Newsletter 2 (22 10)

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Com as primeiras chuvas outonais chega o segundo

CONTEÚDOS

número da newsletter da Transição em Portugal! Neste número damos especial destaque ao “VII Encontro de Iniciativas de Transição

. Bem-vindos! . VII Encontro ITP . O que é a Transição? . Encontro HUB's . Transição interior . Cama Elevada . De Dentro para Fora . Curso de Transição . Festival de Telheiras . Encontro Nacional Transição . Próximo Número

em Portugal” que decorreu em Linda-a-Velha de 14 a 15 de Setembro 2013. Em dois dias ficou-se a conhecer o que as diferentes iniciativas de transição têm desenvolvido na sua localidade, reflectiu-se sobre alguns conceitos e essência da Transição, criou-se sinergias e formas de estar em rede, procurando agrupar temas e grupos de trabalho transversais a todas as iniciativas de transição presentes no encontro como por exemplo a comunicação em rede, como chegar à comunidade local, transição interior, etc. Logo de seguida passamos para o “Encontro Internacional dos HUB's” (HUB é o ponto de contacto das iniciativas listadas e não listadas na Transition Networks: https://www.transitionnetwork.org/) que decorreu em Lyon de 19 a 22 de Setembro e no qual estivemos representados pelo Luís Miguel Gonçalves. Chegamos à transição interior com “Interior sem Exterior não chega - Exterior sem Interior não funciona” de Rita Afonso, Iniciativa de Transição de Linda-a-Velha e a partilha de Teresa Freitas “O Nome das Coisas: A Cama Elevada”. Segue-se um artigo que saíu no Diário de Notícias da Madeira sobre o Grupo Madeira em Transição – Mudar de Dentro para Fora, em que a jornalista Paula Henriques termina o artigo a dizer 'É a Madeira a Mudar'. E que tal levar esta mudança cada vez mais longe, trabalhar em rede com as nossas iniciativas de transição vizinhas, quem sabe criar condições para que outras iniciativas nasçam, contribuindo para uma mudança cada vez mais global? É esta a proposta do próximo Curso de Introdução às Iniciativas de Transição, já nos dias 9 e 10 de Novembro em Coimbra. E mais uma vez terminamos esta newsletter em festa com o “Festival de Telheiras” do Centro de Convergência de Telheiras. Resta dizer que queremos lançar o próximo número na Primavera sendo que quem quiser participar deverá escrever para newsletter.trp@gmail.com até dia 28 de Fevereiro. Boas leituras Outonais!

imagem de http://transitiongawler.org

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VII ENCONTRO DE INICIATIVAS DE TRANSIÇÃO EM PORTUGAL Por Annelieke Sluijs , Luis Gonçalves e Margarida Sousa Com alguns esclarecimentos de Ana Cunha e Cândida Shinn Email: iniciativa.transicaoemportugal@gmail.com

A Iniciativa de Transição de Linda-a-Velha – única na forma de nos bem receber – acolheu nos dias 14 e 15 de Setembro mais uma reunião das Iniciativas de Transição de Portugal. Depois de quase um ano e

meio sem a

realização de um Encontro Nacional, o reencontro foi significativo! O Gonçalo Pais simbolizou o espírito do Encontro à moda ciclística.

Estiveram presentes as Iniciativas de Linda-a-Velha, Aldeia das Amoreiras, Aveiro, Braga, Cascais, Coimbra, Covilhã, Madeira, Portalegre, Quinta do Luzio, São Luis, Seixal, Telheiras, TU—FCUL.

Nós “raios” vamos descobrindo e construindo a essência comum (hub) que nos faz “rodar”

Iniciativas presentes no VII Encontro.

Estiveram também presentes o Hugo Zina, que vai para uma Iniciativa na Alemanha, em Witzenhausen e a Maria Fernandes Jesus, da Universidade do Minho e que está neste momento a estudar o movimento de Transição em Portugal. E 9 crianças que nos fizeram lembrar em cada momento a maravilha da vida e para que serve a transição.

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1º dia No sábado de manhã, assim que chegámos fizemos um mapeamento no espaço de quem somos, há quanto tempo existe a nossa Iniciativa, há quanto tempo estamos presentes, e quem participava pela primeira vez numa reunião de âmbito Nacional. Para mais de metade das pessoas presentes, foi o primeiro Encontro nacional que participaram. Das pessoas presentes na última reunião no Luzio, onde foram estabelecidos grupos de trabalho, faltava mais de metade.

O Gil, fez então um enquadramento e história contextualizada das Iniciativas de Transição em Portugal,

a

sua

organização

nacional

e

internacional, o que nos permitiu enquanto grupo integrar as novas iniciativas presentes e reflectir sobre o nosso passado comum. Para relembrar: o Gil é elo de ligação com o mundo académico nacional e internacional. Existem oportunidades para investigar/explorar certos temas com mais profundidade em trabalhos de mestrado, doutoramento e projectos financiados. Boas vindas aos recém chegados a estas andanças!

Observação importante sobre o desenvolvimento

Depois do Acolhimento feito pelo Gonçalo Pais da

do Movimento de Transição ao nível internacional:

ITLaV, partilhámos numa breve ronda quem

cada vez há mais oportunidades para colaborações

éramos e o que nos motivava a estar presentes

interessantes

nesta reunião de âmbito nacional e alargado.

disponibilidade de fundos. É fundamental ter um

parte

delas

financiadas,

e

bom elo de ligação com o movimento internacional para integrar nestas iniciativas. Neste momento, o Luís Gonçalves e o Filipe Matos estão a representar Portugal ao nível internacional.

Graças ao VII

Encontro das Iniciativas de Transição em Portugal uma semana antes do Encontro Internacional dos Hubs, o Luís Gonçalves, pode apresentar o estado actual do Movimento de Transição português.

As boas-vindas do Gonçalo da ITLaV e dois dos nossos facilitadores de serviço deste encontro: Luís Gonçalves e Annelieke van der Sluijs.

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Realizámos então uma Volta das Iniciativas presentes,

Depois de uma reflexão sobre o pouco trabalho que foi

que nos permitiu conhecer detalhadamente quais as

feito após o VI Encontro de Iniciativas de Transição no

actividades em que estão inseridas e participam e

Luzio, de onde se saiu com muito entusiasmo, falou-se

também quais os projectos sonhados e em que

sobre a necessidade e importância de funcionarmos em

trabalham (Podem ver o trabalho dos nossos atados

rede, e de reformular, com toda a humildade e

aqui).

consciência das nossas capacidades de realização

Mencionou-se que era bom conhecer o estado actual das iniciativas de transição ausentes na reunião. Discutiram-se

ainda

algumas

questões

verdadeiras, as nossas necessidades mais imediatas e os assuntos que neste momento necessitam de mais atenção.

que

frequentemente surgem quando se desenvolve uma iniciativa de transição, como por exemplo, constituir ou não uma associação, etc., sendo que na acta do VII

Os resultados desta reflexão em grupo foram usados para formular grupos de trabalho e tarefas para o segundo dia do Encontro.

