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Plataforma Digital Multimídia da Revista Opiniões
índice
EDITORIAL DE ABERTURA:
10: Plinio Mário Nastari, Datagro
POLÍTICAS PÚBLICAS:
14: Evandro Gussi, Unica
HIDROGÊNIO VERDE:
16: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Abag e Canaplan
VEÍCULOS HÍBRIDOS:
20: Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, Alta Mogiana
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA:
24: Jucelino Oliveira de Sousa, Bevap
A INTERNACIONALIZAÇÃO DO ETANOL COMBUSTÍVEL:
30: Bento Albuquerque, Consultor em Defesa, Energergia e Mineração
32: Eduardo Leão de Sousa, Unica
SISTEMA BIOENERGÉTICO BRASILEIRO:
34: Heloisa Borges Bastos Esteves, EPE
MACROVISÃO ESTRATÉGICA:
38: Alexandre Enrico Silva Figliolino, MB-Agro e XP
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E ECONOMIA CIRCULAR:
42: Luciano Rodrigues, UNICA e FGV/EESP
BIOECONOMIA CIRCULAR:
44: Heloisa Lee Burnquist, Esalq-USP
MERCADO DE COMBUSTÍVEIS:
48: Martinho Seiiti Ono, SCA
52: Tarcilo Ricardo Rodrigues, Bioagência
PRODUTORES DO SISTEMA BIOENERGÉTICO:
56: Hugo Cagno Filho, Vertente e UDOP
60: Pedro Robério de Melo Nogueira, Sindaçúcar-AL
64: Mário Campos Filho, Fórum Nacional Sucroenergético e Siamig
68: Antonio Cesar Salibe, UDOP
70: Silvio Cézar Pereira Rangel, FIEMT e Sindicato de Bioenergia de MT
você tiver na estrada ��
Na sua próxima viagem de carro, pegue seu celular, entre no site da Revista Opiniões, escolha a edição recente desejada, folheie até esta página, ligue o rádio do seu carro, toque na foto do autor escolhido e ouça o primeiro artigo pelos controles do rádio do seu carro. Quando terminar, toque no segundo autor e assim por diante. Quando chegar no seu destino, provavelmente terá ouvido toda a revista.
Se desejar ouvir o artigo numa outra língua, lido com voz nativa, localize o artigo desejado e toque na bandeira da língua que preferir. Além do português, estão à sua disposição os áudios em inglês, espanhol, francês e alemão. Pelo fato do artigo ser traduzido e lido por robôs, poderá haver pequenas imperfeições. É lógico que você não precisa viajar para desfrutar desse conforto.
O sistema também funcionará na sua mesa de trabalho, andando no parque, na esteira da academia, nas ruas congestionadas da cidade grande ou no sofá da sua Casa.
Boa leitura ou boa audição, como preferir.
ARTICULISTAS DESTA EDIÇÃO:
01: Plinio Mário Nastari, Datagro
02: Evandro Gussi, Unica
03: Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio, Abag e Canaplan
04: Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, Alta Mogiana
05: Jucelino Oliveira de Sousa, Bevap
06: Bento Albuquerque, Consultor em Defesa, Energia e Mineração
07: Eduardo Leão de Sousa, Unica
08: Heloisa Borges Bastos Esteves, EPE
09: Alexandre Enrico Silva Figliolino, MB-Agro e XP
10: Luciano Rodrigues, UNICA e FGV/EESP
11: Heloisa Lee Burnquist, Esalq-USP
12: Martinho Seiiti Ono, SCA
13: Tarcilo Ricardo Rodrigues, Bioagência
14: Hugo Cagno Filho, Vertente e UDOP
15: Pedro Robério de Melo Nogueira, Sindaçúcar-AL
16: Mário Campos Filho, Fórum Nacional Sucroenergético e Siamig
17: Antonio Cesar Salibe, UDOP
18: Silvio Cézar Pereira Rangel, FIEMT e Sindicato de Bioenergia de MT
milagre, tem tecnologia !
Essa é a solução ideal para áreas com produtividade abaixo de 60 toneladas por hectare. A lógica é muito simples. A operação é aplicada em ruas alternadas. O equipamento faz o corte da cana de ambas as ruas e empurra a cana cortada para as duas ruas laterais.
O trabalho a ser feito pela colhedora passa a ser: cortar da rua que ainda está de pé e recolher, na mesma operação, a cana já cortada pelo equipamento CORT-I-CANA, que recebeu o apelido muito próprio de "engordador de rua".
Esta operação reduz o trabalho da colhedora pela metade, colocando o dobro da cana no elevador. Outra vantagem: para fazer o posicionamento de retorno, a colhedora passa a ter um raio de curva 3 vezes maior, reduzindo o número de manobras, o tempo, a complexidade dos movimentos e o pisoteio. Em função da sua produtividade, um "engordador " atende a duas colheitaderas. Assim, seu uso dobra ou triplica a massa de cana colhida.
O CORT-I-CANA, copia o relevo do solo – independente da ação do operador –permitindo corte bem rasos, e auxilia na abertura de aceiros de colheita evitando o esmagamento da cana. O TCH limite para adensamento passa a depender da capabilidade da colhedora, pois a mesma passará a enfrentar um canavial com TCH dobrado. O uso de tratores com piloto automático facilitará sobremaneira a operação em áreas georeferenciadas.
Temos agora também uma opção para o adensamento de 4 ruas em espaço alternado. O que você acha da ideia de ligar agora para a FCN e pedir uma visita? Se desejar se adiantar, solicite o envio de uma Planilha de Pay-back pelo e-mail Felix@fcntecnologia.com.br. Agora, aperte o botão do Play da página ao lado e assista ao vídeo que mostra a CORT-I-CANA em ação.
Aguardamos seu contato.
O que pode ser mais agradável para um produtor do que ouvir a seguinte frase:
" Você pode dobrar a sua produção e baixar seus custos pela metade
"
a importância de uma visão estratégica
A indústria do açúcar é a mais antiga do Brasil e evoluiu muito com a crescente diversificação na direção do etanol, a partir da década de 1970, e posterior aproveitamento da bioeletricidade. Outros aproveitamentos da considerável energia contida na cana têm sido desenvolvidos com o etanol de segunda geração, a biodigestão de resíduos, a peletização do bagaço, o aproveitamento da levedura, a transformação do etanol em produtos químicos e plásticos e a captura de dióxido de carbono biogênico.
É impressionante que o setor tenha atingido a sua dimensão e importância, visto que, até pouco tempo, não dispunha de uma regulação que indicasse uma meta de desenvolvimento de longo prazo. Toda a expansão ocorreu por conta de um espírito empreendedor que motivou o aproveitamento de pastagens que geravam pouca renda para a produção de cana e a instalação de usinas para o seu processamento.
A dimensão atingida está relacionada à acumulação de capital obtida por essa diversificação e é resultado dela, o que a distingue de indústrias equivalentes de outros países. Foi por causa dessa expansão que o etanol atingiu uma participação de 48,4% no consumo de combustíveis do ciclo Otto em gasolina equivalente, em 2019 (participação que caiu para 41,9%, em 2022), e que a eletricidade de biomassa atingiu 4,4% de toda a geração elétrica em 2022, contribuindo para a invejável marca de 92,0% de geração elétrica renovável nesse ano.
A regulação que resolveu a deficiência de uma meta de longo prazo foi o RenovaBio, aprovado através da Lei
13.576, de 2017, regulamentado por vários decretos e resoluções da ANP e implementado, em termos práticos, a partir de abril de 2020. Através de metas de descarbonização aprovadas e renovadas sempre para os 10 anos a seguir, o RenovaBio passou a oferecer esse direcionamento.
Na prática, entretanto, desde a safra 2010/11, a oferta de açúcares totais recuperados (ATR) do setor encontra-se praticamente estagnada na faixa de 87 a 94,4 milhões de toneladas, com uma moagem de cana, em todo o Brasil, entre 600 e 670 milhões de toneladas. São mais de 12 anos de virtual estagnação. Não que o setor tenha ficado parado. Investimentos foram feitos para aumentar a flexibilidade industrial para a produção de açúcar ou etanol e de etanol hidratado ou anidro, e, em alguns poucos casos, diversificações para etanol 2G e biogás/biometano.
Em verdade, à oferta de etanol produzido a partir da cana, vêm se somando volumes crescentes de etanol produzido a partir do milho, que tem dado suporte à manutenção e, em alguns momentos, expansão do uso do etanol no mercado de combustíveis do ciclo Otto. Isso tem ocorrido de forma relativamente rápida. Em 2015/16, a produção de etanol de milho passou de apenas 141 milhões de litros, para, em 2022/23, atingir a marca de 4,6 bilhões de litros de etanol de milho. Até 2031/32, projetos em andamento e em fase de planejamento projetam uma produção de etanol de milho de 9,65 bilhões de litros por ano.
A expansão do etanol de milho, em usinas dedicadas ou anexas a plantas de processamento de cana, é virtuosa, pois agrega valor ao grão, gera subproduto de alto valor proteico (DDGS) e óleo que impulsionam a intensificação da pecuária, liberando áreas de pastagem para expansão da agricultura, permitindo a geração de produtos de maior valor e menor impacto logístico.
No entanto, no setor de cana, têm sido muito poucas as iniciativas no sentido de materializar investimentos adicionais em moagem ou difusão da cana. Têm ocorrido, sim, operações de fusão e aquisição de ativos que se encontravam paralisados por conta de crises anteriores, em particular a mais recente, de 2011 a 2014, advinda do controle de preços sobre a gasolina, algo que já havia acontecido no período de 1985 a 1989, mas muito poucos investimentos adicionais.
Novos investimentos em expansão não têm ocorrido, mesmo tendo havido a aprovação e plena vigência atual de metas de descarbonização do RenovaBio aprovadas até 2032, que projetam uma demanda de 99,22 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2e) por ano, com uma variação já admitida entre 90,79 e 107,72 milhões de tCO2e por ano.
Vale lembrar que a meta aprovada para 2023 é de 37,50 milhões de tCO2e, e que, em 2022, foram gerados 31,448 milhões de tCO2e, com vendas basicamente de etanol e biodiesel, embora ainda haja potencial para biogás/biometano e bioquerosene. Considerando que a cana-de-açúcar tem, no Brasil, um ciclo de produção médio de 5 a 6 anos, estamos distantes pouco mais de um ciclo de cana do atingimento do período em que essas metas precisariam estar sendo cumpridas.
Portanto, mesmo com uma regulação eficiente em vigor, não têm sido geradas as condições para viabilizar ou estimular investimentos privados que possam atingir essas metas.
Uma das explicações pode estar na própria reação do governo que, em 2022, reagiu ao atingimento do preço do crédito de descarbonização (CBIO) ao alcançar valores que ultrapassaram R$ 200 por tCO2e. Embora esse valor fosse ainda muito distante de valores observados em mercados similares de carbono, como a Califórnia, onde se superaram US$ 200 por tCO2, ou à União Europeia, onde se chegou a mais de US$ 85 por tCO2e, o governo brasileiro, durante a última administração federal, mostrou que não estava disposto a admitir valores de tal magnitude, desvirtuando o programa RenovaBio com alterações de sua regra básica e metas.
Para o RenovaBio funcionar em sua plenitude, seria preciso que, uma vez definida e aprovada a meta de descarbonização, o valor do CBIO fosse aquele necessário e suficiente para estimular novos investimentos. Não foi isso que se verificou na prática, pois o governo preferiu priorizar o impacto no preço do combustível fóssil ao consumidor no curto prazo, no lugar da possibilidade de atingir a sua própria meta de longo prazo.
O preço do CBIO deveria também cobrir o obstáculo a novos investimentos, que é gerado pela elevada taxa de juros real, que também inibe investimentos.
A verdade é que, mesmo com a aprovação de uma regulação eficiente e moderna como o RenovaBio, a falta de uma clara visão estratégica de longo prazo tem impedido a sua eficácia como mecanismo indutor de planejamento. Essa mesma falta de visão estratégica tem impedido uma expansão mais vigorosa da geração elétrica de biomassa. Seus atributos positivos são inúmeros, como o fato de ser energia firme e não intermitente como as energias ;
Plinio Mário Nastari Presidente da Datagroa falta de visão estratégica tem impedido uma expansão da geração elétrica de biomassa.
Seus atributos positivos são inúmeros, como o fato de ser energia firme e não intermi tente como as energias eólica e solar fotovoltaica"
eólica e solar fotovoltaica, embora sendo sazonal, mas com sazonalidade benéfica e favorável ao planejamento do setor elétrico.
Ou o fato de ser gerada próxima aos centros de carga (próxima às cidades), poupando investimentos em linhas de transmissão e perdas de transmissão estimadas no Brasil em cerca de 11% do consumo total. É gerada no período de inverno, complementando com perfeição o regime de geração do nosso enorme parque hidroelétrico, responsável por 72,1% de toda a geração elétrica do País em 2022, elevando a base de geração do sistema hidroelétrico sem que fossem necessários novos investimentos.
A energia de biomassa gerada principalmente nos meses de inverno, quando ocorre a colheita da cana na principal região produtora do País, portanto valiosa por sua sazonalidade, recebe uma tarifa que varia em torno de R$ 260 a 320 por MWh. Enquanto isso, o sistema elétrico interligado remunera usinas térmicas movidas a energia fóssil ─ em muitos casos, óleo diesel importado, que onera a balança comercial e gera emissões de gases do efeito estufa a tarifas acima de R$ 1.800 por MWh.
A mesma falta de visão estratégica que interfere no RenovaBio, não permitindo que o programa cumpra o proposito para o qual foi criado, também não reconhece o valor da energia elétrica de biomassa que poderia estar sendo gerada com caldeiras mais eficientes e modernas em usinas de cana-de-açúcar, reduzindo o custo de fabricação do açúcar e do etanol, tornando-os mais competitivos para os consumidores, gerando mais créditos de descarbonização e mais possibilidades de cumprimento de metas ambientais pelo País. Caso houvesse essa visão estratégica, deveriam estar sendo criadas linhas especiais de financiamento através de bancos de fomento, como o BNDES e outros, para impulsionar o aproveitamento desse potencial hoje desperdiçado.
A falta de visão estratégica impede também que se enxergue e reconheça que o Brasil desenvolveu, nas últimas décadas, uma tecnologia automotiva eficiente, utilizando biocombustíveis, que permite ao País dispor do veículo de menor emissão de CO2e em todo o mundo, na avaliação do ciclo de vida. Em realidade, o Brasil possui todas as condições de se posicionar como supridor de tecnologia de mobilidade sustentável para o mundo, como está fazendo, neste momento, para a Índia. Nas últimas quatro décadas, o Brasil desenvolveu uma bem-sucedida tecnologia automotiva calcada
na utilização de combustíveis líquidos de baixa pegada de carbono, capazes de utilizar eficientemente etanol e biodiesel, e já se encontra tecnologicamente pronto para deslanchar o uso de biometano em ônibus e veículos pesados, todos com muito baixa pegada de carbono. O Brasil é também um dos maiores produtores e exportadores de minério de ferro, matéria-prima básica para a produção de aço. Tem uma competente indústria local de produção de plásticos e elastômeros, inclusive com relevante produção de plásticos verdes.
Além disso, dentre as maiores economias do mundo, possui a matriz energética mais renovável, capaz de produzir aço, componentes e peças com baixa pegada de carbono que podem alavancar o processo de eletrificação com motorizações que otimizem o uso de combustíveis limpos e renováveis, acelerando a adoção de tecnologias híbridas que associam essas vantagens à adoção de uma eletrificação, que utiliza a infraestrutura já instalada de distribuição de energia na forma de combustíveis limpos. Uma tecnologia que é, ao mesmo tempo, limpa e acessível em preço para o consumidor e que permite às montadoras atingir o tão sonhado objetivo de emissão zero até 2050.
Uma política industrial alicerçada na valorização da tecnologia desenvolvida no Brasil, para produção local de veículos de baixa emissão e elevado rendimento e a exportação desse modelo de mobilidade para outros países, é uma oportunidade que o País, seus empresários e trabalhadores deveriam reconhecer, valorizar e aproveitar.
Estímulos à conversão de veículos antigos e mais poluidores, por novos com menores emissões, associados à devida reciclagem de materiais e recompensas aos consumidores pelo uso de combustíveis renováveis, poderiam recuperar e alavancar uma indústria automotiva, que é estratégica e de grande impacto para o desenvolvimento econômico e social por seu elevado efeito multiplicador.
Uma nova reindustrialização do País poderia estar sendo estimulada, caso houvesse uma visão estratégica para um planejamento integrado dos setores de energia, meio ambiente, industrial e agroindustrial e de comércio exterior. Oportunidades valiosas têm sido desperdiçadas por falta de uma visão estratégica.
