A pesquisa em cada etapa do processo de produção da floresta - OpCP57

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira

ano 16 • número 57 • Divisão F • set-nov 2019

a pesquisa em cada etapa do processo de produção da floresta




índice

a pesquisa e desenvolvimento em cada etapa do processo de produção de uma floresta plantada

6 8

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microbacias hidrográficas: Silvio Frosini de Barros Ferraz

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq

prevenção e combate a incêndio:

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estradas florestais: Fabiano da Rocha Stein

Gerente de Suprimento de Madeira da Veracel

Gerente de P&D Florestal da International Paper

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Coordenador do PTSM do IPEF

24

Professor de Tecnologia na Unesp e Diretor da JFI, respc

Hilton Thadeu Zarate do Couto

Professor de Bioestatística da Esalq-USP

José Henrique Tertulino Rocha Professor de Solos e Nutrição da FAEF

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Sergio Ricardo Bentivenha

Gerente de Tecnologia Florestal da Suzano

37

30

Coordenador e Lider do PROTEF/IPEF, respectivamente

Prof de Microbiologia e de Fitopatologia da UFV, respec

Robinson Antonio Pitelli Diretor da Ecosafe

eventos climáticos:

40

Sharlles Moreira Dias e João F. da Silva

Coord de Nutrição e Melhoramento da Eldorado, respec

desertificação:

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pragas florestais: Luís Junqueira e Carlos Frederico Wilcken

Poliane Alfenas-Zerbini e Acelino Alfenas

plantas daninhas:

talhadia:

plantio: Saulo Guerra e José Carlos de Almeida

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nutrição:

preparo de solo: Alexandre de Vicente Ferraz

Diretor Florestal da Suzano

controle de doenças:

inventário florestal:

produção de mudas: Karina Carnielli Zamprogno Ferreira

Caio Eduardo Zanardo

Walter Batista Junior

Doutorando em Desertificação da UFV

colheita:

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Edson Szczygaiel Jaremtchuk Gerente de Colheita da WestRock

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microbacias hidrográficas

manejo florestal na escala da microbacia:

novas tecnologias, mesmos princípios

A microbacia pode ser compreendida pela área que capta a água da chuva e a direciona (drena) para um pequeno riacho. Apesar de algumas dúvidas sobre o tamanho e a escala, o conceito é simples e pode ser aplicado diretamente no planejamento florestal. Como o nome indica, a área da microbacia é pequena, pois se refere a um riacho até 3ª ordem que, dependendo das condições de relevo, pode representar menos que 100 ha em relevos mais acidentados e se estender até mais de 1.000 ha em relevos planos e bem drenados. No entanto não é a área o aspecto mais importante quando se pensa em microbacia, e sim o conceito de que nela, ou nesta escala, os efeitos de mudança no uso do solo são diretamente sentidos no riacho. Ou seja, pela pequena área e sua estreita ligação com o riacho, os efeitos (positivos ou negativos) do manejo florestal podem ser percebidos. Isso não ocorre em outras escalas, ou em bacias maiores, já que os efeitos do manejo florestal podem ser diluídos no espaço e no tempo, não refletindo necessariamente em alterações na quantidade ou qualidade da água de seus rios.

Esse é o primeiro dos princípios hidrológicos do manejo florestal, que incluem ainda aspectos como áreas críticas, conectividade, variabilidade espaço-temporal dos processos e resiliência hidrológica. Desse modo, quando o objetivo é entender os efeitos do manejo florestal, a única metodologia confiável é a de monitoramento de riachos em microbacias. Nesse caso, as técnicas têm sido aperfeiçoadas com sensores mais robustos para medição de vazão ou da qualidade da água, ou mesmo pela instalação de calhas pré-fabricadas, utilização de sensores Doppler ou câmeras especiais com medição de fluxo por inteligência artificial. O processamento dos dados hidrológicos também evoluiu muito com a estruturação de banco de dados e desenvolvimento de indicadores hidrológicos para melhorar o entendimento dos efeitos do manejo florestal. Embora tenha havido grande avanço nas técnicas, permanece o princípio básico de que os efeitos hidrológicos aparecem na escala das microbacias e é necessário monitorá-las para entendê-los.

Hoje, mais do que nunca, sabe-se que a sustentabilidade não está somente relacionada à questão ambiental, e o manejo na escala da microbacia implica também ganhos de produtividade, já que a água tem sido o principal fator limitante de crescimento dos plantios florestais. "

Silvio Frosini de Barros Ferraz

Professor de Manejo de Bacias Hidrográficas da Esalq-USP

Quando se pensa em monitoramento de microbacias, uma outra questão é sempre levantada: qual a validade dos efeitos medidos na microbacia se ela representa uma porção pequena da área sob manejo florestal? Nesse caso, a seleção criteriosa do local para monitoramento é muito importante, já que deve representar a situação mais usual da empresa, seja em termos de clima, relevo e solos,


Opiniões bem como de ocupação e manejo florestal. Dependendo da extensão dos plantios florestais, é necessário o monitoramento de mais de uma microbacia para abranger as variações nas condições ambientais do empreendimento. Além disso, a microbacia escolhida deve estar pareada a uma microbacia de referência com vegetação nativa e atrelada a um modelo de representatividade, em que a distribuição das condições ambientais da empresa é estudada, e a(s) microbacia(s) monitorada(s) são indexadas. Aplicando o conceito da microbacia, o Promab/ IPEF (Programa de Monitoramento e Modelagem em Microbacias) surgiu há mais de 30 anos como um experimento científico do Laboratório de Hidrologia Florestal da Esalq/USP, com o objetivo de avaliar os efeitos do manejo florestal. Desde então, muita coisa mudou: o Promab cresceu, se tornou a maior rede de microbacias experimentais do Brasil, indicadores foram desenvolvidos e as técnicas se aperfeiçoaram, buscando otimizar a coleta, o processamento de dados e a análise dos resultados. Toda a experiência acumulada no desenvolvimento de indicadores e sua interpretação foram incorporados a um sistema inteligente de importação, validação, consolidação, análise e produção de infográficos que são utilizados para entender, estudar e comunicar os efeitos do manejo em busca da sustentabilidade ambiental. Os resultados globais do monitoramento são utilizados em pesquisa e compartilhados com as empresas participantes, fazendo com que haja um entendimento maior da relação entre as florestas plantadas e a água. A partir do conceito de microbacia, e sabendo-se que é possível monitorar e entender os efeitos do manejo florestal a partir dela, fica mais fácil entender por que o manejo florestal deve ser planejado nessa escala. O contato direto com a terra sempre possibilitou ao homem do campo o conhecimento empírico, mas de grande valor, sobre como ele poderia ocupar o espaço de produção da melhor forma. Em relação à água, o conhecimento tradicional permitia identificar áreas susceptíveis à erosão, áreas de acúmulo de água, solos bem ou mal drenados, por exemplo. Ou seja, o planejamento era de precisão, mas baseado no conhecimento empírico, na experiência, sem teorias, princípios ou ferramentas que hoje estão disponíveis. O conhecimento tradicional se perdeu ao longo do tempo com os plantios industriais em grandes extensões, que exigiram padronização, otimização das atividades silviculturais. O planejamento na escala de microbacia em grandes maciços de plantios florestais, por um tempo, pareceu uma utopia, já que o manejo em larga escala define grandes unidades de manejo de forma homogênea,

buscando otimizar os processos e reduzir os custos de operação. Assim, embora recomendável, é notável a dificuldade de implementação do planejamento na escala de microbacia em grandes empresas. No entanto, embora os conceitos estejam mais do que atuais, o que vem mudando são as tecnologias que incorporam maior precisão ao manejo, e, nessa linha, a silvicultura de precisão, o uso de VANTs, sensores LiDAR e todo o avanço na aquisição e no processamento de informações geográficas em alta resolução. Tudo isso, agora, permite o conhecimento, a análise detalhada do terreno, fornecendo subsídios para um planejamento local de maior precisão. Essas ferramentas tornaram possível o planejamento com base em microbacias, buscando-se conhecer os seus aspectos naturais, como clima, relevo e solos, que devem ser considerados para classificação da resiliência natural das microbacias. Assim, microbacias menos resilientes devem receber um manejo florestal diferente, específico, buscando compensar a sua sensibilidade natural para reduzir os efeitos do manejo. O aumento da resiliência da microbacia pode ser feita por meio da redução da proporção de plantio, da ampliação de reservas, do mosaico de idades e do maior cuidado no desenho e na manutenção de estradas. No nível de talhão, o manejo florestal pode ser menos intensivo, considerando tempo de rotação, sistema de colheita, espaçamento, clone/espécie, manejo de resíduos, plantio em nível e adoção do planejamento de precisão local, também chamado de microplanejamento. Hoje, mais do que nunca, sabe-se que a sustentabilidade não está somente relacionada à questão ambiental, e o manejo na escala da microbacia implica também ganhos de produtividade, já que a água tem sido o principal fator limitante de crescimento dos plantios florestais. Soma-se aos ganhos a manutenção de potencial produtivo do solo, o maior equilíbrio do ecossistema, a redução de custos no médio prazo e outros benefícios que não podem ainda ser contabilizados. Sobre esses últimos, as tendências apontam na direção da valorização do bom manejo da água, pela avaliação dos serviços ecossistêmicos, que, inclusive, começa a ser introduzida nos programas de certificação. Nessa direção, o FSC já lançou as diretrizes para a certificação de serviços ecossistêmicos, que pode se tornar uma demanda de mercado, onde consumidores escolherão produtos não somente provenientes de um bom manejo florestal, mas que também provisionem serviços como água de qualidade para a sociedade. Novas tendências e tecnologias, que agora viabilizam a aplicação, em larga escala, de velhos e bons princípios hidrológicos em busca de um manejo florestal mais sustentável. n

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estradas florestais

Opiniões

a estratégia é melhorar sempre A experiência tem ensinado a estarmos atentos às inovações e sempre buscarmos incorporar ao portfólio os mais eficientes equipamentos e soluções que estão disponíveis no mercado. É importante ampliar a visão para além do que já tem sido usado pelo setor florestal. As estradas de uso florestal possuem uma gama de variações que estão relacionadas com a localização geológica, a situação geográfica, a topografia, dentre outros. A missão é garantir o escoamento do produto até a unidade de consumo, equalizando os custos aos objetivos de produção das empresas. Além disso, a operacionalização de uma rede rodoviária florestal deve ser planejada e executada, respeitando os aspectos técnicos, econômicos, ambientais e sociais, com foco em tendências mais modernas na composição transporte de madeira, segurança dos usuários das vias e relação com as comunidades com quem compartilhamos esse ativo. A consciência sobre os impactos dessa operação na vida das comunidades e o atendimento a requisitos legais e padrões normativos incluem na rotina as restrições de horários de tráfego com as composições de madeira e a mitigação de poeira e ruído nas estradas, por exemplo. Tudo isso faz parte das atividades de construção e manutenção das estradas florestais, tornando a sustentabilidade um valor intrínseco ao processo logístico florestal.

O valor da rede não pavimentada: As atividades de transporte de madeira da Veracel têm uma participação importante no custo da madeira posta na indústria, sendo responsável pela movimentação de cerca de quatro milhões de metros cúbicos de madeira em toras por ano. Para isso, a empresa utiliza uma rede rodoviária não pavimentada (principais e secundárias) com características geométricas e geotécnicas que se revestem de uma importância singular no planejamento rodoviário. Ela influi no desempenho e nos custos operacionais dos veículos de transporte. Além do escoamento da produção de madeira, essa rede rodoviária garante acesso à floresta a qualquer tempo, melhorando a proteção patrimonial, permitindo um melhor manejo florestal, além de ser fundamental para a proteção contra incêndios florestais. As estradas exercem papel de aceiros e também permitem o acesso de equipamentos e pessoas para efetuarem os combates aos incêndios, de forma rápida e segura, se eles ocorrerem. Planejamento e gestão: Para sanar questões funcionais e estruturais, elaboramos um Plano Diretor Logístico (PDL). Trata-se de um instrumento de gestão, com uma visão sistêmica, utilizando-se de tecnologia para análise do comportamento futuro das estradas e do transporte de produtos e pessoas. As ações e as estratégias têm por objetivos aumentar a produtividade e reduzir o risco de descontinuidade do abastecimento. A logística está alinhada ao planejamento estratégico por meio da melhoria do binômio estrada-transporte.

Além do escoamento da produção de madeira, essa rede rodoviária garante acesso à floresta a qualquer tempo, melhorando a proteção patrimonial, permitindo um melhor manejo florestal, além de ser fundamental para a proteção contra incêndios florestais. "

Fabiano da Rocha Stein

Gerente de Suprimento de Madeira da Veracel

A elaboração desse plano foi executada em etapas, sendo o diagnóstico a de maior relevância para ter os parâmetros adequados para serem aplicados nas demais etapas de estudo e projeto.



estradas florestais O uso de um simulador foi idealizado para a análise econômica de rede rodoviária para fins de investimentos com restrição orçamentária, buscando atingir a maior extensão possível. O objetivo é ter o maior retorno através do Valor Presente Líquido dos diversos cenários estudados, podendo analisar diversas alternativas de intervenção para cada trecho de estradas, indicando a época para a realização dos investimentos, visando à melhor condição da rede no final do projeto. Para isso, foram usados dados de entrada para a rodada do simulador às condições atuais das estradas, obtidas no banco de dados da etapa de diagnóstico, como extensões, estrutura, volume de tráfego, defeitos, irregularidade, deflectometria, geometria (largura de pista, largura de acostamentos, declividades médias, índice de curvatura), condições climáticas e de topografia, idade do pavimento, idade da última restauração, dentre outros dados de detalhes da frota (tipo de veículos, PBTC, carga útil, custos de aquisição e de manutenção, custo do combustível), as políticas de intervenção (tipo de manutenção ou reabilitação e custos) e os cenários de investimento. Os resultados simulados foram traduzidos nos tipos de intervenção para cada segmento, custo e época, dentro de um cenário de investimentos. O PDL identificou as oportunidades de redução de custos do binômio estrada-transporte florestal e definiu as intervenções a serem efetuadas na rede rodoviária e/ou no sistema de transporte em um horizonte de análise. Isso representa um ciclo de corte da floresta de eucalipto, além de estabelecer prioridades, necessidades de recursos financeiros, materiais e humanos, bem como programar as ações para executar as melhorias. Além dos projetos para o transporte de madeira, temos outros que visam melhorar a segurança e o conforto dos nossos colaboradores que utilizam essas estradas para suas atividades de trabalho diariamente. Para o escoamento da celulose, realizamos estudos para identificar os pontos críticos que podem promover a descontinuidade da operação e elaboramos projeto de rota alternativa e também de investimento para restauração da via. Novas técnicas, melhores resultados: Entre as ações para melhoria do binômio estrada-transporte, testamos equipamentos e misturas de produtos que possam melhorar a qualidade e a produtividade da execução das intervenções de manutenção das estradas. Numa fase de teste, usamos a recicladora na operação de recuperação de uma estrada encascalhada. Além de desempenhar a mistura e a homogeneização com qualidade, a recicladora reduziu o número de equipamentos na obra, trazendo rapidez na execução e, com isso, maior produtividade.

