Revista Elipse #1

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comungavam como perspectiva há dez anos. “Não tínhamos uma consciência de que poderíamos chegar mais longe, mas havia em nós uma ambição, de que valeria a pena tentar. Só achávamos que seria por outro caminho, tendo que levantar alguns trocados a partir de alguns trabalhos, tirando um pouquinho para sobreviver e o resto sendo reinvestido nos filmes”, destaca. O final desta anedota é que eles nunca precisaram fazer um institucional.

“ERA MELHOR ESQUECER” Primeiro de abril é considerada a data oficial de aniversário, por marcar o último dia das filmagens de “Filme de

era feito para a (produtora) Teia e para o Helvécio (Ratton). Todos nós, em alguma instância, ouvimos isso. Aí, na edição do Filme em Minas de 2009-2010, o primeiro com uma comissão externa, ganhamos com o ‘Dona Sônia Pediu uma Arma para Seu Vizinho Alcides’ (dirigido por Gabriel e lançado em 2011)”, pontua Maurilio. A história da Filmes de Plástico, frisa, está fortemente ligada a uma determinada cena de Belo Horizonte, em que se destacam a Escola Livre de Cinema, a UNA, a “Filmes Polvo”, revista eletrônica na qual puderam, por um breve período, exercitar o lado crítico de cinema, o Cine Humberto Mauro e os festivais (a Mostra Indie, o Festival de Curtas e a Mostra de Tiradentes, em especial). Ambientes de

“Não tínhamos uma consciência de que poderíamos chegar mais longe, mas havia em nós uma ambição, de que valeria a pena tentar” Sábado”, o primeiro da produtora, que teve como locação a casa dos pais de Gabriel, diretor do curta-metragem. Os filmes foram sendo feitos, mas Gabito sublinha que demorou até que pudessem dizer que estavam tirando o sustento da produtora. “Tudo que entrava era investimento. Na verdade, (a independência financeira) foi até uma situação mais recente. Mesmo quando nos mudamos para o Prado, ainda era uma coisa que estava se construindo”. Maurilio, que é o mais emotivo do quarteto, deixando a voz embargar quando se lembra dos caminhos iniciais no cinema, volta ainda mais no tempo, destacando que a produtora só pôde se tornar uma realidade devido ao período em que o trabalho de novos grupos passou a ganhar espaço nas leis de incentivo. “Desde o primeiro dia na faculdade, eu e o Gabito falávamos em montar uma produtora. Quando isso, de fato, cria corpo e começa a surgir uma vontade maior de fazer, coincide com um período no Brasil em que os editais passam a ter uma cara mais democrática”, pondera. “Aí a gente sai de um campo que era muito nocivo, que existia para nós aqui, que era o da inacessibilidade antecipada. Você era informado o tempo inteiro, em qualquer roda que chegava, que era melhor esquecer, pois edital

encontro dos sócios que desaguaram num grande e efervescente movimento e que ajudaram a mudar a cara da produção local. “Foi fundamental para que compreendêssemos que podíamos fazer algo maior enquanto grupo”, diz Maurilio. Quando “Dona Sônia” venceu o Filme em Minas, programa de estímulo ao audiovisual mineiro que teve sete edições, a sensação do quarteto foi de ter levado um susto. “Era um edital de R$ 100 mil. Em 2009, aquele valor era como se fossem R$ 200 mil hoje. Ou seja, era dar uma fortuna para um garoto de 21 anos que ainda era estudante. Isso tomou a gente de uma certeza de que podíamos, todos nós”, registra. O fato de, mesmo com os prêmios que começavam a chegar, ainda baterem cabeça na condução da empresa, gerou episódios que hoje são vistos com muito bom humor. Em busca de recursos para manterem a produtora e viabilizarem os projetos, André e Maurilio foram para o Vale do Jequitinhonha realizar um documentário de 50 minutos para o Fundo Cristão para Crianças. Eles fizeram tudo – da filmagem e montagem à tradução, legendagem e feitura da arte gráfica. “O Fundo só teve o trabalho de pegar o DVD e mandar para o exterior. A única coisa que eles pagaram, além dos R$ 7,5 mil pelo trabalho, foram as 21


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