como fazer e fazemos muito bem; passou do momento de apoiarmos quem está começando a despertar para a necessidade de promoção de um futuro menos incerto para os brasileiros, pelo menos em relação ao clima. n

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carbono: caminho para uma nova economia A humanidade chegou a uma encruzilhada na qual as escolhas estão claras: ou insiste no mesmo caminho, de esgotamento da natureza, rumo ao ponto de inflexão que leva a futuro desastroso, ou faz da resiliência uma realidade e muda seu modo de viver e de fazer negócios, legando para as próximas gerações um planeta habitável. O segundo caminho é mais árduo, mais trabalhoso e, acima de tudo, exige da sociedade a habilidade de trabalhar conjuntamente. Trata-se de modus operandi ao qual parecemos não estar acostumados, diante de invasões, guerras e demais atrocidades vivenciadas mundo afora. Mas, se não for assim, não venceremos a batalha do clima. Esse não é desafio a ser superado se apenas um ou alguns fizerem sua parte. Sem o engajamento e a contribuição de todos, o esforço será nulo, ou perto disso. Esse é, sem dúvidas, o maior desafio enfrentado pelas atuais gerações. Mas, se tem algo que o tempo e os percalços por que a humanidade passou têm demonstrado é que as crises, por mais duras e dolorosas que sejam, abrem oportunidades e deixam aprendizados. E a emergência climática encaixa-se nesse roteiro. Não seria exagero afirmar que as perspectivas e os riscos decorrentes das mudanças do clima hoje se equiparam, em grau de centralidade estratégica, com as preocupações durante a Guerra Fria, sobre desarmamento e não proliferação nuclear.

O meio ambiente, que já foi considerado tema a ser debatido apenas por diplomacia multilateral, em ambientes acadêmicos ou nas organizações não governamentais, hoje é pauta fundamental de governos, além de ponto de partida de planejamento estratégico de companhias e investidores ao redor do mundo. Essa busca necessária por uma economia verde, ao mesmo tempo em que se mostra urgente, escancara enorme potencial de possibilidades e novos negócios. E, como sustentação a tudo isso, no efetivo centro decisório, temos Sua Excelência, o consumidor. Atentos, informados e ansiosos por soluções e inovações ambientalmente amigáveis. Não à toa a COP26, em Glasgow, reuniu mais de 30 mil pessoas em uma das mais emblemáticas Conferências das Partes de todos os tempos.

E, nesta era de uma economia descarbonizada, a indústria de árvores cultivadas se impõe como farol, que ilumina um dos caminhos a serem seguidos por outros setores. "

Embaixador José Carlos da Fonseca Jr. Diretor executivo da IBÁ, com assento no Comitê de Sustentabilidade da FAO e na Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura

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Opiniões Jovens, ativistas, iniciativa privada, poder público e demais representantes da sociedade civil estiveram juntos, cada qual à sua maneira, estimulando a criação do mercado regulado e global de créditos de carbono. Agora, o próximo e decisivo passo é fazer daquele marco uma realidade e colocar para funcionar aquilo que foi consensuado na Escócia. Esse movimento mostra-se vital para que o mercado de carbono deixe de ser objeto de desejo e torne-se ferramenta de negócios e mitigação das mudanças do clima. Isso porque a regulação global evita disparidades e/ou equívocos nas negociações globais. Isso é que dará a segurança e estimulará o avanço da negociação de créditos de carbono. Nessa janela de oportunidade, portanto, dispor de marcos regulatórios é fundamental para que o potencial não fique somente no imaginário. Isso se aplica até mesmo em nível corporativo, associado a relatos sobre a performance climática de empresas e outros atores relevantes para o tema. Esse é o primeiro nível de informação avaliada por investidores, clientes e outros stakeholders, que podem determinar padrões de transformação econômico-financeiros necessários para o combate à mudança do clima. Diversas iniciativas já têm sido estruturadas nesse sentido e vão além de requisitos oficiais ou governamentais, como o CDP, que avalia e ranqueia a performance climática de empresas; a TCFD (força-tarefa global para alinhar relatos financeiros a relatos sobre performance climática); a SBTi (Science Based Target Initiative), que determina padrões para o alinhamento entre a ciência do clima e as metas de mitigação; o GHG Protocol (iniciativa que determina padrões para relatos ou inventários de emissões de GEE para empresas e suas cadeias produtivas). E, nesta era de uma economia descarbonizada, a indústria de árvores cultivadas se impõe como farol, que ilumina um dos caminhos a serem seguidos por outros setores. Para as companhias de base florestal, não há falso dilema: produzir e conservar é premissa e realidade. Enquanto cultiva para fins industriais em 9,55 milhões de hectares, comumente em áreas antes degradadas, destina outros 6,05 milhões de hectares para conservação. Um setor que há mais de 20 anos é voluntariamente certificado por instituições internacionalmente reconhecidas, como FSC e PEFC/Cerflor. Um modus operandi completamente conectado com a moderna agenda da descarbonização. Juntas, áreas de plantio e de conservação do setor estocam 4,5 bilhões de CO2 eq.

Para efeito de comparação, isso é mais do que o Brasil emite em um ano. Nesse sentido, é vital deixar claro que o setor de árvores cultivadas vai além das emissões evitadas, como quando se deixa de desmatar. A indústria florestal remove e estoca carbono, um fator altamente relevante, quando o inimigo a ser vencido é a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, entre eles o CO2, que causam o aquecimento global. Trata-se de ponto estrutural para que a bioeconomia brasileira possa ser adequadamente considerada, avaliada e valorizada pelos diversos stakeholders responsáveis pela transformação econômica que o mundo requer. Recentemente, o Governo Federal editou decreto para criar o mercado regulado brasileiro de carbono. Iniciativa relevante, pois o Brasil já estava atrasado nesses primeiros passos, embora o decreto ainda prescinda de legislação que fortaleça o sistema a ser criado e garanta sua indispensável segurança jurídica. Nosso mercado de carbono precisa dialogar com experiências congêneres já consolidadas em outros países, particularismo que o condena ao isolamento. Ao mesmo tempo, precisará compatibilizar-se com mercado global previsto no Artigo 6 do Acordo de Paris, para cuja aprovação o Brasil tanto contribuiu em Glasgow. Mas tão importante quanto a energia colocada sobre essa temática é não deixar escapar do olhar para o futuro que o carbono tem sua importância nesse passo da humanidade rumo a uma nova era econômica, mas não é a única rota. Há pagamentos por serviços ambientais que complementam essa vasta gama de oportunidades, como água, solo e biodiversidade. Nessa seara, novos modelos podem e devem surgir, como a maior valorização de áreas com mais concentração de flora e fauna. E, mais uma vez, sem medo de errar, pode-se afirmar que o setor de árvores cultivadas já trabalha com os dois pés fincados no futuro, adaptado naquilo que há por vir. O desafio é contaminar, no bom sentido, para que o Brasil siga o curso que lhe é natural, de ser protagonista desse debate ambiental. Durante o Congresso Florestal Mundial realizado na Coreia pela FAO/ONU, a IBÁ liderou discussões sobre biodiversidade, recursos hídricos, diversidade&inclusão, entre outras participações. Ficou claro que o mundo, apesar da imagem ambiental nacional arranhada, está de braços abertos e espera que o País ocupe sua posição ativa de contribuição para o planeta. n

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Localização dos leitores da Revista Opiniões, Tem muita gente analisando o seu artigo, o

Áreas de interesse: Edição Sucroenergética: • Cana • Milho • Sisal • Açúcar • Etanol • Biogás • Biometano • Bioeletricidade • Carbono Edição Florestal: • Celulose • Papel • Carvão • Siderúrgia • Painéis • Madeira • Produtos não-madereiros

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Fonte: Google Analytics


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produtores de florestas

a silvicultura do carbono O desafio das mudanças climáticas torna-se cada vez mais premente para a humanidade. O último relatório do IPCC, publicado no início de 2022, expõe de forma clara a vulnerabilidade da sociedade humana e da biodiversidade aos impactos decorrentes da alteração do clima e enfatiza a urgência e importância da implementação célere de medidas de adaptação e mitigação. Mediante esse cenário, as empresas, por meio de ações estruturadas, podem e devem atuar com compromissos públicos e relevantes. Ainda que entidades governamentais tenham papel de destaque na formulação de políticas públicas que visem limitar o aumento da temperatura global em até 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, as ações de adaptação invariavelmente passam pelo setor privado. A COP26 evidenciou a relevância do tema para a sociedade. A participação direta de representantes brasileiros de empresas e organizações da sociedade civil deixou clara a oportunidade que o País tem de assumir papel protagonista no esforço global de adaptação às mudanças climáticas. Nesse contexto, a indústria de base florestal do Brasil se coloca como parte fundamental para a solução. Para atingir o compromisso assumido em sua NDC (Contribuição Nacionalmente Definida), de reduzir em 50% suas emissões de gases do efeito estufa até 2030, não bastará apenas seguir pelo indispensável caminho da diminuição de emissões, mas também intensificar os processos que removem carbono da atmosfera. A silvicultura brasileira tem um longo histórico de desenvolvimento tecnológico, assegurando patamares de produtividade e eficiência que se destacam em nível global, especialmente no setor de plantações florestais. Além de contribuir diretamente com as remoções de carbono da atmosfera decorrentes do crescimento das florestas comerciais, a manutenção de áreas de conservação e a restauração de áreas degradadas evitam novas emissões por mudanças no uso do solo, colaborando também com mais remoções e estocagem de carbono.

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Como parte das iniciativas de mitigação dos impactos trazidos pelas mudanças climáticas aos quais o setor pode ser exposto, os programas de melhoramento genético conduzidos pelas empresas vêm trazendo resultados que viabilizam mais remoções de carbono na mesma extensão de área plantada e com utilização mais eficaz dos recursos naturais como água e solo. O longo histórico de parceria entre a indústria florestal e a comunidade científica, por meio de universidades e institutos de pesquisa, vem possibilitando a geração de conhecimento que, além de servir de base para o desenvolvimento de novos materiais genéticos, tem um grande potencial de fornecer informações específicas para as condições do manejo florestal no Brasil, que podem resultar em inventários de estoques e fluxos de carbono mais aprimorados nas empresas. A tecnologia empregada ao longo da cadeia produtiva nas operações florestais e industriais permite a produção de matéria-prima, energia e produtos de fontes renováveis. Adicionalmente, também como linhas de atuação concretas de contribuição para a redução de emissões, buscamos sempre evoluir em adequações estruturais nos nossos processos, focando em tecnologias de ecoeficiência e estabelecendo compromissos convergentes com esse propósito. De maneira geral, a silvicultura, como fonte da matéria-prima base das nossas fábricas de painéis, acaba sendo o fator mais relevante do nosso balanço de carbono em termos de remoções. Na Dexco, relatamos nosso balanço a partir de 2020 e, desde então, em números absolutos, removemos mais carbono do que emitimos para a atmosfera. A relevância das florestas nesse balanço é tão significativa que compensa as emissões de carbono da corporação em sua totalidade, abrangendo todas as unidades responsáveis pela fabricação dos produtos Duratex, Durafloor, Deca, Hydra, Portinari e Ceusa. Além das remoções de carbono da atmosfera por meio do crescimento das florestas plantadas e manutenção das áreas de conservação, o setor de pisos e painéis de madeira reconstituída contribui ainda com a estocagem de carbono em seus produtos. Por normalmente serem utilizados durante vários anos até sua destinação final, o carbono que foi removido pela floresta ao longo de seu ciclo não retorna imediatamente pela atmosfera. Tal estoque, categorizado no pool de HWP, sigla em inglês para Harvested wood products, ainda não pode ser reportado nos inventários e balanços das empresas que seguem os padrões de relato amplamente reconhecidos para essa finalidade, como o GHG Protocol e a ISO 14064.


Opiniões

No entanto o momento representa uma grande oportunidade para o setor, uma vez que ambos os padrões estão, atualmente, passando por um processo de revisão, em que as partes interessadas podem contribuir para a evolução desses mecanismos. Por mais que a importância do assunto esteja sendo gradualmente reconhecida pela sociedade, a transição para uma economia de baixo carbono passa por mecanismos de incentivo financeiro, sobretudo para pequenos produtores. Para isso, o decreto recentemente publicado no Brasil que introduz no arcabouço legal o conceito de créditos de carbono pode ser considerado o primeiro passo para a estruturação de um mercado regulado no País. Ainda nesse sentido, as discussões previstas para a COP27, a ser realizada no Egito, em novembro, serão fundamentais para a plena implementação dos artigos 6.2 e 6.4 do Acordo de Paris, que tratam das negociações de certificados de remoções entre países para o cumprimento de suas NDCs, bem como entre organizações para a compensação de suas emissões. É fundamental para o setor que esses regramentos considerem o impacto positivo trazido pelas plantações florestais em termos de remoções de carbono e que sejam consideradas como contribuições adicionais para a transição para uma economia de baixo carbono.

A problemática das mudanças climáticas está posta diante da sociedade, e o desafio é complexo. Cabe ao setor florestal brasileiro se engajar nas discussões sobre o tema, particularmente em relação ao reconhecimento das remoções de florestas plantadas, buscando evitar a criação de regras e mecanismos que criem barreiras adicionais para tanto. O Brasil tem um grande potencial para estar na liderança global do combate às alterações do clima, e a indústria de base florestal possui plena capacidade para estar na vanguarda das discussões, por meio de conhecimento técnico e práticas de manejo responsável. É preciso aproveitar a oportunidade de demonstrar o papel imprescindível e a relevância do setor na construção e na implementação de estratégias para a minimização dos impactos adversos trazidos por essas mudanças e contribuir para que, na medida do possível, consigamos alterar a trajetória das emissões globais e viver em ambientes mais saudáveis e sustentáveis. n

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O Brasil tem um grande potencial para estar na liderança global do combate às alterações do clima, e a indústria de base florestal possui plena capacidade para estar na vanguarda das discussões, por meio de conhecimento técnico e práticas de manejo responsável. "

Antônio Joaquim de Oliveira Presidente da Dexco

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FLORESTAL

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produtores de florestas

silvicultura: o futuro que plantamos hoje A COP26, da qual nós da CMPC participamos no ano passado, trouxe o sentido de urgência com que as questões da sustentabilidade e do controle de geração de gases do efeito estufa (GEE) devem ser tratadas. Se, na primeira cúpula do clima, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, havia um clima de otimismo, 30 anos depois, a sensação é de que ainda precisamos fazer o dever de casa. Mas a verdade é que é hoje que se constrói o amanhã. As metas de controle de emissões deixaram de ser para o futuro e precisam ser aplicadas agora, para garantir que o planeta consiga se recuperar de todo o passivo existente, principalmente aquele gerado pela humanidade no último século. Não cabe apenas esperar que os governos tomem as rédeas das situações, pois, na esfera pública, as medidas tendem a expressar uma mudança de longo prazo.

