
10 minute read
Fábio Luís Brun, RMS
Índice produtores de florestas silvicultura: o futuro que plantamos hoje
A COP26, da qual nós da CMPC participamos no ano passado, trouxe o sentido de urgência com que as questões da sustentabilidade e do controle de geração de gases do efeito estufa (GEE) devem ser tratadas. Se, na primeira cúpula do clima, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, havia um clima de otimismo, 30 anos depois, a sensação é de que ainda precisamos fazer o dever de casa.
Mas a verdade é que é hoje que se constrói o amanhã. As metas de controle de emissões deixaram de ser para o futuro e precisam ser aplicadas agora, para garantir que o planeta consiga se recuperar de todo o passivo existente, principalmente aquele gerado pela humanidade no último século. Não cabe apenas esperar que os governos tomem as rédeas das situações, pois, na esfera pública, as medidas tendem a expressar uma mudança de longo prazo.
Estamos em um ponto em que todos temos nossa parcela de responsabilidade e devemos tomar atitudes práticas para ser parte da solução. Para isso, o primeiro passo é refletir sobre os compromissos do homem com os recursos naturais, sobre uma nova maneira de fazer negócios e, especialmente, sobre um novo jeito de consumir, buscando produtos que gerem a menor interferência possível no meio ambiente.
Falando sobre a perspectiva da empresa, é preciso implantar muita inteligência aos processos, para que as estruturas produtivas (novas ou mais antigas) visem ao uso racional dos recursos oriundos do planeta, como água, energia e matérias-primas para o consumo. Nesse sentido, o setor de celulose assume um papel de referência, seja pelos estudos e investimentos consistentes que promove sobre melhoria de processos, seja pela matéria-prima renovável que, cada vez mais, se torna uma alternativa viável para os mais diferentes usos em nosso dia a dia.
Em todo esse debate sobre emissões de carbono, aquecimento global e consumo consciente, um tema surge, em paralelo, como um grande aliado na construção de um futuro sustentável: a silvicultura. Essa prática tem se mostrado uma das maiores parceiras para frear a ação dos gases de efeito estufa. O cultivo de árvores plantadas se apresenta como uma iniciativa eficaz para estimular a criação de produtos originários de fontes renováveis, além de ser responsável pela retirada de gás carbônico em grandes quantidades da atmosfera. Isso posiciona os players da bioeconomia como matrizes industriais Carbono Negativo.
Mauricio Harger
Diretor-geral da CMPC no Brasil
Segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o Brasil possui 9 milhões de hectares plantados de eucalipto, pínus e demais espécies para a produção de celulose, papel, painéis de madeira, pisos laminados, produção energética e biomassa. Essas árvores são responsáveis por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País.
Esses 9 milhões de árvores plantadas retiram da atmosfera 1,88 bilhão de toneladas de CO2eq (medida métrica utilizada para comparar as emissões dos vários gases de efeito estufa, baseada no potencial de aquecimento global de cada um).
No Rio Grande do Sul, a CMPC contabiliza 472 mil hectares de base florestal, sendo que 199 mil hectares são exclusivamente de área de conservação. Em termos de captura de carbono da atmosfera, as florestas plantadas da empresa são responsáveis por retirar 6,8 milhões de toneladas de gás carbônico do ar. Para se ter uma dimensão do que representa esse dado e da força da silvicultura no combate ao GEE, em 2021, o transporte terrestre de Porto Alegre foi responsável pela emissão de 1,2 milhão de toneladas de carbono. Os números revelam que a base florestal produtiva da CMPC capturou, no mesmo período, cinco vezes mais GEE do que as emissões totais realizadas por veículos na capital gaúcha.
Fomento florestal: Em janeiro, lançamos o programa de fomento florestal RS+Renda, com o objetivo de estimular a bioeconomia e a silvicultura no Rio Grande do Sul por meio da produção de eucalipto. Com a iniciativa, os produtores rurais e donos de terras participantes passam a integrar a cadeia produtiva da companhia, tendo a oportunidade de diversificar sua produção e obter uma nova fonte de receita, tendo a CMPC como uma garantidora da compra da madeira. Nossa ideia não é substituir culturas já consolidadas no estado, mas mostrar que é possível realizar uma nova prática por meio do cultivo sustentável e incentivar um melhor aproveitamento da propriedade rural, já que o eucalipto se mostra como um tipo de plantio muito resiliente aos diferentes tipos de terra.