No início de um novo ciclo, só podemos desejar que prevaleça o bom senso, o espírito público e o interesse geral, para que sejam criadas condições que estimulem o investimento privado nessa direção. n
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políticas públicas de tributação dos combustíveis
Há quase meio século, o economista Milton Friedman declarou, em um célebre programa de televisão dos Estados Unidos, que "a melhor maneira de lidar com a poluição era estabelecer um imposto sobre o custo dos poluentes emitidos por um carro, como incentivo para manter baixa a quantidade de poluição". Influente pensador das ciências econômicas do século XX, Friedman alicerçava ali o que, décadas mais tarde, viria a ser política instituída em diversos países, como resposta a um dos mais urgentes problemas da humanidade: a crise climática.
Em todo o mundo, a transição energética para a mobilidade de baixo carbono ocorre, principalmente, via subsídios, diferencial tributário e mercado de carbono. Muitos países têm optado pela carbon tax, um “imposto” cobrado sobre as emissões de gases que agravam o efeito estufa, precificando, assim, as externalidades negativas dos combustíveis fósseis. A ideia é impulsionar a redução das emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2eq), tendo como objetivo final desacelerar o aquecimento global em até 1,5 ºC, como pactuado no Acordo de Paris.
A Finlândia foi o primeiro país do mundo a introduzir uma “taxa de carbono”, em 1990. Posteriormente, muitos países seguiram o exemplo e introduziram suas próprias versões. Atualmente, existem 92
O uso de etanol no Brasil, e em outros países, vem contribuindo sistematicamente para a redução de emissões de CO 2 eq na atmosfera. O etanol emite até 90% menos CO2eq do que o combustível fóssil. "
Evandro Gussi Presidente da Unicainiciativas de precificação implementadas, agendadas ou em análise, segundo levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Chile, Colômbia, México, Canadá, Suíça e Japão são exemplos de países que já implementaram carbon tax , o imposto sobre carbono.
Para se ter ideia da dimensão desse mecanismo no debate internacional, em janeiro de 2019, economistas publicaram uma declaração no Wall Street Journal, dos Estados Unidos, pedindo um imposto sobre o carbono, descrevendo-o como "a alavanca mais econômica para reduzir as emissões de carbono na escala e velocidade necessárias".
Em outubro de 2021, a declaração havia sido assinada por mais de 3,6 mil economistas, incluindo 28 ganhadores do Prêmio Nobel.
A utilização de tributos parafiscais (como o carbon tax) tem inúmeros pontos positivos e merece sempre nossa atenção. No entanto, o mercado de carbono, precificando-se as emissões evitadas ou mesmo a sua captura, tem se revelado como uma maneira ainda mais eficiente de precificar externalidades, nesse caso, positivas. No Brasil, uma política de mercado de carbono teve início com o RenovaBio, a Política Nacional de Biocombustíveis, que visa expandir a produção de combustíveis renováveis, fundamentada na previsibilidade e sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Um dos instrumentos do RenovaBio é o Crédito de Descarbonização, o CBio, que oferece oportunidade de compensação de emissões para setores da economia com maior custo de mitigação. Diferente do imposto sobre o carbono, cada CBio representa uma tonelada de CO2eq que deixou de ser emitida graças à substituição de combustíveis fósseis. Essa substituição ocorre, por exemplo, com a opção pelo etanol em vez da gasolina no abastecimento do veículo.
O uso de etanol no Brasil, e em outros países, vem contribuindo sistematicamente para a redução de emissões de CO2eq na atmosfera. O etanol emite até 90% menos CO2eq do que o combustível fóssil. Desde que a tecnologia flex foi lançada no Brasil, em 2003, aproximadamente 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono deixaram de ser lançadas na atmosfera, impactando positivamente a saúde de milhões de pessoas e o meio ambiente.
Uma forma de fomentar a escolha pelo substituto renovável é garantir a competividade dos biocombustíveis por meio de instrumentos fiscais. São conhecidos os impactos positivos da diferenciação de tributos no estado de São Paulo, onde foi instituída a política de alíquotas de ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias) diferenciadas para gasolina C (25%) e etanol hidratado (12%). A opção pelo biocombustível proporcionou, entre outras positividades, uma bem-sucedida experiência para o controle das emissões de poluentes na cidade de São Paulo, quarta maior do mundo, que contabiliza baixos índices de poluição atmosférica, segundo a plataforma internacional IQAir.
Sob essa perspectiva, o Congresso Nacional aprovou, em julho de 2022, a Emenda Constitucional 123, que altera o Artigo 225 da Constituição, para estabelecer um regime fiscal diferenciado para os biocombustíveis. A decisão veio em resposta à medida, na contramão do mundo comprometido com a sustentabilidade, que zerou os tributos dos combustíveis até 31 de dezembro de 2022, período reconhecido juridicamente como “estado de emergência”. Após esse prazo, estaria vedada a fixação de alíquotas sobre a gasolina e o etanol em percentual superior ao vigente quando da publicação da regra. Prorrogações da medida seriam inconstitucionais.
Ao fixar o diferencial tributário para biocombustíveis, os legisladores corrigem possíveis distorções de mercado, incoerentes com o compromisso com energias de baixo carbono, promovendo um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
De acordo com o Artigo 225 da Constituição Federal, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. É disso que se trata.
Quase meio século depois de Friedman, a quem cabe a conta ambiental dos agentes poluidores está no cerne dos debates sobre transição energética. Obviamente não existe um modelo único, e a escolha da rota mais adequada para cada país está sujeita a uma série de fatores, como as características produtivas, o perfil da matriz energética, a aceitabilidade política da medida, o apoio da sociedade e a sinalização dos impactos nos indicadores socioeconômicos, além da situação fiscal em que o país se encontra.
Mas uma coisa é certa: a precificação de carbono é uma ferramenta muito importante para o cumprimento das metas do Acordo de Paris. E, para além dos benefícios ambientais, pode criar um ecossistema fiscal para os governos, incentivando o desenvolvimento de diversos setores da economia, com geração de emprego e renda no País. Temos, no Brasil, um enorme potencial para fazer negócios, descarbonizando. E queremos descarbonizar, fazendo negócios. n
estabilidade e confiança nas políticas públicas
“O tempo não é renovável”
Autor desconhecido
O campeão mundial da biomassa competitiva é o Brasil. Várias safras na mesma área, no mesmo ano! Crescimento anual de 3%, em produtividade, é muito inspirador.
Nessa Copa do mundo de competitividade, os juízes são selecionados de acordo com os interesses dos países europeus, com alguns de outros países ricos (e não tem VAR). Aos emergentes, essas regras são no sentido de proteção aos mais ricos para que prosperem. As guerras reforçaram as regras, e o mundo ficou mais pobre quando se trata de produtos do agro.
No entanto, mesmo com regras assim, o Brasil segue batendo recordes em produção e exportação. Afinal, levando em consideração os resultados, dá para entender que eles precisem fazer algo como precaução (do lado do competidor subsidiado).
Os europeus produziram o Green Deal, e os norte-americanos preparam algo. Enquanto isso, cabe ao Brasil reagir às narrativas ao agro brasileiro, preparadas pelos colonialistas europeus, que lhes interessam (e que nos sufocam).
Tanto o Green Deal como o que virá dos EUA seguem a linha de regrar o mundo. Muitas tentativas disso são feitas, mas o seu sucesso depende da reação de outros blocos ou países.
O protagonismo brasileiro em relação ao “mundo da biomassa” é real e precisa ser efetivo. Isso, sem dúvida, requer posicionamento de Estado, chamamento ao esforço público-privado e liderança efetiva do Brasil.
Quando se fala em políticas públicas globais, em fase de organizações internacionais multilaterais (cite-se ONU, OMC e OCDE, entre outras), a fragilização dessas entidades requer forte posicionamento de cada país na defesa do que julga correto e pertinente.
Imagine um bloco de países tratando de impor uma política pública global que fira políticas públicas nacionais, no coração. Isso existe? Claro, o Green Deal europeu não considera o desmatamento legal em seu documento.
A cana-de-açúcar se casa com o milho, e, obviamente, é uma nova integração que o mercado adora, mas o governo leva tempo para se ajustar a ela. "
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Presidente da Abag e Diretor da CanaplanImagine um bloco de países tratando de definir uma política mundial com base na sua realidade de clima. Isso existe? Sim, o Green Deal trata o mundo tropical (o dos latinos) como se fosse o mesmo para o mundo temperado (o dos europeus).
O Brasil enfrentará isso e vai lutar, mesmo assim, pelo Acordo EU–Mercosul. Isso significa uma importante revisão, do lado europeu, da forma unilateral como quer tratar uma questão multilateral.
Enquanto as políticas globais mostram a relevância do diálogo, das articulações voltadas à paz e ao equilíbrio comercial, é essencial que cada país tenha as suas políticas públicas estáveis e que gerem a confiança fundamental aos agentes do mercado.
Todo o esforço global, com aprovação formal efetivada, está voltado à luta contra as mudanças climáticas e à descarbonização, como forma efetiva de se buscar as metas individuais de mitigação das emissões dos gases do efeito estufa, assim como de se manter ações no comércio que não deem espaço à nova onda protecionista/precaucionista.
Essa linha de pensamento, sempre defendida pelo Brasil, requer compromissos e políticas internas estáveis. Ao se olhar para a “irmã” mais nova do agro brasileiro, a bioenergia, tem-se muitos ângulos a conferir, se o país realmente quer manter o seu protagonismo no tema. Enquanto o etanol tem, juntamente com o biodiesel, a legislação nacional da energia renovável – RenovaBio – a ser seguida, o executivo público tem a caneta a ameaçar a estabilidade do processo de desenvolvimento dessas cadeias produtivas. Em tempos de petróleo a US$ 100/b, o executivo público busca medidas para atenuar o impacto dos preços altos ao consumidor. Todo um esforço que resulta, por exemplo, em MPs (muitas vezes inconstitucionais, como a recente extensão da desoneração PIS-COFINS e CIDE nos combustíveis), ou em redução do nível de mistura do biodiesel no diesel, ou mesmo em se mudar a política de correção dos preços desses combustíveis sem o conhecimento dos atores setoriais. Colocam-se ou se retiram impostos de importação, na pressão de países.
Durante o governo Temer, foi criada uma série de ações, como o RenovaBio e o Rota 2030, posteriormente regulamentadas e confirmadas no governo Bolsonaro, para uma plataforma veicular voltada à busca integrada de motores flexíveis e híbridos (combustíveis do futuro), com a meta do hidrogênio verde nas células de combustível.
Houve o aplauso e a atuação da Anfavea e de entidades setoriais de bioenergia, mas, de novo, dependerá da nova caneta para 2023-2026.
O desenvolvimento tecnológico, a inovação e as ações privadas estão se movendo em um frenesi nunca visto. Certamente, vão gerando impactos que o governo e o legislativo têm dificuldade de ir adaptando as regras do jogo, muitas delas de meados do século XX.
Um exemplo disso é o mundo digital, a internet das coisas, o esforço de conectividade nas fazendas no País, a produção de biogás ou biometano. Na mesma linha, segue a lenta ação de aprovação de novas moléculas químicas ou produtos biológicos para o controle de pragas, doenças e ervas daninhas nas lavouras. A cana-de-açúcar se casa com o milho, e, obviamente, é uma nova integração que o mercado adora, mas o governo leva tempo para se ajustar a ela.
É preciso integrar, mas não é fácil fazê-lo com o mesmo tema sendo conduzido por vários Ministérios de diferentes matizes ideológicas e de partidos políticos competindo por espaço.
As mudanças globais não esperam reações lentas e não têm paciência com atrasos. No caso da bioenergia, o enfrentamento é constante e precisa da união dos esforços do governo e das entidades de classe no planejamento e na execução das medidas que estimulem, assegurem investimentos e modernizem as relações público-privadas internamente para o diálogo com terceiros países. Enquanto a defesa das entidades internacionais multilaterais é fundamental ao Brasil, a segurança aos investimentos internos é fundamental à capacidade competitiva da biomassa, requerendo a estabilidade e a menor intervenção do governo nas regras do jogo.
Desse modo, enquanto o pêndulo comercial tente novamente ao Oriente, para o Brasil, deve-se refletir que as nossas raízes são ocidentais, e o nosso mundo está assentado em bases democráticas. Isso não significa escolhas, se refere tão somente ao fluxo comercial internacional. É difícil crer que o mundo rico siga vendo autocracias crescerem, e os líderes mundiais (G7) terem dificuldade de buscar o diálogo, no mundo ocidental, equilibrado e sensato.
Olhando internamente, salta aos olhos a dificuldade dos governos brasileiros, que passam sem entender o fator agroenergia, o seu sucesso e a necessidade de tratá-la com estabilidade, que atrai o investimento, no caminho asfaltado pela confiança. Em um mundo onde a descarbonização é prioridade comum, o Brasil está à frente. Basta, assim, afiar melhor seu detalhe positivo às políticas públicas setoriais. n
• Presente em mais de 200 usinas de açúcar e álcool, e termelétricas, com mais de 1000 projetos em todo Brasil.
• Elaboração integral de projetos customizados, oferecendo a melhor solução em tratamento de água para caldeira.
• Controle de qualidade dos equipamentos garantido em fábrica própria.
• Desenvolvimento de projetos e execução de sistemas de osmose reversa, troca iônica, ultrafiltração e equipamentos, como: abrandador, leito misto, filtro multimídia, polimento de condensado, entre outros.
• Locação de plantas móveis.
• Partida, comissionamento e operação de sistemas.
• Treinamento dos operadores.
• Prestação de serviços de assistência técnica e pós venda.
• Vendas de peças de reposição e insumos.
• Retrofit de sistemas de tratamento de água.
buscando o carro perfeito
As reuniões dos conselhos de administração das montadoras de automóveis ao redor do mundo nunca foram tão tensas. O motivo não poderia ser menos desafiador: qual tecnologia de motorização deve prevalecer nos próximos anos e como direcionar esforços e investimentos na direção certa? As cartas estão postas na mesa, e centenas de bilhões de dólares em pesquisa e em desenvolvimento precisam ser alocados, podendo gerar lucros (ou prejuízos) igualmente bilionários.
Os defensores do carro puramente elétrico estão tendo que enfrentar desafios de custo e de disponibilidade em relação às matérias-primas das baterias dos seus carros, ao mesmo tempo em que os consumidores mostram-se cada vez menos dispostos a pagarem mais por um automóvel desse tipo. Recentemente, a própria Tesla precisou dar grandes descontos em seus principais mercados, os Estados Unidos e a China, para encontrar novos compradores para seus carros. Os motivos da falta de interesse são os de sempre: a demora no carregamento das baterias, a baixa autonomia de alguns modelos de entrada, a limitada rede de abastecimento e o alto preço em relação a modelos similares à combustão pura.
A hibridização pode aumentar a eficiência de um carro híbrido em até 50% no uso geral. Em resumo, um carro a etanol híbrido seria até 70% mais eficiente do que um similar flex, comumente vendido no Brasil. "
Por outro lado, a pressão para substituir o velho e confiável motor a gasolina não para de aumentar. Na Europa, por exemplo, a partir de 2035, eles não poderão mais ser fabricados. Além disso, carros a combustão pura começam a ser vistos pelos consumidores como uma tecnologia ultrapassada, o que limita suas vendas.
A própria Toyota, que tem se recusado a fazer grandes mudanças em seus veículos ultimamente, tem visto sua participação de mercado cair nos Estados Unidos nos últimos anos. Isso nos leva a pensar que essas duas soluções podem estar diante de grandes dificul dades em atrair interesse dos novos consumi dores de veículos.
Diretor Comercial da Usina Alta MogianaParece claro que quem procura um carro novo, hoje, está buscando atributos ligados à maior tecnologia e eficiência energética, mantendo a praticidade do abastecimento rápido, amplamente disponível e, principalmente, um baixo preço de aquisição. Eu não enxergo todos esses atributos nos carros elétricos, o que me leva a concluir que eles dificilmente serão líderes de vendas na maioria dos países consumidores. Existe outro componente da decisão de compra que também deixa uma eventual dominância dos veículos elétricos em xeque: o potencial de desvalorização do veículo à medida que se aproxima o momento da substituição das baterias, que pode levar de 8 a 15 anos, dependendo da taxa de utilização do carro. Com o preço de uma bateria nova, superior ao valor do casco depois de 8 anos, será preciso que o consumidor deprecie agressivamente o valor do seu patrimônio nesse período, o que vai deixar muitos proprietários simplesmente furiosos e decepcionados.
