Educação infantil: mostra a tua cara

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ENSAIO EDUCAÇAO INFANTIL: MOSTRA A TUA CARA! Mônica M. Samia1 Privilegiada é a criança que tem espaço para ser criança. Privilegiada é a criança que é ouvida e acolhida por adultos sensíveis. Privilegiado é o adulto que tem espaço no seu coração para ouvir e aprender com as crianças. Adriana Friedmann

A história da Educação Infantil no Brasil pode ser compreendida a partir da análise de dois momentos bem distintos, que “justificam” a sua existência e, consequentemente, norteiam concepções e práticas vigentes ao longo do tempo. O primeiro momento, que corresponde ao surgimento do atendimento à criança pequena, refere-se à criação das creches, de cunho assistencialista. Inúmeros trabalhos foram publicados nesse sentido e este não será o ponto de partida desse ensaio2. Deste movimento histórico, decorrem concepções ligadas ao cuidado e à proteção, sendo a creche um serviço assistencial de apoio às mães trabalhadoras. Com o advento da teoria da “privação cultural”, cunhada nas décadas de 1970 e 1980, as creches se consolidariam em espaços para atender crianças de famílias com condições sociais precárias, prestando um serviço de caráter compensatório. A ideia de déficit foi o ponto de partida para o início de um trabalho que se convencionou chamar de “educativo”, no sentido de haver propostas que visassem o desenvolvimento das crianças que, na época, era realizado a partir de atividades de desenvolvimento cognitivo e preparação para a alfabetização, tendo como referência as possíveis limitações da criança, ou seja, pautado em uma representação da criança como um ser com limitações deficiências (OLIVEIRA, 2011). Com os avanços nos movimentos de trabalhadores, as creches ligadas a entidades particulares se proliferaram e, a partir delas, iniciaram-se os debates sobre a necessidade de oferecer um serviço ligado ao desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças, aproximando-se de uma visão de educação formal. Culminando esse processo, a própria Constituição de 1988 reflete o movimento de repensar as funções sociais da creche. Ela reconhece a creche como uma instituição educativa, “um direito da criança, uma opção da família e um dever do estado”. Tal concepção se opõe à visão tradicional da creche como uma dádiva, como um favor prestado à criança, no caso à criança pobre e com funções apenas 1

A autora é coordenadora da Linha de Formação de Educadores e Tecnologias Educacionais da Avante – Educação e Mobilização Social e doutoranda em Educação na Universidade Feder da Bahia. 2 Como fonte de referência cito o livro: Creches, crianças, faz de conta e cia, em que as autoras retomam o histórico das creches no Brasil. Capítulo 2 – p. 23 a 33.


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