Encontro Nacional é possível encontrar uma descrição

Finalizou-se o dia com um jantar partilhado, com

detalhada de todas estas questões e reflexões que

oportunidade de nos conhecermos melhor uns aos

surgiram durante o encontro.

outros e partilharmos conversas muito inspiradoras.

2º dia No Domingo, o dia começou com uma pequena reflexão do trabalho do dia anterior, seguido por uma roda de partilha pessoal sobre o contributo de cada um de nós e a nossa perspectiva sobre o funcionamento em rede. Para descobrir relações entre as necessidades existentes na Transição Nacional identificadas durante as conversas em grupo no Sábado (como por exemplo: funcionamento em rede, criar manuais sobre assuntos específicos, promover formação sobre transição interior, etc.), procurou-se agrupar os temas em silêncio, até chegar a um ponto satisfatório. Formaram-se 8 “grupo de temas". Destes 8 "grupos" e após uma ronda de priorização, surgiram 3 "grupos" com os assuntos de maior importância neste momento para a Transição Nacional: plataforma de comunicação; chegar à comunidade local; comunicar para resolver conflitos. Na acta do VII Encontro de iniciativas de Transição Nacional encontra-se um resumo mais alargado dos grupos, em que todos os elementos presentes tiveram a oportunidade de expressar o seu interesse principal e preferências por cada grupo e/ou tema específico. Já na recta final do encontro constituíram-se 3 grupos para delinear algumas actividades concretas para os temas com prioridade mencionados anteriormente.


s

Fica aqui um breve resumo dos principais resultados: Plataforma de comunicação De forma a experimentar formas efectivas de agilizar a comunicação entre as várias iniciativas de transição em Portugal, criar uma plataforma provisória de comunicação, a qual irá reunir e permitir criar: fóruns de discussão, gerir uma agenda de eventos, o upload de documentos, etc. (funcionalidade complementar ao site em desenvolvimento). Criar visão global necessidades/vontades partilhadas. Transição Interior e formação Neste grupo falou-se na necessidade de auscultar as diferentes iniciativas com um pequeno inquérito sobre as dinâmicas relacionadas com a transição interior, resolução de conflitos, etc. Para além disso mencionou-se a importância de realizar cursos de formação como o launch, o thrive, transição interior com a Sophie Banks, comunicação não-violenta, etc. Como chegar à comunidade Local Este grupo focou-se na importância da observação da comunidade na qual a iniciativa de transição está inserida, estratégias para chegar a um maior número de pessoas e importância de partilhar ferramentas/material entre iniciativas. Alguma das soluções apresentadas foram: • realizar ciclos de cinema a nível nacional com palestras/debate e dar feedback às demais iniciativas. Auscultar ainda a comunidade local acerca das suas sugestões em termos de cinema e que sejam apropriados pela transição. Falou-se na questão dos direitos de autor, e na possibilidade de realizar-se tradução de filmes como forma de contornar essa questão, disponibilizando a versão final para todas as iniciativas. Exemplo: Money & Life já traduzido por um equipa nacional para a AJUDADA. • Sugeriu-se que cada membro das iniciativas de transição, frequentasse uma actividade tradicional da sua comunidade, não só como forma de se “infiltrar” na comunidade, mas também para mobilizar a mesma. Exemplo: Inscrever-se no rancho folclórico.

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Finalizou-se este VII Encontro já a pensar no próximo Encontro das Iniciativas de Transição em Portugal, sugerindo-se aproveitar as férias do Carnaval em Março (1-4: data que reuniu maior consenso numa votação via doodle), para dar continuidade aos trabalhos iniciados neste último encontro.

Até ao próximo encontro, a prioridade é colocar o site das iniciativas de transição em Portugal a funcionar, lançando-se mais uma vez o apelo de que todas as iniciativas de transição preencham o seguinte inquérito sobre a sua iniciativa de transição. Durante este período de tempo queremos dar apoio aos grupos formados neste VII Encontro e também incluir pessoas que queiram participar neste processo, mas não puderam estar presentes no último Encontro. Em breve, entraremos em contacto com as diferentes iniciativas de transição Portugal. Ainda não foi decidido quem vai acolher o próximo Encontro: Coimbra ou Portalegre. Será decidido e divulgado no início do próximo ano.

Para finalizar deixamos convosco a partilha da Rita Afonso, da Iniciativa de Transição Linda-a-Velha, sobre o VII Encontro de Iniciativas de Transição em Portugal:

“Senti desde o primeiro dia uma energia MUUUUUUito calma e MUUUUUUito tranquila. E depois dos dois dias de reunião fiquei com a sensação clara de que esse foi o CONTAINER que aqueles que organizaram a reunião quiseram criar. Para alguns terá sido um pouco “morno”, talvez, para mim denota um passo evolutivo: posto que uma das nossas maiores fraquezas enquanto movimento é o excesso de entusiasmo, que nos leva a todos (uns mais outros menos, por toda a comunidade internacional) a lugares de desiquilibrio, frustação, ansiedade, burn out, etc. Acho que escolher conter a energia da reUnião de uma forma tranquila, sensata, humilde quanto ao que se espera e ao que se logra, é um passo enorme. Estamos de parabéns!"

_______________ ESTAMOS EM TRANSIÇÃO 2


EXTRAS Atividades para crianças

Visita guiada à horta do ITlav pela Teresa Brito

Durante o VII Encontro tivemos inúmeras actividades

A Iniciativa de Transição de Linda-a-Velha tem uma horta biológica fantástica e nós tivemos a sorte de poder contar com uma visita guiada improvisada à horta pela Teresa - um dos membros que cuida desta horta com muita dedicação e paixão! Ficam aqui algumas imagens:

para crianças, muitas das quais escolhidas pelas próprias crianças. Ele é bolinhos de areia, ele é pinturas no corpo, ele é mangueiradas, ele é casa-da-árvore, ele é contos, ele é... vida difícil!

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O QUE É A TRANSIÇÃO? Compilação de opiniões Transição em Portugal Durante o VII Encontro de Iniciativas de Transição em Portugal e nos últimos tempos, fomos recolhendo aqui e ali alguns depoimentos do que é a Transição para cada um de nós. Deixamos aqui alguns desses depoimentos. "TRANSIÇÃO: Todos, Resiliência, Ação, Natureza, Sentimento, Interior, Comunidade, Agora, Orgânico" "Transição é um movimento interior que desperta naturalmente no ser humano em determinada altura, quando ele toma consciência da sua necessidade de regressar ao todo a que pertence depois de uma longa separação... a procura do seu verdadeiro lugar no universo a que pertence. A passagem do ter para o ser, o encontro com a essência do projeto que ele é." "Transição é o processo individual/coletivo de interiorização de éticas e princípios tendentes à redução de impactos/consumos. Resultados - expanção da visão/percepção dos hábitos e rotinas tóxicas e disruptivas. Prática de ações de inclusão e co-criação."

outros e em comunhão com o meio natural envolvente."

