26ª edição de 'O Espectro'

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24 | 16 DE MARÇO DE 2017 O ESPECTRO Ainda não tinha terminado a conversa com

um bocado “deslocado” ou “perdido”, mas

a Flor e já a marcha arrancava. Os cartazes

que acompanhava a marcha lado a lado,

estavam agora à vista de todos, expostos

sem hesitar.

por quem os elevava no ar, as bandeiras es-

Ao iniciarmos o diálogo com eles, percebe-

voaçavam com o vento e os primeiros gri-

mos que não eram portugueses e que, até

tos ecoavam no ar. Despedimo-nos então

mesmo, se encontravam reticentes de res-

da Flor, agradecemos o seu contributo e

ponderem às nossas questões com medo

deixamo-la partir para junto dos seus enquanto nós, nos encaminhávamos também. Já se tinha sentido este sentimento anteriormente, na Marcha das Mulheres em Lisboa, em frente à Embaixada dos Estados Unidos da América, o sentimento de estar num lugar, a fazer algo onde não existe julgamento entre as pessoas de dentro apesar das pessoas de fora, mesmo entre os olhares de curiosidade e os sorrisos de aprovação, encontrar quem mande “bocas” menos

de não “saberem o suficiente”. Eles não pre-

generosas e se sinta incomodado. Talvez

cisavam de “saber o suficiente”, não existi-

seja por não se identificarem com a luta,

am respostas corretas, nem respostas esta-

talvez por não pertencerem a uma minoria

belecidas previamente. Só precisavam de

oprimida e pertencerem à classe opressora

se manifestar e partilhar connosco a pers-

ou talvez, só talvez, se terem resignado ao

petiva vista através dos seus olhos.

seu conformismo e não saberem como rea-

«É bom para um (indivíduo) sair à rua e

girem perante as ocasiões onde o descon-

dizer “não estou de acordo com isso”.»

tentamento não fica “preso na garganta” e

Manifestante

se revela perante todos.

Agradecemos e continuamos o percurso. O

“E a violência ‘pra quê? E o ódio ‘pra quê? E

único retrocesso que houve durante a mar-

a opressão ‘pra quê ‘pra quê ‘pra quê?”.

cha acontecera somente, cada vez que to-

Já a marcha ia a meio quando decidimos

dos andávamos para trás… “Como o machis-

abordar um casal homossexual que parecia

mo, andamos para trás” seguido de uma


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