Alquimia, Moda & Comunicação Visual

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Centro de Estudos do Humanismo Crítico [Portugal & América Latina]

Grupo de Debates Noética

JOÃO BARCELLOS

ALQUIMIA, MODA & COMUNICAÇÃO VISUAL



CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B218a Barcellos, João, 1954Alquimia, moda & comunicação visual / João Barcellos. - 1. ed. - São Paulo : EDICON, 2014. 96 p. : il. ; 21 cm. ISBN 9788529009308 1. Moda. 2. Moda - Estilo. I. Título. 14-10453 CDD: 391.2 CDU: 391 18/03/2014 24/03/2014


ser

estilista

é expor uma alma que se

liberta pensando [n]a vida e por isso é que a

retórica visual é uma filosofia de comunicações

interagindo tecnologicamente na produção de bens úteis BARCELLOS, João – in “Mundos Visuais”, artigo; 2013.


e este

livro trata de

apresentação da professora mariana d´almeida y piñon no entorno do têxtil palestra de joão barcellos

1 de como o vestuário pode refletir códigos familiares e comunitários

2 de como uma peça de sinalização, roupa ou calçado vira estilo e tendências moldando visualmente a sociedade

3 e então, a Moda é uma comunicação Visual ou somente um Mercado...? moda a mobilidade artística das identidades na sua retórica visual

4 ANEXOS moda & estilistas na lusa terra moda brasileira através de norberto arena jeans / denim moda Que Veste Jovens De Todas As Idades & Anima Ambientes modernidade & visão ecológica O Mundo Humano Quer Estar Mais Cósmico [Um exmeplo chamdo Lectra] estação blumenau / a história têxtil

notas & fontes // bibliografia


JOÃO BARCELLOS romancista, poeta, pesquisador de história, ensaísta, jornalista e conferencista

na área editorial foi editor-fundador da revista En Vivo y Art (Espanha), jornal O Serigráfico (Brasil), jornal Treze Listras (Brasil), revista Impressão & Cores (Brasil), Cult Journal (USA), Educação & Arte (Portugal), além de ser o responsável pelas coletâneas lítero-filosóficas Debates Paralelos e Palavras Essenciais (Brasil e Portugal, c/ 10 volumes cada), editadas pela brasileira Edicon, fundador do Grupo de Debates Noética é membro-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (ihgsc), da União Brasileira de Escritores (ube), do Centro de Estudos do Humanismo Crítico (cehc / Portugal), membro-fundador da Associação dos Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (apperj) e apoia (e atua com) grupos de pesquisas historiográficas latino-americanos e europeus


Apresentação da Professora Mariana d´Almeida y Piñon

É um livro anunciado há muito tempo. Eis “um tema no qual se constroem diversos conteúdos filosóficos e tecnológicos. É verdade que a Moda é uma das políticas que mais intervêm no nosso cotidiano, embora raramente tenha peso para alterá-lo na estrutura social”. Ao escutar isto, em 2008, fiquei com a certeza de que um livro sobre o tema iria surgir, logo ou tempos depois. Ele é jornalista, romancista, historiador, enfim, mas para mim é sempre – em tudo e por tudo o que faz e desencadeia – o poeta universal. Ah, preciso de um intervalo aqui... Vou tentar escrever este texto do mesmo jeito que ele e pedindo, é claro, vênia do mestre. Quando o conheci, no âmbito do Grupo Granja [o GG], em casa da artista plástica Tereza Oliveira, no bairro Granja Vianna, em Cotia, cidade da área metropolitana de São Paulo, eu terminava um estudo “acerca das possibilidades de comunicação corporal enquanto manifestações artísticas” (assim mesmo com este título), o que ele achou “um desafio poético na comunicação visual”. Foi a ´deixa´ para um bate-papo que dura até hoje quando, inclusive, o GG deu origem ao Grupo de Debates Noética, que funciona também como escritório latinoamericano do Centro de Estudos do Humanismo Crítico [cehc], criado em Portugal pelo filósofo Manuel Reis. Em uma das nossas conversas, antes do natal de 2008, em Embu das Artes, outra cidade paulista, ele disse-me que “o corpo, e em geral todos os corpos, traduzem ou visualizam naturezas vivas e próprias. E se não existe moda sem estilo é porque cada corpo exibe emoções em torno de desejos e sonhos, e até a manifestação pela morte é feita com trajes e cores e acessórios adequados à cultura de cada corpo comunitário, ou nacional. Construir estilos de vida é comunicar visualmente atos sociais politicamente delineados entre o individual e o coletivo”. Uma lição apreendida e nunca esquecida. Mais tarde, em 2011, pedi a sua opinião para o tema “moda e comunicação visual” – um tema que não é tão acadêmico como deveria ser e tampouco objeto de discussão empresarial, o que eu já sabia desde as conversas de Embu das Artes. No entorno deste tema, ele publicou, com a Edicon e o CEHC, livros sobre Estamparia, Comunicação Visual, Imagem Especializada e Indústria Digital, entre 2008 e 2013 – ou seja, ele adentrou o mercado da Moda pelos bastidores da Comunicação Visual desentranhando-a tecnicamente. Mas agora, em 2014, ele traça “o perfil psico-filosófico da Moda que o é enquanto Indústria Visual”, como diz, e oferece-nos “Alquimia, Moda & Comunicação Visual”, um livro que com escrita aberta e poética nos remete à complexidade do ser-estar Moda. Disse lá em cima que tentaria escrever como ele. Pois, ele é João Barcellos, o poeta e o conferencista em conteúdos lítero-filosóficos, tecnológicos e historiográficos. Acredito que me saí bem nesta apresentação, porque dei a ler o texto à amiga e médica Johanne Liffey, sua filha, e ela se emocionou. Foi bom perceber que acertei na dose. “Alquimia, Moda & Comunicação Visual” é um ensaio oriundo de várias palestras de João Barcellos, e digo ensaio porque em psicologia e em filosofia não existe a


definição última, como já li em diversas observações do filósofo Manuel Reis, o que existe é uma abertura noética aos sistemas e nela podemos nos aprofundar nas políticas estabelecidas que fazem mexer as atividades humanas; neste ensaio, João Barcellos é ele-mesmo na sua vertente tecnológica e filosófica, mais o poeta que redescobre em áreas diversas aquilo que converge para o progresso da humanidade. E falar de Moda, traduzindo-a, é poetar num sarau sem hora para terminar! MAyP Profª de Artes Visuais. Paris/Fr., 2014


No Entorno Do

TÊXTIL Observações Teóricas

Ela olha o mundo e quando vai a fiar para depois tecer já constrói aí uma poesia visual que de tão concreta lhe é umbilical pela amorosa e delicada vivência têxtil. MACEDO, J. C. – in A Debuxadora De Campelos.

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina. [Cora Coralina]

1 Desde que a Humanidade se encontra em processo civilizatório – e ele é contínuo em ciclos que já demonstraram (arqueologicamente) terem existido outras ´gentes´ de sabedorias e tecnologias superiores às do ciclo que nos é contemporâneo – a palavra latina texere remete-nos para a construção de tecidos com fibras naturais e, hoje, também sintéticas ou mistas. Então, tal arte de tecer fibras para fabricar utensílios domésticos e tecidos criou o ofício têxtil, ou tecnologia de tecer. Pesquisar e buscar fibras para tecer já era um ofício tecnológico para vários povos ancestrais sem ligações geossociais entre si, e esta engenhosidade criou a fiação e a tecelagem. E entre as duas vias que levam ao tecido surgíu o debuxador – o técnico que sabe escolher as melhores fibras para um tecido e que para ele desenha o padrão de construção.

2


No âmbito desta engenharia têxtil, ontem artesã e hoje uma complexidade científica, desenvolveu-se uma antropologia primária que estabeleceu parâmetros de desenvolvimento que, mesmo não sendo ainda ecológicos, garantiam certa sustentabilidade ao artigo têxtil gerado principalmente no lanifício – a saber: a) o desenvolvimento cerebral da humanidade levou, para sua própria sobrevivência, a domesticar vários tipos de animais, tanto para alimentação como utilização de ossos, peles, plumas e lãs; b) no engenho de aves e mamíferos em tecer ninhos percebeu a humanidade que poderia fazer o mesmo e melhor. Dessa noética atitude a Humanidade apreendeu tecnologias animais e delas revolucionou-se a ponto de dominar, geográfica e socialmente, a Terra. Expostos estes pontos (a e b), devo dizer que existem dois ofícios que sustentam até hoje a Humanidade no seu eixo telúricocósmico: o têxtil e o coureiro. Obviamente que nessa engenharia têxtil não estava tudo resolvido, faltava a demonstração artístico-mercantil do artigo têxtil acabado, e foi então que a moda surgiu como comunicação visual. E a moda é, ela mesma, o exemplo acabado de uma antropologia que demonstra de cada Pessoa o perfil exibicionista, recatado ou exuberante, no seu meio social. 3 Todo o projeto de artigo têxtil exige uma ciência de tecnologias aplicáveis, e se a indústria artesanal e eletromecânica se fez adaptar aos novos tempos criados a partir da lâmpada elétrica e dos semicondutores, também a Universidade deixou de ser pura retórica e absorveu a Revolução Industrial entrando no fomento técnico-pedagógico com cursos acadêmico de alto gabarito para o Têxtil e a Moda. A concepção de projetos para a criação fibras e tecidos, cores e tingimentos, maquinário de estamparia e de beneficiamento, passa hoje por uma linha educacional de 2º e 3º Graus que nos remete ao velho pensamento da Pessoa que habitava a gruta: se os animais sobrevivem tecendo a própria vida, a Humanidade pode mais além de conviver com a fauna e a flora. Foi dentro deste ´todo´ antropológico que tece e que veste e que dá bem-estar, que Ernst Haeckel observou e ditou o princípio ecológico da sustentabilidade telúrico-cósmica. 4 Ora, por trás de um desfile de Moda o que temos? A vivência de usos e costumes de comunidades diversas que o mercantilismo do consumo industrial globaliza; e entanto, em cada desfile está presente a velha sabedoria que levantou, por exemplo, a primeira Universidade de Coimbra – a saber: “a Experiência me gerou e a Memória me deu à luz” [in ´Lápide da Sabedoria´, fundação da Universidade de Coimbra em 1443 pelo infante-regente Pedro, também duque de Coimbra e popularmente conhecido como ´Infante das 7 Partidas´]. Quem idealiza e desenha faz um projeto de Estilo, quando industrializado ele torna-se Tendência ao servir a diversidade. Mas, e alerto, a globalização não destroi a natureza comunitária da Pessoa, e por isso é que a Moda... nunca sai de moda! Da mesma maneira que precisamos “aprender sobre a complexidade do metabolismo urbano para podermos gerenciar uma cidade para o bem-estar geral”, como ensina[va] o geógrafo e pensador Aziz Ab´Sáber, precisamos, também, equacionar a dinâmica mercantil fazendo-a evoluir para o que Bradley Quinn chama de Traje Luminoso, ou seja, toda a ciência industrialmente aplicável deve estar sujeita às regras da sustentabilidade para um bem-estar urbano geral; e, neste caso, a


