+ 13 Poemas - Cole~]ao Textos Agrestes

Vital Corrêa de Araújo

+ 13 Poemas (ovos de verbos)

Coleção Pernambucos Recife - 2012 Olinda, Garanhuns - Aveiro no Pará - et Alhures

Coleção Pernambucos Edições Papel Jornal

Direção Editorial: Vital Corrêa de Araujo - E-mail: apenasvital@gmail.com João Marques dos Santos - Email: joaomarquescultura@yahoo.com.br Fone: (87) 8107.4747

Edição sob os auspícios da Academia de Letras de Garanhuns e do jornal O Monitor

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A João Marques mestre cujo verbo do barro de Deus veio para plasmar com força e fé da palavra o destino do espírito nas ingentes plagas desse mundo vão.

Por trás e para além dos dejetos, máscaras, ruínas, ilusões e usuras do mundo real é vital discernir as escondidas essências os frutos transcendentes e hordas de visões fugazes mas intensas do mundo ideal que perpassa todo o Ser.

DO FLUXO QUASE IMÓVEL DA MADRUGADA LUMINOSA DO MOSTEIRO O POEMA INSÓLITO DEDICADO A JOÃO MARQUES Garanhuns, na hora avançada de 14 de janeiro de 2012 Os garbosos e frios esplendores do além-túmulo suas fulgurações hesitantes amônias betuminosas do instante e espasmódicas nuances, tudo se nos apresenta ao espírito devoluto só e pela poesia, hélice de palavras concha espiralada do verbo que a espessura da carne atravessa e o túnel da imanência de outro mundo escancara que a tumba abre e a alma recobre de desintegrações incessantes até que toda luminescência oculta desista de sua insistência além-campa.

SOBRE A VISÃO JOÃOMARQUESEANA DO CORPO E DO ESPÍRITO a Luzinette Laporte A fé cristã ou equivalente mística capa de proteção do espírito salvaguarda da integridade da alma sustentáculo da verdade pós-carne declinou ao longo das horas usurárias e bélicas do século 19 e 20 das guerras.

E urge reerguê-la sólida torná-la viva e alta.

Nela, nessa fé viva se buscava a suprema ascensão, o ímpeto, a ascese a evasão plena da dura realidade do mundo sua falta de perspectiva e flácida esperança como opção ao dissolver do valor espiritual procurando-se outros modos de religação da macroexistência exterior e carnal com o microinterior humano.

E esse prélio íntimo com a panóplia epifânica essa batalha pela cabal libertação do espírito ânsia de intensa evasão do áspero e ingente mundo da vândala realidade tomou forma não de preces em altares entre fumos vãos de turíbulos bêbados e luzes de cansados castiçais e lamparinas devotas e surdas como se incenso e luminações físicas espantassem todo o escuro da vida pós toda material parafernália da existência forma de fazer ascender alma da cova da terra ao periparaíso pela voragem salvífica da poesia pois Baudelaire dixit ser através da palavra que a alma discerne as radiações do que virá.

CONTINUAÇÃO DO POEMA ANTERIOR Também do sonho brotaram grifos guardadores de ouro ímpio vizinhos dos hiperbóreos.

Consciente de que o sonho é uma projeção mental do futuro e de que suas imagens são caminhos viajei até o porto renhido de Hiperbórea país situado além da noite, perto da sombra bem além do Bóreas, o vento norte junto ao mar de Mármara.

(Poema conforme Lei Espiritual do maestro João Marques filósofo da raiz de pedra da vida ou seja, filósofo da alma de Garanhuns).

1.

OVOS DE VERBO

Eu estribilho, desesmoreço, coto as cartas o ás respiro, engendro, urdumo, urdimbro centripeto não convexo porque eu concavo e geometrizo sempre que poemo.

Tenho por sina patiar entorno de igrejas (e beber adegas) porque verticio sempre que angulo um poema absurdinando-me.

Aminuncio-me quando para não me amiudar daninho-me a poemar o futuro (que está descendo pelo ralo humano).

Como vais te empedrar me encasulo nóbrega aranha que sou netamente manoel.

A propósito, manuelo-me quando a garoa mostrar suas aéreas coxas a João Marques.

PS. Dias incontáveis uivo (e vivo) à sombra do poema, árvore de palavras grade de signos e récuas de sentido.

2.

VERBO NOVO a Manoel Neto Teixeira e Wânia Nobrega

Vou bilhar no poço (de minha inconsciência) com jarro de ombro água de sede fisgar (peixe do fôlego) com meu jeito escorreito tacar o sôfrego do nômade ao ofegante fazer jorro.

Sei que muito acrisantemo quando enjardino o poema mas é porque me crepusculo a corroer a cor meu espírito escuro.

Sempre coloquio quando palavras escapam-me do dedo para a página (do corpo e da alma de barro do verbo dado ao cubo).

Esmiuço-me toda vez que arranco desse barro da alma algumas palavras que aplico como mármore no aéreo poema.

Estridulo-me mas não desisto.

Aspero-me com candura.

Canduro-me com aspereza.

3.

