EXPOSIÇÃO COLETIVA DE MONÓCULOS










CORAGEM: DO SAGRADO ÍNTIMO AO COLETIVO.
Texto crítico: Carluz

A Exposição Coletiva de Monóculos “CORAGEM!”, dispõe de 80 monóculos instalados nas grades do Estúdio Extraordinário, localizado em Itu/SP, contemplando o projeto “Fronteiras”. Nesta Exposição, vemos uma série de monóculos que carregam a particularidade de trinta e nove artistas debruçados à coragem e trazendo fragmentos fotográficos que envolvem o espectador numa jornada de curiosidade e decisão. Olhar ou não olhar? Basta coragem!
Os monóculos são objetos cônicos que possuem uma lente direcionada à uma fotografia depositada em seu interior, instigando um olhar focalizado à imagem. O objeto simples popularizou-se entre as décadas de 60 à 80* em praças, quermesses e festividades Brasil afora. Uma espécie de souvenir da época que carregava um pedaço do tempo, servindo de recordação.
Tal recordação, que, cria uma espécie de imantação sensorial diversificada ou de uma crônica visual, mesclando passado e presente, e gerando uma potencial narrativa do que prever no futuro.
Trago esse pensamento pois em conversas descontraídas com as curadoras desta exposição (Katia Salvany e Raquel Fayad), trazíamos questionamentos do que é coragem, qual a definição desse sentimento? Segundo o dicionário co.ra.gem é a “atitude firme e perseverante no enfrentamento de situações emocionalmente difíceis”**. Não por acaso, a ideia desta Exposição surge com o contato de Raquel Fayad com os monóculos de Hugo Curti, relíquias do artista e seu antigo companheiro falecido em 2021. Ter coragem nada mais é do que estar disposto à percorremos por sentidos que transitam entre paixão, medo, latência, estímulo, luto e demais perspectivas que nos deixam frente à frente de um espelho de decisões.
*Dados historiográficos retirados do artigo “Monóculo Fotográfico - Uma crônica visual” de Ana Menezes pela Revista Ars Historica, ISSN 2178-244X, nº14, Jan/Jun 2017, p. 245-256. Disponível em: www.ars.historia.ufrj.br **CALDAS, Audalete. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3ª Edição, Rio de Janeiro, 2011, p.227.

Do latim coraticum, a ação do coração se torna a ousadia de enfrentar os desafios sociais, políticos e econômicos; desafios da vida. Guimarães Rosa em sua memorável publicação “Grande Sertão: Veredas” diz que
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e ‘inda’ mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem. Será?” (ROSA, p. 293)*
Encaro aqui as fotografias instaladas nos monóculos desta mostra bem como toda imagem que é “a um só tempo revelador de informações e detonador de emoções”**. Dentre a seleção curatorial, as imagens escolhidas expressam cores, vibrações, corpos, vontades e desejos, detonando emoções que nos impedem de vivenciar a coragem.
Ter coragem envolve o suspense da vida num clímax sensorial sintetizado pela curiosidade de olhar para um espaço ainda desconhecido! Olhe, permita-se a enfrentar a coragem, enfrente seu "eu" a partir do "outro". Parafraseando Clarice Lispector “Viver não é coragem, saber o que se vive é coragem [...] a coragem de ser o outro que se é”***. Sejam corpos, expressões, natureza ancestral, manifestos, o olhar puro de uma criança, o aprisionamento, a saúde mental e diversos outros aspectos imagéticos que observa-se nos fragmentos fotográficos expostos pelos artistas, temos a certeza de que todas razões de coragem são válidas, pois são vividas em consciência.
Validadas pelos corajosos artistas, passeamos entre as grades do Estúdio Extraordinário encarando misteriosas caixas que guardam a coragem de cada um. Afrontamos o medo e seguimos em frente mas ainda com aquela pergunta: Olhar ou não olhar? Basta coragem!
*ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.1ª Edição Nova Aguilar, São Paulo, 1994.
** KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 4ª Edição, São Paulo: Ateliê, 2012, p. 30.
*** LISPECTOR, Clarice. A Paixão Segundo G.H. 1ª Edição, Editora Rocco, 2020.