"Transição é olhar o mundo para lá da formatação em que crescemos, ligar-me ao mundo e à vida, sentido o pulsar e os ritmos naturais; ser parte do todo, conscientemente; construir comunidade." A Transição é um processo que caminha pela reflexão individual e coletivamente reconstruindo o nosso papel responsável na sociedade e no planeta." "Transição é perceber que alguma coisa deve mudar e que há vários limites que não estamos a ver agora." "Transição é crescimento interior sustentável em comunidade. Força na união de energias e contagiar outros com positivismo." "É um processo de mudança/crescimento interior e mais ou menos íntimo que, progressivamente é partilhado e apropriado por um grupo que tende a construir-se como comunidade que age e transforma o Espaço que habita para torná-lo saudável, equilibrado e participado. Promove um sentimento de pretença, comunidade e saudável inter-dependência, no sentido de crescermos e aprendermos a viver uns-para-os-

Imagem de http://design-elements-blog.com

"Cuidar das pessoas... comunidade... mudar para melhor... sentido de realizar... fazer "coisas" práticas... concretização... interação útil... experiências transformadoras... dinâmica... caos... entropia... mudança... conhecimento... processos" "Transição é criar relações, laços entre pessoas, entre organizações, aumentar o seu impacto e visibilidade na comunidade." "Transição é construir comunidade aqui e agora... incluir, é conectar essências, comungar com a Natureza, Expandir!"


ENCONTRO INTERNACIONAL DOS HUB'S DA TRANSITION NETWORK Lyon, 19 a 22 de Setembro de 2013 Por Luis Gonçalves Email: iniciativa.transicaoemportugal@gmail.com

Os representantes nacionais O encontro internacional dos HUB's da Transition Network decorreu na cidade de Lyon, França, entre os dias 19 e 22 de Setembro na Maison des Associations.

Éramos 32 e estavam presentes 18 países - Alemanha, Bélgica, Brasil, Croácia, Dinamarca, Espanha, Filipinas, França, Holanda, Israel, Itália, Letónia, Luxemburgo, Noroega, Portugal, Reino Unido, Roménia e Suécia!

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1º dia No seguimento da primeira reunião que tinha acontecido em Inglaterra no ano passado, e continuando a promover esta grande família que são as Iniciativas de Transição espalhadas por 43 países, cada representante reportou o "estado" das Iniciativas do seu país, o que está a acontecer e também como se está a implementar o Movimento de Transição localmente. Das conclusões do ano passado, foram recuperados os Grupos de trabalho constituídos - Financiamento, Família, Parcerias, Comunicação, Coordenação dos HUBs e Estratégia /como chegar mais longe.

que está a pensar fazer no âmbito internacional e nacional, de onde destaco a vontade de internacionalizar de forma visível a TN. Constituíram-se grupos de discussão para debater ideias de como a TN poderia efectivar esta acção, onde participei nas propostas para a "Família". Desta acção, a conclusão principal foi a de manter e promover o contacto entre os HUB's da mesma forma como contactamos e cuidamos da nossa. O telefonema, o email, a partilha de artigos, de como se está a fazer para obter financiamento, chegar às comunidades, a partilha de recursos de comunicação, etc... Foi depois apresentado o trabalho que a TN fez sobre o papel que a mesma deve ter no Movimento de Transição: - Ser o HUB do Reino Unido - Deter o Secretariado dos HUB's - Motor do desenvolvimento a nível internacional e substituir-se ao HUB de um país quando não exista um - "Holder of the Source Code" (Keeper of the Flame) Alguém sugeriu que o Source Code fosse "open source" :-)

A Familia em trabalho...

2º dia No segundo dia, após o resumo do que se tinha passado na véspera, a Transition Network (TN) apresentou o

O nosso almoço "Índia Style"

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Depois de almoço foram apresentados os temas emergentes da TN: A simplificação do suporte online a fornecer pela TN Trabalho Ponto a Ponto (Peer 2 Peer) A TN nos média e mainstream Fornecimento de recursos aos Grupos / HUB's Modelação da Cultura

3º dia

Aí, foram feitas várias apresentações da TN: Formação O que se está a passar na formação: A partir de 1de Outubro, passará a haver um curso online de Iniciação. O Thrive está a ser bastante bem acolhido e intensificado em vários países (referi que também temos em projecto ter o curso na primavera de 2014). Existem agora os cursos "Talk Trainning" para dinamizar o como melhor comunicar, "Inner Transition" e "REconomy Project". Estão também a ser desenhados mais dois cursos, para os quais ainda não há datas de início - "Permaculture In Transition" e "Design for Transition".

REconomy

A quinta biológica de La Chalone No Sábado de manhã, fomos de autocarro para uma quinta biológica situada a uma hora de distância de Lyon - la Chalone - que é gerida por três famílias. Uma delas é de descendência portuguesa :-). Depois de cozinharmos o nosso almoço (saladas e pizzas) partimos para uma escola, onde trabalhamos durante o resto do dia de sábado.

Foi depois apresentado o projecto de REconomy e os passos que se estão a dar quer no Reino Unido quer na Europa, e da possibilidade de serem feitos 3 Case Study na Europa até Abril. Foi explicado que este é um processo para mudar toda uma comunidade e não um projecto pessoal. Assim debruça-se sobre que tipo de novos empregos poderão ser criados, como podem ser criadas condições para o fazer, onde podemos ver as Empresas TOP 20 segundo os critérios da TN. Existe neste momento muita informação já disponibilizada online, e os modelos de avaliação a utilizar na criação dos mapeamentos. Está também já disponível o fórum para suporte local.

Research Está também a ser criado um grupo de apoio ao Research, por forma a passar a haver uma plataforma e repositório de estudos já efectuados e servir de entrada para as perguntas que os investigadores, no início do trabalho necessitam de ver respondidas.

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Educação Estão criadas em Totnes as Scholls In Transition, por forma a leccionar de forma mais assertiva temas como a Água, Biodiversidade, Mapeamentos, etc. Foi também criada a 1 year In Transition que irá acolher jovem dos 20 aos 26 anos, durante um ano, com tutor, trabalho em equipa e contacto com outras iniciativas.

4º dia Outros temas Apresentada também uma infografia criada para explicação do que é a transição - já me disponibilizei para ajudar a traduzir para a versão portuguesa - e a IIRS - sistema de registo de iniciativas a nível mundial.

Noite Após as apresentações da tarde, e como decorria na mesma escola o encontro local da iniciativa de transição, partilhamos o que estávamos ali a fazer enquanto grupo internacional e os Franceses também partilharam as conclusões do seu encontro. Seguiu-se um jantar em conjunto e um baile com música típica.