(TARA)

Sou tarado por toponímia e onomástica.

E poema algo trisambíguo, destrelado.

Gozo com a palavra numismática.

Hieróglifos é meu ídolo.

Me degenera banalidades.

Leio filosofia suja, sou medicante da palavra.

Minha alma é de palha.

A filosofia nasceu na borda de uma xícara de chá chinesa.

( O café é a plenitude do ser. Sartre ). ( EU ) TRANSINSEMINO-ME com a palavra crescente inoculo-me ao transubstanciar do verbo.

4.

( novas confissões vitais ) a Antônio Cândido e Osman Holanda

Pegadas de Pound sigo.

Na rua azul me deparei com um rosto de pedra asteca.

A poesia de VCA (que causa AVC) é algo suspeitosamente florido, produto de boca turbulenta e muito sonâmbula fruto de candelabros escuros e tempestades sem ventre (de um assomo de autocrítica feroz).

Vital é um desertor da palavra. Outsider nato.

Sua palavra (que ele pensa poética, mas é nada) é alguma coisa sepultada.

Pura aritmética poética. Paralela a infernos deslumbrantes, objeto de iluminações sem ventre.

Oco fluxo quântico, reflexo de ecos cânticos. Alquimia desesperada.

Direta da página escura da alma para a enfermaria do futuro verbo.

5.

(CAFÉS) ( nota histórica )

A partir de 1945, a atenção mundial o universo da cultura não se voltavam mais para os já clássicos e afamados salões ricos onde se mesclavam escritores, músicos, mulheres.

Mas para o térreo do Café de Flore esquina do Boulevard Saint-Germain com a rue Saint-Benoit.

Foi no Café de Flore que Sartre escreveu O ser e o nada. E numa de suas páginas: “O café por si mesmo, com seus clientes mesas, livros, luz, espelhos, cinzeiros atmosfera esfumaçada e sons de vozes matraquear de pires (ao pouso de xícaras) e passos de transeuntes e suas bocas línguas ásperas e sedentas que o enchem... o café é a plenitude do ser.”

Perto do Flore, esquina com a Place Saint-Germain o café Deux Magots, outro ícone bem cafeínado.

6.

CAFÉ aos acadêmicos João Fernades e Eliane Simões Vilar

Ao meu avô Manuel Florentino Corrêa de Araújo cafeeiro e ao sítio Frecheirinha (de cujo ventre extraía 300 sacas-ano) úmido sítio inóspito da Serra de Taquaritinga onde meu pai – Cláudio Corrêa de Araújo foi gerado em vó Sinhazinha que morreu aos 15 anos do parto do meu pai único.

A esta orgânica maiêutica tão trágica e sublime de onde vim a esse nu mundo in e a Osman Segundo

Ao café de Flore le rendez-vous existentialistes Xícara de café e cinzeiros nas mesas ao fundo a sombra (e baforadas) de Sartre cachimbo dependurado na boca torta olhos vesgos esbugalhados colhendo o ser (seu matiz, minúcia, nuance) do homem e da sociedade insaciável.

Ao Deux Magots onde se desenrolava plenamente a todo instinto o idílio da intelectualidade do mundo com sua própria tragédia diária.

Ao ler pape d'existentialisme que me despertou a náusea de ser e me apresentou ao Nada quando li em Manaus (1972) As palavras, Imaginação Sursis, Com a morte na alma e A idade da razão.

À cadeira de vime metálico preta de encosto duplo de ameixa do Café de Flore da qual refestelado Sartre contemplava os melancólicos bulevares de sua alma (e os confins indefesos do mundo engajado no progresso do corpo).

Ao tugúrio sartreano na rue Bonaparte (perto do Flore – e a plena xícara) de cuja janela ele lançava olhares sigilosos para a Place Saint-Germain enquanto beijava calorosa e filosoficamente Simone de Beauvoir musa longilínea, filósofa feroce.

7.

AUTOCRÍTICA a Raimundo Miguel e Wagner Marques

Maculadamente limpo (cheio de mácula desconsagrada) pleno de ovelhas de estrelas é o poema vital antimecânico par excellence não gregário, noturno incompreensível (por natureza e definição) meio absurdo, capaz de abominação passível de axiomatizar-se de súbito sem freios que o definhem espalhafatoso e vermelho impiedoso com leitor e inescrutável é o poema vital (que sempre será).

A Vital e sua poesia desautomática amecânica (embora anêmica e transitiva) ambiambígua, detratável dolicocéfala e iconoclasta crua desacatante, desfibrada, invulnerável (antipoética e transgeométrica) indesencandeante, desarvorada e sem voragem tão ... adjetiva ... não leio.

A não ser num pub íntimo da rua da Glória (472) numa tarde no bafurinho de um happy-hour (com dose de single uísque e cerveja pálida) o papo bêbado como o barco de Rimbaud em torno cercado do nada da vida da non-existence radical (meio que solipsista) cruamente como um trago de vida.

Obs. Na rua da Glória, 472, próximo da esquina do mercado da Boa Vista está a sede do Centro Cultural Vital Corrêa de Araújo.