Estamos em um ponto em que todos temos nossa parcela de responsabilidade e devemos tomar atitudes práticas para ser parte da solução. Para isso, o primeiro passo é refletir sobre os compromissos do homem com os recursos naturais, sobre uma nova maneira de fazer negócios e, especialmente, sobre um novo jeito de consumir, buscando produtos que gerem a menor interferência possível no meio ambiente. Falando sobre a perspectiva da empresa, é preciso implantar muita inteligência aos processos, para que as estruturas produtivas (novas ou mais antigas) visem ao uso racional dos recursos oriundos do planeta, como água, energia e matérias-primas para o consumo. Nesse sentido, o setor de celulose assume um papel de referência, seja pelos estudos e investimentos consistentes que promove sobre melhoria de processos, seja pela matéria-prima renovável que, cada vez mais, se torna uma alternativa viável para os mais diferentes usos em nosso dia a dia. Em todo esse debate sobre emissões de carbono, aquecimento global e consumo consciente, um tema surge, em paralelo, como um grande aliado na construção de um futuro sustentável: a silvicultura. Essa prática tem se mostrado uma das maiores parceiras para frear a ação dos gases de efeito estufa. O cultivo de árvores plantadas se apresenta como uma iniciativa eficaz para estimular a criação de produtos originários de fontes renováveis, além de ser responsável pela retirada de gás carbônico em grandes quantidades da atmosfera. Isso posiciona os players da bioeconomia como matrizes industriais Carbono Negativo.

O cultivo de árvores plantadas se apresenta como uma iniciativa eficaz para estimular a criação de produtos originários de fontes renováveis, além de ser responsável pela retirada de gás carbônico em grandes quantidades da atmosfera. "

Mauricio Harger

Diretor-geral da CMPC no Brasil

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Opiniões Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o Brasil possui 9 milhões de hectares plantados de eucalipto, pínus e demais espécies para a produção de celulose, papel, painéis de madeira, pisos laminados, produção energética e biomassa. Essas árvores são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País. Esses 9 milhões de árvores plantadas retiram da atmosfera 1,88 bilhão de toneladas de CO2eq (medida métrica utilizada para comparar as emissões dos vários gases de efeito estufa, baseada no potencial de aquecimento global de cada um). No Rio Grande do Sul, a CMPC contabiliza 472 mil hectares de base florestal, sendo que 199 mil hectares são exclusivamente de área de conservação. Em termos de captura de carbono da atmosfera, as florestas plantadas da empresa são responsáveis por retirar 6,8 milhões de toneladas de gás carbônico do ar. Para se ter uma dimensão do que representa esse dado e da força da silvicultura no combate ao GEE, em 2021, o transporte terrestre de Porto Alegre foi responsável pela emissão de 1,2 milhão de toneladas de carbono. Os números revelam que a base florestal produtiva da CMPC capturou, no mesmo período, cinco vezes mais GEE do que as emissões totais realizadas por veículos na capital gaúcha. Fomento florestal: Em janeiro, lançamos o programa de fomento florestal RS+Renda, com o objetivo de estimular a bioeconomia e a silvicultura no Rio Grande do Sul por meio da produção de eucalipto. Com a iniciativa, os produtores rurais e donos de terras participantes passam a integrar a cadeia produtiva da companhia, tendo a oportunidade de diversificar sua produção e obter uma nova fonte de receita, tendo a CMPC como uma garantidora da compra da madeira. Nossa ideia não é substituir culturas já consolidadas no estado, mas mostrar que é possível realizar uma nova prática por meio do cultivo sustentável e incentivar um melhor aproveitamento da propriedade rural, já que o eucalipto se mostra como um tipo de plantio muito resiliente aos diferentes tipos de terra. A iniciativa, que irá abranger mais de 70 municípios gaúchos, ainda oferece suporte para a elaboração e implementação dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs), vinculados ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Iniciamos, neste mês, um ciclo de palestras itinerantes com o corpo técnico da CMPC pelas cidades contempladas pelo RS+Renda, para

apresentar o programa e tirar as dúvidas dos produtores rurais. Projetamos que, até o final de 2022, teremos aumentado nossa base florestal em 15 mil hectares. Conservação: Conservar é uma prática que faz parte do propósito da CMPC. Um exemplo disso é a propriedade e gestão da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estadual Barba Negra, situada entre a Laguna dos Patos e o Lago Guaíba, a aproximadamente 89 km de Porto Alegre. Uma RPPN é uma unidade de conservação criada e mantida por empresas ou proprietários rurais, que carregam por vocação a preservação da diversidade biológica, fauna e flora locais. A RPPN Barba Negra tem cerca de 55 km de extensão, com 2.380 hectares, onde são realizadas atividades como mapeamento, monitoramento, pesquisa, proteção e fiscalização. Atualmente, mais de 800 hectares de vegetação já estão em estágio avançado de regeneração, devido a práticas sustentáveis de recuperação desenvolvidas pela companhia e executadas em parceria com o Ibama e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Uma das atividades realizadas na reserva e que tem apresentado muitos resultados na restauração de áreas degradadas é a colheita de mudas nascidas nos sub-bosques dos talhões comerciais de eucaliptos. Essas pequenas plantas passam por um período de manejo, em que são transportadas para um viveiro, catalogadas e tratadas até estarem prontas para o novo plantio. Depois de já adaptadas às condições locais, são reinseridas nas localidades a serem restauradas. Todo esse processo se baseia no potencial de autorregeneração da natureza e na técnica que se vale do paradigma da sucessão. Atualmente, aproximadamente 80% do total de mudas plantadas pela CMPC nas localidades em regiões a serem restauradas são fruto desse projeto. A prática da silvicultura tem um papel fantástico no mundo atual: ser uma balizadora da construção do futuro. Seja o plantio produtivo ou nativo, eles se mostram, cada vez mais, como algumas das principais ferramentas que o homem tem para frear e estabilizar o aquecimento global. A nós, empresas representantes da bioeconomia, fica a responsabilidade de liderar um movimento silencioso (ou não) de mudança de estruturas produtivas e modelos de consumo da sociedade. E você, qual o seu papel na construção desse futuro? n

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produtores de florestas

então, inventou-se a árvore ! Com o contínuo progresso do interesse humano em resolver, ou pelo menos mitigar, o aparentemente crescente problema do desbalanço entre emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e sua eventual captura, surgem alternativas cada vez mais criativas para se enfrentar esse desafio. Recentemente, tive a oportunidade de ler um artigo que tratava do tema onde a hipótese principal para uma possível solução para o problema seria por intermédio da adoção de uma tecnologia de captura direta do CO2 da atmosfera. O princípio básico propõe que o CO2 seja colocado em contato com um material sólido ou líquido (hidróxido de potássio, por exemplo) ao qual ele se liga quimicamente. Esse material resultante é, então, processado, geralmente com grande dispêndio de energia, para extrair o carbono capturado e purificá-lo. Como essa etapa consome muita energia, a premissa é que ela também seja integralmente gerada por fontes renováveis, de modo que pouca ou nenhuma emissão adicional seja criada pelo processo. Já há diversas empresas desenvolvendo tecnologias de captura direta de carbono do ar, como a Carbon Engineering, no Canadá, a Climeworks, na Suíça, e a Global Thermostat, nos Estados Unidos.

ironicamente, concentrações mais altas de CO2 podem aumentar o crescimento florestal, num fenômeno conhecido por 'fertilização por CO2'. Há evidências de que plantas já estão produzindo mais biomassa em resposta ao aumento da disponibilidade de CO2 na atmosfera. " Fábio Luís Brun Diretor-presidente da RMS do Brasil

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No entanto a captura de carbono é um desafio duplo. Primeiro, há a necessidade de se capturar o dióxido de carbono, seja diretamente da atmosfera ou de fontes de emissões. Em seguida, há que se colocar em algum lugar que irá armazená-lo com segurança pelo maior tempo possível. Uma alternativa, segundo o artigo, é que o carbono seja enterrado. E uma possibilidade, para tanto, seria enterrá-lo em rochas capazes de absorver esse dióxido de carbono, como aquelas com alto teor de magnésio. Infelizmente, enterrar carbono não é necessariamente um processo barato e muito menos lucrativo. Uma estimativa de 2021 para o custo do uso de uma tecnologia de captura direta do ar em escala comercial era de cerca de US$ 600 por tonelada. E, muito embora enterrar o carbono atinja o objetivo final de removê-lo permanentemente de circulação, pelo menos em um período de tempo geológico, esse também não parece ser um empreendimento particularmente lucrativo. Justificável, talvez, caso créditos de carbono tenham um preço suficientemente alto para fechar a equação. Para os profissionais florestais leitores do artigo desta revista, e que aguentaram até este parágrafo, o óbvio ululante é que isso tudo já


Opiniões A madeira e outras biomassas florestais derivadas INVENTEI UM PRODUTO ENTÃO... VOCÊ de florestas manejadas poECONÔMICO PARA RETIRAR INVENTOU UMA ÁRVORE? dem ser queimadas para CO2 DO AR E TRANSFORMÁ-LO energia, e a madeira serrada EM MATERIAL DE pode ser usada na construCONSTRUÇÃO. ção para reduzir as emissões de carbono da indústria do cimento e do aço. A celulose originária de florestas de produção comercial pode ser convertida em produtos que substituem os produtos plásDILBERT, Scott Adams. ticos à base de petróleo. E, ironicamente, concentrações mais altas acontece naturalmente e faz parte do cotidiano de CO2 podem inclusive aumentar o crescimais ordinário do produtor florestal. O fato (iromento florestal, num fenômeno conhecido por nicamente expresso na tirinha do Scott Adams) “fertilização por CO2”. Há evidências de que é que árvores já são as sequestradoras naturais plantas já estão produzindo mais biomassa de carbono. Cerca de metade da massa de uma em resposta ao aumento da disponibilidade de única árvore é constituída de carbono puro. CO2 na atmosfera. Ainda que resultados de alguns estudos Embora a captura de carbono nas árvores indiquem que uma boa maneira de mitigar a seja um processo natural, existem maneiras mudança climática através do manejo floresde incentivar as árvores a sequestrar mais cartal seja deixar as florestas crescerem e acubono, através do manejo florestal de florestas mularem carbono em biomassa viva e matéria plantadas. A estratégia talvez mais importante orgânica morta, a realidade é que o manejo seja a de manter as áreas de produção florestal florestal para benefícios climáticos, a chamada viáveis como tal. A prática da produção flores“silvicultura de carbono”, tem a capacidade de tal sustentável é essencial para garantir que as entregar exatamente o resultado que as tecnoflorestas permaneçam lucrativas, saudáveis e logias de captura direta de CO2 propõem, mas “sumidouros” efetivos de carbono. Os gestores com apenas uma fração do dispêndio de enerprofissionais florestais são componentes imgia e com o adicional de, em muitos casos, já portantes no processo ao garantir aos investisolucionar o problema da destinação do carbodores e proprietários florestais o atingimento no eventualmente fixado. dos seus múltiplos objetivos financeiros e de Florestas de produção devem ser usadas manejo, conservando o valor de seus povoapara maximizar seus benefícios climáticos, mentos, uma vez que florestas produtivas que uma vez que o uso de produtos de madeira pomantêm seu valor são mais propensas a permade reduzir as emissões de carbono de combusnecer como florestas produtivas no futuro. n tíveis fósseis.

Como as árvores estocam carbono Entenda como funciona o processo essencial para o equilíbrio ambiental

+ CO2 +

Água

Energia circula pela planta: mantém as funções vitais Fotossíntese (energia) Glicose (açúcares que fornecem energia)

Energia: Além disso: energia mantém funções vitais, crescimento e investimento em estruturas (estoque) ESTOQUE DE BIOMASSA: estrutura que é a madeira, principalmente

50%

de uma planta é

CARBONO e deste percentual:

2%

do carbono está nas folhas

18%

nas raízes

80%

nos troncos e galhos

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Índice

produtores de floresta

silvicultura: uma cadeia de valor que

transversaliza as letras do ESG

O cultivo de florestas no Brasil apresenta, hoje, a maior capacidade fotossintética do mundo. Também conhecida como silvicultura, essa é uma das atividades de maior destaque do País, que, graças à sua capacidade de equilibrar porções geográficas de floresta plantada em nível igual ou superior ao de florestas nativas conservadas, tornou-se vitrine para o mercado global de iniciativas engajadas com os indicadores corporativos de desempenho amplo em sustentabilidade e em ESG (Environmental, Social and Governance). Com áreas de aproximadamente 9,55 milhões de hectares (dados de 2020) e assumindo dimensões territoriais páreas com a extensão de alguns estados brasileiros, como Santa Catarina, as florestas são

cultivadas de forma responsável e à base de métodos científicos, focados no aproveitamento de matéria-prima e ganho em eficiência fotossintética. Em tempos anteriores, o crescimento e a produção de florestas dependiam exclusivamente da disponibilidade de nutrientes e outros recursos, cujo acesso era circunstancial e dependia de condições específicas proporcionadas pelo meio ambiente. Isso, por sua vez, dificultava os projetos de recomposição florestal. Atualmente, o alinhamento entre soluções naturais e uma sofisticada biotecnologia nos possibilita impulsionar o ecossistema florestal brasileiro rumo à sustentabilidade e à preservação do meio ambiente. Fatores como variabilidade genética, desenvolvimento científico, modelos de preparo do solo e de monitoramento da colheita permitem que façamos um uso consciente e adequado das matérias-primas, conservando os recursos naturais, gerando insumos de alta performance e acionando uma ampla cadeia geradora de valores. Aliás, essas iniciativas tomaram proporção tão significativa no Brasil, que chegam a extrapolar o plano das contribuições econômicas para converterem-se em agentes de transformações sociais.

graças à sua capacidade de equilibrar porções geográficas de floresta plantada em nível igual ou superior ao de florestas nativas conservadas, o cultivo de florestas no Brasil tornou-se vitrine para o mercado global "