Tecnologias promissoras, como as de hidrogênio e de células de combustível, também não parecem prontas e maduras para chegarem aos mercados no médio prazo; os mais otimistas esperam que esses veículos sejam viáveis apenas após 2040. É aí que entram os carros híbridos a combustão e a eletricidade como uma solução intermediária, até que surjam outras alternativas mais viáveis. Os carros híbridos são mais baratos do que os elétricos, têm a praticidade do abastecimento rápido, não têm uma depreciação tão acelerada, são econômicos e possuem uma excelente autonomia. Porém, eles ainda consomem combustíveis fósseis, o que nos impõe um desafio em encontrarmos um combustível líquido renovável e de baixa emissão de carbono na atmosfera para substituí-lo. Ora, esse combustível já existe! Trata-se do etanol, seja ele oriundo do milho ou da cana-de-açúcar. Segundo a consultoria Datagro, um carro flex fuel (gasolina/etanol) híbrido emite 27 gramas de CO2 por km rodado no Brasil, contra 120 gramas de CO2 de um carro elétrico na Europa. Apesar dos números convincentes, eles podem ser ainda melhores: basta que as montadoras desenvolvam motores otimizados para consumirem etanol, aproveitando-se da maior octanagem (ao redor de 120 octanas, contra 80 da gasolina pura) para aumentarem a taxa de compressão do motor. Aliado à tendência dominante dos motores atuais, que são cada vez menores e contam com turbinas para compensarem a perda de potência advinda da redução de tamanho, o etanol mostra-se perfeito para ser utilizado em
motores pequenos, extremamente eficientes e econômicos, além de baratos para se produzir e se manter, com menos cilindros e menor peso. Segundo fontes da indústria automobilística que eu consultei, um veículo desses pode facilmente ser até 20% mais econômico do que seu similar flex, reduzindo os custos ao consumidor, aumentando a autonomia do carro e reduzindo ainda mais a emissão de poluentes. A hibridização, por sua vez, dependendo da sua intensidade, pode aumentar a eficiência de um carro híbrido em até 50% no uso geral. Em resumo, um carro a etanol híbrido seria até 70% mais eficiente do que um similar flex, comumente vendido no Brasil.
Além dessas vantagens, a indústria automobilística necessitaria de uma fração dos investimentos hoje direcionados ao desenvolvimento dos carros puramente elétricos para colocarem esses veículos no mercado, bastando aos postos de combustíveis serem incentivados a adaptarem algumas bombas para o etanol, como já foi feito no Brasil desde a década de 1980, com enorme sucesso. Outra vantagem dessa transição, além dos ganhos ambientais, seria a manutenção da cadeia de produção das indústrias por trás dos componentes de motores atuais, que empregam milhões de pessoas pelo mundo. Manteríamos empregos técnicos e bem remunerados, ao mesmo tempo em que evitaríamos uma perda de arrecadação de impostos que essas empresas recolhem à sociedade.
Caberia aos produtores de etanol o desafio de aumentarem a produção do combustível a um custo que seja assemelhado ou até menor do que o da gasolina, algo que já ocorre hoje. O litro de etanol vale aproximadamente entre 70% e 80% do preço da gasolina na maioria dos países produtores, gerando empregos e divisas a esses países, muitos deles economias em desenvolvimento e ávidas por crescimento econômico, como a Índia e o Brasil. Mesmo um país desenvolvido e com poucas fronteiras agrícolas a serem exploradas, como os Estados Unidos, tem espaço para aumentar a sua produção de etanol através da construção de mais destilarias de milho, algo que provavelmente ocorreria no Brasil, outro grande produtor do grão.
Conclui-se, portanto, que o carro a etanol híbrido pode ser uma excelente solução ambiental, social, fabril e mercadológica, principalmente para os países que já dominam a produção do combustível em larga escala, colocando-se como mais uma excelente opção no cardápio das montadoras aos seus consumidores, cada vez mais ansiosos por novidades em tecnologia automotiva. n
a grama do vizinho não é mais verde que a nossa
A expressão do momento é a transição energética. Mas, afinal, o que realmente se busca com essa transição? Contribuir para o clima é fundamental, mas é preciso ir além, é preciso ter economicidade, considerar a segurança energética do País e se avaliar a dependência tecnológica que será criada pela escolha desse ou daquele caminho. A transição energética tem sido mencionada em todos os discursos oficiais e incluída de forma obrigatória na pauta de todas as empresas, porém as perguntas que não querem calar são: qual será o caminho a ser seguido? Vamos aderir às iniciativas desenvolvidas mundo afora ou vamos aproveitar as nossas peculiaridades e as nossas vantagens competitivas? Seremos locomotiva ou vagões?
O ano de 2022 foi marcado pelo avanço da energia renovável no Brasil. O País ultrapassou a marca de 92% de participação de usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa no total gerado pelo SIN – Sistema Interligado Nacional, o maior percentual dos últimos 10 anos. O Brasil já tem uma matriz energética diversificada, estamos à frente de quase todos os outros países; as metas de diversificação que os demais países levarão décadas para atingir nós já atingimos hoje. A questão, mais uma vez, não é como faremos a transição, ela já foi feita, mas sim como nos aproveitaremos dela.
Qual será o caminho a ser seguido? Vamos aderir às iniciativas desenvolvidas mundo afora ou vamos aproveitar as nossas peculiaridades e as nossas vantagens competitivas?
Seremos locomotiva ou vagões? "
Surpreendem-me as discussões que surgem a todo instante quanto às novas iniciativas para energia limpa no Brasil: carros elétricos, hidrogênio verde, ampliação da geração de energia solar, eólicas offshore e por aí vai ... O clamor é constante: precisamos de programas de incentivo! Precisamos de mais pesquisas! As empresas públicas e o governo precisam se engajar e direcionar recursos! Tem momentos em que penso estar na China, ou no Japão, ou na Califórnia, ou na Europa ameaçada pelo gás natural russo... Não me entendam mal, não sou contrário ao desenvolvimento e à implementação dessas tecnologias no Brasil; meu ponto é apenas relativizar a importância e a prioridade que deve ser dada a elas, levando-se em consideração o estágio em que os biocombustíveis se encontram no Brasil.
Jucelino Oliveira de Sousa Presidente do Conselho da Bevap BioEnergia e Conselheiro na Usina Santa Adélia, Aroeira Bioenergia e AlesatEstudos indicam que o consumo de biocombustíveis vai quadruplicar até 2050 em todos os cenários avaliados, seja na limitação de aquecimento global ou na velocidade de penetração da eletrificação. Ora, se existe tamanho potencial, se temos a maior vantagem competitiva no mundo quanto à produção de produtos agrícolas, se temos o domínio da tecnologia na produção, se temos a maior infraestrutura instalada na logística e abastecimento de biocombustíveis, por que o etanol aparece de forma tão tímida, e às vezes nem aparece, nas discussões de transição energética no Brasil?
A cana-de-açúcar tem potencial para ser até 10x mais eficaz que as células fotovoltaicas (energia solar) em potencial de descarbonização por hectare de terra no futuro, em países de clima tropical. Existem inúmeros desafios tecnológicos e econômicos para que isso aconteça, porém eles não são maiores que os outros desafios, que as demais tecnologias de geração de energia limpa precisarão enfrentar. A produtividade agrícola da cana pode chegar a 90 t/ha até 2030; com irrigação e melhorias na fertilização, o melhoramento genético e a biotecnologia podem elevar esse patamar para 150 t/ha. Diversos projetos em andamento prometem aumentar entre 10% a 15% a eficiência no processo de fermentação, aumentando a produção de etanol por tonelada de cana. Pesquisadores recentemente descobriram como aumentar em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao longo de 12 meses. A descoberta vai reduzir significativamente os custos de produção do E2G. Enfim, as oportunidades de aumento de produtividade em todas as etapas de produção do etanol são infinitas e atingíveis em curto e médio prazo.
Muito se fala dos carros elétricos, que, sem dúvida, já são uma realidade no mundo, porém, numa rápida análise, ainda parecem algo meio sem sentido para o nosso País. A adesão aos carros elétricos ainda não é para todos e isso se deve, em grande parte, ao preço cobrado por esse futuro sustentável. Atualmente, o carro elétrico mais barato à venda no País pode ser encontrado por R$ 160 mil, enquanto os lançamentos mais recentes passam de R$ 400 mil. O modelo mais caro, da marca Porsche, não sai por menos de R$ 1 milhão. Num país onde a grande maioria de carros são os ditos populares, não me
parece, no médio e longo prazo, ser essa uma aposta muito sensata a ser feita. Em outros países, o boom dos carros elétricos foi impulsionado por políticas agressivas dos governos locais, que ofereceram benefícios fiscais aos compradores; algo assim é impensável no Brasil, pelos problemas econômicos e fiscais do País. É inacreditável que pelo menos sete estados brasileiros já tenham uma legislação que permita abater ou isentar a cobrança de IPVA para veículos elétricos e híbridos, ou que, pasmem, em São Paulo, os elétricos não precisam seguir o rodízio. A quem interessa esses incentivos? Ao meio ambiente certamente não, pois, se assim fosse, iguais iniciativas estariam sendo feitas em benefício ao etanol, igualmente limpo e disponível em larga escala. A propósito, seguindo essa lógica, a venda de gasolina deveria ser proibida nas grandes metrópoles brasileiras.
Os desafios no Brasil para os carros elétricos são imensos: O alto preço dos veículos, devido ao custo das baterias (que só se tornarão mais baratas através de avanços na química, e não sabemos quando e se acontecerão), e a implantação de uma vasta infraestrutura de recarga são alguns deles. Convenhamos, num país onde ainda temos regiões sem energia elétrica, faz sentido investirmos em instalações de recarga para Volvos, Toyotas e Porshes?
Outro queridinho da vez é o hidrogênio verde. Sua demanda vai ganhar força com a aplicação, principalmente em setores de alta intensidade energética. A Europa é o mercado de H2V que mais cresce, principalmente devido à fragilidade demonstrada frente à dependência do gás natural da Rússia. Metas ambiciosas de implantação do H2V também estão em alta nos EUA, reforçadas pelos compromissos do presidente Biden de fornecer incentivos para as energias renováveis.
O Brasil está bem posicionado para se tornar um dos principais agentes do mercado na produção de H2V, liderando indicadores de competitividade vs custo devido a uma matriz energética limpa, uma grande capacidade instalada de energia eólica e solar e uma sólida infraestrutura de portos e ferrovias. Contudo, existem enormes desafios. Para que o mercado de H2V de fato deslanche e ganhe escala, existem pelo menos seis gargalos importantes : 1) a tecnologia disponível atualmente ainda é bastante restrita; ;
energética
2) o apoio governamental é desigual em todo o mundo; 3) as infraestruturas existentes precisam evoluir; 4) os custos de produção ainda são elevados; 5) as técnicas de transporte e armazenagem são deficientes; 6) a alta perda de energia durante todas as etapas da cadeia de produção e transporte. Enfim, tecnologia promissora que certamente terá lugar de destaque no futuro, porém está longe de ser algo próximo e palpável para a realidade brasileira.
Recentemente, importantes empresas anunciaram a criação de uma joint venture com o objetivo de desenvolver e comercializar uma nova tecnologia de Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês), que usará etanol como matéria-prima. O SAF, que usa matéria-prima não petrolífera, é uma alternativa de baixo carbono ao combustível de aviação tradicional, que oferece até 85% menos emissões de gases de efeito estufa, ou seja, mais um mercado gigantesco que se abre para o etanol.
Somando-se todo o potencial de aumento de produtividade agrícola e industrial com a possibilidade de novas usinas, mais o etanol de 2ª geração, mais a produção de biogás, mais a oportunidade de extração de hidrogênio das moléculas do etanol, mais o etanol de milho, não seria um disparate dizer que o etanol deveria estar na vanguarda da agenda política e ambiental quando falarmos de transição energética no Brasil.
Antes de importarmos aerogeradores e placas solares da China, carros elétricos dos EUA e da Europa, pagarmos royalties pelas tecnologias de produção e armazenagem de H2V, vamos olhar com carinho para o setor sucroenergético, começando pela simples ação de se avaliar antecipadamente os impactos catastróficos que uma mera desoneração tributária de combustíveis fósseis ou uma revisão atabalhoada das metas anuais de CBios podem causar ao setor. Recentemente, o novo presidente da Petrobras disse que a estatal vai investir em transição energética, que, dentro de 10 anos, o mundo não terá nem a mesma logística, nem a mesma relação de consumo com o setor de petróleo e energia, e vinculou ao desenvolvimento tecnológico essa mudança nas fontes de geração de energia. Meu caro amigo Jean Paul, olhe com carinho para o setor sucroenergético, a solução está aqui, ao alcance do País; a grama do vizinho não é, e nunca será, mais verde que a nossa. n
Recuperação, repotencialização otimização de rolamentos
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Exportamos para:
Argentina, Paraguai, Bolivia, Honduras, Chile, Nicaragua, Perú, México, Venezuela e República Dominicana.
liderança internacional do Brasil
para promoção da bioenergia
Durante meu período à frente do Ministério de Minas e Energia, buscamos aprofundar e estreitar as relações internacionais. O País, hoje, ocupa posição de destaque junto à Agência Internacional de Energia e é um importante ator na agenda da produção sustentável de energia. Em janeiro de 2020, em missão de Estado para a Índia, foram assinados três memorandos de entendimento nos setores de energia e mineração. Nos anos subsequentes, por meio das equipes técnicas, apesar da pandemia da Covid-19, foram discutidas e intensificadas as possibilidades de cooperação entre os dois países. O amadurecimento do diálogo e a vontade política levaram, em abril de 2022, à realização de uma missão liderada pelo Ministério de Minas
e Energia do Brasil, com a participação da Empresa de Pesquisa Energética - EPE, de comitiva brasileira de dirigentes empresariais do setor sucronergético (Unica, Apla, Exal, Foro Sucroenergético, Copersucar, Bunge/BP) e automotivo (Volkswagen, Toyota, Stelantis e Abraciclo/Yahama), e da Petrobras.
Fruto de uma agenda bem organizada, foram realizadas reuniões e troca de informações entre os produtores de etanol e a indústria automotiva, tendo como principais resultados a colaboração entre Brasil e Índia na redução do consumo de água para produção do biocombustível, no aprimoramento do desenvolvimento tecnológico de etanol de segunda geração e no desenvolvimento da plataforma de mobilidade sustentável com a valorização da bioenergia.
Destacou-se, na oportunidade, a importância da política nacional de biocombustíveis do Brasil (RenovaBio), que permitirá evitar as emissões de 670 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, de 2020 até 2030, e como essa política de Estado possibilita a melhora da eficiência energético-ambiental das usinas de etanol, atraindo investimentos e gerando empregos e renda. Os representantes do setor automotivo brasileiro compartilharam a experiência nacional com utilização de 27% de etanol na gasolina, as vantagens do etanol como booster de octanagem e quais as adaptações foram necessárias para utilização do biocombustível.
A continuidade das tratativas entre o Brasil e a Índia e a cooperação entre as autoridades governamentais e as empresas privadas estão impulsionando a bioenergia como uma das soluções para a mobilidade sustentável.
O esforço realizado permitiu a continuidade das tratativas e, neste ano de 2023, tivemos um pavilhão dedicado exclusivamente ao etanol na Auto Expo Motor Show 2023, principal e maior salão de automóveis da Ásia, com a participação destacada da UNICA, pelo Brasil, e da SIAM – Society of Indian Automobile Manufacturers, pela Índia
Dessa forma, a partir das relações internacionais conduzidas com planejamento e previsibilidade, o Brasil e seus parceiros estão construindo uma solução de mobilidade sustentável para o hemisfério sul e norte, em que um dos alicerces é a bioenergia.
Importância dos biocombustíveis para Brasil e Índia: O Brasil é um dos maiores produtores e consumidor de biocombustíveis. Em 2021, foram evitadas emissões de 24 milhões de toneladas de CO2eq pela substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis. Considerando o mercado automotivo, em que ocupa o oitavo maior mercado de veículos leves e o quarto maior mercado de veículos pesados, onde são flex fuel, 94% dos veículos de passeio e 51% dos veículos comerciais, o País se apresenta como um importante vetor da transição energética da mobilidade de baixo carbono para o mundo.
Já a Índia, como terceiro maior mercado de combustíveis do mundo, sendo o segundo maior produtor de açúcar e o quarto maior mercado de veículos, tem os biocombustíveis como um alicerce para a descarbonização da sua matriz de transporte. A gasolina no país, hoje, tem 10% de etanol e estará progredindo para uma mistura de 20% a partir de 2023. Importante destacar que o país possui dependên-
cia externa de 85% do petróleo, sendo muito relevante para a segurança energética reduzir a utilização de combustíveis fósseis, bem como para a melhoria da qualidade do ar.
