

Copyright © 2022 de Olga Tavares Todos os direitos desta edição reservados a Olga Tavares Projeto gráfico, diagramação e capa estampapb Co-organizador José David Fernandes Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Setorial do CCTA da Universidade Federal da Paraíba Elaborada por: Susiquine Ricardo Silva CRB 15/653 T231a Tavares, Olga. Alma viajante, v.2 [recurso eletrônico] / Olga Tavares. João Pessoa: Editora do CCTA, 2022. Recurso digital (49,3MB) Formato: ePDF Requisito do Sistema: Adobe Acrobat Reader ISBN:978-65-5621-266-1 1. Viagens Memórias. 2. Narrativas de viagens. I. Título UFPB/BS CCTA CDU: 910.4:82 94

Sumário EUROPA: PORTUGAL/AÇORES, IRLANDA & MANAUS,VIAGENSPRIMEIRASAMÉRICABETOÁFRICABODASCUBA.........................................................................................................................27MARROCOS...............................................05DEDIAMANTESDECLENIR&MURILLO,EMBRASÍLIA.....................................58&ÁSIA:EGITO&EMIRADOSÁRABES..............................................................61CARREROWORLD,PORTUGAL,RUSSIA,SUDESTEDOBRASIL&VILAGALÉ-RN..83DOSUL:COLOMBIA,PERU&EQUADOR....................................................112VIAGENSDAPANDEMIA:NATAL,SANTACATARINA&NE.......................126DAPANDEMIA:SERRASDONE&RECÔNCAVOBAIANO..............................170PALMAS&JALAPÃO................................................................................198181211131415161719Capítulos

Capítulo 11 Dinheiro não traz felicidade, mas compra passagem aérea: o que dá no mesmo!


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EUROPA: PORTUGAL-LISBOA/AÇORES& IRLANDA COM LÍGIA "Se um dia a nossa luz da amizade se apagar, foda-se, irmã, a gente acende uma vela".
Bob Marley
Eu e a Sissy Lígia fomos Recife-Lisboa via TAP, em junho de 2017, com a novidade que para sentar no corredor ou na janela tinha que pagar uma taxa. Mais uma arbitrariedade do capitalismo selvagem, que faz questão de segregar as pessoas e desqualificar sua condição de cliente. Mundo ganancioso, grosseiro e discriminatório. É uma artimanha institucionalizada. Ficamos no Residencial Dublin e passamos três dias passeando pela cidade e revendo os tão familiares lugares. Conseguimos entrar na Pastelaria Belém, às 13h30, sem filas, mas lotada, para Lígia comer o famoso pastel que eu não gosto. A Brasileira também estava lotada, mas conseguimos sentar para tomar café e água e ver o movimento. Consegui tirar mais uma foto na está tua de Fernando Pessoa. Tomamos um taxi para ir à Costa de Caparica – no Concelho de Almada-, onde almoçamos no Restaurante Benfica, cujo dono é amigo do jogador de futebol brasileiro Euzébio (naturalizado português) e tem suas fotos lá. Havia a festa de Santo Antonio e a Avenida da Liberdade estava engarrafada pelo movimento do feriado.

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O simpático taxista Sérgio nos levou do aeroporto ao Thomas Hostel e nos levou a outros passeios depois, na sua Mercedes bege. A cidade é linda, bem cuidada, limpa, toda em barroco português, calçadas de pedras portuguesas desenhadas. Andamos muito a pé para apreciar a arquitetura e a tranqüilidade do convívio urbano. Com o taxista Sér gio nós fomos andar pela ilha cercada por um mar calmo e de um azul turquesa belíssimo. Vimos: Lago do Canário; Miradouros da Boca do Inferno e Vista do Rei (vista para as Sete Cidades); Ponta da Ferraria (sem entrar no mar) e Furnas.
Fomos para os Açores, de avião, para a capital São Miguel, Ponta Delgada – uma ilha bem charmosa, clima ameno e povo acolhedor.





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Mas o motivo da viagem foi efetivamente para tomar banho nas famosas águas termais da Poça da Dona Beija (sim, é referência à novela brasileira!) – um conjunto de piscinas próximas a Furnas, onde pagamos quatro euros para passar o dia. Esse paraíso termal tem pis cinas com variações de temperatura da água de 28º a 40º com propriedades terapêuticas nas águas férreas alaranjadas. O local é muito bonito, cheio de árvores e bem organizado. Também fomos para a grande piscina do Parque Terra Nostra (oito euros o ingresso), com hotel e restaurante do mesmo nome. O Parque é muito bucólico e andamos a pé em seu entorno. Nossos almoços nas termas foi o delicioso cozido de Furnas, em que as panelas são enterradas por horas e aquecidas







8 | Alma Viajante pelo próprio calor vulcânico da região. Havia um lugar, a Lagoa de Furnas, onde as placas dos restaurantes indicavam as panelas sob calor subterrâneo entre 6 a 8 horas, é a “zona dos cozidos” – feito de carnes de galinha, vaca e porco, com batatas, cenoura,inhame, couve, repolho e chouriço. Muito interessante pelo processo, fica mais apurado o sabor, mas semelhante ao nosso cozido que herdamos deles, pois, pois! Comemos no tradicional Restaurante Banhos Férreos, lotado, mas de uma experiência gustativa imperdível (e não sou uma pessoa gourmet!).



9 | Alma Viajante Tem algumas fontes d’água pela cidade e a mais peculiar foi a Fonte Peideira, que não experimentei, mas Lígia, sim, e disse que fez efeito!!! Lígia ainda fez rappel em uma região de pedras, enquanto eu flanava pela cidade para entrar em suas igrejas, descobrir pequenas e românticas ruas e tomar sorvete na original Gelateria AbracAdabrA. os cozidos







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Voltamos a Lisboa por uma noite para pegar outro voo para Dublin, na Irlanda. O roteiro ficou por conta de “LígiaTour”, para fazermos o caminho celta do país cheio de histórias mitológicas misturadas com o cristianismo que ali se fincou forte e foi causa de guerras e cisões políticas. Na capital irlandesa, tomamos um bus sightseeing para ver a cidade e conhecer os clássicos pontos turísticos, como a casa do meu darling Oscar Wilde e o parque onde está sua estátua – o Merrion Square; a fábrica de deliciosa cerveja preta Guiness; a estátua de James Joyce, na 2 N Earl St. North City; a imponente Trinity College (1592), a mais importante universidade irlandesa, onde estudaram Oscar Wilde e Samuel Becket, além de oito ganhadores do prêmio Nobel; o Abbey Theatre (por fora); a elegante Catedral de St. Patrick, nos seus jardins o santo padroeiro batizava os fiéis; a majestosa Catedral da Santíssima Trindade; o cemitério-museu Glasnevin; a tradicional Rua O’Connell; o lindo The Temple Bar (por fora). E almoçamos num bar com música ao vivo às 15h!


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Alugamos um Toyota Yaris e fomos ao lugar que mais me impressionou, as falésias de Moher, o patrimônio natural da Irlanda. De perder o fôlego! Depois seguimos para fazer o circuito celta por 24 cidades, entre elas Drogheda, Slane, Navan, Mullingar, Gort, Ennis, Limmerick, Abbeyfeale, Killarney, Cork, Athy e Kildare. Cada uma mais graciosa que a outra. Lígia foi a motorista a viagem toda porque eu não conseguiria dirigir na esquizofrênica mão inglesa. Assustei-me nos trajetos várias vezes! Penso ser de uma soberba enorme o Reino Unido manter esse trânsito, enquanto a maior parte do mundo tem o contrário!





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"Eu sou o mundo no qualWallacecaminho".Stevens Saí de Recife para Lisboa, via TAP, como sempre, mas, desta vez, de primeira classe, pois era dia de Natal (25/12/2017) e foi o presente que me dei. Contudo, a viagem foi em um avião velho, sem a totalidade dos serviços que deveriam ser oferecidos, inclusive porque o voo foi fomos colocados no Mar Hotel, em Boa Viagem, mas sem nenhuma atenção da empresa. Fui ressarcida depois, mas não pelo mal-estar da situação inusitada. Só me lembrava da primeira classe da VARIG há 30 anos, imagine! O mundo está ficando muito esquisito e vulgar...Hospedei-me novamente no Residencial Dublin – agora, sem o recepcionista Sr. Virgílio, que havia se aposentado (eu o conheci em 1997) -, e repeti meus roteiros dos prazeres portugueses: fui ao Santuá rio de Fátima, de ônibus, para ainda comemorar o finzinho do seu centenário (28/12), e estava lotada; e continuei minhas andanças por Lisboa, toda enfeitada para as festas de fim de ano, revendo meus lugares favoritos. As lojas estavam em “saldo” e comprei algumas roupas para substituir aquelas que levei para deixar lá (hábito que tenho há anos).
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EUROPA & ÁFRICA: PORTUGAL & MARROCOS
cancelado,





Com o maior número de pessoas na cidade, também o número de fumantes aumentou bastante e a civilidade não chegou a estas pessoas, pois enchem as ruas de guimbas. Passei o réveillon pela primeira vez na vida só no meu quarto porque não fiquei a fim de ir ao Reveillon na Praça do Comércio porque haveria revista de todas as pessoas. Não quero viver neste mundo de medo e desconfiança. Comprei um champanhe, alguns petiscos e vi os fogos na TV. Foi uma noite intimista, mas tranquila e com minha melhor companhia, eu mesma! Achei ótimo não me obrigar a nada mais. Queria conhecer, neste ano novo, um lugar diferente. Fui na Abreutour da Av. Liberdade e a Maria Luiza me sugeriu Marrocos com o circuito das quatro cidades imperiais – Mar rakech, Rabat, Méknes e Fez, mais Casablanca e outras pequenas cidades litorâneas e do interior. A viagem era curta, iria para um novo continente, o africano, e estaria na terra de Otelo, de Shakespeare. A excursão foi ótima e fiz amigas/os que tenho até hoje: as primas Vaneska e Marielza, Aida, Flávia e o casal Carmen e Edelbrando. Mar rakech – “a cidade vermelha” - foi o ponto de início, e ficamos hospedadas no espetacular Hotel Atlas Asni, com uma comida excelente. Saímos, no dia seguinte, para Casablanca de minibus, passando por algumas cidades e vendo o contraste existente de diferenças grandes: lugares muito ricos, como Marrakech, e outros pobres e sujos, como Essaouira – uma ex-cidade portuguesa que legou um forte que é Pa trimônio da UNESCO, mas que é muito malcuidado. Sua Medina, um mercado típico de iguarias fantásticas, é sujo, cheio de lama e de incômoda mobilidade. Por outro lado, El Jadida é outra cidade de legado português, mas que é um encanto: – é uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo. As estradas eram ótimas. No caminho, paramos para tirar fotos com as cabras em cima das árvores de argan, comendo seus frutinhos, e eu tirei fotos segurando uma delas, bem mansinha. Viajei com o simpático casal Carmen e Eldebrando (Bebê), que é de Itajubá-MG, mas mora em Sorocaba-SP.
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Em Casablanca, em um dia chuvoso, fomos conhecer a célebre cidade, a mais populosa do país: Mesquita Hassan II – belíssima e discreta, é a única que recebe não-muçulmanos e é a terceira do mundo, atrás de Meca e Medina; o Palácio Real, de arquitetura eclética, de uma beleza exuberante; a Medina – com muita gente oferecendo produtos, sem muito cuidado, espaço apertado, mas interessante na sua diversidade e no seu colorido; o bairro de Habous – a Nova Medina-; e o bairro residencial de Hanfa (antigo nome de Casablanca) – de suntuosas casas modernas e belos jardins. Não fui no Rick’s Café, do clássico filme Casablanca, porque a excursão não foi e eu não quis ir só, pois acho o filme uma chatice e sei que a cena neste bar foi filmada nos estúdios de Hollywood mesmo! Quando o guia falava dos costumes dos homens e das mulheres, eu prestava atenção e me indignava bastante. É um povo muito primitivo, pois não considera as mulheres, elas não têm direitos. E ainda andam emburcadas ou de lenços no rosto, não têm vida independente. Não se pode respeitar isso em pleno século 21! Felizmente as estrangeiras podem andar de cabelos soltos e de roupas normais. Almocei com Carmen e Eldebrando, em um gostoso restaurante de um hotel à beira-mar. A excursão ia incorporando gente. Em Casablanca, chegaram Vaneska, Marielza e Aída – e ficamos juntas até o final do passeio. Todas viajavam muito também e as conversas giravam em torno dos percursos pelo mundo. Sentávamos juntas nos cafés da manhã e no ônibus. Seguimos para Rabat – capital e ‘cidade verde’
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18 | Alma Viajante do Marrocos, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO -, onde vimos o lindo Mausoléu Mohammed IV, a simples Torre Hassan e o Palácio Real, residência oficial dos reis, apesar de o atual rei não viver lá, mas tem funções administrativas. Em seguida, vimos, de passagem, Méknes – antiga capital do país (século X), que é a “Versailles Marroquina”, também é Patrimônio da Humanidade pela UNESCO - para ver o Bab Mansour, o monumental portão desenhado, que fica defronte da praça Hedin, e dá entrada a um palácio imperial. Mulei Idris, a cidade santa de peregrinações e de ruínas arqueológicas – também foi vista de passagem. Eu não quis ir para as visitas porque chovia e eu já me sentia mal de gripe. Atravessamos a Cordilheira do Atlas com chuva e neve. Paramos em Ifrane – a “Suíça marroquina” - em um Café, e eu tomei remédio, e a doce Flávia tirou minha foto na neve, biensûr!







Fez é a capital cultural marroquina. É do século IX e tem muitas características medievais nas suas estreitas e caóticas ruas. A Medina Fez El Bali é um mercado a céu aberto de gente nos abordando, de produtos atravessando nosso caminho, de burros passando por nós com mercadorias no lombo, e adoráveis gatos transitando sua langui dez contrastante com o burburinho local. Algumas ruas têm decoração bem mourisca, com arabescos e treliças e a bonita Madraça Attarine - antiga escola corânica – é um oásis dentro da Medina, tanto quanto a linda fonte Nejarine, ainda funcionando. Da mesma forma foi uma surpresa ver a Universidade Al Karaouine ali na Medina (que está na Mesquita de mesmo nome). É a universidade mais antiga do mundo e foi fundada por uma mulher, em 859, mas só passou a aceitar mulheres agora no século 21! Visitamos uma fábrica de tapetes, na qual fiquei bem agoniada com o cheiro e com a quantidade exorbitante de tapetes de todos os tipos e cores. E vimos o Palácio Real, por fora, e a Porta Azul. Em uma noite, fui com Aída a um show com jantar, excelente: dançarinas da dança do ventre com muita música boa. Comprei CDs. Os hotéis foram todos ótimos.
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Na volta a Marrakech – “a pérola do sul” - para voltar para Lisboa, é que fomos aos pontos turísticos: o parque Lalla Hasna; Palácio Bahia; Praça Jemaa El Fna; Mesquita Koutoubia; Jardins da Menara, com um sistema hidráulico de mais de 700 anos!-; e ao Museu Dar Si Said – o mais antigo da cidade, com seus esplendorosos azulejos e as requintadas madeiras pintadas e ornamentadas. Eu não me interessei pelas histórias que a guia contava porque queria mais curtir os lugares, andar por eles, ver a sofisticada arquitetura, com seus detalhes e sutilezas. Era tudo muito requintado e delicado. Fiquei encantada com a arquitetura, principalmente. Ainda passei uma noite com Car men e Eldebrando, pois as outras seguiram para os passeios no De serto de Saara. Fomos andar a pé pelos arredores do hotel: voltamos à Praça Jemaa El Fna para vê-la by night e fomos jantar no Menara Mall.
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24 | Alma Viajante Na última semana em Lisboa, peguei um taxista, Sr. Armando, em frente ao Hotel Dublin, para me levar a Sintra e arredores, por cem euros. Fui na ‘Versailles Portuguesa” , o acanhado Palácio de Queluz, onde nasceu e morreu D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Finalmente conheci o Palácio da Pena e comi o delicioso ‘travesseiro’ na famo sa Periquita. Passamos por Colares, por conta dos primos Colares do Maranhão, e onde tem uma boa vinícola. Fomos ao Cabo da Roca, o ponto mais ocidental da Europa, com a assustadora e bela Garganta do Diabo, onde já morreram pessoas ao cair das rochas tirando selfies. Fomos ainda às elegantes Cascais e Estoril, na costa a Norte de Lisboa, onde o Rei D. Luis I tinha sua residência de verão.







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Capítulo 12
Viajar é encontrar coisas que você nunca soube que estava procurando.


Henry Rollins Mais um sonho realizado, a Cuba que eu queria conhecer desde que li “A Ilha”, de Fernando Morais, ainda na faculdade (1976), quando nutria admiração profunda por Fidel Castro, que foi perdida ao longo de ver um modelo de governo ditatorial e cheio de arbitrariedades ci vis: expurgo e prisões dos intelectuais; morte aos desafetos políticos; desrespeito aos direitos humanos; leituras e filmes oficiais. Contudo, esta viagem foi uma das melhores que fiz na vida porque houve um roteiro especial para mim, que queria conhecer o circuito do movimento revolucionário. A Paraibatur contratou a Havana Tour e eu percorri 5 províncias: Havana, Matanzas, Cienfuegos, Santa Clara e Sancti Spiritus. Saí de Recife, pela Copa Airlines (avião da Embraer), para o Panamá, onde fiz conexão para Havana. A burocracia terrorista do aeroporto de Recife foi demais! Para mim, um exagero, excesso de “pequenos poderes”, pois há formas de se fazer um controle com mais eficiência e educação. O cidadão comum tem que conviver com a barbárie desse cotidiano violento e assediante. O mundo do viajante está ficando insuportável! Feliz foi Agatha Christie, que viajou o mundo todo quando não havia nem passaporte nem fronteiras. Viajei conversando com uma doutoranda de música do CCTA-UFPB, Isabel, um encanto de pessoa, amiga também da doce Ana Elvira. Ela ia para Costa Rica. O avião era pequeno e bem básico: sem TV, sem som, alimentação frugal, pouca gente: achei ótimo! Em Panamá City, só eu fui para Cuba; o restante dos passageiros foi para Miami e cercanias.
27 | Alma Viajante CUBA "Existem lições que não se pode tirar de um livro, pois elas estão esperando por você ao final de um voo".

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Chorei muito quando o avião sobrevoou Havana, o dia estava lindo, ensolarado e o mar era de um azul topázio deslumbrante. A aduana foi igualmente de “pequenos poderes” de uma revista inócua, se viemos de outra para entrar no avião! O Aeroporto parou na década de 60 como a cidade, em geral, com os famosos carros americanos enormes, mas, a maioria, mal-cuidada. Cheguei um dia depois de uma tempestade-tufão que deixou a cidade cheia d’água do mar, com árvores caídas... Fiquei no Hotel Neptune – que já deve ter tido seus dias de glória, mas está bem decadente e a água do banho era fria! -, só com gente simpática e solícita, com instalações enormes, à beira-mar, sem wifi, mas com um ótimo quarto e café da manhã. A moeda local de turistas era peso cubano CUC, quase o mesmo valor do euro, também aceito como moeda (R$ 1 = 5 euros).




