Entre o amor e o silêncio

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– Bambino – continuou a sua mãe –, sei que a sua – tossiu. Deu um longo gole na água e com as mãos incertas voltou a apoiar o copo na mesa lateral antes de concluir – pouca idade talvez não permita que me escute. Mesmo assim, como sua mãe, não posso deixar de falar. Ele apertou a mão esmorecida indicando com esse gesto que a seguia. – Há um ano, recebi de presente de um viajante uma caixa. – Tossiu algumas vezes mais e disse determinada: – Dentro dela, há dezenas de cartas. No início, não dei muita atenção. Mas, assim que comecei a ler, entendi o que aquele viajante desconhecido me explicou. Ele disse que era um presente a caixa chegar em minhas mãos. Disse também que quando tivesse lido tudo, passasse-a adiante. O jovem viajante repetiu as mesmas instruções que te dou agora. Contou-me que ao baú chamava-se: A caixa da falta. – Ela deu uma longa respiração buscando forças e encontrou. – Chama-se assim, pois as histórias das pessoas guardadas na caixa têm esse tema em particular. – Fez uma pausa enfática e pensativa. – Como a falta os impulsionou, os destruiu, os fez superar limites, moldou-os e assim às suas vidas. Os autores das cartas também ressaltam aquilo que sentiam falta de ter realizado. O que fariam diferente. – Sim, mamãe, compreendi – disse o homem querendo encurtar o assunto. O cenho da senhora prostrada endureceu, ela voltou em um tom mais ríspido: – Nicolas Andreonni, você vai me escutar e me dar um pouco do seu tempo, ou terei que passar isto para o seu irmão menor? Ele exalou o ar com força: – Claro que vou te escutar. – ... A verdade – prosseguiu a mulher, depois que parou de tossir – é que também não dei muita atenção no começo; mas, sabe, filho? Quando a hora de deixar tudo se aproxima, tudo muda, muda tanto. – Ela sorriu melancólica. – As nossas maiores faltas passam a

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