No domingo aprofundámos os temas que tínhamos decidido como mais importantes para acção imediata dos HUB's, em que participei no "Tarefas e funções dos HUB's". Foram enquadrados nos grupos de trabalho existentes todos os assuntos, e solicitada a colaboração aos presentes para desenvolvimento posterior. Por forma a contribuir para este tema específico, e como já tínhamos tido o mesmo assunto debatido a nível nacional, sugerir enviar para o grupo de trabalho as conclusões da reunião das iniciativas nacionais no Luzio, pois as tarefas são muito semelhantes às que definimos. Irei durante o mês de Outubro enviar as definições dos grupos de trabalho em detalhe, o que ficaram de fazer e claro, solicitar quem queira contribuir e trabalhar em conjunto. E pronto, regressar a Lyon, a casa com sentido de missão cumprida e com a certeza que estamos inseridos numa grande Família, que partilha das nossas preocupações, vontades e energia para mudar o mundo! Grato pela oportunidade Luis Gonçalves

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TRANSIÇÃO INTERIOR Por Rita Afonso Linda-a-Velha em Transição Email: transicao.lav@gmail.com Site: http://transicaolav.blogspot.com

Como tecnologia para a mudança, a Transição Interior confere à visão/intenção do Movimento de Transição – de por si, um processo delicado, vasto e complexo uma ferramenta de saúde, desenvolvimento e bem estar, sem a qual seriamos mais do mesmo mas com outro nome.

Interior sem Exterior não chega Exterior sem Interior não funciona. É preciso o direito e o avesso da Transição para que a aventura seja completa e efetiva. É indiscutível: estamos habituados a fazer. Fomos educados para fazer e fazer duro. Quanto mais façamos, quanto maior for o esforço e o empenho maior é o nosso valor para a família, a sociedade e o mundo. Quanto maior o esforço, maior o prémio… e se não houver recompensa – que muitas vezes é o caso - não faz mal, as pessoas admirarão o que somos, dirão “ali está uma pessoa de valor, um homem às direitas, um lutador, uma vida de sacrifícios!” Por isso parece óbvio que o comportamento e o impulso mais imediatamente disponível quando falamos de Transição, seja querer fazer. Planear mudanças; reconhecer estruturas insalubres da cultura humana; visualizar, conceptualizar e executar (com criatividade, engenho e amor) novas formas de se ser humano sobre este planeta. Que toda a insalubridade das estruturas e criações sociais com que nos deparamos é fruto e reflexo do paradigma civilizacional em vigor, no qual nascemos e do qual somos parte, também é senso comum para nós. E que mudar alguma coisa no reino do visível implica mudanças a nível das crenças e valores daqueles com quem partilhamos o planeta e em nós, também não é novidade (…então, qual é a novidade?!!!) A novidade, ou a tecnologia que distingue e enriquece o Movimento de Transição (se comparado com outros ativismos e movimentos do passado) chama-se Transição Interior. O papel da Transição Interior é justamente o de entrelaçar estes dois universos - visível e invisível, acção e observação, interior e exterior, corpo e alma -, acreditando que «uma cultura humana saudável vê estas divisões e tenta reunificá-las» (Sophie Banks).

O papel da Transição Interior é o de nos recordar que somos seres íntegros, de nos pôr em contacto com todas as partes de nós, para podermos estar atentos aos outros de um modo mais integral. E para podermos agir de modo consciente, sábio e assertivo, naquelas que são as nossas paixões, tarefas e visões no cenário desafiante de um mundo em forte mudança. “Para subir alto é necessário descer fundo”: algo como o Movimento de Transição tem sonhos arrojados e inspirados, prementes, urgentes e pelos quais vale a pena trabalhar. Contudo, aquilo que observamos e as soluções que encontramos; aquilo que planeamos e o modo como o edificamos também depende da forma como interagimos com o nosso próprio mundo interior e com o mundo lá fora, a comunidade em que nos inserimos, o grupo com quem co-criamos e as pessoas com as quais nos relacionamos na intimidade. Consciência, observação, sentido crítico, criatividade, humildade, benevolência, paixão, comunidade, entrega, alegria, coragem e transparência são algumas qualidades que fazem parte tanto de fazer como de ser transição. Eu arriscaria dizer que toda a qualidade nomeável faz falta nos dois sentidos. Interior e Exterior separados e valorizados desigualmente não nos poderão levar à mudança que queremos construir.

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Interior sem Exterior não chega - Exterior sem Interior não funciona.

Contudo, e porque existe um processo de desintoxicação do paradigma atual que faz falta levar a cabo para podermos ir, passo a passo, pensando, sentindo, agindo e criando algo novo, a urgência de tecnologias interiores no seio das nossas iniciativas deve surgir por si só, deve cair de madura como um fruto. Não basta dizer que Transição Interior é importante, benéfica ou essencial. É preciso desejá-la e semear questões que germinem em nós. Questões como:  Como, quando e porquê cultivar a Transição Interior na minha Iniciativa e na minha vida pessoal?

mais empoderada, mais responsável e consciente?

compassiva,

 Que desenho interior humano ampara os processos sociais, culturais e de consciência que estamos vivendo e que queremos co-criar? E eu? Onde se encontra o meu desenho pessoal face ao que sonhamos juntos? Se por magia um novo mundo pós Transição estivesse aqui, quão preparad@, quão redesenhad@ estaria eu? Estas e outras questões nos levaram (a mim e a mais 30 pessoas) ao 2º Workshop de Transição Interior em Londres, em Abril deste ano. Um lugar bonito e um ambiente caloroso serviram de cenário à partilha de dois dias levada a cabo por Sophy Banks e Debbie Warrener, ambas elementos ativos da Transição Interior e da TN.

 Como me define e como molda o meu estilo de vida, o modo como me ofereço ao meu trabalho, ao mundo, à Transição, à comunidade, ao outro? E o que reflete de mim?  De que forma me influencia a presença e a ausência de dinâmicas e processos “interiores” na lógica da Transição?  Qual a importância real dos meus recursos internos e de estar conectad@ com eles? Conheço bem, tenho bem cartografados os meus recursos interiores? Sei como me preencher quando me sinto vazi@? Como me acalmar quando estou ansios@? Onde buscar força quando me sinto vulnerável e desanimad@? Sei quando devo parar? E quando preciso dizer algo íntimo e importante, faço-o? Respeito-me? Escuto-me?  E como hei-de gerir a urgência de «fazer» com a importância de «ser e estar consciente» a cada momento? Como equilibrar as componentes da minha vida de forma a chegar a tudo e a manter o meu equilíbrio, saúde e vitalidade?  Que tipos de consciência humana, que paradigma, que estilo de vida e que formas de ser, estar, sentir e agir apoiariam e estariam em harmonia com a visão conjunta de um mundo que tivesse transitado para uma era póspetróleo, pós-consumismo, pós-medo e pósdominação; uma era mais resiliente, mais sã,

«Como criar uma cultura de grupo saudável que habite o futuro que estamos a criar», foi a proposta básica das nossas explorações, e também uma síntese possível do propósito da Transição Interior. Em torno desta questão explorámos estados mentais e emocionais, refletimos sobre as crenças e valores na base da sociedade atual e as suas consequências ( escassez/ excesso e desgaste de recursos; desvalorização/status e consumismo; falta de desempoderamento/submissão e impotência; insegurança/controle e medo; separação/falso contacto e comunicação superficial). Mais interessante e enriquecedor ainda foi pegar nesses conceitos e refletir sobre possíveis formas de apoiar os nossos grupos e comunidades em processos

