Ikarim: águas claras

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Residências suntuosas foram construídas (como o palacete da família Scholz, que hoje é um importante centro cultural), ao lado de edifícios públicos monumentais, como o Teatro Amazonas — lindo, imponente, cor-de-rosa e branco, com uma cúpula —, o Palácio da Justiça, o Mercadão, a Alfândega, a Biblioteca Pública e tantos outros. Na mudança do século XIX para o XX, Belém, capital do estado do Pará, era igualmente próspera, não só pela sua posição estratégica, quase litorânea, mas em função de concentrar maior número de residências de seringalistas, casas bancárias e outras importantes instituições. Entretanto, nem tudo foi poesia. A primeira obra de porte na Amazônia foi a estrada de ferro Madeira-Mamoré, em Rondônia. Serviria para escoar a borracha e outros produtos da Amazônia, tanto da Bolívia como do Brasil. Contudo, foi um fracasso. Durante sua construção, entre 1907 e 1912, mais de seis mil operários morreram de malária, fazendo com que a estrada ficasse conhecida como “Ferrovia do Diabo”. Depois, o preço da borracha caiu vertiginosamente, pois a Amazônia perdeu seu monopólio. Os ingleses plantaram seringais na Malásia, no Ceilão e na África tropical, com sementes oriundas da própria Amazônia, e foi uma catástrofe para os brasileiros. As pessoas começaram a sair das cidades, abandonando as mansões. Não havia perspectiva para ninguém, e o futuro ficou completamente incerto. Os trabalhadores dos seringais, também sem renda, acabaram indo parar na periferia de Manaus em busca de melhores condições de vida. Mas não havia. Como se não bastasse, parte da produção que iria pela Madeira-Mamoré acabou sendo desviada para outras ferrovias, no Chile e na Argentina, e para o Canal do Panamá. Hoje, dos quase 370 quilômetros construídos, apenas sete quilômetros de trilhos continuam em operação! Houve várias outras tentativas de ocupar a Amazônia, fazendo a população crescer ainda mais. Queriam levar adiante o ambicioso projeto de construção de estradas e domínio das extensas fronteiras da região, novamente com intenção de facilitar a exploração das riquezas naturais. Tal política incluiu incentivos fiscais, financeiros e investimentos estatais com participação de capital privado, além da criação de órgãos regionais de desenvolvimento. “Deu” resultado. Economicamente, o PIB do Amazonas vem crescendo acima da média nacional há várias décadas; porém, isso não se reflete de modo significativo na qualidade de vida e saúde da maior parte da população do estado, como já mencionei. Esses fatores históricos, a má distribuição da terra, a exploração da mão de obra e sua baixíssima remuneração, a ausência de políticas sociais mais eficazes, tudo isso perpetuou as precárias condições.

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