Heuzer Saraiva Guimarães Diretor de Negócios Florestais na WestRock

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Opiniões Diante de vastos projetos socioambientais, os plantios florestais podem contribuir, de forma relevante, para suprir as demandas produtivas do mercado e para mitigar as mudanças climáticas, já que, continuamente, removem e estocam carbono – acima e abaixo do solo – significativamente superior a outras atividades desenvolvidas e usos da terra. A meu ver, ganha a sociedade, os setores produtivos e o meio ambiente. Afinal, demandas ambientais convertem-se em demandas sociais e vice-versa. Em um tempo em que problemas afetam tanto pessoas quanto negócios, precisamos estar abertos para uma ampla cadeia geradora de valores. Assim é o caso da silvicultura, que se consolida como sistema a partir de múltiplos olhares, nos fornecendo os suprimentos a serem utilizados na produção de papéis, embalagens e outros bens de origem renovável. Ao materializar a experiência e a contribuição de muitos em seu setor, ela beneficia, diretamente e indiretamente, o desenvolvimento humano e, é claro, o planeta como um todo. O sucesso dos trabalhos praticados no campo florestal está atrelado a uma cultura de sustentabilidade pautada pela responsabilidade, pela inclusão e pela equidade na oferta de oportunidades, integrando os valores sociais aos ambientais. É por isso que, ao me referir à silvicultura, estou falando sobre uma cultura muito mais ampla, que perpassa todas as letras do ESG. A silvicultura do carbono é a mesma silvicultura do desenvolvimento social. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá - 2022), estima-se que, de todos os hectares de área de plantios florestais no Brasil, 71% deles possuem certificados Forest Stewardship Council (FSC) e/ou pelo Programa Brasileiro de Certificação Florestal (CERFLOR – reconhecido internacionalmente) e são responsáveis pelo estoque de aproximadamente 1,88 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2). Adicionam-se a esse valor ambiental, como parte desse amplo sistema silvicultural, a conservação e a preservação de florestas nativas, que configuram reservas de carbono da ordem de 2,6 bilhões de toneladas de CO2, em 5,9 milhões de hectares na forma de Reserva Legal (RL), Áreas de Preservação Permanente (APP) e outras áreas de conservação. Evidencia-se também a relevância do sistema silvicultural como sumidouro e reservatório de carbono, aspectos que devem estar além

das demandas produtivas, mas que configuram uma nova paisagem, na qual o desenvolvimento econômico mescla-se com a sustentabilidade ambiental, a diversidade dos valores sociais e a governança. Diante desses vastos corredores verdes que as áreas de preservação e cultivo de florestas compõem na paisagem de nosso país, o setor produtivo de papel e embalagens se insere na cadeia da bioeconomia sustentável e imprime, no cerne de sua cultura corporativa, o DNA sustentável. Recentemente, nossa organização obteve a aprovação da Science Based Targets initiative (SBTi) para suas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em todo o mundo. Nos comprometemos em reduzir, até 2030, nossas emissões em 27,5% – meta alinhada com o Acordo de Paris e que contribui para a mitigação das mudanças climáticas, de acordo com a ferramenta SBTi. Iniciativas como essa revelam o protagonismo da consciência ecológica nos principais projetos desenvolvidos pelas corporações, incluindo as de base florestal, que, por natureza, já possuem um balanço de carbono negativo, com remoções de carbono acima das emissões de suas operações. Referenciando e concordando com o Professor Laércio Jacovine, da Universidade Federal de Viçosa, frente ao mercado de carbono, o grande desafio é como conseguir transformar essa contribuição relacionada às mudanças climáticas em oportunidades para o setor produtivo. As regras estabelecidas até o momento no mercado regulado e não regulado são ainda pouco favoráveis para a geração de créditos de carbono florestal. Os conceitos de “linha de base”, “adicionalidade”, “permanência” e outras questões, incluindo o mercado internacional, são gargalos que dificultam o crescimento do mercado de crédito de carbono florestal. Assim, entende-se que alguns paradigmas precisam ser quebrados para que possamos incorporar outros conceitos e entendimentos sobre a questão da sustentabilidade em sentido amplo. Os conceitos “carbono florestal”, “balanço de carbono”, “intensidade carbônica”, “estoque de carbono em produtos”, entre outros, devem ser reconhecidos e incorporados pelo mercado, de forma que, realmente, se tornem oportunidades para a silvicultura – atividade que tanto contribui não somente para a minimização das mudanças climáticas, mas também para o desenvolvimento ; humano.

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produtores de floresta Decididamente, falar em “silvicultura do carbono” é uma forma de aparente limitação desse sistema, porque ele se torna ainda mais pujante quando tem como base de evolução a gestão integrada que efetiva desenvolvimento social, conservação e preservação ambiental, além de governança para o contínuo progresso econômico. Em outras palavras, o sistema silvicultural materializa aquilo que tem sido mundialmente apresentado como boas práticas em ESG. O sistema da silvicultura reconhece e valoriza sua dependência das pessoas e dos serviços ecossistêmicos, transformando essa condição em compromisso de desenvolvimento socioambiental. As empresas que atuam nessa cadeia têm sido exemplos em investimento na educação e capacitação profissional aos níveis universitário e técnico e destaque na formação operacional que potencializa diversidade e inclusão. Conforme dados da Ibá (2022), 73% das empresas de base florestal possuem metas ambiciosas de diversidade e inclusão e se valem de iniciativas internas e externas para o seu sucesso. Dentre as iniciativas internas, destacam-se a efetivação de posições organizacionais dedicadas exclusivamente à diversidade e à criação de grupos de afinidade, além

Opiniões de eventos e capacitações sobre o assunto. Em paralelo, aproximadamente 67% das empresas participam de iniciativas externas voltadas para diversidade e inclusão, como ONU Mulheres, Rede Mulher Florestal, Movimento Mulher 360, entre outros. O sistema silvicultural é referência em engajamento voluntário com todos os stakeholders; certificação de sustentabilidade; iniciativas com instituições de ensino, pesquisa e extensão; iniciativas de desenvolvimento social; atuação em plataformas de diálogo e fórum de empresas; inclusão de pretos e pardos; engajamento dos direitos de toda e qualquer pessoa humana. Além de “silvicultura do carbono”, portanto, certamente esse sistema também pode se apresentar como “silvicultura do desenvolvimento social”. Nesse caso, a “silvicultura do carbono” é apenas uma parte do sistema silvicultural, que se impõe como “silvicultura da sustentabilidade”, e nos desafia a ampliar atuação proativa. Para acompanhar as permanentes demandas da evolução socioambiental e econômica, apostar em inovação com ousadia é o caminho seguro pelo qual o setor ligado à geração de produtos sustentáveis deve percorrer, e isso inclui todas as fases da produção, desde a matéria-prima até a embalagem final. n

WestRock: Plantio clonal de Pinus taeda, 15 meses de idade, IMA 60 aos 14 anos

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DE OLHO NA FLORESTA

Curso de Manejo Integrado de Doenças

Qualidade desde a raiz Dentro do plano de atualização de boas práticas de produção, a Angicos promoveu treinamento para toda equipe da empresa. O responsável pelo curso foi o professor da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) UNESP – Botucatu Edson Luiz Furtado. Mestre e Doutor, ele atua na coordenação do programa de Proteção Florestal (PROTEF / IPEF) e é grande referência no setor. O trabalho foi dividido em duas etapas: uma teórica e outra prática nos diferentes setores do viveiro.

DE OLHO NA EVOLUÇÃO Segundo Furtado, “a muda saudável de eucalipto representa a fase inicial da vida de uma árvore e o início do processo de reeorestamento, que deve durar um período de pelo menos sete anos ininterruptos. Uma muda bem produzida, auxilia no rendimento das demais etapas de cultivo. A diagnose precoce desses agentes se reveste numa etapa muito importante, pois consiste na determinação exata do agente causador, sendo este o passo essencial para a adoção das medidas de mitigação e manejo. O objetivo do manejo integrado (MID) de doenças em viveiro é tentar atuar de forma efetiva sobre o inóculo inicial e eliminar deenitivamente os agentes causais, e no campo reduzir a população sem pressionar para a seleção de indivíduos resistentes, mantendo o mesmo a um nível abaixo do limiar de dano econômico e minimizar os efeitos deletérios ambien sendo necessário para isso o ao meio ambiente, entendimento do sistema de produção como um todo, assim como o conhecimento das inter-relações ecológicas entre os patógenos e seus possíveis inimigos naturais, o hospedeiro e o ambiente onde estas populações estão inseridas”. Edson Luiz Furtado

Mestre e doutor em Fitopatologia, professor Livre-Docente, responsável pelas disciplinas de Microbiologia, Patologia Florestal, no curso de Graduação em Engenharia Florestal e Fungos Fitopatogênicos, Epidemiológica e Manejo de Doenças Florestais, no curso de Pós-graduação em Ciência Florestal, da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) Unesp-Campus de Botucatu. Atua na coordenação no programa de Proteção Florestal (PROTEF / IPEF) na área de Doenças em Espécies Florestais, desde de 2002.


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Índice

produtores de florestas

a silvicultura do carbono, na prática Embora carbono e biodiversidade tenham se tornado os temas mais importantes do momento, as discussões e os debates sobre as causas e os efeitos do complexo processo das mudanças climáticas vêm de muitos anos. O número de COPs - Conferências das Partes da Nações Unidas é uma evidência disso. Já foram realizadas 25 delas, e ainda não chegamos a um acordo definitivo que traga as mudanças necessárias para frear o aquecimento global. Em meio a tanta incerteza, podemos dizer que o setor florestal é uma exceção e exemplo a ser seguido por outros setores. Aqui, não somente debatemos, mas buscamos soluções práticas que envolvem nosso principal ativo: a árvore e o seu importante papel nessa equação climática. Para entender o papel das árvores, volta-se ao passado, quando, ao final do século XVIII, o padre e cientista Jean Senebier teve as primeiras suspeitas de que as plantas absorviam carbono diretamente do ar. Tempos depois, essa e outras ideias corroboraram para a descoberta da fotossíntese (síntese utilizando a luz), processo que permite às plantas absorver e converter o CO2 em carboidratos, liberando oxigênio no processo. Ou seja, as plantas são as grandes responsáveis em regular as concentrações de carbono atmosférico. E as árvores se destacam pela biomassa gerada e alocada em seus compartimentos, em sua quase totalidade composta por esse carbono oriundo do ar, liberando, em contrapartida, quantidades significativas de oxigênio na atmosfera. Pela perenidade das árvores, plantios e áreas de conservação, atuam, por fim, como os grandes sumidouros de carbono.

As florestas, plantadas e nativas, ganharam destaque pouco antes da COP24, em Madri. Naquele momento, a partir de estudos, papers e, principalmente, pela posição dos negociadores, ficou claro que a conta não iria fechar baseada somente nos acordos internacionais e instrumentos de mercados centrados no estabelecimento de limites e comércio de créditos de redução de carbono, no modelo chamado de cap and trade. Eles não seriam suficientes para controlar o aumento da temperatura em 1,5 °C, conforme definido no Acordo de Paris da COP de 2015. O mundo precisava de um poderoso mecanismo de offset das emissões industriais, que removesse e estocasse grandes quantidades de CO2, de forma eficiente. A solução poderia vir da produção de créditos de carbono advindos do sequestro e estoque do carbono realizados pelas árvores nativas e plantadas (silvicultura). Isso reforçou o que a UNFCCC havia declarado em 2015, que “as florestas são a chave para a solução climática” (https:// unfccc.int/news/forests-as-key-climate-solution), e, de lá para cá, as árvores tornaram-se o centro da discussão do controle do aquecimento global. Nesse contexto, a Bracell, empresa de base florestal com o eucalipto como sua principal matéria-prima, é líder mundial na produção de celulose solúvel.

A Bracell produz um excedente de energia elétrica limpa e renovável, disponibilizado para Grid nacional, que é capaz de abastecer uma cidade de 3 milhões de habitantes (750 mil residências). "

João Carlos Augusti e Bruno Marco de Lima

Gerente de Meio Ambiente e Certificações e Gerente Sênior de P&D Florestal, da Bracell, respectivamente.

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Opiniões Atualmente, a empresa tem plantios nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia, nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, formando verdadeiros mosaicos florestais na paisagem e removendo enormes quantidades de gás carbônico da atmosfera. Ainda usando os produtos da silvicultura, em SP, a fábrica da Bracell possui tecnologia de ponta e diversos avanços em sustentabilidade. Ela opera com 100% de energia de fonte renovável e sem uso de combustível fóssil (fossil fuel free), graças a um moderno gaseificador de biomassa. Além disso, produz um excedente de energia elétrica limpa e renovável, disponibilizado para Grid nacional, que é capaz de abastecer uma cidade com até 3 milhões de habitantes (750 mil residências). Quantificar com qualidade como o carbono está sendo capturado pelas florestas é essencial para se tornar ainda mais eficiente e verde. Por exemplo, em 2020, a Bracell teve balanço de emissões negativo, ou seja, sequestrou mais do que emitiu, com um superávit de 3,9M tCO2. Na gestão setorial dos gases do efeito estufa, é essencial que todos passem a gerenciar as suas próprias contas, ampliando o rol de soluções climáticas, ajudando o planeta, com cada um fazendo a sua parte. Do mesmo modo, a silvicultura sustentável tem se ampliado no Brasil. Uma importante premissa de sustentabilidade é a expansão da silvicultura somente em áreas já antropizadas e muitas vezes degradadas. Essa prática, além de prevenir o desmatamento, proporciona um grande potencial de sequestro e estoque de carbono, na forma de florestas. Projetos de medição de carbono em nativas, estruturação de crédito pelo CCB/VERRA e o gerenciamento da paisagem são importantes e também estão em andamento na Bracell. Essas ações devem contribuir e motivar outros profissionais e empresas a ampliarem as opções ambientais e econômicas da silvicultura do carbono. Permanecendo na vanguarda, a Bracell mantém e investe em estudos relacionados ao sequestro de carbono. Se destaca o projeto cooperativo Eucflux (Ipef), do qual a companhia faz parte desde 2008 e objetiva estudar os fluxos de água e carbono em plantações de eucalipto. O projeto, inclusive, conta com diversos artigos científicos publicados em revistas internacionais.

