Hóquei em Patins: Riba d’Ave vence FAC e sobe à liderança Famalicense socorre-se dos títulos nacionais e internacionais para reclamar outro estatuto
José Azevedo reivindica maior atenção para o atletismo português Filipe Jesus Vitórias dignas de um atleta profissional mas obtidas por um amador. Este bem poderia ser o título de um livro dedicado à carreira de José Azevedo, atleta portador de uma deficiência intelectual ligeira, que tem granjeado fama em Portugal e além-fronteiras. Pese os resultados, o famalicense não disfarça a mágoa pelo facto de o atletismo “não ser devidamente reconhecido pela Federação, nem pelo país”. Dessa forma, o atleta, de 27 anos, ressalva “a dificuldade em ser profissional no nosso país”. A paixão pela modalidade nasceu desde tenra idade e a Escola de Atletismo Alzira Lário, equipa proveniente de Viana do Castelo, constituiu-se como o berço desportivo do famalicense. Depois disso, passou pelo Moreirense e iniciou um périplo por equipas do concelho de Famalicão (NAJ, Liberdade FC e Moinhos de Vermoim). Agradecido a todos os clubes, José Azevedo passou posteriormente por um novo desafio, dado ter competido em representação de um patrocinador (Carpintaria Montakit), que lhe “reconheceu valor”. No início da presente temporada, o atleta aceitou o convite do Atlético da Póvoa, dado tratar-se de “um projeto bom e ambicioso, de uma equipa que pode ser futuramente uma das melhores no panorama nacional”. Ao longo dos vários anos, José Azevedo dedicou-se integralmente ao atletismo e logrou festejar vitórias em território nacional e internacional. Para além do título nacional de pista ao ar livre, o famalicense, especialista em corta-mato, tornou-se igualmente campeão europeu e mundial no pretérito ano. “Ser campeão da Europa e do Mundo não é para qualquer, só para quem trabalha muito todos os dias”, vinca o atleta. Apesar de pulverizar recordes e de sair vitorioso em provas de grande dimensão, o famalicense sofreu um duro revés nesta época. Face à escassez de recursos financeiros no seio do atletismo nacional, viu-se obrigado a conciliar esta paixão com um trabalho diário num posto de combustível. O incentivo que recebe do clube é relativamente diminuto e, por isso, teve de encontrar uma solução para responder às vicissitudes naturais da vida de um cidadão comum.
A dificuldade em recolher patrocínios e o facto de suportar despesas inerentes à prática do atletismo (compra de vitaminas e suplementos) são fatores que lhe causam alguma tristeza. José Azevedo aponta mesmo as diferenças de tratamento promovidas pelas altas patentes nacionais. “Não é só futebol neste país, há outras modalidades”, queixa-se. Contra as dificuldades… lutar, lutar A subida ao pódio é sempre encarado com alguma emoção por parte dos atletas. Habituado a estas situações, o famalicense solta um desabafo. “É bom ouvir o hino mas também sinto tristeza por saber que não somos apoiados suficientemente”, assume com profunda frustração. José Azevedo não se resigna com estas condicionantes e promete “não atirar a toalha
ao chão”. Apesar de não gozar desse estatuto, adota comportamentos típicos de um profissional, o que o leva a privar-se de algumas coisas. O atleta tem tirado dividendos deste esforço, com a medalha de prata conquistada recentemente no Mundial de Pista Coberta a ser o mais recente exemplo. Fã de Rui Pedro Silva e do britânico Mo Farah, o famalicense tem em mente a participação nos Jogos Paralímpicos, que se realizam este ano, no Rio de Janeiro. “O principal objetivo é participar nos Jogos, mas tenho ainda de cumprir as metas do clube, nomeadamente em termos de apuramento”, advoga. Não obstante estar a segundo e meio de atingir os mínimos para carimbar o passaporte para o Brasil, José Azevedo admite que “as coisas estão complicadas pois o desgaste é muito maior para tentar os mínimos”. A possibilidade de rumar à cidade mara-
vilhosa levou a que o atleta fosse um dos contemplados no projeto “Rio 2016”, impulsionado pela Câmara Municipal de Famalicão. “A Câmara fez uma boa entrada mas ainda não tivemos resposta ao nível de patrocinadores e apoios”, afirma o atleta. Num olhar para a realidade atual do concelho, José Azevedo considera que o Parque da Devesa “é um bom recinto para a prática do atletismo” mas salienta a necessidade de uma pista pois “iria tirar uma fatia grande do orçamento dos clubes, visto terem de recorrer a outros locais para treinar”. O atleta asseverou “trabalhar dia a dia para ser sempre melhor”, garantindo “que só depois irá perceber se o futuro será risonho ou triste no atletismo”. Fica assim a promessa de um atleta amador, que tem obtido resultados de causar inveja a desportistas profissionais. pub