COURAGE: FROM SACRED INTIMATE TO THE COLLECTIVE.
Writer: Carluz
The Collective Monocle Exhibition “CORAGEM!” (Courage!), displays of 80 monocles installed on the Estúdio Extraordinário’s (Extraordinary Studio’s) fences, located in Itu, São Paulo, Brazil, contemplating the “Fronteiras” (Borders) project. In this exhibition, we see a series of monocles that bear the particularity of thirty-nine artists focused on courage and bringing photographic fragments that involve the viewer on a journey of curiosity and decision. To look or not to look? It just takes courage!
The monocles are conical objects that have a lens aimed at a photograph inside of it, encouraging a focused look at the image. The simple object became popular between the 60s and 80s* in squares, fairs and festivities throughout Brazil. A kind of souvenir from the period that carried a piece of time with it.
This souvenir creates a kind of diverse sensorial attraction or visual chronicle, mixing past and present, and generating a potential narrative of what to predict in the future.
I bring this thought because in relaxed conversations with the curators of this exhibition (Katia Salvany and Raquel Fayad), we raised questions about what courage is, what is the definition of this feeling? According to the dictionary, courage is the “firm and persevering attitude in facing emotionally difficult situations”**. It is no coincidence that the idea for this Exhibition comes from Raquel Fayad's contact with Hugo Curti's monocles, relics of the artist and her former companion, who died in 2021.
Having courage is nothing more than being willing to go through meanings that move between passion, fear, latency, stimulation, mourning and other perspectives that leave us facing a mirror of decisions.
*Dados historiográficos retirados do artigo “Monóculo Fotográfico - Uma crônica visual” de Ana Menezes pela Revista Ars Historica, ISSN 2178-244X, nº14, Jan/Jun 2017, p. 245-256. Disponível em: www.ars.historia.ufrj.br **CALDAS, Audalete. Minidicionário contemporâneo da língua portuguesa. 3ª Edição, Rio de Janeiro, 2011, p.227.

From the Latin coraticum, the action of the heart becomes the boldness to face social, political and economic challenges; life challenges. Guimarães Rosa in his memorable publication “Grande Sertão: Veredas” says that
“The flow of life wraps everything up, life is just like that: it heats up and cools down, tightens and then loosens, calms down and then becomes restless. What it wants from us is courage. What God wants is to see us learning to be able to be extra happy, in the midst of joy, and even more joyful in the midst of sadness! All of a sudden, at the moment you want, on purpose – out of courage. Is it?” (ROSA, p. 293)*
Here I look at the photographs in the monocles of this exhibition as well as every image that is “at the same time revealing information and triggering emotions”**. Among the curatorial selection, the chosen images express colors, vibrations, bodies, wishes and desires, triggering emotions that prevent us from experiencing courage.
Having courage involves the suspense of life in a sensorial climax synthesized by the curiosity of looking at a space that is still unknown! Look, allow yourself to face courage, face your “self”, starting from the "other". To quote Clarice Lispector, “Living is not courage, knowing what you live is courage [...] the courage to be the other that you are”***.
Be it bodies, expressions, ancestral nature, manifestos, the pure look of a child, imprisonment, mental health and various other image aspects that can be observed in the photographic fragments exposed by the artists, we are sure that all reasons for courage are valid, as they are lived in consciousness.
Validated by the courageous artists, we walked between the fences of the Estúdio Extraordinário looking at mysterious boxes that hold each person's courage. We face our fear and move forward but still with that same question: To look or not to look? It just takes courage!
*ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas.1ª Edição Nova Aguilar, São Paulo, 1994.
** KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 4ª Edição, São Paulo: Ateliê, 2012, p. 30.
*** LISPECTOR, Clarice. A Paixão Segundo G.H. 1ª Edição, Editora Rocco, 2020.