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de “desintoxicação” destas crenças, ou de cura destas feridas. Explorámos várias dualidades básicas (masculino/feminino; actividade/receptividade; fazer/ser; amor/desejo; interior/exterior), o que significa levá-las ao excesso e o que é a sua essência. E também refletimos sobre o modo como estas forças opostas e complementares tendem a perder o equilíbrio dentro de uma sociedade que alimenta a cisão, a exclusão e a polarização destas qualidades naturais da vida. Falámos, claro, de psicologia da mudança, de sair da sua zona de conforto, de recursos e mapeamento interno e de comportamento traumático (basilares à forma como a Sophie se tem questionado sobre a face Interior da Transição); mas também falámos de coisas tão simples e sensatas como a necessidade de desacelerar, de viver mais devagar, mais conscientes de nós mesmos e do que nos rodeia; de fazer um check in periódico e constante às nossas necessidades e de utilizar eficazmente os nossos recursos internos para promover (e para não perder!) o equilíbrio e a saúde a todos os níveis, sem os quais não nos é possível dar o nosso melhor ao mundo.

No final do intenso e delicioso fim de semana no Interior da Transição, saímos com uma ideia mais precisa, mais delimitada, mais sintética e clarificada sobre o que é e qual a importância da Transição Interior. E como era de se esperar, saímos levando no bolso muitas mais questões do que respostas, e muita motivação para prosseguir a caminhada e partilhar as sementes. Com amor, Rita Afonso

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O NOME DAS COISAS: CAMA ELEVADA Por Teresa Freitas Imagens: trumbuctu.blogspot.pt Quantas coisas chegam até nós que não questionamos!... Por exemplo, os nomes ditos comuns, que aceitamos sem hesitação, porque todos os usam. É o caso do termo 'cama elevada', tão divulgado em permacultura.

O canteiro, lugar onde se planta, é um espaço de criatividade e de criação, de florescimento, de perfumes e cores, de Vida! Enquanto que a cama - lugar de repouso, de regeneração, espaço do prazer, do sonho e do despertar - é, para muitas mulheres (e homens) o lugar da solidão, do pesadelo, do desencontro, da doença e da Dor. E é também, para muitos, o lugar onde se morre.

A expressão de desagrado da minha mãe ao ouvir-me referir a 'cama elevada' ('Porque não lhe chamas canteiro?') fez-me perceber, finalmente, aquilo que estava mesmo diante do meu nariz.

E lembro-me das camilhas, camas elevadas, onde se deitavam os casais de outrora e tantas vezes a mulher era tratada como coisa e o Amor era esquecido e conspurcado. E todos nós, mulheres e homens, trazemos connosco essa memória ancestral, inscrita na nossa pele, gravada na mente feminina colectiva. Ora o facto é que a designação provém de uma tradução literal, logo imperfeita, do termo original em Inglês 'raised bed' - 'bed', no contexto da jardinagem, significa 'canteiro'; por exemplo, 'flowerbed' designa um canteiro de flores. Alguns dirão que é um preciosismo meu, mas a tradução correcta de 'raised bed' seria 'canteiro elevado'... No entanto, ocorreu-me que na ilha usamos a palavra 'camalhão' para nomear a elevação no terreno ao lado do rego, onde são plantadas as bananeiras; sendo que camalhão quer dizer 'cama grande', ou 'mais alta'... Mas o que mais me interessa é o motivo que levou a minha mãe a repudiar a expressão 'cama elevada' e a preferir a palavra 'canteiro'.

Não é de admirar, portanto, que a minha mãe sinta repulsa ao ouvir-me falar em 'camas elevadas'... Mas recordo um sonho que tive há poucos dias: semeava à volta de uma cama redonda, cuidando das plantinhas que iam crescendo. Tudo era belo e a Alegria e serenidade envolviam-me. E logo me reconcilio com a expressão, pois a cama onde nos deitamos pode ser, sim, uma cama elevada, ou canteiro florido - espaço sagrado onde a elevação ocorre, no reencontro com a Alma, com o Espírito, com o Outro. Uma cama pode ser um Altar - não de sacrifício e de dor, mas de oferenda e de júbilo - uma 'Cama Elevada', onde se nasce todos os dias.

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num sistema que lhe permite lidar com problemas sob

DE DENTRO PARA FORA

pressão mantendo o equilíbrio. Em suma, são

Reportagem de Paula Henriques (DN)

comunidades que resistem melhor a impactos externos

Fotografias de Joana Sousa ASPRESS/EDR

e tendo a capacidade de retomar o seu funcionamento

Artigo do Diário de Noticias da Madeira

e de melhor se adaptarem às alterações a que foram

Publicado na edição de 15 a 21 de Setembro de 2013

sujeitas".

Madeira em Transição incentiva o regresso ao passado e ao sentido de comunidade com iniciativas diversas, entre elas o contacto próximo com a terra.

Manuel Vicente deu a cara por este projecto, que não tem um líder, que resulta antes uma união de muitas vontades e gente disposta a trabalhar. Está a acabar um curso de agricultura biológica e já se dedica à permacultura. É ele quem orienta o trabalho nos permablitz, eventos gratuitos que têm como principal objectivo promover o espírito de comunidade, entreajuda, partilha de conhecimentos e disseminar a permacultura, escreve na página. São encontros de pessoas dispostas a ajudar, a transformar solos e a iniciar culturas de uma forma sustentada. Mas não só. A mudança querem mais profunda. "Um grupo de pessoas que querem fazer coisas, um grupo de pessoas que se juntam a nós, e as

"Somos um grupo de pessoas residentes na Ilha da

coisas têm acontecido", diz Helena Andrade.

Madeira que quer contribuir para melhorar a sua

A temática da sustentabilidade entrou na vida de

comunidade, através da partilha de ideias, sonhos,

Manuel Vicente em 2005. Começou com a ioga. Foi a

observações, conversas… Com esta partilha, procura-se

evolução natural, a preocupação pelo ambiente, pelo

criar condições para que projectos e iniciativas que

presente e pelo futuro.

contribuem

para

a

transformação

positiva

da

comunidade possam germinar e transformar-se em

Helena Andrade faz-lhe companhia. O projecto vem dar

sementes de mudança". É assim que se apresenta

resposta à falta de alternativas. "Sentimos todos, todos

perante quem os procura o Madeira em Transição, um

os dias, que precisávamos de alternativas para as coisas,

projecto iniciado na Região por Manuel Vicente, Isabel

que nos sentimos um pouco presos às coisas como elas

Pinto, Maurília Cró, Helena Andrade, Margarida Sousa.

estão a funcionar e não sentimos grande alternativa. Eu

Tudo começou em Abril de 2012. Desde então têm

só me dei conta depois de que é uma necessidade que

promovido uma série de iniciativas com vista a

toda a gente sente e daí esse 'boom' dos movimentos

contribuir para uma sociedade mais sustentável e

por todo o lado".

resiliente.

