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Atuar com compromisso é a solução para a sustentabilidade ambiental

Com o crescimento populacional constante em todo o mundo, a sustentabilidade ambiental tornou-se uma questão crucial no que diz respeito à preservação do nosso planeta, exigindo, cada vez mais, que avancemos nessa agenda com assertividade e investimentos sólidos, além de consistentes compromissos socioambientais. Alinhado a essa importância, o Brasil é signatário dos principais acordos internacionais sobre meio ambiente e clima, tendo sido um dos países que aderiram às metas de desenvolvimento sustentável previstas na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas – ONU.

Por aqui, temos leis ambientais sólidas, fruto da rápida transformação dos solos, águas, atmosfera e até dos animais, e iniciativas positivas que visam, não apenas o desenvolvimento sustentável e a defesa do meio ambiente, como também assegurar uma existência digna para a população. O artigo 225 da Constituição Federal Brasileira é um exemplo disso, ao propor o direito comum ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e impor o dever de defendê-lo e preservá-lo ao poder público e à coletividade.

Considerando que somos reconhecidos como o país mais rico em biodiversidade do mundo, é natural ser maior o nosso papel para a conscientização sobre a importância da preservação da diversidade biológica, dos serviços ecossistêmicos e das paisagens em todos os ecossistemas do planeta. Nesse contexto, as empresas devem assumir uma posição que potencializa esse alcance. Afinal, o sucesso do negócio também é medido pelas transformações que realizamos nas coisas ao nosso redor.

A Bracell, companhia do setor de papel e celulose, já nasceu com um forte propósito com a sustentabilidade e impulsiona o crescimento dos seus negócios em linha com a bioeconomia circular, gestão climática e inovação. Dentre as iniciativas da companhia, destaco, com apreço, o Compromisso Um-para-Um, iniciativa lançada no ano passado, na qual há o comprometimento de proteger, conservar ou restaurar 1 hectare de floresta nativa para cada 1 hectare plantado de eucalipto até 2025. Em menos de um ano, o programa que ajuda a proteger áreas nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga, já atingiu 82% da meta, ou seja, 0,82 hectare de conservação para cada 1 hectare plantado de eucalipto. Acompanhar esses resultados é motivo de satisfação e um grande incentivo para seguirmos comprometidos com a sustentabilidade. Cada passo em direção à conscientização ambiental e à adoção de práticas sustentáveis fortalece nossa convicção de que estamos contribuindo para um futuro melhor.

Além disso, iniciativas como essas contribuem com a proteção de florestas nativas, bem como ampliam por meio da restauração de ecossistemas o sequestro e o estoque de carbono. E é esse protagonismo que as companhias devem assumir para promover um movimento pautado pelo exemplo. Afinal, é apenas dessa maneira que conseguiremos multiplicar os efeitos positivos necessários para promover a urgente demanda por saúde pelo planeta.

O principal ponto de partida da sustentabilidade ambiental como conceito é encontrar o equilíbrio entre os padrões de consumo e os processos de produção com a integridade do ecossistema por meio da preservação da qualidade do ar, dos solos, das águas e dos seres vivos. Apesar de sua complexidade, é possível construir um futuro mais verde e consciente para todos, mas, para isso, a cooperação e o comprometimento de todas as frentes, sejam governos, empresas e indivíduos, não apenas se fazem necessários, mas urgentes.

Desde o início de minha vida profissional, há quase três décadas, estou envolvida na gestão ambiental de grandes indústrias. No final dos anos 90, a principal função de uma área voltada ao meio ambiente era tão somente atender à legislação e manter as empresas longe de multas e interdições. O valor associado ao tema era o compliance. Próximo aos anos 2000, a norma ISO 14001 propiciou um maior desdobramento de práticas voltadas ao meio ambiente em todos os processos da indústria por meio dos levantamentos de aspectos e impactos, tratativas de não conformidades e análises críticas. O valor da questão ambiental se tornou mais compartilhado com os colaboradores das organizações, com foco em evitar impactos, indo além do simples atendimento legal.

Nos últimos anos, a visão da sociedade em termos ambientais tem se modificado e se tornado cada vez mais crítica. Não basta uma licença ambiental emitida em papel. É preciso comprovar que os impactos socioambientais associados àquela operação estão, no mínimo, neutralizados. Investidores demandam a garantia de que riscos voltados a impactos ao meio ambiente estão sendo geridos para evitar resultados negativos no negócio. As partes interessadas demandam mais conhecimento da performance ambiental das empresas para consumir seus produtos e serviços.

As evidências de que as mudanças climáticas afetarão diretamente a sobrevivência da humanidade elevaram o nível de exigência e resposta das empresas. Episódios recentes, como a pandemia da Covid-19 e o conflito entre Rússia e Ucrânia, potencializaram discussões sobre como a humanidade deve se preparar para enfrentar eventos climáticos extremos de abrangência global, além da necessidade de acelerar a transição energética para uma matriz mais renovável e não dependente de combustíveis fósseis. Esse momento tende a levar as empresas a um ponto de inflexão: como entregar à sociedade produtos e serviços que visem não somente o lucro, mas também o impacto positivo para o planeta?

O consultor britânico John Elkington foi o responsável pela definição do conceito do Triple Bottom Line, no início dos anos 90, sendo um dos precursores da visão de que as organizações deveriam buscar o equilíbrio econômico, social e ambiental para se manterem sustentáveis. Com as evidências da limitação dos recursos naturais e da necessidade de avanços na questão social, o pilar econômico se torna cada vez mais contido e dependente das demais dimensões. O próprio John Elkington, em seus mais recentes trabalhos, defende que o valor das empresas dependerá dos impactos positivos que entregam ao planeta e à sociedade. A economia tradicional seria substituída, então, por uma versão regenerativa. A sociedade deveria compensar os impactos ambientais e sociais gerados pelo capitalismo tradicional e pelos eventos imprevisíveis e de impacto global, como a própria pandemia.

A indústria de base, historicamente associada a efeitos negativos em seu processo produtivo, precisa, nesse contexto, se reinventar para entregar os valores essenciais para essa nova economia. O aço é material presente em tudo a nossa volta e parte essencial para a trajetória de neutralidade do planeta. Não há torre eólica, parque solar ou carro elétrico sem aço. O aço é um material infinitamente reciclável e base de uma economia mais circular. A questão atual é como agregar valor sustentável a um produto tão relevante à sociedade. Um dos maiores dilemas do setor é entregar um aço com menor intensidade de emissões de gases de efeito estufa em um momento em que as tecnologias disruptivas nessa direção ainda não são escaláveis. No Brasil, pelas características únicas do nosso país, conseguimos desenvolver uma rota alternativa, substituindo o carbono de origem fóssil por renovável. A madeira cultivada se transforma em biorredutor para a produção de aço. As florestas energéticas de reflorestamento reduzem a pressão do desmatamento sobre as florestas nativas, contribuindo para a adequada utilização de terras degradadas, respeitando os conceitos de cultivo mínimo do solo e preservando áreas destinadas à conservação da biodiversidade. O aço produzido por essa rota apresenta menor intensidade de emissões, sendo diferenciado à sociedade e ao meio ambiente. É o valor da sustentabilidade ambiental assumindo seu papel em uma economia regenerativa. Nesse contexto, o desempenho esperado do profissional do meio ambiente também se transforma. Compliance e transparência são básicos e inegociáveis, como sempre. Guiar os negócios para uma economia que respeite os limites do planeta e agregue valor sustentável aos produtos e serviços é a missão.

Cenira de Moura Nunes

Gerente Geral de Meio Ambiente da Gerdau

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