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Opiniões Em nossas operações para estabilização de solos, usamos motoniveladora, trator de pneus com grade de arado, caminhão-pipa e rolo compactador. O uso da recicladora reduz significativamente o tempo de execução de serviços, uma vez que, nesse processo, não há a necessidade de gradeamento/aeração do solo, com utilização de tratores de pneu com grade de discos, ”tombamentos” de materiais com utilização de motoniveladoras e retrabalhos provenientes do não atendimento ao grau de compactação necessário, devido à má dosagem da água e à baixa homogeneização do solo, comum nas técnicas convencionais. Os solos das jazidas de cascalho utilizados na Veracel são predominantemente de fragmentos de quartzo exibindo boa resistência mecânica, mas com elevada segregação de material na camada de desgaste por falta de ligante eficiente. Para melhorar essa condição, realizamos testes usando adição de cimento na mistura. Obtivemos resultados positivos, que proporcionaram uma redução na necessidade de manutenções do trecho e uma melhora significativa no conforto, segurança e velocidade no trajeto. Nas obras de artes, passamos a usar Tubos de Polietileno de Alta Densidade (PEAD) em substituição às manilhas de concreto, para construção de bueiros. Esses tubos são leves e flexíveis, o que facilita a execução da obra, gerando ganho de tempo na execução e redução do risco de acidentes no manuseio de manilhas. O controle de poeiras foi uma mudança significativa em nossa forma de atuar. Adotávamos a umectação dos trechos das estradas próximos a vizinhos e comunidades que são impactadas pelas nossas operações. Realizamos testes com vários produtos na busca de um produto mais econômico do que usar somente caminhões-pipa e reduzir a frequência do tratamento e conseguimos encontrar um produto que nos atende. Já estamos aplicando em escala operacional, trazendo ganhos operacionais, ambientais e sociais. Agora, estamos na fase de execução das ações mapeadas no PDL. Para isso, estamos incorporando produtos e equipamentos que não faziam parte de nossas atividades, visto que as inovações tecnológicas surgem a uma velocidade muito alta em todos os setores, com diversos produtos, equipamentos e softwares, sendo constantemente aprimorados e inseridos no mercado para otimizar os processos, e precisamos ficar atentos. Os resultados são consistentes e seguem alinhados ao propósito da empresa de ser responsável, inspirar pessoas e valorizar a vida. n


produção de mudas

Opiniões

pesquisa e qualidade na

produção de mudas

O setor de florestas plantadas apontou que, em 2018, o Brasil atingiu a marca de 7,84 milhões de hectares. Para atendimento de toda essa área de plantio, estima-se terem sido produzidas, aproximadamente, 1,4 bilhão de mudas. Nesse cenário, a International Paper, líder mundial na produção de celulose, papéis para imprimir e escrever e embalagens, é responsável por mais de 100.000 hectares de florestas plantadas e certificadas por instituições reconhecidas globalmente. Com esse resultado positivo para o setor, espera-se que, para os próximos anos, esse número não sofra reduções, pelo contrário: a expectativa é produzir a quantidade demandada com qualidade e custos adequados. Mas como ser sustentável e competitivo ao mesmo tempo? É possível, e nós temos esse compromisso.

Nem sempre altos investimentos refletirão em maior qualidade ou produtividade. É preciso garantir que o essencial permaneça sendo realizado. "

Karina Carnielli Zamprogno Ferreira Gerente de P&D Florestal da International Paper

WalterSe analisarmos o processo de produção de UFV mudas - Universidade Federalescala, de Viçosao em larga

que vemos, aparentemente, é apenas uma espécie vegetal sendo replicada, equivalente a uma linha de montagem industrial; em alguns casos, utilizando tecnologias inspiradas nessas linhas. Poucos se atentam ao trabalho prévio de pesquisa e desenvolvimento embutido naquelas mudas e em cada etapa daquele processo. Estudos e testes operacionais foram determinantes para direcionar, a cada etapa de produção,

as melhores práticas de manejo, o melhor pacote nutricional, os cuidados fitossanitários, os materiais genéticos mais produtivos, entre outros, que, somados às oportunidades de melhorias estruturais, de segurança e ergonômicas, resultam em alta qualidade das mudas, lotes homogêneos e pessoas engajadas para um único objetivo: elevar o potencial produtivo de uma floresta futura. Muitas das práticas convencionais, que hoje nos parecem simples e dominadas, podem interferir na qualidade e, indiretamente, nos custos da produção de mudas. Na formação dos jardins clonais, por exemplo, um diferencial positivo é a seleção de mudas sadias, escolha de exemplares com bom enraizamento (mesmo um conjunto de mudas pode apresentar variação individual de performance), além de um manejo que suporte a produção constante de brotos. Atualmente, é possível recorrer a técnicas modernas de micropropagação e rejuvenescimento de materiais em laboratório para garantir que todos esses itens sejam atendidos.


produção de mudas A cultura de tecidos proporciona o isolamento de uma célula ou tecido vegetal e o cultiva em um meio nutritivo artificial sob condições de plena assepsia, garantindo principalmente a sanidade vascular dessas matrizes e, na maioria das vezes, elevando seu potencial de enraizamento. Essas técnicas permitem a obtenção de grande número de plantas uniformes, com otimização de tempo e espaço. Outra solução que minimiza problemas futuros e se encaixa muito bem nessa etapa de formação de minijardins é certificar-se, sempre que possível, se cada uma das cepas ou matriz de fato é uma representante da muda que se pretende multiplicar, por meio de análises de DNA, que se tornaram mais acessíveis em laboratórios especializados, sejam eles particulares ou conveniados a universidades e institutos de pesquisa. A fase de estaqueamento também se pode beneficiar de pesquisas associadas à fisiologia de cada muda e a suas respectivas necessidades em relação aos estímulos hormonais. Esses hormônios poderão ser oferecidos no momento do estaqueamento ou diretamente nos minijardins, por meio de produtos indutores à base de aminoácidos, conhecidos por potencializar a síntese de proteínas e de compostos intermediários, precursores de hormônios vegetais importantes. Por outro lado, observa-se que alguns princípios básicos nem sempre são considerados, como o tempo entre a coleta do broto e seu estaqueamento, que pode interferir diretamente no sucesso do enraizamento - em alguns materiais, mais que em outros; a periodicidade das coletas, permitindo um restabelecimento e menor estresse das cepas; a preservação e viabilidade das estacas por meio de refrigeração, principalmente nos períodos mais quentes do ano, entre outras ações que não dependem de altos investimentos. O ideal é ter um pacote de recomendações técnicas específico para grupos de mudas com características e particularidades semelhantes, reduzindo, assim, o índice de eliminação de mudas de boa qualidade, com alto potencial produtivo e anos de pesquisa embarcados, devido ao baixo desempenho no enraizamento ou à não adaptação ao pacote de manejo “padrão” do viveiro. Em contrapartida, é preciso que o modelo ideal seja operacionalmente viável. Ter a possibilidade de separar o manejo, principalmente na fertirrigação, possibilitando que grupos de mudas recebam diferentes concentrações ou soluções nutritivas, conforme demanda, ainda que estejam na mesma etapa do processo, representa uma alternativa interessante para tratar as particularidades de cada material genético.

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Opiniões Nas etapas de crescimento, a evolução maior pode ser notada nas estruturas modernas e automatizadas. Ambientes protegidos, com temperatura, irrigação e luminosidade controladas, podem variar desde uma simples automação com um temporizador que aciona a irrigação sistematicamente conforme programação prévia, até uma irrigação fundamentada em expressões matemáticas e balanço hídrico das mudas, onde um sistema capta temperatura e umidade no interior das casas de vegetação e correlaciona com as características fisiológicas daquele grupo, acionando a irrigação quando e na quantidade real demandada. O mesmo princípio pode ser estendido para os sistemas que controlam abertura e fechamento de tetos retráteis conforme intensidade luminosa e temperatura ambiente. No entanto é preciso considerar um equilíbrio entre o custo e o benefício que a modernização pode proporcionar, incluindo, nessa conta, a sustentabilidade do negócio. As seleções ou avaliações de qualidade das mudas no decorrer do processo produtivo poderão indicar oportunidades de melhorias importantes que, se consideradas e resolvidas, contribuirão para os ganhos de performance. Mudas mal formadas, acometidas por doenças ou pragas, que são plantadas fora do padrão, via de regra, excedem os custos de formação florestal, pois despendem de irrigações extras, controle químico, elevado índice de replantio, adubações de reforço, entre outras intervenções, que uma muda bem formada, com alto padrão de qualidade, não demandaria na mesma proporção. É preciso considerar, inclusive, os ganhos na formação florestal. Independente do grau de modernização de um viveiro, o mais importante é garantir a qualidade final de suas mudas, mantendo-se competitivo no mercado. E, nesse cenário, o manejo sustentável é de suma importância para garantir ecossistemas florestais saudáveis e produtivos para as futuras gerações. Nem sempre altos investimentos refletirão em maior qualidade ou produtividade. É preciso garantir que o essencial permaneça sendo realizado. Também é possível obter ganhos com soluções simples e de baixo investimento, como a capacitação e a reciclagem da mão-de-obra, a otimização de estruturas e os recursos existentes, a utilização de energia solar para assepsia de tubetes e bandejas, a liderança engajada, gerando respeito e motivando as equipes, entre outras oportunidades similares e com retornos positivos, mas sempre estabelecendo e acompanhando os indicadores de produção, de qualidade e econômicos. São medidas como essas que proporcionarão tomadas de decisões ágeis e sensatas e ajudarão a buscar o modelo “ótimo econômico” e ainda mais sustentável. n


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preparo de solo

evolução do

preparo de solo

em plantações florestais

Nos primórdios da humanidade, o solo era visto apenas como algo abaixo da superfície da Terra, que fornecia suporte para movimentação e habitação. Após séculos de avanço científico, o solo passou a ser definido de acordo com a área de interesse. Para a engenharia civil, o solo é todo o material da crosta terrestre que não oferece resistência à escavação mecânica; por outro lado, para a edafologia, o solo é uma massa natural capaz de suportar a vida na superfície da Terra, tal como as plantas.

No segmento florestal, a principal função do preparo de solo é reduzir o seu adensamento (fenômeno natural) ou compactação (ação antrópica), diminuindo sua resistência mecânica à penetração das raízes finas e grossas das árvores, além de elevar o volume de poros do solo e sua capacidade de armazenamento de água. O revolvimento do solo na linha ou cova de plantio possibilita o rápido crescimento radicular e, consequentemente, um maior aproveitamento da água e nutrientes adjacentes ao torrão das mudas após o seu plantio e fertilização.

Nos primórdios da humanidade, o solo era visto apenas como algo abaixo da superfície da Terra, que fornecia suporte para movimentação e habitação. "

Alexandre de Vicente Ferraz

Coordenador executivo do PTSM – Programa Cooperativo sobre Silvicultura e Manejo do IPEF

Há cerca de 70 anos, o preparo de solo seguiu os mesmos moldes aplicados à agricultura convencional, com uso de grades (leves ou pesadas) e arados de disco em área total. Nessa época, por exemplo, os resíduos florestais oriundos da colheita da madeira eram enleirados e queimados para a limpeza da área, expondo o solo ao risco de erosão.


Opiniões Com o advento do cultivo mínimo (anos 1990), o preparo do solo ficou restrito às linhas de plantio, e os resíduos florestais (ex. folhas, galhos e casca oriundos da colheita e serapilheira) passaram a ser mantidos sobre a superfície do solo. Consequentemente, passou a ser um desafio realizar o preparo do solo perante um terreno repleto de obstáculos (ex. tocos e resíduos florestais), o que reduziu o rendimento operacional e, de certa maneira, comprometeu a homogeneidade e a qualidade das operações florestais (ex. variação elevada da profundidade de estrondamento do solo e distribuição de fertilizantes durante a subsolagem). Apesar dessas dificuldades, o cultivo mínimo revolucionou a silvicultura brasileira e tem sido fundamental para a sustentabilidade do negócio florestal, principalmente por atenuar significativamente os processos erosivos e permitir maior armazenamento de água no solo; diminuir a perda de nutrientes do ecossistema, gerando redução dos custos com fertilização; além de auxiliar no controle de plantas daninhas. Por proteger o solo da erosão e da compactação, a manutenção dos resíduos florestais no sítio de cultivo permitiu também o realinhamento dos sulcos de plantio no sentido do declive e reduziu a necessidade de preparo intensivo do solo. Isso propiciou maior aproveitamento do terreno e aumento dos rendimentos operacionais, sobretudo nas regiões com relevo acidentado Atualmente, os implementos mais usados em áreas com cultivo mínimo são os subsoladores, cuja haste pode variar em tamanho (30 a 120 cm de comprimento), forma de ação (positiva ou negativa) e ângulo de “ataque”; além das coveadoras duplas para áreas declivosas ou com obstáculos físicos em excesso (ex. tocos de grande dimensão ou elevada massa de resíduos). Por meio de pesquisas, algumas empresas buscaram, nos Estados Unidos, equipamentos mais robustos para enfrentar um problema que se tornou comum com o acúmulo de rotações de cultivo, ou seja, a presença de uma maior quantidade de tocos e resíduos lenhosos sobre a superfície do solo. Conhecido por alguns como “preparo de solo especializado”, o uso de sistemas de georreferenciamento (ex. Real Time Kinematic - RTK) e do subsolador florestal Savannah ou similar, com lâmina V-Shear e trator de esteira (ex. D6 ou D8), permitiu o preparo e o realinhamento das linhas de plantio em áreas dominadas por tocos de 3ª ou 4ª rotação, além de aproveitar áreas anteriormente subutilizadas (ex. “linhas mortas” de plantio) e aumentar o tamanho dos talhões, elevando os rendimentos operacionais dos tratos silviculturais subsequentes (ex. fertilização e irrigação). Para áreas declivosas e solos friáveis (ex. textura arenosa), alguns equipamentos recém-desenvolvidos são

