Os desafios do desenvolvimento na América Latina

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2. Estado e políticas públicas A SAVOIR

dos modelos nacionais dependem estreitamente das proporções relativas dessas diversas categorias e da natureza do financiamento público. O modelo universitário público, tal como se desenvolve a partir do século 19, leva a uma abordagem muito mais orientada para o ensino do que para a pesquisa (Ribeiro Durham, 1996). As universidades se desenvolvem pela agremiação de faculdades de fins profissionalizantes: Medicina, Direito, Engenharia, principalmente. Além disso, as universidades desempenham um papel mais político do que científico em suas sociedades respectivas: elas são o lar de elites desejosas de promover a mudança social pela mobilização da juventude. Com isso, a politização da vida acadêmica pode atingir níveis elevados. A situação geral das universidades na América Latina pode ser comparada, portanto, à dos regimes políticos nacionais: diferenças profundas, mas com ar de família. Tanto para as universidades como para os regimes políticos, a inspiração nas influências estrangeiras é constante em todas as épocas: Espanha, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, principalmente. Mas, após décadas de reformas e evoluções, alguns modelos específicos foram aparecendo: no plano da educação superior, “as políticas públicas parecem consistir em versões diferentes para cada país, mas a partir do mesmo repertório de alternativas” ( ibid p. 10). Se quisermos resumir a trajetória histórica da região no tema, a análise leva a distinguir três grandes períodos da questão universitária latino-americana desde as independências. Cada um desses períodos corresponde a um grande paradigma – possível de se identificar –, o qual deixa uma marca notável que permite distinguir os países em função de sua relação com ele. O primeiro período corresponde, em sua essência, ao século 19. O principal desafio da época é, como vimos, o da secularização, e a paisagem universitária evolui diferentemente de um país para outro segundo o tratamento dessa questão. Em uma ponta do espectro estão países como a Colômbia, que teve de esperar o ano de 1935 para assistir ao nascimento de sua primeira universidade laica, ou o Chile, onde se institucionaliza um sistema dual com financiamento público das universidades católicas. Na outra ponta do espectro estão países como o México e a Argentina, onde se assistiu ao quase sumiço da universidade católica tal como concebida durante o período colonial. Nesses casos, o paradigma é o da secularização/republicanização.

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© AFD / Os desafios do desenvolvimento na América Latina / Março 2014


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