particularidade da Moda chama a atenção porque o vestuário e o calçado são o reflexo imediato daquela aplicabilidade. Por isso, o mercantilismo verde não é mais e somente a retórica de acadêmicos e ecologistas, mas uma realidade que altera substancialmente a indústria têxtil. E mais me alongo: “O risco de não se obter soluções para resolver a ´crise ambiental´ ou ´crise ecológica´ estaria na inabilidade dos profissionais e cientistas em trabalhar a multidisciplinaridade da matéria de forma integrada e horizontal para juntar as diversas peças do ´quebra-cabeça´ do conhecimento”, como ensina Rômulo Silveira da Rocha Sampaio. Lembremos: “Odeio os homens estúpidos e as suas obras ignorantes”, dizia Pedro, o duque de Coimbra abertura da Universidade de Coimbra. Eis que a atividade humana só é de utilidade quando gerada pelo pensamento que educa e gera desenvolvimento, e então, senhoras e senhores, o que é preciso é educar, até para que todo o ofício em geral e o têxtil em particular [que é o foco desta palestra] possa ser objeto de uma filosofia empenhada no amor à vida vivida e não ao objeto fundamentalmente mercantil. 5 Fiação, tecelagem, padronagem e tinturaria, modelagem e acabamento. Para gerenciar o artigo têxtil e a moda existem hoje especialistas: no campus da engenharia está o desenho do chão-de-fábrica, do maquinário e da produção com olho no custobenefício e na sustentabilidade do negócio, logo, no campus da moda está o desenvolvimento sociocultural que fará do artigo têxtil uma peça de utilidade comum ou sazonal. Devo aqui dizer e vos digo que um curso acadêmico de especialidade tecnológica não é [não deve ser] elaborado para ser uma cartilha a exigir ignorância sobre outros assuntos, pois, a Pessoa deve ser educada para conhecer o Mundo e, nele e por ele, operar atividades profissionais cuja interdisciplinaridade lhe é tão essencial quanto a água, o ar, o fogo e a terra..., pois, somos telúrico-cósmicos. O filósofo Manuel Reis alerta-nos: “as pessoas não podem fazer as suas interpretações, uma vez que a interpretação é prerrogativa do técnico, do especialista”. A análise é feita no momento crucial do Século 21, quando tal situação estereotipada põe a pessoa especializada como barreira ao Conhecimento geral, e o que se quer, em Civilização, é que as tecnologias sejam adequadamente aplicadas no âmbito de uma sustentabilidade urbana e não como um Poder constituído. Ou seja: a Pessoa especialista deve atuar com o seu Conhecimento em prol do Todo humano envolvendo-se na diversidade e não criar a caverna da ignorância. E quando se fala do Todo Têxtil, fala-se de pensamento que cria em liberdade, que ensina liberdade. Aquele “antigo debuxador fazia-se no chão-de-fábrica, crescia entre os macetes apreendidos do avô e do pai, os mesmo macetes que transmitia ao filho – ela era o técnico têxtil por excelência ao levar o conhecimento adiante e ao juntar-se a outros técnicos para melhorar o produto”, escreveu o meu pai, José Carlos Macedo, especialista eletroeletrônico e têxtil, um artigo a meu pedido para ilustrar um ensaio jornalístico. Eis a essência do ser-estar têxtil em todas as suas especialidades: saber e transmitir saber tecnológico.

Bibliografia Específica


BARCELLOS, João – Estamparia. Edit Edicon, São Paulo / Brasil, 2010. – Conversas com o Prof. Ab´Sáber. Entrevistas de João Barcellos; Cotia/SP, 1995. – A Luminosidade Do Traje Moderno / Ou: uma leitura sobre ´Textile Viosionaries´, de Bradley Quinn. Artigo para a Revista Impressão & Cores; Cotia/SP-2014. MACEDO, J. C. – A Debuxadora De Campelos; narrativa sobre uma operária portuguesa. Redacção apresentada e premiada na Escola Industrial e Comercial de Guimarães, 1968. – O Debuxo e a Estampa; ensaio e palestra. Covilhã/Portugal, 1983. – Crônicas da Arte Têxtil; entrevistas para o jornal ´O Povo de Guimarães´ e base de enredo para uma peça cinematográfica de Super 8 mm no âmbito do Cineclube de Guimarães. Guimarães/Portugal, 1981. [Obs.: material recolhido e classificado por Johanne Liffey.] MACEDO, José Carlos – Os Macetes Do Debuxo; artigo. Guimarães/Portugal, 1982. MELLO, Escola Industrial Campos de – O Debuxador. Edição dos Alunos. Covilhã/Portugal, 1926. [Obs.: Número Único.] QUINN, Bradley – Textile Visionaries: Innovation and Sustainability in Textile Design. Amazon - London/UK, 2013. REIS, Manuel – Em Torno Das Novas Tecnologias E Da Nova Economia. Ediç Edicon, TerraNova Comunic, Grupo Granja, Cotianet e Centro de Estudos do Humanismo Crítico [Guimarães/Pt], 2000. SAMPAIO, Rômulo Silveira da Rocha – Direito Ambiental / doutrina e casos práticos. Elsevier Editora, Rio de Janeiro / Brasil, 2012.

BARCELLOS, João [palestra] Embu das Artes / Brasil, 2014.


Parte

1

de como o vestuário pode refletir códigos familiares e comunitários

Hoje, é comum falarmos da cor tingida num tecido assim como do padrão de cor que realça determinada marca. Vivemos numa sociedade que se comunica visualmente entre objetos utilitários ou técnicos e vestuário, acessórios e brindes. Entretanto, falar da cor tingida e do padrão de cor, do estilo e da tendência, não é ´coisa´ de hoje... Assim como quando falamos de marca estamos somente a reinventar diálogos ancestrais em torno da comunicação mercantil e social.

Ora, aquela bandeira de tecido branco foi e é hoje o símbolo de algo a pacificar. O código da paz é uma cultura comum a todas as comunidades da humanidade, assim como a posse da terra leva à posse d´água, logo, quem detém as duas possui o poder de mando político e religioso. A cor branca no contexto civilizatório está além da práxis


política e econômica: ela é a síntese de sensações que não se misturam, mas que, ao mesmo tempo, desejam viver a vida. As bandeiras tingidas com cores definidas por chefes militares ou chefes de clãs familiares traduziam códigos simbólicos, assim como os padrões quadriculados do vestuário escocês diziam de um ou de outro clã. As bandeiras e os padrões de vestuário têm significados originalmente geossociais, i.e., focados em uma guerra ou em uma família de mando tradicional. E com o tempo, a historiografia e a estória [narrativa, lenda] fazem desses símbolos localizados objetos de continuidade social em toda a nação, porque são objetos de uma comunicação visual que gera moda, reproduz-se criativamente, reinventa-se: muitas bandeiras nacionais nasceram da mistura de cores tingidas nos padrões de chefes militares e familiares [caso de Portugal], ou da observação das cores naturais [caso do Brasil]. No caso da cristandade, por exemplo, a cor púrpura da alta hierarquia teocrata tem muito a ver com a quimera do mundo novo e a regência católica da igreja, enquanto o papa utiliza o branco e o amarelo na simbologia da paz e da riqueza. Na intuição humana sempre esteve o interesse por conseguir colorir o próprio corpo com as cores vistas nas plumas das aves, e quando os primeiros fios d´algodão viraram tecido, aquela intuição determinou um desafio: reproduzir as cores.

Os primeiros tecidos geraram roupas que eram autênticos sacos nos quais homens e mulheres mergulharam, mas, a partir da túnica, os estilos logo surgiram para ditar a moda das pessoas com mando político, religioso e mercantil. Entre mesopotâmicos, romanos e gregos, por exemplo, há milhares de anos as roupas eram tingidas com cores tão extravagantes quanto as pinturas faciais e as tatuagens entre asiáticos e americanos. Obviamente, as cores mais vibrantes só a alta hierarquia podia utilizar para fazer reluzir o prestígio junto do trono ou do altar. Óleos e gorduras, gemas d´ovo, cascas de árvores e pigmentos extraídos de raízes foram a primeira alquimia da reprodução de cores entre todos os povos que os marujos conheceram nos Séculos 14,15 e 16 do calendário da cristandade. O instinto humano relacionado às cores e aos objetos utilitários era tão comum em todas as civilizações que se pode dizer, e eu digo..., a moda é um conceito tão antigo quanto o


ato sexual. E se o ato sexual tem algumas variantes, a reprodução de cores é uma alquimia tão multicultural que representa em si mesma a civilização que somos! Todos os povos perceberam nas suas diversas idades civilizacionais que tingir a pele com determinados pigmentos diluídos em água, ou resinas d´árvores, possibilitava comunicar visualmente a sua própria identidade social. Essa visualização da identidade pessoal-familiar e comunitária foi a primeira moda a se estabelecer enquanto código civilizacional. Quando surgem os primeiros clãs familiares europeus a mostrarem-se com padrões de cores em tecidos diferenciados, já os sobas [reis] africanos faziam isso como distinção de poder tribal, assim como entre os povos americanos e asiáticos; mas foi, diga-se, com os asiáticos em geral que a tinturaria transformou-se em indústria artesanal quase ao mesmo tempo do primeiro vestuário colorido chinês. O mundo ocidental processou a sabedoria afro-oriental e desenvolveu, principalmente a partir da descoberta do “pao vermelho”, em 1342, uma tinturaria mais dinâmica no contexto de famílias artesãs que se especializaram neste ramo de atividade, às vezes, contíguo ao artesanato coureiro.

Obs.: Para o ramo tintureiro, o segmento coureiro tem tanta importância quanto o têxtil, porque ambos oferecem substratos para a visualização de estilos gerando tendências em cores e em cortes para vários tipos de peças e acessórios.


O tal de

Pao Vermelho

e a sacada Mercantil Portuguesa Retornemos no tempo para analisarmos as consequências de uma descoberta... Já na segunda metade de 1342, o capitão Sanches Brandão, da marinha mercante portuguesa, avançou para o sul atlântico e vislumbrou “uma grande ilha”: abordando-a, deparou-se com gente nua, animais estranhos, aves de plumagem deslumbrante e muito “pao vermelho”. Sim, o famoso “pau-brasil” que era regalo de qualquer tintureiro europeu. Embarcou gente, espécies da fauna e da flora, e, obviamente, um bom número de toras do pao vermelho.

Na cada vez mais cosmopoita Lisboa, o capitão Sanches Brandão foi recebido entusiasticamente pelo rei Afonso IV – e, este, fevereiro de 1343, envia mensagem ao papa Clemente VI declarando a descoberta de “uma grande ilha” à qual dá o nome “Ilha Brasil”, e junta mapa de localização. Desde esse momento, a comercialização do “pao vermelho” alterou positivamente as contas do tesouro português, o que ficou em segredo por muitos anos... até que o imperador Carlos V, da França, mandou cartógrafo copiar o mapa depositado nos arquivos do Vaticano. Iniciou-se então a corrida ao ´ouro vermelho´ que fez das tinturarias e da moda europeia um negócio própero.


Tinturaria Do Alquímico Desejo Da Vida Eterna

A busca por substâncias alquímicas (a palavra vem do árabe al-khen, q.s. ´a química´ e daí o alquimista / o mago, etc.; outros estudiosos dizem que vem do coreano alkimya), é uma prática intelectual-científica que estuda elementos matemáticos, filosóficos, físico-químicos, místicos, etc., propondo alcançar, entre outras metas, o Elixir da Vida Eterna através da Pedra Filosofal, até mesmo por uma via artificial advinda de tais estudos na sua profundidade noética... e, hoje, já nos deparámos com a noética cientifica, por exemplo, na nanotecnologia... Um dos ramos no qual a alquimia logrou, e assim continua, alcançar sucesso técnico e social, é a tinturaria na busca de substâncias que possam nos dar visual e artificialmente o universo das cores que o cérebro capt[ur]a a todo o instante.