capazes de preparar minimamente o solo, como a coveadora Rotree, que também efetua a fertilização de base e a aplicação de herbicida pré-emergente em uma única operação. Para que o preparo de solo atinja qualidade satisfatória, há uma série de condições edafoclimáticas oportunas no momento da subsolagem, tal como o teor de umidade do solo (fruto da interação entre o regime pluviométrico e o teor de argila). Em regiões com solos coesos, por exemplo, o momento destinado à subsolagem é normalmente limitado a uma fração do ano, quando o período chuvoso se inicia. Por isso, para adequar-se ao planejamento e logística operacional (ex. frente de colheita e disponibilidade local de máquinas), algumas empresas têm optado por realizar o preparo de solo antes da colheita. Apesar do trânsito de máquinas durante a extração da madeira, a subsolagem pré-colheita tem proporcionado resultados surpreendentes quando bem planejada e com os devidos cuidados (ex. tráfego das máquinas bem definido, afim de evitar a compactação do solo), ampliando a janela de plantio. Baseada em uma grande demanda energética, a extração de tocos e raízes grossas com implementos robustos tem sido frequentemente debatida nos fóruns florestais, principalmente ao considerar suas repercussões sobre a prática do cultivo mínimo, bem como os benefícios operacionais com a eliminação desses “obstáculos” e sua relação com os custos de reforma. Vale destacar que o aproveitamento da biomassa florestal subterrânea para produção de energia pode ser interessante, considerando que aproximadamente 20% da biomassa seca da árvore encontra-se alocada no toco e em raízes grossas. Todavia há algumas questões a serem respondidas ainda, como: é possível utilizar esses equipamentos para extrair tocos e raízes de grandes dimensões (ex. oriundos de plantios mais velhos)? Essa prática será sustentável ao longo do tempo? Independentemente das inovações tecnológicas, os princípios básicos do preparo de solo não devem ser negligenciados, ou seja, deve-se considerar no planejamento e na recomendação técnica: o relevo do terreno (plano ou declivoso); o tipo de solo (ex. friável ou coeso); o momento e a época de subsolagem, considerando o ciclo de cultivo (pré ou pós-colheita) e as condições climáticas (seco ou chuvoso); o sistema de cultivo (mínimo ou mais intensivo); os tipos de implemento e tratores disponíveis para a operação; bem como a profundidade de estrondamento do solo almejada. Deve-se lembrar que a principal função do preparo de solo é o seu mínimo revolvimento para que as raízes possam se desenvolver e, rapidamente, colonizarem o perfil do solo. n

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plantio

Opiniões

o cenário da p&d no

plantio florestal

A pesquisa e o desenvolvimento de novos equipamentos para a silvicultura nacional, nos últimos anos, têm sido induzidos pela redução da oferta de mão de obra no campo, aposentadoria das equipes que estão no campo, falta de renovação de jovens trabalhadores rurais, maior controle da qualidade das operações, necessidade de incremento na produtividade e de georreferenciamento das operações mecanizadas. Assim, a atividade de plantio semimecanizado e mecanizado se destaca com diversas inovações, protótipos e produtos, pois é uma das operações com baixo índice de mecanização e, consequentemente, alta concentração de recursos humanos no campo, realizando uma tarefa considerada de média a alta intensidade física. As plantadoras semimecanizadas de arrasto ou acopladas no sistema de três pontos hidráulico do trator estão há mais tempo no mercado, sendo utilizadas em escala operacional na implantação de novos povoamentos, sendo estas favorecidas pela ausência de resíduos da colheita. Para as empresas florestais ou prestadoras de serviços na silvicultura, as frentes de plantio manual ou, no máximo, semimecanizadas são uma realidade.

Nesse cenário, há empresas com um parque de máquinas com, aproximadamente, 200 tratores e 500 implementos em operação e mais de 2.000 pessoas, principalmente alocadas nas frentes de plantio, implantação e manutenção florestal. No tocante ao plantio, a adoção definitiva dos equipamentos mecanizados tem pela frente o desafio de reduzir custo da operação, uma vez que o custo da mão de obra é inferior ao apresentado pelas plantadoras disponíveis no mercado. Todo o setor tem uma expectativa positiva devido ao surgimento de novos fornecedores e fabricantes nacionais ou internacionais de máquinas de plantio e de irrigação e apoia o desenvolvimento de novos equipamentos. Além dessa expectativa, a redução de custo, aliada com o aumento da qualidade operacional, é uma demanda constante durante as revisões contratuais entre as empresas florestais e seus prestadores de serviço.

a adoção dos equipamentos mecanizados tem o desafio de reduzir o custo da operação, uma vez que o custo da mão de obra é inferior ao apresentado pelas plantadoras disponíveis no mercado "

Saulo Philipe Sebastião Guerra e José Carlos de Almeida

Professor de Tecnologia de Produção Florestal da Unesp e Diretor da JFI - Projetos de Silvicultura, respectivamente

Visando ao plantio em áreas de reforma, novas opções mecanizadas começam a ser inseridas no cenário florestal. Escavadoras hidráulicas equipadas com cabeçote simples ou duplos, ou ainda, cabeçotes triplos instalados em tratores de esteira, fazem com que o rendimento operacional atinja centenas de mudas plantadas e irrigadas por hora de operação.


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Já se encontram no mercado nacional alguns equipamentos importados com diversos modelos e funcionalidades adaptadas à silvicultura de eucalipto e pínus, resultado de vários anos de pesquisa e desenvolvimento. Esses equipamentos são capazes de conjugar as operações de plantio, irrigação, aplicação de fertilizantes e herbicidas pré-emergentes, além do georreferenciamento da muda recém-plantada; o que facilita as operações posteriores, como as irrigações. Na atual fase de desenvolvimento tecnológico, equipamentos autopropelidos despontam como uma opção a ser investigada e avaliada nas operações de campo, unificando o conjunto motor com o sistema de preparo, plantio, irrigação e até adubação, sob uma só marca/modelo, podendo trazer vantagens econômicas e operacionais para os usuários finais. Na vanguarda da tecnologia das operações mecanizadas para a silvicultura, atuando em parceria com as empresas florestais, o Programa Cooperativo sobre Mecanização e Automação Florestal – PCMAF/Ipef, tem avaliado diversos equipamentos e conjuntos mecanizados para a silvicultura, propondo melhorias técnicas que aumentem o rendimento operacional e, consequentemente, reduzam o custo da operação.

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Acredita-se que o crescimento do setor florestal trará novos fabricantes e equipamentos, dentro de um volume de vendas suficiente que permita a diluição de seus custos, viabilizando seu negócio e propiciando o aprimoramento das plantadoras, com a qualidade e o custo competitivo ao custo da operação manual. Independentemente do fabricante da máquina base ou do cabeçote plantador, a necessidade do aumento do rendimento operacional, a nacionalização dos equipamentos e o aumento da rede de atendimento ao cliente que optarem pelas novas tecnologias serão fundamentais para a consolidação das plantadoras mecanizadas no País. A parceria do setor de pesquisa com fabricantes de máquinas e equipamentos deve atuar em conjunto com as empresas florestais e as empresas prestadoras de serviço (clientes finais) para a operacionalização dos novos protótipos e equipamentos que, ainda, estão em fase pré-operacional, a fim de contribuir com sua experiência operacional, ajudando a construir os novos ciclos operacionais e custos. Entretanto, apesar dos obstáculos que nossa economia tem sofrido, a expectativa é positiva para o desenvolvimento de novas parcerias e para a produção de tecnologia de plantio mecanizado para os próximos anos. n

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prevenção e combate a incêndio

Opiniões

tecnologia

a serviço da prevenção

As notícias recentes sobre o aumento de queimadas e focos de incêndio na Amazônia colocam novamente em evidência o debate em relação às formas de prevenção, controle e combate a incêndios em áreas de plantio e matas nativas. Em um ano em que o período de estiagem se prolongou e houve registro do maior número de ocorrências de incêndios para o período na década – 91.891 até o fim de agosto, segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) –, fica clara a urgência de adoção de medidas perenes para coibir o avanço do fogo nas florestas brasileiras. No caso de empresas produtoras de celulose e papel, os cuidados são redobrados para monitorar as grandes áreas de plantação de eucalipto e de proteção ambiental, que possuem fauna e flora conservadas.

Com uma área monitorada, entre própria e de terceiros, de 800 mil hectares, em 2019, tivemos, até o momento, 1750 focos de incêndios, sendo destes 1050 focos em agosto. "

Caio Eduardo Zanardo Diretor Florestal da Suzano

A Suzano, maior produtora global de celulose de eucalipto e líder no mercado de papel na América Latina, tem preocupação permanente com o tema, investindo em tecnologia e mantendo Brigadas de Incêndio em todas as suas unidades, visando diminuir as ocorrências e minimizar os impactos ambientais causados pelos focos de incêndio. O objetivo é proteger os cerca de 1,3 milhão de hectares de áreas plantadas e os mais de 900 mil hectares de áreas destinadas à conservação em suas unidades.

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Para uma atuação ainda mais efetiva, a infraestrutura disponível para a Brigada é constantemente aprimorada e os brigadistas passam por capacitações para atuarem no atendimento às ocorrências. Atualmente, as equipes têm à disposição uma frota de veículos específicos para o combate às chamas, que incluem caminhonetes 4x4 equipadas com kits para o primeiro combate, em sinergia com os monitoramentos florestais e vigilância patrimonial, além de caminhões-pipa de alta capacidade e caminhões multitarefa equipados e que atuam também em atividades da silvicultura, agregando valor ao processo com otimização dos recursos empregados na estratégia de prevenção e combate aos incêndios florestais. Uma novidade que trouxe benefícios relevantes foi a utilização de um caminhão que atua com o CAF (Compressed Air Foam, traduzido do inglês como espuma com ar comprimido), sistema de alta energia que usa ar nitrogênio comprimido


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prevenção e combate a incêndio para aplicar espuma de combate ao incêndio, especialmente para utilização em áreas florestais, sendo cinco vezes mais potente. Aliado a outros equipamentos, como soprador e produtos retardantes de chamas, o CAF tornou o combate mais eficaz e reduziu o volume de água utilizado nas operações. A segurança dos cerca de 600 brigadistas é prioridade, e a nova estratégia de combate, com equipes menores e mais ágeis nos deslocamentos, proporcionou menos exposição ao fogo. Eles também contam com equipamentos de proteção individual modernos, como capacete termoplástico, óculos de proteção antirrisco e antiembaçamento, capuz em malha de aramida, luvas em vaqueta com forro, macacão de combate com forro e botas antichamas. Outra novidade está sendo implementada no Maranhão, onde já existe um sistema de gestão das ocorrências, com registros do histórico de atendimento que ajudam a criar padrões a partir de informações, como formas de detecção, tempo da operação e quantidade de brigadistas envolvidos, tudo gerado a partir de apontamento eletrônico por meio de smartphones e tablets, em um aplicativo desenvolvido pelos colaboradores da empresa. Esse banco de dados traz um panorama mais claro da situação e indica formas de combate mais adequadas para cada caso, tendo como principais resultados uma área monitorada, entre própria e de terceiros, de 800 mil hectares. Além de detecção de incêndios, também usamos imagens das câmeras para ver pragas e doenças. Em 2019, tivemos, até o momento, 1750 focos de incêndios, sendo destes 1050 focos em agosto. O uso do aplicativo será ampliado como uma boa prática em todos os sites da empresa. As torres de observação são outro importante instrumento estratégico. Alimentadas por energia solar, elas são equipadas com câmeras e conseguem controlar, 24 horas por dia, a quase totalidade da área florestal da empresa. O monitoramento das áreas florestais por meio das câmeras instaladas nas torres se mostrou essencial para tornar mais eficaz o combate a focos de incêndio, desde o acionamento da brigada até o acompanhamento e a conclusão das atividades. Ele possibilita manter a segurança, verificar possíveis desvios nas operações e aprimorar as ações de conservação da biodiversidade, pois são comuns registros da presença de animais silvestres nas áreas florestais. A Suzano possui mais de 110 torres que realizam o monitoramento em suas unidades. Os equipamentos medem entre 54 e 72 metros – alturas equivalentes a prédios de 18 e 24 andares, respectivamente – e têm um raio de alcance de 15 a 20 km.

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Opiniões

Com eles, o tempo de resposta médio de atendimento das ocorrências diminuiu cerca de 30% em comparação com o período em que não havia monitoramento por câmeras e as equipes operacionais passaram a ser municiadas em tempo real, com informações referentes à progressão da ação de combate e necessidade de utilização de recursos adicionais. As torres de observação são equipadas com câmeras digitais com giro de 360°, que enviam, on-line, imagens em alta definição para a central, onde controladores atuam permanentemente. Durante o dia, as câmeras detectam fumaça e, à noite, são capazes de detectar rapidamente qualquer luminosidade ocasionada por fagulhas que possam originar os focos de incêndios. Assim que há detecção de algum foco de incêndio, é feito o cruzamento da imagem com outras câmeras para determinar o ponto exato da ocorrência. Se ele estiver dentro ou próximo das propriedades da Suzano, a equipe mais próxima de 1° Combate – que utiliza veículos menores, para deslocamentos rápidos – é acionada. Em mais de 50% dos casos, ela consegue debelar o fogo, sem a necessidade de acionar recurso de apoio. Se o foco está em um vizinho ou em florestas de outras empresas, o responsável é avisado. Todas as imagens são armazenadas por 48 horas, e as ocorrências são gravadas no banco de dados. Outra importante contribuição para a detecção dos focos vem da comunidade vizinha às áreas florestais. As campanhas de conscientização costumam ocorrer anualmente, normalmente meses antes do período de maior probabilidade de incêndios, e há canais de comunicação, como um telefone de emergência para aviso de ocorrências em florestas de eucalipto ou nativas no território da empresa. A soma de todos esses esforços já trouxe bons resultados, mas a Suzano continua investindo e realizando testes para aperfeiçoar as estratégias de combate a incêndios. Visitas de benchmarking recentes da Suzano na Espanha e Portugal, assim como parcerias com universidades, também reforçam a ideia de que é possível conseguir combater focos de incêndio com mais eficiência e economia de recursos, a partir de planejamento estratégico e utilização de tecnologia de ponta. Um dos próximos passos na busca por melhorias tecnológicas é a detecção automática de focos de incêndio. Com uso de inteligência artificial, em breve será possível utilizar um algoritmo capaz de perceber mudanças na paisagem ou de cenários que caracterizem queimadas, tornando o trabalho de detecção e combate ainda mais rápido e eficaz. Com o fogo não se brinca. n


Soluções integradas para o combate a incêndios florestais


inventário florestal

o desafio Em uma das visitas que fiz ao Centro de Tecnologia e Desenvolvimento do Serviço Florestal Norte-Americano, em Missoula, Montana, fui apresentado às mais modernas tecnologias disponíveis no momento para a área de inventário e monitoramento florestal (drones, sensores hiperespectrais, LiDAR, espectrômetros portáteis de alta resolução, etc.). Após a apresentação e durante o almoço, comentei com os presentes que, a continuar esses avanços tecnológicos, não mais precisaríamos de trabalhos de campo. Para minha surpresa, foi unânime a resposta de que os trabalhos de campo deveriam agora ser muito mais intensos e detalhados, pois toda a tecnologia precisaria de calibração, já que todas as medições são indiretas e as mudanças contínuas das florestas (ritmo de crescimento, pragas e doenças, novos matérias genéticos, mudanças climáticas) não prescindiriam de trabalhos de campo periódicos. Durante muito tempo, acompanhei o desenvolvimento da Agricultura de Precisão, que, traçando um paralelo com a área florestal, serve igualmente para o monitoramento e o manejo das culturas agrícolas. Na década de 1990, as previsões eram que, a partir do ano 2.000, praticamente todos os produtores rurais nos Estados Unidos estariam usando essa tecnologia. Entretanto, no ano 2.000, nos Estados Unidos, apenas 10% a 15% dos grandes produtores rurais usavam alguma tecnologia ligada ao pacote chamado de Agricultura de Precisão (monitores de colheita, VRT, aplicação localizada, etc.). Em 2010, ainda nos Estados Unidos, um dos maiores produtores de grãos no mundo, 48% dos produtores usavam monitores de colheita nas suas colheitadeiras.

