Poesia, Filosofia, Novelas & Sarau D´Amor

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phd(euses) por aí e os manuais escolares desconhecem o Brasil histórico, remata com os olhos no último e-mail da filha... A mãe está bem e, como dizes, a madame está pronta para outra. Já encomendou outro Mercedes-Benz, mas prometeu nunca dirigir depois do pub das cinco (...???). PS: ela ouviu o bombeiro chamá-la de blockbuster. Ainda se acha...

Ele solta uma gargalhada gostosa diante do comentário da filha. Sabe que não é fácil lidar com essa Hanne católica e isolada, dedicada ao consumismo de bens de luxo, bem diferente daquela Hanne em batalha pela liberdade do todo humano e que com ele foi ao Gerês por puro amor e ali geraram algo com os mesmos sangues. Agora, a bela dondoca arrasa os olhares de muitos marmanjos embora continue só e entre a sua clínica e o pub da esquina. Hanne é uma mulher muito bonita e nem a meia idade a fez perder a pose. Mas, o irish whiskey não perdoa... A dublinense vai ter que moderar na dose. Fica de olho, filhota. A resposta de João mostra um relacionamento muito distanciado com Hanne e que só encontra ligação na existência de Jo. Para ele, a irlandesa, farta de promessas libertadoras e de reuniões e mais reuniões clandestinas, resolveu abrir uma toca no catolicismo e lá se enfiou para curtir uma vida solitária. Agora, ela é parte do cool urbano, como identificou Jo, porque todos sabem quem é e qual o ritmo em que faz a vida rotineira. Sim, a bela e espalhafatosa Hanne deu lugar a uma Hanne agendada em si mesma. Entretanto, João está no meio de uma discussão sobre a geopolítica de conteúdos e dá a sua interpretação via e-mail: Já sabemos que o capitalismo se desloca pela via do consumismo, mas age sempre com duas ao mesmo tempo para segurar as pontas operacionais, ou seja, a cultura enlatada para a ingenuidade popular e a intelectualidade engajada (e, aqui, também a comunicação social e o igrejismo) e o fomento de guerras regionais para acomodar o ciclo eternizado da produção de armamento. Então, falar de guerra cultural entre o Oriente e o Ocidente é um erro, porque o que há é um colonialismo político-militar que varre as sociedades invadidas e onde o Ocidente garante, também através da ONU, rotas específicas para gás e petróleo. E logo outra questão de Maria C. Arruda, já habituada a não perder pitada nas entrelinhas tão íntimas a João. É o político e o cineclubista falando de si, da filhota e do mundo? Ela mesma dera início à discussão sobre o tema. Maria é uma das mais atuantes colaboradoras do grupo de debates Noética. Entre o seu trabalho como microempresária têxtil, serigrafista, e as aulas que ministra sobre Filosofia no sul brasileiro, encontra tempo para uma dedicação plena ao grupo com análises profundas a conteúdos oriundos de Centro de Estudos do Humanismo Crítico, baseado em Guimarães, onde residem os fundadores, o filósofo Manuel Reis e a professora Lillian. No departamento latino-americano do CEHC ela é, com o professor Carlos Firmino, do interior paulista, o elo para as discussões e a edição de livros com circulação restrita com o apoio de Valentina Ljubstchenko.

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