As plantas passaram a ser aplicadas alquimicamente no mundo ocidental tardiamente – porque nos outros mundos (dos árabes, dos africanos, dos asiáticos e dos americanos) – as cores artificiais eram já uma realidade tal que surpreenderam os primeiros marujos nos contatos fora da Europa, e um desses contatos foi o achado do pao vermelho e a tribos de gente pintada, em 1342.


Uma das primeiras plantas a ser aplicada foi a Isactis Tinctoria, mais conhecida como pastel dos tintureiros, cujo extrato fermentado das suas folhas fornecia, seco e em pedra, um corante azul [indigotina, princípio ativo do azul indígo] para tingimento e para pintura. Sendo insolúvel n´água, este corante era ótimo para mistura com ácidos e logo conquistou também pintores inovadores como Van Gogh. A planta Isactis Tinctoria foi durante muito tempo, junto com a Urzela [Liquen Roccella Tinctoria, que produz um corante de cor púrpura], o centro do comércio no Arquipélago dos Açores nos Séculos 15 e 16 com ligação ao foco financeiro de Flandres; a Horta, uma das regiões açorianas, na ilha do Faial, é conhecida até hoje como sítio do pasteleiro tal a importância mercantil e política daquela planta na época.

Obs.: Derivado da Isactis Tinctoria, o Anil é um produto indigotino [indigofera anil] que hoje é fabricado artificialmente e mundialmente famoso a partir do tingimento que originou, e origina a Calça Jeans.

Na cidade asiática de Tiatira uma judia artesã de nome Lídia era uma exímia técnica na manipulação de tintas e tingimento; muito conhecida pelos tecidos de púrpura, ela converteu-se ao cristianismo e veio a ser canonizada pelo papa Baronio, em 1607, pelo que passou a ser a padroeira dos tintureiros.

Obs.: “tiatira” era o nome antigo da atual cidade Akhisar, q.s. Castelo Branco [Turquia].


Tingir & Sublimar

O que é tingir? É um processo químico de transferência... Altera-se a cor da fibra têxtil aplicandose corantes numa solução (ou dispersão) específica. A fibra sofre uma alteração física e química de maneira que a luz nela refletida causa um efeito (percepção) de cor. São os corantes (substâncias orgânicas) as matérias que se utilizam para tingir fibras deixando a cor sólida à luz e permitindo tratamentos úmidos.

E o Transfer Neste campo é que surge o processo de Sublimação... O sólido se transforma em gás ou vapor sem passar pelo estado líquido. A característica mais marcante na sublimação é o fato de as peças assim estampadas serem muito resistentes a lavagem, arranhões e temperaturas extremas como quente e frio.

No funcionamento do processo de sublimação, assim como o processo do transfer, utiliza-se uma impressora adaptada para tinta sublimática e depois de impressa a imagem, usa-se uma máquina de estampar/prensa térmica para transferir através de pressão e calor a imagem para o material desejado, que pode ser: tecido sintético


(polyester), cerâmica, material emborrachado, alumínio, roupas, canecas, pratos, relógios, jogos e muitos outros.

TRANSFER manual [tinta e papel Quinprint] e industrial [prensa Mogk]

A tinta sublimática é uma tinta que reage diretamente com a fibra dos tecidos de polyester e poliamida e funciona como uma espécie de tingimento localizado.

Alquimia & Tecnologia de Última Geração A empresa italiana J-Teck vem apresentando a cada ano o maior e melhor desenvolvimento nas suas tintas sublimáticas digitais. Com o enfoque nestas tintas a J-Teck está em constante aprimoramento do seu produto para sempre trazer o mais moderno e a melhor qualidade para seus produtos.

Com o objetivo de disponibilizar para o mercado mundial, a J-Teck produziu uma tinta de excelência para sublimação digital: na tinta J-Next agregou as duas melhores tecnologias (Nano e Cluster) para oferecer cores fortes e vibrantes com uma tinta mais


fluida e pigmentos iguais na sua formulação. Além do mais, o laboratório da J-Teck proporcionou uma fórmula que permite maior rendimento do produto e, assim, mais economia para o cliente, porque a composição mais fluida evita entupimento na cabeça de impressão e possibilita imprimir muito mais com 1 litro de tinta.

Tinta & Cor Formulada para imprimir materiais sólidos a tinta transforma-se numa película quando seca, ou numa infiltração que tinge fibras de tecidos. É com a tinta que [al]quimicamente alteramos espaços e fazemos estilos virarem tendências tratando cada estação do ano visualmente.

Cor é a impressão que a luz refletida ou absorvida pelos corpos produz nos olhos ativando o cérebro.

A cor branca representa as 7 cores do espectro: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A cor preta é a inexistência de cor. Ou ausência de luz.

Às cores foram dados significados que variam entre culturas. Para ocidentais, elas estão relacionadas às emoções e podem assumir até sinalização funcional, como as cores padronizadas dos semáforos. Na decoração dos ambientes, o efeito estimulante das cores é importante e energético, pois, é uma cromoterapia que influencia na saúde das pessoas. As cores são utilizadas como símbolos de acontecimentos e sensações – a saber (entre outros exemplos): o vermelho simboliza a guerra, o verde a esperança e o branco a paz. Tanto para os ancestrais alquimistas quanto para quem hoje comunica visualmente a cor é o algo que se molda ao desejo e à identidade da pessoa ou da marca. Por


isto é que quem formula tintas vive as cores na intensidade artesanal e poética de produzir sonhos.

Os Dois Sistemas

RGB & CMYK RGB é a abreviatura do sistema de cores aditivas constituido por Vermelho (Red), Verde (Green) e Azul (Blue). Este sisterma reproduz as cores em aparelhos eletrônicos (tv´s, computadores, câmeras digitais, etc.); e, na impressão, utiliza-se o sistema CMYK de cores subtrativas. No RGB cada cor define-se pela quantidade de vermelho, verde e azul. Eletronicamente o menor ponto para forma[ta]r uma imagem é o Pixel.

Obs.: Cada pixel [do inglês Picture and Element – o menor ponto na formação da imagem digital] na tela pode ser representado no computador ou na interface do hardware (placa de gráficos) como valores para vermelho, verde e azul. Esses valores são convertidos em intensidades ou voltagens via correção-gama, para que as intensidades procuradas sejam reproduzidas nos displays com fidelidade. Por usar uma combinação apropriada para as intensidades de RGB outras cores podem ser representadas. Um adaptador de display típico do ano de 2007 utiliza até 24 bits de informação por pixel, 8 bits para cada uma das cores (vermelho, verde e azul) originando 256 possíveis valores, ou intensidades, para cada tom. Com este sistema, mais de 16 milhões (16.777.216 ou 256³) diferentes combinações de tons, daturação e brilho podem ser especificados.

As cores artesanais são uma poética, é verdade, mas quando se trata de dar impulso industrial à cor entra em jogo um sistema tecnológico que permite alternâncias e desenvolvimentos fantásticos... É o CMYK.


CMYK é a sigla do sistema formado pelas cores Cyan (Ciano), Magenta (Magenta), Yellow (Amarelo) e blacK (Preto). O sistema funciona como cor-pigmento e é tão importante como aquela alquimia desenvolvida para buscar a pedra filosofal.

Independentemente da cor e do volume, o que a tinturaria e a confecção faziam antigamente ainda é possível verificar em algumas unidades artesanais espalhadas pelo mundo; hoje, a interdisciplinaridade científica possibilita operações industriais quase robotizadas com programas computadorizados desenhados para cada tipo de trabalho, desde a concepção ao acabamento e venda do produto. “A era digital é em si uma solução inteligente que corta sobras e gera otimização do custo-benefício, além de possibilitar a reformulação de uma atividade inteira com novas metodologias e com ganho de qualidade até nos recursos humanos especializados” [J. Barcellos – in Soluções Inteligentes / Lectra, J-Teck e MTex; art., Maio, 2014].


Parte

2

peça de sinalização, roupa ou calçado vira estilo e tendências moldando visualmente a de como uma

sociedade

Dois Casos de Estudo a) Alpargatas De Jesuíta Caso Luso-Brasileiro b) As Calças Jeans Caso Internacional


ALPERCATAS DE JESUÍTA

Por conta das grandes caminhadas entre matas e picadas, no Séc.16, o padre jesuíta Anchieta aprende com tribos nativas a utilizar fibras de língua-de-tucano [eryngium pristis] entrelaçadas para confeccionar formar chinelos – as primeiras alpercatas, ou alpargatas... Tanto nativos guaranis quanto tupis tratavam as fibras de língua-de-tucano deixando-os em água até apodrecerem, e então fiavam até produzirem pequenas tiras que já utilizavam na confecção de peças utilitárias como cordame, cestas e redes de descanso.

Aos poucos, o estilo de alpercata adotado pelos jesuítas criou tendências e outros tipos começaram a surgir entre as ordens religiosas e os colonos europeus. E hoje, no Brasil, este tipo de calçado é parte da cultura nacional em todas as camadas sociais.

AS CALÇAS

JEANS


Um objeto de consumo por excelência na praticidade do vestuário para o cotidiano e outras ocasiões... Eis a Calça [e logo a Jaqueta] Jeans. Mas, falar de Jeans é falar de uma empresa-marca: a Levi´s. Há mais de 150 anos a empresa Levi´s é também uma marca que cria moda para pioneiros de todas as épocas e gerações de norte-americanos. A praticidade das peças Levi´s levou a marca para fora do EUA através principalmente da cinematografia de Hollywood aliando-a à história da colonização e a lendas urbanas atuais.

Loeb Strauss criou o Blue Jean. Ele nasceu no dia 26 de fevereiro de 1829 na vila Buttenheim, na região da Bavária. Aos 18 anos imigrou com a família para New York [1847], indo trabalhar com seus irmãos mais velhos, Louis e Jonas, na venda de tecidos, botões, linhas, tesouras e outros pequenos objetos. Naturalizado americano ele adotou o nome Levi reconhecendo o apelido que lhe era dado pela família e pelos clientes. Durante a corrida ao ouro na Califórnia deslocou-se para São Francisco onde abriu uma loja de tecidos e roupas, tendo sociedade com o cunhado David Sten e a irmã Fanny, e assim nasceu a Levi Strauss & Company. O negócio começou a prosperar quando, por obra do destino, ele não conseguia desfazer-se de alguns rolos de lona. Quis vendê-los como material para tendas ou para cobrir carroças, mas os mineiros queriam calças resistentes. Calças?... Então, Levi contratou um alfaiate e transformou a lona em calças de cor marrom, colocando três bolsos fundos para guardar as pepitas e as ferramentas, presas com tiras. Um mineiro, entusiasmado, pagou-lhe o equivalente a US$6 em ouro. Do invento, mineiros e agricultores, ferroviários e vaqueiros, reclamavam da corterra, opaca, e que a vestimenta poderia ser mais flexível. Afinal, estavam todos enfiados em lona... Buscou então um tecido também resistente, mas mais flexível: em 1860 pôs a lona de lado e adquiriu o serge de Nimes (fabricado na cidade francesa de Nimes), um tecido de algodão sarjado resistente e grosseiro destinado à roupa dos escravos negros do Sul, ao qual nos EUA davam o nome de Denim. Mais tarde, decidiu criar um estilo próprio e tingiu o serge com o corante Indigus: era a hora do Blue Jeans. dando-lhe uma aparência azul. Lá por 1872, o judeo- lituano Jacob Davis, alfaiate na cidade de Reno [Nevada], escreveu para Levi, contando-lhe sobre o processo que havia inventado para rebitar


com metal os cantos dos bolsos e ganchos frontais das calças masculinas, evitando assim que rasgassem com facilidade. Sugeriu que os dois registrassem conjuntamente uma patente, pois não tinha dinheiro, míseros US$68, para pagar esse processo sozinho. Em 1873, registraram a patente nº 139.121. Por isso, o dia 20 de maio de 1873 é considerado oficialmente o aniversário do blue jeans, porque embora as calças já fossem usadas, foi o ato de colocar pela primeira vez rebites nessas calças tradicionais que criou o que hoje o mundo todo reverencia como Jeans Levi’s.


