Revista Cidadania 2.0 - 2017

CULTURA JUVENTUDE 3ยบ SETOR

CULTURA JUVENTUDE 3ยบ SETOR Setembro / 2017

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ONG Contato / BH

Contato é uma entidade privada sem fins lucrativos, criada em 2001, na cidade de Belo Horizonte (Brasil), voltada para a realização de projetos e ações que visam à formação e capacitação profissional de jovens por meio da cultura, assim como sua conscientização política pautada na cidadania e nos Direitos Humanos.

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A Contato está situado no estado de Minas Gerais, território com extensão de 586.528 km2 e 853 municípios. Possui o terceiro maior Produto Interno Bruto do Brasil e conta com uma população de mais de 20 milhões de habitantes. Sua capital, a cidade de Belo Horizonte, reúne em sua região metropolitana cerca de cinco milhões de habitantes, sendo, assim, a 3ª maior aglomeração populacional do país.

Atualmente, a Contato desenvolve projetos de capacitação e produção cultural nos campos do audiovisual, música, cidadania e cooperação internacional com países da África, América Latina e Europa. Um dos princípios básicos é aproximar jovens de classes sociais e culturas distintas para atuar de forma colaborativa e participativa no mercado cultural independente.

A Contato busca promover o intercâmbio e a cooperação cultural entre jovens artistas e produtores culturais formando novas lideranças comunitárias, capazes de atuar num contexto global estimulando e fortalecendo as potencialidades criativas de cada região utilizando o terceiro setor como ambiente de trabalho e mobilização social na construção de um mundo justo e solidário.

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Seminário Cidadania 2.0 – Cultura, Juventude e Terceiro Setor ocorreu entre os dias 20 e 21 de Setembro de 2017, na sede da ONG Contato, em Belo Horizonte – MG.

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O projeto faz parte do Programa Cidadania 2.0, iniciativa da ONG Contato, que teve o patrocínio do Fundo Estadual de Cultura de Minas Gerais e o BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais.

Em sua 3ª Edição, o seminário contou com a presença de intelectuais, ativistas, representantes de entidades socioculturais, governos e empresas, com o objetivo de contribuir para as reflexões sobre o papel do terceiro setor no desenvolvimento social, utilizando a cultura como instrumento de diálogo com a juventude.

Durante os dois dias do seminário participaram em torno de 200 pessoas dentre elas ativistas, intelec-

tuais, gestores públicos, gestores de entidades socioculturais, lideranças comunitárias, artistas e estudantes. Foram debatidos temas de interesse das entidades socioculturais que atuam diretamente na rede do projeto e demais entidades e pessoas participantes das atividades do seminário.

Toda a programação do seminário foi construída em diálogo com representantes das entidades socioculturais que fazem parte da rede Cidadania 2.0, representantes da Secretaria de Governo e estudiosos das políticas públicas para o terceiro setor.

Participaram ativamente destes encontros de planejamento representantes da ONG Oficina de Imagens, Casa do Beco, Recreio Social, Favela É Isso Aí!, A Rebeldia, Galpão Cine Horto e Grupo Trampolim, Mídia Ninja, Fora do Eixo, Levante Popular da Juventude, Secretaria de Governo de Minas Gerais e Dolabella Advocacia e Consultoria.

CULTURA * JUVENTUDE * TERCEIRO SETOR

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1º DIA

* DEBATE *

ABERTURA DO SEMINÁRIO 10 ÀS 12 HORAS

ÂNGELO OSWALDO Secretário de Cultura de Minas Gerais

GUILHERME VARELLA Instituto Cultura e Democracia

JUCA FERREIRA Secretário de Cultura de Belo Horizonte

CULTURA E DEMOCRACIA EM DEBATE INAUGURAL DO CIDADANIA 2.0, SECRETÁRIOS DE CULTURA DE MINAS GERAIS E DE BELO HORIZONTE DESTACAM O PAPEL DA CULTURA PARA A DEFESA DA DEMOCRACIA. MEDIAÇÃO FOI DE GUILHERME VARELA, DO INSTITUTO CULTURA E DEMOCRACIA. ma batalha travada à luz do dia, diante dos olhos de todos, entre o poder exercido para poucos e o poder comprometido com o interesse da maioria. Assim o secretário de Cultura de BH, Juca Ferreira, definiu o momento atual da democracia no Brasil e na América Latina.

