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Orlando Editore
Lá se vão quase 30 anos desde que o mercado foi balançado pelo conceito dos 3Ps – People (Pessoas), Planet (Planeta), Profit (Lucro) –, criado pelo especialista britânico John Elkington, defensor da ideia de que uma companhia deveria medir seu resultado não mais somente pelo aspecto econômico, mas também de forma equilibrada, por sua geração de valor social e ambiental. A tese de que as empresas, para ter legitimidade em sua atuação, deveriam ser não somente financeiramente viáveis, mas também socialmente justas e ambientalmente responsáveis, mobilizou executivos, consumidores, acadêmicos e organizações da sociedade civil.
De lá pra cá, as discussões sobre sustentabilidade se proliferaram, mas seria ingênuo dizer que a isso não gerou, em alguma medida, banalização. Ao longo dos anos, assistimos a uma enxurrada de publicações e campanhas que vincularam o mesmo adjetivo, “sustentável”, a situações e a ambições completamente diferentes. De uma instituição financeira que, por exemplo, começava a adotar efetivamente análises de risco ambiental para a concessão de crédito a uma companhia que se gabava por suas ações de conservação, quando, na realidade, elas nada mais eram do que cumprimento de legislação, o conceito de sustentabilidade passou a ser muito usado, sem, no fim das contas, dizer muito. O que não significa, no entanto, que ele não tenha valor.
A importância da sustentabilidade para empresas dos mais diversos portes e setores está dada, tem crescido e tende a continuar crescendo. A entrada quase fulminante dos investidores na discussão nos últimos anos certamente trouxe novo fôlego – e senso de urgência – ao tema, promovendo a ascensão de três letras nunca antes tão comentadas no contexto empresarial: ESG (Environmental, Social and Governance).
O crescimento das temáticas ESG colocou o mercado numa verdadeira corrida pela transição rumo à nova economia, menos intensiva em consumo de recursos naturais (e humanos) e em emissões carbono, frente às evidências científicas da influência da ação humana na aceleração do aquecimento global e na consequente intensificação das mudanças do clima.
Para alguns setores, trata-se de um cenário de disrupção e de vultosos investimentos para adaptação de tecnologias, processos e até produtos, devido à necessidade de substituir modelos de negócio de base fóssil por alternativas de base renovável; para o florestal, nascido nessa lógica, a perspectiva é de oportunidades, crescimento e geração de impactos positivos e de valor compartilhado.
O setor florestal está a favor da maré da sustentabilidade ambiental e vem aprimorando suas práticas ambientais há anos e inovando constantemente para reduzir as externalidades. Do protagonismo na adoção de sistemas de gestão da qualidade e de certificações internacionalmente reconhecidas até as práticas de silvicultura, biotecnologia, manejo responsável do solo, conservação da biodiversidade, criação de corredores ecológicos e captação de carbono pelas florestas plantadas, suas empresas têm buscado ir além da exigência legal para gerar e compartilhar conhecimento, soluções e, portanto, valor.
Num momento em que a comunicação e o marketing chegam a ter sua importância confundida com a das ações de fato, tamanha é a procura das empresas por vincular aspectos ESG a marcas e posicionamentos, o setor florestal é dos poucos que têm história e exemplos práticos para se diferenciar positivamente por meio do walk the talk e não negativamente pelo greenwashing. Afinal, lindos relatórios de sustentabilidade não são mais suficientes para convencer os stakeholders do quão sustentável uma empresa é.
Hoje, está claro que só existe um único caminho para se consolidar no mercado e garantir a existência dos negócios no longo prazo: a busca pelo lucro admirado, que se traduz em prosperidade e construção de legados para as corporações, as pessoas e o planeta. E, nesse caminho, o setor florestal, sem dúvida, é parte da solução, não do problema.


