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Domingo, 9 de janeiro de 2011 | www.ojornalweb.com | e-mail: internacional@ojornal-al.com.br

Referendo pode dividir Sudão em dois Votação que acontece hoje foi definida em acordo de 2005 que colocou fim a mais de 40 anos de guerra Centenas de sulistas entusiasmados se reuniram nas ruas do Sudão na sexta-feira, dois dias antes do início da votação do referendo que irá decidir se o maior país da África será dividido em dois. Há intenso otimismo entre as pessoas do sul do Sudão, que enfrentaram mais de quatro décadas de guerra, luta que terminou com um acordo de paz em 2005 que garantia direito ao referendo deste domingo. Se o referendo decidir pela separação, a região sul do país, rica em petróleo, mas ainda subdesenvolvida, vai romper com o norte. O norte do país é governado pelo Partido do Congresso Nacional, um partido islâmico liderado pelo presidente Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra em Darfur — oeste do Sudão. De uma população de cerca de 8,7 milhões, cerca de 3,9 milhões de sulistas se inscreveram para votar.

No sul do país, o ex-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, disse a uma multidão de 2.000 pessoas em Juba na sexta-feira que o referendo “marca a verdadeira emancipação do povo do sul do Sudão”. Mbeki dirige um painel da União Africana, liderando conversações entre o norte e o sul. Para ele, o painel é encorajado por líderes, no norte e no sul, que estão determinados a manter uma relação especial entre as duas partes do país, vendo a secessão como uma oportunidade para redefinir essa relação com base na igualdade. Diplomatas, observadores do referendo e jornalistas estão em Juba para acompanhar a votação. Entre os visitantes estão o ator George Clooney, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter, e o ex-chefe o da ONU Kofi Annan. O resultado prévio do referendo é esperado logo após o fechamento das urnas, em 15 de janeiro, mas os resultados finais

não sairão antes de fevereiro. PENDÊNCIAS - O sul e o norte ainda precisam concordar

HAITI

Um ano após tremor, país ainda chora mortos Terra Devia ser a ocasião para começar do zero, uma oportunidade para ‘’conjurar a maldição haitiana’’, como dizem seus habitantes, mas passado um ano do terrível terremoto de 12 de janeiro, o país continua mergulhado no caos e agora também pela cólera. Eram 16h53. Os estudantes saíam dos colégios, os vendedores fechavam suas lojas, os haitianos regressavam paulatinamente para suas casas quando o movimento brusco interrompeu sua rotina. Um longo e terrível terremoto de magnitude 7, o pior desastre natural nos últimos 30 anos no mundo, atingiu o país mais pobre da América. Mais de 220.000 mortos e 300.000 feridos, incluindo milhares de pessoas que tiveram membros amputados. Um milhão e meio de pessoas sem teto. Um Estado aniquilado. O PIB inexistente. A sede da presidência e a sede da missão da ONU desabadas.

“Goudou Goudou”, o monstro divino, como os haitianos chamaram o terremoto, colocou o país de joelhos. Em poucos dias, centenas de socorristas, seguidos por um exército de jornalistas, chegaram ao Haiti. Os EUA enviam 20.000 soldados para organizar a ajuda e evitar que o país de idioma francês mergulhasse na anarquia. Somas de dinheiro sem precedentes foram prometidas. Em março, em Nova York, uma conferência internacional fez subir para US$ 10 bilhões a promessa de ajuda para reconstruir um país modelo. A Comissão interina para a Reconstrução do Haiti, que administra os fundos, não consegue atuar e os campos de refugiados improvisados se perpetuam. Porto Príncipe ainda dá a impressão de ser um grande acampamento de refugiados, segundo a Anistia Internacional. CÓLERA - Passado o terremoto e quando se sentia relati-

vamente a salvo da temporada de furacões, o Haiti pensou que podia se dedicar à campanha de sucessão do presidente René Preval, mas surgiu um novo desastre: a cólera. Erradicada há mais de um século na ilha, a doença que ataca os pobres reapareceu em outubro no centro do país e rapidamente se propagou para a capital. Até o momento, mais de 3.400 pessoas morreram. Apesar da violência contra os capacetes azuis - acusados de importar a doença do Nepal, segundo uma investigação internacional - as eleições foram realizadas em 28 de novembro. Apesar da vigilância internacional, houve denuncias de fraude no dia da votação. A notícia da exclusão do pleito do popular cantor Michel Martelly enfureceu seus seguidores e os protestos se tornaram violentos. A divulgação dos resultados finais foi adiada de forma indefinida, e ninguém sabe se o segundo turno - previsto para 16 de janeiro - será realizado.

em questões como a partilha da riqueza do petróleo, os direitos de água e os direitos de cidadania.