Parte

3

Moda é uma comunicação Visual ou somente um mercado...? E então, a

Este tema é muito caro para profissionais da Estamparia e da Publicidade porque ambos operam com ferramentas e serviços têxteis e gráficos, sejam convencionais [artesanais e semiautomáticos] ou eletroeletrônicos [digitais].


Criar e fazer evoluir um Estilo é construir Moda, seja no vestuário, no calçado, no mobiliário ou na decoração, e Estilo comunica-se visualmente puxando a adesão (ou não) de outros olhares em sensações que mostram cada pessoa como ela é gerando, mercadologicamente, Tendências sob esse padrão. Uma sensação ou um súbito olhar que captura algo podem ser a base, e o são na maioria das vezes..., para a criação de um estilo pessoal ou corporativo no seio até de uma identidade étnica. As cores eleitas para comunicar visualmente as estações do ano são estampas que vão estar no meio ambiente familiar e profissional, desde a camiseta e cortinas ao envelopamento personalizado do carro da família, da mesma maneira que serão as cores-base da própria Comunicação Visual que dá suporte, também à Moda. A oficina serigrafista ou tampografista não somente estampa em camiseta ou objeto promocional, também produz Moda com esses objetos que nos comunicam visualmente tendências diversas com as cores diversas da paleta industrial ou artesanal. Eis que todos os ramos onde se cria e desenvolve Comunicação Visual e Moda interagem profissionalmente, sejam eles gráficos ou têxteis.

Moda a mobilidade artística das identidades na sua retórica visual


[...] comunicação visual é retrato social, comportamento, vida pessoal e consumo – logo, uma moda assimilada [...]

João Barcellos

O COMBUSTÍVEL DA MODA É O EXIBICIONISMO HUMANO

Norberto Arena

Moda é Arte.


O que é uma Pessoa sem roupa? Simplesmente uma Pessoa. Mas quando essa Pessoa ousa criar um vestuário próprio exibe, a partir daí, a sua Identidade emocional e sociocultural. É uma pintura objetual formada por roupa, calçado e acessórios no meio ambiente familiar e comunitário, logo, uma retórica visual. A apresentação do visual-identidade logo se transforma em livro móvel – um panfleto visual cuja leitura geral fará do estilo personalizado a fonte para o surgimento de tendências e, então, eis que essa Arte cria... Moda. Esta mobilidade artística das identidades – e elas podem ser sociais, políticas, artísticas, religiosas, esportivas, entre outras – é que gera o prazer de traçar um estilo que permita a uma Pessoa se dizer pelo que veste, calça... ou compra. As cópias do estilo e suas variantes aplicativas configuram as tendências, mas “[...] é sempre o estilo, aquela pintura objetual, que determina a ruptura ou o reaproveitamento de uma cor, de um tecido, de uma peça de mobiliário ou de uma peça de adorno, de uma decoração ambiental ou automotiva” [Barcellos, 2009]. Por isso é que Moda é um conceito que se comunica visualmente em todas as plataformas em que se apresente, porque Moda é Arte pura. Então, diga-se que “o Ser e o Estar em Elegância demonstra a percepção da Pessoa diante de sim mesma segundo valores comunitários, mas a ter essa comunidade como espelho para seu ego, diferenciando-se ou não” [Barcellos, 2013].

Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir. Paul Valéry [1871-1945]

A ótica do poeta Valéry não tem aplicação geral porque o ego não permite, na maioria das vezes, que as pessoas se recusem a uma comunicação visual para a qual contribuíram social e financeiramente. Já o sociólogo brasileiro Freyre permite-se, por exemplo, averiguar os encontros e os desencontros da moda no âmbito singular e plural de um Brasil que, livre do colonialismo, continua mentalmente colonizado. No entanto, para a moda-em-si a ótica de Valéry é a síntese perfeita do que deve ser e de como dever ser feita, porque a construção de um visual diferenciado não pode, por exemplo, neutralizar a realidade sexual trocando-a por um estar social artificial – pois,

a Moda


deve ser encarada como Vida e não como Morte ambulante na Pessoa objetualmente insensível a si mesma...

Moda Criatividade Sem Tempo Lingerie do Séc. 15 & Calças de 3.300 anos

A era da lingerie é mais antiga do que se imagina... Arqueólogos da Universidade de Innsbruck, na Áustria, fizeram uma descoberta que coloca a data para a invenção do sutiã no Século 15. Durante investigação arqueológica no Castelo Lengberg, na região do Tirol do Leste, em 2008, foram encontradas várias peças de fragmentos de tecidos. Os sutiãs estavam num depósito de lixo desde a ampliação feita no castelo, no século 15. Dois dos sutiãs são do tipo de combinação de sutiã com camiseta, sem mangas, mas com pontos de renda que servem de suporte. Um terceiro, bem decorado, parece muito com o sutiã moderno: alças e tiras para as costas. E outro, com duas peças de linho costuradas juntas verticalmente.

A descoberta é um acontecimento, porque são raras as fontes escritas medievais sobre a existência de sutiãs com taças; algumas fontes falam de “sacos para os seios” ou “camisas com sacos”, ou mencionam faixas para prender seios muito grandes. Os testes de radiocarbono nas fibras do tecido confirmam que as peças de roupa foram usadas em algum momento entre 1440 e 1485. Outras descobertas incluem camisas de linho com colarinho de pregas, um par de cuecas de linho preservados, e um tapa-sexo de um par de calças. Embora nem todas as peças de tecido possam ser


identificadas, os cientistas acreditam que poderão reconstruir pelo menos 20 peças de roupa. [Fontes: CBS News, The Guardian, 2013] Calças Masculinas Escavações feitas nos túmulos do cemitério de Yanghai, na China, descobriram os pares de calças mais antigos de que se tem notícia, segundo novo estudo divulgado.

Elas foram achadas junto com os restos mortais de dois homens, que se acredita terem sido pastores nômades. As peças têm entre 3.300 e 3.000 anos. [Fonte: Innsbruck University, M. Wagner / Instituto Alemão de Arqueologia, 2014]

E hoje, “[...] A questão nem passa pela universalidade do estilo, mas sim pela arte de costurar e colorir uma peça de vestuário que identifica em qualquer etnia a pessoa de pensamento jovem, ousado e criativo. A industrialização da Moda é uma necessidade mercadológica, vital para vestir bilhões de pessoas no contexto civilizatório da humanidade...” [Macedo, 1988], e por isto,


Retórica Visual 1 A interpretação filosófica de Moda pelo mestre João Barcellos.

O escritor, jornalista, pesquisador de história e conferencista João Barcellos voltou a defender em público a sua tese “retórica visual”. É a quarta vez que o faz e em público, depois de Lisboa, Salamanca e Berlim. O local, desta vez, foi o Seminário Tecnológico da ABTT (Associação Brasileira de Técnicos Têxteis) realizado durante a Agreste Tex, evento da FCEM. Retórica visual é uma tese filosófica na qual João Barcellos explica como “a humanidade se faz civilização através de gestos, desenhos e pinturas, logo, ela convence a si mesma que existe e progride visualmente”. E sendo “a Moda um valor sociocultural assimilado globalmente, mas a respeitar as identidades regionais, eis que a sua base essencial é a Comunicação Visual”. Esta interpretação filosófica ajuda a compreender “a história da Moda na sua alquimia para a expressão corporal na pele do vestuário, do calçado e das joias”. Ao receber cópia da palestra proferida em Caruaru, no agreste pernambucano, fiquei deslumbrada, porque o mestre João Barcellos surpreendeu toda a gente mais uma vez. Fernanda (Fê) Marques – Profª de História.


2 Do campus socrático à indústria gráfica e têxtil tendo a moda a sinalizar a sociedade.

Primeiro

Já nos velhos tempos em que a sabedoria socrática expunha os diferenciais filosóficos da sociedade era a retórica o filão persuasivo diante das políticas públicas e privadas – e, em cada frase construía Sócrates uma imagem que atendia ao objetivo em conversação... Eis a retórica visual primeva. Pode se avaliar a retórica visual através dos poderes constituídos e assinalados através da estatuagem, particularmente a que diz respeito a gregos e romanos, logo vertida nos códigos da estética política dos estados ocidentais e, muito especialmente, na estética católica da Igreja cristã e romana, que predominou além da estatuagem e da pintura e se fixou no vestuário, no calçado e nos acessórios. Aliás, não é possível falar da história ocidental sem equacionar a estética de poder exibida pelo catolicismo da cristandade e, deve-se lembrar, só a partir da revolução industrial as sociedade ocidentais puderam interpretar livremente a humanidade e as culturas desenvolvidas. De sorte que a alquimia dos gráficos e dos têxteis logrou, então, abrir caminhos naquela estítica que só servia aos poderes públicos e privados... E então, a Moda deixou de ser um instrumento das elites para compor a retórica visual das comunidades que geram a humanidade enquanto tal. Nesse passo civilizacional é que a Pessoa começou a gozar das faculdades de se expor esteticamente, exibir a sua identidade com estilo próprio independentemente da massificação de tendências criadas pela própria indústria; a famosa ditadura de estilistas só é válidade para a Pessoa que se abandona à publidade mercadológica e nela vivencia objetualmente usos e costumes que lhe são alheios, mas quando a Pessoa constroi um estilo próprio de ser e estar cotidianamente – como, por exemplo, sabemos pela atitude singular e plural do exercício filosófico de Sócrates na construção da cidadania democrática –, ela exibe a sua liberdade de pensar e se expressar. Eis aqui o outro lado (bom) da retórica visual. Sabemos que a Moda é um valor mercadológico, logo, objetual e identitário, porque cria situações que só dizem respeito à banda economicista – e aqui, sim, é a ditadura mercantil. No entanto, existe já um pensamento não objetual – um pensamento