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A arquitetura de Havana, do maior número de construções, é o espetacular estilo art déco, meu preferido, que remetia demais às construções do Nordeste brasileiro. Senti-me em casa! Estar fora do circuito das redes sociais, do consumo e do turismo predatório foi uma experiência nova e gratificante. Contratei um motorista, Dimi tri (adivinha por que o nome?!), defronte do hotel, com um Moskvitch vermelho bem velho, sem cinto de segurança, para conhecer a casa do meu darling Hemingway - o Museu Finca Vigia, no meio de um povoado bem pobre. Mas a casa, doada pela família ao governo cubano, é espetacular, com vista para o mar, no meio de um bosque particular. Não se pode entrar, via-se todas as dependências pelas portas abertas e protegidas por cordões, mas podia circular pelos jardins. Até seu barco estava lá. No caminho, passamos por vários bairros de contrastes enormes: casas belas + casas pobres + prédios-favela com roupas penduradas; da mesma forma os carros, alguns novos, e grande parte, de carros velhos. Seguimos para um monumento a Hemingway, em Co jimar, local bem precário, mas bonito, com um cantador de viola que cantou Garota de Ipanema para mim. Um luxo! Era época de Natal, os supermercados lotados, mesmo com algumas gôndolas vazias. Ali comemoram a data, fazem ceias, e as igrejas são abertas e têm missas. Como tirar a religião do supersticioso povo latino?! Hotel Memories Miramar


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31 | Alma Viajante Eu assistia todo dia à multi-estatal Telesur, canal 24, com sede na Venezuela – cujo slogan é "Nuestro Norte es el Sur". Era parcial, mas muito bem feita. E também assistia à Cubavisión, canal 15, totalmente estatal, noticiário voltado para o governo, mas era interessante, mostrava fatos do país todo. Dimitri me deixou, à noite, no maravilho so show Legendários do Guajirito, com um remanescente cantor do Buena Vista Social Club, bem velho, mas muito firme. O jantar contava com três bebidas (tomei mojito, piña colada e água), salada e um gostoso ‘pollo’. E até dancei no palco quando disse que era do Brasil e tocaram, por supuesto, samba! Dimitri me contou que não há violên cia doméstica em Cuba, pois as mulheres têm os mesmos direitos, são respeitadas; as prisões são muito severas, os presos têm que trabalhar e a maioria está ali por roubo de alimentos. Fiquei desolada por isso! Dimitri me levou para conhecer o “Gaudi de Cuba”: o humilde bairro de Jamainatas é uma obra-prima em mosaico do artista Jose R. Fuster, que criou ali a fantástica e criativa “Fusterlândia”, a partir de 1975, com muita inspiração caribenha também.


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Passamos ainda, no caminho, por Santa Fé, onde está a fazenda de Raul Castro, igualmente uma das inúmeras moradias de Fidel. Seguimos para a Marina Hemingway, a maior do país, em Santa Fé, bonita, mas maltratada, com restaurantes, bares e o hotel El Viejo y El Mar, porém com iates luxuosos que me impressionaram! Em Havana, Dimitri me levou para





33 | Alma Viajante o centro da cidade: praça de Zapatta, com árvores centenárias belíssimas; Museu de Belas Artes, cheio de obras de artistas locais; Havana Vieja – centro histórico -, moradia de muitos cubanos, com alguns prédios muito velhos e em ruínas, com sua arquitetura colonial espanhola e art déco: mistura de povo e turistas que circulam o dia todo por ali; Havana Nova – centro histórico mais moderno -, onde vi o prédio da TV Estatal; o Capitólio (em obras); o Malecón. A segurança é total pela cidade e o povo é de uma simpatia ímpar. As mulheres eram muito bonitas, mas os homens horríveis, como pode?





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No terceiro dia, chegou o guia Ricardo, da Havana Tour, com o motorista Dani, para me levar para o roteiro que eu contratei. Era um tour exclusivo: eu e eles. O experiente e eficaz Ricardo me disse que, em 38 anos de guia turístico, nunca havia feito um tour com apenas uma pessoa! E foi uma viagem espetacular de uma semana no Lada amarelo novinho! Naquele dia, fizemos Havana, que eu já havia dado um giro com Dimitri. Contudo, o tarimbado Ricardo era um expert do seu país, admirador de ‘mi comandante’, como se referia a Fidel, e um homem de 68 anos muito dinâmico e inteligente. Fomos andar pela Praça da Revolução, com Biblioteca e Teatro Nacionais, onde tirei uma foto com um buick americano de 1956, ano em que nasci! Fomos a uma loja de charutos, de passagem, pois não me interessei. Estando sozinha, podia me dar a esse desfrute. Seguimos para o Forte-Castelo da Real Força com vista para a cidade; para o Museu da Revolução –onde morava o ‘ditador’ Fulgêncio Batista (para Ricardo, Fidel não era ditador...), cujo canhão em frente é da URSS



35 | Alma Viajante Eu e Ricardo seguimos, então, a pé pelas ruelas de Havana Vieja e Centro para ver seus pontos principais: memorial Granma, em frente ao Museu de Belas Artes que eu já entrara; a linda avenida ajardinada Paseo Del Prado (1772), primeira rua asfaltada de Havana - , um calçadão que percorre parte de Havana Vieja e que vai dar na praça José Marti, do belo Hotel Inglaterra, onde também ficam os carros antigos e os carros-ovo para aluguel; o Gran Teatro de Havana Alicia Alonso, - grande bailarina mundial, que estava viva aos 98 anos; a bonita Universidade de Havana, em El Vedado, de arquitetura romana, é a mais antiga do país (1728) e tem 16 faculdades; na linda Rua O Bispo, ver finalmente o Café Paris, decepcionante, mas lotado de gente; tomar um daiquiri (incluso no pacote) na El Floridita, frequentada por Hemingway, também lotada e com um som maravilhoso (comprei o CD); ver a Praça das Armas, com o neoclássico El Tempete, onde tem um busto de Colombo. No percurso, muitos prédios arruinados, lugares muito sujos e um sapateiro trabalhando em um lugar insalubre.




36 | Alma Viajante Almoçamos na Bodeguita Del Medio, onde Hemingway chegava a tomar 30 mojitos/dia! Es tava lotado demais e tivemos que esperar um grupo de americanos, saídos de um Cruzeiro ancorado no porto de Havana, tomar seus lugares. Fiquei indignada porque chegamos antes, tínhamos os vou chers, e ficamos assistindo à entrada dos que ainda sustentam a ilha, pois nunca deixaram de fazê-la seu balneário preferido (60% do turismo é deles)! E tomei mojito –uma caipirinha mais requintada porque é com rum cubano, por supuesto! De lá, fomos para o Mercado de Artesanato para experimentar cafés e charutos (tudo incluso), mas o café era horrível e o charuto guardei para trazer para o amigo João de Lima.






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As conversas com Ricardo eram sobre o país, que ele considera va “o melhor lugar”, pois já havia morado na Polônia. Sua atual esposa trabalhava na rádio estatal, mas a primeira conseguiu fugir para os EUA com os três filhos, na década de 80! A filha deste segundo casamento morava no México, único lugar que ele conseguiu visto para férias. Os vistos para os EUA foram sempre negados (assim como os do Brasil), mas ele falava com os filhos via internet e esperava revê-los em Tijuana, na fronteira México-Califórnia. À noite, fomos a um restaurante do programa turístico de comida criolla – uma mistura de prato espanhol com ingredientes cubanos, que se tornou a culinária típica de Cuba: uma delícia!
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No dia livre em Havana, dia de Natal, peguei um bus sightseeing e passei o dia nele, vendo tudo de cima. Só desci no porto, para ver um mercado de quinquilharias sem atrativos. Passei a noite de Natal no quarto, vendo TV. Bem tranqüila. Não gosto da data. No dia 25, mude hotel, fui para o lindo Miramar Memories, quarto 223, por um dia apenas – mas ali tomei banho de garrafa porque não havia chuveiro, só banheira: lugar anti-higiênico em que não entro!
daram-me
E começamos a jornada pelas cinco províncias – Havana, Ma tanzas, Cienfuegos, Santa Clara e Sancti Spiritus -que Fidel e seus companheiros passaram e/ou organizaram a revolução. Meu ‘personal guide’ Ricardo sempre pontual. Pegamos a ótima estrada para o Vale Vinales, para visitar a fábrica de charutos Montesinos, com o atual dono bem simpático como anfitrião. O original Mural da Pré-história, nas paredes de rocha de Viñales, é uma linha do tempo da evolução biológica da região e um dos maiores afrescos da Terra, pintado pelo pintor cubano Morillo, discípulo de Diego Rivera, e é Patrimônio Mundial da UNESCO. Almoçamos ali em Viñale, e Ricardo abriu o coração: além da esposa, tinha uma namorada que alugava seu apartamento de turismo. Chamei-lhe machista e ele replicou que “trato todas muy bien!”. Típico homem latino (ou universal?)!




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Comecei a ficar agoniada... Então, seguimos para o belo Hotel dos Jasmines – a paisagem da região é de montanhas de pedras, semelhante às de Pai Inácio, na Chapada Diamantina. Na Fin ca Fiesta Campesina havia uma bizarra fazenda de crocodilos, onde almoçamos no Restaurante La Boca Colibri. Finalmente conheci as legendárias Playa Larga e Playa Giron, na polêmica Baía dos Porcos – cenários da Revolução: praias lindas no Mar do Caribe. Litoral da prática de mergulho também. No caminho, os colhedores de arroz deixam os sacos para secar e fica aquela fileira branca em pé, enquanto outros espalham o arroz na própria estrada e a gente espera a ação acabar. Achei bem esquisito! Fomos para Cienfuegos – na baía do mesmo nome, a única cidade francesa de Cuba – a ‘pérola do sul’ -, grande plantadora de açúcar. Suas construções em neoclássico francês foram Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Cidade elegan te e graciosa, tem o parque José Marti, onde a cidade foi fundada; a Praça das Armas, o marco zero da cidade; a igreja da Concepción; o Teatro Tomás Terry; a Federação das Mulheres Cubanas; e o Jornal 5 de Septiembre. Viu-se tudo a pé.
A “Cueva Del Indio” era uma caverna bem bonita, mas eu não quis fazer o passeio de barco (incluso) porque estava lotado e eu sou claustrofóbica.
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declaradas



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Em Trinidad Del Mar ficamos no hotel Memories Miramar Trindad (mesma rede do de Havana) – uma espécie de resort à beira-mar, ‘all inclusive’. O quarto, como alguns outros tinha um problema: a porta da varanda não abria. O jantar-buffet excelente, com um mojito de entrada. A cidade é encantadora, muito semelhante a várias cida des art déco da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, entre outros, apesar do ar decadente e mal-cuidado, como em todo o país. Foi ali que vi a única câmara em ambiente fechado. Eu e Ricardo fomos andar a pé pela cidade. Tudo muito precário: museu municipal e do romance fechados para obras; o museu de Arquitetura era pobre e sem atrativos, tirando a primeira máquina caseira de energia elétrica da cidade. O que me atraiu muito foram as casas com grades de madeira trabalhadas, muito bonitas, cada uma de uma cor, por onde se avistavam as salas das casas. Pedi para algumas para tirar fotos.
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Na casa Santander, dos irmãos-artesãos do barro, as obras eram iguais às nossas! Ali também tinha a Bodeguita Del Medio que estava vazia, o que me surpreendeu pelo contraste com a similar de Havana!
Incluso havia uma bebida local de aguardente e limão horrorosa, em um bar tradicional da cidade, La Canchanchara; então, fomos para o charmoso Bar La Botija: eu tomei um ótimo mojito e Ricardo, um Red Bull. E ali ficamos conversando por uma hora. Me contava tudo das duas esposas: seria cômico se não fosse trágico! O almoço ficou por conta do tour, em um restaurante do Governo, de comida ruim. Refeição inútil, haja vista o hotel ser ‘all inclusive’! À tarde, no hotel, fui à praia. Cadeiras confortáveis à beira-mar. Tomei sol e me banhei no lindo, transparente e gelado Mar do Caribe - que sensação boa mesmo assim! E ali fiquei lendo Nordeste, de Gilberto Freire, no meu Kindle – leitura bem apropriada, pois até cita Cuba na semelhança da monocultura da cana e suas aristocracias rurais, que só mudaram de nomes, hoje...Ricardo me acompanhou um pouco e foi para a academia do ho tel, depois de me dizer: “Es una linda mujer”, pode? No jantar ele me apresentou a um amigo que disse também: “Es muy bonita”. “Gracias, pero quiero me quedar sola”, pensei...Fomos para o Mirante do Vale de los Ingenios, onde tomei um coquetel de abacaxi delicioso (incluso), no Bar Manaka Iznaga. Passamos pela Torre Iznaga, em que eu não quis subir, em um lugar com artesanatos iguais aqui do Nordeste. Os preços também eram semelhantes. Comprei uma bolsa. O réveillon foi no hotel, vendo um show de dança caribenha bem bacana, pois os/as dançarinos/as eram lindos/as e as músicas muito animadas.
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Em Santa Clara – a “cidade de Che Guevara”-, havia uma burocracia antiterrorista para visitar o grandioso e elegante túmulo de Che Guevara, no majestoso Monumento em sua homenagem. Ali seriam comemorados os 60 anos. Havia palco armado, cadeiras enfileiradas no pátio. Acompanhamos os preparativos para a festa que seria à noi te. Naquela agradável cidade, Che interrompeu um trem cheio de soldados de Baptista, garantindo a maior vitória do movimento. Muitos morreram. Cubanos matando cubanos! Como fizeram os franceses, os russos, os chineses...Dommage! Xô, Rousseau! Para mim, a única revolução que deu certo foi a americana, que lutava contra a metró pole para se libertar, de fato, da opressão e da exploração e para cons truir uma pátria de liberdades individuais e de ‘self made men’ (apesar da mácula da Guerra Civil, em que também americanos mataram americanos!) Lampedusa é que estava certo... O Monumento ao Trem Blindado é impactante pelo simbolismo. A singela Estátua de Che e o Menino fica defronte da sede do Partido Comunista. Almoçamos no refinado Restaurante Santa Rosália, onde comi macarrão com charque para ir às origens! A segunda universidade do país fica ali, então, há muitos jovens na cidade. Assisti às festividades pelo sexagenário da Revolução pela TV.



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49 | Alma Viajante Na estrada para Varadero havia várias cidades literalmente iguais às do Nordeste do Brasil: com carroças, motos, carros velhos e novos, bici-taxis. Uma confusão só. E muita gente pedindo carona nas rodovias...







50 | Alma Viajante Varadero é um balneário luxuoso, no Oceano Atlântico, com resorts Melia, Ibero, Starfish etc., todos associados ao governo. Depois de dar um giro pela cidade praiana sem muitos atrativos, a não ser os próprios grandes e luxuosos hotéis, os elegantes condomínios e suas largas avenidas, Ricardo e Dani foram embora.




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Fiquei mais dois dias em Varadero e tomei a melhor piña colada de toda a via gem, no Bar Compãs. Peguei o bus sightseeing que mostrou os hotéis e a grande avenida onde fiquei hospedada, no Starfish 4 Palmas (4 estrelas, que não tinha controle da minha TV e, assim fiquei sem TV! Pedi na recepção, mas não fui atendida...), e, de novidade, só a Marina de Varadero, um ‘mall’ acanhado, só com lugares para comer. E um atracadouro chic de catamaranas belíssimas, com prédios de apartamentos sofisticados ao redor. O ‘so cialismo’ do poder e dos dolarizados, com certeza! Balneário dos americanos, pois compunham a maioria dos turistas do lugar. Ao almoçar, na Bodeguita Del Medio, uma autêntica comida criola – a melhor que comi no país -, conheci Claudine, uma




carioca super-simpática que ama viver em Cuba, com quem me comunico até hoje. O conjunto que tocava lá era muito bom! Na mesma rua do hotel (que é a única principal da cidade) tem o Bar dos Beatles, com a estátua de cada um em tamanho natural e que só toca as músicas deles. Um espetáculo! Pelas manhãs eu ia à praia do hotel, lotada, com o mar atlântico mais verde e mais transparente do que eu tenho aqui no Cabo Branco. Contratei, finalmente, um carro americano antigo, um Dodge laranja e branco, para passear por 40 euros. O motorista se chamava Piti. Fomos até Cardenas, onde mora Claudine, mas a cidade é bem feinha, muito abandonada. Piti também morava em Cardenas e disse que precisava ir em casa e eu fui junto. Na porta, o sogro dele estava em pé, com um boné escrito Brasil na cabeça! A família acolhedora e simpática me convidou para um café delicioso – café cubano, hoje, um dos itens dos produtos da economia nacional. E, assim, eu conheci um pouco da história deles, bem conformados com a vida de mas todos/as alegres e bem-humorados/as. O carro furou o pneu e fiquei conversando com o Piti nos 15’ que ele trocava o pneu. Um sol de rachar! E era inverno...
sacrifícios,
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Os Jardins Josone eram perto do hotel e ali eu ia para andar. Varadero é o maior ode ao capitalismo turístico que já vi. Não conhe ço um complexo praiano hoteleiro tão sofisticado, em lugares paradisíacos e seguros, só girando em torno do turismo (mas ainda com alguma pobreza ao redor). É uma cidade voltada para o turismo dos Era inverno e a cidade estava lotada. Fiquei imaginando como seria no verão!
abastados.
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O retorno para Havana foi muito bom, a viagem durou 2h30 e foi bem confortável na van da Havana Tour. Novamente na capital cubana, fiquei no velho Hotel Neptune-Triton, gêmeo do que fiquei quando cheguei. O restaurante era ótimo! E fiquei em um quarto de frente para o mar, com a TV ainda de tubo! Só no bonito aeroporto de Panamá City fui abrir minhas redes sociais e levei um susto: havia 1011 whatzapps e 600 emails. Deletei todos os zaps e deixei os emails para conferir em casa. Estes se mostraram mais eficientes, pois havia vários úteis para a vida profissional (bancas, convites, publicação de revistas etc.). Os zaps, parece que não tinham nada de proveitoso, pois ninguém me cobrou nada depois que cheguei... Estes dias sem comunicação em rede foram ótimos para mim, pois aproveitei meus dias comigo mesma e percebi o quanto é possível viver uns dias reclusa das redes para poder sentir a existência em toda a sua essência e prazer.



55 | Alma Viajante O resultado da Revolução Cubana é a igualdade pela pobreza: os proletários são muito pobres, vivem muito mal, não têm voz nem opções. Como escreveu Freire, em Nordeste: “´é a cultura da cana e suas casas grandes e senzalas. Só que a senzala é muito maior e não tem como se esconder e ao seu mau gosto, sujeira, descaso...”



56 | Alma Viajante Curiosidades
Nenhum hotel de Cuba oferece wifi, deve-se comprar os cartões em pontos com muitas filas (mas tem os “atravessadores” que vendem mais caro, tanto quanto os hotéis) – optei por passar aqueles 12 dias sem comunicação com o mundo!; o governo é dono de tudo: hotéis, restaurantes, bares, supermercados, casas de show, cafeterias, taxis, agências de turismo, internet etc.: talvez a explicação para a decadência e precariedade de tudo,pois haja administração para manter as coisas em bom funcionamento! – como pode não haver corrupção em um sistema em que alguns eleitos resolvem por todos? -, e os gerentes/diretores/responsáveis são funcionários do governo, como 90% da população ativa em geral, e tudo ficava por isso mesmo porque não havia a quem reclamar!; todos os lugares do tour em que paramos, comemos, nos hospedamos etc. eram do governo; um professor universitário ganhava 12 euros/mês, um jornalista 15 euros e um médico, 40 euros; tínhamos que pagar aos nativos pelas informações pedidas nas ruas!; não havia câmeras na maioria dos hotéis, ou restaurantes, ou mesmo nas ruas – achei isso tão bom!; os baños dos lugares eram muito ruins e ainda tinha que pagar; as estradas são cheias de outdoors exaltando a Revolução, o Governo, Fidel e Che ainda, pois em 2019 seriam os 60 anos da insurreição; é surpreendente a quantidade de preservação ambiental: muitas matas e florestas bem cuidadas; a árvore nacional é a Seiva – árvore das macumbas; as estradas ficam cheias de gente pedindo carona, principalmente no fim de ano, feriados e fins de semana – todos/as querendo ir para suas cidades no interior; a maioria das cidades que passamos era muito pobre; cada família tem sua caderneta de racionamento e as lojas vão anotando o consumo até acabar a quota – é o mais longo sistema de suprimentos controlados do mundo; as lojas, restaurantes, bares etc. para turistas são caros; na maioria das comidas servidas, faltava algum item, como batata ou cenoura, e Ricardo dizia que era porque o governo não comprou as batatas ou as cenouras suficientes para suprir os restaurantes!; o fluxo turístico de Cuba é de 4 milhões de turistas/ ano (o do Brasil, 6 milhões/ano,que tristeza!); a TV fala mal dos EUA todo dia e quando Bolsonaro assumiu, só houve críticas; a República Bolivariana é motivo de elogios todos os dias, com loas a Maduro e Morales.

