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Ensaio Especial

risco político internacionalização e

" Cooperação é um belo conceito, mas deve ser arquitetada de forma a elevar os ônus de eventuais rupturas contratuais. A política externa pode e deve tratar o investidor como um parceiro na projeção da influência internacional do país. "

Renato Lunardi de Amorim Sócio da Carnegie Hill Global Advisors Partner of Carnegie Hill Global Advisors

Internationalization and political risk

A constituição de um mercado global de biocombustíveis exigirá expansão da produção de cana-de-açúcar e outras matérias-primas, bem como da capacidade de processamento e estocagem, além das fronteiras do Brasil. Embora o país reúna condições físicas únicas para preservar sua liderança produtiva a longo prazo, esse movimento será necessário ao aumento e estabili- zação da oferta internacional.

Nesse contexto, é plausível que ocorra a internacio- nalização em grande escala de produtores brasileiros de biocombustíveis nos próximos anos. Essa possibilidade povoa o discurso governamental junto a países em de- senvolvimento e começa a fazer parte das considera- ções estratégicas de empresas e grupos de investidores.

Investimentos internacionais na escala necessária para a consolidação do mercado global de biocombus- tíveis exigem atenção a variáveis ainda pouco presen- tes nos processos de planejamento estratégico de em- presas brasileiras ou de outros países emergentes com baixa tradição em negócios transnacionais, agrupadas sob o rótulo de risco político. Trata-se de riscos de difí- cil quantificação, resultantes da interação entre fatores políticos, sociais, culturais e econômicos, cujas materializações mais extremas são rupturas contratuais e mudanças abruptas nos custos de transação.

Quando o termo “globalização” se popularizou na década passada, grande parte da literatura a respeito o abordava, do ponto de vista de fluxos de capitais, como movimentos de expansão e complementação produtiva iniciados em países desenvolvidos. Daí decorre, em parte, a surpresa recente com a ascensão das “multinacionais emergentes”. Na prática, estas são semelhantes a suas congêneres mais tradicionais em gestão e objetivos, embora tendam a ter um maior apetite por riscos. Mas uma diferença importante marca os países onde têm suas sedes.

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Creating a global market for biofuel will require expanding sugarcane production and that of other raw materials, as well as the processing and storage capacity, to beyond the borders of Brazil. Although the country has unique physical conditions to preserve its production leadership in the long-term, this movement will be necessary to stabilize internatio- nal supply.

In this context, it is plausible that the internationa- lization of Brazilian biofuel producers will occur on a large scale in coming years. This possibility stands out in the government’s discourse vis-à-vis developing countries and begins to be a part of the strategic consi- derations of investor companies and groups.

International investments on the scale required to consolidate the global market for biofuel require attention to the variables still seldom present in the strategic planning processes of companies in Brazil and in other emerging countries that lack the experience of dealing transnationally, combined under the political risk label.

This is about risks that are difficult to quantify, that result from the interaction of political, social, cultural and economic factors, whose extreme materializations are contractual breaches and sudden changes in transaction costs.

When the term “globalization” became popular in the last decade, a large part of the literature on the subject referred to it, from the point of view of capital flows, as expansion and production complementation movements initiated in developed countries. Hence, to a certain extent, the recent surprise that results from the ascension of “emerging multinationals”.

In practice, they are similar to their corporate akin in terms of management and objectives, albeit they tend to be more willing to take on risk.

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Com exceção da China, os países emergentes com multinacionais próprias têm baixa capacidade de projeção geopolítica ou intervenção diplomática em situações de crise. No primeiro semestre de 2006, duas empresas brasileiras sentiram os efeitos práticos disso. A Petrobras foi alvo de uma campanha nacional-populista na Bolívia, que levou à expropriação de ativos. A Vale, por pressões do governo chinês, perdeu um grande projeto de minério de ferro no Gabão. Em ambos os casos, a capacidade do governo brasileiro de atuação preventiva e negociação de compensações post-facto revelou-se limitada. E estamos falando das duas maiores empresas do país.

A provável expansão produtiva internacional das empresas de biocombustíveis deverá ocorrer em países pobres, geralmente com fracas condições de governança. Os investimentos terão exposição elevada a riscos políticos, e estes poderão agravar-se por uma tendência ainda pouco analisada e possivelmente indutora de reações nacionalistas contrárias a investimentos estrangeiros no agronegócio, em alguns países e regiões.