Os resultados desses projetos ajudam a Bracell e demais cooperadas do projeto a entenderem e direcionarem ações relacionadas ao tema. Como a inovação e a melhoria contínua são valores fundamentais da Bracell, novos projetos de pesquisa estão sendo desenvolvidos nesse tema, gerando conhecimento e suportando as decisões da companhia, em benefício de todos. Hoje, todos os profissionais têm a oportunidade e o dever de inovar, reduzir emissões, gerar e compartilhar energia limpa. Sequestrar carbono nas plantações e nas áreas de conservação é parte do trabalho das empresas de base florestal. Há convicção de que a maior contribuição nesse processo se faz a partir do protagonismo nas instâncias de discussão do tema. Nesse campo, é capital a precificação do carbono sequestrado, por promover a qualidade do ar, proteger e regenerar paisagens, além de outros serviços fundamentais à sociedade e às gerações futuras. É papel de cada um atuar no desenvolvimento de políticas públicas e de certificações em fóruns setoriais e multisetoriais, como a Florestar SP, o IBÁ, o Cebds, o Diálogo Florestal Brasileiro, através do Fórum Florestal de SP, o Pacto pela restauração da Mata Atlântica e na recente decisão em aderir à Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura. Por fim, cabe destacar a filosofia dos 5 C’s, da Bracell e do grupo RGE, no qual se faz o que é bom para a Comunidade, o País (Country), o Clima e o Cliente e, por consequência, a Companhia também se beneficiará. Assim, fica claro que, com o investimento no plantio de árvores, será possível ter empresas saudáveis em um mundo sustentável. n

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Índice

produtores de florestas

florestas plantadas e a qualidade de vida O planeta sofreu uma série de ocorrências ambientais na última década e, com isso, percebemos uma melhora sobre o conhecimento a respeito da importância das florestas na luta contra as mudanças climáticas. Em meio a tudo isso, um grupo de cientistas estabelecido pelas Nações Unidas para monitorar e assessorar toda a ciência global relacionada às mudanças climáticas lançou seu novo relatório de clima, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), que divulgou, recentemente, que as alterações no clima já estão causando um aumento na frequência e/ou intensidade de eventos extremos desde os tempos pré-industriais, como tempestades, alagamentos, secas, incêndios florestais e outros fenômenos climáticos; além disso, segundo o relatório de agosto de 2021, os seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07 °C na temperatura do planeta. Ainda de acordo com o IPCC, não há como baixar a temperatura global, o desafio é evitar que ela continue a se elevar. Para entender isso, é preciso analisar sob a óptica de um período em que a mentalidade era a de ver a poluição das fábricas como símbolo de vitória e prosperidade, sem perceber os possíveis efeitos colaterais do modelo industrial, marcado pelo uso irracional dos recursos naturais, pela desigualdade social e pelas péssimas condições de vida dos operários.

Na Conferência em Glasgow, as entidades que representam o mercado mundial de crédito de carbono foram unânimes em dizer que o Brasil está atraindo cada vez mais investidores internacionais, permitindo que nações poluidoras invistam em projetos de sustentabilidade e ganhem crédito de carbono. "

Elcio Trajano Junior

Diretor de RH e Sustentabilidade da Eldorado

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Buscando frear o avanço das emissões de carbono no globo e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, surgiu, a partir do Protocolo de Kyoto, em 1997, o conceito do crédito de carbono. Foi o primeiro tratado internacional para controle da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, de acordo com publicação da Agência Senado. Os créditos de carbono se tornaram um incentivo, pois permitem que se tenha um maior retorno financeiro, recurso que pode ser usado para projetos de infraestrutura sustentável e de bioeconomia, principalmente para o pagamento dos serviços ambientais e da preservação do estoque de recursos naturais. Esses créditos, além de neutralizar as emissões próprias das companhias, podem ser comercializados entre empresas que buscam neutralizar suas emissões, evitando, assim, possíveis sanções ambientais. Diante desse cenário, a silvicultura entra com protagonismo, pois é capaz de reduzir a pressão sobre a vegetação nativa, contribuindo para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Segundo o site pensamentoverde.com.br, os principais benefícios da silvicultura são:


Opiniões • Diminuição da pressão sobre florestas nativas; • Reaprimoramento de terras degradadas pela agricultura; • Sequestro de carbono; • Proteção do solo e da água; • Ciclos de rotação mais curtos em relação aos países com clima temperado; • Maior homogeneidade dos produtos, facilitando a adequação de máquinas na indústria. Ou seja, tem como função cuidar da exploração e da manutenção racional das florestas, desde o pequeno agricultor às grandes indústrias. Brasil: Durante a última Conferência em Glasgow, na Escócia, as entidades que representam o mercado mundial de crédito de carbono foram unânimes em dizer que o Brasil está atraindo cada vez mais investidores internacionais. A lógica desse mecanismo é permitir que uma nação mais poluidora invista em projetos de sustentabilidade em outro país e ganhe crédito de carbono. O Brasil, por sua vez, possui aproximadamente 9,8 milhões de hectares de florestas plantadas, o que corresponde a menos de 1% do território nacional, com estoque de, aproximadamente, 1,88 bilhão de toneladas de gás carbônico (CO2) equivalente, sendo que 76% da produção total de florestas no País é destinada ao eucalipto, segundo o IBGE, com base nos dados de 2021. Tanto as empresas de florestas plantadas quanto fundos internacionais de investimentos florestais, conhecidos como Timber Investment Management Organization (TIMO), que é um grupo de gestão que auxilia os investidores institucionais na gestão de suas carteiras de investimento em ativos florestais, seguem avançando no País, investindo no aumento de áreas plantadas, com o objetivo de abastecer suas indústrias (mercado verticalizado), e no chamado mercado aberto de madeira reflorestada. As árvores plantadas, mesmo após serem colhidas, são transformadas em produtos, que seguem estocando o carbono sequestrado. Além disso, milhões de toneladas de carbono deixam de ser emitidas no uso de energia renovável em substituição aos combustíveis de origem fóssil, na produção de produtos em substituição aos derivados do petróleo. Esse mercado global de produtos derivados da madeira proveniente de florestas plantadas exige certificações internacionais que atestam o emprego de práticas responsáveis durante toda a cadeia de valor do manejo florestal. Os plantios ocorrem em áreas antropizadas, ou seja, áreas cujas características originais foram

alteradas pela ação do homem, sem fazer pressão sobre áreas de florestas nativas. Além de sequestrar carbono e contribuir para a geração de energia de fontes renováveis, esse mercado cumpre à risca a legislação, protege e preserva serviços ecossistêmicos. Com base nessa análise que contempla o contexto histórico e traz uma visão sistêmica do momento atual que vivemos no mundo, acredito que a silvicultura exerce um papel de extrema importância para a desaceleração das mudanças climáticas mundiais. O Brasil se destaca nessa cultura de maneira global e tem condições de liderar o processo de expansão das atividades de base florestal no planeta, carregando a plena convicção de que cumprimos os mais rígidos padrões de sustentabilidade e leis ambientais. Outro ponto que não posso deixar de fora dessa análise é o papel social desempenhado pelas empresas de base florestal, que proporcionam conhecimento e geram empregos e renda em suas regiões de atuação, o que nos dá, no plano geral, uma contribuição direta para o desenvolvimento socioeconômico do País. O plantio de florestas, portanto, além de gerar divisas e ter um manejo responsável, é ambientalmente correto e melhora a vida das pessoas.n

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Índice

produtores de florestas

Opiniões

uma oportunidade de protagonismo O Brasil e o setor florestal têm uma oportunidade real de exercer seu protagonismo na agenda de combate às mudanças climáticas. Para isso, será fundamental assumirmos nossa posição de liderança, participando ativamente das estruturações de normas e regulamentações para o tema. É preciso pragmatismo, governança e visão de Estado para endereçar a questão que, há muito tempo, deixou de ser ambiental e está se tornando uma mudança de contexto econômico. Essa mudança de contexto econômico traz um efeito de governança global, que busca se organizar de diferentes formas para gerir o assunto. Gestores de grandes fundos passam a exercer influência sobre conselhos de administração de empresas, cobrando por ações concretas que vão além dos relatórios de sustentabilidade. Consumidores e investidores pessoa física passam a exercer seu direito de escolha, traçando novos limites para o que é ou não aceitável, se produtos são realmente sustentáveis e se a cadeia de produção respeitou critérios e práticas de respeito às pessoas, fauna e meio ambiente de modo geral. Não se pode negar que se trata de uma evolução. O acesso à informação, a consciência sobre escassez, o potencial de rastreabilidade de cadeias de suprimentos e o acesso à educação vêm transformando a forma como vemos o mundo e o quanto nos importamos com a sustentabilidade. Acredito que, quando falamos sobre questões mundiais, como a agenda do clima, mercado de carbono, produção de alimentos e tantos outros temas, nosso papel como líderes nessa discussão é o de promover a colaboração. Isso é possível por meio do diálogo entre setor público, academia, setor privado e sociedade civil organizada.

Títulos verdes vêm atingindo recordes de emissões, e, segundo a Climatebonds, o apetite para novas emissões pode passar de 1 trilhão de dólares ainda este ano. "

Fabiano Rodrigues

Diretor Florestal e Suprimentos na Sylvamo

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Em um ambiente de tantas incertezas, a única forma de avançarmos é com um fluxo cada vez mais integrado de informações. O setor tem um papel-chave e muito a contribuir, principalmente quando olhamos para nossa legislação ambiental e florestal, que está entre as mais exigentes do mundo. O Brasil tem um potencial enorme quando falamos de redução de emissões no planeta, pois tem disponibilidade de energia limpa e uma incomparável capacidade de produção de energia de biomassa. Segundo dados da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores, associação responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, nossas florestas plantadas são responsáveis pela estocagem de mais de 1,7 bilhão de toneladas de Co2eq somado a estes outros 2,5 bilhões de toneladas de Co2eq em áreas protegidas de Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanentes.


Nossas florestas plantadas aportam para esta nova economia uma possível indústria de captação de carbono, um dos principais vetores de mitigação das mudanças climáticas. Além disso, temos níveis de excelência em todos os demais vetores, como em nossos produtos, estocando carbonos durante todo seu ciclo de vida, ou pela eficiência energética da indústria e suas emissões evitadas. Todos esses ativos aportados por nosso modelo de negócio ganham relevância nesse novo mercado de títulos sustentáveis, que vem experimentando crescimento acelerado. Títulos verdes vêm atingindo recordes de emissões, e, segundo a Climatebonds, o apetite para novas emissões pode passar de 1 trilhão de dólares ainda este ano. Princípios, critérios e indicadores para acesso a esse capital têm sido desenvolvidos com um olhar próximo de investidores e sociedade organizada. É o que sugere o Green Bond Principles GBP, conjunto de macrocategorias desenvolvido para avaliar a elegibilidade de projetos verdes. Fundamentalmente, há um entendimento de que iniciativas que ajudem a cumprir os objetivos globais com os do Acordo de Paris demandarão investimentos e esforços; padrões como esse podem facilitar o fluxo de capitais, dando segurança para investidores, emissores e demais participantes dos projetos.

A estrutura busca oferecer orientações claras e expectativas comuns aos participantes do mercado de capitais sobre as práticas, ações e divulgações a serem disponibilizadas ao levantar fundos para esse propósito. O GBP sugere que a avaliação de projetos elegíveis à captação de green bonds deva considerar os seguintes macrocomponentes: o uso do recurso, o processo de avaliação e seleção do projeto, a gestão dos recursos e como os resultados e o andamento serão comunicados. Como se pode perceber, a aceleração de tendências ou a construção de um novo modelo ultrapassa os limites do ambiental, se tornando uma mudança clara do contexto econômico e de conduta de seus agentes. Compromissos de Estado como os discutidos no acordo de Paris e seus desdobramentos nas demais conferências da ONU para mudanças climáticas passam a integrar gradualmente modelos de governança. Por isso, é necessário que o setor de florestas plantadas, diretamente ou por meio de suas associações, participe ativamente das discussões sobre o clima, utilizando eventos como a COP27 como uma oportunidade de articulação e defesa dos interesses do setor, estrategicamente se posicionando e enriquecendo o debate para que os resultados não se limitem a estratégias de protecionismo regional, mas tenham, de fato, um efeito positivo sobre o meio ambiente. n

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Informe técnico

Gestão Florestal e de Mapas:

uma abordagem unificada Por Moisés Rabelo Azevedo A gestão dos processos e áreas florestais, por se tratar de uma atividade majoritariamente agrária que compreende grandes extensões de terras, vem sempre associada a um controle espacial, tanto das áreas produtivas quanto das não produtivas (áreas ditas de outros usos). Neste sentido, o uso de ferramentas GIS para suporte ao planejamento e controle desses processos, torna-se imprescindível e muitas empresas se veem na obrigatoriedade de adotar uma ferramenta GIS e integrá-la com o seu Sistema de Administração Florestal. Historicamente, esta é a solução padrão que a indústria vem adotando: um Sistema de Administração Florestal (FMS) mais um Sistema de Informação Geográfica (GIS) e um conjunto de ferramentas e funcionalidades desenvolvidas para integrar as duas bases de dados. Figura 1: Modelo tradicional de arquitetura de intergeração FMS-GIS

FMS

GIS

A complexidade da integração FMS-GIS, varia em função da complexidade dos processos florestais de cada empresa, mas em geral têm-se, pelo menos, um mapeamento entre as informações tabulares das unidades produtivas (talhões) e seus respectivos polígonos.

Já em empresas com alto grau de maturidade em seus processos florestais, esta integração envolve desde o aspecto fundiário (Imóveis, matrículas etc.), passando pelas informações de Cadastro Florestal de uso do solo e ativos biológicos até informações operacionais de formação florestal e suprimento de madeira. Quanto mais maduros os processos florestais de uma empresa, mais complexo é o desenvolvimento da ferramenta de integração FMS-GIS. Todavia, como trata-se de sistemas nativamente separados, sempre haverá um gap entre as funcionalidades e regras de negócio de ambos. O exemplo clássico é o da divisão-unificação de talhão, onde para o GIS, trata-se apenas de uma divisão de um polígono qualquer, enquanto do pondo de vista florestal, existe um impacto enorme considerando todas as informações associadas ao talhão (material genético, solo, produtividade, operações, ocorrências etc.) e que devem ser devidamente tratadas juntamente com o processo de divisão-unificação citado. A partir do cenário descrito surge a seguinte pergunta: E se, no lugar de partirmos de bases/ sistemas separados, pudéssemos estender, uma base de dados espaciais considerando todas as regras florestais de modo a não temos mais dois sistemas e sim somente um que suportasse as regras espaciais e florestais simultaneamente? Teríamos o melhor dos mundos pois não precisaríamos de integração uma vez que FMS e GIS seriam um só sistema! Bom demais para ser verdade? Soluções Florestais e GIS são escopos naturalmente distintos? Não existe empresa que fornece ambas as soluções no mercado podendo assim combiná-las em uma única solução? Bem, a Trimble fez isso! Como? Simples, ela chamou a principal fornecedora de solução GIS do mundo (ESRI) e, com essa parceria, desenvolveu um Sistema de Administração Florestal acrescentando à base de dados geográficos todas as regras de negócios e entidades florestais de modo que, a partir desta solução, a ferramenta ESRI agora segue nativamente as regras de negócio que gerenciam a produção florestal ao mesmo tempo que o sistema florestal atende todas as regras de controles espaciais associadas às suas entidades.