Capítulo 13 A melhor maneira de agradecer por um belo momento é plenamente.desfrutá-lo

Anônimo
BODAS DE DIAMANTES DE CLENIR & MURILLO, EM BRASÍLIA
Em novembro de 2018, a família Tavares se reuniu novamente para mais uma comemoração familiar: os 60 anos de casamento de Cle nir e Murillo – tios que estão na minha vida desde que eu nasci e com os quais tenho memórias afetivas muito importantes. Com eles, morei quando retornei dos EUA antes dos meus pais. A festa foi maravilhosa: Tavares e Furtados do país todo estiveram presentes. Ficamos todos/as hospedados/as no JK Hotel, no setor hoteleiro de Brasília. Aproveitamos a rápida estada para passear pela cidade com os irmãos/ã e primos/as. "As fotos são a melhor forma de relembrar nossos momentos em família".
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59 | Alma Viajante A festa foi espetacular com toda a elegância e sobriedade do casal querido. E a festa dos reencontros também foi especialmente maravilhosa.



Capítulo 14 São os amigos que encontramos ao longo do caminho que nos ajudam a apreciar a jornada.

Jamais pensei visitar esses lugares tão longínquos. A oportunidade apareceu em janeiro de 2019, por que não? Combinei com Vaneska e Marielza e seguimos cada qual dos seus estados para nos encontrarmos em Dubai e iniciar nosso tour, organizado pela Masterop, contratada pela Paraibatur (elas foram por outras agências). Perdi a conta da minha passagem pelo ae roporto de Guarulhos: a maioria das viagens passei por ali. A ida para Dubai foi de 18 horas pela Emirades, que é igual a todas as grandes companhias que já viajei, como TAP, British Airways, Latam, com comissá rios bem antipáticos e não-satisfeitos com a função – todos brasileiros insistindo em falar comigo em inglês,quando lhes disse que era brasileira! Surpreendentemente, o avião não parou em um dos braços do gigantesco aeroporto e tivemos que tomar um ônibus para o terminal. Fiquei pasmada! Fiz a conexão direta para Cairo, no Egito, onde o guia Marmoud já estava esperando. Compramos o visto por US$ 25 e passamos pela ágil aduana.
Mary Anne Radmacher
61 | Alma Viajante ÁFRICA & ÁSIA: EGITO & EMIRADOS ÁRABES COM VANESKA & MARIELZA "Eu não sou a mesma, depois de ver a luz brilhar do outro lado do mundo".



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No percurso para o hotel, achei a cidade bem feia – o que constatei todo o período ali. No Hotel Mercure Cairo Le Sphinx, em frente às monumentais pirâmides, nós e as bagagens passávamos por um controle igual ao dos aeroportos, com esteira, raio X etc..Ainda os cuidados por conta do atentado a um ônibus de turismo há dois meses. Che gamos logo em seguida a uma tempestade de areia que deixou todas as ruas cheias de areia...O reencontro com Vaneska e Marielza foi ótimo, jantamos juntas e Marielza continua Lula-roxa! Wifi só no lobby do hotel. Saímos de madrugada para Luxor, onde pegaríamos o Cruzeiro do Nilo. O voo foi adiado por causa da tempestade de areia. Esperamos quatro horas para embarcar. A viagem Egypt Air, com avião da Embra er, foi bem agradável, pois fui conversando com Olga, uma argentina muito simpática e inteligente. A excursão era composta de falantes da língua espanhola. Só nós três e um casal gaúcho, Gessy e Adriano Lodi, éramos do Brasil. Em Luxor, um ônibus nos levou para o grande ferry boat no Rio Nilo. Dali, a gente percorria os lugares da história da humanidade, como o Templo de Kaenak – do século 26 A.C.; o Vale dos Reis, onde está Tutankamon; os colossos de Mennon; Vale das Rainhas. Fazia muito frio e eu tive que alternar os casacos de Vaneska: um dia eu usava o azul, e ela o rosa e assim foi...Só levei casacos leves. Enquanto isso, os gaúchos tomavam sol de shorts! Em todos os templos cor de ocre havia muita gente e eu fiquei fascinada pela grandiosidade das construções milenares, e pesarosa de os cristãos terem destruído tanta coisa, principalmente os rostos representando animais, e ainda colocavam cruzes nos acervos históricos. Paramos em Edfu, para visitar o templo de Horus, o deus falcão; em Kom Ombo, para ver o templo dedicado a Sobek e Haroesis. A travessia pelo Rio Nilo era maravilho sa, minha cabine tinha uma janela enorme pela qual o nobre rio ia passando, com a paisagem do Deserto de Saara ao fundo. Um espetáculo inenarrável! Eu ficava horas sentada admirando aquele cenário divino: dava uma paz de espírito absoluta. E eu pensava que aquilo era a felicidade de fato e que viajar é tudo que há de melhor na vida! Como não chovia à época, havia vários bolsões de areia pelo percurso fluvial. Havia também comunidades ribeirinhas. E tomávamos mojitos e con-

64 | Alma Viajante versávamos, no deck do barco. Eram momentos mágicos! Na noite das fantasias, nos vestimos de árabes. Mohamed, o guia local que falava espanhol, fez o meu turbante da cabeça. Foi divertido, mas acabou às 22h. Sobramos eu, Vaneska e os funcionários! As refeições do barco eram maravilhosas e fartas! Mas não havia coletes salva-vidas no bar co. Tudo muito precário...As subidas e descidas do barco eram feitas sobre tábuas bambas. Era uma agonia só a travessia! Fomos visitar a represa de Aswan – a maior da África. Fatos a favor: incremento da agricultura e produção de eletricidade. Contra: a exploração, poluição e escassez do Rio Nilo em seu percurso. Dali fomos de lancha ao Tem plo de Isis (deusa da beleza).




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Fizemos o passeio de faluca – barco à vela folclórico, também sem coletes salva-vidas. Andei de camelo – a minha era uma camela! - pelo Deserto de Saara, mas eu não agüentei nem 5’ e pedi para voltar; e visitamos uma comunidade núbia muito pobre e carente, na qual fiquei incomodada com o ambiente: havia um crocodilo em uma jaula na sala da casa que paramos para lanchar! Eu nem comi...As mulheres todas cheias de roupas, de véus. Ah, não tenho solidariedade a elas, pois já era momento de se libertar dessas amarras culturais tão primitivas! Aí o guia dizia que as mulheres núbias trabalhavam mais que os homens, pois estes são preguiçosos e só gostam de festas. Que novidade! Os belos monumentos foram muito maltratados pelos invasores-vândalos. As tropas napoleônicas, por exemplo, deixaram inscrições nos muros de Aswan. Além disso, havia os saques arqueológicos feitos por ingleses e franceses, principalmente. No aeroporto




66 | Alma Viajante de Aswan, passamos por duas revistas. A última ainda assinamos em um livro e colocamos o número do passaporte. A cidade estava cheia de policiais e militares com tanques do Exército, por causa do atentado a um ônibus de turistas dois meses antes de irmos para lá. O barco nos deu uma sacola de café-da-manhã para levar, mas alguns turistas as deixaram em cima dos bancos ou praticamente inteiras no lixo. O que será essa falta de consciência? Tanta gente pobre na cidade... Nós doamos as nossas para os carregadores de malas do aeroporto.





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De volta ao Cairo para fazer o programa da capital, quando fomos andar pela cidade no ônibus do tour: citadela, com a grande mesquita do país – muito suja, mas em recuperação; e Museu do Cairo – mal-cuidado, sujo, cheio de pó nas estátuas – estão construindo um novo, maior e perto das Pirâmides. O Museu tem pouca coisa por que EUA, Inglaterra e França levaram parte do acervo arqueológico do pais para seus museus, e não devolvem,como já pedido pelo governo egípcio, porque alegam exatamente os maus-tratos com as obras. No Egito que eu vi, tudo é de um descaso inigualável...Os edifícios destruídos e/ou inacabados é algo que nunca vi em tão grande quantidade! Passamos por um de cinco andares, onde o 4º andar não existia, era todo destruído, no meio dos outros habitados normalmente...As Pirâmides e a Esfinge foram a quintessência do passeio. Fiquei trêmula de emoção aos seus pés, aos 40 séculos que nos contemplam, como disse Napoleão Bonaparte. Vaneska chorou; eu enchi os olhos de lágrimas... Todavia, tudo precário também: Vaneska caiu no chão irregular e eu, tropecei. Há nove pirâmides naquele complexo, mas as mais importantes são Queóps, Quefren e Miquerinos – pai, filho e neto. Não há mais nada dentro delas e se paga para entrar. Elas foram; eu,não, pois sou
claustrofóbica.
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Almoçamos no Restaurante Cleópatra, decoração bem cafona e exagerada. Conhecemos ainda a interessante fábrica de papiros; a loja de algodão egípcio que parecia mais uma loja 1,99 made in China; e a de perfumes sortidos bem bonita. Alugamos um taxista para nos levar ao centro, onde havia as lojas de souvenirs e o comércio local. Comprei, finalmente, um casaco! Mohamed disse que aquele frio era atípico. À noite, fomos ver o espetáculo de luzes nas Pirâmides: 50’ contando a história daquele monumento misterioso, que nos deixa perplexas com a capacidade empreendedora dos homens. O trânsito do Cairo é assustador: tem poucos sinais, os carros correm muito, a maioria tem avarias na funilaria, as pessoas tentando atravessar o tempo todo – disse o guia que morrem muitos atropelados diariamente...Lixo e entulhos nas ruas é outro fator lamentável.

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71 | Alma Viajante Para o Egito eu nunca mais voltarei: muito abandono, muita sujeira, muita ruína, povo-bovino, lugaresberço-da–humanidade negligenciados. A grande quantidade de embarcações no Rio Nilo também me deixou preocupada. Eu não conheci país tão feio e sujo como esse...Que importam as maravilhas históricas, se estão maltratadas e/ou abandonadas? E é areia por todo lado...EmDubai – a maior cidade dos Emirados Árabes -, o contraste com o Cairo é espantoso. No aeroporto, novamente a Emirates nos levou ao terminal de bagagens em um ônibus que levou 10’ para chegar ao destino! Como pode um aeroporto gigantesco e sofis ticado daqueles não ter braços suficientes para o desembarque dos aviões? Só pensava no aeroporto de New York, onde desembarquei dezenas de vezes, sempre pelos braços, desde os anos 70! Viajei na classe business, cortesia do rapaz do check in do Cairo, com duas moças emburcadas de cada lado! A religião é realmente algo bastante nocivo à evolução cultural dos povos: ela aliena, cristaliza e cria barreiras. A aduana era só de rapazes lindos, todos vestidos com a Kandoora, tradicional túnica, e o Ghtrah na cabeça. Ficamos no Hotel Ibis Jumeira – aquém dos outros. Na primeira noite, fizemos um passeio em um barco-restaurante, em um rio artificial, onde há a maior marina artificial do mundo! No dia seguinte, o tour iniciou pelo maior edifício do mundo, o Burj Khalifa, com 148 andares, construído pela EMAAR, que coloca a sua assinatura em vários prédios da cidade. Emocionei-me ao recordar o World Trade Center que conheci quando era o maior edifício do mundo, em 1977. Neste prédio também está o maior shopping do mundo, o Dubai Mall.


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Atravessamos o Golfo Pérsico em um taxi-barco (‘abra’) bem exótico. O melhor hotel do mundo também ficava em Dubai: o Burj Al Arab, de ‘sete estrelas’. Da mesma forma, há a segunda maior pista de esqui do mundo (22.500m²), no Mall Emirates. O Jebel Ali é o maior porto artificial do mundo com uma área de 134,68 km². Estava em construção um aeroporto para 120 milhões de passageiros/ano, pois o atual tem capacidade para 40 milhões. Almoçamos no Al Dawaar Revolving Restaurant – o restaurante giratório, visão 360º, no último andar do Hotel Hyatt Regency, com 60’ de duração: um espetáculo! Fomos ao Museu Islâmico, em Sharjah – outro Emirado, a “pérola do Golfo” -, que tem tudo sobre religião islâmica que, nesta região, re gula tudo e todos. O sheik é, na verdade, aquele grande pai que todo povo-bovino quer. Vimos também a Mesquita do Rei Faisal.



plantações
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Abu Dhabi fica a uma hora e meia de Dubai e a maravilhosa estrada é no deserto, bien sûr! Contudo, nesse caminho, havia uma reserva artificial feita para preservar as cidades da areia e do calor, com e animais. Para a visita na Mesquita do Sheik Zayed, tive que comprar roupa adequada: saia longa e camisa de manga. O templo é de uma beleza pomposa, mas muito elegante (custou US$ 1,5 bilhão): as colunas em forma de palmeiras com ouro no topo, os pisos trabalhados em mosaicos de mármore, os lustres de cristal. Fasci nante! Eu quase fritei por conta da roupa e do calor. O guia disse que as mulheres usam a burca desde crianças e se acostumam. Pensei: não sabem mesmo que são infelizes porque vivem nas sombras da caverna patriarcal, preconceituosa e maniqueísta da religião. Da mesma forma o guia explicou a não-existência de gays na cidade: “se os há, estão escondidos. A religião não os aceita”. A Igreja Católica já foi assim.... Não dá para respeitar; só lamentar.




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Fomos ao Louvre ‘fake’, tentativa de uma réplica, construído em uma ilha artificial no Golfo Pérsico, comprado por 400 milhões de euros (a marca), para um convênio de 30 anos para ter a exposição de obras originais a cada seis meses, ao custo total de 700 milhões de euros. Tirei foto com o Napoleão cruzando os Alpes, de David – o impera dor que já foi meu ídolo de adolescência, mas quando conheci de fato a sua história, deixou de ser... A excursão passou também pelo malecón para uma vista panorâmica da cidade; pelo Emirates Palace Hotel, na ponta do corniche, que custou US$ 3 bilhões e tem 128 cozinhas!; pelo Parque da Ferrari, na artificial Yas Island – ao lado do circuito de Fórmula 1, com a montanha-russa mais rápida do mundo (240km/hora) –, é o maior parque coberto do mundo, todo climatizado; e pela torre de Pisa de Abu Dhabi, a belíssima Capital Gate, que tem inclinação (18º) maior que a original (4 vezes menor).




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Essas cidades dos Emirados me surpreenderam pela limpeza, funcionalidade, sofisticação e beleza. Tudo é artificial, mas é bonito, bem-cuidado e preservado. Foram 40 anos para transformar um deserto em um oásis cartão-postal do mundo. Brasília também foi construída no meio do nada de um cerrado, é toda artificial, mas não deu certo: é uma ‘ilha’ cercada de cidades-satélites pobres e maltratadas. Fizemos o safari pelo deserto de Margan, que foi bem especial, pois só havia fazendas de camelos e a paisagem desértica muito linda das areias douradas. Eram várias caminhonetes Toyota de sete lugares da mesma empresa, que faziam os malabarismos possíveis nas dunas altas e baixas. Nosso motorista era excelente condutor e muito atencioso. Tour muito bem-organizado. Paramos em uma tenda beduína para um jantar tradicional, todos/ as sentados/as em almofadas sobre tapetes. Comida horrível, mas os shows foram ótimos! A moça da dança do ventre era de uma beleza es-





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tonteante. O contraste dela com as moças emburcadas é algo misterioso, pois ela vive na mesma sociedade. Como será que vive? O show do derviche também foi lindo, cheio de luzes e fogos. O profissionalismo turístico deles é primoroso. No último dia, eu e Vaneska fomos para o Dubai Mall de novo para andar e ver o que não tínhamos visto antes; de lá, pegamos um taxi para nos levar ao Hotel Burj Al Arab – para tirar fotos.





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Fiquei muito tocada por tudo que vi em Dubai e Abu Dhabi no sentido de operacionalidade urbana: é surpreendente o funcionamento de tudo, mesmo tendo um trânsito agitado, mas não caótico. As ci dades fluem, os atendimentos são ótimos, enfim, são cidades que es tão, inclusive, se preparando para as demandas do século 21. Não são lugares que me atraem particularmente, pois gosto de coisas antigas, de histórias e geografias seculares que se intercalem nos meus percursos (por isso, a Europa é sempre meu destino favorito); entretanto, os Emirados Árabes chegam a comover pela grandeza e elegância de oferecerem ao mundo um modelo de que é possível edificar um sonho e, o que é mais difícil, mantê-lo, atualizá-lo e compartilhá-lo com o mundo. Viva Sheik El Zayed e suas gerações!


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Curiosidades No Cairo, as pessoas fumam igual aos europeus!; os prédios, no Cairo, são todos da cor ocre, muitos estão totalmente abandonados ou em ruínas; os mendigos de Cairo ficam embaixo dos viadutos com latas de fogo por causa do frio; a quantidade de antenas de TV nos prédios e nas casas, no Cairo, é impressionante; havia um casal de idosos na excursão que era o exemplo de amor na terceira idade: se cuidavam um ao outro, não deixavam de conversar. Um encanto! ; como na maioria dos lugares turísticos do mundo, a abordagem dos vendedores locais era tremenda e incômoda; o Egito recebe 15 milhões de turistas/ano – não justifica tanta pobreza, sujeira e poluição; o governo do Egito é tirano: os governadores são escolhidos pelo Presidente, que é quem decide tudo, e não há Congresso nem Câmaras – talvez isso explique o país decadente; é mito os camelos ficarem muitos dias sem beber água: no máximo, dois dias; um pro fessor catedrático, no Egito, ganhava US$ 2000 e o salário mínimo era de US$ 200; o Rio Nilo ainda tem jacarés nas suas águas; em Dubai, há oito milhões de estrangeiros que não têm os mesmos direitos que os cidadãos/ãs nativos/as, como educação e saúde gratuitas; o maior PIB de Dubai, depois do petróleo,é o turismo (são 3 milhões de turistas/ano); são 7 países nos Emirados Árabes e Abu Dhabi é a capital. Uniram-se para enfrentar o jugo inglês, fizeram acordos financeiros e se tornaram independentes, a partir dos anos 60, quando houve a primeira exploração de petróleo e começaram a construir as cidades com a ajuda de arquitetos e engenheiros ingleses e americanos; a água nos Emirados Árabes é dessanilizada e é muito cara, contudo, no hotel, levava-se meia hora para a água aquecer, escorrendo...Tomei banho frio para evitar o desperdício! - o mundo do consumo é muito perverso...-; as mulheres podem trabalhar e dirigir, mas usando as burcas; o sheik e sua família são donos de todos os Emirados e é ele quem escolhe todos os governadores; Abu Dhabi tem 10% das reservas de petróleo do mundo; o sheik Zayed foi quem uniu os sete países árabes e provocou a mudança total da região, tendo várias coisas em sua homenagem – ficou 33 anos no poder e é adorado pelo povo; tanto em Dubai quanto em Abu Dhabi havia o Clube das Mulheres (ricas),onde elas exibem suas roupas e jóias e até tomam banho na praia privativa; não vi carros pequenos em Dubai ou Abu Dhabi, só carros-grifes (Ferrari, Porsche, Lanborghini, Mercedes, BMW, Land Rover e Limusines).

Capítulo 15 Um bom amigo ouve suas aventuras. Seus melhores amigos as vivem com você.

83 | Alma Viajante BETO CARRERO WORLD "Tão importante como o destino da viagem são as pessoas com quem escolhemos viajar". Anônimo Eu, Thais - minha sobrinhaneta-, Iolanda, Guto, Pedro (Paraibatur), sua esposa Verona e o filho Samuel saimos de João Pessoa em 25 de abril de 2019, no voo da Gol de três horas da manhã, rumo a São Paulo e de lá pegamos outro voo para Navegantes, em Santa Catarina. Ficamos hospedados em Camboriú, que é outra cidade daquela que conheci há 20 anos. Chegamos à tarde ao hotel e saímos para almoçar e andar pela cidade. Pedro alugou uma minivan para melhor mobilidade do grupo. No dia seguinte, fomos para o Beto Carrero World e ali passamos o dia, deixando as três crianças escolherem os brinquedos e terem o dia para elas.