Querem mudar a realidade a partir do interior, das

E o que é ser resiliente? A maior parte das respostas

pessoas, das famílias, dos grupos de trabalho. Há mais

estão

em

gente a fazer coisas com esta preocupação, a fazer

a

coisas muito interessantes, disse Manuel Vicente. Nem

capacidade de permanecer em equilíbrio após sofrer

procuram ser diferentes. "O que se procura é

grandes pressões, ou seja, é a habilidade que existe

cooperação, não é competição", explica.

disponíveis

na

página

do

grupo,

http://madeiraemtransicao.wordpress.com.

"É

10


O Madeira em Transição é um grupo informal. Não

Curiosamente, o facto de não haver um líder não

estão em associação, organização, embora a ideia esteja

promove choques, confrontos, mas obriga a uma gestão

agora a ser estudada. Há um conjunto de pessoas que

diferente. "É muito interessante porque obriga-nos a

vão-se reunido. Há um grupo de pessoas que participa

encontrar novas formas de estar e de cooperar. Que por

com mais frequência nas actividades, há outro mais

sua vez é o que queremos passar para fora. Para fora

alargado, menos frequente, que também vem. "As

para a comunidade, no sentido de a comunidade

pessoas,

em

começar a perceber que há formas de estar e de

determinadas coisas que estamos a fazer, as coisas

cooperar, que é possível fazer", garante. "Mas claro que

avançam. Desde que haja pessoas interessadas e que

nos colocamos questões. Dividimos em grupos de

dêem energia àquelas coisas". Há união de vontades e a

trabalho, mas e depois dentro do grupo de trabalho,

verdade é que as coisas têm acontecido, diz o porta-voz.

como é que é a colaboração? E se alguém quiser entrar?

desde

que

estejam

interessadas

Promovem conferências, sessões de danças europeias semanais, encontros, feiras de trocas, exibição de filmes uma vez por mês, exposições, parcerias, proximidores,

São tudo questões que se fossemos alargar à comunidade e aos problemas que nós temos hoje, faz todo o sentido", considera Helena Andrade.

permablitzs e workshops. "O que interessa é que nós façamos algumas coisas e podemos associar a outros grupos. Não importa que sejamos nós, ou aqueles. O que importa é que façamos coisas". A ideia é um bocadinho replicar o que fazem depois na comunidade. Começam em casa, estendem para o grupo de trabalho e depois passar para a comunidade. "Entre nós funcionamos dessa forma e daí termos reservado

até

hoje

esta

forma

informal

de

conhecimento, de estar", explica Helena Andrade. "Não

Se formos olhar para a natureza, a natureza funciona em

somos uma organização, não temos uma sede".

cooperação, recorda Manuel Vicente. "A cooperação é

Como têm uma missão, objectivos, alguns princípios, estão

a

ponderar

eventualmente

formar

uma

organização para mais facilmente promover parcerias com as entidades locais, à semelhança do que já

muito mais eficiente do que a competição. O mundo funciona numa forma de competição, mas a gente está a ver o resultado", alerta. "É completamente ineficiente a forma como nós vivemos".

acontece com outros movimentos pelo país, com mais

"Cuidar das pessoas com a permacultura" é uma das

anos. Para já, ainda estão "numa fase embrionária",

próximas actividades do Madeira em Transição. Vai um

explica Manuel Vicente. "Começámos a sentir que

pouco a estas questões, e vai realizar-se durante dois

eventualmente teríamos de ir por aí para facilitar

fins-de-semana, no Funchal, em Outubro (19/20 e

algumas coisas", disse Helena Andrade.

26/27). O orador convidado é Hélder Valente.

O núcleo duro tem 12 pessoas. Há pessoas que têm

Nas relações entre pessoas, sobretudo diferentes, há

competências dentro de determinadas áreas, outras

atritos, mas há técnicas que ensinam a lidar com isso,

que têm competências dentro de outras. O objectivo é

recorda, nomeadamente através da decisão partilhada,

aproveitar as competências de cada um.

mas de uma forma organizada. Inspirado no 'dragon dreaming', Manuel Vicente recorda que somos todos

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diferentes e se não reconhecemos essa diferença,

De uma forma mais ou menos frequente, Helena

chocamos. Segundo esta corrente, as pessoas são

Andrade acredita que já ultrapassam as 70 pessoas. Há

divididas entre os sonhadores, os pioneiros, os que

pessoas que só vão às danças, outras só vão às feiras.

executam e os que celebram. São todos importantes,

Há outras que gostam de fazer os permablitz. Vão

diz.

aparecendo em determinadas coisas. O que interessa é

As danças europeias entram precisamente na parte da

que apareçam e participem nas coisas que gostam.

celebração. Às sextas-feiras quem quiser aparecer na

Uma das actividades que já desenvolvem e estão a

Junta de Freguesia de São Martinho pode fazê-lo, a

apostar é o grupo dos proximidores, com o objectivo de

partir das 20h30. "São danças de comunidade, danças

ligar o produtor ao consumidor final. Basicamente há

de conjunto, uma galhofa, é uma brincadeira, e é quase

um grupo de pessoas, consumidores e um conjunto de

obrigatório termos essa área da celebração", explica

produtores. Os produtores dizem quais os produtos que

Helena Andrade, acrescentando que esta é uma

têm disponíveis. De acordo com esses produtos, as

actividade que junta 30 a 40 pessoas.

pessoas fazem as encomendas. O Madeira em Transição

A celebração é importante mesmo no dia-a-dia, sublinha Manuel Vicente, lamentando que por vezes

vai buscar, traz e faz os cabazes com os produtos encomendados e trata de organizar a entrega.

esta parte seja esquecida. "Se nós fizermos as coisas de

A ideia é ir mais longe. Uma das coisas que querem é

uma forma alegre, é melhor. Isso dá-nos motivação

promover também visitas ao agricultor. "Para nós

também para fazer". Há por vezes pessoas nos grupos

conhecermos, para sabermos quem é que está a

que só querem festa, os chamados borgas. Mas é

produzir a nossa comida". A outra é incentivar a

importante valorizar também essas pessoas que têm

produção de produtos que sintam falta, convidado o

essa importância, para criar essa área, esse espaço de

produtor a plantar o que querem comprar. Esta acção

celebração, acrescenta.

pró-activa seria benéfica para ambos os lados. "Hoje em

O grupo mais alargado já ultrapassa bem a meia centena. Não é fácil dizer a quantas pessoas chegam, porque há iniciativas várias e há pessoas que participam apenas numa, outras em várias e também porque a

dia o que acontece é que nós vamos ao supermercado e nós consumimos o que nos põem lá, porque nós não temos força. Estamos todos desagregados", lamenta este amante da permacultura.

presença não é obrigatória. Só na Feira de Trocas, juntam-se ao Madeira em Transição cerca de 15 a 20 pessoas que ajudam a organizar a feira. Na própria feira estão muitas mais.