sociocultural na base do estilo que não cria..., mas sinaliza formas pelas quais a Pessoa não veste nem calça para ser objeto da engrenagem mercadológica e, sim, para valorizar o seu estar-ser na família, na comunidade e no ato profissional. Por isso, Moda não é só objeto, é também cultura artística no âmbito da filosofia que cria a história da humanidade em cada Pessoa. Perceber e entender a dinâmica do exibicionismo humano através da Moda é achar em cada Pessoa um estilo que se comunica visualmente. Como sustentar uma ideia? A vida é feita de experiências boas e más, longas estradas e becos sem saída, e a ideia que em cada Pessoa faz sinalizar o desejo de vivências [a partir dela mesma] exige uma retórica que vai além do grito de liberdade: precisa ser desenhada para a compreensão das Outras Pessoas. Assim, a retórica visual é um instrumento de persuasão com linguagem situada no estilo de cada Pessoa... Mas, sabemos, também está na parafernália instrumental do mercantilismo da Moda onde raras vezes se enxerga a humanidade por ela mesma, apenas como objeto no custo-benefício da indústria e do comércio. A ideia de Vida e Moda já exige um pacto filosófico no âmbito socioambiental para dispor as peças mercadológicas e os valores civilizacionais e não num altar de elites absolutistas, mas numa plataforma de tecnologias socialmente adequadas para servir ao todo humano. Eis que falar e vestir são partes de um mesmo ideal: viver a vida. As técnicas sedutoras da publicidade que comunica visualmente o conceito objetual vêm de uma retórica que já ditou leis e políticas, ora, assim como as tecnologias também a publicidade precisa se adequar aos novos tempos socioculturais e fazer a linha de equilíbrio entre a humanidade e o objeto. É aqui que entra a retórica visual para fazer da Moda um valor humanamente aceitável, pois, não basta saber que o vestuário, o calçado e os acessórios são objetos necessários à projeção e segurança social da Pessoa, é preciso que o instinto mercadológico não se faça império de tendências e se adapte às culturas locais e nacionais. Mais: o politicamente correto do ato global/globalizador é um erro filosófico, porque o certo é filosofar/batalhar por políticas socialmente locais sem desprezar o mundo industrial além de cada comunidade. Só o humanismo crítico supera os valores negativos que levam a Pessoa a se entregar ao objetualismo que lhe anula a identidade própria: cada Pessoa carreia uma identidade sociocultural e é nela, e por ela, que a retórica deve se manifestar em todas as áreas do conhecimento, e mesmo na exibição visual dessa identidade.


Segundo

A linguagem gráfica que sinaliza a humanidade na sua progressão civilizacional é uma história própria certamente tão antiga quanto a retórica, i.e., a humanidade sinalizou, e o faz agora com tecnologias espantosas, a sua evolução entre o desenho e a escrita tendo a expressão oral de permeio. A linguagem como discurso persuasivo é um instrumento de noética sabedoria, pois, a amplidão de tal ação não é mensurável no que ao desenvolvimento diz respeito. Disse atrás que o discurso estético do catolicismo cristão [entenda-se: igreja mundializada] elevou a Moda dos impérios romano e grego ao patamar exotérico e os bispos cristãos passar ser a elite entre as elites do bem-vestir investindo fortunas no meio alquímico dos fios e tecidos, tintas e pigmentos; entretanto, como todo o império cai, aquele catolicismo absolutista também caiu e deixou rastros aproveitáveis para a civilização ocidental – um deles, a retórica visual utilizada nas Artes e na Moda. Não por acaso e séculos depois da Revolução Industrial, quem faz Moda retorna ao corte e às cores dos velhos tempos medievais. Não é copiagem. Não é falta de talento. É parte dos ciclos da evolução humana na sua conjuntura sociocultural e mercadológica, sistema que exige discursos historicamente compreensíveis... Não vivemos uma economia globalizada? Então, é preciso ir àquele catolicismo medieval e absolutista para se perceber os desenvolvimentos do discurso estético globalizador – um discurso que nunca sai de moda!, porque nem as igrejas nem as corporações mercantis deixam de ser elites... Ora, se um por um lado vivemos um quase pétreo discurso de elites, por outro, vivemos uma sociedade de comunidades que têm discursos estéticos próprios e neles espelham usos e costumes [os de sempre e os casuais] em formas, cortes e cores, sintetizando olhares e falares. Neste momento a indústria da Moda percebeu que se uma macacão de denim da Levi´s Strauss Co pode estar em qualquer lugar do mundo sem trair a retórica visual de cada comunidade, estilistas poderiam trabalhar numa linguagem etno e casual sem que a indústria perdesse o seu estilo identitário [leia-se: corporativista]. E assim a cultura imagética do Jeans Wear mostrou que a Moda pode ser um artigo popular e utilitário, enquanto expressão de liberdade, sem pertubar a essência sociocultural comunitária e, ao mesmo tempo, ser um elo da ligação entre os conceitos gerais da indústria. O que funcionou (e funciona) aqui? A retórica visual adequadamente utilizada para sinalizar jovens de todas as idades em qualquer comunidade humana. Nesta superfície de sinalização/representação está a essência socrática dos diálogos que permeiam a evolução civilizacional. E superfície porque é ferramenta, ato


de dizer que... em qualquer vernáculo, pois, e a Moda o faz também: é criada para se adequar ao diálogos visuais do exibicionismo humano, personalizado ou não, tradicional ou circunstancial.


Parte

4

ANEXOS

moda & estilistas na

lusa terra

moda brasileira através de norberto

arena

jeans / denim Moda Que Veste Jovens De Todas As Idades & Anima Ambientes

modernidade & visão ecológica O Mundo Humano Quer Estar Mais Cósmico

estação blumenau a história têxtil brasileira


Moda & Estilistas Na Lusa Terra Pode se dizer que desde cedo Portugal bebe nas culturas árabe, celta e romana, estilos em que assenta o ser-estar português, e logo veio o encanto oriental para logo toda a comunidade ocidental ter como bússola comportamental – da política à economia passando pelo visual da moda e o comportamento social – Veneza e Paris. E se a Lisboa quinhentista e seiscentista foi a capital de um colonialismo políticomercantil que marcou a história ocidental, Veneza e Paris passaram por ela deixando rastros que a tornaram cidade universal entre credos e diplomacias. As fortes raízes da diversidade sociocultural que foram e são o esteio da na[rra]ção portuguesa podem ser revisitadas nos estilos do vestuário e no modo visual que caracterizam o ser-estar português. Eis a fonte da moda portuguesa, hoje, não mais presa aos ciclos criativos venezianos e parisienses, nem tampouco lisboetas, mas uma comunicação social e visual que narra Portugal e leva a Nação aos mundos humanos. O que é a Moda portuguesa? Que estilistas interpretam a alma lusa embarcando-a na maresia encantadora que é revesti-la? De norte a sul, este e oeste, as regiões continentais [Portugal] e oceânicas [Açores e Madeira] fazem-se presentes com estilistas cujas carreiras artísticas e mercantis alcançaram portos seguros no universo da Moda. Estilistas que são Portugal e estão com Portugal no mundo. [Eu sou um português no mundo e vejo/revejo Portugal no contato de estilistas que aportam longe de casa para nos dizerem da portugalidade contemporânea.]

Ana Salazar, Miguel Vieira e Fátima Lopes

Dos nomes que conhecia o de Ana Salazar refere uma história que abriu caminhos novos na lusa terrinha. Mas existem outros... Criadores como Luís Buchinho, Maria


Gambina, Nuno Gama, José António Tenente, Fátima Lopes, Miguel Vieira, etc., e Ana Salazar. Toda esta gente, já premiadíssima nos principais centros internacionais da Moda, é o Portugal moderno que ousa ser ele-mesmo na tradição que se renova em cada outro traço oriundo de um novo olhar a representar o visual contemporâneo. Muito do que hoje é o Portugal da Moda deve-se a Ana Salazar. Logo depois do golpe d´Estado militar [o ´25 de Abril´] de 1974, a estilista iniciou uma carreira de desfiles com criações próprias – é, então, a criadora a alimentar um instinto de liberdade que lhe é repassado pela alma portuguesa. E logo, das suas lojas, as peças de roupa e acessórios ganharam Portugal e o mundo. Ana Salazar é, a partir dos Anos 70 do Século 20, a bandeira de um novo Portugal que se recoloca social e visualmente entre as nações.

O corpo respira, Canta. O que em ti m´encanta é o que da roupa a alma Transpira! Sem que o eu se transfira trajo a arte que é pele e me canta!

“Um poema para Ana Salazar acerca de um vestido que dela levei para a minha amada” J. C. Macedo (Lx, 1981)

Em dois momentos passei a “ver” a Moda pelo prisma de comunicação visual é tecnológico: a) ajudando meu pai, José Carlos, na modificação de aparelhos para produção de flocagem em embalagens e roupas, e, na mesma época, a automação de teares nas velhas fabriquetas têxteis de fundo de quintal, entre vinhas e campos de trigo, vi o que era o submundo têxtil que produzia a riqueza na/da Moda e de como esta tinha por base a Comunicação Visual. Foi no verão ibérico e politicamente intenso de 1968, e eu, jovem aprendiz de filósofo e de tecnologias, passei a estudar a Moda como ela era na sua essência visualmente comunicativa e muito particularmente no Teatro e no Cinema. E na primavera de 1975, um camarada foto-cinematográfico, açoriano, da mesma companhia militar que a minha, levou-me a um estúdio de moda: e vi que a Moda não era apenas arte, era uma cultura visual que falava do meu povo. b) Já depois da abrilada militar de 1974 observei o trabalho de estilistas e assisti a desfiles; no final da década pude ver o traço fabuloso de Ana Salazar e fiquei deslumbrado pela sua estética. Embora não fosse peça principal nos meus estudos, a Moda passou a fazer parte de mim. Quem, em 1996, ´degustou´ a visualidade do evento Miguel Vieira Marroquinaria e Malas, sabe que existe uma Moda Portugal contemporânea que se move entre a bugiganga, o utilitário e o luxo. É precisamente [e também...] no trabalho do estilista


Miguel Vieira que a portugalidade conquista o mundo das tecnologias que viram vestuário e acessórios e decoração nas sensações espaciais, feminina e masculina, de tal sorte que ele circula entre a massa e a elite e se faz reconhecer com um holograma em prata e chumbo numerado que autentica as suas criações, como fazem as turmas da Versace e da Dolce & Gabbana. Nem é por acaso que ainda durante o Moda Lisboa 2013 ele diz que “[...] o que vestimos reflete-se no nosso estado de espírito, mas o nosso estado de espírito também influencia a nossa forma de vestir”. A poética está no estilo diverso do ser-estar de quem desenha e projeta objetos, entre eles a roupa e o calçado, porque só a poesia de um traço alquímico tem o ´dom´ de gerar tendências (originais ou cópias). Por isso, ser estilista é expor uma alma que se liberta pensando [n]a vida. Tratar o ser-estar Portugal pelos fios e tecidos e tintas da Moda é ver objetos decorativos e utilitários que falam da velha nação ibérica cujas tradições a deixam pouco à vontade na Europa, mas que não a impedem de zarpar e baixar âncora onde quer que deseje... De uma portugalidade não obesa, estilistas fizeram e fazem das suas criações e criaturas uma cultura que leva Portugal a outros olhares repensando a universalidade que o Infante das 7 Partidas [Pedro, duque de Coimbra e fundador da universidade original] havia instalado na diplomacia do quatrocentos. Se existe uma atividade criativa que é história e é inovação, a Moda o é por excelência! E a Moda Portuguesa vem provando ao mundo que existe uma Nação, apesar de tudo...