FMS/GIS

Figura 2: Modelo de Sistema de Administração Florestal e GIS Unificados

Apesar de essa abordagem parecer inovadora para o nosso mercado, o CFForest é uma solução extremamente madura e amplamente utilizada pelas grandes empresas florestais no mundo. Além disso, o CFForest é uma solução multiplataforma que atende a todos os requisitos de governança corporativa dos mercados florestais mais exigentes.

Sobre a Divisão Florestal da Trimble: A Divisão Florestal da Trimble oferece SaaS e software empresarial para melhorar a produtividade e sustentabilidade das empresas de produtos florestais integradas mais reconhecidas do mundo, gestores florestais, organizações de conservação, departamentos governamentais, fabricantes de produtos acabados, e os parceiros que ligam a cadeia global de fornecimento florestal. As soluções Connected Forest™ da Trimble fazem a gestão de todo o ciclo de vida das matérias-primas, desde o planejamento, plantação, cultivo, colheita, transporte e processamento. Para mais informações, visite: forestry.trimble.com/pt/ Sobre a Trimble: A Trimble desenvolve tecnologias para transformar e melhorar o modo como o mundo trabalha. Com a integração de dados de posicionamento, transmissão em tempo real e processamento de informações, a Trimble oferece a solução completa de ponta a ponta para ampliar a produtividade, segurança e sustentabilidade em projetos para indústrias e governos. Presente com seus produtos no país há mais de três décadas, a Trimble contribui com suas soluções para que o Brasil explore o máximo de seu potencial de desenvolvimento nas áreas de agricultura, construção civil pesada, transporte e logística, aplicações geoespaciais e construções verticais. Fundada em 1978, a Trimble está sediada em Sunnyvale, Califórnia. Para mais informações, visite: www.trimble.com.br

Figura 3: ESRI ArcGis Pro sendo executado diretamente do Trimble CFForest. Todos os recursos ESRI disponíveis e obedecendo as regras de negócio florestais numa abordagem unificada. No exemplo, uma divisão de talhão no ArcGis Pro, nativamente desencadeia todos os processos correlatos no CFForest.


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Índice

produtores de florestas

investimento na natureza é a chave À medida que a Covid-19 diminui, um consenso está emergindo na sociedade: a importância de se conter o aumento das emissões de gases de efeito estufa e frear seus impactos nos ecossistemas para que uma crise climática, talvez muito pior que a sanitária, não ganhe dimensão em um futuro próximo. Muitos compromissos vêm sendo assumidos por nações e empresas, demonstrando a preocupação com o futuro da humanidade. O investimento nas “Soluções Baseadas na Natureza” ou nas “Soluções Climáticas Naturais” é elemento-chave para a mitigação dos impactos climáticos. O Brasil conta com a maior floresta tropical e a maior biodiversidade do planeta, mas também carrega uma grande extensão de áreas degradadas e subutilizadas no território, disponíveis para serem recompostas e valorizadas em um modelo sustentável. Assim, o País tem a oportunidade e o desafio de ser protagonista de uma das principais apostas mundiais no enfrentamento dos impactos causados pelas crises do clima e da biodiversidade: o uso das florestas como reservatórios de carbono. Em relatório, o CDP (Carbon Disclosure Project) indica que é necessário

evitar que aproximadamente 21 bilhões de toneladas de CO2e sejam lançadas na atmosfera. O estudo ainda aponta que a neutralidade climática está diretamente relacionada à capacidade de se recuperar pastagens degradadas e conservar florestas nativas. Nosso país possui 9 milhões de hectares de florestas plantadas, com estoque de 1,88 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). Somam-se a isso 5,9 milhões de hectares de áreas naturais preservadas. Atualmente, estamos entre os países que mais emitem gás carbônico no mundo. Contudo a implantação de regulamentações de mercado de carbono pode ser uma aliada para reverter o cenário, considerando que serão instrumentos decisivos para fomentar a descarbonização do setor privado e ampliar os investimentos em medidas de mitigação.

Para alcançar competitividade, a indústria de papel e celulose (...) é altamente contributiva na compensação de carbono, sendo parte fundamental na construção de soluções para desafios estruturais. "

Júlio César Natalense e Sarita da Cunha Marques Severien Gerente de Negócios de Carbono e Coordenadora de Mudanças Climáticas, da Suzano, respectivamente

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Opiniões O momento para a sociedade global criar mecanismos eficazes para o combate às mudanças climáticas é agora, e precisamos de metas mais ambiciosas, como a antecipação da neutralidade de emissões líquidas de gases de efeito estufa. Para isso, o engajamento do setor privado é crucial, fomentando a agenda ambiental junto a governos para que se busque um acordo em relação a mercados globais regulados de carbono, vinculados ao Acordo de Paris. No Brasil, o governo editou o Decreto 11.075/2022, que define os parâmetros iniciais para a regulamentação do mercado de carbono, com planos setoriais de redução, e a instituição do Sistema Nacional de Redução de Gases de Efeito Estufa (SINARE). Para que um projeto passe a gerar créditos comercializáveis no mercado de carbono, é primordial ter metodologias que determinem a elegibilidade do projeto e os critérios de qualidade, como a comprovação de adicionalidade da atividade, e todas as demais etapas de mensuração, relato e verificação, cujo objetivo é garantir que o benefício proporcionado pela atividade realmente tenha um diferencial significativo nos aspectos ambiental, econômico-financeiro e de implantação. A questão é desafiadora, e as metodologias estão em constante evolução. A Verra, por exemplo, é uma das plataformas de registro global no mercado voluntário que garante que os créditos correspondam a menos carbono na atmosfera. Diante desse cenário, há empresas que buscam soluções tecnológicas para reduzir as emissões em seus processos e ainda contam com a compra dos créditos de carbono em sua jornada para compensação das emissões, que são difíceis de eliminar no curto prazo. Para alcançar competitividade, a indústria de papel e celulose depende de conservação, restauração e manejo de ecossistemas e, por isso, é altamente contributiva na compensação de carbono, sendo parte fundamental na construção de soluções para desafios estruturais. Aqui vale o destaque para o poder de escalabilidade do setor e para sua eficiência já comprovada na implementação de medidas efetivas. Ao longo de décadas, a indústria de árvores plantadas aprendeu a aplicar a ciência para manejar de forma sustentável a floresta. No modelo de manejo em mosaico, por exemplo, enquanto uma floresta plantada é colhida, temos outras crescendo, interconectadas por áreas de preservação, conservação de mata ciliar e corredores ecológicos proporcionando a proteção para a fauna.

A Suzano tem, dentre suas Metas de Longo Prazo para 2030, também conhecidas como Compromissos para Renovar a Vida, a ambição de promover a conexão de 500 mil hectares de remanescentes isolados de vegetação, através da formação de corredores ecológicos nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Apenas em 2021, a empresa teve, como balanço entre suas emissões e remoções, o montante de 8,9 milhões de toneladas de CO2e removidas da atmosfera. A captura do CO2 faz parte dos Compromissos Para Renovar a Vida se comprometendo a retirar, até 2025, 40 milhões de toneladas da atmosfera. Floresta plantada e o seu papel social: Com um modelo de ciclo de cultivo longo, o setor de floresta plantada entende que é preciso agir hoje para que tenhamos sucesso no futuro. O apoio da natureza, das comunidades que estão no mesmo território e de outros grupos de interesse permite a perenidade do modelo e a contribuição ao combate à crise climática. Apoiar e investir no desenvolvimento de comunidades que vivem nas mesmas regiões onde os plantios florestais acontecem deve ser parte inerente do modelo de negócio. Dessa forma, a atividade econômica desempenhada pelas pessoas, gerando trabalho e renda, atua como fator adicional de proteção à floresta. O aumento de renda, educação e conscientização ajuda a garantir que a comunidade em torno também se torne agente de conservação. Os programas sociais ainda contribuem para a conscientização ambiental, fomentam a educação e o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, a Suzano está comprometida a retirar 200 mil pessoas da linha da pobreza e aumentar o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) em 40%, em todos os municípios prioritários, até 2030. Podemos concluir que temos urgência nas questões climáticas e temos instrumentos que alavancam a corrida pela mudança. O setor de florestas plantadas tem a experiência e o poder de implementação de remoções de carbono em curto prazo e larga escala. A geração de créditos de carbono por esse setor pode contribuir na jornada de descarbonização do restante da economia. Precisamos, portanto, colocar em prática nossa capacidade e vontade de renovar a forma de produzir, consumir, distribuir valor e de nos relacionarmos com a natureza. É nosso dever potencializar esse movimento de regeneração e renovação do nosso planeta para construir um futuro positivo e sustentável para todos. n

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Informe técnico

Utilizando dados de colheita para refinar inventários florestais Em um mundo acelerado e competitivo, o acesso a informações acuradas e atualizadas é essencial. Empresas florestais enfrentam um ambiente dinâmico no qual o atendimento às crescentes demandas do mercado passa pelo alinhamento com práticas mais sustentáveis. Atividades de manejo e planejamento tem se tornado cada vez mais importantes. Estas atividades dependem de dados que refletem o estado dos recursos florestais e operacionais disponíveis. Entretanto, além de ser onerosa, a coleta de dados por vezes falha em caracterizar de forma acurada a realidade do campo, levando a decisões inadequadas. A mecanização do setor mudou a forma como mensuramos as operações florestais. Desde a década de 70, motosserras vêm sendo substituídas por harvesters equipados com computadores de bordo, sensores e softwares de última geração. Harvesters modernos são capazes de medir consumos de combustível, tempo produtivo e até mesmo atributos estruturais do plantio. Dados coletados por máquinas florestais fornecem respostas para questões que não poderiam ser abordadas de maneira direta e significativa antes da mecanização da produção. Medições coletadas por harvesters, e armazenadas na forma de arquivos HPR (StanForD), especificam diâmetros, comprimentos e coordenadas de cada árvore colhida. Estes dados são amplamente utilizados em países nórdicos para o monitoramento e controle da produção florestal. Na Finlândia, por exemplo, todas as operações de compra e venda de madeira são baseadas em dados HPR. Isto inclui o cálculo do valor a ser pago pelo comprador ao proprietário da floresta.

Além do monitoramento, dados HPR permitem a criação de representações tridimensionais dos talhões colhidos. Estas informações podem ser empregadas na implementação de inventários florestais, sendo um recurso valioso para a predição de diferentes variáveis, como altura e volume. A combinação destes dados com sensoriamento remoto e Inteligência Artificial (IA) fornece predições acuradas e atualizadas, reduzindo significativamente os erros introduzidos por métodos tradicionais. Empresas atuando no Brasil contam com mão de obra qualificada e maquinário de última geração, capaz de registrar dados HPR. Porém, embora existam iniciativas, o uso destes dados ainda é incipiente, esbarrando em dificuldades que vão desde o processamento e análise até a calibração dos sensores. Esforços de coordenação e investimentos em ferramentas computacionais podem levar empresas florestais a superarem esta barreira. Desta forma, a utilização de dados HPR permitiria ao setor agregar valor à cadeia produtiva em um curto espaço de tempo. A CollectiveCrunch é líder global em sistemas de inventário florestal, combinando fontes de dados terrestres e de sensoriamento remoto para obtenção de melhores inventários florestais. Nossa solução Linda Forest faz uso extensivo de dados HPR, removendo a complexidade e agregando valor a um dado antes pouco explorado. A plataforma Linda Forest, baseada no estado da arte de IA, combina dados florestais, climáticos, geográficos e de satélite para entregar soluções de inventário e monitoramento florestal. Atualmente, a solução Linda Forest cobre mais de 18 milhões de hectares de florestas do norte da Europa, atendendo 7 dos 10 principais players florestais europeus.


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Índice

produtores de florestas

silvicultura & carbono:

capacidade e necessidade

Não existe um binômio tão indissolúvel como silvicultura e carbono. Neste momento em que claramente notamos que há uma emergência climática em curso e que precisa de ações concretas, entendemos que temos uma silvicultura capaz representada pelo sistema solo-plantações como uma alternativa real de redução e estocagem imediata de carbono como uma das respostas imediatas que precisamos usar como uma das formas de mitigação do problema. Comprovada por estudos recentes essa emergência climática, caracterizada principalmente pelo aumento da concentração de CO2 na atmosfera e, em especial, no Brasil, afetando nossas plantações devido à redução da precipitação e ao aumento da temperatura, a Embrapa publicou um trabalho recente onde se verificou o comportamento climatológico na região Sul do Brasil e a capacidade de emissão/remoção de carbono

em solos cultivados com eucalipto. O resultado da modelagem mostrou que as perdas acumuladas em termos absolutos são significativas e podem chegar à região de estudo a mais de oito milhões de toneladas de carbono em 2035, representando perda de 2,5% do carbono armazenado nas florestas, nas áreas do estudo. A silvicultura se apresenta como fundamental no cenário socioambiental, pois uma das fontes de grande reserva de carbono é o solo, por isso estudos intensos vêm sendo conduzidos visando quantificar a sua contribuição, o desenvolvimento e a busca de tecnologias que permitam recuperar e/ou aumentar os estoques de carbono.

As boas práticas de silvicultura vêm desempenhando um papel significativo no aumento dos estoques de carbono no solo, significando a garantia do bem-estar e segurança para as futuras gerações. "

Roosevelt de Paula Almado

Gerente de P&D da Gerdau Aços Longos

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Opiniões Um desses estudos foi conduzido pela pesquisadora Devin McMahon, do Departamento de Ciência do Sistema da Terra, da Universidade de Stanford, EUA; visando avaliar o efeito do manejo no solo, foram comparados solos sob eucalipto com solos sem manejo silvicultural. Foram analisados dez talhões de eucalipto e seis talhões de outros tipos de vegetação — quatro reservas de vegetação nativa e dois de pastagens—, que foram previamente amostrados em 2004, em estudo realizado pela equipe da Universidade Federal de Viçosa. O estudo realizado em 2016 avaliou seis plantações de cinco empresas florestais e abrangeu um gradiente do Cerrado até a Mata Atlântica costeira. Foram coletadas amostras de solo até a profundidade de 100 cm, sendo quatro amostras compostas por talhão, em cinco profundidades (0-10, 1020, 20-40, 40-60 e 60-100 cm). Cada amostra composta, por sua vez, foi formada por quatro amostras simples. Ao todo, foram coletadas 16 amostras simples por talhão para avaliar estoques totais de carbono. A conclusão do estudo mostrou que os estoques de carbono nos talhões de eucalipto de até 20 cm de solo mineral aumentaram, de um valor médio de 46,0 Mg/ha (erro-padrão 2,8 Mg/ha) em 2004 para 50,1 (3,1) Mg/ha em 2016. O fator edafoclimático é o principal condicionador do teor de matéria orgânica no solo; em condições tropicais e subtropicais, onde há prevalência de elevadas temperaturas e precipitação, as boas práticas de manejo são fundamentais para aumentar o aporte de resíduos orgânicos ao solo, ou que, por outro lado, retardem a decomposição da matéria orgânica, o que potencializará a fixação de carbono por esse compartimento. A capacidade da nossa silvicultura pode ser comprovada não só pela quantidade de áreas aptas para a sua implantação, mas principalmente pelas boas práticas de manejo do solo no setor florestal, que tem relação intrínseca com a manutenção do carbono no solo e seu balanço. Quanto ao melhoramento genético, as empresas florestais, principalmente, que se dedicam à produção de carvão vegetal vêm produzindo espécies de maior densidade. Mais massa, mais carbono, mais retenção.

