CICLO DE DEBATES: DESENVOLVIMENTO E MOVIMENTOS SOCIAIS

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Este é um texto de 2005 que deu origem a um projeto de pesquisa que redigi com a Joana Barros e com o Chico de Oliveira. Na verdade, abandonamos esta ideia porque dizia respeito ao primeiro e segundo governos Lula. Quando enfrentamos as mobilizações de junho de 2013, por exemplo, o que percebemos é que havia já um esgotamento deste processo que chamamos de “hegemonia às avessas”. A partir disto, investimos na ideia de que junho de 2013 era diferente de março, abril e agosto de 2015. Há uma forte tendência a afirmar que é tudo a mesma coisa e que a direita já estava lá a partir de junho de 2013, mas estamos apostando que não. Vemos junho de 2013 como o que chamamos de “pulsão plebeia”. Este é um dos nossos grandes desafios: o alargamento analítico da noção de classe. Encaramos todo este conflito como um conflito e uma guerra de classe, mas identificar esta classe ou este polo como sujeito político está difícil. Desta forma, o Ruy Braga alargou um pouco a ideia quando deixou de utilizar o termo “revolução proletária” para usar a ideia de “revolução plebeia” para apontar uma guinada e um ponto de inflexão em junho de 2013, um momento em que o esgotamento do chamado Lulismo parecia ter ficado bastante claro. Para entender isto precisamos entender o que é o Lulismo. Segundo André Singer (que é petista) a caracterização do surgimento do Lulismo, nascido sob o signo da contradição, sugere justamente que a experiência brasileira ainda se sinta como variante da via conservadora de modernização, isto é, uma modernização de cima para baixo. Neste processo, o Estado teria tido um papel proeminente alavancando os mais pobres sem que isto implique em ruptura com setores mais conservadores do mundo rural (leia-se o agronegócio) tampouco com a atual ordem dominante dos interesses financeiros. Singer chamou este processo de “reformismo fraco na era Lula”, planejado por um

bloco 01 • Impactos do modelo de desenvolvimento, tensões e conflitos nos territórios

dominados realizam a “revolução moral” – derrota do apartheid na África do Sul; eleição de Lula e Bolsa-Família no Brasil – que se transforma, e se deforma, em capitulação ante a exploração desenfreada. [...] E o consentimento se transforma no seu avesso: não são mais os dominados quem consentem na sua própria exploração. São os dominantes – os capitalistas e o capital, explicite-se – que consentem em ser politicamente conduzidos pelos dominados, à condição de que a “direção moral” não questione a forma da exploração capitalista. [...]É uma revolução epistemológica para a qual ainda não dispomos da ferramenta teórica adequada.”


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