Através

dos

'proximidores',

o

grupo

elimina

intermediários, o agricultor recebe mais, e como clientes pagam menos. Há também a garantia de 12


estarem a consumir produtos frescos. Muitos dos

a ideia é não depender do dinheiro e mostrar mesmo

produtos são apanhados no próprio dia em que são

que é possível viver de outra forma. A feira tem ainda

entregues.

outra particularidade: implica mais confiança nas

Actualmente trabalham com uns cinco produtores. Não

pessoas porque muitas das trocas são à posteriori.

há clientes. Há consumidores porque as pessoas têm de

As crianças, explicou Helena Andrade, são as que mais

participar no processo. Não cobram comissões. O

facilidade têm em trocar, porque não têm na cabeça o

produtor recebe o que o consumidor vai pagar. São os

valor monetário, material, daquele objecto, enquanto os

próprios consumidores que como voluntários vão

adultos fazem uma análise ao que está a ser trocado.

buscar e montam os cabazes. Os sistema funciona de

"Ali o que trocámos é a necessidade, não é o valor

forma interna, não está aberto ao público em geral.

material das coisas". O que interessa, explica Manuel

Querem no futuro trocar também horas de trabalho por bens junto de produtores que precisem de gente para trabalhar a terra. Já acontece na Feira de Trocas, onde há também troca de serviços. A feira baseia-se nos

Vicente, o que interessa é mudar a mentalidade. Há coisas no mundo para a necessidade de toda a gente, não para a ganância de todos, disse, recordando uma frase de Gandhi.

princípios da reutilização, redução do consumo,

"Nós temos funcionado nos últimos tempos e levamos

economia livre, solidariedade e entreajuda local. O

ao extremo a sensação de escassez. Não há dinheiro

grupo quer incentivar cada vez mais estas práticas.

suficiente, não temos dinheiro suficiente para aquilo

"A feira serve um bocadinho de chamariz para dar esta ideia às pessoas, que é possível trocar". Helena Andrade, por exemplo, troca a boleia para o trabalho por idas às compras ao supermercado para a amiga, que tem dificuldade de deslocação. Uma forma simples em

que gostaríamos de ter, etc. E depois há fome no mundo e o clima está assim... Não há escassez, nós é que não estamos a utilizar todos os recursos da forma correcta, como poderíamos, e distribuídos igualmente", garante Helena Andrade.

que as duas ficam a ganhar. O princípio é este. A trabalhar na área social, esta dinamizadora do Madeira em Transição diz que estamos tão agarrados ao sistema, ao dinheiro, à volta do dinheiro, que já nem pensamos de outra forma. "Será que temos um excedente em casa, um excedente de serviço que podemos fornecer, em troca de outra coisa?". Certamente que a maior parte responde sim. A Feira de Trocas é das iniciativas com maior visibilidade e adesão do público. Nasceu do projecto 'Believe' de Andresa Salgueiro. Foi ela que começou com a ideia da troca. Segundo Helena Andrade, Andresa viveu um ano à troca, sem dinheiro. Está a conseguir continuar.

A escassez existe apenas no sistema financeiro, afirma Manuel Vicente, separando-o da economia real. "A natureza é uma coisa imensamente abundante. Uma semente dá centenas de sementes, pelo menos. (...) A

"A Feira de Trocas é um pouco o mudar o chip na

crise aparece, mas nós continuamos a produzir riqueza,

cabeça. As pessoas chegam lá e não há dinheiro", diz

a riqueza está a ser criada".

Manuel Vicente. Há quem proponha. É recusado porque

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A fome existe porque o sistema está desequilibrado,

podemos partilhar e há essa resiliência entre a

justifica. Menos de 5% da população tem mais de 50%

comunidade".

da riqueza, revela. Se o mundo estivesse representado em 100 pessoas, seis teriam mais de metade de toda a riqueza. Ter cama, televisão e uma casa já coloca os 'felizardos' acima de 60% da população do mundo.

O Madeira em Transição é também o olhar para as pessoas e o poder contar com algumas. O mais importante

deste

movimento

é

a

criação

de

comunidade. "É nós precisarmos de alguma coisa - e

Segundo Helena Andrade, a fome existe porque as

isso já acontece entre nós - falamos com uma pessoa e

pessoas têm olhado para os recursos como um bem à

arranjamos sempre ajuda", exemplifica.

disposição. "Tem havido um aproveitamento e um foco no aproveitamento, nesse sentido. Se calhar temos que olhar para os recursos como fazendo parte deles e cooperarmos, não só com as pessoas, com a natureza". A produção de alimentos, garante, seria diferente. Hoje a situação é mais complicada, sobretudo para quem vive em apartamentos, sem terra para plantar, sem independência. Manuel Vicente lamenta que a sociedade se tenha desligado completamente da natureza. "Nós temos que voltar a religar. Não temos de voltar à idade da caverna, mas temos de religar".

"Nós

não

Antigamente

estamos já

era

a

inventar assim,

nas

nada",

garante.

vindimas,

nas

Isso passa por tornar a sociedade mais resiliente,

construções de casa, nas culturas. "As pessoas eram

mesmo consciente que a sociedade não vai passar a ser

autónomas. Hoje em dia as pessoas são completamente

completamente independente. Hoje, alerta, a maior

dependentes. E temos de voltar - não é voltar à idade da

parte dos produtos que consumimos viajaram mil ou

pedra - temos de voltar um pouco atrás. Estamos a

dois mil quilómetros, o que torna o sistema

chegar

insustentável. E recorda a crise dos transportes em que

insustentável", alerta, incentivando as pessoas a

a economia praticamente parou, refém de uma era em

adquirirem novas competências.

que o petróleo era barato e que acabou. "É preciso mudar. Qual é a segurança que nós temos? É importante termos esta consciência. Não quero dizer que tenhamos todos de ser agricultores, mas podemos produzir alguma coisa".

a

um

sistema

que

é

completamente

Os encontros são espaços de partilha, de aprendizagem, de troca. Convivem, trabalham, dividem a comida. Saem menos cansadas do que o habitual, com obra feita e sentimento de pertença. Não há pagamento. O valor é este. É também uma forma de combater o isolamento.

Antigamente as pessoas sabiam fazer várias coisas, hoje

Com este grupo passam a pertencer, criam-se amigos,

sabem uma e mais nada, lamenta. É importante saber

entram em actividades, ajudam. É a Madeira a mudar.

fazer mais, defende, e a solução, diz mesmo, poderá passar por trabalhar menos e investir em outras áreas. "Nós passamos o tempo todo a trabalhar, mas depois temos de comprar tudo o que nós consumimos. Às tantas,

se

produzimos

nós

trabalharmos

algumas

coisas.

menos

podemos

Podemos

aprender,

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CURSO DE TRANSIÇÃO Por Annelieke Sluijs Coimbra em Transição Email: coimbraemtransicao.geral@gmail.com Site: http://coimbraemtransicao.wordpress.com

A iniciativa de Transição de Coimbra existe desde Janeiro de 2011 (como “muller”), alimentada pela dinâmica da horta comunitária criada no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra em 2009. Em Junho deste ano a iniciativa adquiriu personalidade jurídica, tornando-se na “Coimbra em Transição – Associação Sócio-Cultural e Ambiental”. Com vários projectos em desenvolvimento e novos membros com