O mapeamento de solos vai determinar o maquinário de preparo condizente com as características físicas do solo, evitando consumo desnecessário de combustível e químicas, determinando a nutrição adequada de fertilizantes nitrogenados, evitando que ela contribua com as emissões. Inclusive, em um trabalho recente de monitoramento nutricional realizado por uma empresa florestal, foi analisada a série histórica de recomendações, baseada na adequação da nutrição originalmente recomendada, e foi observada uma redução de 0,035t de CO2e/ha. O cultivo mínimo visa à manutenção da produtividade e à consequente sustentabilidade das plantações de curta rotação; ele se baseia em um conjunto de práticas silviculturais de baixo impacto ambiental empregado desde o plantio até a colheita, com preparo do solo restrito às linhas de plantio com revolvimento reduzido, manutenção e manejo de resíduos da colheita da madeira. O incremento nos teores de carbono no solo melhora suas propriedades e, na maioria das vezes, o torna mais produtivo. Essas melhorias nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo pelo aumento nos teores de carbono criam um ambiente mais propício ao desenvolvimento das plantas, pois, sob o ponto de vista físico, isso melhora a estruturação do solo e, consequentemente, a infiltração e o armazenamento de água pelo solo, favorecendo o desenvolvimento radicular e da parte aérea da planta. Da mesma forma, a silvicultura contribui de forma muito rápida para estocar carbono, logicamente através das árvores. Aproximadamente, 40% de uma árvore são carbono. Um dos estudos mais completos sobre a relação plantação e carbono feita no Brasil foi o EucFlux, o qual analisou o comportamento das plantas com relação à absorção de carbono. Não só por suas contribuições ao ambiente no que tange à emergência climática, mas também rastreando todo o processo positivo da silvicultura gerando diversas matérias-primas, chegamos, por exemplo, ao gusa produzido com carvão vegetal. Na Gerdau, o aço produzido emite 930 kg de CO2 por tonelada produzida, enquanto a média mundial, segundo o World Steel As; sociation, é de 1.890 kg de CO2.

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produtores de florestas

Opiniões Dois eventos recentes devem contribuir para fortalecer e incentivar ainda mais, reforçando o setor florestal e, consequentemente, a silvicultura como promotora da sustentabilidade e mitigadora do carbono e componente da bioeconomia: a primeira foi a aprovação, pelos senadores, da exclusão da silvicultura da lista de práticas poluidoras e prejudiciais ao meio ambiente (PLS 214/2015). O projeto segue para votação na Câmara dos Deputados, agora identificado como PL1366/2022, com uma chance enorme de aprovação pela casa. E a segunda foi a recente publicação do Decreto nº 11.075, que estabelece os procedimentos para a elaboração dos Planos Setoriais de Mitigação das Mudanças Climáticas e institui o Sistema Nacional de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa. A medida cria o mercado regulado de carbono, com foco em exportação de créditos, especialmente para países e empresas que precisam compensar emissões para cumprir com seus compromissos de neutralidade de carbono. Mas, na silvicultura do carbono, nem tudo são flores. Apesar da fotossíntese ser um processo cientificamente comprovado há séculos e que transcende fronteiras, até hoje, algumas nações não reconhecem a importância de as espécies “exóticas” capturarem e armazenarem carbono durante seu processo de crescimento; logicamente, outras questões estão envolvidas nessa celeuma. Ainda há necessidade de aprofundamento em questões científicas, políticas e comerciais para justamente fortalecer a importância e a aceitação das boas práticas da silvicultura no contexto da retenção do carbono, não só no Brasil, mas também no contexto internacional. As boas práticas de silvicultura vêm desempenhando um papel significativo no aumento dos estoques de carbono no solo, significando a garantia do bem-estar e segurança para as futuras gerações. Esse aumento nos teores de carbono no solo associado à redução dos seus teores na atmosfera podem contribuir para minimizar os impactos deste sobre os fatores do clima que afetam o homem, bem como o potencial produtivo das plantações florestais. n

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produtores de florestas

a silvicultura do carbono e a

indústria do papel

As árvores cultivadas, que fornecem madeira, celulose, papel e outros derivados tão presentes no cotidiano das pessoas, promovem a silvicultura, uma forte atividade agrícola no Brasil. Toda essa matéria-prima é aplicada em indústrias dos mais diversos setores que produzem mais de 5 mil produtos. Dentre essas indústrias e setores, encontra-se a de papel e embalagem. O setor de papel e embalagem desempenha uma função cada vez mais importante na economia nacional e, também, mundial. Isso é devido à receita gerada, aos elevados investimentos, ao impacto gerado sobre os outros diversos setores econômicos, tanto naqueles que se encontram antes quanto depois de sua cadeia produtiva, assim como sua influência na geração e no consumo de energia, e principalmente nas questões sociais e ambientais. Importantes para frear os efeitos das mudanças climáticas e desastres naturais, as árvores representam algumas das áreas biológicas mais ricas da Terra. Elas fornecem alimentos, matérias-primas renováveis para muitos produtos e sustento para milhões de pessoas, gerando valor social e valorizando pequenos produtores. Diferentemente de outros setores, onde o carbono faz uma viagem apenas de ida para a atmosfera, as florestas funcionam como

as florestas plantadas são matéria-prima de 36% do papel e celulose, 29% de siderúrgica e 12% de carvão vegetal, 10% de TIMOs, 6% de painéis e pisos laminados e 7% dos demais produtos sólidos de madeira.

Leandro Alexis Farina

Gerente de Saúde e Segurança, Qualidade e Sustentabilidade na Irani Papel e Embalagem Coautoria: Ricardo Bernasconi, Engenheiro de Meio Ambiente na Irani Papel e Embalagem

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uma via de mão dupla, absorvendo carbono enquanto crescem ou se mantêm e soltando quando degradadas ou desmatadas. São nove milhões de hectares de árvores plantadas no Brasil, matéria-prima renovável e sustentável, responsáveis por 36% da produção de papel e celulose do País – o restante é destinado para produtores independentes (29%), siderúrgica e carvão vegetal (12%), TIMOs (10%), produção de painéis e pisos laminados (6%), demais produtos sólidos de madeira (7%). A silvicultura é, portanto, sinônimo de preservação ambiental, mas também um meio de alinhar o bem-estar da população e com resultados financeiros das companhias. Além de entidades e empresas preocupadas com a conservação, o setor de papel e celulose investe na produção de florestas sustentáveis. Técnicas reconhecidas de silvicultura são extremamente importantes para serem utilizadas no processo produtivo de matéria-prima florestal de empresas de papel a fim de garantir a alta qualidade e atender à demanda industrial das companhias, respeitando o meio ambiente, as comunidades do entorno e as pessoas envolvidas, reforçando o compromisso socioambiental das mesmas.


Opiniões Na Irani Papel e Embalagem, a silvicultura integra a gestão florestal da companhia, que envolve planejamento, execução e monitoramento de todas as atividades do processo produtivo, como viveiro, colheita, logística e produção de biomassa. As florestas da Irani estão localizadas no meio-oeste de Santa Catarina e no litoral médio e norte do Rio Grande do Sul, em uma área de aproximadamente 34 mil hectares. Para obter êxito nessa atividade e nesse espaço, a companhia considera muito importante que o ciclo de sua produção florestal comece com a pesquisa das espécies que melhor se adaptam às condições climáticas onde estão instaladas e das condições particulares do solo em que serão plantadas. Nas florestas da Irani, a escolha foi pelos tipos Pinus taeda, Eucalyptus dunnii, Eucalyptus badjensis e Eucalyptus benthamii, pois são os que permitem uma melhor produtividade. A partir daí, é realizada a coleta de sementes nas unidades florestais já existentes ou a aquisição de novas sementes de material genético de níveis superiores e adaptados à região, para a produção das mudas florestais. Com as mudas produzidas, é realizado o preparo do solo para a implantação do povoamento da floresta. Nessa etapa, parte do material vegetal restante da operação de colheita é mantido na superfície como forma de proteção, gerando uma cobertura contra a erosão do solo e ainda contribuindo para a reposição dos nutrientes da terra, importantes para o desenvolvimento da floresta. As áreas são plantadas formando mosaicos com as Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), a fim de garantir a conservação da biodiversidade por meio da formação de blocos e corredores ecológicos, facilitando a migração da flora e da fauna entre os remanescentes florestais. Outro cuidado que deve ser implementado nesse processo é com as condições de trabalho e segurança dos colaboradores do setor. A colheita, por exemplo, deve ser totalmente mecanizada. As etapas de viveiro, produção de cavaco para biomassa e estradas florestais devem ser realizadas por equipes próprias e especializadas. Já o transporte da madeira, realizado por empresas terceirizadas, seguindo a legislação e o manejo florestal adequado. Para manter as florestas e contribuir para a preservação da biodiversidade, ações contínuas para a prevenção de incêndios florestais nas comunidades locais, nas áreas florestais próprias e parceiras devem ser realizadas, como acontece na Irani. Para isso, é importante que toda empresa que atua no setor conte com uma Brigada de Emergência treinada para o combate a

incêndios florestais e atuação em emergências, além de um caminhão bombeiro e equipamentos para enfrentar, conter e extinguir possíveis incêndios. Vale destacar, também, que as florestas vão além da oferta de recursos para o desenvolvimento dos negócios e oferecem inúmeros benefícios sociais. Dentre eles, a regulação hídrica, mantendo um equilíbrio das características físicas e químicas das áreas, e a estabilidade da estrutura do solo, com a implementação e manutenção de técnicas adequadas de manejo, além da diminuição do impacto da água da chuva no solo, evitando o assoreamento. As florestas têm também a capacidade de reduzir os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera, pelo sequestro de carbono, desempenhando um importante papel na luta contra o aquecimento global. Devido ao grande volume de florestas, desde 2006, a Irani mantém o certificado de Empresa Carbono Positivo, por remover mais carbono da atmosfera com suas florestas plantadas e nativas do que emite com as atividades industriais e florestais. Em 2021, por exemplo, a companhia removeu um total de 108.324 toneladas CO2eq para um total de emissão de 67.005 toneladas CO2eq, gerando um saldo positivo de 41.319 toneladas CO2eq. Já em relação aos benefícios sociais, a companhia reconhece que elas contribuem com a geração de emprego e renda para as comunidades do entorno, como o desenvolvimento de parcerias com produtores locais para o plantio do reflorestamento. Portanto, assim como a Irani, todo o setor vem registrando resultados positivos e apresentando crescimento a cada ano. Além dos motivos expostos, outros que explicam esse aumento é a nova tendência mundial de substituir o uso do plástico por papel, devido ao menor tempo de decomposição do material, e ainda a mudança no comportamento da população, especialmente após o início da pandemia do coronavírus, que passou a consumir um maior volume de produtos via e-commerce e delivery, meios que utilizam papel e embalagem sustentável no transporte. Para seguir evoluindo e atender às novas demandas do mercado, as indústrias de papel e embalagem estão buscando desenvolver soluções cada vez mais inteligentes e sustentáveis. Para isso, há um constante investimento na melhoria dos processos, visando a ganhos de produção e a qualidade no produto, a fim de atender a um cliente cada vez mais consciente, engajado e exigente, que prioriza o consumo de produtos certificados e com responsabilidade ambiental. E isso vem desde o fornecimento da matéria-prima, com as florestas plantadas e a silvicultura.n

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Índice

produtores de florestas

Opiniões

a contribuição da silvicultura para a captura de carbono Em todo o mundo, a ciência vem ampliando o conhecimento sobre a importância das florestas na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. É fato que as florestas nativas são os ecossistemas mais importantes para mitigar esse problema, pois estudos indicam que elas sequestram cerca de duas vezes mais dióxido de carbono do que emitem. E quanto à silvicultura? As florestas plantadas também têm essa capacidade de atuar como um “sumidouro de carbono”? Para o Brasil, como maior exportador de celulose do mundo, essa discussão é ainda mais importante ao considerarmos que o cumprimento das metas climáticas do País pode ser muito favorecido por esse tipo de produção, que hoje já traz diversos benefícios econômicos para a nação.

