22/06/2017 -Edição 23051

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“VOCÊ JAMAIS SERÁ LIVRE SEM UMA IMPRENSA LIVRE.” — VENELOUIS XAVIER PEREIRA

ANOS

Fortaleza, Ceará, Quinta-feira, 22 de junho de 2017  Edição No 23.052  Fundado em 24 de setembro de 1936  80 Anos

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anda Palhano foi uma mulher muito à frente do seu tempo. Viveu sua juventude intensamente e não se limitava aos padrões conservadores da primeira metade dos anos 1950. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar na Faculdade de Direito da então Universidade do Ceará, um curso predominantemente frequentado por homens de onde saíram grandes talentos, que ilustram a História do Ceará e do Brasil. Foi ali que, em 1958, Wanda iniciou uma carreira que iria marcar a sua vida, não somente como advogada, mas também como jornalista. Ao lado de Venelouis Xavier Pereira, seu colega da Faculdade, iniciou uma vida em comum. Logo no primeiro semestre do curso, aos 20 anos, engravidou do primeiro filho, Ricardo. A ele, seguiram-se, Stevenson. Soraya e Solange. A parceria com Venelouis estendeu-se para além das lides do Direito. No final de 1965, um amor que movia os dois, o Jornalismo, ganhou forma física, quando adquiriram o jornal O Estado, então instalado no centro de Fortaleza. O Jornalismo vivia os momentos finais de sua fase romântica e o Brasil caminhava perigosamente para a sua noite mais sombria. No entanto, Wanda doou-se ao jornal com a energia dos jovens idealistas. Ali, na sua segunda casa, os dois moviam-se muito mais pela emoção que com a razão fria da gestão empresarial. É por isso que construíram uma empresa essencialmente familiar, que abrigou tanta gente. E nos momentos mais difíceis, ela estava lá. Mesmo depois que se divorciou de Venelouis, a parceria e a amizade continuaram. Wanda Palhano tem uma consistente presença no jornalismo, na Literatura e no Direito. Foi a primeira mulher procuradora-geral do Dnocs - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - além de procuradora federal. Publicou com regularidade sua produção intelectual, principalmente nas páginas do jornal O Estado. Foi celebrada e usufruiu da sua beleza e da sua liberdade. Viveu a juventude em plenitude, das pradarias do alto da Serra de Guaramiranga aos bailes vespertinos no Clube Maguari e nos salões do Ideal Clube. Sempre vanguardista, criou os filhos com enorme cumplicidade e acolhimento. Cearense nascida no Paraná, veio para o Ceará aos dois anos de idade. “Sou nordestina apaixonada pela minha terra e pelo meu povo. Sempre amei demais a vida, acredito que a realidade é boa, já vivi mais momentos de felicidade do que de tristeza. Acho que o amor é tudo, é energia criadora, capaz de com a fé remover montanhas.” - pregava. Com a morte de Venelouis, em 1996, Wanda assumiu o jornal ao lado dos filhos, iniciando a nova fase que se prolonga até nossos dias. Sua presença, seu carisma e extrema gentileza eram uma energia viva contagiante. A memória que queremos da Doutora Wanda é a mesma daquela mulher que soube se impor e ser forte nos momentos mais íngremes. Que soube quebrar modelos tradicionais e impor-se, ela própria, como alguém para quem a beleza física não tinha a mesma relevância que a beleza espiritual. Agora, em outro plano, Wanda Palhano continua nos inspirando. Ela cumpre seu ciclo de vida com a maior dignidade. Sua lembrança e seu legado são exemplos de força e determinação.

NESTA EDIÇÃO

16 páginas

ISSN1809-3043

97 71809

304002

51

R$ 2,00

1933 2017

Wanda,

uma mulher incomum


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