Mudar de Deus - Manuel Reis

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aí editados pela Edicon e pela Noética. Dizia, pois, com todo o acerto J.K.G.: Comunismo — o que foi conhecido no séc. XX — não era senão a outra face da mesma Moeda: ‘Capitalismo monopolista de Estado, ao lado da sua outra versão conhecida: Capitalismo liberal. Ou a T.I.N.A. ou o fascismo?!... Será inevitável a lógica do mal menor, que nos impõe, apenas 2 lados para escolher?!... Daniel Oliveira faz bem o ponto da situação, ao escrever (ibi, p.35): “O centrão que impôs, também através da U.E., a contrarreforma social de que a Lei/ /Macron, aprovada por decreto contra parlamento, foi só mais um episódio. Macron representa a derradeira aliança entre a terceira via e os neoliberais num reduto final e unificado de resistência do ‘sistema’ ao cerco em que hoje vive. Para reconstruir este espaço interessa-lhe, mais do que uma frente democrática, uma capitulação do flanco esquerdo. Aquele que não desistiu de representar os excluídos da globalização e tem de gerir uma posição muito delicada nesta segunda volta: nem ser responsável pela vitória de Le Pen, nem legitimar o programa de Macron. “Ao se resumir tudo a uma clivagem entre ‘Nação’ e ‘Europa’, não se põe apenas a esquerda eurocéptica no mesmo saco que a extrema-direita. Põe-se a esquerda europeísta no mesmo saco que a direita liberal”. O círculo fechou-se!... Ou neoliberalismo ou xenofobia desbragada. A política do empíreo-criticismo é nisto que dá... • No concernente às políticas económicas contemporâneas e ao Problema central da dinâmica de uma (falsa e perversa globalização), Miguel Sousa Tavares põe os problemas e baliza as soluções com muita acuidade e rigor (cf. ibi, p.6). Vale a pena lê-lo com atenção. “Qual é o problema? É que a Whirlpool é americana, mas actua num mercado planetário [é sempre o problema da escala e do dinheiro...], em busca da rentabilidade e do lucro máximo. Os 300 trabalhadores de Amiens são uma gota de água insignifi-cante no universo dos seus 93 mil assalariados. Por vontade e promessa de Marine, a fábrica ficará em França; por vontade e ameaça de Trump, irá para os U.S.A.. Mas nem uma coisa nem outra: a Whirlpool não levará a sua fábrica de volta para os U.S.A. nem a deixará em França — irá para onde tiver de pagar menos salários e menos impostos. O grande capital não tem estados de alma nem assomos patrióticos, tem apenas Relatórios e Contas, dividendos para pagar aos accionistas e prémios de gestão para os administradores que garantirem mais dividendos aos accionistas. “O problema da globalização não é o do seu princípio — que tantos, como os U.S.A. à cabeça, defenderam insistentemente durante décadas. O comércio, a liberdade de comércio e das trocas comerciais fez a prosperidade dos povos ao longo dos séculos, aproximou culturas e civilizações e evitou as guerras, desprezando os nacionalismos e a imbecilidade extrema dos fanatismos religiosos. Nos dias de hoje, pondo termo a um sistema pós-colonial profundamente iníquo, que condenava os pobres à miséria eterna, a globalização arrancou dezenas de países e centenas de milhões de miseráveis à sua condição sem esperança. [É preciso enaltecer, positivamente, o benefício 1º da Globalização em nome dos povos!] Mas quando se estabelece algum equilíbrio, é fatal que alguém perca para que alguém possa ganhar. [Isto não é matéria de ‘ciências físico-naturais’...] Ganharam os pobres, perderam os ricos; ganharam os operários dos países pobres, perderam os dos países ricos. Fábricas, negócios, indústrias inteiras dos países ricos tornaram-se economicamente insustentáveis, face à mão-de-obra mais barata dos emergentes. Esses perdedores são o eleitorado natural de Marine Le Pen, de Donald Trump, dos defensores do ‘Brexit’ e dos comunistas, convertidos em seus compagnons de route. São eles os inimigos da Europa e, em geral, de qualquer tratado de comércio transfronteiriço”. No atinente às Soluções, o nosso Autor divisa duas, a que podemos chamar A e B. A Solução A enquadra-a do seguinte modo: (ibidem) “A nível político, o problema não é o de excesso de regras comuns, como julgam os ingleses, mas justamente o contrário:

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