Convite!

pouca experiência e conhecimentos sobre o Movimento

Curso de Introdução às Iniciativas de Transição em Coimbra.

formação básica sobre iniciativas de Transição. Ainda

9 e 10 de Novembro (com acolhimento na 6ªfeira, dia 8)

que queiram participar e às iniciativas que representam.

de Transição, surgiu a vontade de organizar uma estamos a resolver alguns pormenores logísticos e queremos adaptar ao máximo os conteúdos às pessoas

Assim, partindo da vontade de conhecer e de melhor habilitar o grupo para intervir no contexto local, o curso será direccionado para o estudo de histórias de implementação com sucesso e para a aprendizagem do trabalho em rede. Estamos a preparar o curso com muito prazer, para criar um ambiente fértil em aprendizagens, partilha, convívio e celebração, com os seguintes ingredientes: -

Acolhimento e registo na sexta-feira, dia 8 de Novembro à noite, e dois dias de intensa formação e partilha: Sábado, das 9h00-19h (seguido por um jantar partilhado) e Domingo das 9h00-17h30;

-

Formadores: André Vizinho e Gil Penha-Lopes com contribuições do Denis Hickel e da Annelieke van der Sluijs e apoio à distância da Amandine Gameiro, a nossa terceira formadora portuguesa;

-

Conteúdos: conceitos, princípios e ingredientes principais da Transição, formas interactivas, participativas e construtivas de comunicação e colaboração;

-

Com atenção especial para o funcionamento em rede (arranque da rede regional do Centro) e como tornar-se um “ser ecológico completo” (jogo rico e divertido; os participantes irão

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-

aprender como usar esta ferramenta para alimentar a sua iniciativa de transição)

FESTIVAL TELHEIRAS

Organização no espírito da economia da dádiva: transparência sobre custos de formação e organização, alimentação em regime partilhado e com voluntários. Alojamento com elementos da Coimbra em Transição (CeT);

Centro de Convergência de Telheiras

-

Oportunidade para conhecer pessoas e histórias de transição da zona Centro e conhecer projectos, lugares e alguns dos parceiros da Coimbra em Transição como fonte de inspiração e partilha;

-

E, se houver suficiente interesse: programa paralelo para crianças, para os pais poder em participar no curso.

-

Número máximo de participantes: 40.

Queres participar e/ou saber mais? Temos todo o prazer

Por Filipe Matos e Luís Pereira Email: geral@vivertelheiras.pt Site: www.vivertelheiras.pt O espaço em que vivemos é um espaço que ajuda a definir-nos enquanto residentes de uma determinada área, que pauta a relação com os nossos vizinhos e que nos abre possibilidades de intervenção junto da comunidade. Tendo isso em conta, e porque viver um bairro significa festejar não só esse espaço como as pessoas que o preenchem, em Telheiras há a tradição recente de se realizar um Festival (que se deseja anual) que quer trazer as pessoas e as famílias para a rua, celebrar viver Telheiras e dar a oportunidade à população para conhecer e apoiar as instituições e actividades que fazem parte do dia-a-dia do bairro.

de entrar em contacto contigo. Estás com vontade em estar presente mas já fizeste o curso? Boa, precisamos de ti! Podes enriquecer o curso com as histórias da tua iniciativa e ajudar como voluntári@. Fazes parte duma iniciativa de transição na zona Centro e não vais poder estar presente? Gostaríamos de saber

O primeiro Festival de Telheiras foi em 2007, organizado por um grupo de cerca de 20 jovens (dos 17 aos 19 anos), três dos quais viriam mais tarde a estar na génese da Iniciativa de Transição em Telheiras e do Centro de Convergência de Telheiras (CCT). Esse Festival foi organizado pela Associação de Residentes de Telheiras (ART), tal como foram os Festivais de 2008 e 2011.

se tens ideias/desejos para as funções iniciais desta rede e o teu possível papel nela. Os nossos contactos: coimbraemtransicao.geral@gmail.com 961 083 442 (Annelieke, obs: não usar entre o dia 28 de Outubro e o dia 8 de Novembro) 964 890 209 (Sara) 966 366248 (Carla) Tudo sobre o curso em breve no nosso blogue: http://coimbraemtransicao.wordpress.com/eventos/

Este ano o Festival durou quase uma semana (de 18 a 23 de Junho) e foi co-organizado pelo CCT e pela ART, que celebra 25 anos de existência. Durante a semana a programação dedicou-se principalmente a eventos culturais (exposições, concertos, cinema, instalações) um pouco por todo o bairro e no fim-de-semana juntámo-nos na Rua (no jardim!) para dois dias cheios de actividades: Desfile, Workshops, Dança, Concertos, Feira da Tralha, Concursos, muito Desporto, muitas

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Actividades para as Crianças e muitos prémios ligados ao comércio local (cuja dinamização é um dos nossos objectivos!), onde não faltaram sardinhas e bifanas!

Foram dias muito intensos, com uma logística assegurada por muito poucos, e o calor que estava afastou algumas pessoas, mas as actividades durante a semana estiveram quase sempre cheias e tivemos dois óptimos fins de tarde e noites em que se sentiu uma comunidade viva, numa comunhão diferente com o espaço que vivemos todos os dias.

Este ano tivemos pela primeira vez a presença “formal” de alguns elementos da Parceria Local de Telheiras, que se deram a conhecer à população: a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa, o Centro Comunitário de Telheiras, o Re-food e a Escola Técnica Psicossocial de Lisboa (que esteve presente em todos os Festivais e que dá uma enorme ajuda com a animação das crianças: pinturas faciais, palhaços e mimos, balões, danças, .....).

Podem ver a antevisão do Festival em www.vivertelheiras.pt/festival-de-telheiras e o rescaldo em www.vivertelheiras.pt/como-foi-o-festival-detelheiras.

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ENCONTRO NACIONAL DE TRANSIÇÃO

PRÓXIMO NÚMERO

Será no primeiro trimestre de 2014 que se vai realizar o

Resta dizer que queremos lançar o próximo número na

próximo encontro nacional de Transição, de 1 a 4 de

Primavera sendo que quem quiser participar deverá

Março. Este encontro de trabalho terá como foco a

escrever para newsletter.trp@gmail.com até dia 28 de

continuidade dos trabalhos que já iniciados e reatados

Fevereiro.

em Linda-a-Velha no passado mês de Setembro. Este encontro será em Coimbra ou Portalegre.

Boas leituras Outonais!

É importante a representatividade das várias iniciativas para que se possa ir dando os passos tão desejados. Em breve haverá mais notícias, estejam atentos!

NOTA FINAL A todos os que incentivaram e contribuíram para este segundo número da Newsletter Transição em Portugal um MUITO OBRIGADA!!!

NEWSLETTER TRANSIÇÃO EM PORTUGAL (NTRP) newsletter.trp@gmail.com Margarida Sousa (Covilhã em Transição) Fernando Oliveira (Linda-a-Velha em Transição) Ilustração da Capa Elizabete Agostinho (Oeiras em Transição)

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