“O autoritarismo vem reagindo com as armas que pode ao avanço da democracia e à redução das desigualdades nas últimas décadas. Vivemos, ainda, um momento de crise econômica aproveitado por setores conservadores e reacionários que querem fazer retroceder a roda da história. Esse momento nos exige alto grau de reflexão e uma recomposição programática, política e cultural, para a superação de erros e insuficiências dos nossos processos políticos”, admitiu.

Esta ameaça, diz, não chega a ser uma particularidade brasileira, embora adquira contornos peculiares em vista da aparência de normalidade com a qual direitos conquistados vêm sendo sistematicamente atacados no país. “A verdade é que ainda não temos uma cultura verdadeiramente democrática. De tempos em tempos, tudo acaba, a gente fica atônito e depois luta para reconquistar os elementos democráticos mais fundamentais, mas sem conseguir consolidá-los. Essa é a história do Brasil”, lamentou.

Por isso, segundo ele, a importância central da cultura desde um ponto de vista civilizatório. “Não podemos nos esquecer de dois fatores para a afirmação da cultura como uma dimensão central da vida social no mundo contemporâneo: o crescimento da importância do tempo livre na vida das pessoas e a

“É importante que haja agora uma reação enorme p

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“A verdade é que ainda não temos uma cultura verdadeiramente democrática.” JUCA FERREIRA revolução digital, que vem modificando profundamente as relações e a vida das pessoas”, afirmou.

Segundo ele, essa composição permite um otimismo relativo. “O lado positivo de tudo isso tem sido ver o movimento de muitos, - mulheres, indígenas, quilombolas, a juventude, os moradores da periferia -, que estão se lançando a um protagonismo maior.

Vimos emergir nas últimas décadas demandas de todos os agrupamentos humanos que se possa imaginar, e isso foi um avanço”, destacou.

Para o secretário de Cultura de Minas Gerais, Ângelo Oswaldo, tal crise deve ser vista também pelo ponto de vista das suas oportunidades. “Há cerca de 40 anos fui entrevistado por uma TV francesa, que perguntou se eu me sentia livre no Brasil. Eu respondi que Sartre tinha dito que os franceses nunca tinham sido tão livres como na ocupação nazista, porque a opressão realça a necessidade de lutar pela liberdade”, destacou.

Ainda segundo Ângelo, é preciso lembrar que os processos de corrupção deflagrados hoje, no Brasil, tiveram origem na supressão democrática organizada pelos militares a partir de 1964. “Uma grande empreiteira brasileira mantinha um haras em Brasília para o exercício de equitação do general Figueiredo nos seis anos em que ele foi presidente da República. Todos sabemos que a coisa das empreiteiras começou no governo militar”, lembrou.

“Esse tempo dilatado também nos faz, muitas vezes, esquecer que estamos para completar 30 anos da Constituição de 1988. É importante que haja agora uma reação enorme para afirmar a luta pela democracia”, completou. Outro marco importante, segundo ele, são os 50 anos de maio de 1968. “É importante lembrar também como esse movimento assinalou uma nova mentalidade e novos comportamentos baseados na liberdade. Naquele momento, tivemos a afirmação de grandes temas que se transformaram em conquistas. Não apenas em 68, mas ao longo dos últimos 50 anos”, finalizou.