Moda Brasileira Através De norberto ARENA o Brasil já é um criador de moda e não precisa continuar a copiar produtos

Habitualmente ele é apresentado como “estilista, criador no campo moda de vestuário, com larga experiência nacional e internacional, fundador do Arena Bureaux de Estilo. Com quatro décadas de macro experiência da moda planetária, Arena se instalou definitivamente nas páginas da história da moda na América do Sul”. Entretanto, ele é mais do que isto... Quando assisti a uma das suas palestras fiquei a conhecer uma ideia genial para a Moda brasileira: a criação do Calendário B. Representante da Associação Brasileira de Estilistas e membro efetivo do Comitê Setorial Internacional de Tendências, ele diz que o Calendário B possibilita a exibição das tendências para uma determinada estação com meses de antecedência – e mais: o Brasil já é um criador de Moda e não precisa continuar a copiar de produtos.

O paulista Norberto Francisco Arena nasceu em 18 de Março de 1946, filho de Salvador Arena e Maria Rizo Arena. Aos 17 anos iniciou a sua carreira na imprensa especializada em Moda. Entre estudos e observações precisas e preciosas no mundo internacional da Moda poderia ter ficado em algum dos centros de decisão, mas preferiu dar continuidade ao serestar brasileiro para ajudar a produzir [um]a Moda Brasil. E assim, já com 30 anos de


trabalho com e nas principais oficinas de estilo decidiu que era hora de batalhar pelo desenvolvimento e o crescimento do Brasil no campo da Moda. Criou a Arena Bureaux de Estilo, com sede no Polo Moda do Brás, em São Paulo, e com esta empresa opera entre os mercados ocidental e oriental, no que favorece o intercâmbio de tecnologias e informações fundamentais para os têxteis, os estilistas e as academias. A dinâmica de Norberto Arena é ser criador para estar criação a tempo todo... É um jogo de vida cujas peças se apresentam em plena consciência da Pessoa que o é também nos Objetos que [re]cria para bem-estar e utilidade dos Outros. E só desta maneira lhe foi possível alcançar o sucesso e passar a ser referência no meio visual e social que é a Moda. O que fez e o que faz Norberto Arena? Ele é o que defino como Sr. Moda Brasil e isto, parece-me, diz tudo. As suas ideias movimentaram rios de tinta nas gráficas que produziam a imprensa setorial dedicada à Moda, e ainda é assim, mas cabe abrilhantar este texto com dados acerca das suas ações. A saber: além de proporcionar a vinda ao Brasil de diversos profissionais da Moda para abrir a mente do empresariado local ao espírito empreendedor, ele foi o criador e patrocinador do primeiro curso superior de Moda instalado na Faculdade Anhembi-Morumbi, da Convenção da Moda Brasileira, do Instituto da Moda [este, em várias regiões] e do Programa Brasil Designer. No entanto, ele mesmo sabe que a sua ideia-trabalho é uma batalha contínua para mudar comportamentos e que só uma educação com boa estrutura acadêmica pode dar sequência à ideia e transformar o Brasil num polo de Moda enquanto referência mundial, não apenas sul-americana. Por isso fomentou o nascimento de academias para a formação de estilistas e outras áreas técnico-científicas na Indústria Têxtil e na Moda. Este paulista do mundo, pai de três filhas [Débora, Cíntia e Patrícia] e um filho [Victor], é um ousado empreendedor que busca no luxo e no artesanato as referências sociais para uma Moda que deve ser a poesia concreta de uma nação culturalmente diversa, E ele sabe, também, depois de 40 anos como ´embaixador´ da moda Brasil, que só a educação altera para melhor os rumos sociais de uma nação, por isso, teve a consciência de colecionar e guardar uma biblioteca única: a história da Moda feita no Brasil e no Mundo. Tanto ele, Norberto Arena, quanto a sua Biblioteca da Moda, são polos de atenção para quem quiser saber o que é e o como se faz para vestir o corpo e a mente das pessoas. Sim, ele é um brasileiro da metrópole paulista que o mundo reconhece como seu – ou seja: Norberto Arena é ele-mesmo a história da Moda no estilo que esboçou e desenvolve...


JEANS / DENIM Moda Que Veste Jovens De Todas As Idades & Anima Ambientes Denim: o Objeto do Desejo Jeans/Denim: o Estilo que gera Tendências Casos De Estudo: 1- Jeanologia 2- Decoração Jeans modernidade & visão ecológica O Mundo Humano Quer Estar Mais Cósmico [Um exemplo chamdo Lectra]

Estação Blumenau [estudos & palestra]


Denim o Objeto do Desejo

O que hoje denominamos Denim é aquela Ganga [ou Brim] que os europeus adquiriam na região de Nimes, daí denim, enquanto os norte-americanos a batizaram como Jeans levando a designação já usual entre os ingleses. Denim/Brim é um tecido de algodão no qual os fios do urdume [longitudinal] são tingidos com corante anil [ou índigo], com ligamento sarja. O anil/índigo que tinge a ganga/denim é um corante com pouca liga no algodão, e o resultado é um tingimento superficial nos fios de urdume, que forma em cada fio um anel azul e deixa o núcleo branco. Esta superficialidade gera uma solidez no tecido que é muito baixa ao atrito, i.e., na parte em que o tecido sofre atrito perde a sua camada superficial de fibras, logo, perde a cor.

Jeans / Denim o Estilo que gera Tendências Moda não é só o sobe e desce nas saias, ou no com ou sem bainha nas calças. Devemos ter na memória que as duas guerras mundiais do Séc. 20 levaram mulheres a operarem em ofícios tradicionalmente masculinos, quer na frente quer na retaguarda das linhas bélicas gerando aí um traço simbólico do unissex logo muito bem aproveitado no conceito de vestir iniciado por Chanel, para quem o estilo não se idealiza no sexo, mas no objeto que identifica a personalidade da pessoa que o veste e/ou exibe [Barcellos, 1991]. Depois, e apesar de ser um estilista focado na mulher, Saint-Laurent idealizou a moda feminina através do traçado masculino, flexível e de corte perfeito. Na reunião desta moda experimental surge Levi e originalmente com a sua calça masculina para macho que toca trabalho árduo – entretanto, esta calça jean é de tal forma singular e plural que vira marca universal e logo une os sexos pela efervescência de um ideal: a Moda só existe enquanto comunicação visual-sensual entre pessoas intelectualmente jovens. Eis o ideal que une, por linhas diversas, os estilos de Chanel, Saint-Laurent e Levi, mas é com Levi e sua Levi-Strauss Co que a Moda, respeitando aqui também a ousadia de Mary Quant, globaliza estilos para engendrar tendências estético-industriais em torno de um tecido tingido – o Denim.


Ciência & Tecnologia Reforçam o

Denim

“Elegante é aquela pessoa que se veste sem seguir a moda.” Alexandre

Herchcovitch

Ou seja, e digo eu: O que a pessoa precisa é estar comodamente protegida, e por isso é que agora, e através de Herchcovitch, em parceria com a Rhodia, surgiu o Denim com fio Emana a permitir um tecido tecnologicamente perfeito para ajudar até na manutenção da linha corporal... Uma tecnologia têxtil que nos dá a certeza de que a Moda não é um nicho isolado ou de parasitas endinheirados, mas um meio estético e mercantil que envolve progresso e ciência.

eis que Moda é tecnologia interatividade científica a outra pele que o corpo humano quer como sua em estilo e caimento para respirar a

liberdade

E hoje, “[...] falar de Moda sem fazer referência ao Jeans/Denim é um insulto sociocultural. A questão nem passa pela universalidade do estilo, mas sim pela arte de costurar e colorir uma peça de vestuário que identifica em qualquer etnia a


pessoa de pensamento jovem, ousado e criativo. A industrialização da Moda é uma necessidade mercadológica, vital para vestir bilhões de pessoas no contexto civilizatório da humanidade...” [Macedo, 1988], e por isto,

a

Moda

deve ser vista e pensada como

ato sociocultural e não como futilidade objetual, puro mercantilismo.


Casos de estudo muito particulares

1 Moda é estilo e é tendência, sim, mas entre o desenho e o corte da peça vislumbrase o tipo de acabamento e de como lavar e conservar a roupa sem a utilização de equipamento e química que alteram a prejudicam os sistemas ecológicos e o próprio meio ambiente humano. Neste contexto surgiu uma empresa com um conceito de inovação científica para tratamento de roupas, mas focada no jeans. O empresário espanhol Enrique Silla percebeu um vazio tecnológico no meio do mundo jeanswear e quis inovar fazendo acontecer dentro do próprio estilo jeans – o nicho do acabamento jeans.

Hoje, falar de

Jeans

é mencionar

Jeanologia...

É, obviamente, uma reverência à peça de roupa que ´rouba a cena´ em qualquer lugar do mundo – o ´jeans´. Sim, mas neste caso é também o nome de uma empresa espanhola criada em 1994 por Enrique Silla. Entre a gente ´expert´ que opera com o jeans além da mera peça de vestuário, Enrique Silla é, certamente, o filósofo e o cientista... Daí a designação Jeanologia para uma empresa que faz acontecer criando lendas urbanas às margens da destruição que assola o planeta Terra.


“Moda não é apenas design e glamour. A maneira como se confecciona um produto faz parte do dna de uma roupa. Sem respeito ao planeta ou às pessoas que trabalham na indústria têxtil não existe futuro na indústria da moda.” Enrique Silla [London, 2013]

Assim se expressou Silla ao receber o troféu da WGSN Global Fashion Awards 2013 pelo desenvolvimento de tecnologias sustentáveis relacionadas ao beneficiamento de roupas, especialmente o “jeans”.

Este caso demonstra como é importante que todos os segmentos da Moda se façam presentes no palco da consciência social que transforma as tecnologias em bens da humanidade e não em armas contra ela. Por isso é que a empresa Jeanologia é agora uma referência mundial para profissionais de acabamento e de lavanderia com foco em jeanswear.


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Jeans / Denim é estilo e é Decoração Ora, o tecido jeans/denim veste e enfeita a Pessoa e se assim o é por que não vestir e enfeitar objetos e ambientes em geral? Tanto em Portugal como na Itália e na Argentina, ao final dos Anos 70 do Século 20, o jeans/denim passou a ser olhado como tecido que poderia base não apenas de roupa, mas também de decoração. Já no Brasil, o estilo jeans/denim decor começou a ser incorporado mais no âmbito da reciclagem de material têxtil no início do Século 21 e é agora muito aplicado.

Sabemos que “[...] foi com a Geração Rock´n Roll & Pop, de Elvis Presley aos Beatles, que o jeans integrou definitivamente a alma jovem sempre aberta ao novo, independentemente da idade; é verdade que Hollywood já havia dado um empurrão principalmente com a Cinematografia de roteiro socialmente mais despojado e a beirar a revolta sem causa, mas a música popular criou estilos próprios de ruptura (do Jazz ao Rock) logo assimilados pela juventude – uma juventude pronta para “vestir” a ruptura, mas agora com uma causa chamada liberdade, no aconchego do fim da 2ª GG” [Barcellos, 1988]. No embalo de Elvis e na cadência vocal dos Beatles


“a geração Jeans passou a celebrar a vida no estilo que Levi havia ensinado: uma ideia, um trabalho e um visual para viver” [idem].