A iniciativa, que irá abranger mais de 70 municípios gaúchos, ainda oferece suporte para a elaboração e implementação dos Planos de Recuperação de Áreas Degradadas (PRADs), vinculados ao Cadastro Ambiental Rural (CAR). Iniciamos, neste mês, um ciclo de palestras itinerantes com o corpo técnico da CMPC pelas cidades contempladas pelo RS+Renda, para apresentar o programa e tirar as dúvidas dos produtores rurais. Projetamos que, até o final de 2022, teremos aumentado nossa base florestal em 15 mil hectares.
Conservação: Conservar é uma prática que faz parte do propósito da CMPC. Um exemplo disso é a propriedade e gestão da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estadual Barba Negra, situada entre a Laguna dos Patos e o Lago Guaíba, a aproximadamente 89 km de Porto Alegre. Uma RPPN é uma unidade de conservação criada e mantida por empresas ou proprietários rurais, que carregam por vocação a preservação da diversidade biológica, fauna e flora locais.
A RPPN Barba Negra tem cerca de 55 km de extensão, com 2.380 hectares, onde são realizadas atividades como mapeamento, monitoramento, pesquisa, proteção e fiscalização. Atualmente, mais de 800 hectares de vegetação já estão em estágio avançado de regeneração, devido a práticas sustentáveis de recuperação desenvolvidas pela companhia e executadas em parceria com o Ibama e a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Uma das atividades realizadas na reserva e que tem apresentado muitos resultados na restauração de áreas degradadas é a colheita de mudas nascidas nos sub-bosques dos talhões comerciais de eucaliptos. Essas pequenas plantas passam por um período de manejo, em que são transportadas para um viveiro, catalogadas e tratadas até estarem prontas para o novo plantio.
Depois de já adaptadas às condições locais, são reinseridas nas localidades a serem restauradas. Todo esse processo se baseia no potencial de autorregeneração da natureza e na técnica que se vale do paradigma da sucessão. Atualmente, aproximadamente 80% do total de mudas plantadas pela CMPC nas localidades em regiões a serem restauradas são fruto desse projeto.
A prática da silvicultura tem um papel fantástico no mundo atual: ser uma balizadora da construção do futuro. Seja o plantio produtivo ou nativo, eles se mostram, cada vez mais, como algumas das principais ferramentas que o homem tem para frear e estabilizar o aquecimento global. A nós, empresas representantes da bioeconomia, fica a responsabilidade de liderar um movimento silencioso (ou não) de mudança de estruturas produtivas e modelos de consumo da sociedade. E você, qual o seu papel na construção desse futuro? n
Índice produtores de florestas então, inventou-se a árvore !
Com o contínuo progresso do interesse humano em resolver, ou pelo menos mitigar, o aparentemente crescente problema do desbalanço entre emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera e sua eventual captura, surgem alternativas cada vez mais criativas para se enfrentar esse desafio.
Recentemente, tive a oportunidade de ler um artigo que tratava do tema onde a hipótese principal para uma possível solução para o problema seria por intermédio da adoção de uma tecnologia de captura direta do CO2 da atmosfera. O princípio básico propõe que o CO2 seja colocado em contato com um material sólido ou líquido (hidróxido de potássio, por exemplo) ao qual ele se liga quimicamente. Esse material resultante é, então, processado, geralmente com grande dispêndio de energia, para extrair o carbono capturado e purificá-lo. Como essa etapa consome muita energia, a premissa é que ela também seja integralmente gerada por fontes renováveis, de modo que pouca ou nenhuma emissão adicional seja criada pelo processo. Já há diversas empresas desenvolvendo tecnologias de captura direta de carbono do ar, como a Carbon Engineering, no Canadá, a Climeworks, na Suíça, e a Global Thermostat, nos Estados Unidos.
No entanto a captura de carbono é um desafio duplo. Primeiro, há a necessidade de se capturar o dióxido de carbono, seja diretamente da atmosfera ou de fontes de emissões. Em seguida, há que se colocar em algum lugar que irá armazená-lo com segurança pelo maior tempo possível.