Alexandre Di Ciero
O caminho da sustentabilidade
Apesar de a palavra “sustentabilidade” estar em alta, o seu conceito não é bem compreendido. Trata-se de uma meta abstrata que sempre deve ser buscada, sem mesmo ter a certeza que será atingida. Algo sustentável se sustenta e se conserva, para sempre. Na agricultura, como se pode ter certeza disso? A produtividade, os recursos e os ecossistemas naturais precisam ser mantidos. Então, não se refere apenas à conservação das áreas naturais, da biodiversidade e dos recursos hídricos, mas também dos fatores de produção, como a água, o solo e o seu equilíbrio. Assim, não existe um sistema produtivo sustentável, e sim incrementos de sustentabilidade ao longo de um caminho sem fim definido.
Sabendo-se disso, é preciso ter consciência clara da motivação em seguir nessa trilha, já que existem tantas outras menos pedregosas. É sabido que esse é o caminho certo, aquele que leva ao futuro, e quem entrar atrasado pode ficar, literalmente, no caminho. Mas isso não basta, nem sempre se consegue fazer a coisa certa. E mais, ser bom para o planeta é muito legal, mas não paga os custos. Então, a consciência deve ser alavancada por mais conhecimento dos benefícios que poderão ser atingidos para o próprio sistema produtivo, para a comunidade local e como isso afetará positivamente o próprio negócio.
Ficar posando na trilha sem, de fato, estar nela é algo que não é sustentável. São inúmeros casos de greenwashing que derrubam empresas inteiras. É preciso entrar para valer, como um caminho sem volta, com a certeza de que o rumo é certo. Também é importante saber que não existe mágica nessa área, os sistemas de produção são muito bem ajustados, e o que parece ser uma solução pode causar outros problemas. Por exemplo, a remoção total da palhada da cana-de-açúcar para energia parece uma solução inovadora, mas é necessário considerar o impacto da remoção na qualidade e estrutura do solo, a emissão de carbono e a infiltração de água.
A academia tem se esforçado para mostrar benefícios de ações de manejo mais sustentáveis na agricultura e também no setor florestal. É necessário mais investimento nessa área em pesquisas que ajudem a mostrar a viabilidade de práticas de manejo, que quantifiquem seus ganhos ambientais e de produtividade no longo prazo. Então, além daqueles valores intrínsecos que as empresas possam querer defender, investimentos em parcerias com as universidades podem ser a chave para o gap de consciência que pode mudar a atitude de uma empresa. Para isso, é importante que diretores estejam diretamente envolvidos e quebrem a barreira naturalmente construída dos níveis inferiores que frequentemente estão “cegos” em busca de redução de custos e aumento da produtividade. Um exemplo de sucesso é o envolvimento de técnicos, gerentes e diretores de empresas florestais com o Programa de Monitoramento Ambiental em Microbacias (PROMAB), fruto de parceria entre a ESALQ e o IPEF. Em quase 30 anos de projeto, muita informação foi gerada, trazendo mudanças para o setor em benefício da conservação da água.
Vencida a barreira da consciência, é preciso movimentar a vontade e traçar um plano estratégico. Ninguém avança na sustentabilidade do dia para a noite; é necessário investimentos, mudanças de processos, e tudo leva tempo. A mudança gradual deve ser apoiada em mecanismos que deem suporte aos investimentos e agreguem valor à empresa. Cumprimento legal é o primeiro passo, mas não suficiente, é preciso ir além. O Código Florestal garante o mínimo de proteção, a rewstauração de vegetação nativa leva tempo para os efeitos surgirem na biodiversidade, carbono, água e serviços ecossistêmicos. Mecanismos de certificação são importantíssimos, e o setor florestal, como pioneiro, tem mostrado o caminho para outros ainda incipientes. A certificação ESG também veio para ficar, é uma oportunidade.
E por onde começar? Por processos ou áreas críticas. Estudos do PROMAB com água, estradas e solos demonstram que um percentual pequeno de áreas críticas é responsável pela maioria dos impactos socioambientais. É necessário estudá-las, identificá-las e mapeá-las para entender a fragilidade natural e priorizar a ação nas nessas áreas. Não existem regras, mas, com consciência, conhecimento e vontade, cada empresa é capaz de embarcar rumo à sustentabilidade, aproveitando os mecanismos que já estão disponíveis, ou sendo proativa e criando novos.