Abastecer uma indústria ou manejar uma floresta sem a ajuda de um sistema de Inventário Florestal confiável é praticamente impossível. "

Hilton Thadeu Zarate do Couto

Professor de Bioestatística da Esalq-USP

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Opiniões

Entretanto isso não significava que os dados obtidos nesses monitores de colheita eram utilizados de forma eficiente. No Brasil, ainda hoje, o uso dessas tecnologias ainda é baixo. Abastecer uma indústria ou manejar uma floresta sem a ajuda de um sistema de Inventário Florestal confiável (sem viés e com precisão de 10% da média com 95% de probabilidade) é praticamente impossível. Por isso todas as empresas florestais e produtores de madeira possuem ou contratam e utilizam informações oriundas de um sistema de inventário florestal. Assim como a produção de mudas florestais clonais que pode parecer uma atividade simples e sem segredos, os inventários ainda precisam ser aprimorados antes do uso de tecnologias mais sofisticadas, que prometem informações sobre a floresta, sem trabalhos de campo. Acompanho o uso de tecnologias, principalmente o uso de sensoriamento remoto, desde 1972, quando fui apresentado às primeiras imagens em preto e branco do satélite Landsat. De lá para os dias de hoje, muita tecnologia surgiu com promessas espetaculares e quase sempre não cumpridas. Entretanto continuo a defender incentivos a pesquisas de novas tecnologias ou aprimoramentos das já existentes,


para que os custos sejam ainda mais reduzidos e os trabalhos de campo sejam otimizados. Estratificar florestas com o uso de sensores auxilia, em muito, a localização de parcelas no campo. Não poderia deixar de mencionar a importância de futuros desenvolvimentos das técnicas de inventário florestal, tanto para florestas plantadas como para florestas nativas plantadas ou em regeneração natural. Estão dentro dos sistemas de inventário florestal os modelos de crescimento para planejar o futuro abastecimento ou a transação comercial de madeira. As mudanças climáticas merecem um papel de destaque, interagindo com o material genético e as operações de manejo. Muito ainda se pode evoluir nos modelos de crescimento e de rendimento de madeira para incluir o fator clima. Os modelos ditos mecanicistas não passaram no crivo dos especialistas em inventário, pois são complexos e utilizam informações que ainda precisam de muita pesquisa no longo prazo. Algumas pessoas utilizam esses modelos usando, por exemplo, para plantios de eucalipto clonal no Brasil, fatores de florestas plantadas com E. globulus na Austrália. As equações de biomassa que são importantes para prever a qualidade da madeira e também a remoção de gases do efeito estufa apresentam muita pesquisa a ser feita, principalmente quanto aos modelos que ainda não estão pacificados assim, como a coleta de dados

com variáveis auxiliares (densidade básica da madeira, por exemplo). Uso de espectrômetros portáteis de campo, para caracterizar as propriedades da madeira, sem a necessidade de coleta de amostras e custos laboratoriais deve ser pesquisado. Planejar o abastecimento com madeira com alta homogeneidade (inferior a 3% entre amostras de um mesmo lote) permite ganhos extras no rendimento do processo de polpação, por exemplo. Mesmo as equações de volume devem ser revisitadas, assim como os sistemas de processamento e entrega de informação devem ser mais abertos e permitam que os engenheiros florestais possam desenvolver novos modelos, assim como gerar relatórios que sejam mais customizados e com maior rapidez. Para concluir, o Brasil desenvolveu, nas décadas de 1970 e 1980, um sistema de inventário florestal com sólidas bases científicas, o qual, até hoje, não apresentou grandes implementações ou melhorias. Uma “melhoria” que implementada foi a mudança de parcelas retangulares de tamanho variável e número fixo de árvores por parcelas circulares com área fixa. Isso foi feito sem um estudo mais detalhado do possível viés que essa mudança poderia ocasionar. Transformar todas as informações de um inventário, inclusive o recebimento da madeira na fábrica em massa, pode ser o grande desafio de um novo sistema de inventário florestal. n

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nutrição

Opiniões

nutrição florestal:

ciência x prática

Em 1968, o Prof. Helládio do Amaral Mello, fundador do IPEF e do curso de Engenharia Florestal da Esalq, defendeu sua tese de Livre docência cujo objetivo principal era responder à seguinte pergunta: É viável adubar plantações de eucalipto? Atualmente, não há dúvida sobre a viabilidade e a importância da fertilização em plantações de Eucalipto e de outras culturas florestais, visto que essa prática resulta em ganhos médios de produtividade na ordem de 30% a 50%. São poucos os solos que possuem fertilidade suficientemente elevada para dispensar a fertilização, mas é crescente o número de áreas em que, sem fertilização, não é possível estabelecer uma plantação florestal. A importância do conhecimento da nutrição e da fertilização cresce concomitantemente à produtividade das plantações e ao aumento da intensidade da colheita florestal.

No âmbito da pesquisa, os estudos evoluíram muito desde a publicação da tese do Prof. Helládio. A importância da adubação para a produtividade e a sustentabilidade da produção florestal já é bem conhecida, embora ainda haja divergências quanto ao método de recomendação de fertilizantes. Estudos recentes estão focados em entender os seguintes aspectos: 1) importância da nutrição na qualidade da madeira; 2) importância da nutrição na tolerância ao ataque de pragas e doenças; 3) importância da nutrição na adaptação dos materiais genéticos às condições edafoclimáticas encontradas nas novas fronteiras florestais, que são mais desafiadoras; 4) relação entre nutrição e expressão genética dos materiais plantados; 5) produção de fertilizantes com maior eficiência agronômica e melhores propriedades físico-químicas; 6) importância da fertilidade biológica do solo na nutrição e produtividade das florestas, dentre outros. A nutrição pode afetar a qualidade da madeira e a tolerância das plantas ao ataque de pragas e doenças. De modo geral, elevadas doses de fertilizantes, especialmente os nitrogenados, aumentam a concentração de açúcares nas folhas, deixando as plantas mais susceptíveis ao ataque de pragas e doenças.

elevadas doses de fertilizantes, especialmente os nitrogenados, aumentam a concentração de açúcares nas folhas, deixando as plantas mais susceptíveis ao ataque de pragas e doenças "

José Henrique Tertulino Rocha

Professor de Solos e Nutrição da FAEF Faculdade de Ensino Superior e Formação Integral

Além disso, altas doses de fertilizantes podem elevar demasiadamente o índice de área foliar da floresta, aumentando o risco de mortalidade em condição de déficit hídrico prolongado. Altas taxas de crescimento também podem resultar em redução na densidade básica da madeira. Em contrapartida, uma equilibrada nutrição, com macro e micronutrientes, aumenta a tolerância das plantas ao ataque de pragas e doenças.


Inovar e crescer: esse é o caminho Antonio Tatagiba No mercado há 18 anos, a INFLOR vem revolu-

planejamento de médio e curto prazo de operações

cionando a gestão de ativos biológicos. A empresa,

florestais, como silvicultura e colheita, todas supor-

líder na América Latina no desenvolvimento de

tadas por otimizadores.

soluções que ajudam os clientes a maximizarem

O reconhecimento da

o desempenho no gerenciamento de florestas, se

The Silicon Review, que

prepara para expandir a presença no mundo, principalmente nos Estados Unidos. Recentemente, fomos reconhecidos por uma publicação americana como uma das 50 companhias mais inovadoras às quais o mercado deve estar atento.

nos apresenta como INFLOR An annual listing of the “50 innovative companies to watch” that celebrates not only the glory of their highly valued products/services, but also recognizes their contribution in business and technology marketplace.

uma das 50 companhias mais inovadoras a ser-

GIVEN IN 2019 AT NEW JERSEY.

Sreshtha Banerjee Editor-in-chief

Vishnu Vardhan Kulkarni Managing Editor

em acompanhadas em 2019, confirma que nos-

A cultura de inovação está muito presente na

sas ações, bem como nossas soluções, que ajudam os

empresa, temos uma área focada em pesquisa e

clientes a reduzirem custos operacionais a partir de

desenvolvimento que avalia constantemente novas

um bom planejamento e gerenciamento de recursos

tecnologias e ferramentas que possam ser aplica-

de forma mais eficaz, estão em linha com os proces-

das à nossa solução e à realidade de nossos clientes.

sos de inovação.

Incentivamos nossas equipes a inovarem e estamos constantemente pesquisando, aprendendo e ajustando nosso ambiente, a fim de criar condições que favoreçam o envolvimento de todos na busca das melhores soluções, em um movimento de co-criação. Entendemos que a inovação deve ser um processo participativo. Inovação, inclusive, é um dos nossos valores, juntamente com Compromisso, Competência, Colaboração, Foco em Resultados, Qualidade e Integridade. Atualmente estamos trabalhando na próxima geração do INFLOR Forest, que é o nosso principal produto, e vamos oferecer aos clientes novas possibilidades, como IoT, inteligência artificial, aprendizado de máquina e análise de big data. Também trabalhamos no lançamento de novas soluções, nos próximos meses, para apoiar o

Antonio Tatagiba é diretor de Serviços Internacionais da INFLOR


nutrição Micronutrientes, como o B e o Cu, estão relacionados com a biossíntese da lignina; macronutrientes, como o K e o Mg, estão associados ao controle estomático e à proteção do aparato fotossintética, respectivamente. Na edição Op-CP-43 da Revista Opiniões, o Prof. José Leonardo de Moraes Gonçalves, discorrendo sobre os avanços científicos na área de nutrição florestal, destacou dois pontos: um relacionado à lixiviação de nutrientes e parcelamento da fertilização e outro relacionado à importância do B para a expressão de alguns genes relacionados à adaptação de árvores de eucalipto ao déficit hídrico. O artigo do Prof. Leonardo foi publicado em 2016 apresentando resultados de pesquisas publicados desde 2010, mas esses temas ainda são frequentemente discutidos nas reuniões sobre fertilização florestal, e muitos silvicultores, receosos em aplicar esses resultados na prática, continuam parcelando a fertilização de cobertura em 2 a 4 aplicações. O uso de fertilizantes com maior tecnologia agregada em plantações florestais tem aumentado nos últimos anos. Diversos produtos foram lançados no mercado, e, em geral, consistem de: 1) fontes de N de baixa volatilização (comum em ambiente florestal) e enriquecidas com S ou micronutrientes; 2) fontes de P complexadas com substâncias húmicas, objetivando a redução das perdas por fixação; 3) fontes de K menos salinas, permitindo a aplicação de toda a adubação em uma única dose, sem prejudicar as mudas; 4) misturas granuladas, ou seja, todos os nutrientes no mesmo grânulo, o que melhora as propriedades físicas dos fertilizantes e reduz o problema da segregação, sendo este de grande importância para os micronutrientes; 5) fontes de micronutrientes mais solúveis e de maior eficiência agronômica tanto para aplicação foliar (especialmente para B) quanto via solo, dentre outras. A chamada fertilidade biológica do solo também vem ganhando destaque nas discussões sobre nutrição florestal. Em um experimento de longa duração instalado na Estação Experimental de Itatinga, pertencente à Esalq-USP, observou-se que a remoção dos resíduos florestais após a colheita reduziu drasticamente o teor de matéria orgânica e consequente atividade biológica do solo, sem afetar a produtividade de madeira quando os nutrientes removidos com os resíduos foram repostos via fertilização. Entretanto, na segunda rotação com remoção consecutiva dos resíduos florestais, mesmo com a aplicação de altas doses de fertilizantes, houve redução de 14% na produtividade de madeira. Isso indica que a importância da matéria orgânica do solo e da manutenção dos resíduos florestais sobre o solo vai além do fornecimento de nutrientes.