Balança comercial Brasil-Índia no setor de energia: A Índia é o quinto parceiro comercial brasileiro no mundo, com volume total de exportações e importações, em 2021, de US$ 11,53 bilhões. As exportações totalizam US$ 4,80 bilhões, sendo 47% de petróleo, 16% de gorduras e óleos vegetais e 13% de ouro. As importações representam US$ 6,73 bilhões, sendo de combustíveis (principalmente diesel) com 20%, compostos orgânicos e inorgânicos com 13%, assim como inseticidas e fungicidas com 8,4%, dentre outros. Esses dados, aliado às características de complementaridade entre as duas economias, demonstram o potencial de crescimento nas relações comerciais e empresariais entre os dois países.
Aliança Brasil-Índia em bioenergia:
A adoção de etanol na gasolina pela Índia permite o aumento da octanagem do combustível comercializado naquele país, o maior equilíbrio do mercado de açúcar pela redução da oferta desse produto, a redução das emissões de gases do efeito estufa e da dependência externa de petróleo, proporcionando segurança energética e maior sustentabilidade à sua matriz energética.
Perspectivas para o Futuro: A aliança Brasil-Índia permitirá:
a) Desenvolver metodologia harmonizada de análise de ciclo de vida do poço à roda para avaliação da mobilidade sustentável, cuja importância foi materializada na criação do Programa Combustível do Futuro, criado pelo Conselho Nacional de Política Energética em 2021;
b) Avanços na tecnologia flex-fuel e híbridos flex, dado que os desenvolvimentos tecnológicos não ficariam restritos ao Brasil, juntando dois importantes centros de produção de veículos;
c) Aumento da produtividade da cana-de-açúcar pelo compartilhamento das experiências e das variedades dos dois países;
d) Combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), que é uma importante fronteira para a indústria de açúcar e etanol, dado que podemos produzir, no Brasil, 9 bilhões de litros por ano, fora um potencial gigantesco na Índia;
e) Etanol de segunda geração, com os dois países juntando esforços para aumentar a oferta de etanol, sem haver aumento de área plantada, e
f) Células a combustível, em que o etanol e o biometano serão as fontes de hidrogênio. n
a internacionalização do etanol combustível
India: a hora é agora
“No que se refere a etanol na Índia, a hora é agora!”. Foi com essas palavras que o influente ministro de Petróleo e Gás indiano, Hardeep Puri, encerrou seu discurso na inauguração oficial do “Pavilhão do Etanol” no Salão do Automóvel indiano, o Auto Expo Motor Show, um dos maiores eventos dessa natureza na Ásia.
Com mais de 3 mil metros quadrados dedicados ao combustível mais limpo do mundo, o pavilhão apresentou, a mais de um milhão de indianos que visitaram a feira no início de janeiro deste ano, os primeiros modelos de motos e carros flex produzidos no país, uma novidade na região.
Apesar de tardiamente, a Índia reúne todos os motivos que justificam a adoção dessa tecnologia com o uso do etanol, a começar pela sua significativa dependência de petróleo importado,
que representa 85% do seu consumo, além de outros desafios que podem ser endereçados diretamente pelo uso do etanol: é o terceiro país que mais emite gases de efeito estufa, tendo ainda 63 de suas cidades dentre as 100 mais poluídas do mundo, segundo o site IQAir, no ano de 2021. Além disso, é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, matéria-prima mais utilizada no planeta para a produção do etanol.
Cabe destacar que essa transformação vai muito além das palavras do ministro. De fato, em 2014, o nível de mistura do etanol na gasolina era de apenas 1,5%. Em 2022, essa mistura atingiu os 10%, e o governo já anunciou que a mistura deverá atingir 20% até 2025. Ou, colocando essa evolução em valores absolutos, a aquisição de etanol pelas distribuidoras de combustíveis indianas saiu de 380 milhões de litros na safra 2013-14, para impressionantes 4,5 bilhões de litros em 2021-22; ou seja, um aumento de quase 12 vezes em apenas 8 anos! E, de acordo com dados do NITI Aayog, uma think thank de políticas públicas do governo indiano, a necessidade estimada de etanol para mistura de 20% de etanol na gasolina será de 10 bilhões de litros por ano para o período entre 2024 e 2026. Como se vê, há um mercado promissor, que irá gerar emprego e renda, ao mesmo tempo que reduzir emissões.
Eduardo DiretorA Índia é o terceiro país que mais emite gases de efeito estufa no mundo, tendo ainda 63 de suas cidades dentre as 100 mais poluídas do mundo "
Leão de Sousa
executivo da Unica
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Para complementar, o E20 já começou a ser oferecido, ainda de forma experimental, em postos de combustíveis em 15 cidades do país, com expansão progressiva para toda a região nos próximos dois anos. Inicialmente, o E20 estará disponível em 84 bombas de gasolina de três varejistas de combustível estatais, em 11 estados/territórios da União.
O compromisso com que a Índia abraçou o Programa do Etanol, colocando em marcha cada etapa, antes mesmo do prazo planejado, é um caso de sucesso de como governo, setor privado e instituições públicas, olhando estrategicamente para o mesmo objetivo, podem alavancar transformações significativas no país.
Em relação ao futuro, a expectativa é a de que possamos fortalecer cada vez mais essa cooperação, engajando países produtores e consumidores do biocombustível. Brasil e Índia são duas grandes economias em desenvolvimento, onde a agricultura forma a espinha dorsal de suas respectivas economias. Sendo países tropicais, os dois maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo estão, portanto, bem posicionados para liderar, juntos, o etanol como uma commodity global e preparar o caminho para um novo mercado internacional que favoreça, em primeiro lugar, os países em desenvolvimento. Particularmente, o protagonismo geopolítico da Índia na Ásia deverá ser chave para estimular o seu uso nessa que se
configura como a região mais dinâmica do planeta e, portanto, com demanda crescente por energia.
Nesse sentido, é importante lembrar que, em 2023, a Índia irá sediar a reunião do G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias globais) e já sinalizou que o etanol deverá ser uma das estrelas nas discussões referente à mudança climática. No próximo ano, caberá ao Brasil presidir o G20, e será uma excelente oportunidade de dar continuidade a esse processo, formando uma “dobradinha” eficaz nessa agenda. O mundo clama por energia, e a atual guerra na Europa nos mostra os riscos da dependência da concentração de fontes energéticas (gás) e de origem do fornecimento (Rússia). Sabemos que a transição energética por meio dos biocombustíveis é uma grande oportunidade para criar e modernizar indústrias, impulsionar a inovação tecnológica, atrair investimentos e gerar empregos de alta qualidade – tudo isso contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para a qualidade de vida das futuras gerações ao redor do mundo.
Por ser um produto renovável, o etanol pode ser produzido, de forma sustentável e competitiva, em mais de 100 países ao redor do mundo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, e ser uma efetiva alternativa de descarbonização, um dos maiores desafios deste século. n
perspectivas e desafios para a próxima década
O Brasil é reconhecidamente um país com alta participação da energia renovável em sua matriz energética. O que poucos lembram é que quase 30% da renovabilidade da nossa matriz energética vem da biomassa. E essa situação deve perdurar e até se ampliar para os próximos anos. Isso porque a diversidade e a renovabilidade da matriz energética nacional não apenas são um dos atributos que contribuem para a segurança energética do Brasil, mas também porque as políticas voltadas ao incentivo da bioenergia têm inúmeras interfaces positivas com nossas ambições de descarbonização da economia e desenvolvimento socioeconômico.
Políticas públicas de incentivo ao uso de bioenergéticos, entretanto, não são novidade no cenário brasileiro. De fato, elas estão presentes desde a década de 1970, com a instituição do Proálcool, que visava à substituição de parte da gasolina no ciclo Otto, por questões econômicas e de segurança energética, seguida do lançamento, pela indústria automobilística, de motores a etanol.
Após um longo tempo de convivência dos carros movidos a etanol, e alguns percalços, a indústria automotiva lançou, em 2003, a tecnologia flex fuel , que facultava ao proprietário do veículo o uso de gasolina, etanol ou a mistura dos dois em qualquer proporção, o que impulsionou o consumo desse biocombustível no Brasil. No começo dos anos 2000, foi lançado o programa nacio nal de produção e uso de biodiesel (PNPB),
Heloisa Borges Bastos Esteves
Diretora de Estudos do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis da EPEEmpresa de Pesquisa Energética
Os sistemas bioenergéticos são fundamentais para atingir o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e as suas consequentes influências nas mudanças climáticas. "
com mandatos de substituição compulsória de parte do diesel fóssil, que tinham por objetivo inserir esse biocombustível de forma sustentável na matriz energética brasileira, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional. Finalmente, já na segunda década do século XXI, foi lançado o RenovaBio, política que visa estimular a fabricação e o uso de biocombustíveis, premiando os produtores mais eficientes, com uma visão mais ampla da importância estratégica da bioenergia na estratégia de descarbonização brasileira.
Como se vê, os resultados que apresentamos hoje são fruto de um longo e consistente processo, que vem sendo aprimorado, cada vez mais, para que outros biocombustíveis (como biogás, bioquerosene de aviação e biocombustíveis avançados) possam também fazer parte da cesta de energéticos de baixa emissão de carbono na matriz energética.
Não obstante o destaque de o sistema bioenergético no Brasil, atualmente, ser o setor de transporte (com preponderância do etanol e o biodiesel), a bioeletricidade gerada com os resíduos das culturas energéticas também constitui importante produto dentro do portfólio do sistema bioenergético. Além da geração de eletricidade a partir do bagaço de cana, do cavaco de madeira e da palha de arroz, outros produtos, como a palha e ponta da cana e a lixívia, já estão
sendo transformados em biogás, com grandes perspectivas para geração de energia elétrica, ou mesmo para uso em motores a combustão interna.
Uma grande vantagem do sistema bioenergético construído no Brasil é que, pelas nossas condições edafoclimáticas favoráveis e extensa disponibilidade de terra, os sistemas foram concebidos como sistemas integrados de produção de alimentos e energia, permitindo um planejamento que potencializa as vantagens, tanto para a produção de energia quanto para a produção de alimentos. De fato, nos últimos anos, as produtividades das culturas que fornecem a matéria-prima para a bioenergia vêm aumentando significativamente, o que permitirá, no futuro, menor uso de área agricultável.
O Plano Decenal de Expansão de Energia 2032 (PDE 2032), elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, empresa vinculada ao Ministério de Minas e Energia, indica que a oferta total de etanol alcançará 47 bilhões de litros em 2032, com destaque para o aumento da representatividade do etanol de milho (que atinge cerca de 20% da oferta total, chegando a 9 bilhões de litros no final da década).
A cana permanecerá como insumo principal para a produção do etanol e, com isso, os resíduos dessa cultura poderão ser utilizados para a expansão de geração de bioeletricidade, inclusive com a incorporação de palhas e pontas, o que permite que seja atingido o patamar de 4,1 GW médios (com potencial técnico para comercialização de até 6 GW médios em 2032).
O biogás do setor sucroenergético terá uma inserção cada vez maior no futuro. Versátil, o biocombustível pode ser destinado à geração elétrica em substituição ao diesel ou, ainda, misturado ao gás natural fóssil nas malhas de gasodutos. Estima-se que o potencial de produção de biogás, em 2032, seja de 35 bilhões de Nm³ (19 bilhões de Nm³ de biometano), oriundos da vinhaça e da torta de filtro e das palhas e pontas da cana-de-açúcar.
Para o biodiesel, os cenários de referência indicam que o óleo de soja permanece como a principal matéria-prima nos próximos anos e que a demanda por esse biocombustível atinja 12 bilhões de litros em 2032.
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Entretanto, o desenvolvimento de outras culturas promissoras, como a palma e a macaúba, altamente produtoras de óleos, surge como potenciais insumos a serem agregados às matérias-primas para a produção nacional de biodiesel.
É importante avançarmos nas iniciativas para criar políticas públicas e aprofundar o conhecimento sobre os combustíveis sustentáveis de aviação e combustíveis de baixo carbono para o transporte marítimo. Espera-se que, em 2032, a participação de mercado desses biocombustíveis seja cerca de 2% da demanda total de combustíveis de aviação, mas ainda há espaço para avançarmos mais e mais rápido. E, ainda, além de todos os programas atualmente em curso, um grande desafio é pensar uma nova configuração do setor bioenergético, na qual as usinas, hoje produtoras de biocombustíveis e outros coprodutos, se integrem ainda mais em um novo sistema. Esse arranjo de biorrefinarias produzirá, além da energia, moléculas-base que possam substituir ou servir de insumos a uma grande cadeia integrada, como a indústria de cosméticos, alimentos e fármacos, impulsionando a bioeconomia. Como última mensagem, reforço que o caminho para a bioeconomia e a transição energética no Brasil abre perspectivas claras para avançar em pontos importantes entre os 17 listados como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), com destaque para:
• Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;
• Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos;
• Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
• Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;
• Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;
• Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos;
• Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Os sistemas bioenergéticos são fundamentais para atingir o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e as suas consequentes influências nas mudanças climáticas. A posição privilegiada do Brasil quanto à renovabilidade dos seus recursos energéticos em relação ao restante do mundo é uma vantagem comparativa para liderar as ações rumo ao desenvolvimento sustentável, o combate às mudanças climáticas e a inovação tecnológica, condicionantes básicos para a rota da transição energética.
Esse é o nosso desafio, essa é a nossa meta. n
abrem-se ainda mais portas para a cana se olharmos para um futuro mais distante,
Não temos dúvida da importância que sistemas integrados de produção de alimentos e energia, como o da cana-de-açúcar, terão no esforço mundial de descarbonização, hoje uma prioridade mundial.
Não obstante o hemisfério norte estar partindo para a adoção do carro elétrico em massa, no Brasil, teremos, devido a uma série de fatores, ainda por um longo tempo, a supremacia dos veículos flex fuel na frota leve.
Mas mesmo com a predominância na maior parte do mercado global de veículos elétricos, com repercussões inevitáveis no padrão do mercado brasileiro no longo prazo, o conceito de eletrificação pode ser combinado com o uso
de etanol, por exemplo, pela utilização de carros com motor híbrido a etanol, como já ocorre hoje em modelo do fabricante Toyota, sendo esse modelo, aliás, o que apresenta a melhor performance disponível em emissão de gases do efeito estufa (GEE), como revelou uma análise feita pela Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia.
Um veículo híbrido flex abastecido com etanol emite, do poço à roda, apenas 29 g CO2/km, ao passo que um veículo elétrico a bateria emite 37 g CO2/km, nas condições do grid brasileiro, com alta participação de fontes renováveis na matriz de energia elétrica brasileira. Essa diferença tende a ser ainda mais representativa fora do mercado brasileiro, sendo que, na Europa um veículo elétrico a bateria emite, em média, 54 g CO2/km.
Além disso, estão atualmente em estágio de desenvolvimento outras possibilidades de combinação entre etanol e veículos elétricos, como uso das tecnologias de célula de combustível a etanol. Nessas células, a eletricidade é quimicamente extraída da molécula de álcool para alavancar os motores elétricos dos veículos, que são mais eficientes que os motores a combustão.
Um veículo híbrido flex abastecido com etanol emite, do poço à roda, apenas 29 g CO2/km, ao passo que um veículo elétrico a bateria emite 37 g CO2/km "
Alexandre Enrico Silva Figliolino
da MB Agro e Consultor da XP para agronegócio
Isso pode aumentar, de modo disruptivo, a eficiência do uso do etanol enquanto fonte de energia.
Em outras palavras, o etanol, que já é uma solução competitiva para descarbonização de veículos leves, pode ter seu uso com eficiência muito maior no futuro. Pelo elevado teor de hidrogênio contido no etanol, levamos uma grande vantagem em relação ao resto do mundo, pois o Brasil já possui instalada a maior rede de distribuição do planeta, através dos mais de 41.700 postos de revenda distribuindo etanol em um país de dimensões continentais.
A oportunidade de protagonismo do etanol fica mais nítida ainda, no entanto, quando ele pode ir além do uso em veículos leves. A Europa, por exemplo, pretende estabelecer um mandato obrigatório de 2% de biocombustível no querosene de aviação a partir de 2025.
Outro fato extremamente auspicioso foi o etanol de cana-de-açúcar produzido no Brasil ser reconhecido pela Agência Ambiental Americana (EPA) como sustentável para a produção de bioquerosene de aviação. Se, hoje, o etanol é utilizado como substituto da gasolina, no futuro, poderá servir como plataforma para a produção de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, na sigla em inglês).
