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Tema de Fundo

O economista Roberto Tibana aceitou falar em exclusivo ao “Semanário Económico”. Ele que diz andar afastado de entrevistas, não foi fácil o convencer, mas o tema que propusemos analisar, “Actualidade Económica de Moçambique: Moldando o Futuro - O Papel dos Serviços no Crescimento Económico e Geração de Empregos”, do Banco Mundial, deixou Tibana inquieto e, disse, Ok. Vamos lá falar.

Segue a entrevista na íntegra e ipsis verbis

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O.Económico (O.E): Dr. Roberto Tibana, a opinião do Banco Mundial, o que é que traz de novo? Procede ou não? Que racionalidades é que podem ser aceitáveis para justificar a pretensa mudança de paradigma no processo económico de Moçambique, da agricultura para à área de serviços? Sabemos que no passado houve inclusive um período em que se discutiu muito que Moçambique devia apostar na área de serviços como área de seu enfoque para o crescimento económico, para o desenvolvimento económico. O que é que lhe pareceu esta informação?

Roberto Tibana (R.T): Eu penso que é preciso ver esta recomendação do Banco Mundial a dois níveis: tem um nível mais global e é mais estratégico. E se justifica a esse nível global e estratégico. E tem um nível mais específico. O primeiro, o nível global e mais estratégico, é que Moçambique precisa de encontrar, de forjar um novo paradigma de desenvolvimento, porque o modelo que tem vindo a ser seguido nos últimos 30 anos falhou. Isto está claro nas premissas desse estudo: o modelo falhou e, portanto, é preciso encontrar outro…, na justificação do Banco Mundial, o modelo falhou precisamente por se ter baseado numa concentração excessiva nas indústrias extractivas de exportação, sem transformação com valor acrescentado, e numa agricultura de baixa produtividade. É interessante que, nesta discussão toda, o Banco Mundial nem sequer fala da indústria, particularmente da indústria manufactureira. Fala mais da indústria mineira e dos extractivos, e por aí fora. Portanto, porque de facto a indústria manufactureira foi completamente relegada, principalmente ao esquecimento em termos de políticas. Portanto, o modelo falhou, e falhou por isso, por essa concentração nos extractivos, e numa agricultura de baixa produtividade, o que acabou por não resolver os problemas fundamentais , que são os problemas da pobreza…

(O.E): E aí eles (Banco Mundial) têm razão. Falhou mesmo?

(R.T): Têm razão! Falhou! Da pobreza, falta de emprego, empregos produtivos com altos rendimentos que deem rendimentos às famílias, os trabalhadores para se sustentarem e se reproduzirem como famílias e como força de trabalho. Isso é um lugar comum, e isso não devia ser novidade, as pessoas têm vindo a dizer já há décadas, e eles estão a dizer 30 anos depois. Mas logo no princípio, nos anos 1992, 93, 2000 já faláva- mos disso. As conversas que nós interrompemos nessa altura tratavam exactamente destes assuntos, precisamente destes assuntos. Quando foi estabelecida a Mozal e essas coisas todas, falávamos destes assuntos. E um dos exemplos típicos, que é o que se costumava trazer nessa altura, era a comparação que eu fazia entre o investimento da Mozal, 2 mil milhões de dólares no início, e que criou 1.200 empregos e o investimento na cana-de-açúcar aqui em Xinavane, foi um pouco mais de 300 milhões U$S que deu 17.000 empregos. Portanto, já nessa altura se vaticinava que era um modelo falhado em termos desses objectivos e também o efeito sobre a pobreza. Portanto, estes factos que estão a ser trazidos agora para dizer que o modelo falhou, já nessa altura se dizia que o modelo ia falhar. Portanto, é um lugar comum. A outra questão, ao nível mais específico da análise do Banco Mundial (da recomendação), é do papel dos serviços, como a alterna-

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