Dois casos sérios em Mato Grosso: a soja e a cana-de-açúcar

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“Agora, o grande faz uma operação e em um ou dois dias ele tem o dinheiro dele. O gerente do Banco do Brasil falou que é muito mais prático fazer uma operação de R$ 1 milhão com um produtor do que fazer duzentas, trezentas com os pequenos. O trabalho que dá pro banco não compensa.”

Outra questão que precisa ser enfrentada por estes pequenos produtores de leite é a do fornecimento de energia elétrica trifásica, necessária para movimentar as máquinas que farão o processamento e embalagem do leite. Mas seu pedido de apoio por parte da prefeitura, pelo que constatamos, não foi bem recebido. O Secretário de Agricultura e Meio Ambiente assim descreve o recebimento da solicitação: “Agora eles querem energia trifásica. Como é que eu vou conseguir alterar, se ali é um projeto de assentamento? Isso não é assim, isso custa dinheiro. Eles têm que se unir, fazer um projeto e encaminhar à companhia de energia. Para isso, você tem que montar toda uma rede nova, comprar transformador, toda a infraestrutura e doar para a empresa estadual de energia. Ali é Luz no Campo18, o governo federal que paga e instala.”

Segundo Nilfo:

O Secretário de Agricultura e Meio Ambiente informa que a prefeitura está trabalhando um projeto de ampliação da produção em Lucas. Os planos da Prefeitura, no entanto, não preveem melhor remuneração pra os produtores: “Estamos trabalhando na questão da bacia leiteira. Aqui vai ser montado um grande laticínio. Tem que ter uns dez, quinze grandes (empresários) para bancar o negócio, no modelo de produção integrada. Aí, nós temos que chegar ali no Nilfo, no Antônio, no Joaquim, que tem dois hectares, ele tem lá umas cinco cabecinhas de vaca, tira o leite, vai pro laticínio. Só que isso gera muito trabalho, porque pra lidar com o leite você precisa ter mão de obra intensiva. E aí é quebrar os paradigmas, porque os caras não querem trabalhar todo dia tirando leite pra entregar. Tirando 10 litros de cada vaca, ele tem 50 litros todo dia pra entregar pro laticínio, a 50, 60 centavos o litro. Faça a conta aí”.

Para o agricultor que aceita ser apenas um produtor integrado à grande indústria, como a de frigoríficos, no entanto, o tratamento é outro, já que a indústria é a maior interessada. “Quando a BRF veio se instalar aqui, só tinha Luz no Campo. A BRF doou uma área para a Eletronorte e montaram uma subestação para poder tocar a indústria. Em 2006, por conta desse processo de integração, eu instalei 280 quilômetros de novas redes aqui no interior de Lucas do Rio Verde, pra poder tocar os aviários e os galpões de suinocultura. Eu coordenei, ia nas propriedades, pegava o chequinho do agricultor, ele chorava.”

18. Em 2003, o programa Luz no Campo foi substituído pelo Luz para Todos.

DOIS CASOS SÉRIOS EM MATO GROSSO. A SOJA EM LUCAS DO RIO VERDE E A CANA-DE-AÇÚCAR EM BARRA DO BUGRES.

“A Prefeitura tá comprando através de uma licitação onde ninguém entrou, só a Lactvit, que tá junto nessa bacia leiteira com a Coagril, e pra merenda escolar o leite é vendido a R$ 1,65. Se nós recebermos R$ 1,50 estamos ganhando muito dinheiro.”

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