O "Big Brother" novamente em ascensão?!

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tecnologia, para sermos capazes de fazer as coisas de outra maneira’. E isso significa que o mundo rico tem de pagar as suas dívidas climáticas” (ibi, p.497). O resultado de todo este processus crítico é que se torna indispensável e urgente dar a devida importância e relevo à cooperação e à solidariedade internacionais. Escreve N.K. (ibi, pp.497-498): “Sunita Narain ouve muitas vezes estas objecções: ‘Estão sempre a dizer-me ‒ sobretudo os meus amigos da América ‒ que […] não devemos falar sobre questões de responsabilidade histórica. O que os meus antepassados fizeram não é da minha responsabilidade.’ Mas, disse ela numa entrevista, isso é ignorar o facto de que essas acções passada s têm uma influência directa na razão pela qual alguns países são ricos e outros pobres. ‘A sua riqueza actual está relacionada com a forma como a sociedade usou e abusou da natureza. Isso tem de ser pago. São essas as questões de responsabilidade histórica que temos de enfrentar’ ”. A pouco e pouco, vem à tona a problemática da escravatura transatlântica. “Depois de regredirem durante mais de uma década após a conferência de Durban, estas reivindicações voltaram a ser notícia em 2013, quando 14 nações das Caraíbas se juntaram para apresentar um pedido formal de reparações à Grã-Bretanha, França, Países Baixos e outros países europeus, que participaram no comércio de escravos” (eadem, ibi, p.498). Continua a nossa Autora (ibi, p.499): “O projecto de investigação debruçava-se sobre o facto de o parlamento britânico, quando tinha decretado a abolição da escravatura nas suas colónias, em 1833, se comprometera a compensar os proprietários de escravos britânicos, pela perda da sua propriedade humana ‒ uma forma retrógrada de reparações para os perpetradores de escravatura, não para as suas vítimas. Isto levou a pagamentos no montante de 20 milhões de libras ‒ um valor que, segundo o Independent, ‘representava uns assombrosos 40% do orçamento anual do erário público e, em valores actuais, calculados como valores salariais, ronda os 16,5 mil milhões de libras’. Muito desse dinheiro foi directamente para a infraestrutura alimentada a carvão da agora trepidante Revolução Industrial ‒ das fábricas às vias-férreas e aos barcos a vapor. Estes, por sua vez, foram os instrumentos que elevaram o colonialismo a uma fase acentuadamente mais voraz, cujas cicatrizes ainda são visíveis nos dias de hoje”. “E agora verifica-se que o roubo não acabou, quando a escravatura foi abolida, ou quando o projecto colonial falhou. Na realidade, ainda está em curso, porque as emissões desses primeiros navios a vapor e fábricas fumegantes foram o início da acumulação de carbono atmosférico excessivo. Portanto, outra maneira de pensar sobre esta história é que, desde há dois sécs. a esta parte, o carvão ajudou as nações ocidentais a apropriaremse deliberadamente das vidas e terras de outra pessoas; e como as emissões desse carvão (e mais tarde do petróleo e do gás) se foram continuamente acumulando na atmosfera, deu a essas mesmas nações os meios para também se apropriarem, inadvertidamente, do céu dos seus descendentes, devorando a maior parte da capacidade da nos-sa atmosfera partilhada de absorver carbono em segurança” (eadem, ibi, p.500). Foram séculos sucessivos, em todas as escalas, de roubos em série, praticados pelos países ricos e colonizadores sobre os países pobres e colonizados/defraudados. Estes são crimes sócio-históricos, que persistem gritando por reparação!... Continua N.K. (ibidem): “A diferença entre estes pedidos de reparação e os mais antigos não reside no 55


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