para afirmar a luta pela democracia.” ÂNGELO OSWALDO

1º DIA

DIÁLOGOS DA CIDADANIA 14 ÀS 18 HORAS

RODA DA REDE * ENCONTRO DE ENTIDADES SOCIOCULTURAIS DE BH *

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UMA NOVA REDE NASCE EM BH ONG CONTATO, OFICINA DE IMAGENS, CASA DO BECO E FAVELA É ISSO AÍ DEBATEM A FORMAÇÃO DE UMA NOVA REDE DE ORGANIZAÇÕES SOCIOCULTURAIS PARA BELO HORIZONTE. dealizada para facilitar a articulação entre agentes e organizações socioculturais, a Roda de Redes do 3º Seminário Cidadania 2.0 resultou na proposta de uma nova rede de entidades socioculturais para Belo Horizonte. Fincada no terceiro setor, a iniciativa - chancelada pelas ONGs Contato, Oficina de Imagens, Casa do Beco e Favela é Isso Aí – terá como objetivo a construção de alianças para a cidade que independam da existência de leis de incentivo e outros recursos públicos.

Apresentada pela ONG Contato, uma proposta em análise prevê a consolidação da nova rede em torno de três etapas. A primeira, com duração de um ano, envolve a elaboração de um diagnóstico georreferenciado a ser alimentado pelas quatro entidades fundadoras da rede, onde constariam seus territórios de atuação e a capacidade de operação de cada organização.

Segundo Helder Quiroga, coordenador da ONG Contato, outro objetivo central será a sustentabilidade. “Somos gestores de instituições sociais e é muito importante, para nós, saber diferenciar o que é público, o que é privado e o que é Movimento. Isso nos obriga a buscar alianças que apoiem as entidades, mas não instrumentos que tornem as entidades reféns da existência de leis e recursos públicos”, defendeu.

Para isso, segundo Bernardo Brant, CoordenadorExecutivo da ONG Oficina de Imagens, um dos focos centrais para a nova rede deve ser a organização por princípios, e não por recursos. “Como agir sem ser pautado pela corrida ao financiamento e fazer o financiamento chegar até nós mediante as ações que executamos? É outra lógica. A captação deve ser orientada mediante a dimensão política e de princípios das organizações, e isso também fortalece nossa integridade”, defendeu.

“Nossa atuação está baseada nos territórios e só a partir deles é que poderemos crescer.”

O segundo passo, também com Nesse sentido, uma das propostas duração de um ano, traria ciclos prevê a realização de editais idealizados de formação nos quais temas pela rede para os patrocinadores, e como a Lei Cultura Viva e o Marco não apenas o contrário. “Por que não Regulatório das Organizações da NIL CÉSAR inverter a rota e lançar um edital para Sociedade Civil (MROSC) seriam as empresas no qual as organizações apresentados para nivelar a capacidade de gestão de todas as organizações da da rede chancelam os projetos das demais e se rede. Por fim, o terceiro passo envolveria a formação comprometem a dar visibilidade aos projetos que de “multiplicadores de cidadania” dedicados a venham a obter financiamento? Isso permitira articular outras redes já existentes nos territórios, uma proposição mais abrangente e sinérgica incluindo espaços formais como Centros de desde o ponto de vista do território e daquilo que Referência em Assistência Social (CRAS) e escolas acreditamos”, propôs o jornalista e ex-assessor da UNESCO, Vinícius Carvalho. públicas.

“Para nós, é importante começar pequenos, porque, quando começamos grandes, caímos pelo que nos distingue e não pelo que nos aproxima. O que é certo é que não podemos perder de vista que a nossa atuação está baseada nos territórios e só a partir deles é que poderemos crescer”, destacou Nil César, da Casa do Beco.

“Se a gente consegue ocupar territórios, e alinhamos essa frente à coordenação de uma política que favoreça a visão territorial, é claro que isso servirá a cidade desde uma perspectiva do desenvolvimento.

A ideia do cidadania 2.0 é justamente servir a esta construção coletiva, e seguiremos juntos nessa caminhada”, destacou Helder.