Em vários países africanos e no sudeste asiático, e menos na América Latina, governos de países com gargalos estruturais na produção de alimentos e grande disponibilidade de recursos (Arábia Saudita, China e outros), via fundos soberanos ou outros mecanismos, estão adquirindo terras para a produção dedicada a alimentos. A evolução desses arranjos poderá ter como efeito colateral a disseminação da resistência a empreendimentos estrangeiros, independentemente de sua origem. O fenômeno é incipiente, mas merece ser observado para a avaliação de riscos semelhantes às hostilidades enfrentadas por produtores de soja brasileiros no Paraguai e na Bolívia.

A mitigação do risco político exige ações complementares empresariais e governamentais. Do lado das empresas, o primeiro passo é avaliar adequadamente o contexto sociopolítico no planejamento e na operação de projetos internacionais. Não fazê-lo pode levar à superestimação do potencial de retorno de investimentos e à falta de provisões financeiras ou operacionais para situações de crise. O engajamento com públicos locais é uma ferramenta útil, particularmente através de ações bem calculadas de desenvolvimento social e da construção de imagem de empresa responsável. A introdução de parceiros privados ou governamentais locais no negócio também tende a ser uma tática efetiva.

O segundo elemento é a busca de alinhamento entre interesses empresariais e política externa. Trata-se de agenda na qual a atuação brasileira ainda é pouco consistente, que passa menos pelo reforço de embaixadas em países recipientes de investimentos do que pelo estabelecimento de canais de cooperação com países-chave, negociação de acordos de proteção de investimento e fomento a instituições e à capacitação para o tratamento adequado do investimento estrangeiro. Cooperação é um belo conceito, mas deve ser arquitetada de forma a elevar os ônus de eventuais rupturas contratuais. A política externa pode e deve tratar o investidor como um parceiro na projeção da influência internacional do país. Mas isso só funciona quando as empresas compreendem os riscos a que estão expostas e utilizam seu peso, individual ou coletivamente, para influenciar a agenda do governo. O que não pode acontecer é ignorar mudanças nos padrões de riscos que decorrem naturalmente da maior atuação internacional das empresas brasileiras.

However, one fundamental difference distinguishes the countries where they are headquartered. With the exception of China, emerging countries with their own multinational corporations have a low capability to project themselves geopolitically or to intervene diplo- matically in crisis situations. In the first half of 2006, two Brazilian companies felt the practical effects of this. Petrobras was targeted by a nationalist-populist campaign in Bolivia, which resulted in the expropriation of assets.

Vale, due to pressure from the Chinese government, lost a big iron ore project in Gabon. In both cases, the capability of the Brazilian government to act preventively and negotiate post-facto compensations proved limited. And we are talking about the country’s two largest companies.

The probable international production expansion of biofuel companies is expected to occur in poor countries, usually weak on governance. Investments will face high political risks, which may become more threatening due to a trend still little analyzed, and which may possibly lead to nationalistic counterreactions to foreign investments in agribusiness, in some countries and regions.

In several countries in Africa and Southeast Asia, but less in Latin America, governments of countries with structural bottlenecks in the production of food, and with abundant resources (Saudi Arabia, China and others), through sovereign funds or other mechanisms, are acquiring land for the dedicated production of food.

The evolution of these arrangements may have, as a collateral effect, the dissemination of resistance to foreign entrepreneurship, regardless of national origin. This is an incipient phenomenon, but it merits being monitored to assess risks similar to the hostilities faced by Brazilian soya producers in Paraguay and Bolivia.

The mitigation of political risk requires complementary corporate and governmental initiatives.

On the part of companies, the first step is to appropriately assess the social and political context in planning and operating international projects. Not to do so may result in super estimating the ROI potential of investments and the lack of financial or operational provisions for crisis situations.

The engagement with local publics is a useful tool, particularly through well-planned social development initiatives and in building the image of the responsible company. The introduction of local private or governmental partners in the business also tends to be an effective tactic.

The second element is the effort to align business and foreign policy interests. This is an agenda in which the Brazilian role is little consistent, which has little to do with reinforcing embassies in investment receiving countries, but rather, with setting up cooperation chan- nels with key countries, negotiating investment protec- tion agreements and fostering institutions and bringing about the adequate treatment of foreign investment.

Foreign policy should and must treat the investor as a partner in projecting the country internationally. But this only works when companies understand the risks they are exposed to and when they employ their individual and collective weight to influence the government’s agenda. What is not acceptable is to ignore changes in risk standards that naturally result from the increased international role of Brazilian companies.

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