Na maioria das vezes, Iolanda, Pedro e Verona se uniam às crianças nos brinquedos escolhidos.Noterceiro dia, fomos conhecer algumas cidades próximas de como Itajaí, Blumenau e Pomerode, onde existe um zoológico muito bonito e criativo, pois andamos nele todo como se intera gíssemos com os animais. Tudo muito limpo e organizado.
Camboriú,
84 | Alma Viajante No outro dia ainda voltamos ao parque, pois os bilhetes valiam para dois dias. Novamente as três crianças tiveram o dia todo para elas e nós acompanhávamos.
Eu mesma só fui a brinquedos bem simples, como roda-gigante, montanha-russa in fantil e roda-roda aquática.




85 | Alma Viajante O último dia foi para andar no Barco Pirata, atração turística de Balneário Camboriú há 36 anos.





Voo TAP maravilhoso e milagrosamente vazio. A exceção foi o entojado comissário, muito bonito, mas não gostava do que fazia, talvez quisesse ser ator! Às 10h10, sobrevoando uma das cidades que mais gosto de estar pela 12ª. vez. Sol com quatro graus e muitos painéis de energia solar nos prédios. Fiquei novamente no Residencial Dublin, que estava fazendo uma reforma ótima. À tarde, fui encontrar Adriano – o amado Didi -, na bela Pastelaria Versailles de atendimento péssimo. No dia seguinte, cheguei quase atrasada (‘jetlag’, certamente) para a palestra no Mestrado em Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa, sob a condução da amável Professora Doutora Carla Baptista: “Análise Semiótica da Construção do Mito Político – Fernando Collor & Jair Bolsonaro (candidatos à Presidência do Brasil).” Os/as alunos/ as gostaram da apresentação, foi bacana a interação com todos/as. Lanchamos na faculdade mesmo.
EUROPA: PORTUGAL & RUSSIA COM ADRIANO GOMES "A verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ver com novos olhos".
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Marcel Proust Sai de Natal para Lisboa, em 14 de maio de 2019, para encontrar Adriano Gomes para algumas atividades na Universidade Nova de Lisboa e ir à Rússia de novo. Bati o recorde de uma mala compacta: 9kg e 800 gramas,para passar 20 dias. Um casal com o qual fiquei conversando, estava cada um com uma mala de 8k (reclamando porque não sabiam que podia ser 10kg!) e mais quatro despachadas. Perguntei se os dois estavam indo morar em Portugal: “não, estamos de férias!”

No dia seguinte, pegamos um avião da companhia russa Aeroflot – muito ve lho, cheio de gente e com as mais belas aeromoças que já vi, pareciam bonecas de louça! Minha mala não chegou na esteira e tivemos que ir para a reclamação, mas fomos atendidos pelo atencioso e zeloso Maxime, que encontrou a mala 15’ depois. Fomos pela Abreutour de Lisboa e ficamos no mesmo quarto do Hotel Holiday Inn, por conta dos valores. O café da manhã era sortido, gostoso e tinha frutas.
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Voltei a fazer o tour pelos metrôs moscovitas, aos famosos monumentos. No dia livre, eu peguei um bus sightseeing (Didi não quis ir) e fui percorrer a cidade, confortavel mente. Desci em poucos lugares: Old Arbat, Teatro Bolshoi, Universidade de Moscou. Á noite, fomos a um espetacular show tradicional, o Golden Ring, onde encontrei a guia Olga da viagem de 2016 pela Euro pamundo! O que mais me impressionou na apresentação folclórica foi ver as dançarinas com o “passo flutuante” – que as fazem deslizar pelo chão como se não o tocassem. As novidades para mim ficaram por, finalmente, conhecer o Café Pushkin, que sempre tem reserva com fila, mas estava livre neste mês. Decoração barroca, muito bonito e elegante, mas de atendimento péssimo e co mida horrorosa! Mas tomei o delicioso chá Pushkin e realizei um sonho, apesar de o café não ter nada a ver com meu poeta querido...O café, em verdade,surgiu de uma música de Gilberto Bécaud, “Natalie”- nome da esposa de Pushkin, que o traiu e pela qual ele morreu em duelo. Dali Didi quis lanchar no Macdô porque estava com fome! E fomos andando para ver a Praça Vermelha à noite, com algumas ruas enfeitadas e muito iluminadas.
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Fomos de trem-bala para St. Petersburgo, numa extraordinária viagem de quatro horas, depois de uma fila enorme para entrar, pois os vagões estavam lotados. Passamos por paisagens bastante verdes, na primavera, com algumas cidades industriais. Na minha cidade preferida da Europa, ficamos no Novotel – onde recebemos um aviso escrito de ameaças de bombas na cidade. E voltei aos lugares turísticos famosos com a guia Irina e o grupo com alguns/as brasileiros/as, como Marise e o Osmir, um casal gaúcho muito simpático: passamos pelo Hermitage, estátua de Pedro I, as igrejas, Peterhoff, Tsarkoe Selo (Castelo Catarina I – onde o controle é muito mais severo do que no Hermitage!) – antiga Pushkin, e onde o poeta passou a lua-de-mel-; e o túmulo de Pedro I na Igreja de Pedro e Paulo. E novamente os pisos dos castelos me deixaram encantada. Adoro pisos desenhados, mosaicos e calçadas. E fomos comer no Restaurante Vaca Russa, de comida tradicional.



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De novidade, foi pegar o metro na Avenida Nevsky (linha 5, depois minibus 232) para conhecer a Igreja Vladimir, do outro lado do Rio Neva, região mais local. E vimos o maior prédio da Europa, o moderno Lakhta Cen ter, inaugurado em 2018, que fica ao fundo do Parque dos 300 anos da cidade, com fontes coloridas, com uma praia fluvial linda, cheia de gente. Demos uma volta no modesto Shopping Peterland. O relógio de Marise de distâncias deu 15 mil e 300 passos, cerca de 10km! Conseguimos ver uma “noite branca”, quando o dia foi até 22h30 e voltou 2h. Ficamos es perando o fenômeno. A segurança do aeroporto de St. Petersburgo voltou aos tempos da KGB! Até no raio X tivemos que passar, por conta da ameaça terrorista. Em Moscou estava tudo normal.
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Chegamos a Lisboa na vitória do Sporting, pela Taça de Futebol de Portugal, e havia um trânsito enlouquecedor de torcedores buzinando e fazendo carreatas. Adriano foi mexer nas suas fotos e conseguiu apagar todas! Tive que passar as minhas para ele. Também deixei minha bolsa no café da manhã do Residencial Dublin, me dei conta meia hora depois e a en contrei do jeito que deixei. Era época de eleições e Lisboa estava cheia de outdoors de campanhas. Tomei o bus sightseeing amarelo, que nunca havia andado, é outro percurso diferente da linha vermelha. E fiquei impressio nada com o fluxo turístico da cidade: havia filas em todos os famosos monumentos e a da Pastelaria Belém tinha quilômetros! Em 2019, Lisboa recebeu 12 milhões de turistas/ano e a população do país era de 11 milhões! Isso se deu por causa da tranqüilidade e segurança urbana, dos preços menores e do clima mais ameno. Era época de eleições e as ruas estavam cheias de outdoors partidários. Eu e Didi fomos lanchar com a professora Carla Baptista, no Palácio dos Príncipes (metrô Baixo Chiado), cheio de atendentes brasileiros/as. No aeroporto de Portela, os rituais mudaram: não há mais funcionários/as, nós é que temos que fazer tudo: check in, além de pesar e enviar a mala. Práticas do capitalismo selvagem que lucra muito mais, demitindo gente, enquanto nós, clientes, ficamos sobrecarregados de serviços que eles deveriam nos oferecer!
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Curiosidades
Moscou é superlimpa, mas tem poucas lixeiras pelas ruas; só vi três homens negros, em Moscou, e nenhum brasileiro nos percursos que fizemos; não há mais pessoas lendo livros nos metrôs ou nos bancos das praças e parques – todo mundo só no celular, essa praga do século 21!; Lenin ainda é respeitado, mas Stalin foi defenestrado da História russa – foi descoberta uma carta de Lenin, na qual dizia que Stalin não poderia governar, e Brejnev fez o expurgo da sua memória (para mim,ele era um psicopata, que assassinou cerca de 15 milhões de russos/as e seus povos-satélites, nos 25 anos de governo; só no chamado Holodomor, na Ucrânia, foram mortos cinco milhões de uma vez [www.wikipdia.org); havia bastante criança em St.Petersburgo – todas lindas, louras e de olhos claros; para usar a internet na Rússia, temos que dar email e telefone para conseguir uma senha, tanto nos hotéis, como nos restaurantes e aeroporto – um ‘controle branco’; em Lisboa, há internet livre em todos os lugares; no retorno da viagem, comprei vários livros sobre a Rússia dos czares aristocráticos e dos comunistas, e da era Putin. Vi Naked Attraction, na TV portuguesa SIC Radical – reality show onde homens e mulheres solteiros buscam encontrar seu par ideal, mas se apresentam nus-, que achei bizarro.

Herman Melville Voltei a Itajubá, em 2019, para comemorar os 30 anos de magistério, ali iniciados, no Curso de Letras da Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá (FEPI). Pedi demissão da Radiobrás para acompanhar o marido Luiz Otávio para ser o coordenador de Comunicação da EFEI (primeiro nome da UNIFEI). Seis meses sem trabalhar, Luiz Otávio achou a solução: dar aulas naquela cidade universitária. Fiz a entre vista, passei e comecei uma nova e promissora fase da minha vida que me revelou uma apaixonada pelo ofício de professora. Saí do Rio, com o motorista Marcelo, que atende à família da amiga Iná Valéria, uma das “Amaretes” do Santo Amaro. Fiquei hospedada na casa da minha amiga-irmã Andrea Leal, cuja família foi a minha durante os 12 anos em que ali morei, no abrigo saudoso das memórias com seus pais e irmão/ãs. Seus pais Sérgio e Helena estiveram ao meu lado em todos os momentos felizes e/ou tristes em uma comovente solidariedade que serei eternamente grata. Há nove anos sem visitar a cidade, ela estava bem diferente e não tinha quase mais nada daquela de 1988, onde não havia sinais de trânsito, nem asfalto, nem grandes edifícios. As bici cletas predominavam na circulação urbana e eu me incorporei àquela nova mobilidade que me deu mais energia e saúde. Aquele cotidiano bucólico resultou nos anos mais felizes da minha vida, incluindo um ótimo casamento, sólidas amizades, programas agradáveis e divertidos. Fernando Pessoa estava certo quando disse que a gare a que se volta nunca é a mesma. Nós também não somos os mesmos, nem os/as amigos/as ou os lugares; contudo, os afetos que foram regados ao longo desses anos de distância ficaram nos jarros floridos de cada um/a que me recebeu com carinho e atenção.
100 | Alma Viajante ITAJUBÁ & RIO DE JANEIRO "Não está escrito em nenhum mapa; os melhores lugares nunca estão".

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Senti-me acolhida por todos/as depois de tantos anos distantes. E os reencontros me mostraram que valeu a pena ser professora porque vi em alunos/as, como Denise, Andrea, Raquel, Maria de Lourdes (Lou), Débora, Paula, Marcelo, Renato, Darlon, Giuliana, Marina e Valéria, a continuação do que comecei ali em 1989. Agradeço a cada um/a que comigo esteve para festejar.
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E foi para regar os afetos que voltei para reencontrar alunos/as que viraram amigos/ as e professores/as que fizeram a trajetória comigo, como Rita Stano, com quem dividia as noites no hotel Irradiação, o “estrela cadente”, em São Paulo, cujo tra jeto nos fazia passar pela Av. Ipiranga com a Av. São João, o tom chic da música Sampa para ficar naquele simples hotel. Estudávamos na PUC-SP e, ali pela FEPI, houve a complementação do mestrado e do doutorado, quando descíamos a bela Serra da Mantiqueira semanalmente durante sete anos. E também Márcia Conti, amiga do Depar tamento de Letras, revisora precisa da dissertação e da tese (ambas nota 10,0!), como nossos agradáveis encontros. Senti falta das minhas “fadinhas” Eraídes Rabelo e Irmã Emiliana, ambas falecidas, mas que estão vivas na minha memória e na gratidão. Na semana que passei em Itajubá, vivi momentos tão felizes que não couberam em mim: transbordaram.




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Os lugares do afeto também me deram enorme alegria: o pastel de milho do Bar do Vadinho e o caldo de feijão do Bar da Maria são imperdíveis! Algumas surpresas ainda surgiram, como saber prefeito um ex-aluno, Rodrigo Rieira; e um muito querido amigo, Marcelo Krauss, ser um vereador atuante e engajado socialmente. Além da satisfação de estar novamente com meu poeta querido, Gildes Bezerra, e sua doce esposa Sônia; da aliança feminina de reviver a cidade com Denise e de tomar café com Laís e suas amigas; do agrado de lembrar dos famosos corais da cidade com a presença da doce Marisa; da gratidão imensa a reconhecer no Santuário de Apa recida com as adoráveis gêmeas Raquel e Rejane; do contentamento de explorar mais uma vez as estradas mineiras com meu amado amigo Giovanni – e conhecer a agradável cidade -ateliê Gonçalves e comprar os famosos pés-de-moleque de Piranguinho, na volta. “Gracias a la vida que me ha dado tanto”!!!! E, “quando eu morrer, quero vi rar Minas Gerais!”, como escre veu o paraibano Gildes Bezerra. Eu também!



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Um mês depois, as amigas do Colégio Santo Amaro – as “amaretes” –se reuniram no salão de festas do pré dio do apartamento de Fernanda Viana. Como nunca havia ido a nenhuma dessas reuniões, pensei que estava na hora de ir. Saí de João Pessoa no voo da Tam, às 3h da manhã. O gentil mo torista Marcelo foi me buscar no aeroporto. A reunião foi maravilhosa, revi amigas muito queridas de uma vida em conjunto alegre e bonita. Amizade de 50 anos! O buffet estava muito gostoso e de apresentação muito ele gante. Às 17h , Marcelo me levou ao aeroporto de novo para voltar para João Pessoa. Foi uma inédita viagem “bate-volta”. Como escreveu Dostoievski, em “Noites Brancas”: “um momento de felicidade... Mas não é o bastante para uma vida Rieira – prefeito de Itajubá
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inteira?”Rodrigo




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Anônimo Eu e Ana Maria, minha vizinha do bloco A, saimos de carro rumo a Natal para buscarmos Iolanda e fa mília para seguirmos em comboio até Touros-RN. Foi a primeira viagem da Mercedes, a Miss M, que só havia percorrido a BR-230 para ir ao sítio no Condomínio Greenville, no km 61. O resort havia sido recém-inaugurado e nós ficamos bem surpresas com a beleza do lugar e a funcionalidade de tudo, com presteza, competência e educação. Fora a qualidade da alimentação, que era sempre excelen te, nos vários ambientes que oferecia. O tempo todo que passávamos na piscina, tínhamos à disposição bebidas diversas e muitos petiscos maravilhosos, como camarão alho e óleo a bambam, entre outros com a mesma fartura. A estrada até lá é muito boa (BR-101). O que mais gostei foi ver alguns dos/as nossos/as melhores artistas da MPB reproduzidos em pinturas nos salões de lazer e descanso.
108 | Alma Viajante VILA GALÉ, TOUROS/RN: COM IOLANDA, ELTO, GUTO & ANA MARIA "Não há nada melhor que uma viagem com amigos para viver histórias inesquecíveis e criar lembranças eternas!"


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Capítulo 16 De todos os livros do mundo, as melhores histórias são encontradas nas páginas de um passaporte.

Gayle Forman Novamente na GOL, indo para São Paulo, esperar 11 horas para o voo LATAM de Bogotá, Colômbia – a 2640m acima do nível do mar. Resolvi fazer um percurso sul-americano, desta vez, superando-me na bagagem: 7kg 900 gramas. Os aeroportos estavam vazios nesta época de Natal, na parte interna cional, porque a nacional estava lota da! O voo foi ótimo, bem confortável, a aduana de lá bem tranqüila, com fila de prioridade, onde fiquei com mais duas idosas. Fiquei no Hotel Morrison, bem localizado, região cheia de bares, res taurantes, lojas, três shoppings. A vista do meu quarto era a montanha andina. A tomada era de dente e eu consegui uma na recepção. O citytour foi individual, com a guia Bibiana e o motorista Marco.
112 | Alma Viajante AMÉRICA DO SUL: COLOMBIA, PERU & EQUADOR "Viajar não é algo em que você é bom. É algo que você faz. Como respirar".




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Primeira parada: Cerro Montserrate – subimos em um teleférico, para ver a cidade do alto, enquanto Bibiana contava a história da pitoresca Bogotá, toda cercada pela cadeia dos Andes. Há muitas universidades na capital e todas são pagas. A cidade é quase toda plana e de casas por causa dos terremotos. Andamos pelos bairros que outrora eram os centros do narcotráfico e que, hoje, quinze anos depois, são seguros, limpos e turísticos. Andamos pela Candelária, o bairro histórico, cheio de arquitetura colonial, muito colorido, com joalhe rias tradicionais, que visitamos e eu tomei chá de coca em uma delas, mas o único problema que tive com a altitude foi sangrar pelo nariz. E aí passamos pelo Palácio da Presidência e pela casa do Presidente, pelo Museu Botero e Museu do Ouro (por fora). Visitamos o complexo da majestosa Praça Simon Bolivar, com a Catedral, a prefeitura, o Congresso Nacional e o Palácio da Justiça – local cheio das detestáveis pombas! Havia um roteiro de compras que declinei: não faço compras (só lembrancinhas pequenas) nem levo encomenda para ninguém. No 1º. Domingo, fui à missa na Paróquia Santa Rita de Cássia e mandei as fotos para Rita. Depois fui flanar pela Rua 15 e subi pela Rua 11: muito bonitas, cheias de lojas e restaurantes bons, supermercados, bonitos



prédios residenciais. Almocei em uma lanchonete para experimentar uma arepa, uma empanada e uma yuca (gostei muito!) com suco de lulo (ruim!). Fui ao shopping Andino, grande, sortido, com Boticário, Itaú e Havaianas. Havia muitas obras nesta área. A má-fé do capitalismo selvagem e predatório se deu no hotel, onde a geladeira fica dentro de um armário, que só se descobre quando vai se colocar a roupa. Mas há garrafas d’água sobre a mesa que a gente pensa que só existem essas, então se bebe. Só que essas eram a francesa Evian e custavam 12, 90 pesos, enquanto a da geladeira, nacional, custava 5,90 pesos! Parece bo bagem, mas vejo como ganância e esperteza. Enquanto isso, a sociável e doce Bibiana ia relatando sua pobre vida de mãe solteira, morando com a mãe que a controlava etc.. Disse-lhe apenas que precisava reagir, procurar sua independência (aos 42 anos!), e dei-lhe US$15 de gorjeta.
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Os voos são todos de madrugada: é um incomodo enorme porque cansa muito. Em Cartagenas das Indias – no Mar do Caribe - tudo era exuberantemente lindo, colorido, solar. Vinte e oito graus e a cidade cheia de turistas. Fiquei em um hotel-butique, Casa La Factoria, com atendimento excelente feito pelos proprietários, um casal jovem e dinâmico. Gostei do sistema do café da manhã, sem aquele buffet horrível cheio de gente em cima: cada mesa anotava seus pedidos e recebia uma bandeja com o serviço. Encontrei um pequeno bistrô com empanadas e sopas muito gostosas e o genuíno suco de laranja – foi ali que fiz minhas refeições. E andei bastante por aquelas ruas de para lelepípedos estreitas tão fascinantes, com suas sacadas cheias de flo res, com as ‘baianas’ coloridas vendendo frutas nas esquinas. Tudo se concentrava em poucas ruas, como a radiosa Praça San Pedro Claver, a imponente Praça San Domingo e a modesta Catedral Metropolitana. No Parque Bolivar, sentei-me em um banco e fiquei apreciando a mobilidade urbana, tirando fotos – e um guarda se ofereceu para ti rar uma foto minha. O tour da Agência Gema foi pelas cidades velha e nova: as imponentes muralhas, a Torre do Relógio,o importante porto, as Bovédas – com as lindas ‘baianas’ também-, a Candelária, o Forte S. Filipo (que não subi porque preferi ficar sentada embaixo, vendo o mo-



116 | Alma Viajante vimento), Convento Santa Cruz de La Popa – com a vista panorâmica da cidade-, Mercado de Artesanato, a Praça das Botas Velhas, o Museu Naval, as praias que pensei de mar mais cristalino, a Casa do famoso Festival de Cinema. Adorei essa bela cidade caribenha de povo bonito e muito amável. O magnífico ano de 2019 se encerrava e eu comemorei com um jantar mais cedo no mesmo bistrô (quando gosto de algo, não corro riscos!) e esperei os fogos pela TV no meu gostoso quarto de hotel. Melhor impossível, pois este é meu jeito de ser. Há cinco anos me livrei dessas festas de fim de ano, dando-me viagens diversas para estar comigo mesma.




