Participaçào comunitária no Pantanal, Brasil: estratégias de bloqueio e processo de aprendizado

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5. Criação do pluralismo: consequências imprevistas do « projeto preliminar »

Nós examinamos aqui a primeira fase implementada do

Defesa do Pantanal), que, por existir há muito tempo, teria

controle social. Desta vez, a política de “bloqueamento”

atores – em particular os peritos estrangeiros e as

PRP e a maneira como a PC se tornou uma prática de

podido em seguida contrabalancear a influência de outros

atingiu os próprios fazendeiros, enfraquecendo sua associação

principal

pela

defesa

sistemática

autoridades locais. A este respeito, a “fabricação de

do

pluralismo” precipitada e artificial introduziu uma nova

famoso “projeto preparatório para a criação do PRP”

sobretudo, as elites locais mas também, através delas, a

“pluralismo” da parte dos parceiros estrangeiros. O

forma de controle e bloqueamento social que tocou,

(Apoio à Criação do PRP) é lançado em 1998 para

“organizar

e

mobilizar

a

população

local”.

comunidade de fazendeiros. Nós estimamos que este

Ele

processo colocou as marcas de uma supressão

compreende duas grandes partes: a criação rápida de

institucional dos fazendeiros – que ia rapidamente

toda uma série de novas organizações locais, que deve

concretizar-se no seio do parque “participativo”.

diversos projetos de desenvolvimento, que devem “atrair”

Nós começaremos por examinar o efeito de poder

« pluralizar » a sociedade civil local; e o lançamento de

os fazendeiros para que se unam a estas novas

produtivo do discurso sobre “pluralismo”. Este põe em

associações.

questão a influência e a legitimidade da associação de

fazendeiros, a SODEPAN, criando em marcha forçada toda

Como os peritos estrangeiros faziam questão de identificar

uma série de organizações. Mostraremos em seguida

as “melhores práticas de PC”, eles interessaram-se

como este processo foi alimentado pelo recurso a um

progressivamente pela (e implicaram-se diretamente)

poder penoso e os benefícios esperados de “projetos

“fixação da sociedade civil local”, sua “democratização” e

atrativos” para os que se uniriam a uma destas novas

“diversificação”. Este trabalho devia garantir a construção

associações. Finalmente, examinaremos o efeito de

de um parque participativo sob as bases sãs de uma PC

bloqueio deste « pluralismo artificial », a maneira como ele

inclusiva. Contudo, afirmamos que ele arruinou a realidade

reduziu o estatuto e o peso da comunidade dos fazendeiros

da PC, em especial sua intensidade (o grau de participação

no seio do PRP e como estas novas estruturas

ativa), desestabilizando a única associação de fazendeiros

fracassaram para criar

que funcionava corretamente, a SODEPAN (Sociedade de

5.1

na prática grupos de pressão

eficazes representando os fazendeiros.

Novas organizações põem em questão a associação de fazendeiros

Como explica Charnoz (2009b), o « poder produtivo »

forma de “poder produtivo” foi exercida pelos parceiros

manifesta-se através de novos discursos que redefinem

estrangeiros do PRP: estes elaboraram um discurso

os valores e os conhecimentos considerados como

potente sobre a necessidade de “pluralizar” a sociedade

de novos atores ou categorias. Estimamos que uma

da SODEPAN.

adquiridos, o que leva frequentemente ao reforço social

civil local, o que permitiu reduzir o estatuto e a influência

© AFD Documento de trabalho n° 93 • Participação comunitária no Pantanal, Brasil • agosto de 2010 47


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