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Opiniões Após duas rotações de cultivo, na área onde os resíduos florestais foram mantidos, observou-se maior teor de matéria orgânica, maior atividade biológica, maior atividade enzimática (fosfatases), maior densidade de raízes finas e, consequentemente, maior produtividade. Apesar de todos esses avanços, o tema nutrição florestal está longe de ser dado por esgotado pela ciência, há ainda muito a ser estudado. Após descrever brevemente o que acredito ser alguns dos grandes avanços científicos da nutrição florestal nos últimos anos, atrevo-me a fazer algumas considerações sobre o que está sendo realizado na prática. Quando analisamos o setor de florestas plantadas no Brasil, podemos identificar dois “mundos” completamente distintos: o primeiro, das empresas verticalizadas, que possuem técnicos altamente qualificados e departamentos de pesquisa, e o segundo, dos produtores florestais, que, grosso modo, possuem baixo acesso a recomendações técnicas especializadas. No mundo das empresas verticalizadas, salvo algumas infelizes exceções, vemos recomendações de fertilização feitas no nível do talhão, embasadas na análise de solo e na produtividade esperada, executadas com auxílio de implementos com tecnologia de precisão embarcada e monitoramento nutricional subsequente. Isso, quando associado ao uso de fertilizantes de qualidade, resulta em alta uniformidade de aplicação, alta eficiência agronômica, adequada nutrição e consequentemente elevadas produtividades. Essa é a receita de sucesso utilizada por diversas empresas; entretanto problemas financeiros, metas muito ousadas de plantio ou decisões equivocadas podem fazer com que essa receita não seja seguida, o que resulta em perdas de produtividade, degradação do solo e aumento do custo de exaustão da madeira. No mundo dos produtores florestais, também salvando as devidas exceções, comumente vemos a ausência completa da fertilização ou a aplicação de uma mesma dose em vastas áreas, sem levar em consideração a disponibilidade de nutrientes do solo e o potencial produtivo do sítio florestal (a famosa “receita de bolo”). Isso, associado ao uso de fontes de nutrientes de baixa qualidade e baixa uniformidade de distribuição, resulta em florestas pouco produtivas e pouco rentáveis, além de degradação do solo. Além da ciência, precisamos avançar muito na extensão. Não há validade no conhecimento científico se este não resultar em mudanças tecnológicas que aumentem a rentabilidade e a sustentabilidade das plantações florestais. Precisamos melhorar a agilidade e o dinamismo na transferência de tecnologia. Mesmo em empresas verticalizadas, há uma morosidade na aplicação do conhecimento científico. n


talhadia

Opiniões

manejoeconomicamente atraente A presença de gemas nos tocos remanescentes, após a colheita das árvores, possibilita ao eucalipto a emissão vigorosa de novas brotações e o estabelecimento de uma nova floresta. A esse sistema silvicultural denomina-se “talhadia”. O rápido crescimento inicial na talhadia, e consequente cobertura do solo, advém do fato de os tocos já possuírem um sistema radicular estabelecido e com reservas, possibilitando prover adequadamente água, carboidratos e nutrientes para as brotações jovens. Esse vigor de crescimento reduz os riscos, e os custos, da fase inicial de uma floresta estabelecida com mudas, as quais possuem um sistema radicular restrito e menor ritmo de crescimento. A talhadia é, assim, mais resiliente e possui menor custo de formação, comparativamente ao plantio de uma nova floresta (reforma). Esse menor custo advém do fato de a talhadia não requerer operações intensivas e onerosas, como o rebaixamento de tocos, o preparo de solo,

nos preocuparmos mais com os plantios realizados na reforma ou implantação, uma vez que eles apresentam maior investimento inicial e são mais sensíveis às intempéries ambientais. Nas empresas de base florestal, normalmente menos de 30% da área de eucalipto colhida anualmente é conduzida por talhadia. Considerando que ela é um manejo tão eficiente e vantajoso, pode-se perguntar: por que esse percentual não é maior? Existem, basicamente, dois fatores principais que tendem a limitar o aumento das áreas conduzidas por talhadia no Brasil. A primeira condição está relacionada à necessidade de substituição dos genótipos atuais por materiais com maior resistência a pragas e a doenças, com maior produtividade ou com melhor qualidade de madeira para os fins industriais. O segundo aspecto diz respeito à qualidade da floresta a ser conduzida, pois, para viabilizarmos a condução de brotação, é preciso que, ao final da rotação, ela tenha adequada sanidade, sobrevivência e produtividade.

Não basta confiar a análise apenas em números e banco de dados. É preciso colocar o capacete e validar no campo, efetuando-se o microplanejamento de colheita e pós-colheita. "

Sergio Ricardo Bentivenha

Gerente de Tecnologia Florestal Suzano

o plantio das mudas, o replantio, as irrigações e o uso maior de herbicidas pré-emergentes. Pode-se afirmar que as reduções no custo de formação florestal com a talhadia é de 50%, ou mais, comparativamente à reforma da mesma área. Contudo, para que a talhadia tenha pleno êxito de estabelecimento, há necessidade de uma criteriosa observância de procedimentos operacionais, pré, durante e pós-colheita, para garantir a qualidade e a produtividade final das brotações. Apesar disso, existe uma tendência natural de nós técnicos

Walter

UFV - Universidade Federal de Viçosa


talhadia O crescimento das florestas depende do potencial genético aliado às disponibilidades de água, nutrientes e luz, considerando que o recurso luz não é limitante, e, mantidas as mesmas condições hídricas, nutricionais e de proteção da floresta contra ervas, pragas e doenças, a capacidade produtiva da brotação será a mesma que a do plantio anteriormente realizado, desde que se mantenha a ocupação do sítio (árvores/ha). Contudo garantir a produtividade das áreas manejadas em segunda rotação não é tarefa simples. A talhadia é um processo que envolve muitos elos da cadeia produtiva, exigindo alto nível de controle e cooperação entre as áreas de interface da silvicultura e da colheita. Se um dos elos se rompe, teremos algum impacto para a qualidade e a produtividade das brotações. Entre os fatores que mais impactam a produtividade da brotação, podemos destacar a sobrevivência do plantio, a altura de corte, os danos e o sombreamento das cepas, a ocorrência de pragas, as doenças e a matocompetição e a qualidade do manejo silvicultural adotado. O sucesso no manejo da brotação começa no planejamento do plantio da área. A definição do espaçamento e do arranjo de plantio, de forma a maximizar o aproveitamento da luz e a redução dos riscos ambientais, é de fundamental importância para garantir a manutenção da produtividade florestal e viabilizar a mecanização das operações nas duas rotações. Para a escolha do material genético, além dos parâmetros usuais de seleção, também se faz necessário conhecer a capacidade de emissão e estabelecimento de novas brotações desses materiais. Já na fase pré-colheita, o processo de seleção das áreas que serão conduzidas precisa ser criterioso, reduzindo os riscos que uma má escolha poderia causar. Não basta confiar a análise apenas em números e banco de dados. É preciso colocar o capacete e validar no campo, efetuando-se o microplanejamento de colheita e pós-colheita. Sistemas e critérios de colheita e baldeio que permitam uma boa e adequada emissão de brotos também são fundamentais para o sucesso da talhadia. Adequar a altura de corte, bem como evitar a ocorrência de danos mecânicos e o sombreamento das cepas por resíduos, de forma a garantir quantidade e qualidade de brotos, são aspectos importantes e que devem ser considerados no processo de colheita da área. A remoção da madeira do interior dos talhões deve ser feita ainda quando as cepas não iniciaram a emissão de novas brotações, de forma a evitar danos oriundos do tráfego de máquinas. Vencidas as fases de colheita, e garantindo-se boas brotações, há necessidade de uma fertilização que forneça macro e micronutrientes, cuja dose depende da fertilidade do solo, da quantidade de

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Opiniões resíduos deixada pela rotação anterior e que deve ser ajustada para as expectativas de produtividades. Assim, solos pouco férteis, em locais com bom aporte hídrico, onde se esperam maiores produtividades, irão requerer mais fertilizantes que solos mais férteis ou em áreas com baixa disponibilidade hídrica. Com o objetivo de selecionar os brotos que serão conduzidos, a atividade de desbrota, feita antes de 1 ano, também permite a compensação de falhas e o reestabelecimento da quantidade de fustes inicialmente plantados no talhão. Assim, essa prática permite recuperar, dentro de certos limites, plantios que apresentaram uma ligeira redução na sobrevivência do plantio. Ainda, durante todo o ciclo de crescimento, precisamos estar atentos para a rápida detecção, monitoramento e controle das pragas e doenças e da matocompetição. Formigas cortadeiras chegam a representar uma redução de até 50% na produtividade das brotações, com apenas um corte. Nesse sentido, o monitoramento através de imagens e campo é essencial para identificarmos com precisão e agilidade eventuais desvios. Para obtermos um salto de desempenho no manejo de brotação, o primeiro passo é reduzir a variabilidade e a instabilidade do processo. Os diversos elos da cadeia, bem como a exposição ambiental, tornam esse controle ainda mais desafiador. E não podemos esquecer que as empresas são formadas por processos e pessoas, sendo fundamental a definição de metas compartilhadas entre as áreas e a existência de um programa contínuo de educação florestal, de forma a conscientizar e capacitar toda a cadeia produtiva. A talhadia é uma vantagem competitiva que o eucalipto nos oferece e que ainda precisa ser mais bem explorada. Trata-se de uma estratégica de manejo ecológica e economicamente eficaz e não apenas uma opção para reduzirmos os custos de produção, em momentos de restrição financeira. Em um negócio florestal, sempre teremos situações onde a reforma se fará necessária. O desafio, no entanto, é aumentar de forma paulatina e planejada as áreas aptas para a talhadia, onde temos um manejo mais econômico, eficiente e com a possibilidade de manutenção da capacidade produtiva, reduzindo o custo final de nossos produtos e aumentando nossa competitividade. Nota-se, finalmente, que a opção entre talhadia e reforma é baseada em uma matriz de decisão que requer conhecimentos precisos das respostas da talhadia ao manejo. Assim, uma rede experimental de talhadia está sendo instalada na Suzano para que haja aumento do know-how sobre a interface Talhadia x Manejo x Clone x Região, com consequente aumento de precisão da matriz de decisão. n


Cinco anos mostrando o melhor caminho para o futuro

Levantamentos Topográficos e Georrefereciamento: Os levantamentos Topográficos e de Georrefereciamento têm por objetivo a regularização dos Imóveis Rurais conforme a “Lei Federal nº10.267/ 2001 e seu Decreto Regulamentador nº4.449/ 2002, alterado pelo Decreto nº 5.570/2005” acarretaram profundas alterações na determinação e identificação dos Imóveis, assim a GEOPLAN veem no auxilio com os Produtores Rurais, Empresas e Investidores na regularização fundiária conforme a Lei estabelecida. Aos longos dos 5 anos já foram mais de 180 áreas Georreferenciadas e mais de 350 áreas aferidas para Levantamento Geotopográfico, Subdivisões, Unificações e Conferências de áreas de pequeno porte como áreas de grande porte. CAR (Cadastramento Ambiental Rural): O CAR é como se fosse uma Carteira de Identidade Ambiental das Propriedades Rurais informando sobre o tamanho e seu uso, é um documento declaratório sobre a situação ambiental do Imóvel Rural. E no decorrer deste tempo que a GEOPLAN está na ativa já foram mais de 450 CAR nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e principalmente no Paraná. Consultoria Florestal (Colheita e Silvicultura): O nosso objetivo na Consultoria Florestal é o de assistir Produtores de Madeira de Pínus e de Eucalyptus, levando todo o nosso escopo de conhecimento e a nossa expertise para que as tecnologias sejam aplicadas e desenvolvidas em cada Projeto implantado. Tanto na Silvicultura como na Colheita, a GEOPLAN está apta para atender com êxito e buscar melhores valores otimizando os custos de cada operação avaliada, deixando clara a sustentabilidade do seu Negócio Florestal. A GEOPLAN é uma Empresa parceira para a sua Floresta e já atuamos em Auditorias e Planejamos em mais de 60 Propriedades no segmento, além de realizar mais de 120 Inventários Florestais em diversas Propriedades.

43 3545-1369 machado@geoplancuriuva.com.br www.GeoplanCuriuva.com.br Rua Nicolau Lange, N 389, Sala A, Centro 84.280-000 • Curiúva • Paraná Diretor Técnico: Virgílio César Machado • CREA-PR: 115674/D • CTF-IBAMA: 7225073 • SERFLOR-IAP: 1101010001381


pragas florestais

os avanços no manejo de

pragas florestais

Quando abordamos assuntos relativos à proteção florestal em florestas plantadas, a preocupação é a ocorrência de pragas exóticas, que encontram nessas florestas todas as condições necessárias para seu total desenvolvimento, sem a ocorrência de controladores naturais adaptados. Em relação a pragas exóticas de eucalipto, dados científicos mostram um expressivo aumento na dispersão desses insetos ao redor do mundo, principalmente após a criação da OMC – Organização Mundial do Comércio –, no início da década de 1990. A partir desse período, o trânsito de pessoas e mercadorias só tem aumentado, auxiliando naturalmente na dispersão e introdução destas novas pragas e doenças. Diferentemente de países como Estados Unidos e Canadá, o Brasil não possui uma estatística oficial sobre a ocorrência de pragas de cultivos florestais no país. O desconhecimento dessas informações leva a um cenário perigoso, onde é impossível mensurar os reais impactos das pragas sobre abrem-se novas oportunidades para a integração de pesquisas de áreas de conhecimento antes isoladas e agora consideradas integradoras. Isso certamente nos levará a um novo patamar de produtividade sustentável "

Luís Renato Junqueira e Carlos Frederico Wilcken

Coordenador e Lider do PROTEF/IPEF ‑ Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal, respectivamente

os cultivos e acompanhar sua flutuação e áreas preferenciais de ocorrência ao longo do tempo. Buscando trazer mais informações sobre esse assunto, o IPEF promove, anualmente, um levantamento da ocorrência de pragas e doenças nos cultivos de pínus e eucalipto, dentro de sua rede de atuação.