Uma alternativa, segundo o artigo, é que o carbono seja enterrado. E uma possibilidade, para tanto, seria enterrá-lo em rochas capazes de absorver esse dióxido de carbono, como aquelas com alto teor de magnésio. Infelizmente, enterrar carbono não é necessariamente um processo barato e muito menos lucrativo. Uma estimativa de 2021 para o custo do uso de uma tecnologia de captura direta do ar em escala comercial era de cerca de US$ 600 por tonelada. E, muito embora enterrar o carbono atinja o objetivo final de removê-lo permanentemente de circulação, pelo menos em um período de tempo geológico, esse também não parece ser um empreendimento particularmente lucrativo. Justificável, talvez, caso créditos de carbono tenham um preço suficientemente alto para fechar a equação.
Para os profissionais florestais leitores do artigo desta revista, e que aguentaram até este parágrafo, o óbvio ululante é que isso tudo já
Fábio Luís Brun
Diretor-presidente da RMS do Brasil

INVENTEI UM PRODUTO ECONÔMICO PARA RETIRAR CO2 DO AR E TRANSFORMÁ-LO EM MATERIAL DE CONSTRUÇÃO. ENTÃO... VOCÊ INVENTOU UMA ÁRVORE?

DILBERT, Scott Adams.
A madeira e outras biomassas florestais derivadas de florestas manejadas podem ser queimadas para energia, e a madeira serrada pode ser usada na construção para reduzir as emissões de carbono da indústria do cimento e do aço. A celulose originária de florestas de produção comercial pode ser convertida em produtos que substituem os produtos plásticos à base de petróleo.
acontece naturalmente e faz parte do cotidiano mais ordinário do produtor florestal. O fato (ironicamente expresso na tirinha do Scott Adams) é que árvores já são as sequestradoras naturais de carbono. Cerca de metade da massa de uma única árvore é constituída de carbono puro.
Ainda que resultados de alguns estudos indiquem que uma boa maneira de mitigar a mudança climática através do manejo florestal seja deixar as florestas crescerem e acumularem carbono em biomassa viva e matéria orgânica morta, a realidade é que o manejo florestal para benefícios climáticos, a chamada “silvicultura de carbono”, tem a capacidade de entregar exatamente o resultado que as tecnologias de captura direta de CO2 propõem, mas com apenas uma fração do dispêndio de energia e com o adicional de, em muitos casos, já solucionar o problema da destinação do carbono eventualmente fixado.
Florestas de produção devem ser usadas para maximizar seus benefícios climáticos, uma vez que o uso de produtos de madeira pode reduzir as emissões de carbono de combustíveis fósseis.
E, ironicamente, concentrações mais altas de CO2 podem inclusive aumentar o crescimento florestal, num fenômeno conhecido por “fertilização por CO2”. Há evidências de que plantas já estão produzindo mais biomassa em resposta ao aumento da disponibilidade de CO2 na atmosfera.
Embora a captura de carbono nas árvores seja um processo natural, existem maneiras de incentivar as árvores a sequestrar mais carbono, através do manejo florestal de florestas plantadas. A estratégia talvez mais importante seja a de manter as áreas de produção florestal viáveis como tal. A prática da produção florestal sustentável é essencial para garantir que as florestas permaneçam lucrativas, saudáveis e “sumidouros” efetivos de carbono. Os gestores profissionais florestais são componentes importantes no processo ao garantir aos investidores e proprietários florestais o atingimento dos seus múltiplos objetivos financeiros e de manejo, conservando o valor de seus povoamentos, uma vez que florestas produtivas que mantêm seu valor são mais propensas a permanecer como florestas produtivas no futuro. n
Como as árvores estocam carbono
Entenda como funciona o processo essencial para o equilíbrio ambiental
50%
de uma planta é CARBONO
+ CO2 + Água
Energia:
Fotossíntese (energia)
Energia circula pela planta: mantém as funções vitais

Glicose (açúcares que fornecem energia) Além disso: energia mantém funções vitais, crescimento e investimento em estruturas (estoque)
ESTOQUE DE BIOMASSA: estrutura que é a madeira, principalmente
e deste percentual:
2%
do carbono está nas folhas
18%
nas raízes
80%
nos troncos e galhos