No aeroporto, os “pequenos poderes” se manifestaram na figura de uma senhora mal-humorada que abriu minha nécessaire ensacada com zíper para pegar minha tesourinha sem ponta (padrão internacional para viagens!) dentro de outro saco com zíper! Falei que ela já havia passado pelas aduanas de Dublin, Moscou, St. Petersburgo, Bal cãs – países que têm um controle enorme -, só para irritá-la também.
Na encantadora Lima, fiquei no aconchegante Hotel Andina, de café da manhã bem gostoso, pouca gente, também no modelo ‘bandeja a La carte’. Achei isso tão civilizado! Fui à missa na bonita Igreja da Medalha Milagrosa, a 5’ do hotel. Peguei um bus sightseeing (de 4 horas) para conhecer uma das maiores cidades sul-americanas, à beira-mar do Pacífico (só fica atrás de São Paulo e Cidade do México). O ônibus passou pelos principais pontos turísticos da cidade que foram repetidos pela agência de turismo no dia seguinte, quando desci para andar pelos lugares. Vamos a eles: Paseo Colón e Paseo de los Heroes Navales, na Praça Miguel Grau – com flores trabalhadas em forma de âncoras; Parque de La Muralla – construída em 1684 a 1686, para defesa de ataques externos, às margens do Rio Rimac -; Casa de La Literatura Peruana – localizada em uma antiga estação ferroviária, é um centro cultural do Ministério da Educação desde 2009; Plaza Mayor (1533) –de arquitetura espanhola-mourisca, marco zero da cidade,com o Palácio do Governo, a Catedral de Lima e o Palácio da Prefeitura -; o Mercado de San Isidro – pequeno, modesto, mas variado; a Universidade Nacional Maior de São Marcos – a mais antiga do continente americano (1551), é pública e tem origem na Ordem de Santo Domingo -, Pablo Neruda e João Paulo II são seus “doutores honoris causa”; o agitadíssimo malecón do bairro Miraflores; o Parque do Amor - inspirado em Gaudi -, à beira-mar do belo bairro Miraflores, com a exótica escultura ‘O Beijo’, do peruano Victor Delfin; o Parque Kennedy (‘parque dos ga tos’), com os bichanos-protagonistas da paisagem; o Larcomar – shop ping aberto, com vista para o mar de Miraflores – eu ia a pé do hotel para a beira-mar-; Rádio Nacional Del Peru, na Avenida Petit Thouars, 447 – a 1ª emissora do país (1925); e o boêmio bairro Barranco, com a
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118 | Alma Viajante “Ponte dos Suspiros” (1876) – o local é muito bonito, folclórico, original, mas lotado de gente e a caminhada foi de esbarrões! Dia seguinte, a excursão foi, pela manhã, ao Museu e sítio arqueológico dentro de Lima, Huaca Pucllana– ruínas pré-incas-, que é formado por uma grande pirâmide de barro e fica no distrito de Miraflores, e datam de 200 a 700 d.C.. Nem descemos.






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De lá, para as catacumbas e Museu do Mosteiro de São Francisco. Relutei em entrar porque sou claustrofóbica, mas fui para ver ossos e similares de sacerdotes e ricos habitantes da cidade, em um desfile mórbido e de mau-gosto, de estreitas passagens, só válido por acabar no belo pátio central do Mosteiro. Eu também consegui entrar na Igreja que estava fechando e ela é um primor do barroco espanhol, e é Patrimônio Histórico da UNESCO. A Biblioteca estava fechada. Nesta excursão não havia socialização coletiva. Gente esquisita! À tarde, uma guia exclusiva e o motorista me deixaram para almoçar à beira-mar, sozinha, e voltaram às 15h, para me levar ao Museu Larco, situado em um bairro de bonitas casas tradicionais com esmerados jardins. Não gosto mais de entrar em museus e perder tempo vendo peças que não me interessam mais, pois já conheci os museus que eu queria no mundo. Contudo, acompanhei a gentil guia para ver um acervo de 30 mil peças colecionadas pelo senhor Rafael Larco das suas expedições arqueológicas. Anexa, havia a exótica coleção de arte erótica pré-co lombiana, que achei genial! Valeu a visita!



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Em Quito (a 2850m de altitude), depois de um voo ótimo da LATAM. É a primeira cidade do mundo a ser declarada Patrimô nio da Humanidade. Foi o único aeroporto que tinha braço para o desembarque! Fiquei no hotel-boutique Marquiz (Pte. Wilson ES-29): uma casa bonita, fami liar, acomodação desconfortável, mas bem localizada. Só valia pela cama enorme! O primeiro dia foi de chuva, mas saí de guarda-chuva que sempre carrego na mala e fui desbravar os arredores e, depois, tomar chocolate quente com crepe de queijo em um Café defronte do hotel. Nas andanças, o que mais vi foi igreja. Tive que ir para outro hotel perto do meu para pegar a excursão, que saiu em um lindo ônibus-vintage vermelho da Gray Line.




A guia antipática e nada satisfeita com seu ofício nos levou para o Centro Histórico, patrimônio da UNESCO, e entramos em quatro igrejas e, em duas, pagamos para vê-las, como a da Companhia de Jesus. Todas cheias de ouro e de decoração rebuscada. Andamos pela Praça Central, onde ficam o Palácio do Governo – todo protegido por arames por conta dos protestos contra o aumento das tarifas da gasolina -, a Prefeitura e a Basílica, que estava fechada. Fomos para a Praça de São Francisco – foi a primeira área comercial da cidade, local da mais antiga igreja da cidade, a São Francisco, onde os pobres esperam na porta por comida duas vezes ao dia. Subimos no Mirador de Pane cillo para ver a linda imagem da Virgem Alada, a padroeira de Quito, e onde se tem uma panorâmica da cidade embaixo. Fomos ao Museu da Cidade, que não tinha nada de especial. Outro guia bem simpático, apesar de confuso, levou-nos para a Metade do Mundo – monumento que marca a divisão da Terra nos dois hemisférios (1776). É um super complexo turístico bem-organizado, bo nito e...lotado, por supuesto! Afora a polêmica de a latitude 0º0’0’’ estar acerca de 200m de onde passaria, de fato, a linha do Equador, o lugar tem uma magia e um chamamento à grandiosidade do Planeta em que vivemos. Em outro dia de tour só para mim, a antipática guia voltou com um motorista para me levar para o Parque Cotacachi e Otavalo.
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A estrada (E-35/Panamericana) era muito boa e levamos 4h30 para ir e voltar, fora os passeios – foi praticamente o dia todo. No caminho, paramos no Pan de Yuca para experimentar o delicioso alimento nativo, e no Mira Largo Restaurante só para tirar fotos e ir aos baños. Havia as cidades das fazendas que cultivam rosas – conhecidas como as melhores do mundo e é a terceira fonte de renda do país. Os EUA e a Rússia são os maiores compradores. O Parque Nacional de Cotacachi-Cayapas é onde fica o terceiro vulcão mais ativo e mais alto do mundo, pois o seu cume fica a 5.897m de altitude! A última erupção foi em 1904. Ele já destruiu a cidade de Latacunga duas vezes. Há cer ca de 80 vulcões. Em frente ao Cotacachi está o Vulcão Rumiñahui e logo abaixo desse a linda lagoa Limpiopungo. A cidade de Cotacachi é sem atrativos, apesar de ser o centro de couro do país – achei tudo muito cafona. Na região, a maioria das mulheres veste o traje indígena e carrega os filhos pequenos nas costas. Notei alguns/as vellhinhos/ as andando descalços/as naquele frio danado. Fomos ainda a Otavalo – onde habita o grupo indígena Otavalo, na província de Imbabura -, que é uma cidade-feira-indígena muito sortida, colorida e alegre – é o maior mercado da América do Sul e centro têxtil do país. No restaurante que almocei só tocava bossa nova. De volta a Quito, andei pelo bairro Mariscal Sucre – o “bairro pop” da cidade -, onde fui à missa na Paróquia da Santíssima Trindade, perto do hotel, depois caminhei até o Parque El Ejido – onde tinha uma feira de artesanato e grupos de música-, passando pela badalada Plaza Foch e pelas lojas de artesanato da Avenida Rio Amazonas (achei o máximo o nome!), na volta.




Curiosidades Em Bogotá, na época do narcotráfico, se mulheres ficassem nas ruas sozinhas, poderiam ser vítimas de assaltos e estupros coletivos; se houvesse turistas sós nas ruas, aparecia uma gangue e levava tudo, às vezes, deixava-os nus!; havia, agora, muita segurança privada nas ruas, nas lojas e nos shoppings com cães nas coleiras; nos shoppings, eles cheiram nossa bolsa para entrarmos; os cães, na capital colom biana, entram em todo lugar; os prédios de tijolinhos são herança da colonização inglesa do século XVIII e Bogotá tem o segundo maior conjunto deles depois de Londres; o que me incomodou em Cartagena foi ver esgoto escorrendo pelas calhas de algumas ruas – irrompia meu preconceito latino de higiene! -; a maioria das cidades dessas capitais que andei tem arquitetura semelhante à do Brasil colonial, art déco e esquadrias e vidros; no voo TAM São Paulo-João Pessoa, o piloto pediu a atenção dos/as passageiros/as para dividir a sua emoção de estar pilotando o avião que seus pais eram passageiros pela primeira vez com ele como comandante. Era paraibano e agradecia aos pais pela formação que lhe deram com todas as dificuldades de uma vida simples e humilde. Chorei muito! Que Deus o abençoe sempre!
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São bem diferentes, mas cada uma em suas peculiari dades atraiu minha atenção e despertou emoções identitárias pelos/as hermanos/as de história similar, cuja única barreira é a língua.
De todas as cidades visitadas, as minhas preferidas foram Cartagena das Indias e Lima. As duas são realmente turísticas porque têm atrativos interessantes, bons restaurantes e bares, povo alegre e festivo, e seus complexos turísticos são convidativos, bonitos e bem-estruturados.

Capítulo 17 Felicidade é poder estar com quem você gosta em vários lugares.

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PEQUENAS VIAGENS DA PANDEMIA: NATAL & SANTA CATARINA "Onde quer que você vá, vá com todo o coração".
Confúcio Com seis meses de pan demia do corona vírus, sem fa zer nenhuma viagem até então, reservamos um pacote na Paraibatur, para o Wish Natal Resort, a fim de comemorar meu aniversário. Fui com Carlos Al berto, o “marinheiro-gigante-gentil”, de carro, e aproveitamos bastante as instalações do agradável hotel, que respeitava todos os protocolos higiênicos e que estava com capacidade de hospe dagem bem reduzida – havia poucos hóspedes. A maior mudança foi no café da manhã, onde escolhíamos o que comer e o funcionário servia e levava a bandeja para nossa mesa (só vi esse serviço, que achei ótimo!, em Cartagena das Indias, na Colômbia, e em Lima, no Peru). Também não podíamos receber visitas. Saíamos todos os dias para andar pela cidade, para ir a shoppings e às praias, que ambos já conhecíamos bastante porque moramos ali naquela gostosa cidade. No dia do meu aniversário, fomos comer pizza com Iolanda, Elto e os filhos Yasmin e Augusto.


Em janeiro, viajamos para Florianópolis, onde Carlos Alberto mora. Saíamos quase todos os dias para fazer as refeições e para andar pela cidade, apesar dos muitos dias chuvosos. Mesmo assim, sempre íamos para o Centro de Floripa para comer pastel no Mer cado Público Municipal e visitar museus e igrejas; ou andar pela via costeira até a Ponte Hercílio Luz para atravessá-la. Também gostávamos de ir à charmosa Santo Antonio de Lisboa – o bucólico “cantinho” português-catarinense - para flanar nas suas ruelas de pedras, comer ostras frescas com cerveja artesanal (SC é o maior produtor de ostras do país), curtir a mansidão da praia, ver a Feira de Artesanato – a Feira das Alfaias -, e andar até a vizinha praia de Sambaqui. Loessa herança açoriana me fez recordar o belo arquipélago dos Açores com algumas semelhanças bem interessantes.
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hortaliças”
Para comemorar o aniversário de Carlos Alberto, viajamos, de carro, para lugares catarinenses que eu queria conhecer há muito tem po. Deixei o roteiro por conta dele e foi excelente. Seguimos para São Bonifácio – que fica na Grande Florianópolis, a 1h40 da capital -, onde apenas paramos para dar uma volta pela cidade porque seus pontos turísiticos principais são cachoeiras. Eu não gosto muito de cachoeiras e com chuva...Mas a pequena cidade é um encanto, toda cercada de morros, com um casario estilo chalés alemães ou suíços floridos e bonitos – a chamada arquitetura enxaimel. A cultura alemã é muito forte e a metade dos seus moradores fala alemão. Lá é um dos maiores produtores de mel do país e o pão de milho está presente na mesa dos seus habitantes, cotidianamente, conforme conversa com locais. De lá, fomos para Urubici, a três horas da capital. Além de ser uma das cidades mais frias e estar no ponto mais alto do Estado, é a “terra das e do cultivo de erva-mate do famoso chimarrão. O tempo continuava chuvoso e tudo que vimos ali teve chuva e neblina como cenários. Visitamos o Morro da Igreja e a Pedra Furada, Cascata Véu da Noiva, o Parque Nacional e a Serra do Corvo Branco.
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Carlos Alberto resolveu pegar uma estrada de terra para irmos para São Martinho. Apesar de eu não gostar nem um pouco de andar na terra, a estrada era de paisagens bucólicas e verdejantes! O santo que nomeia a pequeníssima cidade também tem origem alemã e ali tudo remete à cultura germânica, também com casas de estilo enxai mel. Ficamos no aconchegante complexo Pousada Deutches Haus e Restaurante Fluss Haus – pousada e café colonial um defronte do outro, também de origem alemã. A estada foi apenas para desfrutar daqueles lindos ambientes, cujo dono da pousada era muito simpático e atencioso. Ali o sol apareceu e foram dias de muita luz e de friozinho agradável.




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Seguimos para Laguna – a cidade da “Guerra dos Farrapos” -, passando por Imbituba – capital na cional da baleia branca. Achei ambas cidades praianas muito sem graça, não vi nada que me enchesse os olhos. Foi uma frustração! Ficamos hospedados em Laguna, onde encontramos a doce Rose que passa o dia no seu restaurante familiar Arantes e, depois, Wilson Schwirk, seu ex-marido, no apartamento que os dois ainda dividiam até sua venda. Como sempre, demos voltas pela cidade de carro; e a pé, caminhamos no calçadão da Praia Mar Grosso e no calçadão do Cais,no Centro Histórico, onde está o letreiro da cidade e as instalações de golfinhos, que são muito vistos nas praias da cidade, onde chegam a ajudar os pescadores a pegar peixes. Também fomos no Morro da Glória, que é o local mais alto da cidade com 126 metros. É um mirante cercado de muita vegetação, sendo área de preservação ecológica. A estátua da santa tem oito metros e foi construída em 1953.







133 | Alma Viajante A GRANDE VIAGEM DA PANDEMIA: NORDESTE COM DAVID, JAMILE, EDLEUDA, MARTHA & SILVANO "Uma jornada é melhor medida em amizades do que em quilômetros".
Tim Cahill
Em um almoço casual na casa dos amigos Martha e Silvano, no Greenville, quando Jamile era minha hóspede e David o convidado habitual do casal, a conversa girou em torno da viagem que Silvano teria que fazer para São Luís. Edleuda já era a convidada da amiga de infância Martha. En tão, tive a ideia de me agregar ao comboio e David também aceitou. Convidamos Jamile e o grupo se completou: em dois carros, o Delta-Ônix de David e o Jeep de Silvano, seguimos no dia 12 de fevereiro para uma aventura maravilhosa que foi uma das melhores viagens que já fiz na vida! O roteiro de ida foi traçado pelo querido casal, com exceção da hospedagem em Teresina, terra de David. Às 6h15 de uma sexta-feira, saímos do Greenville para pegar a BR-230, à porta do condomínio, para Serra Talhada-PE. Eu já havia feito esse percurso há alguns anos. No caminho, passamos pela pequena cidade de Boa Vista-PB, onde há a Escola Municipal Severi no Tavares da Silva. Passamos pelo Rio Taperoá totalmente vazio. Que tristeza!


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Na aprazível cidade pernambucana, ficamos hospedados no ótimo Hotel Felipe, reservado pelo casal. Almoçamos na Churrascaria Speto, dentro do hotel. Descansamos à tarde e saímos todos juntos para visitar a cidade. Depois de o casal resolver algumas coisas no banco, seguimos para o Shopping Serra Talhada para tomar um chopp maravilhoso que brindei com todos/as. À noite, jogo de buraco no hotel. Para variar, Edleuda e David ganharam contra mim e Martha! Foi 4700 x 2760. Os dois jogam juntos porque são os campeões do jogo e não gostam de perder. Eu jogo para me divertir e não me importo se ganho ou não. Quero é aproveitar o jogo de qualquer maneira! Dia seguinte, eu e Jamile, duas virginianas, já estávamos prontas no lobby, às 8h45, para o café da manhã, aguardando David.





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Seguimos todos/as juntos/as para a bela Triunfo-PE, uma das cidades mais lindas que conheço no mundo! Já estive lá duas vezes, essa foi a terceira, e ela sempre fica melhor. Vivam os prefeitos! A arquitetura da cidade é, em grande parte, art déco muito bem cuidada. No portal da cidade, para mos todos/as para tirar fotos, bien sûr! Quando estacionávamos na cidade, um rapaz que fazia tour pelos pontos turísticos se aproximou, ofereceu o serviço e aceitamos. Fomos, em uma estrada de pedras assentadas e terra bem irregular, para o Pico do Papagaio, a 8km do Centro - é o ponto mais alto do Estado, com 1260m de altura, e também o mais alto do Nordeste. Eu fui na frente com o guia-motorista. De lá, vê-se algumas cidades da PB e de PE, e tem uma vista espetacular da natureza exuberante. Há duas lojinhas de apoio ao turista – com atendentes muito simpáticas -,com produtos da terra, e compramos café orgânico, licores e doces de laranja – especialidade do local. Só nós, de turistas. Que pena! O nordestino precisa descobrir o Nordeste!