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Na série histórica de 10 anos, a partir de 2009, as pragas exóticas (psilídeo-de-concha, percevejo-bronzeado, vespa-de-galha e gorgulho-do-eucalipto) são as que têm causado maiores danos. Em termos relativos, até 2017, a média de área atacada era de 14%, com o maior valor registrado em 2012 (23%). Chamam atenção os números crescentes, a partir de 2016, saindo de 9,8% para 31% de área atacada relativa, maior valor registrado nesse levantamento. A principal causa desse aumento está relacionada aos surtos com lagartas desfolhadoras, principalmente na região Nordeste do País. Para pragas nativas, como as formigas cortadeiras e as lagartas desfolhadoras, também houve avanços. Em plantios florestais, o controle de formigas é imprescindível, e, nas últimas décadas, investiu-se no desenvolvimento de sistemas de monitoramento, gestão das informações, agilidade na tomada de decisão e tecnologia de aplicação de formicidas. Porém ainda estamos restritos a poucos ingredientes ativos, sem novas opções, há mais de 20 anos. No caso das lagartas desfolhadoras, há um leque de opções muito maior, baseado, principalmente, em bioinseticidas à base de Bacillus thuringiensis e inseticidas


Opiniões reguladores de crescimento de insetos, além de espécies de parasitoides de pupas e percevejos predadores. Em um cenário hostil e desfavorável, com tendências de alterações climáticas e introduções cada vez mais frequentes de novas pragas, nunca foi tão importante o papel da pesquisa na busca por métodos de controle cada vez mais eficientes. O controle químico ainda é importante dentro do manejo de pragas florestais, devido à ação rápida e eficiente para diversos grupos de pragas. Nesse método de controle, as principais pesquisas são pela busca por novas moléculas com diferentes métodos de ação e mais seguras ao homem e ao ambiente, propiciando, em alguns casos, a seletividade aos inimigos naturais. Contudo o ritmo de descoberta de novos ingredientes ativos vem caindo, e o enfoque fica naqueles que conseguem controlar bem pragas que ocorrem em diferentes culturas, aumentando sua fatia de utilização e posicionamento em diferentes mercados. Do outro lado, o controle biológico de pragas tem ganhado cada vez mais destaque desde a última década. Apesar de sua utilização não ser uma novidade em florestas plantadas, há os casos clássicos da utilização do nematoide Deladenus siricidicola para controle da vespa-da-madeira em pínus e dos predadores e parasitoides para lagartas desfolhadoras de eucalipto. Porém há expansão pela busca de produtos e uso do controle biológico no campo, e sua atração a novos empreendedores tem gerado importantes desenvolvimentos nessa área. A demanda por agentes de controle biológico para plantios florestais é crescente, os principais entraves atuais estão relacionados aos modelos de criação que necessariamente dependem da manutenção das pragas-alvo em laboratório; devido à especificidade de muitos desses inimigos naturais, a utilização de hospedeiros alternativos não é possível. O aumento do uso do controle biológico para pragas florestais passa, necessariamente, pela maior disponibilidade de agentes de controle biológico no mercado. Nesse contexto, temos dado ênfase a linhas de pesquisa para geração de informações que suportem o desenvolvimento de criações massais para os principais inimigos naturais de pragas do eucalipto, como Psyllaephagus bliteus, Cleruchoides noackae, Anaphes nitens e Selitrichodes neseri. Os trabalhos desenvolvidos por essas linhas de pesquisa estão proporcionando o aumento da utilização do controle biológico no campo, o que diretamente irá levar a uma redução das intervenções químicas, proporcionando cenários produtivos mais seguros e em consonância com os critérios de certificações, como FSC e Cerflor, além de reduzir as perdas causadas pelas pragas, trazendo mais competitividade a nossas florestas.

Esse desenvolvimento tem levado a ações mais arrojadas, como a iniciativa liderada pelo Ipef para construção de uma biofábrica para produção desses agentes para as empresas associadas. Ainda dentro do controle biológico, a adoção de tecnologias para liberação de inimigos naturais também tem ajudado a impulsionar esse mercado. Com o aumento da produção de agentes de controle biológico, é recorrente a pergunta sobre qual a melhor forma de liberá-los. Nesse contexto, tem se popularizado o uso dos VANTs (Veículos Aéreos Não Tripulados), popularmente conhecidos como drones. O mercado e o ritmo de desenvolvimento de drones são enormes, atualmente é possível encontrar uma grande variedade de modelos com inúmeras possibilidades de adaptação com mecanismos de liberação, sensores, etc. Há muitas informações sobre o uso de drones no setor florestal. Empresas especializadas no fornecimento desses serviços vêm apresentando resultados consistentes e confiáveis, em áreas que vão além do controle de pragas. Além desses dois pilares tradicionais do controle de pragas, temos acompanhando outras tecnologias que vêm sendo utilizadas e pesquisadas pela agricultura. Outra tendência é o uso da biotecnologia, iniciada pelos organismos geneticamente modificados, mas que tem recebido outras ferramentas que merecem destaque, como o caso da edição gênica, (exemplo, a técnica CRISPR-CAS 9) e a utilização do mecanismo de RNA interferente (RNAi). Essas novas ferramentas trazem consigo não somente as vantagens individuais, mas também a possibilidade de integração sinérgica com demais técnicas de controle químicas, biológicas, comportamentais e etc. Com a evolução natural da ciência, espera-se que, cada vez mais, existam oportunidades e novas tecnologias a serem exploradas. As tendências para a evolução do manejo integrado de pragas em cultivos florestais estão cada vez mais específicas, explorando possibilidades e características inerentes a cada espécie florestal ou espécie de praga, ou seja, buscando cada vez mais soluções customizadas aos produtores florestais. Nesse contexto, abrem-se novas oportunidades para a integração de pesquisas de áreas de conhecimento antes isoladas e agora consideradas integradoras. Isso certamente nos levará a um novo patamar de produtividade sustentável, reforçando ainda mais a missão de incentivo às pesquisas pelo nosso setor, que sempre se destacou como pioneiro, arrojado e inovador. n

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COMO CONTROLAR PLANTAS DANINHAS EM REFLORESTAMENTO COM EFICÁCIA E PRATICIDADE por: José Claudionir Carvalho, engenheiro agrônomo graduado pela ESALQ/USP, mestre em Solos e Nutrição de Plantas (ESALQ/USP) e doutor em Proteção de Plantas pela UNESP/Botucatu.

As árvores plantadas são uma matéria-prima renovável, reciclável e amigável ao meio ambiente e à vida humana. O Brasil possui 7,84 milhões de hectares plantados de eucalipto, pinus e demais espécies. O reflorestamento é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País e os demais 9% vêm de florestas naturais legalmente manejadas. Além disso, as florestas energéticas contribuem para o fornecimento de biomassa florestal, lenha e carvão de origem vegetal, contribuindo assim, para evitar a degradação de ecossistemas naturais (IBA, 2017). Dentre os fatores que restringem o potencial produtivo do setor florestal, a interferência das plantas daninhas é um dos principais e, dependendo do nível de infestação, reduz a produtividade consideravelmente, sendo necessário o seu controle, principalmente na fase inicial de desenvolvimento. As fazendas de reflorestamento são de grande extensão, na sua maioria com presença de áreas declivosas e adotam o sistema de cultivo mínimo. Por essas razões, o controle químico de plantas daninhas é o mais utilizado, sendo que o herbicida glifosato tem sido largamente utilizado há mais de 40 anos. As principais plantas daninhas infestantes presentes em áreas de reflorestamento são: capim colonião, capim amargoso, capim colchão, capim pé de galinha, picão preto, erva quente, buva e trapoeraba, além de outras espécies. Todas elas têm relatos de resistência ou tolerância ao glifosato, em consequência do uso contínuo e pressão de seleção. O glifosato é um herbicida com amplo espectro de controle de espécies daninhas, porém, tem algumas restrições, ou seja, não é seletivo para as espécies florestais cultivadas no Brasil e tem apresentado falhas de controle para as espécies tolerantes ou resistentes. O glifosato deve ser aplicado antes do plantio, como ferramenta de manejo ou aplicação protegida nas entre linhas, mas nunca sobre a folhagem das espécies florestais cultivadas e requer reaplicações constantes devido a reinfestações, por não possuir efeito residual. Nesse contexto, o uso de herbicidas residuais, em pré-emergência, são alternativas que complementam o glifosato, evitando constantes entradas nas áreas para controle de banco de sementes de ervas abundantes e que causam reinfestações frequentes. Os herbicidas pré-emergentes apresentam algumas restrições. A cobertura morta presente no momento da aplicação adsorve parte do produto aplicado e reduz sua ação residual no solo. A presença de torrões de solo e restos vegetais, como galhos,

também afetam a ação herbicida. Além disso, a ocorrência de chuvas próximo ou após a aplicação é de suma importância, pois a umidade do solo permite a absorção dos produtos pelas plantas daninhas, antes de sua emergência. Dentre as várias opções de herbicidas para aplicação em pré-emergência, destaca-se o S-Metolacloro, que apresenta características físico-químicas adequadas ao reflorestamento. A solubilidade média e adsorção fraca na matéria orgânica do solo possibilita ação eficaz sobre um amplo espectro de plantas daninhas, sem ocorrer lixiviação demasiada ou necessidade de umidade muito alta para manter o ativo na solução do solo, nem tampouco adsorção forte na cobertura morta, que indisponibilize o produto para a absorção pelas plantas. Essas características lhe confere um longo residual quando utilizado nas doses recomendadas. O S-Metolacloro impede a germinação e emergência das sementes de plantas daninhas de difícil controle, como capim colonião, capim marmelada, capim braquiária e principalmente capim amargoso, além do controle de folhas largas como caruru, erva quente, guanxuma, corda de viola e picão preto. O S-Metolacloro é seletivo para as espécies florestais, pois não possui absorção radicular, agindo apenas sobre as plantas daninhas na região dos meristemas do coleóptilo das gramíneas e epicótilo das dicotiledôneas, antes da emergência. Recentemente a Syngenta desenvolveu o Sequence, uma mistura pronta de glifosato de sal potássico e S-Metolacloro. Obteve-se um balanço ideal entre as duas moléculas, com uma formulação combinada que atende perfeitamente ao mercado para controle das plantas daninhas em reflorestamento, com praticidade, confiabilidade e dispensa reaplicação constante. Sequence, uma tecnologia inovadora, pode ser aplicada em pré-plantio em áreas total e pós-plantio, em jato dirigido, nas entre linhas das culturas florestais. Nessas modalidades é totalmente seletivo e eficaz por até 90 dias, tanto em solos arenosos como argilosos, além de apresentar efeito sinérgico da ação pós-emergente. Não deve ser aplicado em situações de estiagem prolongada ou sobre a folhagem das espécies florestais. Sequence, é o único produto do mercado que alia o efeito pós-emergente do glifosato com a ação de um pré-emergente (S-Metolacloro) em uma única formulação e traz conveniência, segurança, flexibilidade e eficácia sobre um amplo espectro de plantas daninhas para que as espécies florestais se desenvolvam livres da matocompetição.



controle de doenças

Opiniões

fagoterapia no controle de bacterioses florestais As doenças de plantas causadas por bactérias (bacterioses) são, atualmente, responsáveis por enormes prejuízos em culturas agrícolas e florestais. No setor florestal, a murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum, a seca de ponteiros e a murcha de Erwinia, causadas por Erwinia psidii, e a mancha foliar e desfolha, causada por Xanthomonas axonopodis pv. Eucalyptorum, têm causado grandes perdas na eucaliptocultura, no Brasil. Tais doenças podem ocorrer desde a produção de mudas até o estabelecimento e a condução das plantas no campo.

O controle de bacterioses, em geral, constitui um grande desafio em todo o mundo, em virtude das dificuldades de se obterem antibióticos eficientes contra o patógeno já estabelecido na planta, além do risco de seleção para resistência e sua transferência horizontal para bactérias patogênicas ao homem e aos animais. Para eucalipto, o controle de bacterioses tem sido realizado mediante o plantio de genótipos resistentes. No entanto há clones produtivos, mas altamente suscetíveis.

a busca por métodos alternativos de controle de doenças, que apresentam um menor impacto ambiental e para a saúde humana e dos animais, se torna extremamente relevante "

Poliane Alfenas-Zerbini e Acelino Couto Alfenas Professores do Departamento de Microbiologia e do Departamento de Fitopatologia, respectivamente, da UFV - Universidade Federal de Viçosa

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controle de doenças A descoberta de alternativas de controle pode mitigar as perdas e viabilizar o plantio de tais materiais. Há, na natureza, vírus que infectam bactérias (bacteriófagos) ou simplesmente “fagos” com grande potencial de controle biológico. Os fagos são os organismos mais abundantes do planeta e desempenham importantes funções para a manutenção do ecossistema. Eles podem ser obtidos de esgoto, fezes, solo ou água, dentre outros. Nos últimos anos, a fagoterapia tem despertado interesse mundial e amplia as perspectivas do manejo ecológico de doenças em plantas. Embora, na área florestal, ainda seja incipiente, a fagoterapia coincide com a crescente demanda por práticas sustentáveis de manejo e com menor impacto negativo ao ambiente. O primeiro bacteriófago disponível para comercialização foi registrado na Agência de Proteção Ambiental dos EUA, em 2005, e foi designado para o controle da mancha bacteriana da pimenta e da pinta bacteriana do tomateiro, causadas por Xanthomonas campestris pv. vesicatoria e Pseudomonas syringae pv. tomato, respectivamente. Um levantamento recente demonstra o crescimento do número de pedidos de patentes que envolve a utilização de bacteriófagos como agentes de biocontrole na agricultura. Pelo menos, 97 pedidos de patente já foram registrados em todo o mundo, sendo a maioria deles realizados na Ásia, continente que também originou a maior parte dos artigos científicos publicados sobre o tema nos últimos anos. A América do Sul, incluindo o Brasil, responde por menos de 10% dos pedidos. Mais de 50% dos pedidos de patente visam ao controle de bactérias pertencentes aos gêneros Ralstonia, Xanthomonas, Xylella, Dickeya, Pectobacterium, Pseudomonas e Erwinia. Vários bacteriófagos que infectam R. solanacearum já foram descritos. Entre eles, alguns possuem amplo espectro de ação, enquanto outros são mais restritos quanto à gama de hospedeiros. Resultados promissores foram obtidos com o vírus φRSL1, capaz de inibir a colonização de R. solanacearum e garantir a proteção contra a murcha bacteriana. Adicionalmente, esse vírus exibe relativa estabilidade no solo, especialmente em altas temperaturas (37-50 °C), e é persistente, sendo recuperado de solo rizosférico meses pós aplicação. A fagoterapia clássica é baseada no isolamento e na utilização de fagos selecionados contra bactérias-alvo. Na maioria das vezes, são formulados coquetéis com uma mistura de diferentes fagos, o que aumenta o número de isolados bacterianos-alvo e diminui a frequência de seleção de bactérias resistentes. Entretanto diversos problemas têm sido relacionados com a utilização da fagoterapia clássica, como seleção de bactérias resistentes.

