Nutrição em Pauta ed. maio2022 digital

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Baby-led Weaning e os Paradigmas sobre Alimentação Infantil

ça a ganhar outras dimensões, para além de meramente cumprir uma função nutricional. Estes temas precisam ser aprofundados para a compreensão do BLW e, portanto, serão retomados nesse artigo. Certamente, famílias optam por essa abordagem em função das suas vantagens. O livro “Baby-led weaning: helping your baby to love food”, lançado em 2008, com a versão brasileira intitulada “Baby-led weaning: o desmame guiado pelo bebê”, pontua benefícios que percorrem componentes nutricionais, cognitivos, sensoriais, emocionais, sociais dentre outros. Assume-se, assim, que a prática do BLW promove refeições mais prazerosas para toda a família e com menos tensão; remete a um processo natural para essa fase de desenvolvimento dos bebês, que tendem a explorar o ambiente com a boca; possibilita maior aprendizado sobre os alimentos, dado que terão a oportunidade de segurá-los, observá-los, sentirem seus aromas e descobrir os seus sabores isolados ou combinados com outros; auxilia o desenvolvimento de diversas habilidades que serão utilizadas para a alimentação, mas não somente para ela; torna-os mais confiantes na sua própria capacidade e nos alimentos; permite a realização de refeições em família e o compartilhamento de alimentos, contribuindo com praticidade; auxilia no controle da saciedade, pois não há a figura do adulto tentando descobrir quando o bebê está satisfeito; e favorece o desenvolvimento de uma relação positiva e afetuosa com o ato de se alimentar, diminuindo a chance de seletividade alimentar (RAPLEY; MURKETT, 2017).

. . . ........ D es e nvolv imento . . . . . . . . . . . . . . . . .

mentos

BLW: pressupostos, evidências e questiona-

Ao retomar as recomendações relativas ao aleitamento materno e, consequentemente, ao início da introdução alimentar, tem-se a partir de 2003 uma mudança importante. Até esta data, a interrupção do aleitamento exclusivo ocorreria aos quatro meses e a partir do início deste século a recomendação é a de que a introdução alimentar ocorra aos seis meses de idade. Para estudiosos da primeiríssima infância, profissionais que lidam com esse público e, também, famílias de crianças pequenas, é fácil perceber que um bebê aos quatro meses é diferente de um

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com seis. Eles apresentam desenvolvimentos diferentes, além de, internamente, o organismo, com destaque para o sistema digestório, também está com maiores capacidades para digerir, metabolizar e excretar alimentos. Porém, mesmo com a mudança de recomendação para o início da introdução alimentar, pouco mudou ao longo dos próximos anos com relação a como deveria acontecer a oferta de alimentos para esse bebê, que já não mais apresenta a protrusão da língua, que está prestes a sentar-se sozinho e estica-se para apanhar objetos e levá-los à boca, com mais facilidade. O componente nutricional da alimentação infantil que, comumente, é explicado pela necessidade do bebê receber novos alimentos porque a alimentação láctea não seria mais suficiente é o que tem regido a prática de muitos profissionais da saúde e, logo, as famílias, ficam com receio do bebê não comer o suficiente e, consequentemente, desnutrir-se. Por isso, elas usam de estratégias para que a criança coma, como deixar a alimentação mais pastosa e sem evolução da consistência ao longo dos meses, priorizar os alimentos com maior aceitação, distrair o bebê para que ele aceite as colheradas e, em situações extremas, forçá-lo a comer. É fato que crianças, conforme crescem, demandam de mais energia e nutrientes, o que pode ser obtido pela oferta de novos alimentos. Porém, tal como o crescimento da criança é gradativo, suas necessidades nutricionais também o são. Assim, não é porque alguém completou seis meses que ele se coloca em risco nutricional. Inclusive, atualmente, usa-se o termo “alimentação complementar” em vez de “introdução alimentar” para agregar um valor bastante importante a esta fase: o de que a alimentação oferecida é um complemento para o leite que a criança recebe e não o contrário. Assim, a necessidade de comer não pode ser central neste período sob o risco de levar famílias a situações de angústia e, consequentemente, afetar o bebê que pode passar a compreender que a realização de refeições é algo negativo e desconfortável para ele. Para além da importância nutricional relacionada à introdução de novos alimentos, esse momento representa um preparo para o futuro, para quando realmente o lactente não for mais capaz de se nutrir essencialmente de leite. Para isso, ele precisa desenvolver habilidades mastigatórias ainda não mobilizadas a partir da ingestão do leite. Ele precisará aprender a comer alimentos sólidos. Mais do que isso, a criança passará a se sustentar sentada e começará a compreender sobre os aspectos sociais relativos ao ato de se alimentar. Ela também terá a oportunidade NUTRIÇÃO EM PAUTA


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