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A Furna dos Holandeses (ou Furna da Lage), segundo ponto do tour, é uma caverna pequena e sem graça. Eu e Jamile resolvemos voltar antes do grupo e... quase nos perdemos! A lenda conta que algumas famílias de holandeses ali se abrigaram, fugidos da Batalha dos Guararapes, em Recife, no século XVII, quando os holandeses foram derro tados pelos portugueses; contudo, não há nenhuma prova desse fato... Na Cacimba de João Neco, um poço com 25m de profundidade, eu, Jamile e David não descemos a ribanceira para ver. João Neco também construiu um túnel transversal ao poço que dava na nascente do lençol freático para facilitar a retirada da água. A família – supersimpática –ainda vive no local, e é para quem se paga o ingresso ao poço.





Almoçamos uma peixada em um restaurante muito agradável – o Peixe Vip. De lá, fomos para o teleférico do SESC. Uma novidade para mim, que não anda em teleféricos...Eu e Jamile atravessamos o açude da cidade - e que é seu cartão postal - em um balanço bem seguro. Fomos conversando sobre cair ali naquela água toda e morrer. Va mos para aonde? Eu disse que para lugar nenhum e ela discorreu sua teoria de outras vidas. Na volta, deixamos o grupo no hotel – todos/as cansados/as - e fomos para o Shopping Serra Talhada, de novo, com Jamile ao volante do Delta. Lanchamos por lá. Na saída de Serra Talhada-PE, nas estradas BR-232 e BR-316, havia muitas homenagens a pessoas que ali faleceram. Eu os chamo “os mortinhos das estradas”. Uma cultura muito interessante – e um pouco mórbida - de manter a memória do ente querido no local da sua morte. Estavam perto das cidades pernambucanas de Salgueiro, Parnamirim, Ouricuri e Trindade.
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A parada em Picos –PI foi só para almoçar no Restaurante Varanda, com excelente carne de sol. Um calor enorme! Havia umidifica dores de ar pelo restaurante todo. A estrada para lá – a BR-316 – estava ótima. Lembrei-me, claro, da primeira vez que passei ali com minha família, na década de 60, e a estrada estava sendo feita pelo Exército. Há um Batalhão de Construção ali. Em Picos, tem uma unidade da Universidade Estadual do PI (UESPI).
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Partimos dali para Oeiras, primeira capital do PI, que eu queria conhecer e David convenceu Silvano a sair da rota. O problema ficou por conta da estrada estadual que pegamos, a PI 236, toda na terra, com muitos buracos – estrada de produ tores de soja . Os 85 km de distância ficaram dobrados! Oeiras é uma “pérola nordestina” – linda cidade, com seus casarões em colonial português e muitas casas em art déco – arquiteturas tipicamente nordestinas-lusitanas, minhas preferidas. É o “berço da civi lização portuguesa no Piauí” (Wikipédia). A cidade foi tombada pelo IPHAN, em 2012, tendo seus conjuntos históricos e paisagísticos como Patrimônio Cultural Brasileiro. Lá também tem uma unidade da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).Demos apenas uma volta pela cidade para dizer que a conhecemos. Só paramos para tirar fotos. A estrada de Oeiras para Regeneração, para pegar a BR-316, também estava toda esburacada e foi um trajeto bem ruim. Edleuda, bem-humorada, disse que se eu estivesse com meu carro ali naquela péssima estrada, certamente eu o levaria na cabeça para fazer a travessia!




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143 | Alma Viajante Chegamos em Teresina-PI, às 19h30, e lanchamos em uma padaria-bistrô em frente ao Hotel Palácio do Rio, na Avenida Ininga, Bairro Joquei. Ali Edleuda ficou no quarto comigo e Jamile. As conversas foram animadas! David nos levou para dar uma giro pela cidade, que é outra bem diferente daquela que conheci há 55 anos, claro! Foi uma grata surpresa, pois a capital piauiense se tornou uma grande, ampla, moderna e bonita cidade. No dia seguinte, saímos cedo para ir à granja do irmão de David, Eugênio Fernandes. Foram todos/ as andar pela propriedade, mas estava um dia chuvoso e eu estava de sandálias. Então, fiquei conversando na varanda com a amável cunha da de David, a Ieda. Quando o grupo retornou, ela arrumou uma mesa de lanche farta que tinha coisas saborosíssimas, como o bolo de caroço que adoro! Além de bolo de goma e de laranja, com sucos de bacuri, açaí e manga de bico.Tomei suco de bacuri e gostei muito. Pessoas hospitaleiras e gentis. De lá, seguimos para o mercado de artesanato,onde comprei uma sandália. Vendedoras muito atenciosas. Saímos para o mercado de cerâmica – muito feinho e pobrezinho. Depois fomos para o Restaurante Flutuante, onde se vê o encontro dos rios Poti e Parnaíba. Um espetáculo! Ali nos sentamos para apreciar a natureza grandiosa e abundante, e comemos umas deliciosas piabinhas com cerveja estu pidamente gelada! O lugar é bem bucólico e harmonioso, pois fica no Parque Ambiental Encontro dos Rios.


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Neste dia, ainda fomos almoçar um capote no Restaurante O Casarão, no Bairro de São Cristovão. Maravilhoso! De sobremesa, o sorvete do 50 Sabores do Raimundin, o criador, que morreu em 1988, aos 40 anos, e fundou a sorveteria em 1975, no Bairro de Fátima. Tomei um de ovomaltine sem os flocos! David também queria comer um doce de bacuri na La Patisserie Favorito, no mesmo bairro, e nós o acompanhamos. Voltamos lotados/as de comida! Foi um dia excelente de testes gastronômicos. David aprecia culinárias diversas e é um bom gourmet. Fazia questão de nos apresentar novas iguarias. Enquanto isso, Edleuda irradiava seu bom-humor e animava todos os ambientes que ficávamos. Só as mulheres resolvemos ir ao Shopping Riverside a pé, pois ficava a um quarteirão do hotel. Foi ótimo! Obviamente fizemos compras! Lanchamos com David na padaria-bistrô em frente ao hotel.
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146 | Alma Viajante E a grande emoção da viagem ocorreu naquela noite, quando o irmão de David, Eu gênio, chegou com Ieda, trazendo uma bicicleta Philips, de 1944, que era do pai deles. Fiquei comovida com a gentileza de um irmão ao outro, de trazer um bem da memória afetiva dos dois. Fecho de ouro para um dia tão especial!




Saímos da cidade pela Ponte Metálica João Luis Ferreira, sobre o Rio Parnaíba, e que liga Teresina a Timon, no Maranhão. Ela foi a primeira ponte construída no Estado, em 1939. Foi declarada patrimônio cultural brasileiro pelo IPHAN, em 2008. O Piauí foi o primeiro estado brasileiro a receber uma ação integrada de tombamento de seu patrimônio, e aprovou a proteção de bens materiais que se tornaram patrimônio cultural brasileiro, como a ponte metálica (Wikipedia). Ficamos esperando 15’, pois a sua passagem é liberada a partir das 8h. É uma obra muito bonita e portentosa. No caminho para São Luis-MA, em Alto do Maranhão, a gente se perdeu de Silvano, que corria mui to (BR-135, muito ruim). Assim, acabamos parando em alguns lugares para comprar mel e comer bacuri, que eu gostei bastante, apesar de não gostar do doce. Em Santa Rita, terra da farinha maranhense – a ‘farinha d’água’ amarela, de mandioca -, compramos alguns sacos da melhor farinha do mundo.
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Entramos em São Luís-MA, minha terra não-amada, com chuva. Meu dia preferido é o nublado, como pegamos em Teresina-PI, mas a chuva resolveu ficar na minha cidade natal. A BR-316 estava muito boa. A viagem foi tranqüila. Muitas plantações de babaçu, palmeira típica daquela região meio-norte. Era terça-feira de carnaval, mas com pan demia, era um dia igual aos demais...Foi algo inusitado não ver grupos de Fofões pelas ruas das cidades maranhenses naquele dia. Ficamos no Hotel Abbeville, no Bairro de São Francisco, por indicação de Martha. Eu, Jamile e David almoçamos no Restaurante Cabana do Sol, no Farol. Comida excelente: panelada de camarão e patola de caranguejo, com um delicioso creme de bacuri de sobremesa. E tomei Guaraná Je sus, com certeza! O hotel era perto da casa de Márcio, meu primo, que foi buscar a mim e Jamile para um passeio à noite. Foi esplêndido! Andamos pela cidade toda que está muito bonita à noite, com iluminação colorida em vários monumentos, prédios e no magnífico Palácio dos Leões, sede do Governo. Um relógio de rua marcava 19 graus. Uau! Márcio comentou que nunca havia visto isso em São Luís! Passamos na casa dele para ver a esposa Márcia e conhecer Toby Henrique e Garrincha Henrique, cachorrinho e gato (de patas brancas) do casal. Quando passamos na Rua das Hortas, onde vô Kilito morava e onde vivemos tão bons momentos de infância e adolescência, paramos para visitar a prima Sandra, irmã de Márcio, que mora ali agora. A Vila Cristália (nome da bisavó) é um conjunto de casas que o bisavô paterno Tavares construiu para os seis filhos, então em um bairro nobre (Remédios), hoje está em um bairro decadente e de ruas vazias de casas abandonadas. Uma tristeza! Fomos à Praça dos Poetas, no Centro Histórico, perto da Igreja da Sé e do Palácio dos Leões. Foi inaugurada em 2020. Lá tem um mirante com vista panorâmica para o Rio Anil e a Ponte de São Francisco, e proporciona um estupendo por-do-sol, quando há sol... Uma justa homenagem à profícua arte literária da “Atenas Brasileira”. São homenageados/as dez escritores/as e poetas maranhenses: Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Gonçalves Dias, Maria Firmina, Dag mar Destêrro e Lucy Teixeira. Para mim, faltaram três dos melhores de todos/as: Aluisio Azevedo, Graça Aranha e Josué Montelo. Certamente,

149 | Alma Viajante estes eram desafetos de quem promoveu a celebração... Coisas by Brazil! Passamos pela Igreja São João Batista, onde fui batizada; na casa que a bisavó paterna Carolina morava na Rua da Paz, 116, e hoje é a loja dos Armazéns Paraíba; no Ceprama – Centro de Artesanato -, antiga fábrica de cânhamo do bisavô paterno Almir Neves; na Rua do Sol, para ver o casarão azulejado do século XIX, que foi dos avós de Márcio, Haydée e Alexandre Colares Moreira, que adquiriram a morada da família de Aluisio Azevedo (no mirante, ele escreveu O Mulato) – ali passamos férias divertidas, quando ficávamos nas janelas vendo a cidade passar nos finais de semana e nos carnavais. O imóvel é tom bado pelo DHAP/MA e foi restaurado em 2018. Foi uma noite maravilhosa!



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Na quarta-feira de cinzas, eu, Jamile e David fomos novamente andar pelo Centro Histórico, e ainda pelo Projeto Reviver, que abriga um conjunto de imóveis de arquitetura colonial portuguesa, com seus famosos azulejos. Ali estão várias lojas de artesanato, de culinária local, do sorvete de côco na lata etc.. ; contudo, este acervo fantástico está bem abandonado. A chuva também não ajudou a ver o local melhor. O maior prédio em azulejos do país, o Solar São Luís, hoje é uma agência da Caixa Econômica Federal, que o comprou e restaurou, pois estava deteriorado. Infelizmente, muitos outros estão em condições deploráveis...É uma pena, pois a capital é considerada a “cidade dos azulejos”. Além de tudo, São Luis é Patrimônio Cultural Mundial pela UNESCO, desde 1997, por ser um exemplo de cidade colonial portuguesa (apesar de ser a única cidade brasileira fundada por franceses); portanto, os governos do Estado eram para ser cuidadosos com seu precioso acervo arquitetônico e paisagístico. A chuva não deu tréguas, mas voltamos à Praça dos Poetas e à Praça Gonçalves Dias, no Bairro dos Remédios (o mesmo da vila do meu bisavô) – ali brinquei muito com os/as primos/as e amigos/as do bairro. Quando eu era feliz e... sabia. Ainda sei!




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153 | Alma Viajante Nesse dia, fomos almoçar na Cabana do Sol, da Avenida Litorânea, na praia do Caolho – nunca soube que se chamava assim! Na praia de São Marcos havia vários navios lá fora, no oceano. Fiquei impressionada com a quantidade deles. É onde fica o Porto de Itaqui, que tem uma das maiores amplitudes de maré do país, podendo chegar a mais de sete metros. É o sexto porto público em movimentação de carga: é um importante corredor logístico para o Centro-Oeste do Brasil (Wikipedia). Deixamos David no hotel e fomos para o Shopping São Luís, ver a exposição do meu darling Leonardo da Vinci, bem interessante! Na quinta-feira, saímos eu, Jamile e David, às 7h, rumo a Barreirinhas, para conhecer os Lençóis Maranhenses. Edleuda, Martha e Silvano ficaram na Ilha. Foram quatro horas de viagem (BR-402). Vários trechos da estrada estavam cheios de buracos: é caminho turístico, um dos mais importantes do país...É realmente inexplicável e... lamentável! Na região, tem uma cidade chamada Buenos Aires, que fica na zona rural de Caxias. A cidade de Barreirinhas é um caos total: transito desordenado, motos e carros sem nenhuma preocupação com direção correta, estacionamento e afins, juntamente com pessoas atravessando sem cuidado e animais soltos. Uma cidade horrorosa! Ficamos no Hotel Orla Náutica (sugestão de Márcio), cuja proprietária é a atriz Glória Pires (uma das minhas preferidas). Só havia nós três hospedados ali. O lugar era lindo, às margens do Rio Preguiças, com uma área verde grande, mas muito maltratado...A gente fez as refeições no Porto Preguiças Resort, defronte da pousada. Um lugar incrível, com uma cozinha ótima e atendimento impecável. Chegamos às 11h, almoçamos e, às 14h, pegamos o tour para os Lençóis. Quando entramos na cidade, um motoboy nos abordou para vender o pacote e nos levou na agência e, depois, na pousada. O passeio foi em uma jardineira Toyota. Durou 40’ para chegar lá, em uma estrada horrível, no meio de restinga apenas e muito cajueiro. Eu fui novamente na frente com o motorista-guia e não sofri tanto quanto os/as outros/as turistas,incluindo David e Jamile! Lá tivemos que subir uma escada de uns 20 metros e, depois, uma corda. Cheguei quase estrebuchando as

154 | Alma Viajante pernas! Mas a visão daquele belo cenário natural me encheu de emoção e eu fiquei impressionada diante de tanta magnitude: uma epifania da natureza. Realmente deslumbrante! Muito mais bonito que o deserto de Saara, no Egito, e o deserto de Margan, em Dubai. Pena que seja em um lugar tão mal administrado, em uma cidade suja e caóti ca. A família vampiresca, que governou o Estado por mais de 50 anos, deixou-o em situação falimentar. Dommage! Todos os trajetos rodoviários pelo Maranhão eram de pobreza, feiúra e imundice. Segundo o IBGE, “é o estado onde mais brasileiros vivem em extrema pobreza: 1,4 milhão de pessoas” (G1, Globo,03/03/2021). Por isso, não gosto de lá e rejeito minha origem. Eu sou paraibana de coração e costumo dizer que nasci em João Pessoa! Como Gertrude Stein – “eu nasci na América, mas meu lar é Paris”-, eu também escolhi outra terra para amar. Jamile e David foram para as piscinas, mas eu fiquei só olhando, pois não agüentaria mais subir e descer as enormes dunas bem fofas. Não tenho mais joelho para isso...Fiquei admirando aquela obra de Deus, sem dúvida! Invadiu-me uma serena felicidade. E, felizmente, a chuva deu uma parada para a gente poder apreciar aquele momento mágico. Tivemos sorte com o tour porque a nossa pousada era a última a pegar gente na ida e a primeira para deixar na volta. Edleuda e Martha foram para os Lençóis de taxi. Não conseguimos nos encontrar...Em Araioses-MA, havia uma Escola Municipal José Maria Tavares da Silva, a segunda nesta viagem com meu sobrenome.



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156 | Alma Viajante Seguimos viagem para Parnaíba-PI, para visitar o Delta do Piauí. As estradas estavam boas, com poucos trechos ruins. Mas David não tinha pena do carro dele, o Delta – um carro bem corajoso, inclusive! Ficamos hospedados no bem-cuidado Hotel Arrey Beach, na fronteira Parnaíba-Luis Correia. A recepcionista nos sugeriu o Bar do Carlitos, na cafona praia do Coqueiro. Lugar cheio, comida horrível...Só a cerveja era bem gelada. De lá, fomos ver o Cajueiro Rei, a 50 km (PI-116). É o maior cajueiro do mundo, maior que o da Praia de Piran gi, em Parnamirim-RN, em 300 m². Belíssimo, majestoso, mas fica no meio do nada, sem ninguém, lugar inóspito e...assustador. Eu fico arrasada com esses descasos! No caminho de volta, entramos em Barra Grande – uma praia-piscina, linda!, em uma baía com faixa de areia pequena. Jamile queria ter fica do ali para comer... A paisagem era singela. No hotel, fomos tomar banho de piscina até às 20h30. Depois, jogamos dominó na varanda do quarto até meia noite. A chuva se foi...




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159 | Alma Viajante No sábado, fomos para o Delta, de barco, pela Agência Clip, com as reservas no próprio hotel. O mesmo barco desmantelado da primeira vez que fui: sujo, maltratado, música abominável (“vou deixar um roxo no seu pescoço para seu namorado ver”, era a letra de uma!), tripulação sebosa...Não comemos nada que estava incluso no pacote. Só bebemos água mineral. Levamos biscoitos e cas tanhas. Mas o percurso é muito bonito e tranqüilo: são seis horas de passeio. O mais interessante para mim são os igarapés, onde têm os caranguejos. O Piauí é o maior produtor do país. O caranguejo não anda em grupo. Põe quinze mil ovos, mas somente a metade sobrevive. Aí surge o ‘homem-lama’ e faz um show com caranguejos. Na Ilha dos Potros – do lado do Maranhão – há uma parada para banho. Na hora do almoço, ainda no lado maranhense, caiu um toró danado! Mo lhou o barco todo e a gente. As pessoas, com os pratos de comida nas mãos, tentando se livrar da chuva...De volta para o Piauí, o tempo foi melhorando. É lamentável um turismo desses, pois obstrui a nossa sensibilidade. Não havia nenhum profissionalismo, tudo muito precário e negligente. Nas Dunas de Morro Branco houve outra parada para andar nas belas dunas e tomar banho no grandioso Rio Parnaíba. A paisagem era primorosa. Mais um show de perfeição e grandiosidade da mãe-natureza. Eu e David ficamos no barco e Jamile foi até a primeira subida para tirar fotos. No retorno, mudaram a playlist e chegamos a ouvir rock e soul americanos! Bless you!



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161 | Alma Viajante À noite, fomos ver Parnaíba by night. A cidade é muito bonita. Paramos no Mercado de Artesanato, onde David tomou um sorvete de bacuri e murici. Comemos uma ótima pizza (famintos que estávamos por não comer quase nada o dia todo!), na Pizzaria Rústica. No hotel, ainda jogamos dominó até meia noite.




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A saída da cidade é pela BR-343, cheia de lixo. Pegamos a BR402 para Jericoacoara-CE, com vacas pelo caminho, uma coisa bem comum no MA e no PI. Na divisa entre os dois estados, na entrada do CE, houve uma barreira para pesquisa sobre o Covid: dois agentes sanitários nos fizeram algumas perguntas sobre nosso estado de saú de. Quando entramos em Granja-CE, que tem uma prefeita, Juliana Lopes (PDT), tiramos fotos na pequena cidade – uma das mais antigas do Ceará -,que, agora, está bem melhor do que há 15 anos, quando era quase toda na terra. O seu cartão-postal é a Ponte Metálica (1881), sobre o Rio Coreaú, com a represa Lima Brandão; e a Praça com o nome da cidade – monumento presente em quase todas as cidades brasilei ras atualmente.