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Opiniões Além disso, os fagos terapêuticos não devem codificar genes indesejáveis (por exemplo, toxinas) e não podem apresentar lisogenia para minimizar a ocorrência de transferência de material genético entre células bacterianas. Dessa forma, têm sido propostas novas abordagens para a utilização de fagos como agentes terapêuticos, como a utilização de proteínas bacteriostáticas e bacteriolíticas codificadas por fagos, como endolisinas, holinas e depolimerases. Assim, a caracterização de bacteriófagos, capazes de infectar bactérias fitopatogênicas, é relevante diante de seu potencial no controle biológico, representando uma alternativa ambientalmente segura, em relação aos produtos químicos convencionalmente adotados. Nos últimos anos, nosso grupo de pesquisa tem concentrado esforços na caracterização de bacteriófagos líticos com potencial para o controle biológico da murcha bacteriana causada por Ralstonia spp., em viveiros florestais. Atualmente, há seis bacteriófagos com grande capacidade lítica, que têm se mostrado estáveis ao longo de vários ciclos de multiplicação. O potencial de utilização desses vírus para o controle de R. solanacearum foi previamente testado em tomateiro e eucalipto, em condições controladas de cultivo, mostrando resultados promissores para utilização como agentes de controle biológico da murcha bacteriana. Esses vírus possuem genes típicos associados à lise bacteriana, que codificam enzimas como holinas, endolisinas e depolimerases, que atuam sobre a bactéria durante o processo de lise. Uma proteína lítica de origem viral foi expressa em E. coli e purificada, e seu efeito foi avaliado na integridade do biofilme formado por Ralstonia, E. coli e Staphylococcus aureus. A proteína viral inibe a formação e degrada biofilmes pré-formados de Ralstonia, tornando-a incapaz de causar doença. Portanto a utilização de bacteriófagos possui potencial aplicação biotecnológica na remoção de biofilmes formados por esse patógeno. Outros bacteriófagos estão sendo testados contra E. psidii e X. axonopodis pv. eucalyptorum na cultura do eucalipto. Patógenos bacterianos são de difícil controle, sendo que, em certos casos, sua presença pode limitar o plantio de determinados clones. Além disso, atualmente, a busca por métodos alternativos de controle de doenças que apresentam um menor impacto ambiental e para a saúde humana e dos aninais se torna extremamente relevante. Nesse contexto, o isolamento e a caracterização de genes bacteriolíticos e bacteriostáticos de fagos com potencial uso terapêutico é uma alternativa promissora para o controle de bacterioses florestais. n


plantas daninhas

Opiniões

plantas daninhas

em plantações florestais

As plantas que atualmente causam danos às atividades humanas, à saúde do homem e ao meio ambiente, quando ocorrendo fora de sua área de distribuição geográfica ou em tamanhos populacionais acima da capacidade-suporte do ambiente, têm várias designações compatíveis com sua função biológica, como planta exótica invasora, planta pioneira, planta trepadeira, dentre outras. Nessa condição, todas as plantas têm um caráter comum, que é sua indesejabilidade no local, época e forma em que ocorrem e são indesejadas em virtude dos problemas que causam à produção vegetal, à manutenção da integridade de reservas ambientais, dentre outras importantes interferências, e, por isso, recebem o conceito antropocêntrico de plantas daninhas. Sob esse conceito, qualquer planta pode ser considerada daninha dependendo do ambiente ou da época em que ocorrem. Plantas de eucaliptos são indesejadas e consideradas daninhas quando crescem espontaneamente nas áreas de manutenção de linhas de transmissão elétrica.

A grande diversidade de ambientes em que se pratica a silvicultura no Brasil não permite que haja uma abordagem única ou pouco diversificada para o manejo de plantas daninhas "

Robinson Antonio Pitelli

Diretor da Ecosafe Agricultura e Meio Ambiente

As plantas daninhas que ocorrem em áreas de atividades agrícolas e florestais foram evolutivamente desenvolvidas para a ocupação de campos onde a vegetação original foi alterada e passou a ocorrer disponibilidade de hábitat ao crescimento vegetal. Essas plantas teriam a função de criar hábitats adequados ao início de uma sucessão ecológica de populações que culminaria no restabelecimento de nova vegetação clímax, mas esse processo sempre foi interrompido pela atividade humana.

Nesse caso, a sucessão é interrompida, e os hábitats para plantas pioneiras estão constantemente sendo disponibilizados, e estas formam mecanismos adaptativos que as tornaram exímias colonizadoras. Com o desenvolvimento da sociedade humana, essas comunidades foram se tornando cada vez mais densas, diversificadas e especializadas na ocupação dos agroecossistemas, passando a interferir mais profundamente nas atividades humanas. Na silvicultura, há de se distinguir dois sistemas principais de exploração econômica: as plantações florestais e os sistemas de manejo extrativista praticados em regiões de clima temperado. Nesses dois sistemas, os problemas com plantas daninhas são diversos. Essa diversidade de necessidades tem sido uma das dificuldades de entendimento do intenso controle químico nas plantações florestais em climas tropicais e subtropicais, em comissões regulatórias compostas principalmente por técnicos oriundos de regiões onde se pratica o sistema de manejo extrativista.


plantas daninhas Neste artigo, será abordado apenas o problema de plantas daninhas em plantações florestais. A plantação florestal constitui um sistema agrícola diferenciado de produção, mas também envolve ações periódicas de mobilização do solo e ciclos de plantio. Nesse tipo de exploração, a interferência das plantas daninhas de rápido crescimento e reprodução são muito importantes nas fases iniciais de implantação da floresta, época em há grande disponibilidade de nichos para as plantas pioneiras. Nesse período, as plantas daninhas competem pelos recursos de crescimento e, dentre eles, a competição por água tem sido considerado o principal fator de interferência que reduz o crescimento e a produtividade das florestas implantadas. O manejo de plantas daninhas em reflorestamento no Brasil, especialmente em eucaliptos, se tornou mais importante após a introdução da braquiária (Urochloa decumbens), pois não se trata de uma planta pioneira por origem. A braquiária é uma planta de ambiente clímax de savanas africanas. Em seu ambiente original, para manter a vegetação savana, essa gramínea exerce grande ação de interferência para evitar a invasão das árvores. Além de ser uma planta bastante competitiva, exerce mais dois tipos de ação para prejudicar o crescimento das concorrentes: alelopatia e absorção de luxo de bases, como o potássio. Por esses motivos, as infestações de braquiária têm grande impacto nas culturas de plantas arbóreas. Assim, o controle das plantas daninhas passou a ser aplicado de forma mais precoce e estendida para atender a um período crítico de interferência mais longo na plantação florestal. Quando o controle das plantas daninhas na linha de plantio é retardado, as plantas de eucalipto sofrem precoce perda das folhas basais, e, quando a vegetação infestante é removida, estas já podem estar estioladas. Com o centro de gravidade mais alto, as plantas de eucalipto podem oscilar com os ventos, promover rachaduras no xilema e permitir a formação de tilas. Essas são intrusões protoplasmáticas, que obstruem parcialmente os feixes vasculares, reduzindo o fluxo de água e nutrientes, e a planta passa a ter um desenvolvimento bastante prejudicado. Assim, o controle de plantas daninhas é fundamental para a garantia de que a planta florestal exerça seu potencial de crescimento e produção. Há várias modalidades de controle que podem ser empregadas no manejo de plantações florestais, desde as ações preventivas até o controle químico. O controle biológico de plantas daninhas para culturas florestais é uma modalidade bastante difícil de ser aplicada em função da diversidade de espécies presentes nas comunidades infestantes e dos riscos que os agentes de controle representem à planta florestal ou às culturas vizinhas.

38

Opiniões As estratégias preventivas mais utilizadas são o manejo do solo pré-plantio e o monitoramento das composições específicas, densidades e distribuições geográficas das populações que compõem as comunidades infestantes dos diversos talhões. Esses dados de monitoramento permitem a adequação da modalidade, época e localização do controle das plantas daninhas. O controle mecânico é uma estratégia importante aplicada no manejo de plantas daninhas, principalmente na destruição das infestações no período de pós-colheita e pré-plantio e contribui para a redução do banco de sementes no solo. Em termos de controle físico, estão sendo testados alguns equipamentos de aplicação de choque elétrico nas plantas daninhas e os resultados estão sendo analisados pelas empresas para aplicação em larga escala. O controle químico, sem dúvida, é o mais utilizado no controle de plantas daninhas de plantações florestais em função da viabilidade de aplicação em grandes áreas em curto espaço de tempo, da previsibilidade dos resultados e da relação custo/ benefício. Essa modalidade de controle é altamente técnica e requer um profissional habilitado para a seleção das áreas em que há a necessidade da intervenção, a escolha dos herbicidas, as épocas de aplicação e as doses adequadas e da avaliação dos resultados. Em função das atuais infestações de plantas daninhas na maior parte do Brasil e, principalmente, pelas elevadas presenças de gramíneas exóticas invasoras, o controle químico deve ser executado de forma bastante precoce no ciclo da floresta, especialmente nas proximidades das plantas florestais (linhas de plantio). Dependendo da composição específica da comunidade infestante, não há opções de herbicidas pós-emergentes seletivos eficazes para todo o espectro de populações presente, e a opção é a utilização de herbicidas pré-emergentes associados a aplicações de herbicidas em pós-emergência das plantas daninhas. Em áreas densamente infestadas de braquiária, o controle deve ser estendido fundamentalmente nos primeiros dois anos do ciclo da floresta e executado com herbicidas sistêmicos aplicados de forma dirigida. Aplicações posteriores podem ser aplicadas com o objetivo de reduzir o banco de sementes para o próximo ciclo. A grande diversidade de ambientes em que se pratica a silvicultura no Brasil não permite que haja uma abordagem única ou pouco diversificada para o manejo de plantas daninhas, mas o controle destas por todo o período crítico de interferência e a promoção de condições para um rápido e intenso sombreamento promovido pela floresta são fundamentais ao sucesso desse processo, independente da região, clima ou solo. n


SOL RA

500

Warrant

®

700 WG


eventos climáticos

danos por ventos:

como mitigá-los?

Em sua definição mais simples, os ventos são originados pelos deslocamentos horizontais e verticais do ar, provocados por diferenças de gradientes de pressão na atmosfera. A variação do balanço de energia é responsável pela intensidade e direção dos ventos, e isso ocorre porque o sol não aquece a atmosfera de forma homogênea, causando variações no campo de pressão atmosférica. Nesse contexto, a região tropical tem excesso de energia, ao passo que as regiões polares têm déficit de energia. Dessa forma, os ventos, assim como as correntes marítimas, buscam o equilíbrio térmico, nunca atingido, mas promovem a redução das diferenças de temperatura entre o equador e os polos. Os ventos que causam danos às plantações brasileiras geralmente estão associados a fortes tempestades que ocorrem em períodos de transição da época seca para a chuvosa ou durante a época chuvosa. Na literatura, existem relativamente poucos trabalhos e estudos relacionados ao tema, porém ocorrências significativas já foram registradas no oeste e no norte de Minas Gerais, sul da Bahia, Espírito Santo, vale do Paranaíba e oeste de São Paulo. Porém ainda não foram publicados trabalhos ou relatos para a região do Mato Grosso do Sul.

De 2014 a 2019, a Eldorado Brasil – região de Três Lagoas-MS – registrou ocorrências de danos ocasionados por ventos em aproximadamente 8% da sua base florestal. Desse total, 60% correspondem a danos de severidade baixa ou muito baixa (ligeiramente inclinadas ou curvadas); 19% correspondem a árvores tombadas (sem quebra) e 21% correspondem a árvores efetivamente quebradas. Para se ter uma dimensão da gravidade do problema, no mesmo período, a área afetada por incêndios florestais foi cerca de 14 vezes menor. Além dos prejuízos econômicos, como redução de produtividade e/ou área plantada, mesmo em florestas menos afetadas, temos prejuízos de ordens operacionais, dificultando a realização de atividades de silvicultura (manuais ou mecanizadas), além de aumentar o risco de ocorrências de acidentes e aumento de custo da colheita florestal.

De 2014 a 2019, a Eldorado Brasil registrou ocorrências de danos ocasionados por ventos em aproximadamente 8% da sua base florestal. Como termo de comparação, no mesmo período, a área afetada por incêndios florestais foi 14 vezes menor. "

Sharlles Christian Moreira Dias e João Flávio da Silva

Coordenadores de Nutrição, Manejo e Proteção Florestal, e de Melhoramento Genético e Biotecnologia da Eldorado Brasil, respectivamente

Em termos médios, as velocidades dos ventos na região são baixas, ao longo de todo o ano, os quais são classificados como calmaria ou sopros (< 4,0 km/h), porém os danos estão associados a eventos de tempestades fortes. Devido à sua localização geográfica, o Mato Grosso do Sul (destaque


Opiniões TORQUE CRÍTICO (kgf/m) NECESSÁRIO PARA RUPTURA DAS ÁRVORES (Rosado, A.M., Monografia, UF Viçosa-MG 3500 3000

Média (kgf/m)

2500 2000 1500 kgf/m

para a costa leste) está sujeito à passagem de vários sistemas atmosféricos de origem tropical e extratropical, sendo que vários deles possuem configurações que favorecem a ocorrência de tempestades locais. Vindos do Norte, temos os sistemas que atuam na região amazônica, enquanto, da região Sul, originam-se os sistemas frontais. Os principais fenômenos de ventos observados em tempestades na região são: Microburts (ventos de até 270 km/h, duração de até 15min, 1 km de range de atuação); Macroburts (ventos de até 215 km/h, duração de até 30min, range de atuação maior que 4 km) e tornados. Temos ainda ocorrências de tempestades unicelulares e supercelulares, sistemas convectivos de mesoescala e complexos convectivos de mesoescala, que variam em escala de tempo e área. Considerada uma das regiões com elevado potencial produtivo e, atualmente, o estado com a segunda maior área de eucalipto plantado do Brasil, superando 1,1 milhão de hectares, torna-se necessária a adoção de práticas de manejo e pesquisas capazes de mitigar os riscos associados a essas perdas. O primeiro passo é o monitoramento contínuo das florestas, de forma a identificar as áreas com ocorrências dos danos. Nos últimos anos, tecnologias de sensoriamento remoto, como nanossatélites ou sobrevoos com drones/VANTs, estão sendo utilizadas com maior precisão e rapidez para quantificação das áreas e classificação da severidade. Essas informações permitem a realização de análises que buscam correlacionar os danos com regiões específicas ou materiais genéticos plantados. De maneira geral, as áreas mais impactadas sempre estão relacionadas com ocorrências de fortes tempestades, e, dessa forma, informações meteorológicas são adicionadas às análises para validação dessa hipótese. Com relação às informações de danos ocasionados aos diferentes materiais genéticos, a empresa utiliza duas principais estratégias para tentativa de avaliação de susceptibilidade: a) Percentual de Quebra Relativa e b) Tracionamento de Clones – determinação da força necessária para quebra de árvores. A avaliação do percentual de quebra relativa (%QR) é obtida através da razão entre a área afetada em determinado clone e a área total plantada desse mesmo material genético (%QR = Área clone afetada / Área Total clone Plantada x 100). Esse índice permite a comparação dos diferentes clones, independente da área plantada de cada um, reduzindo possíveis equívocos de interpretações, caso apenas a área absoluta afetada fosse comparada. Resultados da empresa mostram que esse índice atualmente varia de 0% a 26%. Nesse caso, os clones com maiores valores são retirados do programa de plantio anual, sendo considerados mais susceptíveis.