Uma destilaria no estado da arte consegue fabricar, já nesta década de 2020, uma grande variedade de produtos bioenergéticos. Entre eles, destacam-se o etanol de primeira geração (1G), proveniente da fermentação do caldo da cana-de-açúcar, e o etanol de segunda geração (2G), advindo da fermentação dos produtos lignocelulósicos da cana-de-açúcar (bagaço e palha), que substituem perfeitamente a gasolina. Ela ainda gera biometano, oriundo da purificação do biogás obtido da vinhaça residual e substituto do gás natural, e pellets de lignina, provenientes da parte residual não fermentável do material lignocelulósico destinado à produção do etanol 2G e um biocombustível sólido de interesse do mercado europeu, sobretudo para reduzir a necessidade de queima de carvão mineral. E também produz bioeletricidade, gerada a partir do excedente da geração termelétrica com o bagaço da cana-de-açúcar não usado na produção de etanol 2G, que, despachável, pode substituir a fonte marginal entrante no grid brasileiro –por exemplo, o gás natural.
Em 2030, o aumento da eficiência de descarbonização, em comparação com o cenário de 2020, virá por ganhos de produtividade agrícola e pela implementação de tecnologias de captura e armazenamento de CO2 (BECCS) e reforçará muito essa cesta. E, se olharmos para um futuro mais distante, abrem-se ainda mais portas para a cadeia de valor da cana-de-açúcar brasileira. É que a biotecnologia deverá ter um papel crítico na produção
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oportunidades para a bioenergia transição energética e economia circular
A humanidade está presenciando transformações importantes em diversas áreas da sociedade. Digitalização, inteligência artificial, telemedicina, engenharia genética, entre outros movimentos, se aceleraram nos últimos anos, especialmente no período pós-pandemia. Dentre essas mudanças, estão aquelas associadas à transição energética e à circularidade dos negócios e dos sistemas de produção.
A transição energética se caracteriza pela necessidade de ampliar a oferta de energia com menor emissão de gases causadores de efeito estufa (GEE).
Essas diretrizes devem ser atendidas com maior eficiência, mudanças nos padrões de consumo e substituição das fontes fósseis por combustíveis renováveis de baixo carbono.
A economia circular, por sua vez, ganhou notoriedade a partir do trabalho seminal de David Pearce e Kerry Turner no início da década de 1990. Em linhas gerais, ela preconiza a substituição da economia linear, baseada na extração produção, utilização, descarte –, por um sistema econômico que prioriza a preservação e o aprimoramento do capital natural, a otimização de recursos e a administração dos estoques finitos dos produtos renováveis. Conceitos como reutilização, reciclagem e regeneração constituem princípios básicos da economia circular.
Essas macrotendências mundiais devem nortear a dinâmica de consumo, as estratégias empresariais e as políticas públicas
em várias áreas da economia nos próximos anos. É nesse contexto que a indústria da bioenergia pode se posicionar de maneira efetiva diante das oportunidades criadas por esse movimento global.
A indústria sucroenergética, que há dez anos ainda presenciava discussões sobre o término da queima da palha da cana-de-açúcar, está se reinventando, com mudanças importantes no sistema de produção, no portfólio de produtos ofertados e na qualidade ambiental dos energéticos comercializados. No passado, a lógica da produção agrícola como fonte de alimentos foi inicialmente transporta com a fabricação do etanol a partir da cana-de-açúcar. Nas últimas duas décadas, a bioeletricidade fabricada a partir da palha e do bagaço da cana se consolidou como um novo produto exportado pelo setor.
Hoje, além do etanol de cana e da bioeletricidade, essa indústria conta com a produção de etanol de milho de segunda safra, de etanol de segunda geração, de biogás, de biometano e de créditos de descarbonização. Trata-se de um crescimento expressivo no portfólio de energéticos em apenas uma década. Isso sem contar os inúmeros subprodutos gerados, como é o caso da levedura seca, do óleo de milho, do CO2 biogênico e do DDG, por exemplo.
Essas mudanças também permitiram ajustes no sistema de produção, ampliando a característica de circularidade dos parques de bioenergia. A vinhaça, que era tida como um problema, passou inicialmente a ser utilizada na lavoura com aplicação controlada por aspersão, migrando, em muitos casos, para um sistema de aplicação localizada e, nos últimos anos, garantindo a produção de biogás e biometano antes de retornar ao campo. O gás produzido nesse sistema é utilizado para substituir parte do diesel consumido no processo produtivo.
Luciano Rodrigues Diretor de Economia e Inteligência Estratégica da UNICA e pesquisador do Observatório de Bioeconomia da FGV/EESPÉ no contexto da transição energética e da economia circular que a indústria da bioenergia pode se posicionar de maneira efetiva diante das oportunidades criadas por esse movimento global. "
Esse é apenas um dos inúmeros exemplos da utilização dos resíduos industriais para ampliar a qualidade e o número de energéticos dessa indústria.
No futuro próximo, podemos vislumbrar novos avanços importantes. O CO2 obtido na fermentação do etanol e na purificação do biogás poderá ser alocado no subsolo, a partir de projetos de captura e armazenamento de carbono (projetos de BECCS, da sigla em inglês), permitindo balanço negativo de CO2 na indústria do etanol.
A fabricação de combustível sustentável de aviação (SAF) a partir de etanol pela rota ATJ (alcohol-to-jet), ou a partir da biomassa pela rota FT (Fischer-Tropsch), também pode trazer oportunidades efetivas ao setor.
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), serão necessários 450 bilhões de litros de SAF para que o setor aéreo alcance as metas de descarbonização previstas para 2050. Além das metas nacionais e voluntárias de redução de emissões na aviação, a resolução do Icao, uma das agências das Nações Unidas, definiu que as emissões de GEE do setor se estabilizem nos patamares observados em 2019 e criou o Mecanismo de Redução e Compensação de Emissões da Aviação Internacional (Corsia, na sigla em inglês), com reduções mandatórias a partir de 2027.
Além disso, a produção de hidrogênio com energia renovável a partir da reforma do etanol, ou com o uso do biogás, também pode ser vislumbrada pela indústria da bioenergia no futuro. De fato, hoje, temos plantas com eletricidade renovável, etanol, biogás e CO2, que podem ser utilizados como insumo para a produção de SAF e hidrogênio (figura em destaque).
Cabe ainda destacar que a produção brasileira de biocombustíveis já possui pegada de carbono auditada graças às exigências do RenovaBio, permitindo a aferição adequada do potencial de descarbonização de cada planta industrial, garantindo, com isso, a geração de créditos de descarbonização ou CBios.
Em síntese, a despeito das turbulências políticas, regulatórias e de mercado, o setor apresentou avanços importantes na última década e possui enorme potencial para se posicionar na vanguarda de um movimento mundial irreversível.
Precisamos de aperfeiçoamentos nos marcos legais e no ambiente regulatório, garantir previsibilidade e manutenção das regras criadas, valorizar o potencial de descarbonização da bioenergia, investir em comunicação e disseminar o sistema brasileiro para outras regiões do mundo com condições semelhantes. Por fim, o setor produtivo precisa manter os esforços para ampliar a eficiência energética e ambiental na conversão de luz solar em biomassa e em energéticos renováveis de baixo carbono. n
reafirmando o potencial da energia
da biomassa da cana-de-açúcar
O sistema energético é a base da economia moderna que possibilita o avanço na produção de vários setores e na nossa qualidade de vida. À medida que a população mundial cresce, aumenta também a demanda por energia. O consumo anual global de energia vem sendo estimado em 580 milhões de terajoules, o equivalente a 13.865 milhões de toneladas de petróleo, e aumentará 30%, entre 2000 e 2040. Para atender a essa demanda, é essencial que o sistema energético seja gerido de forma responsável, aumentando a disponibilidade com segurança, equidade e, ao mesmo tempo, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa. Esse tem sido um dos grandes desafios globais, designado trilema do sistema energético global:
na conjuntura atual, mais uma vez a intensificação do uso de derivados da cana no sistema bioenergético apresenta-se como uma das melhores alternativas para o Brasil. "
Heloisa Lee Burnquist Professora de Economia e Administração da Esalq-USP1. Segurança: atender à demanda de energia atual e futura, de forma confiável, resistente e resiliente, recuperando-se rapidamente de interrupções e gerindo eficientemente fontes domésticas e importadas, com infraestrutura energética bem distribuída.
2. Equidade: fornecer acesso universal à energia confiável, abundante e barata para uso doméstico e comercial, inclusive acesso a combustíveis limpos para cozinhar e a um mínimo necessário de eletricidade.
3. Sustentabilidade: transição energética para fontes renováveis, com maior produtividade e eficiência da geração, transmissão e distribuição, promovendo a descarbonização e a melhora da qualidade do ar.
Uma estratégia de resposta ao trilema é a mudança do paradigma em direção à bioeconomia circular. A obtenção de energia adicional a partir de fontes renováveis e locais, a intensificação e o aumento do aproveitamento do recursos, até se chegar ao ideal: em que tudo que seja descartado em uma etapa da produção possa ser aproveitado por outra. Avanços tecnológicos, políticas e mudanças de atitudes são fundamentais para isso, como mostra a Figura 1.
A bioeconomia baseia-se na ideia de que fontes de energia renováveis podem ser usadas para criar um fluxo circular de energia, materiais e nutrientes, formando um sistema de circuito fechado, permitindo que sejam usados várias vezes. Essa abordagem de produção de energia é muito mais sustentável e eficiente que sistemas lineares (aquisição-produção-uso-descarte), com recursos finitos, como os combustíveis fósseis. Além disso, as fontes de energia renováveis emitem menos, ajudando a reduzir a poluição do ar e outros impactos ambientais. O emprego de energia renovável é economicamente mais eficiente, envolvendo menores custos na produção de energia.
Avanços tecnológicos têm viabilizado a incorporação de uma gama diversificada de fontes energéticas renováveis e com baixos impactos ambientais, tanto no âmbito local como global. A velocidade dessas transições, no entanto, tem sido aquém das metas estabelecidas para evitar mudanças climáticas irreversíveis para o planeta. As dificuldades para efetivar as mudanças necessárias para corrigir o curso de nossa trajetória não se resume à matéria-prima empregada. Trata-se da alteração de um sistema dinâmico em funcionamento, onde mudanças se refletem com grande capilaridade pelas economias e com efeitos de difícil previsão. Foi considerando esses aspectos que pesquisadores, executivos e formuladores de política se debruçaram sobre novos conceitos para definir estratégias de maior alcance, tal como a bioeconomia circular.
Fonte: EPE, Brazilian Energy Balance, 2021
Fonte: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0959652617310934
Fatores conjunturais também têm sido críticos nessa transição, como a pandemia de Covid-19, que expôs a fragilidade do sistema energético atual, ainda bastante dependente de matéria-prima fóssil (cerca de 83%).
Quando as fronteiras se fecharam, a interrupção dos fluxos de produtos e insumos estratégicos em um sistema orientado pela dependência externa provocou forte impacto recessivo, frente à desorganização rápida e inesperada das cadeias produtivas e dos fluxos logísticos nas cadeias de suprimentos.
Bilhões de pessoas ao redor do planeta mudaram radicalmente os seus hábitos, e as taxas de crescimento dos países desabaram, retraindo a demanda e o preço de petróleo para patamares nunca vistos anteriormente.
Isso fragilizou o apoio às energias renováveis mais sustentáveis, em grande parte ainda sem um mercado consolidado. O risco associado a novos investimentos também aumentou.
Já a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou mudanças em sentido contrário. Os preços aumentaram, resultando em grande volatilidade e riscos no suprimento adequado à demanda por energia, provocando instabilidade econômica, custo social, pois muitos países, particularmente os de menor nível de renda, ainda são importadores líquidos de energia (conforme demonstrado na Figura 2 da página anterior).
Os preços mais altos potencializaram o argumento da transição para as energias renováveis. No entanto, também resultaram em inflação, menor crescimento e rupturas nos mercados financeiros, fenômenos estes já iniciados em 2022 e que têm impactos negativos sobre investimentos volumosos requeridos para amadurecer as inovações, desestimulando a mobilidade de capital de investimento entre países.
O Brasil encontra-se em posição favorável devido à composição de seu sistema energético. Em 2020, a oferta total de energia atingiu 287,6 milhões de tep (tonelada equivalente de petróleo), 48% dos quais vieram de fontes renováveis (conforme demonstrado na Figura 3 da página anterior). Nenhum país no mundo guarda
essa proporção por território, tamanho da população e tamanho econômico.
O que tem impedido o País de se apresentar ao mundo como um modelo de sistema energético responsável e sustentável? É urgente que medidas sejam implementadas para potencializar o que pode ser considerado um dos maiores trunfos do País.
Desde o século passado, a biomassa é aproveitada, particularmente com o aumento das alternativas dentro do setor sucroenergético.
A cana-de-açúcar é uma cultura altamente valorizada pelo seu potencial de produção de biomassa para sistemas bioenergéticos, destacando-se como uma das fontes mais produtivas e eficientes de biomassa devido à sua rápida taxa de crescimento, alto rendimento e capacidade de produzir grandes quantidades de açúcar.
Esse açúcar pode, então, ser convertido em bioetanol, uma importante fonte de energia renovável. Além disso, o alto teor de açúcar da cana-de-açúcar a torna adequada para a produção de outros bioprodutos, como bioplásticos e biogás (conforme demonstrado na Figura 4 da página anterior).
Assim, na conjuntura atual, mais uma vez a intensificação do uso de derivados da cana no sistema bioenergético apresenta-se como uma das melhores alternativas para o Brasil. Isso em termos de desenvolvimento de processos de produção circular, bem como da proximidade dos consumidores, facilidade de transmissão, mercados secundários de carbono, dentre outros aspectos que a favorecem.
A importância da cana-de-açúcar precisa ser reforçada na conjuntura atual, sendo reconhecida como uma ferramenta poderosa no desenvolvimento de um sistema bioenergético sustentável para a economia nacional. Seu alto teor de açúcar e rápida taxa de crescimento a tornam uma fonte ideal de biomassa para a produção de energia renovável. Tem capacidade de converter grande porção da economia de base fóssil em uma bioeconomia circular em um horizonte mais próximo, com tecnologia nacional, e, portanto, precisa reassumir sua posição estratégica no desenvolvimento socioambiental brasileiro. n
etanol: duas décadas de avanços e recuos
Em 2003, tivemos o lançamento dos carros flex fuel no Brasil, reabrindo nova perspectiva de mercado de etanol hidratado.
Todas as montadoras já instaladas, outras marcas europeias e asiáticas chegaram e fizeram vultosos investimentos, lançando dezenas de modelos de automóveis, todos flex fuel, na expectativa de mudança na matriz energética dos veículos leves no Brasil.
Em poucos anos, as vendas de automóveis de ciclo Otto alcançavam 90% dos chamados automóveis flex fuel.
Em seguida, as motocicletas também seguiram a tendência, oferecendo muitos modelos que permitiam o uso do etanol E100.
Paralelo a tudo isso, o setor sucroenergético respondeu ao mercado com investimento forte em greenfields, inaugurando mais de 100 usinas em 10 anos. Nossa fronteira limitada somente aos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná alcançou com força a região Centro-Oeste, com projetos novos, em especial em Mato Grosso do Sul e Goiás.
Assim, a moagem do Centro-Sul saltou de 300 para mais de 600 milhões de toneladas em menos de 10 anos. Além do mercado doméstico, abrimos fronteiras no exterior, elevando nossa participação nos EUA, na Europa e na Ásia.
Na virada do século, a euforia por um mundo mais sustentável, com uso de energia renovável no segmento de transporte, fez o setor privado e público se unirem e se comprometerem com a sustentabilidade. Tudo caminhava para futuro, onde a participação do etanol hidratado (E100) seria, ano a ano, crescente, ocupando o espaço do combustível fóssil, a gasolina.
Chegamos a 2012 com mais de uma centena de projetos implantados e consolidados na região Centro-Sul.
Em 2012, tivemos a mudança de governo e completa mudança de prioridade.
A princesa da vez passou a ser o Pré-sal. Foco total na exploração de petróleo em águas profundas, investimentos e incentivos em energia fóssil voltam à tona. Gasolina, sob o pretexto de segurar a inflação, foi congelada e subsidiada, com preço inferior aos praticados no mercado internacional.
Temos terra, clima e, especialmente, tecnologia e uma força de trabalho experiente, com ambição de crescer e investir. Falta o setor público dar a garantia necessária, com política de longo prazo, que assegure confiança e retorno ao empreendedor.
Martinho Seiiti Ono Diretor da SCA Etanol do BrasilProjetos de biocombustíveis, dezenas deles em fase de maturação, compromissos de amortização em curso começam a trocar de mãos.