Atualmente, o setor de árvores plantadas no Brasil possui uma base 100% renovável, cujo potencial de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas é diretamente proporcional à capacidade de criação e aproveitamento de mecanismos de mercado de carbono. Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores – IBÁ, estima-se, por exemplo, que os 9 milhões de hectares de área de plantio florestal no Brasil são responsáveis pelo estoque de cerca de 1,88 bilhão de toneladas de dióxido de carbono. Além dos estoques de carbono das árvores plantadas, o setor gera e mantém reservas de carbono na ordem de 2,6 bilhões de toneladas de CO2eq e de 5,9 milhões de hectares na forma de Reserva Legal (RL), Áreas de Proteção Permanente (APP) e outras áreas de conservação. Na discussão sobre o tema, há muitos que defendem que o setor de florestas plantadas deve ter sua captura de carbono considerando seus ciclos de produção, o que faria com que, a cada colheita, a captura de carbono voltasse à estaca zero. Contudo, apesar de ocorrer o corte da madeira, é justamente durante os primeiros anos de crescimento das florestas que ela estoca mais carbono. Uma floresta madura tem seu estoque de carbono, mas grande parte dele é utilizado no equilíbrio da própria floresta.

muitos defendem que florestas plantadas deve ter sua captura de carbono considerando a colheita – com a captura de carbono voltando à estaca zero. Contudo, apesar do corte, é justamente durante os primeiros anos de crescimento das florestas que ela estoca mais carbono. "

Luiz Henrique Tápia Gerente de Meio Ambiente da Veracel Celulose

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Além disso, os ciclos de plantio são bem planejados e, enquanto algumas porções de árvores são colhidas, resultando em emissões de carbono, outras são deixadas para crescer, absorvendo carbono. Outro ponto relevante é considerar o ciclo de vida do produto como um todo: o produto da silvicultura se renova, ele não termina na colheita da árvore, é transformado em novos produtos. É fundamental observar não apenas uma parte do processo, mas a metrificação do mercado do carbono na silvicultura considerando o ciclo de vida que aquele produto gera. A escala das remoções produzidas por incrementos de estoques florestais e a capacidade de manutenção por prazos longos fazem com que a floresta de produção tenha um potencial enorme de contribuição no combate às mudanças do clima, sobretudo ao longo das próximas décadas. Mesmo com todos esses fatos, as corporações do setor precisam ir além do fato de que seu negócio já é, por si só, carbono zero, porque têm e mantêm florestas. No caso da Veracel, por exemplo, apesar de a companhia já trabalhar em prol da diminuição dos

impactos ambientais em todas as suas ações e de já emitir muito menos carbono do que captura, buscamos sempre ir além e estamos entrando de maneira muito estratégica no mercado para redução de carbono. No último levantamento realizado pela empresa, as emissões representavam menos de 1% do valor de carbono que a companhia captura com as florestas, isso sem incluir as plantações dos produtores parceiros, o que reduz ainda mais essa conta. A Veracel mantém ainda um Programa de Restauração Florestal que, além de estabilizar o consumo de carbono, também contribui, a longo prazo, para a proteção da biodiversidade e os impactos climáticos. Quando se analisa o todo, podemos concluir que a silvicultura, quando bem manejada, mostra-se um excelente sumidouro de carbono e contribui efetivamente para a cadeia reguladora desse serviço ecossistêmico do País. Isso significa que as árvores plantadas têm papel importante na captura de carbono e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, problemas que tanto impactam a vida da sociedade e a biodiversidade mundial. n

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consultores e especialistas

Amazônia: projetos de impacto na construção de um

planeta sustentável

Em abril deste ano, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou a última parte do Sexto Relatório de Avaliação (AR6), onde mais de 270 cientistas de 65 países que compõem o painel demonstraram, a partir da análise de mais de 18 mil estudos científicos publicados, que, para que tenhamos a chance de manter ao alcance o limite de 1,5 °C estabelecido pelo Acordo de Paris em 2016, as emissões de gases do efeito estufa (GEE) devem cessar seu aumento até o ano de 2025. Embora o relatório indique que houve redução da taxa anual de incremento das emissões de GEE no período entre 2010 e 2019, quando comparado com o período entre 2000 e 2009 (média de 2,1% para 1,3% por ano), os esforços conjuntos globais para frear ou mitigar as mudanças climáticas permanecem longe do ideal. Mesmo conseguindo-se atingir o pico de emissões em 2025, o cenário futuro ainda se mostra desafiador: para se manter na meta de 1,5°C, até 2030 as emissões globais precisarão experimentar uma redução na ordem de 43% em relação aos níveis de 2019, ano-base do estudo.

o Brasil, como maior detentor de florestas tropicais do mundo, deve sabiamente aproveitar essa oportunidade que se apresenta com o estabelecimento e a consolidação do mercado de carbono. "

Gustavo Laporinê Baêsso

Diretor de Operações Florestais da Canopée Gestão Ambiental

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Embora os resultados gerais apresentados pelo AR6 não sejam exatamente novidade para os estudiosos e entusiastas do assunto, a magnitude e a velocidade das mudanças climáticas observadas no mundo e evidenciadas pelo estudo reforçam e acendem um alerta sobre a necessidade de ação imediata, passando por metas mais arrojadas e prazos mais curtos para atingi-las, além do envolvimento e comprometimento de governos e da iniciativa privada, principalmente nas maiores economias do mundo.


Opiniões Segundo o IPCC, o G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, corresponde a 78% de todas as emissões. Apesar disso, apenas cinco países do grupo se comprometeram com metas de emissões zero a longo prazo. Falando do Brasil, o mais recente relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de GEE), do Observatório do Clima, indica que a maior parte das emissões brasileiras (46%) se devem à mudança no uso e ocupação do solo, fator associado ao desmatamento, em especial na Amazônia e no Cerrado. E quem conhece ou trabalha na região Norte conhece bem essa dinâmica.

O processo de degradação das áreas florestais e conversão em pasto, mesmo que ilegal em área superior a 20% no bioma Amazônico, ainda acontece com maior frequência que o desejado e indevidamente agrega valor às terras convertidas, que passam a ser negociadas a preços superiores após a redução ou a remoção da cobertura florestal. Nesse contexto, não podemos deixar de reconhecer e ressaltar a importância do Manejo Florestal Sustentável integrado aos projetos REDD+ (Redução de Emissões Decorrentes de Degradação e Desflorestamento Evitado) para auxiliar o processo ;

Projeto REDD - Pressão do Desmatamento - 2005

Projeto REDD - Pressão do Desmatamento - 2021

Plano de manejo garante a preservação da floresta em pé, enquanto, no entorno, o desmatamento segue um ritmo forte. Além da proteção da floresta, as evidências de que o projeto cumpre requisitos trabalhistas, tributários, ambientais e de propriedade das terras são fundamentais para garantir que o ativo ambiental não origine outros passivos para quem usa os créditos gerados para neutralizar as suas emissões.

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Índice

consultores e especialistas de preservação das áreas de floresta nativa do Brasil, contribuindo também para a redução das emissões nacionais de gases do efeito estufa. A exploração sustentável não apenas dos recursos madeireiros, mas também dos múltiplos produtos provenientes das florestas (bioeconomia), associada à valorização da manutenção da floresta em pé pelo pagamentos de serviços ambientais (dos quais hoje se destaca a valorização da preservação de estoque de carbono através de projetos REDD, mas que no futuro integrarão a valorização de outros serviços ecossistêmicos, como a proteção de recursos hídricos, biodiversidade, solos, beleza cênica, etc.) representa a melhor alternativa para proteger os maciços florestais do avanço da fronteira agrícola, gerando recursos que, devidamente investidos e distribuídos, impactam positivamente a vida de quem depende da floresta para sua subsistência. A integração dos povos da floresta nos processos de preservação é crítica para o sucesso da implementação dos planos de manejo integrados aos projetos REDD. O desenvolvimento e ampliação de projetos sociais que integrem os povos locais na preservação das florestas é fundamental para o sucesso da manutenção dos estoques de carbono e outros serviços ecossistêmicos e, com isso, garantir uma efetiva contribuição para os objetivos definidos pelos diversos protocolos. Na região Amazônica, vivem mais de 20 milhões de pessoas, a maior parte delas integradas e a viver da floresta. Não canalizar parte do valor gerado pelos projetos REDD+ e Manejo Florestal Sustentável para projetos de valorização e garantia de qualidade de vida dessas populações é fadar ao fracasso todos os esforços de efetivo impacto no planeta. Sob essa óptica, o Brasil, como maior detentor de florestas tropicais do mundo, deve sabiamente assumir seu papel de protagonista e aproveitar essa seara de oportunidades que se apresentam com o estabelecimento e a consolidação do mercado de carbono. Essas oportunidades passam, inevitavelmente, pelo desenvolvimento de metodologias de quantificação e precificação de

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Opiniões serviços ecossistêmicos adaptadas à realidade brasileira (tropicalizadas e adaptadas às idiossincrasias do Brasil e da região Amazônica) e pela capacidade de desenvolver e certificar nacional e internacionalmente, através de entidades globais de certificação, projetos elaborados com o devido rigor científico e que resguardem todos os âmbitos que possam originar passivos associados a ele, de forma a promoverem boa aceitação dos projetos ambientais brasileiros no mercado internacional – onde ainda se encontra a maior demanda por créditos de carbono. A geração de créditos de serviços ambientais, nomeadamente falando dos estoques de carbono a serem utilizados para neutralização de emissões (ativo ambiental), não pode levar atrelados a eles passivos de outras naturezas, como questões de propriedade das áreas que geram os ativos, trabalhistas, tributárias, ambientais, entre outros. A garantia do cumprimento das mais elementares normas ESG deverá ser a base do uso dos créditos gerados pelos projetos de neutralização de carbono e de selos “Carbono Neutro”. A tropicalização de metodologias e certificações de carbono devem ser estudadas e desenvolvidas de forma a valorizarem os outros serviços ecossistêmicos não contemplados pelo carbono, além de incorporarem no valor dos créditos gerados parte dos custos econômicos, sociais e ambientais causados pelas emissões de gases de efeito estufa. Em todos os casos, não se podem perder de vista as garantias legais, sociais, ambientais e fundiárias primordiais para garantir a elegibilidade de terras e proponentes aos projetos ambientais de geração de valor. Os processos de certificação, além de garantirem a qualidade da condução técnica na aplicação das metodologias utilizadas, devem conferir aos projetos a lisura e transparência exigidas pelo mercado. Alcançar o pleno reconhecimento internacional através da qualidade técnica dos projetos ambientais brasileiros é passo fundamental para que o País exerça sua potencial liderança mundial em ações de sustentabilidade. n


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Índice

consultores e especialistas

mercado de carbono e a silvicultura:

necessidade de inovações

A capacidade de fixação de carbono por reflorestamentos de eucalipto e pínus é altamente reconhecida. Introduzido no Brasil no final do século XIX, o eucalipto serviu inicialmente ao setor ferroviário, para a produção de lenha para locomotivas e dormentes de ferrovias, além de postes para eletrificação. A partir da década de 1950, o eucalipto despertou interesse para a produção de celulose, o que se consolidou nas décadas de 1970 e 1980. Apesar de atender a algumas premissas principais para projetos de créditos de carbono florestal: • Cobertura vegetal na terra elegível para o projeto deve ter ficado abaixo do limiar de floresta em 31 de dezembro de 1989. Comprovado, por exemplo, usando imagem de satélite ou participação rural avaliação (PRA); • Não é esperado o surgimento de vegetação arbórea sem intervenção humana para formar uma floresta no terreno do projeto; • Na ausência da atividade de projeto, espera-se que os estoques de carbono dos reservatórios de carbono não considerados na atividade de projeto diminuam ou aumentem menos em relação para o cenário do projeto. Apesar da intrínseca e grande capacidade de, através da fotossíntese, remover da atmosfera e fixar o carbono na biomassa, a atividade florestal monocultural produtiva (eucalipto, pínus, etc.) não é prevista, ou contemplada, nos

Nos encontramos num momento histórico de inserção das práticas do carbon farming no agroecossistema brasileiro, em que não somente a produção das culturas convencionais, clássicas, importam, mas também passa a valer o esforço por acumular o carbono no sistema. "

Marco Antônio Fujihara Coordenador do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas

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Coautoria: Rangel Leandro Romão, Diretor de Pesquisa e Sócio-fundador da Ecofix Securities

mercados de créditos de carbono. Isso se deve à condição de que a atividade produtiva florestal não é financeiramente dependente, ou inviabilizada pela carência, de créditos de carbono. A atividade florestal monocultural produtiva é considerada altamente rentável e não deixaria de ser implementada pela ausência, ou carência, dos créditos de carbono eventualmente gerados pelo projeto. Há que se considerar que as monoculturas florestais exóticas produtivas do eucalipto e do pínus, principais espécies representantes do setor florestal produtivo, reduzem a pressão sobre as florestas nativas, oferecendo a alternativa da madeira dessas espécies para as mais diferentes demandas da sociedade ─ lenha, carvão, madeira, etc. ─, reduzindo, dessa forma, o risco de desmatamento de florestas nativas para atender a essas mesmas demandas. A sua ausência tornaria as florestas nativas a única opção de fornecimento de produtos florestais/madeireiros. Atualmente, estão previstas pelos mercados de créditos de carbono e contempladas pelas metodologias aprovadas as atividades de restauração da vegetação nativa, nas modalidades Afforestation e Reforestation ou restauração de ecossistemas, e a conservação de florestas nativas através do mecanismo REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation).


Opiniões Lembrando que Afforestation é definido pelo estabelecimento de uma floresta ou povoamento de árvores em uma área onde não havia cobertura arbórea anterior. E Reforestation representa a restauração do ecossistema florestal original de uma área através da intervenção humana. Projetos Afforestation e Reforestation também estão condicionados a premissas importantes de serem observadas no cenário brasileiro. Por exemplo, não devem ocorrer em Áreas de Preservação Permanente, nem em áreas de Reserva Legal das propriedades, uma vez que essas áreas estão previstas em lei e não dependem de recursos de créditos de carbono para serem estabelecidas. Entende-se, portanto, que as atividades de restauração da vegetação nativa devem ocorrer em áreas excedentes, ou além, das APPs e Reservas Legais. Também, evidentemente, a restauração florestal não deverá ocorrer em área objeto de auto de infração ambiental. Outro ponto importante é que, em caso de Reforestation, a área objeto da atividade de restauração não deverá ter sido ”aberta” após 31 de dezembro de 1989. O REDD, por sua vez, representa Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal. Dessa forma, um projeto que se proponha à preservação de áreas de florestas nativas originais, protegendo-a da pressão representada pela expansão da agropecuária, pelas demandas das populações carentes por recursos florestais, por exemplo, devem ser remunerados para que consigam alcançar seus objetivos propostos. Em sua proposição, além de preservação da floresta, um amplo programa de responsabilidade social deve estar previsto para oferecer às populações dependentes dos recursos florestais alternativas de subsistência e desenvolvimento socioeconômico, por meio de culturas alternativas em harmonia com a preservação da floresta, entre outras proposições. Nas atividades dos projetos mencionados acima, as metodologias preveem a consideração dos seguintes ESTOQUES DE CARBONO: • Carbono da biomassa acima do solo (madeira do tronco, galhos, folhas); • Carbono da biomassa abaixo do solo (sistema radicular); • Carbono orgânico do solo; • Pastagens/gramíneas; • Culturas perenes. As (principais) emissões oriundas das atividades desenvolvidas no agroecossistema consideradas nas metodologias são: AGRICULTURA: • Desmatamento/Abertura de novas áreas/Conversão de áreas de vegetação nativa em áreas produtivas; • Consumo

de combustíveis fósseis; • Consumo de fertilizantes sintéticos nitrogenados; • Consumo de calcário; • Consumo de fertilizantes orgânicos; • Resíduos culturais: • Emissões de N2O (óxido nitroso) dos resíduos culturais; • Queima de resíduos culturais. PECUÁRIA: • Fermentação entérica: • Metano (CH4); • Manejo de dejetos; • Óxido Nitroso (N2O). Recentemente, no mercado voluntário, surgiram diversas metodologias propostas pelos principais standards com foco na capacidade dos agroecossistemas em sequestrar e fixar carbono em seus limites. As atividades acima, Afforestation, Reforestation e REDD ocorreriam também nesses cenários. No entanto a agricultura sustentável, o manejo sustentável de pastagens, etc., preveem práticas que proporcionam a fixação de carbono no solo e no sistema. Em ambos os casos, o componente florestal aparece como elemento importante dessas estratégias para aumentar o estoque de carbono no agroecossistema. Seja na proposição de técnicas como o Habitat Management, em que áreas de culturas/commodities recebem faixas ou ilhas de vegetação florestal nativa, seja como o proposto pela integração Lavoura-Pecuária-Floresta, em que o sistema pastagem recebe o componente florestal ordenadamente em linhas ou faixas dentro do sistema produtivo principal. Porém o acesso do setor florestal e agropecuário ao Mercado de Créditos de Carbono continua proibitivo em razão dos altos custos para o desenvolvimento, a submissão e a aprovação, o registro e o monitoramento desses projetos pelos standards ou pelas autoridades nacionais designadas para a sua verificação/certificação. E também em razão da baixa taxa de fixação de carbono na unidade de espaço e tempo, ou seja, a capacidade de fixação de toneladas de carbono por hectare por ano é relativamente baixa e demanda uma área considerável para justificar o investimento em um projeto de créditos de carbono nessas atividades descritas. É, entretanto, imprescindível viabilizar o acesso do setor florestal e agropecuário ao mercado de pagamentos por serviços ambientais, pois representaria a entrada de um verdadeiro exército na linha de frente do combate às mudanças climáticas. Nos encontramos num momento histórico de inserção das práticas do carbon farming no agroecossistema brasileiro, em que não somente a produção das culturas convencionais, clássicas, importam, mas também passa a valer o esforço por acumular o carbono no sistema. Muitas inovações estão por vir. n

