Aventureiros ou Irresponsáveis?

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Aventureiros ou Irresponsáveis?

Não é de hoje que a sociedade valoriza o garantido e o estável. Afinal, se ainda há uma sociedade em primeiro lugar, é graças à crescente sedentarização do homem, indo da invenção da agricultura à da televisão. O “aventureiro” ou “independente” passou a ser visto como subversivo. Ou, no mínimo, assim o foi até as gerações passadas, marcadas pelo medo de uma nova Grande Depressão e pela desesperança de grandes Guerras Mundiais. Estaremos, entretanto, passando por uma silenciosa transformação desses valores? Quando, no Neolítico, o homem passou a se fixar na terra, surgiram as grandes civilizações. A demarcação de espaços tornou-se, portanto, sinal de poder: cercas delimitaram a riqueza de estados teocráticos, de espartanos ricos, de senhores feudais e, ainda hoje, de grandes fazendeiros. E, assim, países como o Brasil continuam reelegendo os mesmos velhos coronéis, e leis continuam entravadas pela vontade de governantes ainda ligados à terra, símbolo pré-histórico que continua sendo passado de pai para filho, de forma “garantida e estável”. Alguns povos, porém, permaneceram nômades, como determinados grupos de ciganos. Surgidos na Índia e espalhados, principalmente, pela Europa, foram alvo de perseguições e preconceito ao longo da história; no holocausto, mais de duzentos mil foram mortos. Tudo graças ao seu modo de vida diferente e, portanto, “inadequado”. As gerações mais recentes, contudo, começam a questionar a vida linear e mesmo irrefletida de seus pais. Enquanto muitos seguem apostando em concursos públicos e em sua promessa de segurança, a exemplo das gerações anteriores, ainda que para empregos com que nunca sonhariam, outros foram influenciados pela chamada Geração Beat¹. A expressão se refere ao grupo de escritores americanos das décadas de 50/60 que viviam de forma nômade ou em comunidades, inspirando movimentos de contra-cultura como os hippies e dando início ao costume de viajar como mochileiros. Desde então, inúmeros jovens correm o mundo em busca de experiências próprias e valorizam o que realmente desejam, até mesmo na hora da escolha da profissão, colocando a satisfação pessoal acima da financeira. Maioria ou não entre os jovens, nossa geração é marcada pela disposição em se arriscar pelas próprias crenças, nem sempre satisfazendo os familiares (sim, aqueles que continuam insistindo com o filho artista no fato de que “o Direito é uma carreira tão bonita...”). Se, num futuro próximo, seremos uma humanidade genuinamente feliz ou genuinamente falida, porém, só o tempo dirá. . Victória Monteiro da Silva Santos

¹Esse termo, aliás, inspirou John Lennon a criar para sua banda o nome “The Beatles”.


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