Silvio Ferraz


A floresta, a agropecuária e a sustentabilidade ambiental
Mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental estão no centro das atenções do planeta. Sendo o Brasil um dos maiores produtores de alimentos, no mundo, todos os olhos se voltam para nós. Mas, afinal, o que é a sustentabilidade ambiental? De acordo com o PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, é a forma pela qual tratamos os recursos naturais, de forma a garantir que as gerações futuras os tenham disponíveis para viver um modo de vida igual, senão melhor, quando comparado com as gerações atuais.
Definido o conceito, a questão que se coloca é: Como está a agropecuária brasileira perante esses desafios? A resposta é simples: a agropecuária brasileira é a mais sustentável do mundo. Exemplos não faltam. Podemos começar pelo iLPF – Integração lavoura-pecuária-floresta. Trata-se de uma prática que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área, otimizando o uso da terra, reduzindo o desmatamento e a pressão por abertura de novas áreas, evitando a emissão de gases de efeito estufa, promovendo a recuperação de terras degradadas e protegendo biomas.
Temos a legislação ambiental mais avançada do mundo. Nosso Código Florestal norteia as principais ações e, se estamos atrasados em sua implantação, já avançamos muito. Podemos dizer que poucos países têm um mapeamento quase completo de suas propriedades rurais como nós, através do CAR – Cadastro Ambiental Rural.
Provavelmente somos o único país com um programa de crédito para agropecuária de baixo carbono - o Plano ABC+. Essa é a segunda etapa do Plano ABC, que foi realizado entre 2010 e 2020, e trouxe resultados para além do previsto, mitigando cerca de 170 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente em uma área de 52 milhões de hectares.
Precisamos destacar, também, todo o avanço na área de bioinsumos, fertilizantes organominerais, controle biológico de pragas e doenças, eficiência no uso de água, fixação biológica de nitrogênio e outras técnicas que colocam nossa agropecuária entre as mais avançadas, no que diz respeito ao uso de práticas ambientalmente responsáveis. Um bom exemplo é a adoção da agricultura regenerativa, conceito criado pelo agricultor americano Robert Rodale, no qual podemos produzir enquanto se recupera a terra e se preserva o meio ambiente, restaurando o solo degradado, conservando espécies que estão no habitat, aumentando a captura de carbono e a retenção de água no solo, incluindo a redução no uso de pesticidas, herbicidas e fertilizantes.
E o que falar sobre descarbonizar o planeta? Não há dúvida de que o Brasil é parte, essencial, na solução desse desafio. São inúmeras as ações que visam estimular as reduções voluntárias de emissões de gases de efeito estufa na agropecuária brasileira, com uso de tecnologias sustentáveis de produção.
O programa mais marcante é o RenovaBio, o maior programa de descarbonização do mundo, que se aplica a todos os biocombustíveis, indistintamente, com destaque para o etanol. Como um dos esforços para cumprir os compromissos assumidos na COP 21, o País estabeleceu metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis, com o intuito de aumentar a participação de bioenergia na matriz energética brasileira, para, aproximadamente, 18% até 2030, e o principal instrumento para o atingimento dessa meta é a criação do Crédito de Descarbonização (CBio).
É com essas ações que o Brasil demonstra ao mundo que seremos o maior fornecedor de créditos de carbono, de base sustentável, do planeta, seja de origem na agropecuária, em bioenergia ou no manejo de florestas. Crédito de carbono é a commodity do futuro, e o Brasil, certamente, vai liderar esse mercado. Enfim, não há dúvida de que nosso compromisso está em desenvolver uma agropecuária sustentável, preservando o meio ambiente, gerando emprego, distribuindo renda e conservando o planeta. Porém, há muito por fazer, ainda, nessa jornada. Precisamos reconhecer nossas limitações, nossos erros; precisamos combater, sem tréguas, a ação criminosa daqueles que exploram nossos recursos naturais de maneira ilegal, mas, sobretudo, temos que louvar o trabalho, incansável, do agropecuarista brasileiro, exemplo maior da resiliência, perseverança e força do povo que habita este País.