Projetos que nasceram de famílias tradicionais e empreendedoras, até então o perfil predominante do setor, tiveram que transferir seus ativos aos mais diversos setores da economia. Tradings, fundos de investimentos, distribuidoras, entre outros, socorreram e sucederam muitas usinas.
Importante destacar também o fechamento de dezenas de usinas e destilarias que não suportaram o elevado custo industrial e agrícola, não correspondido pelos preços congelados e subsidiados da gasolina pela Petrobras.
Desde 2013, não tivemos mais “novos projetos” em nosso setor. Paramos por completo de investir. Vejamos os números dos últimos 10 anos.
• Na Safra 2013/14, moemos 600 M de toneladas de cana e, desde então, estamos com crescimento zero, oscilando negativamente, a depender das condições climáticas. (veja detalhes no gráfico: “Evolução da moagem de cana-de-açúcar do Centro-Sul”)
• Nossa quantidade de ATR total se mantém em 80 milhões, com pequenas oscilações.
• Em produtividade (TCH), regredimos, não conseguimos superar 80 toneladas por hectare. (veja detalhes no gráfico: “Evolução da produtividade agrícola da cana-de-açúcar em toneladas por hectare do Centro-Sul”)
• Área plantada de cana estável, com 7.600 a 7.800 mil hectares.
• A participação do hidratado (E100) no ciclo Otto se altera, a depender do mix maior ou menor de açúcar a cada safra.
• Apenas 5 estados são responsáveis pela demanda de 85% do etanol hidratado (E100) comercializado no País.
Em 2016, assume o Governo Temer, e, com a chegada de Pedro Parente na presidência da Petrobras, muda o cenário, abrindo novas perspectivas para o mercado de renováveis.
• Preços dos combustíveis no Brasil passam a ser alinhados com preço internacional (PPI), permitindo maior previsibilidade ao setor sucroenergético.
• Incentivo ao uso de biodiesel, com aumento gradativo de mistura.
• Criação e lançamento do programa RenovaBio e comercialização dos CBIOs.
Assistimos nos últimos 5 anos com essa sinalização positiva foi a volta dos investimentos em combustíveis renováveis.
Plantas de etanol de milho (greenfields) estão sendo inauguradas e, hoje, já ocupam produção de 15% do etanol total produzido no País. Muitos projetos em construção, assegurando um crescimento de oferta para os próximos anos.
Dezenas de usinas de biodiesel foram inauguradas, distribuídas aos 4 cantos do País, com capacidade instalada de mais de 12 milhões de m3, para um mercado de 6 milhões de m3 em 2022 para mistura de B10. Portanto, com potencial de atender, com tranquilidade, ao mercado com B15, conforme previsto no cronograma pelo CNPE para 2023.
Como sabemos, “Todo investimento depende do ambiente de negócio que vivemos, com políticas públicas economicamente sustentáveis e com a devida segurança jurídica”.
Os sinais dados ao setor de combustíveis renováveis no último ano voltaram a ser preocupantes, com mudanças nas regras que estavam estabelecidas, comprometendo resultados das empresas que apostaram investindo no setor, criando novamente uma forte insegurança jurídica.
• A redução de 30% do mercado de biodiesel, com a mistura até então de 13% para 10%;
• Alíquota dos impostos federais (CIDE, Cofins e Pis) sendo zeradas para a gasolina comum e etanol, reduzindo a competitividade do etanol e não reconhecendo as diversas vantagens que o biocombustível proporciona para a saúde, meio ambiente, economia, geração de empregos e desenvolvimento dos municípios brasileiros.
• Os impostos estaduais (ICMS), reduzidos percentualmente e com a PMPF sendo cobrada sobre a média dos últimos 60 meses para a gasolina (preço baixo), enquanto o hidratado (E100), com cobrança sobre o preço real de mercado, o que contribuiu para aumento da perda de competitividade do hidratado.
• O dilatamento do prazo para cumprimento da meta de CBIOs depreciou os preços dos certificados de descarbonização em mais de 50%.
Sabemos que o Brasil apresenta um enorme potencial para o mercado de biocombustíveis. No ciclo Otto, o hidratado (E100) participa com menos de 20% de market share , enquanto a frota de flex fuel é de 83%, carros que poderiam usar etanol hidratado, portanto temos o potencial para crescer, aproximadamente, quatro vezes o atual volume de vendas.
Em óleo diesel − somos importadores de 25% do volume consumido no País −, poderíamos ampliar a mistura e reduzir a dependência externa.
Temos terra, clima e, especialmente, tecnologia e uma força de trabalho experiente, com ambição de crescer e investir. Falta o setor público dar a garantia necessária, com política de longo prazo, que assegure confiança e retorno ao empreendedor.
Estamos diante de um novo governo neste ano de 2023, no qual depositamos e almejamos um ambiente de negócios seguro, atendendo aos compromissos que assumimos nas diversas COPs; a meta do RenovaBio de comercializar 47 milhões de metros cúbicos de etanol em 2030, com incentivo para as energias renováveis na transição energética que vivemos.
É preciso corrigir as decisões equivocadas, tomadas ao calor das últimas eleições, para tranquilizar e assegurar ao setor privado confiança na manutenção e ampliação dos investimentos necessários para atender ao enorme potencial existente no segmento de combustíveis renováveis. n
perspectivas do mercado de etanol
Neste ano, estamos completando 50 anos do primeiro choque do petróleo. O mundo era diferente de hoje, e o poder do cartel da Opep era muito maior. O choque foi imenso e abalou a economia mundial, e o Brasil, à época com sua estrutura primária de produção, carente de divisas, em meio a uma década de altos investimentos governamentais, tornou-se extremamente vulnerável.
O resultado não poderia ser pior. Importávamos boa parte do petróleo que refinávamos, e a gasolina era o único combustível para os veículos no País.
Sem muitas alternativas, reagimos e, em 1976, criou-se o Proálcool. Um programa destinado a fomentar a criação de destilarias anexas às usinas de açúcar existentes, para produzir etanol combustível e reduzir a nossa dependência do petróleo importado.
O programa decolou e, no princípio, produzíamos apenas o etanol anidro destinado à mistura com a gasolina, contribuindo para reduzir a dependência externa de combustíveis.
Quando, em 1979, vivenciamos o segundo choque do petróleo, mais uma vez a economia mundial ficou refém da poderosa Opep.
A reação do Brasil foi ainda mais criativa em comparação ao primeiro choque. Esse novo entrave ao nosso crescimento nos obrigou a desenvolver algo ainda mais inovador em termos de substituição de combustível, e, assim, criamos o carro “a álcool”. Movido por um motor a combustão que podia rodar exclusivamente com etanol hidratado.
Em menos de um ano, em 1980, lançamos o primeiro veículo comercial movido com o combustível vegetal. Passaram-se apenas oito anos, e mais de 80% dos veículos novos vendidos eram movidos a álcool. A frota mudou rapidamente, e os problemas apareceram. No final dos anos 1980, com o desabastecimento do produto nos postos de combustível, a venda dos veículos novos, movidos a álcool, foi reduzida a praticamente zero, e o etanol hidratado perdeu rapidamente a preferência dos consumidores.
Essa década provocou uma revolução silenciosa, que alavancou o setor sucroalcooleiro de forma consistente, porém o modelo de negócios tinha uma enorme dependência estatal: em normas, cotas de produção e vendas e, principalmente, preços.
Afetada pela redução da demanda do etanol hidratado, a indústria enfrentou uma enorme capacidade ociosa, não possuindo outra alternativa a não ser optar pela produção de açúcar destinado à exportação.
Encontramos um espaço para a nossa produção, e, junto, vieram os investimentos em infraestrutura de ferrovias, terminais e armazéns, necessários à movimentação do açúcar a ser exportado, e o etanol hidratado ficou abandonado à sua própria sorte, como um produto secundário, uma vez que os consumidores voltaram a comprar veículos movidos a gasolina.
No final dos anos 1990, a indústria sucroalcooleira viu o seu colapso com os baixos
Os desafios são imensos, e os entraves políticos, os fatores climáticos e financeiros dos últimos anos retardaram a recuperação do crescimento da oferta de matéria-prima.
O cenário é, ao mesmo tempo, fascinante e desafiador.
de combustíveis
preços do açúcar que não remuneravam as usinas, e não havia mercado de etanol para absorver os excedentes de açúcar de que o mundo não precisava mais.
O etanol hidratado, por sua vez, embarcou em uma decadência ainda maior. Os baixos preços começaram a atrair proprietários de veículos a gasolina a abastecerem com uma mistura de etanol e gasolina, conhecida popularmente como “rabo de galo”.
A demanda de etanol hidratado começa a reagir, impulsionada pela vantagem econômica da mistura, até que, em 2003, a Volkswagen oficializa o “rabo de galo” com o lançamento do primeiro veículo flex fuel do País.
O sucesso foi enorme, e em pouco tempo atingimos a marca de mais de 80% dos veículos novos no modelo flex. As montadoras que não possuíam essa opção simplesmente não vendiam.
A ideia de decidir pelo combustível no posto de abastecimento e não na concessionária caiu na graça dos brasileiros, tornando-se um exemplo para o mundo. Hoje, aproximadamente 80% da frota de comerciais leves que circula no País é flex, nos proporcionando uma demanda potencial muito significativa.
Todo o arcabouço fiscal, níveis de mistura de etanol anidro a gasolina necessários à competividade do etanol hidratado, foi resultado de grande trabalho e esforço de muitos do setor, que culminou com a aprovação da Emenda Constitucional nº 123, assegurando, por 20 anos, a competividade do etanol perante a gasolina, associado à consolidação do programa RenovaBio.
O vilão dos anos 1970, é, hoje, uma importante peça no equilíbrio do mercado de combustíveis, sendo a gasolina um de seus derivados e, particularmente, no Brasil, produzida por um modelo estatal, com uma política de preços nem sempre transparente e sujeita a influências políticas, como vimos recentemente, que provocaram um desequilíbrio entre os combustíveis fosseis e os renováveis.
É imprescindível blindar os pilares que sustentam essa competitividade, de forma a cumprirmos as metas claramente descritas no programa RenovaBio e atingirmos os compromissos de reduções de emissões firmados pelo País, no acordo de Paris.
Os desafios são imensos, e, como se não bastassem todos os entraves políticos e outros interesses, os fatores climáticos e financeiros
dos últimos anos retardaram a recuperação do crescimento da oferta de matéria-prima.
O cenário é, ao mesmo tempo, fascinante e desafiador. Sendo o Brasil um importante ator do mercado mundial de açúcar, o crescimento da demanda mundial nos próximos anos exigirá uma oferta maior de produto. Compartilhando da mesma matéria-prima para a produção de etanol, a arbitragem de preços entre eles, para os próximos anos, será muito acirrada.
Cabe ao setor buscar o equilíbrio para que possamos atender aos dois mercados de forma consistente e segura, alimentando o crescimento sustentável de toda a cadeia sucroalcooleira, em busca de aumento da produtividade e de inovações.
Temos uma forte concorrência com os grãos, igualmente importantes impulsionadores do crescimento do agronegócio, que concorrem com as mesmas infraestruturas de transporte, armazéns e terminais.
Os cenários de preços de petróleo ainda estão difusos, em decorrência das turbulências mundiais recentes, que afetaram a economia mundial de forma jamais vista. A redução gradual da inflação e, por consequência, dos juros, deve trazer um crescimento à economia mundial e um reposicionamento dos preços do petróleo.
Diferente de décadas anteriores, agora temos um direcionador muito forte, que é a inevitável ameaça da mudança climática, a qual não será resolvida queimando indiscriminadamente combustíveis fósseis, por mais atrativos e acessíveis que possam parecer. O relógio da humanidade não pode esperar, e os biocombustíveis são a transição imediata disponível para mitigar os danos já causados. Qualquer atraso na adoção de uma política consistente poderá ser irreversível.
Os biocombustíveis são uma realidade, e o Brasil está muito bem-posicionado. Tal condição favorece a atração de grandes investimentos, pois temos as condições climáticas, geográficas, humanas, técnicas e competência para assumirmos esse papel de protagonista no cenário mundial.
Essa história que começou por um fator externo há cinquenta anos, agora está consolidada, e nem por isso está imune a ataques destinados a desestabilizá-la. Com a resistência de todos os agentes, enxergamos forte potencial desse relevante setor para escrever um novo capítulo nos próximos anos. n
um ano de superações:
construindo a história produtores do sistema bioenergético
Ao iniciarmos 2023, percebemos o momento de grande instabilidade nos campos político e econômico e os inúmeros desafios que se apresentam neste momento por que passa nosso País e várias regiões do mundo.
Continuamos em guerra na Europa e em um período de pós-pandemia ainda incerto, o que mexe com mercados em todo o mundo, trazendo ainda mais volatilidade a setores altamente dependentes neste mundo, cujas fronteiras físicas estão cada vez menores e cujos impactos de ações, mesmo que tomadas a milhares de quilômetros, chegam em questão de segundos a todos os cantos.
Nesse cenário cada vez mais desafiador para commodities e moedas nos cinco continentes do Planeta Terra, iniciaremos, nas próximas semanas, nossa 20ª safra de cana-de-açúcar na Usina Vertente, de Guaraci, São Paulo, numa parceria dos Grupos Humus e Tereos.
Os números de nossa safra 2022/23 na Vertente somaram muitos recordes, e outros desafios em que estamos trabalhando com nossas equipes, a fim de que possamos celebrar essas duas décadas de operação consolidando-nos como um dos principais players neste competitivo universo sucroenergético.
Nossa produtividade média saltou de 72 ton de cana-de-açúcar por hectare, na safra 2021/22, para 82 ton de cana na última temporada, ainda abaixo de nosso potencial agronômico "
Finalizamos a última temporada com a moagem de 2,13 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas e a produção de 3,6 milhões de sacas de açúcar; 70,37 milhões de litros de etanol, entre anidro e hidratado; além de 106 mil megawatts de bioeletricidade, produzidas através da queima do bagaço da cana, exportadas para a rede.
Nossa produtividade média saltou de 72 toneladas de cana-de-açúcar por hectare, na safra 2021/22, para 82 toneladas de cana na última temporada, ainda abaixo de nosso potencial agronômico e refletindo as intempéries climáticas dos últimos anos.
A fim de melhorarmos nossa performance , estamos investindo em diversas frentes, desde a capacitação profissional e formação de mão de
obra para nossa unidade até investimentos vultosos em irrigação e melhorias contínuas dos tratos culturais em diferentes frentes.
Na área agronômica, finalizamos, em 2022, a instalação de um projeto piloto de irrigação por pivô central numa área de 80 hectares, com investimento na ordem de R$ 4 milhões, que devem incrementar, já nesta safra 2023, a produtividade média em pelo menos mais 10 toneladas de cana por hectare, atenuando o impacto dos períodos de seca.
O projeto é complementado, também, pela fertirrigação, que consiste na aplicação de água residuária junto à vinhaça nos canaviais, mitigando, assim, parte do déficit hídrico da Vertente.
Esse investimento na irrigação por pivô, necessário para a melhoria de nossos índices de produtividade, só foi possível graças à disponibilidade de água, uma vez que estamos localizados às margens do Rio Grande, com outorga de uso já aprovada.
Investimos ainda mais R$ 2 milhões na aquisição de dois novos equipamentos para aplicação de vinhaça localizada, tendo em vista, sempre, a máxima de que o açúcar é produzido no campo, com melhorias sempre contínuas, que vão desde o preparo de solo, cuidados com os tratos culturais, colheita até o transporte da cana.
Esperamos que, para a safra 2023/24, já possamos colher os resultados desses investimentos vultosos e que estejamos preparados para mais em outras frentes, mantendo-nos aptos a melhorias constantes em nossos processos.
Mas não é apenas no campo que estamos investindo. Na área industrial, nossas equipes também estão se desdobrando em melhorias de processos, automações e melhores performances.
Fomos uma das primeiras unidades no País a extrair o caldo da cana-de-açúcar em um sistema híbrido, onde o caldo primário é extraído num terno de moenda e, depois, um moderno sistema de difusor extrai o máximo da matéria-prima, tornando-nos referência nesse quesito.
Mas todos esses números só são possíveis graças a uma equipe engajada e em constante treinamento, outra frente de investimentos ininterrupta em nossa unidade. Nos últimos anos, percebemos uma deficiência cada vez
maior em profissionais de nível médio para as funções de operadores, eletricistas, mecânicos, profissionais de campo, motoristas, dentre tantas outras profissões.