Modernidade &

Visão Ecológica O Mundo Humano Quer Estar Mais Cósmico [Um exemplo chamado Lectra]

“[...] importa que a eficiência esteja inteiramente subordinada à eficácia”, ensina o Prof. Juarez Freitas, jurista e especialista em questões ecológicas e autor do livro ´Sustentabilidade: Direito ao Futuro´. Existe um modo têxtil-serigráfico e sublimático de operar ecologicamente o fazervestuário e, por exemplo, o conceito jeanswear é parte da revolução industrial que leva bem-estar ao cotidiano das pessoas. Não se pode ignorar o que o cientista Haeckel [Ernst Haeckel, 1834-1919] propôs, depois de considerar a psicologia como parte da fisiologia, que o chão em que nascemos para morrer é a casa da vida e isso exige um estudo apropriado – a ecologia, ensinou ele. Obviamente, parte dos estudos haeckelianos aconteceu durante a Revolução Industrial europeia quando o têxtil e a engenharia têxtil passaram a dominar o cotidiano humano e, muitas vezes, a contaminar a ´casa´ que chamamos Terra. Desde que o termo ecologia passou a ser o foco para um novo olhar e uma nova ação, o universo industrial passou a conviver com propostas de operacionalidade


sustentável, i.e., produzir bens sem destruir o meio ambiente – o local de trabalho, a casa da pessoa e a natureza.

Entretanto, era preciso bem mais que propostas e em meados do Século 20 uma pequena parte do empresariado e a Universidade, em geral, passou a questionar métodos e produtos industriais de aplicabilidade nociva à Terra e à Humanidade levando tal preocupação a todas as Comunidades que são o esteio diverso da Civilização. De maneira muito precária e lenta, os sistemas educacionais passaram a absorver a ecologia como cartilha necessária e urgente... Mas era preciso muito mais: “a educação para a sustentabilidade convoca uma pedagogia de unidade na biodiversidade” [Freitas, idem], e é assim que a indústria têxtil em geral e estilistas buscam o reequilíbrio ecológico – e neste foco humanidade-natureza o vestuário em geral e o jeans em particular não são apenas moda, são instrumentos de modernidade... Juntar modernidade a aspectos tecnológicos que produzem saúde é um conceito que agora se faz presente no universo industrial até para diferenciar marcas e empresas comprometidas com a tendência ´viver a vida´. O sistema de ensino tecnológico carreia hoje uma responsabilidade acadêmica e social: ligar a produção industrial ao bem-estar das comunidades ganhando em qualidade, ou seja, um custo-benefício para o eixo Terra-Humanidade, pelo que o olhar-ação do novo ciclo civilizacional se traduz num comportamento em torno de compromissos e não meros lucros mercantis.


A Era Das Soluções

Multifuncionais

Profissionais gráficos e têxteis, arquitetos e engenheiros, artistas plásticos e escritores, vivem a era das soluções multifuncionais... O que é isto? Equipamentos permitem visualizar em 2d e 3d circunstâncias técnicas e artísticas além de ajudar na concepção final da ideia/produto. Imprimir e cortar uma peça numa mesma plataforma foi a grande ´sacada´ do início do Século 21 junto com a gráfica e o têxtil digital, mas, agora, os equipamentos têm soluções de inteligência artificial e nanotecnológica que os transformam em uma fábrica móvel: o que se fazia com 20 ou 50 pessoas numa linha de produção se faz hoje com um máximo de 3 pessoas especializadas no funcionamento de uma máquina! O que é isto? É a robótica e é a ciência noética interagindo na fabricação de uma indústria sofisticada, mas social e ecologicamente adequada às necessidades de uma humanidade que não suporta mais trabalho escravo, quer produtos de qualidade e que não lhe agridam o meio ambiente. Lá nos Anos 60 do Século 20 as pessoas compravam um canivete suíço pelo desenho industrial, mas especialmente pela multifuncionalidade e fácil aplicação das ferramentas. E ainda hoje é assim, mas com uma diferença: além das tradicionais ferramentas o canivete suíço já incorpora a era digital.

Na verdade, o canivete suíço é uma das raras peças que demonstram visualmente a multifuncionalidade de uma plataforma industrial para aplicação em diversas circunstâncias.


E agora, a ´sacada´ do Século 21 é a construção de uma plataforma tecnológica que acompanhe o olhar moderno e vivificador da humanidade – viver construindo com soluções multifuncionais. Dois segmentos que acompanham e assimilam parte da nova ciência geradora de tecnologias multifuncionais são os têxteis (em todas as suas linhas) e os gráficos (estes, especialmente na área da publicidade e da sinalização); não é mais possível imaginar uma produção em tais ramos de atividade sem incluir um programa de computador ou uma máquina impressora (ou cortadora) que o tenha entre os seus acessórios de gerenciamento e de comando. São soluções interativas que na aplicação técnica apoiam a geração de produtos de alta qualidade e evitam desperdícios. A multifuncionalidade opera custos-benefícios adequados no escritório e na fábrica, no evento cultural e na escola, no laboratório e na telefonia... Ora, os aplicativos são os mesmos, o que se altera são as funções. Da projeção planográfica de uma peça à sua tridimensionalidade visual o que existe é uma programação que desde sempre acompanha a humanidade: a leitura. E não adianta a alta tecnologia quando as pessoas não sabem utilizar o cérebro para fazerem leituras circunstanciais, sejam sociais ou profissionais. Por isto é que multifuncionalidade tecnológica exige pessoas especializadas para premir o botãozinho de um painel, pois, o botãozinho sinaliza uma ou mais funções numa mesma máquina!

Pesquisa, projeto/ideia, indexação, gerenciamento e comando visualizado na bancada ou tridimensionalmente, eis a era das soluções multifuncionais girando nas sequências matemáticas de um computador. [Palestra de João Barcellos: Butantã/SP, Junho de 2014. Imagens: Web, Lectra e TerraNova Comunic]


Projetar & Confeccionar Com Responsabilidade Social [Um exemplo chamado Lectra]

Os processos de produção, que também podem ser artesanais..., são hoje efetuados com metodologia computadorizada, o que proporciona, em qualquer segmento (têxtil, coureiro, serigráfico, gráfico, etc.), um ganho de qualidade em conforto, beleza e economia. Um dos exemplos é a empresa francesa Lectra, que vem inovando em sistemas computadorizados que criam linhas de inteligência nas cadeias produtivas, desde a criação de uma peça à sua fabricação e acabamento, seja em trabalho 2D ou em 3D.


Uma das soluções integradoras é o Modaris, ferramenta que ajuda a gerenciar praticamente tudo e a visualizar tridimensionalmente cada peça projetada. O que ontem se imaginava a olho nu e a olho nu se fabricava, fosse ou não uma peça tingida, passa hoje pelo crivo de mil e um olhares eletroeletrônicos depois que alguém imaginou uma peça para ser confeccionada. O mesmo se passava com as tintas que, agora, surgem diante de quem as aplica como instrumentos prontos adequando-se, obviamente, ao produto a ser decorado.


ESTAÇÃO BLUMENAU história têxtil entre evolução & sustentabilidade

do fio d´algodão à lasca eletrônica

1 O capitão Sanches Brandão aborda no atlântico sul uma “ilha grande cheia de gente nua e mui pao vermelho”, em 1342, e o rei português Afonso IV notifica o papa Clemente VI, em fevereiro de 1343, ter achado a “Ilha do Brasil”. Antes da frota cabralina baixar a âncora no norte da “ilha grande”, em 1500, já o Bacharel da Cananeia havia construído o Porto das Naus, em Goayó... E a partir da subida da Serra do Mar até Piratininga e desta para o oeste e o sul do Piabiyu, os portugueses assentam a sua veia aventureira, rural e piscatória, mas notam que os povos nativos já têm olaria e tecem redes de dormir e adornos com cipó e língua-detucano, além de outros adornos com fio d´algodão às vezes tingido com urucum. Ainda no Séc.16, os jesuítas tecem com língua-de-tucano as primeiras alpargatas... E depois dos portugueses vêm outros povos para a “ilha grande de gente nua e mui pao vermelho”. Já o Brasil é um continente e não uma ilha, e também uma nação, quando surge Blumenau na serrania que fortalece o Vale do Itajaí, ainda um grande sertão


catarinense. Imigrantes europeus, em pleno Séc.19, fazem de Blumenau o ponto de encontro para industriais de beneficiamento de fios e tecelagem.

2 Com a restauração da Capitania de São Paulo, no Séc.18, o governador Luís António Mourão [o Morgado de Mateus] decide povoar e dar espírito de municipalismo republicano à região que comanda desde a Capital paulista ao Rio Grande e dá incentivos para os povoadores açorianos criarem o Porto dos Casais [depois, Porto Alegre]; no meio do caminho ele cria Campinas para ser o eixo da produção e beneficiamento da indústria têxtil, e esta logo se expande pelo sul e tem o primeiro grande escoamento no lombo dos muares desde Viamão a Campinas e Sorocaba; é o ciclo tropeiro que deixa marcas em todo o sertão do oeste paulista e, então, na identidade social que vai forma[ta]r o Brasil-Nação.

[Morgado de Mateus e a grande capitania paulista]

No sul, os casais açorianos montam oficinas têxteis artesanais que, do litoral, alcançam os sertões locais.


O ´povoador´ Morgado de Mateus mantem como ´bússola´ de ação o tronco e os ramais do Piabiyu – o ancestral caminho dos guaranis pelo qual os portugueses quinhentistas assentaram a colonização luso-cristã.

Assim é que a manufatura têxtil do Brasil tem início no litoral e no sertão catarinense e vai, em meados do Séc.19, incentivar na Bahia a construção de um polo de beneficiamento para o fio d´algodão a par do polo do Rio de Janeiro.


* Desenvolvimento & Sustentabilidade Em todos os polos onde o ofício têxtil se exerce, como ramo artesanal ou já industrial, verifica-se um tecnologia de recursos que capta energia [água e eletricidade] a partir de projetos que se adaptam às condições ecológicas locais. Dos moinhos d´água às pequenas usinas hidrelétricas, o ofício têxtil se faz sentir num desenvolvimento que se sustenta técnica, social e economicamente.

Agora, os meios tecnológicos disponíveis nas plataformas eletroeletrônicas e físicoquímicas permitem que o mesmo ofício têxtil esteja mais uma vez na vanguarda de processos industriais: equipamentos de computação para análise de fio e construção de tecido, tingimento, desenho, corte e acabamento, estão acoplados ao vasto maquinário têxtil e facilitam os fluxos operacionais evitando desperdício de material e de tempo – é a era digital proporcionando um custo-benefício social e econômico antes impensável.

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3 Com larga experiência na produção de meias e camisas, Hermann e Bruno Hering estabelecem-se em Blumenau no ano 1878 para atenderem a demanda dos imigrantes. E logo em 1880 abrem as portas da fábrica: a Hering é a primeira fábrica do tipo no Brasil. Inicia-se um polo que se consagra como primeiro chão têxtil catarinense.

Irmãos Hering e a fábrica

Do fio d´algodão ao tecido, Blumenau torna-se a primeira grande plataforma da estação da moda brasileira com a abertura, em 1882, de outra fábrica: a Karsten.