1000 500 0

A B Clones

C

D

E

F

G

H

I

J

K

Já a avaliação de Tracionamento de Clones se baseia na utilização de uma metodologia que avalia a força necessária para provocar a quebra da árvore – kgf/m e/ou o Momento de Ruptura – kgf/cm². Nessa metodologia, clones de interesse são submetidos às forças de tração na região média da copa, na tentativa de simular a atuação do vento. São avaliadas as trações em que a árvore se quebra, ou sua copa toca ao solo. Na figura em destaque, podem-se verificar os valores críticos de tração necessários para o colapso de 11 clones avaliados em plantios comerciais no Mato Grosso do Sul. Observa-se que existe uma variabilidade muito grande entre os clones quanto a suas resistências aos danos causados pelos ventos e tempestades. Os valores Torque crítico (kgf/m) necessário para ruptura das árvores servem para se fazer um screening de uma grande quantidade de materiais genéticos nos Testes Clonais, selecionando aqueles que apresentarem maior resistência à quebra – maior força para ruptura, antes de serem implantados em Testes Clonais Ampliados, de uma forma simples e a custo baixo. Esses valores também podem ser utilizados para um zoneamento de plantios comerciais, ou seja, mapear as áreas de maior ocorrência de ventos e realizar o plantio de clones comerciais que apresentem maiores forças de ruptura. Outros critérios têm sido avaliados, porém ainda sem resultados práticos efetivos, como características de copa e índice de área foliar, características de sistema radicular e arquitetura das árvores. Também estamos avaliando ocorrências de correlações entre espaçamentos/densidades de plantios e possíveis efeitos sobre a rugosidade aerodinâmica da superfície. Dada a relevância do assunto, são necessários maiores esforços por parte das empresas e instituições de pesquisas para o desenvolvimento de trabalhos nessa área, principalmente buscando um zoneamento eólico capaz de identificar as regiões de maiores riscos, permitindo plantios de materiais tolerantes e minimizando os impactos sobre os povoamentos florestais. n

41


desertificação

Opiniões

a influência da floresta amazônica Segundo informações disponíveis no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (www. terrabrasilis.dpi.inpe.br), durante o período de 2008 a 2018, a região da Amazônia Legal Brasileira sofreu um desmatamento de aproximadamente 69.9 mil km². Seja para a extração ilegal ou manejo legal da madeira, seja para a formação de pastos ou para a geração de diferentes commodities (agrícolas e minerais), a mudança do uso da terra através do desmatamento e dos incêndios florestais produzem, além de muita fumaça, reações apaixonadas em grande parte do Brasil e do mundo. Não é nossa proposta discutir os fatores que influenciaram a variabilidade das taxas desse processo, observada ao longo das duas últimas décadas, mas sim alertar para os possíveis impactos que a retomada do desmatamento desordenado da maior floresta tropical existente no mundo pode trazer para grande parte da América do Sul.

no clima A floresta Amazônica situa-se na faixa equatorial do planeta, sendo caracterizada por um clima quente e úmido. Possui uma área estimada em 6,3 milhões de km², dos quais aproximadamente 5 milhões de km² estão localizados em território brasileiro (compreendidos pelos estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá e parte dos estados de Tocantins, Mato Grosso e Maranhão) e o restante dividido entre os países da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Guianas. A existência da Cordilheira dos Andes (ao oeste, com elevações de até 6.000 m), do Planalto das Guianas (ao norte, com picos montanhosos de até 3.000 m), do Planalto Central (ao sul, altitudes típicas de 1.200 m) condiciona que toda a água captada na região acabe por escoar para o Oceano Atlântico (ao leste). Assim delimitada, a área que forma a maior bacia hidrográfica do mundo possui uma precipitação média de aproximadamente 2.300 mm/ano, embora tenhamos regiões (na fronteira entre Brasil e Colômbia e Venezuela) em que o total anual supere os 3.500 mm/ano.

O evento de 19 de agosto que fez escurecer São Paulo foi a coincidência de duas condições: a entrada de uma frente fria e a presença de nuvens de fumaça de queimadas originadas no sul da Amazônia brasileira, mas também na Bolívia, no Brasil Central, no Paraguai e no norte da Argentina. "

Walter Batista Junior

Doutorando em Desertificação da UFV - Universidade Fed de Viçosa

Os elevados valores de precipitação próximos à Cordilheira dos Andes devem-se à umidade transportada pelos ventos alísios de leste da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Por outro lado, a região costeira (no litoral do Pará ao Amapá) também é um importante aporte de umidade para a região através da constante evaporação do Oceano Atlântico Equatorial.


5


desertificação Conhecida erroneamente como o “Pulmão do Mundo” (pois a maior parte do oxigênio produzido é consumido no próprio ecossistema), a Floresta Amazônica libera, através de fenômenos fisiológicos (fotossíntese e evapotranspiração) de suas árvores, arbustos e relvas, produtos que serão de grande importância na composição da umidade atmosférica da região, sendo esta resultante da quantidade de água evapotranspirada pelas plantas, adicionada da água advinda da costa marítima. Dessa maneira, podemos estimar que, aproximadamente, 50% do vapor d'água que precipita pelas chuvas são produzidos localmente (evapotranspiração), e o restante, importado para o centro da região pelo fluxo atmosférico proveniente da evaporação do oceano Atlântico, ou seja: a floresta é sim uma grande formadora de chuvas. Segundo resultados de pesquisas realizadas através do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), os compostos orgânicos voláteis emitidos através da evapotranspiração das plantas, em especial das árvores, auxiliam na condensação da umidade no interior das nuvens, resultando na formação das chuvas que caem na região. Os pesquisadores que participaram desse programa apelidaram de “rios voadores” o fenômeno de deslocamento de grandes volumes de umidade advindos das sucessivas repetições desse processo (precipitação, absorção pelas plantas, evapotranspiração, condensação, precipitação), o qual consegue deslocar umidade da bacia Amazônica para outras regiões do País, incluindo-se aí o Centro-Oeste, o Sudeste e parte do Sul do Brasil. Normalmente, durante o período entre o final da primavera e por todo o verão, a evolução dos deslocamentos de umidade produzida na região Amazônica para as demais regiões se torna mais marcante, através da formação do sistema climático conhecido como Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Uma ZCAS é definida como uma faixa de nebulosidade de orientação noroeste/sudeste que se estende desde o Acre, passando pelo Brasil Central e Minas Gerais, chegando até a região central do Atlântico Sul, sendo este o principal sistema encarregado da ocorrência de chuvas regulares em quase toda essa faixa do Brasil, durante a estação das chuvas. Por outro lado, esse sistema de circulação atmosférica da região Amazônica para as regiões Central/Sudeste/Sul não desloca apenas umidade, como ficou evidenciado em 19 de agosto de 2019, quando o céu da capital paulista escureceu repentinamente a partir das 15h. Depois de avaliarem imagens de satélite, os pesquisadores do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) chegaram à conclusão de que o

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Opiniões evento foi a combinação de duas condições coincidentes, porém de natureza física distinta: a entrada de uma frente de ar frio e a presença de nuvens de fumaça provenientes de queimadas originadas a milhares de quilometros de distância, umas das outras, causadas por ações humanas não só no Sul da Amazônia brasileira, mas também na Bolívia, no Brasil Central, no Paraguai e no norte da Argentina. Os eventos que interferem na dinâmica climática na região Amazônica têm o poder de interagir diretamente no clima, em grande parte do Brasil e em outros países da América do Sul, sendo essas regiões grandes produtoras de alimentos e de energia elétrica, commodities fortemente dependentes da água como elemento produtivo. Os mecanismos de transporte de umidade descritos até aqui servem para explicar, em parte, a não existência de grandes desertos ao longo da região equatorial até a Patagônia. Se a ocorrência das ZCAS tem beneficiado o Sudeste do Brasil, para a manutenção das condições climáticas naturais, o desmatamento e a decorrente degradação do sistema climático Amazônico pode aumentar a ocorrência de eventos extremos, como a longa estiagem que aconteceu em 2014, a qual interferiu diretamente na disponibilidade de água para milhões de pessoas. No Brasil e no mundo, a ocorrência dos eventos extremos (secas e enchentes) tem aumentado ano após ano, com perdas de safras, estruturas físicas e vidas humanas. Não por acaso, a grande maioria dos cientistas tem correlacionado tais aumentos às mudanças climáticas e à destruição de biomas florestas e de seu potencial de amortecimento das intensidades das tempestades e ondas de calor. O atual modelo produtivo, que adota a substituição da floresta pelo binômio pastagem/monocultura, não é só prejudicial para os ambientes e as comunidades locais, mas também para o restante do continente, visto que, além dos países da região Amazônica, temos outros que sentem diretamente a interferência em seus regimes climáticos pela existência da floresta em pé. Desde 2012, observamos a retomada na escalada do desmatamento da floresta Amazônica, o qual poderá atingir, neste ano, sua maior extensão, desde 2008. Se essa situação não for revertida, poderão ocorrer sérios e irreversíveis problemas de circulação de umidade em grande parte do continente. Neste momento, mais do que nunca, se faz necessária a conscientização da sociedade civil, dos empresários de diferentes setores, dos produtores rurais e dos governos estaduais e Federal, com relação à importância da manutenção da floresta em pé. Do contrário, o preço pago pela aposta, de “deixar acontecer para ver como fica” pode ser alto demais. n


colheita

Opiniões

a responsabilidade

de cada um

Nossos valores de integridade, respeito, responsabilidade e excelência são a base para vencermos juntos. Eles norteiam nossas ações e nos ajudam a fazer o certo para nós e para a WestRock, todos os dias. Lembrando que “Segurança Primeiro, Segurança sempre”! Na WestRock, utilizamos o sistema de colheita de madeira Full Tree (árvores inteiras), e os equipamentos que utilizamos no processamento são Feller, Skidder. Nossos equipamentos são de marcas consagradas no mercado mundial e de alta tecnologia embarcada. Não há dúvidas de que as máquinas são partes importantes do processo, mas, além delas, temos focado muito em nossos operadores, que, entendemos, são os atores principais desse processo. No nosso processo de colheita, gostaríamos de destacar os trabalhos que estamos desenvolvendo: Na Divisão Florestal, aplicamos o PES – Performance Excellence System (Sistema de Excelência de Performance WestRock). Por meio dos seus pilares e ferramentas, aplicamos uma nova cultura de Melhoria Contínua, o DMS – Daily Management System (Sistema de Gestão Diária).

Com ele, foram estabelecidos indicadores de cada etapa do processo de colheita nas nossas frentes operacionais (segurança, eficiência operacional, disponibilidade mecânica, produção e produtividade). Os resultados são preenchidos e analisados pelos operadores, encarregados e supervisores, permitindo uma visão da performance e das tomadas diárias de decisões. Os resultados dessas análises ficam disponíveis para a gestão à vista, nas áreas de vivência de cada frente operacional, permitindo que outros gestores acompanhem e auxiliem nos resultados, aumentando a sinergia entre as áreas. O DEC – Daily Equipment Care (Cuidado Diário do Equipamento) é o pilar do PES, que estabelece a relação homem-máquina, com o desafio de implementar os Operadores Mantenedores (Gestão Autônoma). Uma das ferramentas do pilar é a utilização de etiquetas para sinalizar os desvios na máquina com relação aos problemas mecânicos (etiquetas vermelhas) e operacionais (etiquetas azuis). Essas etiquetas são fixadas na parte externa das máquinas, permitindo uma gestão à vista, facilitando o acompanhamento dos supervisores e mecânicos do campo. Com um rápido olhar para o equipamento, a

A inovação é uma das nossas responsabilidades, e isso significa que estamos constantemente buscando melhores maneiras de fornecer soluções que agreguem valor para o nosso negócio. "

Edson Szczygaiel Jaremtchuk Gerente de Colheita da WestRock

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colheita etiqueta permite identificar suas condições, gerando uma gestão mais eficiente e com mais agilidade na solução dos problemas. O nosso objetivo é gerar mais participação e engajamento da equipe como um todo; além do DMS e outros pilares do PES, ocorrem encontros semanais individuais entre o Líder Operacional e o Líder Tático. Nesse momento, através de feedback com uma conversa franca e aberta, se faz uma análise mais detalhada para melhorar a performance individual do operador e formalizar o reconhecimento sobre ela. Outro ponto fundamental para o desenvolvimento dos nossos funcionários é o treinamento operacional. De forma dedicada, há uma equipe com dois instrutores operacionais e um supervisor, que estão focados nas atitudes seguras, no desenvolvimento de novas técnicas de operação, em avaliações operacionais, na geração de indicadores com atenção nos ganhos de produtividade e de diminuição de quebras dos equipamentos. Com o nosso programa de Operador Mantenedor, realizamos um evento com mais de noventa colaboradores, entre gerentes, supervisores, encarregados, operadores e mecânicos e com a exposição dos nossos equipamentos da colheita na Sede Florestal. Nesse evento, geramos mais 500 atividades da manutenção que podem ser transferidas para os operadores, desde pequenos reparos nos equipamentos a atividades mais complexas. Para essa transferência, foi estabelecido um cronograma que envolve a capacitação dos operadores e a compra de novas ferramentas. O Pilar DEC em conjunto com o Pilar ER - Equipment Reliability (Confiabilidade do Equipamento) iniciaram

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Opiniões a implementação da análise do modo de falha dos componentes dos equipamentos, o qual consiste em uma primeira análise realizada pelos operadores e mecânicos. Na sequência, as peças serão remetidas para a Sede Florestal para uma análise mais detalhada. Isso faz parte do nosso grande desafio de continuamente desenvolver os nossos colaboradores e melhorarmos os nossos processos. A inovação é uma das nossas responsabilidades, e isso significa que estamos constantemente buscando melhores maneiras de fornecer soluções que agreguem valor para o nosso negócio. Após meses de desenvolvimento, nosso time está em fase final da implementação do Sistema Integrado de Gerenciamento Florestal (SGIF). O uso de tablets diretamente nas frentes de trabalho estabelece a total integração de cada segmento/atividade da colheita florestal. Isso, sem dúvida, mudará a maneira que trabalhamos e impactará positivamente todos os nossos processos, aumentando nossa agilidade, capacidade de gestão remota, velocidade de resposta, integração e, consequentemente, redução de nossas distâncias. Nosso foco, além de ter os melhores equipamentos que o mercado oferece, é ter uma equipe que sinta que são os verdadeiros donos do processo supervisor e encarregado e que o operador é o “dono da máquina” e “cuida dela como cuida do seu próprio carro”. Dessa forma, estamos tendo um “engajamento muito forte” e, à medida que todos esses programas estão evoluindo e amadurecendo, estamos vendo os nossos resultados melhorando a cada dia, principalmente em performance e produtividade. n


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