Domingues Azevedo, bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas
“A classe média portuguesa deixou praticamente de existir” Sofi fia a Abreu Silva diais a quem, no ano de 2013, se criou uma espécie de taxa dourada, No início de mais um ano em retirando-os dos rendimentos gloque a austeridade permanecerá, o bais, para os passar a tributar a OPINIÃO ESPECIAL falou com quem uma taxa autónoma de 28%. mais percebe de contas e fiscalidade. Domingues Azevedo, basto- As consequências estão à vista? nário da Ordem dos Técnicos Ofi- A classe média portuguesa deixou ciais de Contas, não tem dúvidas praticamente de existir e, na falta de que a classe média, fustigada de rendimentos próprios, muitos pelos sacríficos, deixou, basica- deles estão a regressar à casa dos mente, de existir. pais, porque não conseguem gerar rendimento para sobreviver autoOPINIÃO PÚBLICA: Podemos co- nomamente. Classes profissionais meçar pelo balanço de 2013. Como ainda há bem pouco tempo consicaracteriza o ano que passou? deradas de bom rendimento, como Domingues Azevedo: Foi um ano é o caso de muitos arquitetos, enem que se agudizaram as dificul- genheiros, advogados, sobrevivem dades dos cidadãos e em que, não com enormes problemas. Alguns obstante se terem verificado algu- governantes gostam de equiparar a mas melhorias na economia, não economia portuguesa à irlandesa tanto pelo desenvolvimento da para justificar os seus atos, mas dinossa, mas sim pela influência da zem apenas o que lhes interessa, recuperação da economia euro- esquecem-se, por exemplo, de peia, mas que infelizmente ainda mencionar que o salário mínimo não chegou aos cidadãos, antes na Irlanda é qualquer coisa como pelo contrário têm sido estes, es- 1.485 euros por mês e quanto é em pecialmente os que vivem do seu Portugal? 485 euros. Será que o estrabalho, que têm pago a crise. Nin- tômago ou os direitos dos portuguém de bom senso tem dúvidas gueses são menores do que os dos da necessidade que existia de en- irlandeses? E depois temos pescontrar o equilíbrio das contas pú- soas que perderam a vergonha e a blicas, mas foi pedido um esforço sensatez da humanidade e vêm desumano aos trabalhadores, a para a televisão manifestarem-se quem vive do seu trabalho ou tem contra o aumento do salário mío seu pequeno negócio, não sendo nimo. Nunca nos esqueçamos que pedidos, na mesma medida, esse as ditaduras começaram sempre mesmo sacrifício a diversas fontes por menosprezar os direitos das de rendimento, como é o caso dos pessoas, domestica-las, para que capitais, das mais valias, dos divi- elas não reivindiquem os seus didendos e até dos rendimentos pre- reitos.
São os mesmos de sempre a pagar a crise? Indiscutivelmente que quem tem pago esta crise são os trabalhadores por conta de outrem e os profissionais liberais. Na verdade, como costumo dizer “é fácil, é barato e dá milhões”, está ao alcance de uma lei, decreto ou portaria, porque é imposto aos outros, não tem qualquer custo, pois ordena-se que as empresas e os cidadãos suportem os custos necessários para a sua determinação e cobrança e seja entregue nos cofres do Estado “certinho e direitinho”, como diz o nosso Camilo de Oliveira. Ora isto é muito mais fácil do que constituir grupos de trabalho para avaliar como é que funcionam os serviços do Estado para onde vão os nossos impostos, prender e entregar à justiça aqueles que delapidam os bens públicos. Vivemos num país em que apenas as pessoas sérias e que tiveram um azar na vida são condenadas. Aqueles que por razões de política, família ou fortuna fazem os maiores desmandos, ninguém os chateia. Atingimos em Portugal uma situação de confisco, o que leva os cidadãos a um estado de saturação. Como será 2014 no seu entender em termos económicos e fiscais? Em termos fiscais, não haverá aumento de salários, mas sim um aumento da fiscalidade, no caso dos >>>>>>>>>> pub