Karsten e a fábrica

E logo, no alcance da filière que se estabelece pelo Vale do Itajaí, surge a Renaux, a Tecelagem Kuehnzich S/A [TEKA], as fábricas Blumenau e Indaial, a Thiemann, a Sul


Fabril, a Garcia, a Buettner, a Artex, a Roeder, Karsten & Hadlich, entre outras, que se formam grandes companhias tendo no entorno centenas de pequenas oficinas artesanais de Brusque a Ilhota e Indaial, de Florianópolis e Camboriú a Itajaí e Gaspar, e sempre a estação Blumenau como plataforma e ponto de encontro industrial e mercantil. Duas forças da natureza unem-se para fazer o progresso do Vale do Itajaí: o engenho mercantil dos mascates e as poderosas correntes d´água que acionam moinhos e teares.

4 A identidade têxtil do Brasil assume-se no Vale do Itajaí e exibe-se na plataforma de Blumenau.

Dos teares manuais aos mecânicos, da máquina a vapor à jato d´água, do jacquard à lasca de transístores [chip] que comanda máquinas e se insere nos tecidos e nas químicas para lhes dar inteligência artificial, eis nos a viver uma interdisciplinaridade científica e mercantil que se resume no custo-benefício da cadeia de produção [´filière´] têxtil. Do fio d´algodão ao chip, entre o barco-a-vapor e a maria-fumaça até ao teco-teco, Blumenau é a estação têxtil cuja plataforma fala do Brasil ao Mundo pela força da comunicação que faz civilização.


*

Vale do Itajaí Formada por 54 municípios, Vale do Itajaí é uma das 6 mesorregiões do Estado de Santa Catarina. E o Estado catarinense tem uma história rica de imigrações, dos portugueses aos italianos e alemães. Para fortalecer a região sul, a Coroa portuguesa deslocou dos Açores, em 1692, 260 casais que, além de povoarem Nª Sª do Desterro, determinaram o primeiro ciclo agropecuário, piscatório e fiação, alcançando também o Rio Grande onde erguem o Porto dos Casais. Menos de um século depois, o Morgado de Mateus, governador da Capitania de São Paulo, aproveita o ciclo açoriano e expande a economia pelo sertão e pelo Vale do Itajaí. Mais tarde, quando os italianos e os alemães chegam ao sul do Brasil, fortalecem principalmente o Vale do Itajaí e, particularmente, a partir de Blumenau, onde encontram condições propícias à construção de engenhos industriais para fiação, tecelagem e tinturaria.

O Vale do Itajaí é, até meados do Séc.20, território da Colônia Blumenau, com uma área de 10.610 Km2, e só quando ocorrem desmembramentos fundiários é surgem os novos municípios da regiãoque já se notabiliza por uma daceia de produção agrícola e têxtil. E em pleno Séc. 21 a economia catarinense é diversificada e gera o 6º maior PIB brasileiro [4%]. Os centros industriais de Joinville e Blumenau respondem pelos maiores volumes mercantis com fábricas de tecidos, de produtos alimentícios, fundições e indústria mecânica, têxteis e tecnologia digital; a malha de serviços especializados e logística permite respostas concretas ao desenvolvimento harmonioso em todo o Estado.

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5 No ano 9 do Séc.20, é inaugurada em Blumenau a estação ferroviária com ligação ao cais, onde o transporte fluvial reforça o fluxo de mercadorias têxteis e agrícolas.

Entre a serra, a costa e os vales catarinenses, a indústria têxtil multiplica-se em oficinas de fundo de quintal e grandes empresas; a produção de estampas com técnicas de sublimação, serigrafia e bordado, além da confecção da linha cama-mesabanho, malharia, felpudos e acessórios, faz de Blumenau o que Campinas foi no Séc.19 – a saber, o eixo da indústria têxtil brasileira. Só no ano 1941 o povo de Blumenau tem acesso à aviação: é fundado Aeroclube. E logo, o Cinema leva novas emoções às gentes de Blumenau com o Sr. Mogk, também fundador da Mogk Máquinas para Estamparia.

Nos Anos 30 um ou outro teco-teco fazia exibição por ali, e logo chegou a magia da cinematografia [o Sr Mogk e seu projetor na imagem].


BLUMENAU o alquimista que deu mais vida à serra

Filósofo e químico alemão, Hermann Bruno Otto Blumenau nasceu e morreu germânico [1819-1899] sob o cântico da tropicália brasileira... Para se entender este ´lance´ é preciso saber que Blumenau era filho de inspetor florestal e logo se interessou em estudar ervas e fármacos. Pelas margens do fogoso Itajaí-Açu ele conheceu os ventos do sertão e a brisa da serra, e como aconteceu com os Hering e os Mogk, entre outros, ergueu o olhar e tomou a paisagem para si – “estou aqui para ser e transformar”, pensou. E assim o faz quando desembarca no portinho fluvial e já vislumbra aqui a Colônia São Paulo... é o dia 2 de Setembro de 1850. Assim é que a 9 léguas do olho d´água do Itajaí-Açu, a Colônia São Paulo logo se transforma numa vila e, em 1854, abriga 246 colonos que sobrevivem da agricultura, da pesca, da fiação e da tecelagem, ferragem, beneficiamento de trigo e leite, enquanto é aberta a porta da primeira escola primária. Com exceção do Dr. Blumenau e do professor de primeiras letras, a comunidade serrana é formada por uma mistura de artífices e mestres d´engenho. Pesquisas longas e profundas sobre a natureza das ´coisas´ tropicais nas margens do Itajaí-Açu levam o químico a filosofar melhorias para o bem-estar das famílias e instalar na colônia o espírito urbano europeu. O legado naturalista e municipalista do Dr. Blumenau torna-se um paradigma entre as famílias d´imigrantes, e tal é a importância que a Colônia São Paulo celebra a sua pujança urbana com o nome do seu fundador: Blumenau.


FCEM De Blumenau para o Mundo

E agora, no Séc.21,

Blumenau é a estação dos têxteis brasileiros através da Feira Brasileira Dos Têxteis – a FEBRATEX, uma organização da FCEM com 20 anos de currículo social e profissional, uma ação empreendedora que leva o Brasil têxtil de Blumenau ao Mundo. Já lá vão mais de 20 anos de atividade no mercado de eventos corporativos, neste caso direcionado ao ramo Têxtil e ao ramo da Sinalização Gráfica. Destacou-se aqui o empresário Hélvio Pompeo Madeira que ergueu a empresa FCEM e teve a ousadia de incorporar seminários tecnológicos nas feiras de exibição de maquinário e serviços e, ainda, estabelecer parcerias profissionais com a Imprensa especializada. Assim foi e assim é. E agora surge na mesma estrada Hélvio Pompeo Madeira Junior – o Helvinho, a consagrar a empresa familiar brasileira, quando muitas delas fecham as portas ou são adquiridas por grupos estrangeiros. A dinâmica empresarial da FCEM é uma luz no panorama sombrio que afeta as empresas genuinamente brasileiras, porque é uma luz que permanece em meio a parcerias institucionais e profissionais. E é uma empresa em boas mãos... A família se diz Brasil e abraça a causa da Nação em todas as suas ações. Por isso, aqui fica o registro de um editor habituado a ler a linha do tempo sob a égide da ética.


Notas, Fontes & Bibliografia 1-

2-

3-

Nos idos Anos 60 do Séc.20 escutava o meu avô ceramista e violinista dizer que “fazer a vida é criar um estilo e com ele anunciar quem somos, seja pelo som de uma música, pela trama de um romance ou pelo visual de um corte de cabelo ou de roupa”. A lição é uma memória viva até hoje. (O Autor) A primeira vez que vi uma decoração com jeans/denim, e dela participei, foi na idealização e montagem de uma peça de teatro transportando os marujos do Séc.16 para o Séc.20 entre as tramas de Gil Vicente: atores e atrizes vestiam jeans e as velas dos barcos eram retalhos de jeans [“Gil Vicente, ontem e hoje” / colagem de textos; J. C. Macedo, 1969 – Portugal]. Embora superficial, a convivência com Norberto Arena em algumas palestras (Blumenau, São Paulo e Fortaleza) permitiram-me outra abordagem aos Têxteis e à Moda segundo a ótica de um calendário brasileiro de produção [Arena Bureaux de Estilo].

Imprensa Escrita & Eletrônica Marie Claire Brasil [Jan 2013]; Revista Impressão & Cores [Jan 2008 e Nov 2013]; Textília [Ag 2012]; USE Fashion [Ag 2013]; blog Osborn, adalbertoday.blogspot, blog Charles Bandeira, blog desecamila e Dot Coletivo. Empresas Arena Bureaux de Estilo, Boss, Brasil Digital, Calvin Klein, FCem [feiras e congressos],Frida, GBL Jeans, Jeanologia, J-teck3, Mogk, Levi Strauss Co, MacStyle, POD-MTex, Santana Textil [Serious Denim], Vicunha Textil. Ilustrações pública.

Fotos do autor e de empresas e agências de publicidade livremente publicadas na Web para utilização

Bibliografia BARCELLOS, João – “Rupturas & Estilos entre a Roupa e a Música”, palestra. Paraty/RJ, 1988. – “Moda & Desejo”, artigo. Editorial do jornal ´O Serigráfico´, SP-1997. – “O estilo Jeans no Cinema e na Música”, artigo, in ´Em Vivo y Art´, revista; Barcelona/Esp, 1997. – “A impressão visual que faz a moda”, editorial da revista ´Impressão & Cores´ e palestra em Cotia e Guarulhos, SP-2008. – “Pintura Objetual: Moda & Comunicação Visual”, palestra. Sorocaba/SP e Campinas/SP, 2009. – “Comunicação Visual / criando objetos que informam & formam”, palestra. Fortaleza/CE, 2013 [feira Signs Nordeste] e p/ professorado em Embu das Artes e Cotia, SP-2013. – “o Ser e o Estar em Elegância”, ensaio. Revista eletrônica ´Noética´ [noetica.com.br], 2013. BOUCHER, Françoise / DESLANDRES, Yvonne – “História do Vestuário No Ocidente”, ediç Casaic Naify, 2010. CALANCA, Daniela – “História Social Da Moda” [Itália], Ediç brasileira Editora Senac, SP- 2008. CATOIRA, Lu – “Moda Jeans / fantasia estética sem preconceito”. Ideia Letras, 2009. COSAC, Charles – “Alexandre Herchcovitch”, Cosac Naify, 2012. ELLWOOD, Iain – “The Essential Brand Book”. Kogan Pag4 Limited, London/UK, 2000. FREITAS, Juarez – “Sustentabilidade: Direito ao Futuro”. Edit Fórum, 2011. FREYRE, Gilberto – “Modos de Homem e Modas de Mulher”. Edit Global, 2009. GRUMBACH, Didier – “Histórias Da Moda”, Ediç brasileira Cosac Naify, 2009. LELIÈVRE, Marie-Dominique – “A Arte Da Elegância”, Ediç brasileira Larousse, 2011. MACEDO, J. C. – “De como vestimos os marujos vicentinos com jeans”, artigo. Jornal ´Educação & Cultura´, Porto-Pt, 1971. – “Moda: a arte de se comunicar visualmente um estilo”, ensaio; in jornal ´Educação & Cultura´, Porto/Pt, 1972. – “O senhor Levi Strauss – Ou: o vendedor de tecidos que fez o macacão e um estilo”, artigo; jornal “Ofícios & Estilos”, Braga/Pt, 1973. NAVARRI, Pascale – “Moda & Inconsciente”. Ediç brasileira Senac, SP-2010. O´HARA, Virginia – “Enciclopédia Da Moda” [Inglaterra], Ediç brasileira Companhia das Letras, SP-1992.


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