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Especial 22º aniversário Rádio Digital FM

Feliz Pereira, administrador da Editave Multimédia, em entrevista ao OP

“A Rádio Digital mudou a forma como eram vistos os projectos de informação” Sofifiaa Abreu Silva

No seu entender qual foi o contributo que a Rádio Digital deu sobretudo a região? Penso que o projecto da Rádio Digital modificou a forma como eram vistos os projectos informativos. De uma forma geral, aqueles que existiam na altura, com alguma projecção no concelho, eram os jornais regionais. Nós viemos, então, introduzir uma nova forma de estar no panorama informativo, ao criar equipas profissionais. Portanto, queríamos que as pessoas estivessem ligadas ao projecto e vivessem dele, ou seja, demos mais responsabilidades às pessoas porque começámos a pagar um salário. Quando uma pessoa não recebe nada, também é difícil exigir dela. Acho que foi aí que começou a nascer o ambiente dos profissionais de comunicação social em Famalicão, tirando aquelas pessoas que estariam já em órgãos de comunicação nacional.

A Rádio Digital assinala 22 anos. São motivos mais do que suficientes para falarmos com o homem que esteve sempre à frente deste projecto. Feliz Pereira é o administrador da empresa Editave Multimédia que integra não só a Rádio Digital, mas também o jornal Opinião Pública e a FamaTV. O arranque do projecto foi difícil, mas teve, segundo Feliz Pereira, o mérito de mudar a forma como era vista a informação a nível local, com a formação de equipas profissionais de jornalistas. OPINIÃO PÚBLICA: Comecemos pelo passado, como surgiu a Rádio Digital? Feliz Pereira: O passado foi difícil, mas como qualquer outra aventura teve coisas importantes. Começar um projecto em que as pessoas que o integravam eram quase todos jovens e em que as competências não eram muito grandes em determinadas áreas, principalmente nas técnicas, afigurava-se um pouco difícil, mas isso foi superado com o trabalho e dedicação de todas as pessoas que estavam envolvidas. Portanto, quando se olha para trás, olha-se sempre com alguma saudade, mas também com o sentimento de que conseguimos fazer mais do que aquilo que estávamos habilitados. Quais foram as maiores difi ficculdades? As primeiras foram técnicas e depois de termos o projecto já em andamento era a formação das pessoas, porque as pessoas que tinham mais capacidades eram aquelas que vinham das rádios chamadas piratas, e essas rádios tinham um padrão muito musical. Ou seja, a componente informativa era muito diminuta e tivemos de agarrar em alguns jovens que trabalhavam nos jornais para dar essa componente informativa. Aí tivemos um crescimento, mas enquanto víamos o lado da informação a crescer, verificávamos que, às vezes, aquele padrão que desejávamos para

um locutor de entretenimento não era tão fácil de aparecer. Iam aparecendo novas pessoas, que traziam os seus conhecimentos e as coisas foram andando.

O crescimento de cursos ligados à comunicação social também veio imprimir mais qualidade àquilo que se pretendia? Sim. Nós também procurávamos essas pessoas e algumas realizavam os cursos durante o tempo de trabalho, era uma formação em contexto real. No entanto, acho que a grande virtude que eu encontro na evolução das pessoas foi quando estas percebiam que o saber devia ser democrático. Quem sabia uma coisa devia partilhar com os outros.

A rádio fazia-se, literalmente, de dia e de noite com as pessoas em directo. O avanço tecnológico veio mudar a forma de fazer rádio? A tecnologia modificou a rádio, não vou dizer se para melhor ou pior. Em termos racionais talvez seja para melhor, agora em termos humanos acho que a rádio quando era feita com pessoas tinha outro valor. Hoje, seria impensável com os custos que um projecto desse género acarreta, estar a fazer a rádio 24 horas por dia com pessoas em directo.

Falou-me na vertente informativa, era isso que pretendia para a Digital? Nós estávamos marcados por projectos como a TSF que tinham aparecido e tinham feito furor entretanto. Estávamos um pouco ligados a essa nova matriz que nos marcou um bocadinho no início, mas depois verificamos que Famalicão não era propriamente Lisboa ou Porto para aguentar uma rádio muito informativa. Tínhamos de baixar um pouco a carga informativa e o ritmo das palavras e darmos também um pouco mais de entretenimento.

Como vê hoje a Rádio Digital? Continuo a ver como um projecto a que estou ligado mais sentimentalmente do que racionalmente, portanto tenho de a ver sempre com bons olhos. Podem-se fazer mais ou menos coisas, mas vejo também que com os tempos que correm é um pouco difícil para que se avance muito mais. Anda toda a gente à procura de soluções para que este negócio seja viável e se possa prolongar. Em termos comerciais, as rádios já tiveram melhores ventos do que estão a ter no presente. As rádios vivem da publicidade, será este um factor cruel nestes tempos de crise? Não digo que seja cruel, obriga antes as rádios a adaptarem-se constantemente. Gostaríamos de ter uma rádio com mais pessoas e faríamos uma rádio com mais qualidade, mas não havendo essa possibilidade, temos de ter o quadro restritamente necessário e tentar aguentar o barco, enquanto a tempestade que está sobre a Europa continuar a fazer-se notar. Como vê o futuro da Rádio Digital? É um futuro certamente em que algumas pessoas continuarão a desempenhar o seu papel aqui. Eu estou já numa fase de saída, mas entretanto a Rádio Digital foi criando o seu seio de pessoas capazes de seguir com este projecto. É com pessoas novas que se criam novos projectos e por vezes estes projectos precisam de ser renovados, portanto tenho muita esperança nas pessoas novas que aparecem e acho que é por aí que vai o futuro, com pessoas novas e novas ideias. Alguma mensagem especial que gostaria deixar fi ficcar? Que o futuro seja sempre melhor que o passado e que o presente. pub.


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