A organização humanitária britânica Oxfam alertou que, independente do resultado, o sul do Sudão ainda precisa de apoio a longo prazo. Apenas 15% da população sulista sabe ler e cerca de metade dependem de ajuda alimentar. Um relatório da organização Global Witness afirma que o Sudão também precisa de mais transparência na divisão dos lucros da produção de petróleo para manter a paz na região. O documento diz que as suspeitas sobre como esses lucros são divididos aumentaram muito a desconfiança entre as regiões norte e sul do país. A maioria do petróleo vem de poços no sul do Sudão, mas a infraestrutura está no norte. Atualmente, o acordo para a divisão do dinheiro arrecadado com o petróleo determina que cada região fica com cerca da metade dos lucros. Mas, o relatório da Global Witness opina que o norte e sul

precisam de um novo acordo, mais transparente, para substituir o existente, que deve expirar no final de janeiro. “A desconfiança sobre a divisão do dinheiro foi uma das razões primárias para a retirada temporária da região sul do acordo de divisão de poder. As provas sugerem que essa preocupação não é infundada”, acrescenta o documento. O relatório da Global Witness afirma ainda que o governo sudanês e a China National Petroleum Corporation, a maior companhia que opera na região, não justificaram as discrepâncias nos índices de produção apresentados. “Nas atuais circunstâncias, os cidadãos sudaneses não podem ter certeza da quantidade de petróleo que seu país produz e, portanto, não podem saber se o acordo para a divisão das riquezas geradas pelo petróleo está sendo implementado de uma forma justa”, diz o relatório.

Comissão de recuperação é criticada As obras de reconstrução mal começaram no Haiti um ano depois do catastrófico terremoto, conmfirmou na quarta-feira uma destacada entidade assistencialista, em um relatório com críticas duras à comissão de recuperação liderada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Houve uma grande disposição de ajuda no mundo todo depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010, que devastou boa parte da capital do país, Porto Príncipe, matando quase 250 mil pessoas e deixando mais de 1 milhão de desabrigados. Mas o relatório da Oxfam, entidade com sede na GrãBretanha, embora reconheça que a recuperação de desastres é lenta mesmo em países desenvolvidos, afirma que os esforços no Haiti ficaram paralisados por falta de liderança do governo e da comunidade internacional. “Enquanto os haitianos se preparam para o primeiro aniversário do terremoto, perto de 1 milhão de pessoas ainda estão desalojadas. Menos de 5% do entulho foi removido, se construiu apenas 15% das habitações temporárias necessárias e relativamente poucas

Terremoto de janeiro de 2010 deixou milhares de haitianos nas ruas

instalações de água e saneamento básico”, diz o relatório. O dinheiro é parte do problema, diz a Oxfam. O relatório cita dados da ONU mostrando que menos de 45% dos US$ 2,1 bilhões prometidos para a reconstrução do Haiti durante uma conferência internacional de doadores, em março, em Nova York, foram de fato desembolsados. Mais importante, contudo, no relatório, é a afirmação de que a comissão presidida por Clinton e pelo primeiro-ministro haitiano, Jean-Max Bellerive, ficou aquém do esperado em muitas áreas cruciais.

“Até agora, a comissão fracassou em cumprir o que prevê o seu mandato”, diz o documento. “A comissão é um elemento-chave na reconstrução e tem de superar a situação de indecisão e adiamentos.” Estabelecida em abril como principal órgão de coordenação dos esforços, a Comissão Interina de Recuperação do Haiti teria de melhorar a coordenação dos projetos internacionais de ajuda, fomentar a capacidade estatal para sua implementação e unir doadores e agentes governamentais na condução dos esforços de reconstrução.

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