1º DIA * DEBATE *

GÊNERO, ATIVISMO E A CIDADE 19 ÀS 22 HORAS

ÁUREA CAROLINA Vereadora - BH

CURA (JULIANA FLORES E JANAÍNA MACRUZ) Ativistas culturais - BH

MANU GROSSI AM Galeria de Arte e Sexta Valente * MEDIAÇÃO *

O FEMINISMO COMO AMÁLGAMA DE TODAS AS LUTAS COM A PRESENÇA DA VEREADORA ÁUREA CAROLINA E DAS PRODUTORAS CULTURAIS JANAÍNA MACRUZ E JULIANA FLORES, SEGUNDO DEBATE DO CIDADANIA 2.0 TEVE COMO TEMA ‘GÊNERO, ATIVISMO E A CIDADE’. MEDIAÇÃO FOI DE MANU GROSSI, DA AM GALERIA DE ARTE E SEXTA VALENTE. ara ocupar o cargo de Prefeita, em 2016, apenas 639 mulheres foram eleitas no Brasil (11,6% do total). Já na disputa para vereadores, de acordo com dados do TSE, o número de mulheres candidatas foi de 153.314, contra 310.062 do sexo masculino.

Vereadora mais votada de Belo Horizonte nas últimas eleições, Áurea Carolina, do PSOL, reconheceu a importância de se ampliar a presença das mulheres nas instituições. Mas avisa que essa participação, por si só, não será suficiente. “Vivemos uma guerra de representações que passa pela política, e o debate de representatividade para nós é muito importante porque a própria presença destes grupos, em si, já é transformadora nos espaços de poder. Mas ela não é suficiente porque a gente precisa de uma agenda de lutas que seja capaz de confrontar, de modo mais amplo, uma estrutura de dominação que afeta todos os sujeitos e sujeitas que historicamente não acessaram os espaços de poder”, defendeu.

Nesta configuração, segundo ela, o papel da mulher tornou-se vital como amálgama capaz de unificar todas as lutas. “Há mulheres no movimento negro, há mulheres no movimento LGBT, há mulheres no movimento indígena. E as lutas que vêm a partir destas sujeitas questionam profundamente como a exploração econômica capitalista – que é também machista, racista e transfóbica - foi produzindo um estado insuportável de miséria para a grande maioria da população”, afirmou.

Este desafio, diz, envolve agora contrapor-se ao conservadorismo desse momento histórico no qual escalam, também, novas pautas progressistas a favor da diversidade. “Quando a gente diz que são muitas as formas de ser mulher, de ser homem e de ser outras identidades, chamam isso de ideologia de gênero. Esta distorção completa da discussão sobre gênero como uma construção social está longe de ser generalizada no debate público e não podemos

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“Vivemos uma guerra de representações que passa pela política.” ÁUREA CAROLINA

ser omissos. A gente quer discutir isso nas escolas, nas políticas culturais e nas resistências de ocupação dos espaços públicos”, completou.

CURA Idealizadoras do Circuito Urbano de Arte (CURA), Juliana Flores e Jananína Macruz destacaram também o lugar das mulheres na produção de arte e na ocupação dos espaços públicos. Primeiro festival de pintura em prédios de Belo Horizonte e o segundo do gênero no Brasil, o CURA cobriu laterais cegas de quatro prédios do centro de BH. Toda a coordenação, da curadoria à segurança dos artistas, foi feita por mulheres. “É lindo pintar uma mulher negra e mostrá-la na fachada de um prédio, mas também é muito importante dar oportunidade de trabalho para a mulher negra.

Precisamos pensar a cultura não só como algo que nos toca a alma, mas também como um segmento da economia capaz de nos incluir. No CURA, por exemplo, as mulheres pintaram mais da metade dos murais”, explicou Juliana Flores, uma das idealizadoras do circuito.

Segundo sua parceira, a também produtora cultural Janaína Macruz, a decisão por contemplar mulheres em todos os campos do festival foi também política.

