1914-1918: A história da Primeira Guerra Mundial

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independentes. Depois da divisão da África, na década de 1880, a China, na virada do século, parecia destinada a segui-la e, como o Império Turco-Otomano e a Pérsia, já es‑ tava dividida informalmente em esferas de influência. Os Estados Unidos derrotaram a Espanha em 1898, expulsando-a de Cuba e das Filipinas. O Japão derrotou a Rússia em 1904-5. Mas nenhum desses países representava um grande peso nas questões es‑ tratégicas europeias. A economia do Japão continuava atrasada, e suas forças armadas eram eficientes, porém remotas. A economia americana já era a mais forte do mundo, e sua Marinha era grande e moderna, mas esperava-se que Washington permanecesse neutro diante de um conflito europeu, até porque seu exército era diminuto. Se os Esta‑ dos europeus se desentendessem, nenhuma potência externa parecia suficientemente poderosa para refreá-los. O desenvolvimento econômico também transformou a política nacional europeia. Num país após o outro, em que cidades se espalhavam, uma burguesia e uma classe trabalhadora se tornavam autoconscientes, e as monarquias haviam aceitado os parla‑ mentos eleitos e as liberdades civis para obter um consenso mais ativo por parte dos go‑ vernados. Na Inglaterra, o Ato de Reforma de 1832 havia tentado colocar a classe média por trás da Constituição; no Império Alemão, criado em 1871, a monarquia prussiana coexistia incomodamente com um Reichstag (ou câmara baixa do parlamento), para o qual todos os homens podiam votar. Até na Rússia, a partir de 1905, o czar havia acei‑ tado uma assembleia eleita. Em 1915, os europeus adultos eram geralmente livres para formar sindicatos, grupos de pressão e partidos políticos, embora isso ocorresse sob vigilância policial. A maioria dos países contava com um grande meio de comunicação não censurado, o que, em sua essência, significava a imprensa. Os jornais, ligados por cabos telegráficos e novas agências aos eventos ao redor do globo, sendo entregues por ferrovias e vapores a preços acessíveis, eram o principal canal de comentários e infor‑ mações. Seus números refletiam isso: uma cidade adiantada como Berlim tinha mais de 50 títulos, e o pequeno e empobrecido reino da Sérvia tinha 24 diários.15 A guerra e a política externa eram temas de acalorados debates.16 Desde a desintegração, na década de 1990, do bloco soviético, triunfantes analistas políticos ocidentais têm insistido que as democracias nunca pelejarão entre si.17 Essa tese já foi moeda corrente entre os liberais pré-1914. Contudo, a democratização efe‑ tivamente não conseguiu erradicar o conflito armado. Isso se deveu, em parte, ao fato de o processo ter permanecido incompleto. A Terceira República francesa, estabeleci‑ da em 1870, provavelmente tivesse a Constituição mais progressista da Europa, mas, mesmo nesse caso, o escrutínio parlamentar com relação ao planejamento diplomático e militar era frágil. Na Áustria-Hungria, Alemanha e Rússia, as dinastias governantes dos Habsburgo, Hohenzollern e Romanov, respectivamente, exerciam amplo poder 7

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