Em Jijoca-CE para ir para Jericoacoara, vivemos uma “odisséia sertaneja”: sabe-se que para chegar na alternativa cidade cearense é preciso atravessar as dunas e a passagem só se dá por jardineiras ou carros de tração 4x4 com autorização municipal. Depois de ouvir essa explanação de um jovem guia local, eu já quis desistir do passeio, per der as diárias, porque seria trabalhoso em função das nossas bagagens e do deslocamento, a princípio, complicado. Deu-se a minha máxima de que “não posso me estressar com o que posso prescindir”. Contudo, a palavra-mágica “idoso” entre os viajantes foi a senha para podermos atravessar as dunas no próprio Delta (com os pneus arriados), pois havia um decreto da Prefeitura de Jericoacoara que dava prioridade de trânsito aos maiores de 60 anos (que era o meu caso!). A paciência de David, que até gostou da experiência de dirigir nas dunas (que foi somada à de dirigir na lama), foi a solução para entender o guia e chegar ao desenlace final. O trajeto levou meia hora, David nos deixou no hotel e voltou para deixar o carro no estacionamento da Prefeitura, onde os dois fizeram um cadastro e pagaram trinta reais. Eu não paguei nada por ser idosa (hehehe). Como o check in era a partir das 14h, fomos para um bar à beira-mar muito animado e de bons petiscos e bebida gelada. A minha impressão da famosa cidade continua a mesma: andar na areia é o que há de mais anti-higiênico e primitivo para mim e para minha urbanidade. Entro em estado agônico! A beleza do lugar fica bastante ofuscada pelo meu incomodo...Areia só da praia com o mar batendo nos pés...Eu e Jamile tomamos banho na bonita piscina do hotel, que ia de uma ponta a outra, margeando os quartos do térreo. A cidade estava cheia de gente, apesar de bares e restaurantes fecharem às 15h. Conseguimos jantar em uma pousada italiana, cujo restaurante fazia as massas na hora. Eu pedi um spagethi, que estava delicioso. Infelizmente, não conseguimos ver o celebrado por-do-sol porque não tinha sol...
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165 | Alma Viajante Na encantadora Canoa Quebrada-CE, ficamos no acolhedor Hotel Il Nuraghe, quarto 278. Foram sete horas de viagem de Jericoacoara. A efervescência da cidade praiana esta va arrefecida pela pandemia. A cidade estava vazia. O Covid voltara a se espalhar pelo Nordeste. Almoçamos no Argentino, restaurante no final da Av. Broadway, com uma vista linda para o mar. Menu: um saboroso filet mignon con papas asadas, por supuesto! Ver a Broadway vazia foi uma surpresa, pois já estive na adorável cidade algumas vezes e, em todas elas, havia muita gente.







No último dia de viagem, ainda paramos na Praia de Redonda-CE, região de Icapuí, que faz parte da Rota das Falésias, com seus coqueirais e as inúmeras jangadas enfeitando o mar calmo e de um azul-esmeralda deslumbrante. É uma pequena cidade muito formosa, mas bem simples. Passamos pela Barraca do Carlinhos das famosas la gostas frescas. Mas eram 10h... Fronteira com o litoral do Rio Grande do Norte (BR-304), entramos também na praia potiguar de Tibau do Norte, para tirar fotos. Havia obras no km 260 da BR-304.
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Camarão do Olavo. Nísia Floresta é uma cidade do meu afeto, pois homenageia a primeira educadora feminista do país – Dionísia Gon çalves Pinto -, que defendeu os direitos da mulher e o direito ao voto feminino, e também foi a primeira mulher a escrever para jornais. A cidade é bem pequena e abriga a majestosa árvore Baobá e o mausoléu de Nísia Floresta. Em Mamanguape-PB, havia muitos ipês amarelos floridos. Lindos!
167 | Alma Viajante Na BR-101, a caminho de João Pessoa, entramos em Nísia Floresta-RN (ex-Papari, nome mantido pela antiga Estação de Trem, que hoje é um restaurante), para almoçar no tradicional Restaurante




168 | Alma Viajante O Brasil nordestino mudou muito pouco na sua dinâmica cultural-turística cotidiana. As estradas melhoraram bastan te, mas ainda existem estradas imprestá veis, que expõem os/as viajantes a acidentes e a danos aos seus veículos. A infra-estrutura continua ineficiente e precária, pois há poucos lugares de paradas boas, e os postos de gasolina têm cafeterias sujas e banheiros fétidos. Inexiste segurança nas estradas e/ou apoio ao/à viajante: não vimos sequer um carro das Polícias Rodoviária Federal e/ ou Estadual transitando nos doze dias de viagem (exceto parados nos seus pontos!), além de haver lugares sem nenhuma sinalização que dê ao/à viajante uma ajuda na sua direção. Algumas vezes nem o GPS conseguia encontrar determinados lugares, como foi em Picos-PI, que ele nos levou a um lugar equivocado.





Capítulo 18 Viajando pela trilha sonora da vida com bons amigos no tom certo.


Luiz Gonzaga As viagens da pandemia tiveram continuidade no passeio pelas maravilhosas serras nordestinas: Capivara-PI, Confusões-PI e Arari pe-CE. Eu, a Sissy Lígia, Jamile e David. Voltamos a ‘lamber’ o amado NE tão cheio de diversidades e surpresas ecológicas de grande significado até mundial. Mergulhar nas origens é sempre um ato de introspecção e magia.
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VIAGENS DA PANDEMIA: SERRAS DO NE & RECÔNCAVO BAIANO "Minha vida é andar por este país".




Antes de chegarmos às serras, passamos por Petrolina-PE, para fazer o percurso do Vapor do Vinho. Pelo caminho, passamos por Sertânia-PE, quando vimos a menor rotatória do mundo! Lagoa Grande-PE já apontava para a região dos vinhedos – foi ali que tudo começou com a construção da Fazenda Ouro Verde (anos 80). A Petrolina que conheci há 55 anos não existe mais; hoje, a cidade é ampla, limpa, bonita e elegante à beira do majestoso Rio São Francisco, com um Centro de Alimentação bem estiloso e com diversas opções culinárias. Visitamos o famoso Bodódromo, mas havia muitos restaurantes fechados...
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172 | Alma Viajante Contudo, o tour do Vapor do Vinho foi um pesadelo: chamei-o de o Vapor do Terror! Pior passeio que já fiz na minha vida viageira. Ele começa com uma travessia de quase duas horas até o vinhedo, em ônibus desconfortável, por estradas horríveis, com muito lixo nos acostamentos. Chegando na Vinícola, fomos para as parreiras de uvas – um lugar sem nada, com uvas de resíduo, certamente, pois eram pequenas, amargas...Argh! A esta altura, estávamos todas/o bem aborrecidas/o. Seguimos, finalmente, para a sede da Vinicola Miolo, onde compramos vinhos e ficamos degustando alguns, com um queijo de cabra de 60 reais!, enquanto o grupo visitava o prédio, o que de clinamos. Andamos pelos jardins da bonita propriedade e curtimos aquele local bucólico para abstrair do retorno que ainda teríamos. Na volta, como o ônibus não tinha toalete, parava para os turistas irem no mato!!!! Bizzarrice maior?! Quando chegamos no destino e vimos o “vapor”(as fotos mostram), pedimos que providenciassem um taxi para voltarmos, mas o dono do vapor nos convenceu que iríamos adorar o passeio etc.. Ele, muito gentil, nos colocou em um local bem agradável, onde ficamos sozinhos por uma hora,longe da música horrorosa que tocava lá em cima, até que outros/as turistas também descobriram o conforto do lugar e ali se instalaram e se puseram a falar e rir alto. E o pesadelo voltou...Ali também não comemos o almoço incluso no pacote...O passeio, na verdade, é uma volta pela Barragem de Sobra dinho – o maior lago artificial da América do Sul-, já que o Rio São Francisco não é mais navegável naquela região...Ah, para fechar com ‘chave de pedra’: o barco atolou!!! Enfim, “turistar” tem dessas coisas... Graças a Deus, esse foi o único desconforto desta viagem. O enoturismo nordestino é precário e precisa de uma revisão organizacional.A própria Miolo poderia providenciar algo nos moldes do RS, onde ela se apresenta tão bem.

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Mas o restante da viagem foi só de deslumbramento e encanto. Fomos visitar Juazeiro-BA, do outro lado de Petrolina, terra de João Gilberto e do jogador Daniel. E também da família materna da minha mãe, os Fernandes da Cunha. Cidade mais simples e modesta, mas com casario art déco peculiar do NE, bem cuidado e bonito. No caminho para as serras, paramos para almoçar no Restaurante da Gildene, uma peixada gostosa, no balneário de Pedrinhas, à beira do Rio São Francisco.




175 | Alma Viajante Pegamos a Transnordestina-PE/ BR-428 para BR-235. As estradas estavam muito boas, apesar de inóspitas e vazias, já apontando para a região de caatinga que iríamos adentrar. Anda mos quase 300km sem ver viv’alma! Quando as cidadezinhas começaram a reaparecer, eram de dar dó de tanta pobreza e abandono...





A Serra da Capivara foi uma surpresa ao cubo: nunca vi nada mais bonito, charmoso, limpo, bem-cuidado e atrativo em parques aqui no país. E toda aquela grandiosidade se deve a uma mulher corajosa e eficiente que dedicou 50 anos de sua vida para deixar esse legado ambiental espetacular: Niede Guidon, exemplo de mulher, de pesquisadora, de empreendedora, de preservacionista e de visionária. Que orgulho de ter uma brasileira tão empenhada em manter uma história e preservar seu acervo! Niede Guidon, insubstituível! Ali ficamos hospedados na Pousada Serra da Capivara, onde tem a fábrica das lindas cerâmicas da Capivara – lugar ao pé da serra, muito bucólico e cati vante. Atendimento nota mil: gente simpática e atenciosa. Voltávamos para almoçar e jantar uma comida saborosa, bem-feita e quentinha. Ficava a 15’ do parque, para aonde seguimos dois dias com o amável guia Jair. A Serra da Capivara é o maior parque de pinturas rupestres do mundo, de até 12 mil anos atrás, com cerca de 700 sítios arqueológicos. Ficamos muito impressionados com a quantidade de mocó, que defeca nas inscrições, nas pedras etc. um ácido negro. É a terra deles... À noite, o espetácu lo das luzes nas pedras é fantástico. Visitamos também a cidade-sede que é São Raimundo Nonato, onde Niede Guidon tem uma casa; contudo, a cidade é muito simples e o Museu do Homem Americano estava fechado por causa da pandemia. Ah, que pena, pois são quatro décadas de pesquisas à mostra pública que deixamos de conhecer! Ali também as pessoas fazem jogging no fim de tarde nas rodovias... Hábito comum aqui no NE.
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Seguimos para Caracol-PI, a caminho da outra serra piauiense, em uma péssima estrada, cheia de quebra-molas, lixo e cidades com casas gradeadas, o que denota ter violência na região...




Na Serra das Confusões é quando se aprecia o trabalho de Niede Guidon realmente, pois ali não há nada! É o maior parque de caatinga do país, mas não tem estrutura nenhuma...E é belíssimo! Chama -se assim por mudar de configuração conforme a luz solar do dia. As enormes pedras brilham às luzes diversas. Emocionante! O guia Jadiel era muito sagaz e ágil, pois neste sítio tínhamos que subir e descer em muitas pedras. Em algumas, eu não fui, como à gruta do Riacho do Boi, na qual se descia por uma íngreme escada de madeira. E ainda sou claustrofóbica...A diferença entre os dois parques também se faz na visitação: enquanto o guia Jair faz, nessa época de baixa estação, cerca de três visitas/semana, Jadiel faz 2 tours/mês!!!! O parque não tem restaurantes, então, Jadiel reservou um almoço na casa de uma família que mora na entrada da Serra. Na volta, comemos uma boa galinha caipira com os acompanhamentos. Mas o regalo foi pedir uma tapioca, pois havia muita farinha ali, feita no capricho por Dona Benta, uma senhora adorável que era a matriarca da casa.
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181 | Alma Viajante Indo para o Ceará, havia muitos bichos na estrada: vacas, porcos e bodes – estes se reuniam no meio da pista!!!! Voltamos a Oeiras, a “pérola do Piauí”- é Monumento Nacional pela lei 7745. Paramos para andar pela cidade e visitar o Museu de Arte Sacra, já que a primeira capital do PI é também a Capital da Fé, a cidade mais religiosa do estado, cuja Se mana Santa tem onze dias de comemorações. É uma das cidades mais lindas que conheço no mundo. Seguimos para o Ceará, onde as pessoas também fazem jogging nas estradas no fim de tarde. Havia diversas placas das obras (eternas) do governo cearense nas rodovias. No Crato, ficamos no hotel Encosta da Serra. Temperatura ótima à noite para amenizar o calor dos dias. Quando entramos na Floresta Nacional do Araripe, a paisagem mudou completamente com a presença do verde e do clima mais ameno.




182 | Alma Viajante A Serra do Araripe-Apodi é uma FLONA – área de preservação delimitada pelo Governo Federal, administrada pelo Instituto Chico Mendes, com grande acervo geológico. É chamada de “oásis do sertão”. É um dos últimos redutos da Mata Atlântica e marca o encontro da Caatinga com a Mata Atlântica e o Cerrado.






183 | Alma Viajante Aproveitamos para visitar o monumento a Padre Cícero que, graciosamente, estava vestindo uma enorme máscara!




184 | Alma Viajante Paramos para comprar os deliciosos queijo de cabra e carne de cordeiro, na Bode e Cia, na BR-230, a quatro horas de casa. Redescobrir o NE tem sido algo inspirador e de muito orgulho por esta região cheia de belezas contrastantes que se interligam por boas estradas que têm dado maior po der de mobilidade ao turismo brasileiro.




185 | Alma Viajante VIAGENS DA PANDEMIA: RECÔNCAVO BAIANO "A vida foi feita para bons amigos e grandes aventuras".
Anônimo A viagem ao Recôncavo Baiano foi mais um passeio da pandemia mui to bacana. Só fomos eu, Jamile e David. A região em torno da Baía de Todos os Santos tem importância histórica por ser um re duto da cultura afro-brasileira, com mais de 400 terreiros de candomblé, bem como econômica, com unidades produtoras de petróleo, resultando em 42% da economia local advinda desse recurso, além da cana -de-açúcar e do fumo. Até Cachoeira se vai pela BR-101, atravessando os estados de Alagoas e Sergipe. Em Luziápolis-AL, paramos para conhecer o Engenho Caraçuipe e comprar sua cachaça e seus doces. Em Junqueiro-AL, km 198, muito lixo nos acostamentos. A estrada estava ótima, mas havia ainda alguns trechos em obras e com desvios. Em Sergipe, havia restaurantes e postos de gasolina de gaúchos, nas ro dovias: “Estância”, “Paladar do Sul”, “Roda de Chimarrão”, “Caxias do Sul”, “Guaíba”, “Baita Tchê”. Até à Bahia, havia muitas plantações de eucaliptos. No para-choque de um caminhão uma sabedoria: “Se dormir, o sonho acaba”.


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Polo turístico e religioso formado por 19 cidades, o Recôncavo Baiano é cortado pelo Rio Paraguaçu, com 600km de extensão, cujas paisagens naturais são as diversas cachoeiras nas cidades do seu percurso, bem como por onde se escoava açúcar e fumo nos séculos 19 e 20. Em Cachoeira, ficamos na Pousada do Convento, um lugar muito bonito e tranquilo, com pátio interno cheio de colunas e um bem-tratado jardim. Tudo muito limpo e amplo. Alugado da Ordem Terceira local, ali havia um ar monacal em todo o prédio. A linda cidade é toda em colonial português e art déco. Apesar de alguns prédios em ruínas e casario maltratado, foi a melhor das cidades que conhecemos. Dali, íamos visitar as outras ao redor. Como todas as cidades, fica à beira do Rio Paraguaçu e a 120km de Salvador. Tem bons restaurantes e bares, além do excelente acarajé da Fátima, que fica na praça defronte à Prefeitura. No Bar do Thomaz comemos bolinho de maniçoba, que não gostei, mas tomei uma das melhores pinas coladas da vida! O garçon Adilson era muito atencioso e fazia um suco de morango delicioso! Ía-




187 | Alma Viajante mos lá todas as noites. Passamos pelo simpático restaurante PQTRLV e procuramos saber o que significam as letras: “Pedro quer ter renda lucro vantagem”. Considerada “cidade monumento” e “cidade heróica” por participar nas lutas pela independência do Brasil, por decreto presidencial de 1971, Cachoeira foi fundada pelo famoso Caramuru, o português Diogo Correia. É a 2ª capital da BA. Todo ano, em 25/6 o governo estadual se transfere para lá. Abriga áreas extensas das Universidades Federal do Recôncavo Baiano e da Adventista da BA.





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A Câmara Municipal é presidida pela 1ª mulher negra a ocupar o cargo, Adriana dos Santos Silva. Atravessamos sua bela ponte de ferro, a D.Pedro II, para visitar a Charuteria Dannemann, em São Félix, onde só David fez compras. Como dita a tradição da produção dos charutos, só mulheres na sofisticada confecção do tabaco Mata Fina. Fomos re cebidos por um senhor fumando um charuto, com um bonito jardim ao fundo. Ele nos apresentou ao cordial Felipe, que nos conduziu à fábrica. Ambiente amplo, limpo e tranqüilo. Todas as mulheres estavam com a mesma roupa de baianas, de saias longas bem coloridas, com bordados nas barras e blusas bem folgadas.




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De volta a Cachoeira, visitamos a Charuteria Leite & Alves, onde a gentil Girlene nos mostrou tudo. Sua avó e sua mãe trabalharam na fábrica e, agora, ela é museóloga da fábrica. O museu é bem sortido da história do charuto e do local. O ambiente não era tão bonito quanto o outro, mas era mais familiar e afável, mostrando -nos todo o processo da fabricação, enquanto o outro só nos mostrou o produto final. Os preços também eram mais compatíveis e todos compramos charutos e cigarretes, que fumamos no agradável pergolado da piscina da pousada.




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Passamos por Muritiba, cidade serrana, que ninguém explicou a denominação, até porque ali é difícil fazer frio... Outra cidade bem interessante de visitar foi São Francisco do Conde, muito bem cuidada, com uma bela entrada da cidade, e sede da UNILAB – a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, única no país (2014). Ali também tem um Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Sem restaurantes abertos, ficamos no bar da simpática e despachada Célia, que nos preparou um camarão alho e óleo, defronte de uma vista parcial da Baía de Todos os Santos. Em Nazaré, conhecemos o mais antigo cinema em funcionamento do país, o Rio Branco. A cidade tem um casario colonial português muito bonito e bem tratado, porém, seu trânsito é caótico e o comércio de rua é intenso.






191 | Alma Viajante Em Santo Amaro da Purifica ção todos os caminhos levam à casa de dona Canô, mãe de Bethânia e Caetano. A cidade é bem modesta e sem nenhum atrativo. E nenhum bom restaurante para almoçar! De cepção total! Tomara que transfor mem a casa em museu, pois ela é bonita na sua simplicidade.




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Entre as cidades, as estradas estavam bem ruins. Exceto Cachoeira, essas cidades não têm infra-estrutura turística. Salinas da Margarida é uma gracinha, mas sem nada a oferecer. Contudo, seu calmo mar é uma paisagem que merecia um entorno turístico adequado.
Candeias foi uma das piores cidades que já vi na vida...Havia miséria ali e isso nos causou indignação por conta de a região ser rica em petróleo e certamente todas as cidades ganham royalties bem significa tivos. Não há gestão e não há cuidado do próprio governo estadual nem dos seus moradores. Penso que são todos responsáveis pela situação das cidades. A arrumadeira da pousada, por exemplo, me disse que não gosta do convento porque não gosta de “coisa velha” (sic). Infelizmente a maioria das cidades é de situação precária, apesar de toda a riqueza que o petróleo sugere em uma região cuja produção é uma das maiores do país. Berço do petróleo brasileiro, a Bahia poderia beneficiar sua população com o dinheiro que arrecada...Impressionou-me ver tanta pobreza convivendo com um bem de tanta riqueza no mundo!