“O que eu mais ouvi dos homens foi que deveríamos tomar cuidado para não chamar mulheres só por serem mulheres. O que acontece é que os homens têm protagonismo em todas as áreas, não só nas artes, porque sempre tiveram mais espaço do que a gente.

Então se nós, mulheres idealizadoras do que quer que seja, não começarmos a apostar nisso, então essa desigualdade não vai mudar nunca”.

2º DIA * DEBATE *

OS MEIOS DA COMUNICAÇÃO 10 ÀS 12 HORAS

JOÃO PAULO CUNHA Jornalista - BH

JOÃO BRANT BAIXO RIBEIRO Jornalista e Ex-Secretário Coordenador do Instituto Executivo do MinC Choque Cultural

OPORTUNIDADES DA COMUNICAÇÃO EM CRISE QUARTO DEBATE DO CIDADANIA 2.0 TEVE A COMUNICAÇÃO COMO TEMA. PARTICIPARAM DA MESA O JORNALISTA JOÃO PAULO CUNHA, O EX-SECRETÁRIO EXECUTIVO DO MINC JOÃO BRANT E O COORDENADOR DO INSTITUTO CHOQUE CULTURAL, BAIXO RIBEIRO. omo colocar a comunicação à serviço da cidadania e da democracia? E de que maneira a atual crise pode servir à ampliação de outras vozes sociais no debate público? Estas foram as provocações colocadas pelo jornalista mineiro João Paulo Cunha durante a abertura do quarto debate do Seminário Cidadania 2.0.

“Falar de democracia é falar de comunicação e falar de comunicação é falar de democracia. Isso traz fundamentalmente ao debate o direito de igualdade de fala. Só é possível se pensar, de fato, em sociedades democráticas se os vários canais da sociedade têm condição de se manifestar e colocar suas visões de mundo e suas formas de interpretar a realidade”, defendeu.

Segundo ele, este desafio deve ser entendido hoje no contexto de quatro crises que se complementam no campo da mídia tradicional. A primeira é a crise

econômica, catalisada pela emersão de plataformas digitais que se levantaram contra o oligopólio que fazia dos meios tradicionais de comunicação os únicos canais de informação disponíveis para a população.

A segunda crise seria de representatividade, a partir da qual, em vista da crise política, os meios de comunicação teriam intensificado seu alinhamento a posições políticas que contrariam princípios mínimos da objetividade jornalística. “O jornalismo deixa de ser uma atividade que dinamiza a política para tornar-se uma atividade que amortece a política, criando uma base onde esse pensamento único é consolidado. É a transição da opinião pública para a opinião publicada”, argumentou.

Já a terceira crise, diz, seria de linguagem. “Houve uma standartização do modo de fazer comunicação que levou à criação do que chamamos hoje de info-entretenimento. E informação não é para divertir e

21/09/2017 diversão não é para informar”, destacou.

Por fim, a quarta crise seria a do saber. “Todo jornalista e todos que estudaram comunicação em algum dia se colocaram essa pergunta: jornalista gera conhecimento? Infelizmente, em geral, a resposta é que não, que o jornalista trabalha só com informação, fatos, dados”, lamentou o jornalista, realçando também as dificuldades do ensino formal de comunicação em formar profissionais mais conscientes de que o jornalismo é, sim, um instrumento de construção simbólica.

Na avaliação de João Brant, jornalista e ex-secretário executivo do MinC, está em jogo também a capacidade do Estado e da sociedade em estabelecer regras mínimas para que a pluralidade de vozes do país possa, de fato, ser escutada.

“A agenda de regulação em torno da regulamentação de artigos da Constituição em temas como os oligopólios e a reprodução de conteúdo independente continua muito fundamental, mas já lida com um ecossistema mais amplo. A TV aberta, por exemplo, não é onde a juventude busca a informação ou, pelo menos, não é mais sua fonte primária de informação”, destacou.