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Índice

consultores e especialistas

carbono:

temos soluções extraordinárias

A área de árvores plantadas no Brasil totalizou 9,55 milhões de hectares em 2020, de acordo com o Relatório Anual 2021 da Indústria Brasileira de Árvores - Ibá (IBRE/FGV). A cada dia, é plantado 1 milhão de mudas, o que permite responder por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País, gerando uma receita de R$ 116,6 bilhões e cerca de 2 milhões de empregos diretos e indiretos. Além disso, estima-se que a área de plantio seja responsável por estocar quase 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq). Mas seria possível transformar esse benefício em créditos de carbono? Para responder a essa questão, a primeira coisa a verificar é se esse plantio atende ao critério de adicionalidade – a espinha dorsal de qualquer projeto de carbono. Para gerar créditos, uma atividade deve comprovar a redução de emissões ou o aumento de remoções de

gases de efeito estufa de forma adicional ao que ocorreria na ausência dos incentivos do mercado de carbono. Em outras palavras, quanto mais difíceis as condições para um projeto existir, mais adicionalidade ele vai ter. No caso da silvicultura de espécies exóticas, que corresponde a 96% da área plantada no País, poucos casos seriam elegíveis de acordo com esse critério. A grande maioria das plantações já é rentável e já retiraria carbono da atmosfera sem apoio de mecanismos financeiros extras. Exceções devem apresentar pelo menos uma dessas características: 1.) ausência de viabilidade econômica – por exemplo, uma plantação de pínus ou eucalipto a mais de 100 quilômetros da planta industrial de celulose; 2.) enfrentamento de barreiras – por exemplo, uma plantação de mogno africano, espécie que ainda não está devidamente domesticada, não possui pacote tecnológico desenvolvido para o Brasil e apresenta retorno mais demorado. Dentre os projetos elegíveis, outra questão é a restrição de venda desses créditos. No mercado voluntário, em que as empresas buscam compensar suas emissões por questões reputacionais, o principal atrativo é a imagem. Compradores querem uma história bonita por trás do projeto. Não basta apenas absorver carbono, precisa ter outros impactos positivos além dos climáticos, como benefícios à biodiversidade e às comunidades locais.

Compradores querem uma história bonita por trás do projeto. Não basta apenas absorver carbono, precisa ter outros impactos positivos além dos climáticos, como benefícios à biodiversidade e às comunidades locais. "

Diego Serrano Diretor técnico da BrCarbon

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Opiniões Já a silvicultura de espécies nativas possui uma série de características que favorecem a sua elegibilidade perante os critérios de adicionalidade. São barreiras para essa atividade a ausência de um pacote tecnológico consolidado, o crescimento lento, o retorno financeiro demorado, a falta de uma cultura estabelecida entre os produtores rurais e também no mercado. Do ponto de vista econômico, os custos de implementação são maiores, e as linhas de financiamento específicas para o plantio de nativas são poucas ou inexistentes. Apesar de ser um produto de alto valor agregado, em geral, as espécies nativas brasileiras têm um tempo de crescimento maior do que as espécies exóticas tradicionalmente utilizadas na silvicultura brasileira – eucalipto e pínus. Por essa característica, elas estocam carbono por um período mais longo, inclusive nos produtos de madeira sólida originados dessas árvores. De acordo com o estudo Reflorestamento com espécies nativas: estudo de casos, viabilidade econômica e benefícios ambientais, publicado pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com apoio da WRI Brasil, o modelo de silvicultura de nativas tem potencial para retirar 12,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente da atmosfera por hectare ao ano (tCO2eq/ha/ano). Além disso, também é reduzida a quantidade de intervenções que trazem algum impacto no meio ambiente, como colheita e manutenção de estradas. E, para o comprador, o crédito de carbono gerado também é mais interessante. Por trás de projetos de carbono oriundos da silvicultura de espécies nativas, há vários benefícios adicionais: valorização da flora nacional; valorização da propriedade rural; geração de trabalho e renda; redução da pressão em florestas primárias; preservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, especialmente se o plantio for de várias espécies nativas combinadas. Quanto mais diverso, mais bonito fica o projeto, e mais atrativo o crédito de carbono, tanto do ponto de vista do valor quanto da liquidez. Algumas espécies nativas com melhores resultados até o momento são o jequitibá-rosa, o paricá, o louro-pardo, o araribá, o louro-freijó, o mogno, o cedro rosa, o guanandi, o jacarandá, a tatajuba e os ipês. Já entre as espécies nativas de produtos não madeireiros, estão o cacaueiro, o açaizeiro, a macaúba, a erva-mate, o cumaru, a candeia, a araucária e a palmeira juçara. Ao combinar espécies madeireiras de ciclo curto e ciclo longo, e também não madeireiras, diversificam-se e distribuem-se as fontes

de renda ao longo do tempo do projeto. A silvicultura de espécies nativas mostra-se uma boa estratégia para alavancar projetos de carbono ARR (Afforestation, Reforestation and Restoration), pois nem sempre os créditos de carbono cobrem todo o custo da restauração. E o Brasil possui compromissos internacionais a cumprir, entre eles restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, além do objetivo de implantar a agricultura de baixo carbono em outros 10 milhões de hectares, metade em sistemas agrícolas integrados e metade em recuperação de pastagens. Estudos indicam, aliás, que cerca de 100 milhões de hectares de pastagens apresentam algum estágio de degradação, comprometendo a produtividade das propriedades e a imagem do agronegócio brasileiro. Créditos de carbono também podem ser gerados através de Sistemas Agroflorestais (SAF) baseados em espécies nativas implantados em áreas de restauração. De acordo com o estudo da Coalizão, um modelo de SAF tem potencial de remover 6,7 tCO2eq/ha/ano. Além disso, ajuda a aumentar e diversificar a renda dos agricultores. Outra possibilidade são os sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta, desde que o sistema em seu estágio de maturidade seja capaz de atingir a definição nacional de floresta, ou seja, altura média mínima de 5 metros e cobertura de copa superior a 30%. Uma economia de baixo carbono, que combina uso de produtos de baixa emissão e silvicultura para a recuperação de terras e produção de madeira, poderia tornar o Brasil um dos principais produtores de madeira do mundo. Segundo o Projeto Verena (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas), o País chegaria a uma produção anual de 1 bilhão de metros cúbicos de madeira – 13% do suprimento global de madeira, contra 8% se mantivermos o cenário atual. A silvicultura, especialmente a de nativas, assim como o manejo de florestas nativas, tem o potencial de oferecer um leque extraordinário de soluções climáticas naturais (SCN) ou soluções baseadas na natureza (SbN), capazes de auxiliar no enfrentamento das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global. Esse é o cerne da programação do 9º Congresso Florestal Brasileiro (https://congressoflorestal-cfb.com.br/), que ocorre de 12 a 15 de julho de 2022. É uma oportunidade para discutir temas como o deste artigo com profissionais da área florestal e correlatas, pesquisadores e educadores, empresários e representantes do poder público e do terceiro setor. n

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Q

Índice

consultores e especialistas

carbono e

preservação florestal

O tema carbono tem ganhado cada vez mais relevância nos últimos anos, mas ainda faltam ações concretas por parte dos países e das empresas para reduzir suas emissões. Compromissos voluntários foram assumidos pelos países para reduzir suas emissões. Empresas divulgam metas de zerar suas emissões até 2030 ou 2050, ou seja, compromissos e metas de longo prazo, faltando ainda demonstrar qual o plano de ação para que essa redução seja atingida.

Quando falamos das emissões brasileiras, o ponto que mais chama atenção no mundo é a questão do desmatamento. Nossas metas podem ser atingidas através da redução do desmatamento, ou da preservação florestal, mas o histórico nacional tem mostrado que somente leis e códigos não são suficientes para conter o desmatamento. Não se preserva uma floresta somente por uma lei ou a criação de áreas de reserva ou preservação permanente. A pressão econômica vai continuar existindo e, em consequência disso, o desmatamento. Se é necessário preservar e manter, quem paga os custos dessa obrigatoriedade? A preservação florestal tem um custo para o dono dessa área, seja ele privado, pessoa física ou público. Quais os mecanismos para viabilizar que as leis e os códigos sejam cumpridos? Felizmente, existem empresas e pessoas físicas que têm interesse na conservação florestal e até buscam meios de financiar essa iniciativa.

vimos protocolos, projetos e modelos para redução de emissões, mas nunca algo que enxergasse a realidade brasileira com o potencial florestal que temos; não faz sentido ficarmos sujeitos a padrões internacionais que não foram desenvolvidos com a nossa realidade. "

Fabian Peres Gonçalves

Gerente de Sustentabilidade da SGS Análise e Ensaios

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Opiniões No Brasil, já existe projeto que mede e contabiliza todo o benefício de uma floresta, que não é só carbono; existem outros componentes, como biodiversidade, fluxo hidrológico, questões sociais, que estão relacionados à floresta. Tudo isso já é medido e contabilizado na forma de carbono; dessa forma, os entes públicos e privados podem compensar seu impacto ambiental, ou seja, toda a sua emissão de carbono através da conservação florestal. O potencial do Brasil em ajudar o mundo na redução das emissões é enorme: temos as florestas, temos como medir e contabilizar o benefício da floresta e, assim, disponibilizar para que as empresas e pessoas possam compensar suas emissões. Se somos tão cobrados mundialmente sobre o desmatamento, é justo que as florestas sejam tratadas como uma atividade agrícola, e que seja remunerada por isso, para garantir sua preservação. A certificação se torna algo essencial nesse processo todo, porque é através dela que é possível rastrear a área preservada e corresponder à pegada ambiental das empresas. A certificação traz transparência para a empresa que fez o investimento equivalente à sua pegada ambiental, suas emissões, que se converteu em remuneração às pessoas que se dedicaram à preservação da floresta, possibilitando a produção dos benefícios ambientais, retorno social e financeiro através das riquezas naturais protegidas e preservadas. Um processo de certificação também serve para rastrear a área preservada correspondente à pegada ambiental das empresas e ainda contabilizar os benefícios para o meio ambiente. Ainda no cenário brasileiro, em outubro de 2021, foi regulamentada a Lei 13.986, de 2020, por meio do decreto Nº 10.828, de emissão de Cédulas de Produto Rural (CPR) de conservação de floresta nativa, conhecida como CPR Verde. Recentemente, em 2022, a B3 foi a pioneira no registro de uma CPR-Verde. Essa movimentação entregou o produto da conservação de florestas pela UCS – Unidade de Crédito de Sustentabilidade, no qual 1 UCS equivale a 1tCO2eq. Isso é uma inovação no cenário brasileiro, significa que, oficialmente, a conservação florestal é reconhecida como uma atividade agrícola.

A preservação florestal passa a ser uma realidade além de obrigação legal, algo realmente palpável, onde os dois lados ganham: quem adquire uma CPR-Verde através de UCS para compensar seu impacto ambiental, suas emissões, e quem recebe para preservar a floresta – e o ciclo se completa. Até o momento, já vimos diversos protocolos, projetos e modelos para redução de emissões, mas nunca algo realmente efetivo e que enxergasse a realidade brasileira com o potencial florestal que temos; não faz sentido ficarmos sujeitos a padrões e modelos internacionais que não foram desenvolvidos ou estudados com a nossa realidade. Projetos como esse viabilizam a preservação de florestas ao gerar condições econômicas aos produtores rurais de preservar e manter suas áreas de RLs – Reservas Legais, e APPs – Áreas de Proteção Permanente; também os próprios governos e entes públicos com suas unidades de conservação passam a gerar riqueza. Segundo o Net Zero Standard do Science Based Targets, “No curto prazo, empresas devem fazer investimentos além de suas cadeias de valor, por exemplo, uma empresa pode fornecer apoio anual a projetos, programas e soluções que fornecem benefícios quantificáveis para o clima, especialmente aquelas que geram cobenefícios para as pessoas e a natureza. [...] Empresas devem priorizar a proteção aos estoques de carbono (terrestres, costeiros e marinho, etc.) para evitar as emissões que surgem de sua degradação. Há também necessidade de as empresas investirem em GEE nascente de tecnologias de remoção”. Num cenário em que se fala do cumprimento de metas “Net Zero”, nossas florestas estão aí disponíveis para serem contabilizadas não só em carbono, mas em todos os seus benefícios, sua biodiversidade, questões sociais, sendo uma solução extremamente eficiente para empresas e governos. Esse registro da primeira CPR-Verde no Brasil nos coloca numa posição de protagonismo na emissão de títulos verdes e sustentáveis de conservação florestal. Esperamos que essa iniciativa possa ser expandida, tornando a floresta um tesouro brasileiro, que será preservado. n

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a m i x o ó Pr içã ed

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anuário de sustentabilidade

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