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São Roque do Paraguaçu é bem charmosinha, com a estrada ladeada de árvores, mas que teve um abalo econômico com a paralisação do estaleiro Enseada Paraguaçu (Maragogipe), em 2014, onde só restam as enormes estruturas de aço. Há notícias de que ele vai voltar a operar em 2022. A parte curiosa da estada em Cachoeira foi visitar um leitor de búzios que atendia na graciosa casa da namorada; contudo, não saímos satisfeitos...Houve imprecisões e algumas repetições nas duas leituras. Jamile declinou.




194 | Alma Viajante Cachoeira foi nossa ‘cidade-sede’ aonde voltávamos todos os dias depois dos périplos pela região. As noites na cidade foram muito boas, de bons papos e alguns passeios pela cidade e pela sua bela beira-rio.






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De volta à BR-101, passamos pela excelente Avenida Atlântica por seis quilô metros. Fizemos o caminho da Estrada do Côco, a BA-099, passando pelo famoso Parque do Sauípe, com favelas ao redor! Desistimos de entrar em Mangue Seco por causa da péssima estrada. Semelhante às outras viagens, não vimos nem Polícia Rodoviária Federal nem a Estadual nas rodovias, apenas dentro das guaritas. Entramos na aprazível Praia do Saco, em Sergipe, de águas mansas e muito azuis. No caminho, almo çamos no ótimo restaurante Sollo, na praia de Aruanã, já em Aracaju. À noite, lanchamos na linda Casa Alemã, toda em eixamel, para comer o “melhor quibe do mundo”, segundo David.



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Entre Aracaju e Maceió há um trecho cheio de lombadas (km 80-84). Paramos na encantadora São Miguel dos Milagres-AL e almoçamos no Restaurante Mi Casa, onde a atendente Roberta era muito prestativa. A música era muito boa com a praia de paisagem de fundo. Retornamos pelas praias de PE e eu adoro a linda estrada da praia de Tamandaré com árvores dos dois lados – é uma das minhas preferidas no país.
Uma professora baiana disse uma vez que “baiano não nasce, estreia”. Já percorri toda a Bahia e, certamente, é um Estado muito literário, musical e artístico – já deu “régua e compasso” (Gil) para dar e vender; no entanto, o Recôncavo Baiano me deu uma nostalgia do que poderia ter sido aquele lindo pedaço de terra...




Capítulo 19 Tenho o meu país para conhecer; daqui a pouco eu volto!


Anônimo
198 | Alma Viajante VIAGEM A MANAUS "Na frase “ela é muito feliz”, onde está o sujeito? Viajando!"
A última viagem da pandemia 2021 foi para a bela e exuberante Manaus, novamente pela Paraibatur. Viajo desde os 3 anos de avião, e pela 1ª vez perdi um voo, por conta do engarrafamento do feriado de 15 de novembro: o percurso levou 5 horas! Contudo, a gentil e diligente Grazi, da Azul do aeroporto de Recife, me encaminhou para outro voo. Foi o único empecilho do trajeto, o que achei “fichinha” para o meu estóico jeito de encarar situações assim hoje. Já não me aborreço com nada...E a troca até que valeu, pois, apesar de ir para Campinas-SP, o avião era das rotas internacionais, grande e muito confortável, atendimento excelente e o pouso foi o melhor que já vi na vida viageira, parecia que estava aterrissando em um campo de golfe! A capital amazônica foi uma grata surpresa. Ainda com resquícios da sua majestosa história econômica, a “Paris dos Trópicos” mantém a arquitetura colonial inglesa bem-cuidada, convivendo com a modernidade das largas avenidas e seus arranha-céus, bem como a revitalização urbana de vários bairros populares, onde o povo vivia em igarapés. O motorista do transfer foi o mesmo que me mostrou toda a cidade. O Sr. Carlos trabalha com turismo há mais de 30 anos. Fiz meu roteiro e ele ia me contando as curiosidades dos lugares. Fiquei no hotel Mercure, no bairro de Adrianópolis, perto do shopping Manauara. Do meu quarto, eu via a Arena da Amazônia (2014), considerada pelos “locais” um “elefante branco”, que custou 600 milhões de reais sem ter times competitivos. Em outubro, o Brasil jogou ali com o Uruguai na 12a rodada das Eliminatórias da Copa do Mundo 2022. A goleada de 4x1 foi assistida por 14 mil pessoas (35% da capacidade por causa da pandemia...Dommage!)

199 | Alma Viajante O meu passeio pela cidade incluiu visitar o Centro de Instrução de Guerra na Selva, onde o meu irmão Alberto, brilhante militar PhD em Informática (COPPE-UFRJ), consta daqueles 6902 “melhores guerreiros da selva do mundo”. Ali conheci a árvore do Açaí. O bonito e bem-tratado lugar abriga um zoológico também.




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A praia de Ponta Negra é um “marzão” do Rio Negro, que banha e abastece toda a cidade. É o maior rio de águas negras do mundo. Atribuem-lhe a cor pelo excesso de folhas da floresta. Ali vivem 400 espécies de peixes. A mais famosa é o Jaraqui, que é a mais consu mida na região. O bairro é cheio de espigões à beira-rio. Atravessamos a ponte recém-construída e passeamos pelo outro lado, onde também há praias. A ponte custou um bilhão de reais, é a maior ponte estaiada do país e a 2ª maior so bre rio de águas escuras do mundo. O Centro histórico tem trânsito intenso, como em todas as capitais, mas é organizado. Andamos pelo bem abastecido Mercado de Peixes. Achei fascinante a quantidade de espécies e a limpeza do lugar. Ali conheci a sardinha de rio. O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, em estilo inglês, também era muito sortido e bem-cuidado. Ali almoçamos um delicioso tucunaré com baião de dois, vinagrete e farofa. Este foi meu peixe favorito entre os outros.



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Andar por uma das mais antigas e belas ruas da cidade, a Rua Bernardo Ramos, com seu calçamento de pedras rosadas e árvores frondosas nas calça das, foi uma epifania urbana fantástica. Ela foi a primeira rua a ser urbanizada e ali estão as duas casas mais antigas de Manaus, que são sede do Cen tro Cultural Óscar Ramos, artista gráfico, que produziu capas dos LPs de Caetano (Araçá Azul) e Gal (Fa-Tal), diretor de arte dos filmes Menino do Rio (Antonio Calmon) e O Escorpião Escarlate (Ivan Cardoso), que lhe deu o Kikito da categoria no Festival de Gramado de 1990. O museu nos foi apresentado pelo atencioso e conhecedor do ofício, Sr. Sadi. O clássico Casarão Cassina (1899), na mesma Rua Bernardo Ra mos, foi um dos principais hotéis de Manaus; atualmente, se chama Casarão Inovação Cassina e aloja 54 estações de coworking, auditório e um café. Em frente, está a praça D.Pedro II, tida como sítio arqueológico porque era um antigo cemitério indígena. Ali também se localiza o Palácio Rio Branco e o Museu da Cidade, que estava fechado.
É lamentável órgãos públicos estenderem seu próprio lockdown...No outro, só havia eu de visitante...Em 2019, houve uma revitalização da praça dentro do projeto Manaus Histórica. O seu elegante Chafariz de bronze (1890) possui uma réplica no Rio de Janeiro.




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204 | Alma Viajante À tarde, fiz o tour pelo imponente Teatro Amazonas, único lugar que pediu o “passaporte vacinal”. O prédio é uma obra renascentista eclé tica magnífica de 1896, principal cartão-postal da cidade. Fez 125 anos no dia 31/12. A maquete do Teatro com 30 mil peças de lego é algo espetacu lar que vale a pena ver. O guia Samir parecia um robô, mostrando as instalações do nobre local, totalmente desmotivado com a tarefa repetitiva, mas que ele deveria saber quando escolheu a profissão. E nesta hora me lembro dos inúmeros guias maravilhosos que já conheci, como o menino falante do cajueiro de Pirangi-RN, ou aquele guia descolado das ladeiras de Olinda-PE. A bizarrice da visita ficou por conta do roubo de um espelho enorme do Teatro. Como o fizeram?!! Em frente ao Teatro, visitei a charmosa Galeria Amazônica e comprei alguns brincos indígenas, com uma atendente antipática. Compensou tomar o delicioso sorvete de tucumã, na sorveteria ao lado, a Barbarella. O te atro fica no Largo de São Sebastião com sua calçada de pedras portuguesas em ondas, como as calçadas da praia de Copacabana-RJ. Ali está a Igreja de São Sebastião, com mais de 130 anos, nos estilos gótico e neoclássico, uma das preferidas para a realização de casamentos. A cada meia hora, o seu sino badala. Gosto muito desse ritual religioso.



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206 | Alma Viajante A SUFRAMA estava fechada por conta da pandemia. Passamos pelo luxuoso Palácio Rio Negro, que foi sede e moradia governamental até 1995. Construído pelo “rei da borracha”, o barão alemão Scholz, em 1903, hoje foi transformado em Centro Cultural. No momento, só visitação externa.




207 | Alma Viajante Na excursão pelo Rio Negro, visitamos os botos cor-de-rosa. Declinei do banho com eles. Vai que algum deles me conquista? ahahah Não posso arriscar, pois são animais promíscuos e vadios... À beira-rio também assisti à pesca do pirarucu, o ‘bacalhau do Amazonas’. Adiante, há o encontro dos rios Solimões (nome citadino do Rio Amazonas) e Negro. Eles não se misturam por 8km. Ali há botos cinzas. O almoço no Complexo Selva Amazônica, no Lago Janauary, foi muito bom com as especiarias locais. Adorei a culinária manauara com peixes exóticos, complementos diversificados e bebidas diferentes. Pela trilha na selva, deparei-me com uma enorme e monumental árvore, a ceiba pentranda, com 50m de altura, cujo tronco precisa de 30 pessoas para abraçá-la. Assistimos a um show indígena bem bacana, com adultos e crianças. O serviço da excursão foi bem profissional e o guia David (Deividi) conhecia e apreciava seu ofício.





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Uma manhã resolvi pegar um ônibus para conhecer a dinâmica cotidiana dos/as cidadãos/as. Mas como na maioria das cidades, o transporte urbano é precário, descuidado e insalubre. Desci e continuei o caminho a pé por três horas. As noites ficaram por conta do meu inestimável primeiro orientando PPGC-UFPB, Lucas, que me mostrou a Manaus by night. Voltamos ao Centro Histórico para jantar no original e chic-hippie Restau rante Caxiri, bem decorado e com vista para o Teatro Amazonas. Tomei uma saborosa cocoa colada e comi um pirarucu fresco grelhado na chapa a carvão com baião de feijão cremoso e arroz vermelho com legumes tostados e tucupi (este eu não comi!). Na noite seguinte, voltamos ao Largo de São Sebastião para tomar cerveja no famoso Bar do Armando, lotado e com música muito alta de primeira qualidade, mas que não nos deixava colocar o papo em dia. Dali fomos petiscar no tradicional e encantador restaurante Tambaqui de Banda, onde comi apetitosos bolinhos de pirarucu com farinha de bodó e uma cerveja artesanal maravilhosa. Tomamos ainda um sorvete de castanha na Sorveteria Barbarella, antes de a chuva despencar em cima de nós literalmente!



209 | Alma Viajante Fechei o ano com essa viagem fantástica à 20ª capital brasileira visitada. Bon voyage, 2022!





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A primeira viagem de 2022 e a 6ª da pandemia foi ao Tocan tins, o mais novo estado brasileiro (1988), idealizado por um cearen se, Siqueira Campos, aos moldes de Brasilia; contudo, achei a capital Palmas uma cidade feia, maltratada e com grandes espaços mal aproveitados, pois tem largas avenidas, bonitas rotatórias, mas com pouca arborização e sem parques. Porém, tem a maior praça da América Latina, a Praça dos Girassóis (sem girassóis!), que é a 2ª. maior do mun do, atrás da praça Merdeka, em Jacarta, indonésia. As praias fluviais urbanas são igualmente feias, pois os complexos são mal arrumados e sem estrutura física confortável. Na praia Graciosa, eu conheci a bela árvore faveira, com larga copa. A UFTO é cheia delas. O motorista do transfer foi o mesmo que me levou para um tour pela capital tocan tinense, em seu Toyota Hybrid. Contratei-o por 6 horas, mas em 4 já havíamos visto tudo!
"Não tenha medo de andar só. E não tenha medo de gostar disso!
VIAGEM AO TOCANTINS: PALMAS E JALAPÃO
John Mayer


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Quase não tem o que se fazer em Palmas – plana como as mãos -, mas o hotel HPlus Premium era ótimo e compensou os dias ociosos. Com 30 andares, é um dos maiores prédios da capital. A decoração de Natal, à noite, deixou a cidade bonita. Interessante era o ônibus-show que circulava pela cidade, à noite, com música alta, cheio de gente e com sua iluminação neon toda colorida.
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214 | Alma Viajante Mas Palmas foi apenas o ponto de partida para a aventura que eu sonhava realizar: conhecer o Jalapão, outra epifania da natureza em terras nacionais, e as Serras Gerais. São 34 mil km² de área de cerrado, caatinga e amazônica. Criado pela Lei Estadual 1.203 de 12 de janeiro de 2001, o Parque Estadual do Jalapão pertence à categoria de Unida des de Conservação de Proteção Integral do Estado do Tocantins. Uma de suas características é a produção de artesanato de capim dourado e seda de buriti, que se tornou principal fonte de renda para as comunidades locais e tem sido alvo de estudos e ações para garantir seu uso sustentável, ecológica e economicamente. O Jalapão foi batizado com este nome devido à abundância da flor Jalapa-do-Brasil na região, que é a base da cachaça local (Wikipedia).



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Como eu não queria fazer turismo de massa para não aglomerar, a Paraibatur e a Masterop contrataram a CCTrekking com um SUV Toyota com motorista-guia para me conduzir por uma semana por cerca de 1500 km por toda a bela região de cerrado – o coração do Brasil -,cortada por vários rios (Sono, Balsas, Preto,Caracol) e muitos oásis de lazer, como os inú meros fervedouros e as comunida des quilombolas. Foi uma semana de contemplação e ótimas surpresas. O jovem, diligente e atencioso Taliel foi uma companhia muito competente, pois era nativo e conhecia tudo com muitas histórias das cidades, da culinária, da flora e da fauna locais.




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A região tem duas cidades-base: Mateiros e São Felix (terra de Taliel, com entrada toda esburacada!). Apesar das previsões de chuva, a viagem foi sob dias de sol, com alguns respingos às noites. Tive sorte! Região bela, mas inóspita e árida. As cidades muito pobres e as estradas estaduais (como a TO-247), que levam ao Jalapão, estavam péssimas, cheias de buracos e sem apoios. O Governador do Estado, Carlesse, estava afastado por improbidade administrativa e, em março de 2022, renunciou ao cargo. Adentrando o parque de cerrado, o caminho mostrava porcos-do-mato, siriemas, quero-quero, arara azul de peito amarelo (Canindé), árvores de pequi, de buriti, puçá e cajuí. Um espetáculo!Ohotel-pousada
Por Enquanto tinha seu próprio fervedouro. Um lugar muito aprazível, no meio da mata, com comida caseira deli ciosa, com árvores de bananeira de brejo. Os fervedouros são de águas cristalinas, transparentes, de cor azul turquesa. Totalizam 120, mas somente 15 deles estão abertos à visitação. O fervedouro é chamado “ressurgência” porque é um olho d’água morna que fica brotando e faz com que a gente fique flutuando. Não se mergulha ali, a pessoa só bóia. Percorremos alguns fervedouros e eu tomei banho em alguns.




A organizada comunidade Quilombola Mumbuca é o berço do capim dourado (em setembro é realizada a festa da colheita), com o restaurante Viola de Buriti de comida caseira bem gostosa e bem quentinha.
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Vi ainda o encontro dos rios Soninho e Formiga: aquele é frio e este, quente.
Ali estão 205 famílias que têm como renda principal o capim dourado, que foi descoberto por d. Laurinda para ser um objeto de artesanato. Em Mateiros, que faz divisa com PI, MA e BA, ficamos na ótima pousada Panela de Ferro, onde também havia um grupo de jipeiros com suas famí lias. Algo bem comum no turismo local. Na entrada da cidade, tem uma bela árvore manguba. No café da manhã, bolo de magulão. Muito bom! Também almoçamos no fervedouro do Sono, outra comunidade com comida caseira simples mas gostosa. Ali tomei a cachaça Jalapa, que achei muito forte.




Os fervedouros são propriedades privadas, onde se paga para usufruir. Na maioria dos lugares, havia pouca gente; contudo, a cachoeira do Formiga estava cheia de gente e o guia disse que estava vazia, pois era baixa temporada!!!! Eu só tirei a máscara para as fotos!
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No fervedouro do Sono, ainda encontramos a gentil e alegre família fluminense de Maricá, Cristiane, esposo e filhos, com a qual dividimos alguns passeios, como para as dunas do Jalapão, que são de areia dourada, diferente das dos Lençóis maranhenses ou de Natal. A subida foi leve e a paisagem é bela, mas nada comparável às outras, cada uma com uma beleza diferente. Na rude estrada de terra, o ‘toco do sinal’- o sinal da tecnologia. Pelo caminho, eu ia tomando os sorvetes de frutas regionais, como pequi, puçá, caigata, macaúba e buriti.
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Com pitadas de folclore e de histórias locais, a passagem de Pablo Escobar pela região está registrada na fazenda Tri-Agro, na qual o famoso traficante colombiano tinha uma sede de seus ‘negócios’ no país. Hoje não resta quase nada da citada ‘bela propriedade’ porque o incompetente governo tocantinense não soube administrar as terras em prol do próprio turismo local.
Ponte Alta do Tocantins é o “portal do Jalapão” – cidade horrorosa, toda esburacada, suja. Fiquei com vergonha alheia do prefeito, que não ama sua cidade. Que pena! Contra a ignorância não há argumento porque ela não tem visão, não tem noção do potencial, não tem consciência do valor turístico etc..




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A Pousada Vitória, a 2km de Pindorama, é charmosa, mas o quarto bem desconfortável. O cânion Sussuapara não me surpreendeu. O que eu realmente amei foi andar no meio do cerrado, naquelas estradas de terra ou de areia, em meio à majestade daquele bioma riquíssimo. Fiquei fascinada em andar horas e horas no meio daque le cerrado selvagem sem ver viv’alma, sem casas, nada. Com a chuva, então, tudo estava bem verde, viçoso, pulsando luminosidade. Tudo muito primitivo, como se o tempo tivesse parado. É o fim do mundo ou o começo dele?




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Ali perto estavam as cachoeiras do Escorrega Macaco – onde vimos vários deles quebrando coquinhos -, e da Roncadeira, onde tive que descer (e subir) dezenas de degraus íngremes e pouco seguros.
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O caminho para a Pedra Furada era uma belíssima aléia de eucaliptos dos dois lados. A bonita Lagoa do Japonês fica nas Serras Gerais. Estava cheia, só andei no barco para ver a gruta do local. O lugar foi o mais arrumado do tour: tudo muito limpo, organizado, com uma infra-estrutura confortável. Então, a questão é gestão mesmo! Na volta, vi a imponente e bela árvore de Jatobá. A pousada Café da Mata (TO-030, Itaquaruçu) é muito boa, mas, como as outras, também não tem wifi nos quartos.




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O que me surpreendeu foi não ver ninguém da minha idade neste percurso. Só havia muitos grupos de famílias mais jovens com crianças e/ou de rapazes e moças. O bizarro ficou por conta da Anvisa que, dentro do avião, avisa aos/ às passageiros/as que mantenham o distanciamento, usem máscaras etc. Como?! Aeroportos e aviões lo-ta-dos!!!! Dicas: uso duas máscaras, lenço na cabeça, e ...fraldas. Também borifo meu álcool 70 em tudo: assentos, talheres, pratos, portas etc.. Pois é, não desisto de viajar, mas sei bem a insalubridade que aviões e aeroportos têm. Somos reféns de nós mesmos neste mundo esquizofrênico; portanto, todo cuidado é pouco, mas ter medo, nunca!
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