Pensando nessa falta de mão de obra, buscamos na UDop – União Nacional da Bioenergia, entidade que tenho a honra de presidir desde o ano passado, e na Consultoria Datagro, com as quais, juntos, estamos desenhando um projeto inovador que abrirá uma nova linha de formação e capacitação profissional, atendendo a uma deficiência cada vez mais presente em inúmeras unidades.
O trabalho na formação profissional, por sinal, sempre foi uma característica presente em nossa gestão. Já nos primeiros anos, quando da construção da Vertente, busquei auxiliar as prefeituras da região, junto a programas de alfabetização e qualificação profissional, com parcerias sólidas e que trouxeram inúmeros resultados.
Por acreditar no potencial do ser humano é que estamos investindo, Usina Vertente, UDOP e Datagro, nesse novo formato de cursos de formação e capacitação, cujos resultados, seguramente, colheremos nos próximos anos.
Todos esses esforços, no entanto, tendem a nos fortalecer, enquanto setor, para estarmos prontos a atender a busca cada vez maior por soluções sustentáveis para o ávido mercado de energia limpa, que terá, seguramente, o etanol como vanguardista na corrida por uma solução limpa e renovável na matriz de veículos leves, ainda mais agora, com os veículos híbridos flex, uma nova revolução para nosso segmento.
Ainda levando-se em consideração os aspectos voltados para o ESG, a Vertente sai, novamente, na frente, e com sua sócia, Tereos, têm feito um investimento na produção de biogás, que deverá substituir a utilização dos veículos pesados a diesel por uma solução menos poluente, que contribuirá, ainda mais, para nosso balanço energético no médio e longo prazo, para a obtenção de CBIos.
Por tudo isso, me sinto renovado para mais uma safra à frente da Vertente, do Grupo Humus e de nossa UDOP, referência hoje na capacitação profissional de nosso setor.
Que possamos nos sentir energizados e revigorados para os novos desafios que se apresentam, na certeza de que, neste exato instante, está se erguendo o futuro. n
Educação continuada
Imagine que você descobrisse que o médico com o qual você vai fazer uma cirurgia cardíaca na manhã seguinte se formou há 20 anos como o melhor aluno da sua classe, na melhor faculdade de medicina do País. Muito bom, hein?!
Entretanto, nos últimos 20 anos, ele não leu nenhum livro, nem participou de nenhum congresso, nem teve por costume ler regularmente revistas especializadas da sua área médica.
Você faria a cirurgia em paz?
gratuita
No que se refere a nossa área, quantas tecnologias foram desenvolvidas e implantadas nessas duas décadas como o estado da arte e, depois de algum tempo, substituídas por uma nova opção, muito mais eficaz e eficiente, que tomaria o lugar da anterior, até ser igualmente substituída por uma mais nova ainda.
Quantas pragas e doenças apareceram, desapareceram, e algumas até voltaram? Quantas técnicas foram substituídas nesses últimos 20 anos?
Nenhum conhecimento é definitivamente eterno. A faculdade está sempre atualizada, mas tão somente até o dia da sua formatura. Os livros, igualmente, até o dia da sua publicação. As opções que são continuadamente atualizadas são os congressos e as publicações regulares das áreas.
Conhecendo esse cenário e o que passou a representar nesses 20 anos de operação para as universidades, centros de pesquisa e empresas do sistema agrícola e florestal, a Revista Opiniões decidiu abrir inscrições para que todos os estudantes de todos os cursos de agroconhecimento, de qualquer parte do Brasil e do mundo, passem a receber gratuitamente as suas publicações.
O objetivo é fazer com que o estudante, desde o primeiro dia de aula, passe a participar da vida empresarial na qual se integrará, em alguns anos, já com atualizado conhecimento do que está sendo discutido, avaliado e implantado nas empresas.
Muitos dos executivos e cientistas que hoje escrevem na Revista Opiniões declararam que liam nossas edições desde quando ainda eram estudantes nas universidades.
Ampliando o projeto de educação continuada, decidimos também abrir as inscrições gratuitas para todos os funcionários das áreas técnicas, agrícolas, industriais e admistrativas das empresas produtoras e fornecedoras dos sistemas florestal e bioenergético de qualquer parte do Brasil e do mundo.
Todos os artigos da Revista Opiniões têm áudios traduzidos para 5 idiomas: português, inglês, espanhol, francês e alemão.
O acesso à informação dirigida é a mais eficiente forma de unificar e atualizar o conhecimento entre todos os funcionários em cargos de comando, bem como preparar os funcionários em ascensão para assumi-los. Esta é a mais eficaz e natural forma de gerar a educação.
Para se cadastrar na plataforma do programa de "Educação Continuada da Revista Opiniões" e passar a receber regular e gratuitamente as edições de nossas revistas, basta enviar um e-mail conforme especificado abaixo:
• Para: Jornalismo@revistaopinioes.com.br
• Assunto: Educação continuada gratuita
• Corpo do e-mail:
- Nome do funcionário ou estudante
- Área de trabalho ou curso que frequenta
- Nome da empresa ou da escola
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- e-mail secundário ou pessoal
• Conforme a Lei nacional de proteção de dados, garantimos que as informações não serão utilizadas para qualquer outro interesse.
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do sistema bioenergético
oportunidade de desenvolvimento nacional integrado
A ordem do dia, na elaboração, construção e execução de processos e projetos econômicos com alcance social, é a sustentabilidade ambiental dos mesmos e sua maior inserção social. Para tanto, governos e empresas inserem ou exigem, nesses projetos, o conceito e a aplicabilidade do ESG – environmental, social and corporate governance. A necessidade dessa governança ambiental e corporativa impõe a viabilização desses empreendimentos com as questões dos fundamentos na bioeconomia e na bioenergia de hoje e sua perspectiva para o futuro, menos pelo simplismo do “politicamente correto” e muito mais pelo “ambientalmente correto”, contribuindo para a redução do efeito estufa na atmosfera e a desaceleração das mudanças climáticas, que proporcionam as devastações de cheias e secas, calor e frios extremos atípicos, volatilidade errática das estações regulares do clima e as implicações desestruturadoras na organização social das comunidades sociais, notadamente dos mais pobres.
A humanidade assistiu, com satisfação, a todas as mudanças de hábitos, à aceleração do progresso e à redução da pobreza com a chegada a Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, e com a “era do petróleo”, na segunda metade do século XIX, com seu apogeu no século XX.
O desenvolvimento tecnológico, a redução de custos nos processos de transformação e a expansão do uso da energia na melhoria e bem-estar do dia a dia das pessoas se transformaram nos únicos motivadores no desenvolvimento para maior oferta desses benefícios. Notadamente, a disponibilização de energia advinda do combustível fóssil – petróleo –, armazenada por milhares de anos no subsolo e no fundo dos oceanos, se constituiu no grande avanço tecnológico civilizatório de então.
Nesse processo, assumiu grande destaque o uso dos combustíveis líquidos em larga escala – diesel e gasolina – para viabilizar a circulação de pessoas e materiais.
O crescimento populacional acelerado passou a exigir, cada vez mais, o aumento do consumo na queima pela combustão desses combustíveis, acarretando a correspondente e inevitável liberação de CO2 para a atmosfera. Identificou-se, a partir de então, uma simetria entre essa descarga de CO2 e muitas mudanças no comportamento climático de várias regiões do planeta, gerando tragédias e desarranjos sociais e agrícolas de grandes proporções. É fato, também, que essa liberação excessiva de gás carbônico veio concomitante com a liberação de outros gases de outras atividades industriais e urbanas que, juntos, passaram a contribuir para a formação do efeito estufa, e a contribuição decisiva é cientificamente comprovada medida pelo aquecimento progressivo das águas oceânicas e os reflexos no degelo atípico das camadas polares e na interrupção do processo natural da evaporação das águas do planeta para a atmosfera.
A ordem, que se impõe, de convivência civilizatória socialmente justa e ambientalmente correta para o equilíbrio do nosso planeta é reduzir a pegada de CO2 no ir e vir das pessoas e nos processos de transformação industrial vigentes. "
Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Sindaçúcar-ALComo não poderia ser diferente, a ciência e a tecnologia foram chamadas a se debruçar sobre as soluções para a inibição ou a redução da velocidade desse processo negativo para o equilíbrio climático do planeta e a consequente redução desses efeitos na vida dos povos.
Assim, de forma clara e inequívoca, a biologia, a química e a física nos oferecem a solução para esse incômodo problema, com a defesa do maior uso da bioenergia – energia renovável – de fontes limpas para se transformar na alavanca que deverá operar os sistemas de tecnologia industrial e de mobilidade social atuais.
A ordem, que se impõe, de convivência civilizatória socialmente justa e ambientalmente correta para o equilíbrio do nosso planeta é reduzir a pegada de CO2 no ir e vir das pessoas e nos processos de transformação industrial vigentes.
A oportunidade, como nunca se verificou, é brasileira para esse histórico, integrado e sustentável processo de transformação planetário exigido por todos comprometidos com o bem-estar do ser humano.
O Brasil, há meio século, desenvolveu o seu biocombustível – etanol –, com larga produção e eficiente sistema de distribuição, e está apto a liderar esse processo de transformação, quer seja pela significação dessa experiência para o resto mundo, quer seja, sobretudo, pela importância que essa atividade assumiu no desenvolvimento nacional, na integração regional e na certificação da produção do biocombustível etanol mais relevante ambientalmente quando comparado com todos os processos de motorização veicular de baixo carbono em estudo ou desenvolvimento no mundo.
Os estudos técnicos e científicos já do conhecimento público, as manifestações da indústria automobilística nacional e a opinião fundamentada da academia com relação à produção e ao uso do etanol no Brasil nos recomendam concentrar os esforços de política pública e de desenvolvimento tecnológico empresarial nesse biocombustível. Sem discorrer, nesse momento, aspectos físico-químicos, nos permitimos destacar:
• Por força de lei, a produção e a distribuição de etanol no País passaram a ser realizadas e qualificadas através de certificação, por agentes credenciados internacionalmente, como decorrência de uma metodologia exigida pelo RenovaBio
– Política Nacional de Biocombustíveis, através da qual os produtores são estimulados a produzir sem desmate e com a menor pegada de carbono em seu processo agrícola-industrial. Pelo seu conteúdo, essa política representa o maior programa de descarbonização hoje conhecido.
• No que se refere à motorização veicular propriamente dita, os carros a combustão flex, movidos a etanol, já emitem a metade de CO2 (60 g) quando comparados aos veículos elétricos na Europa (120 g), na consideração correta do processo pelo ciclo de vida do combustível.
• A adequação natural e automática dos motores a combustão a etanol, com a motorização veicular elétrica através dos carros híbridos, é processo em uso.
• A produção de etanol a partir da biomassa cana-de-açúcar, pela resultante da fotossíntese, protagoniza um evento de energia solar palpável.
• As entregas ambientais que o etanol proporciona na vertente da descarbonização são concretas e indiscutíveis, se configurando num facilitador no cumprimento das metas assumidas pelo Brasil nos Acordos mundiais sobre o meio ambiente e a necessária adoção de processos de uso de energia sem estimular o “efeito estufa”.
• O estímulo e a integração que o Brasil vem desenvolvendo junto a países africanos e asiáticos para a produção de etanol nessas regiões contribuem para a reorganização geopolítica mundial, com vistas ao desenvolvimento social e humano.
• Destaque, ainda, para o fato de cada veículo a etanol ser uma fonte de hidrogênio verde para motorização nos futuros carros movidos a células de combustíveis.
Ademais, e não menos importante, assume notória relevância, em nosso estágio atual de desenvolvimento econômico, o aspecto da importância social dessa atividade, pelos milhares de empregos absorvidos e a qualificação profissional que se pratica. Sem dúvida, o “S” do conceito ESG se apresenta de forma marcante e destacada nessa atividade.
Essa massa de empregos, por si só muito relevante, se espalha por todos as regiões do País, transformando essa atividade para além do desenvolvimento sustentável, na medida em que dá suporte a uma integração regional e nacional nos milhares de municípios onde se verifica a produção.
O início da produção em larga escala de etanol em nosso País, meio século atrás, a introdução pioneira dos carros flex há 20 anos, e o avanço na meritocracia na produção através do RenovaBio, desde de 2018, nos recomendam, enquanto País, a não copiar ou importar processos de motorização que não se harmonizem com o nosso consolidado polo sucroenergético, pela sua entrega ambiental relevante, pelo seu peso econômico-social na integração nacional na produção e pela inserção plena nos conceitos da bioenergia e nos postulados da bioeconomia. n
Localização dos leitores da Revista Opiniões, Tem muita gente analisando o seu artigo, o
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Fonte: Google Analytics
os 20 anos do carro flex no Brasil
Etanol ou gasolina? Você certamente já ouviu (ou disse) essa frase. Mas o que você sabe sobre os carros flex? Tecnologia 100% brasileira comemora duas décadas neste ano. Bem, antes de temas como descarbonização ou mobilidade sustentável ganharem o mundo, o mercado automotivo brasileiro já se notabilizava pela peculiaridade de usar um combustível limpo, o etanol, como fonte energética em seus motores a combustão.
O carro flex fuel caiu no gosto popular dos brasileiros, sendo um item indispensável na hora de se comprar um automóvel novo. A vantagem de poder escolher o combustível no momento do abastecimento, e não mais na concessionária, trouxe mais liberdade ao consumidor.
A história do uso do álcool, ou etanol, como combustível no Brasil, remonta aos anos 20 do século passado com o uso do USGA , desenvolvido pela centenária Usina Serra Grande, em Alagoas, e ganhou grandes proporções com as consequências dos choques dos preços do petróleo na década de 1970, primeiro com a intensificação do uso do etanol misturado à gasolina e, depois, com o lançamento, em 1979, do primeiro veículo a álcool hidratado no Brasil. Do sucesso das vendas dos veículos a álcool, na primeira metade da década de 1980, às dificuldades vistas no final dessa década e ao longo da seguinte, o Brasil desenvolveu um sistema de produção e distribuição de etanol que atingiu os quatro cantos do País.
após 2 anos de mercado, os veículos flex já representavam mais da metade das vendas no País. Atualmente, de cada 100 veículos rodando nas ruas e rodovias do País, 84 são flex e podem ser abastecidos com etanol. "
Mário Campos Filho
Presidente do Fórum Nacional Sucroenergético e da Siamig - Associação das Indústrias Sucroenergéticas MG
Ao final de 2002, as vendas de carros a álcool no Brasil representavam “traço” na estatística, e a frota circulante caía a cada ano, chegando a representar 15%. A oferta ainda consistente de etanol mantinha, naquele momento, os preços bem competitivos, e muitos consumidores passaram a misturar gasolina e etanol no momento do abastecimento por conta própria, o chamado “rabo de galo”.
A indústria automobilística já desenvolvia, desde a década de 1980, uma tecnologia que permitisse que os veículos operassem com etanol e gasolina ao mesmo tempo. Em março de 2003, a tecnologia flex fuel estreou com a Volkswagen apresentando, durante a festa de comemoração de 50 anos de operação no País e com direito à presença do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o Gol 1.6 Total Flex.
O modelo da Volkswagen seria o primeiro de uma série de lançamentos que ganharam o mercado, com a nova tecnologia: o flex brasileiro, como foi batizado, capaz de consumir etanol, gasolina ou qualquer mistura entre os dois combustíveis, de modo a dar, ao consumidor final, o direito de escolha do combustível a cada abastecimento, considerando seu custo, disponibilidade ou qualquer outro atributo de sua conveniência.
O crescimento da frota capaz de abastecer com etanol devolveu ao hidratado o potencial de concorrência com a gasolina. Uma ampla janela de oportunidades se abria para o setor sucroenergético brasileiro, e o mercado interno voltava a ser ponto fundamental para o crescimento do setor no Brasil. Naquele momento, o mercado era sustentado pela mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina e por uma frota em acelerada depreciação dos antigos carros a álcool. O lançamento do carro flex e o seu sucesso a partir de 2003 mudam, de forma estrutural, o setor sucroenergético e todo o mercado de combustíveis no Brasil. Os dados históricos demonstram a grande aceitação do flex fluel pelos consumidores, após 2 anos de mercado, os veículos flex já representavam mais da metade das vendas no País.
A evolução do flex no Brasil decorre de uma série de fatores que auxiliaram a dinâmica da oferta de novos modelos de automóveis com essa tecnologia, o crescimento da produção de etanol no País e o incremento das estruturas logísticas, transporte, armazenamento e bombas nos postos de combustíveis.