Isso não significa, segundo Baixo Ribeiro, coordenador do Instituto Choque Cultural, que a proliferação de novos canais de comunicação necessariamente facilite nossa capacidade de se comunicar. “Vivemos um momento onde a polêmica é usada para travar debates, inviabilizar a própria comunicação.

E o Facebook deu a essa polêmica um elevado grau de intensificação. Ao invés de criar pontos de diálogo, estamos cortando escutas”, alertou.

DIÁLOGOS DA CIDADANIA 14 ÀS 18 HORAS

RODA DA REDE * PARTICIPAÇÃO DE BAIXO RIBEIRO * ENCONTRO DE ENTIDADES SOCIOCULTURAIS DE BH *

2º DIA * DEBATE *

DELÍRIOS UTÓPICOS 19 ÀS 22 HORAS

CLÁUDIO PRADO Produtor, teórico da contracultura e da cultura digital.

TEÓRICO DA CONTRACULTURA E DA CULTURA DIGITAL. CLÁUDIO PRADO ENCERRA COM SEUS DELÍRIOS UTÓPICOS AS ATIVIDADES DO TERCEIRO CIDADANIA 2.0. CONFIRA ALGUNS DOS PRINCIPAIS TRECHOS DA CONVERSA QUE SE DEBRUÇOU SOBRE ALGUMAS DAS PRINCIPAIS MUDANÇAS DE PARADIGMA EM CURSO NO SÉCULO XXI. VIRADA DE SÉCULO “Vivemos um momento importante de mudança de paradigma. Quando eu era garoto, quem não aprendesse datilografia estava morto. Esse cara, que já foi o rei de uma indústria potente, hoje foi para as picas.

A verdade é que está todo mundo olhando para o retrovisor achando que está olhando para o futuro e quem está no paradigma anterior simplesmente não enxerga o novo paradigma. É um barco com 177 furos e 40 rolhas. A era industrial acabou, não vai ter mais carteira assinada nem lógica trabalhista.

Falam de uma ‘retomada do crescimento’ que olha para o retrovisor e para o século XX, achando que os economistas e as cabeças do passado vão nos salvar. Não vão.”

OPORTUNIDADES “O smartphone pesa 100 gramas e faz coisas que 200 quilos de mão de obra e ferro – que era o que pesava uma televisão - são incapazes de fazer. E olha que a TV custava uma fortuna. Hoje uma câmera já não custa mais nada do ponto de vista industrial. Marx, por exemplo, jamais seria marxista hoje. Marx seria um ativista digital dedicado à apropriação dos meios

de produção na era do conhecimento e ela já está aqui hoje na mão de todo mundo. Veja o exemplo do cinema novo. Ele só se realiza agora, porque na época ninguém tinha a câmera na mão para tirar a ideia da cabeça. Só agora isso é verdadeiramente possível”.

INTERNET “A internet é o que fura a bolha capitalista de um modo fatal. A Globo já não é mais mídia de massas e um moleque funkeiro mete 20 milhões de views no Youtube. Mídia de massas é a internet. Vemos o Netflix desbancando hollywood. Uma das características do século XXI é a descentralização, e ela não tem volta”.

JUVENTUDES “Estamos vivendo uma encruzilhada que traz uma mudança importantíssima de paradigma e meu otimismo é essa molecada que está nascendo agora.

Eu tenho um bisneto que conversa comigo pelo smartphone, tem um ano e pouco, não sabe falar, mas já entende tudo. O olhar dessa molecada é um olhar perfurante. São quase mutantes e vejo isso como um processo de evolução das consciências.”

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“Marx seria um ativista digital dedicado à apropriação dos meios de produção na era do conhecimento.” CLÁUDIO PRADO

PÚBLICO e acordo com a estimativa dos organizadores do evento o projeto alcançou com sucesso um total de 200 pessoas durante os dois dias do evento entre Gestores culturais, articuladores, entidades e participantes de redes, intelectuais, artistas, profissionais especialistas e instituições investidoras em projetos socioculturais e de juventude.

* CIDADANIA 2.0 * 2017 *

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