O País passou por um crescimento vertiginoso de sua frota nos anos subsequentes ao lançamento do flex, o que possibilitou sua rápida renovação. Atualmente, de cada 100 veículos rodando nas ruas e rodovias do País, 84 são flex e podem ser abastecidos com etanol. Além disso, o crescimento da preocupação ambiental e o aumento dos preços do petróleo elevaram os preços da gasolina, dando ainda mais espaço para o combustível limpo e renovável. Contudo, a mudança mais estrutural que se viu foi uma série de políticas públicas focalizadas no etanol
e na sua competitividade a partir da criação de um diferencial tributário, tanto em nível federal quanto estadual. Já em 2001, o Governo Federal lançou a CIDE-Combustíveis, incidindo sobre combustíveis fósseis. Em dezembro de 2003, o então governador de São Paulo e atual vice-presidente da república, Geraldo Alckmin, sancionou a lei que reduzia a alíquota ICMS do etanol hidratado de 25% para 12%, tornando-se o primeiro estado a adotar essa medida. A lei entrou em vigor em 2004 e foi seguida por outros estados nos anos seguintes.
Atualmente, 14 estados estabelecem diferenciais tributários de ICMS entre etanol hidratado e gasolina. A questão é tão crucial a esse mercado que, em 2022, o Congresso Nacional decidiu por colocar na Constituição Brasileira, no seu capítulo que trata de meio ambiente, a obrigatoriedade de apresentar um diferencial tributário entre etanol e gasolina no que tange aos impostos federais e estaduais. Com tributação menor e mais competitivo que a gasolina, o consumidor era incentivado, além de comprar um veículo flex, a também abastecer com o etanol hidratado.
Os 20 anos do carro flex fuel chegam quando as atenções do mundo se voltam para as fontes alternativas de energia de baixa emissão, em que o etanol precisa ter um grande destaque. Além da forte tendência global de eletrificação no setor automobilístico.
O conjunto de agentes de mercado que compõem o ambiente do etanol no Brasil está atento a essa tendência e, em um movimento de antecipação, quer fazer da ameaça de mercado uma oportunidade para consolidar o papel socioambiental do biocombustível.
A eletrificação de veículos é associada aos carros movidos a bateria. Mas essa não é a única possibilidade, existem alternativas, como os modelos híbridos flex, já lançados no Brasil, e a célula a combustível. Nesse último, o etanol é fonte de hidrogênio que alimenta o sistema em forma de energia.
O Brasil é um mercado pioneiro na junção do etanol à eletrificação, em busca de soluções para reduzir o impacto ambiental. O carro híbrido e o movido a hidrogênio são possibilidades diferenciadas dentro do mercado brasileiro, já contam com apoio da indústria automobilística e de diferentes montadoras. Para um país que criou sua própria rota nos últimos 50 anos para driblar crises e incentivar ainda mais suas vocações internas, não nos parece difícil pensar que, no futuro da mobilidade sustentável, o etanol continuará tendo protagonismo, inclusive para além das fronteiras brasileiras. n
o começo da realidade
Prestes a encerrarmos a safra 2022/23 na principal região produtora de cana-de-açúcar do Brasil, o Centro-Sul, nos deparamos com números, de certa forma, “assustadores” em alguns aspectos, principalmente no que tange à produtividade de nossos canaviais, principal matéria-prima do complexo bioenergético para a produção de açúcar, etanol e bioeletricidade. Dados do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2032) da EPE – Empresa de Pesquisa Energética, ligada ao Ministério de Minas e Energia, mostram que o País deve colher, na atual temporada, algo como 583 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, em uma área territorial de cerca de 8,2 milhões de hectares e uma produtividade média de 71 toneladas de cana por hectare.
Considerando, ainda, uma projeção para os próximos 10 anos, que faça a produção de etanol saltar de 31 bilhões de litros (números de 2022 projetados pelo PDE) para 47 bilhões de litros em 2032, vemos a importância de uma pauta cada vez mais premente que seja alicerçada no crescimento verticalizado de nosso setor, com aumento de produtividade aliada a mais e mais investimentos em novas tecnologias e sistemas de produção.
Somos a melhor alternativa energética para a mobilidade sustentável, e o mundo já se atentou para isso. Na Ásia, China e Japão, com misturas regulatórias; na Europa, com o Renewable Energy Directive; nos USA, com o Renewable Fuel Standar; e, agora a Índia, misturando 20% de etanol na gasolina. "
Antonio Cesar Salibe Presidente Executivo da UDOPHá mais de uma década, venho defendendo, de forma até exaustiva, que precisamos de uma política pública, e fomento privado, para que nossos institutos de pesquisa sejam estimulados para trabalharem mais fortemente nos ambientes de produção, que hoje são os principais gargalos de nossa baixa produtividade.
No último mês de dezembro, para citar um episódio recente, participando como convidado na comissão responsável pela transição governamental do Presidente Lula, pude defender, novamente, para uma plateia muito seleta, a criação de uma Embrapa Cana, organismo que poderia agrupar as diversas Embrapas, que, hoje, pesquisam, de forma descentralizada, a cana-de-açúcar.
A então Senadora e Ex-Ministra da Agricultura, Kátia Abreu, acompanhada do hoje Ministro da Agricultura Carlos Henrique Fávaro, dentre outras autoridades, se mostraram até surpresos pela não existência da Embrapa Cana, considerando o protagonismo brasileiro quando o assunto é o etanol e sua contribuição, mais do que reconhecida, para nossa matriz energética.
Essa unidade da Embrapa Cana, que poderia ter, inclusive, um escritório físico apoiado pela Udop para a união dos pesquisadores que já atuam na cana-de-açúcar, e áreas experimentais a céu aberto, nas associadas Udop, com expertise de nosso setor, poderia demandar pesquisas, por exemplo, em temas hoje muito importantes e determinantes para nosso segmento, como o espaçamento de cana ideal; a adubação necessária para cada tipo de solo e variedade de cana específica; sistemas de colheita mecanizados com menor impacto na compactação do solo; controle de pragas e doenças no novo sistema onde a palha fica depositada no campo; para citar apenas alguns.
O que temos, hoje, são excelentes institutos de pesquisa que estão dedicados em nos oferecer as melhores variedades de cana-de-açúcar, cada vez mais resistentes a alguns fatores, como clima adverso, estresse hídrico, pragas de doenças, dentre outros, mas não temos nada, ou quase nada, quando o tema se volta para os sistemas diferenciados de produção.
Vale aqui destacar, por exemplo, a grande esperança acalentada por todo o nosso setor no lançamento da Semente de Cana, hoje estudada pelo CTC, que pode representar ganhos enormes para o atingimento de nossos objetivos, mas que, no nosso entendimento, precisa ser acelerado, a fim de se resolver outro importante gargalo.
A Embrapa Cana, como tenho defendido, e colocado até nossa Udop como apoiadora no que for preciso para sua implantação, poderia significar uma alavanca essencial para esse aumento de produção, estimado pela EPE em mais de 50% nos próximos 10 anos.
Em paralelo a esses esforços, que, como disse anteriormente, demandam políticas públicas e incentivos para que a iniciativa privada possa enveredar por esse caminho, continuamos a passos largos avançando na produção de etanol de milho e do etanol lignocelulósico, o conhecido etanol 2G.
Ainda com os dados do PDE 2032, vemos a projeção da EPE para a oferta em 10 anos, dos atuais 4,4 bilhões de litros de etanol de milho
(segundo dados da Unem) para 9,1 bilhões de litros a partir do cereal, além do uso do bagaço e da palha da cana para a produção de outros 560 milhões de litros de etanol celulósico em uma década.
Tudo isso se justifica, ainda, quando vemos as projeções do MME de que o etanol possa fazer crescer sua participação no ciclo Otto dos atuais 44% (2022) para 55% (2032).
Se somarmos a essa equação a demanda de etanol para sua participação efetiva na rota da motorização híbrida flex, como solução para o processo de eletrificação mais eficaz hoje, vemos o quanto nosso setor demanda, mesmo, de pesquisas e tecnologias que propiciem nosso crescimento, não apenas horizontal, na expansão das áreas cultivadas, mas, principalmente, no crescimento vertical, com ganho de produtividade que se reverterá em aumento de competitividade.
Para que o ciclo se feche, ainda, e não menos importante, temos a pegada ambiental, cada vez mais em voga hoje com a adoção de práticas de ESG, muito presentes em toda a cadeia da bioenergia. Somos, seguramente, a melhor alternativa energética no curto prazo para a mobilidade sustentável, e o mundo já se atentou para isso, o que é provado com o aumento da produção e de políticas públicas para o etanol em quase todos os continentes, de forma notável na Ásia (com China e Japão com misturas regulatórias); na Europa (com o Renewable Energy Directive); nos Estados Unidos (com o Renewable Fuel Standar); e, mais recentemente, com a Índia, aumentando sua mistura de etanol na gasolina para 20%.
Pensando em dar maior visibilidade a este aspecto tão importante da equação que torna nosso etanol ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável, a Udop criou, em 2021, o Prêmio Udop/Embrapa de Boas Práticas Ambientais e, em 2022, o Selo Udop de Boas Práticas Ambientais, reconhecendo o trabalho diuturno de sustentabilidade de nossas associadas.
Encerro essas breves reflexões com um tom otimista, que tenho adotado em toda a minha trajetória de mais de 50 anos completados com o trabalho em cana-de-açúcar no último mês de janeiro, parafraseando Miguel de Cervantes, em Dom Quixote, “Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho. Quando se sonha juntos, é o começo da realidade”.
Tenho esperança de que, com os esforços de todos, conseguiremos avançar um passo a mais rumo à sustentabilidade de nosso planeta. n
bioenergia: o combustível do futuro
A produção de bioenergia é um caminho certo e seguro para a retomada do crescimento industrial e, consequentemente, do desenvolvimento econômico do Brasil. Com uma demanda mundial crescente por uma economia de baixo carbono, o País tem a chance de ser protagonista nesse cenário. Nossa bioenergia, produzida em todas as formas – seja biocombustíveis, bioeletricidade, biogás –, pode ser um relevante produto brasileiro no mercado internacional. O mundo vive uma junção de crises energética e climática, gerando uma corrida tecnológica para a consolidação e viabilidade econômica de novas fontes de energia, em especial, as renováveis. Sendo assim, a perspectiva para o setor bioenergético é muito positiva, com o aumento significativo na demanda por fontes de energia alternativas, com baixa pegada de carbono e menor impacto ambiental. A janela de oportunidade está aberta à nossa frente. Essa é uma agenda, sobretudo, de tecnologia, inovação, desenvolvimento econômico e social.
Com um potencial energético verde como nenhum outro lugar do mundo, o Brasil tem um enorme diferencial competitivo, principalmen te se compararmos os aspectos de capacidade tecnológica para o aumento de produtividade.
A Agência Internacional de Energia (AIE) considera a matriz energética brasileira uma das mais limpas do mundo e aponta o País como um dos mais capazes de contribuir para a redução do impacto da geração de gases do efeito estufa.
Essa não é apenas uma agenda ambiental, essa é uma agenda de inovação. Trata-se de desenvol vimento econômico e social. Mais dinheiro, mais emprego, melhor renda para a população. Todos sa em ganhando, setor produtivo, tan to agropecuária quanto industrial, população, nação e o mundo. "
Silvio Cézar Pereira RangelPresidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (FIEMT) e Presidente do Sindicato de Bioenergia de Mato Grosso
Conforme dados do balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), quase 48,4% da energia produzida no País tem como origem fontes renováveis, como hídrica, eólica, solar, biogás e derivada de cana-de-açúcar, e ainda temos o promissor hidrogênio verde. Enquanto isso, a média mundial da matriz energética de fontes renováveis é de 13,8%. Para o País ampliar sua participação no mercado de bioenergia, o setor precisa investir em pesquisa e desenvolvimento, buscando soluções para aumentar a eficiência e a sustentabilidade da produção. E isso passa, é claro, por uma política de incentivo do Governo Federal, que já declarou que essa é uma pauta cara e prioritária. Etanol - a realidade da transição energética: Como representante do setor e conhecedor dos processos, oportunidades e desafios, posso afirmar que o etanol tem um dos papéis mais importantes na transição energética para a mobilidade urbana, já que pode reduzir em até 70%
das emissões de gases de efeito estufa, em relação ao combustível fóssil. Já temos uma indústria forte e consolidada. Somos o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, responsáveis por pouco mais de 50% da produção mundial, enquanto, no Brasil, produzimos cerca de 27% desse biocombustível. Na última safra, foram produzidos mais de 27 bilhões de litros de etanol no Brasil.
Atualmente, 20% do consumo do setor de transporte brasileiro é de combustíveis renováveis, e a tendência é de crescimento. Vale destacar algumas políticas públicas para incentivo para uso do etanol, como o Programa Nacional do Álcool – Proálcool, criado em 1975, e que contribuiu para impulsionar a produção de bioenergia no País, nas últimas décadas. Esse foi o maior avanço tecnológico da história da indústria automobilística brasileira e nasceu por causa da crise mundial do petróleo. A evolução do programa possibilitou o nascimento de uma tecnologia genuinamente brasileira, o carro flex, que hoje já está em mais de 80% da frota de veículos leves do Brasil.
Nos tempos atuais, também por conta do petróleo, mas em razão dos efeitos nocivos com a emissão de gás carbônico, foi criado um novo mecanismo para a produção de etanol, a Política Nacional de Biocombustíveis – RenovaBio. Muitos dos resultados positivos dos anos recentes se deram em razão desse programa.
Lançado em 2018, o RenovaBio é um programa inovador, que reúne incentivos à produção de biocombustíveis e, por consequência, à redução de emissões de gases de efeito estufa, com a mensuração de dados que possibilitam o cálculo aditável dessas informações.
Com a implementação do Crédito de descarbonização de Biocombustíveis (CBIOs), o RenovaBio passou a conter um instrumento financeiro utilizado para medir e creditar as emissões de gases de efeito estufa evitadas pela utilização de biocombustíveis. Instrumento esse que possibilitou investimentos na expansão da produção de etanol orientada em uma transição energética mais eficiente, reforçando o papel dos biocombustíveis na matriz de combustíveis.
A partir da RenovaCalc, a calculadora do Programa RenovaBio, o setor tem investido em novas tecnologias e em aumento de produtividade para ampliar sua eficiência, garantindo uma produção renovável, revertendo políticas públicas em um melhor meio ambiente para o Brasil e para o mundo.
Em um momento em que o mundo discute a regulamentação do Mercado de Carbono global, o RenovaBio é um exemplo de iniciativa
inovadora e funcional, com monitoramento, reporte e verificação, além de gerar benefícios e retornos para as reduções de emissões. Basta ao Brasil assumir que o mercado de bioenergia é fundamental, para além da geração de emprego, rendas, investimentos e disponibilidade de biocombustíveis, para a descarbonização da produção brasileira e mundial.
Mercado em crescimento: Somos o maior produtor do mundo de etanol a partir da cana-de-açúcar. E, agora, se soma a esse pujante mercado o etanol que tem como matéria-prima o milho. A produção desse biocombustível vem crescendo com a criação de novas indústrias, especialmente no Centro-Oeste, e a expectativa é de que a safra 2022/23 chegue a 4,5 bilhões de litros. Em Mato Grosso, quase 80% da produção de etanol é de milho. Nosso estado é a prova de que podemos aumentar a nossa produção de bioenergia preservando nosso território, mantendo sua biodiversidade.
Temos uma característica diferenciada pela produção de etanol de milho de “segunda safra”, plantio no mesmo terreno onde a soja foi plantada, sem aumento de novas áreas agrícolas.
Com essa nova indústria, também temos incrementado a produção de carne bovina, pois, com o resíduo, é produzido o DDG (Grão de Milho Seco por Destilação, em português), composto proteico usado como ração animal e que tem contribuído para aumentar os confinamentos de gado, reduzindo a idade de abate: mais carne produzida sem aumento de área para a pecuária.
E Mato Grosso já está desenvolvendo novas tecnologias para o incremento da geração de bioenergia no Brasil. Investimento relevante está na produção de biogás e biometano a partir da vinhaça gerada nas indústrias de etanol. O primeiro componente gera energia elétrica, e o segundo substitui o diesel nos automóveis, contribuindo ainda mais para a descarbonização.
Nos tempos atuais, o crescimento econômico deve estar atrelado a uma agenda de sustentabilidade ambiental. Por isso o Brasil tem chance de ser protagonista nessa nova agenda econômica mundial.
Para a indústria, não se trata apenas de vender uma imagem boa para o resto do mundo. Essa não é apenas uma agenda ambiental, essa é uma agenda de inovação. Trata-se, especialmente, de desenvolvimento econômico e, consequentemente, social. Mais dinheiro, mais emprego, melhor renda para a população. Todos saem ganhando, setor produtivo, tanto agropecuária quanto industrial, população, nação e o mundo. n
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